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2016 - Paradigmas da pesquisa em Administração

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1	
Paradigmas da pesquisa em Administração: Uma análise da produção acadêmica 
de anais do Enanpad 
 
Autoria: Adrianne Paula Vieira de Andrade 
 
RESUMO 
 
Os paradigmas da pesquisa representam as diferentes formas de produzir conhecimento e 
explicar a realidade. Em administração, destacam-se três paradigmas que são o positivismo/ 
pós-positivismo, o interpretativista e o crítico. Este artigo analisou os trabalhos premiados em 
cada divisão do Encontro da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em 
Administração (Enanpad) no período de 2010 a 2014 objetivando identificar os paradigmas e 
métodos adotados nestes trabalhos. Essa pesquisa é documental, exploratória e utilizou a 
abordagem qualitativa. A técnica de análise utilizada foi a análise de conteúdo temática com o 
auxílio do software QSR NVivo®. Os resultados mostraram a predominância do paradigma 
positivista e da utilização de métodos quantitativos. Esse paradigma é ainda mais evidente nos 
estudos das áreas de Finanças, Contabilidade, Gestão da Ciência, Tecnologia e Inovação e de 
Marketing. Estudos que adotam uma linha interpretativista e crítica ainda são minoria, todavia 
as áreas de Estudos Organizacionais e Gestão de Pessoas e Relação de Trabalho destacam-se 
pela adoção desses paradigmas. 
 
Palavras-chave: Paradigmas, Positivismo, Interpretativismo, Crítico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
	
2	
1. Introdução 
 
A ciência foi concebida sob diferentes óticas e correntes teóricas. Não existe uma forma 
única de fazer ciência, de produzir conhecimento ou de explicar uma realidade. Segundo 
Creswell (2010), cada pesquisador inicia a sua pesquisa com determinadas suposições sobre 
como vão aprender e o que vão aprender durante a investigação, isso representa uma alegação 
de conhecimento que pode ser chamado de paradigma. Em termos filosóficos, os 
pesquisadores fazem alegações sobre o que é o conhecimento (ontologia), como o 
identificamos (epistemologia), que valores o compõe (axiologia), como escrevemos sobre ele 
(retórica) e os processos para estudá-lo (metodologia). 
O conceito de paradigma foi levantado por Tomas Kuhn em 1962 em seu livro a 
“Estrutura das Revoluções Científicas”. Os paradigmas orientam a evolução da ciência e 
mostram as diferentes concepções da realidade. Kuhn define um paradigma como sendo uma 
realização científica que durante algum tempo fornece problemas e soluções moderadoras 
para uma comunidade de praticantes de uma ciência. O autor coloca que a superação de 
paradigmas é o padrão usual do desenvolvimento de uma ciência amadurecida (KUHN, 
2006). 
Um paradigma é entendido aqui como uma instância filosófica ou diferentes visões de 
mundo que irão nortear uma pesquisa (SACCOL, 2009). A compreensão desses paradigmas é 
imprescindível para a escolha do desenho da pesquisa. Uma pesquisa científica deve se basear 
em premissas e em posturas epistemológicas que irão guiar a escolha das teorias, da 
metodologia e o estudo como um todo. 
Existem vários debates sobre os paradigmas existentes no campo da administração. 
Lincoln e Guba (2006) consideram como os principais paradigmas de pesquisa os paradigmas 
positivistas e pós-positivistas e os paradigmas pós-modernos que incluem as teorias críticas e 
o construtivismo. Gephart (2004) estabelece os paradigmas positivista/pós-positivista, 
interpretativista e a teórica crítica/pós-modernismo como os principais paradigmas utilizados 
na administração. 
Myers (1997) considera três paradigmas principais, o positivista, o interpretativo e o 
crítico, que são os que se relacionam com a epistemologia subjacente que orienta as 
pesquisas em administração. Esse estudo irá considerar os paradigmas especificados por 
Gephart (2004) e Myers (1997). 
Diante disso, o objetivo deste estudo é identificar os paradigmas adotados nos trabalhos 
apresentados e premiados no Encontro da Associação Nacional de Programas de Pós-
Graduação em Administração (Enanpad) entre 2010 a 2014, analisando as tendências 
ontológicas, epistemológicas e metodológicas dos estudos de cada divisão da Anpad. 
 
2. Os paradigmas de pesquisa 
 
É preciso refletir sobre as características dos paradigmas utilizados na administração, 
esclarecendo as suas características, a forma como enxergam a realidade e as estratégias de 
pesquisa adotadas. Antes de refletir sobre os diferentes paradigmas, é necessário entender a 
ontologia e a epistemologia adotada pelo pesquisador pois essas posições refletem o 
paradigma que será adotado. Saccol (2009) adverte a importância da coerência entre os 
pressupostos ontológicos, epistemológicos e metodológicas em uma pesquisa científica. 
A ontologia envolve suposições sobre a essência dos fenômenos investigados e a 
natureza da realidade. Uma questão ontológica fundamental que recai para os cientistas 
sociais é determinar se a realidade é externa ao indivíduo ou se é produto da sua consciência 
	
3	
individual; se a realidade é de natureza objetiva, ou é produto da sua cognição individual; ou 
se a realidade é dada ou é produto da sua mente (BURREL E MORGAN, 1979). 
 O pesquisador pode adotar uma ontologia realista, que acredita que o mundo natural 
existe independentemente da existência do ser humano; uma ontologia idealista, que defende 
a existência do mundo a partir das percepções dos observadores sobre ele, ou seja, um objeto 
ou uma entidade só passa a existir na medida que é percebido por um observador; ou uma 
ontologia que considera a interação sujeito-objeto em que a realidade social é construída a 
partir de um compartilhamento de significados entre as pessoas é percebida e criada 
coletivamente (SACCOL, 2009). 
A epistemologia envolve suposições sobre os fundamentos do conhecimento, sobre 
como entendemos o mundo e como transmitimos o conhecimento para outras pessoas 
(BURREL e MORGAN, 1979). Existem três linhas de pensamento epistemológicas: a 
objetivista que defende os significados objetivos que podem ser transmitidos de forma 
racional e objetiva; a subjetivista que parte do pressuposto que os significados são impostos 
sobre os objetos por parte dos sujeitos; e a construtivista que não defende a realidade objetiva 
mas sim a construção de significados através de processos de interação social e 
intersubjetividade (SACCOL, 2009). 
 
2.1. Paradigma Positivista 
 
As origens do positivismo remetem aos pensamentos de August Comte no século XIX. 
Considerado por muitos como o pai do positivismo, ele defendia a concepção do 
conhecimento pela experiência. Posteriormente, outros pensadores trouxeram novas 
contribuições para o desenvolvimento do positivismo. 
No século XX, surge o Círculo de Viena formado por um grupo de filósofos que se 
juntaram informalmente na Universidade de Viena de 1922 a 1936 com o objetivo de 
reconceitualizar o Empirismo a partir de novas descobertas científicas. Com a divulgação do 
Manifesto “A concepção científica do mundo”, de 1929 subscrito por Hans Hahn, Otto 
Neurath e Rudolf Carnap, o grupo ganhou notoriedade. Esses filósofos defendiam o 
empirismo clássico o qual admite que o conhecimento factual resulta da observação e não de 
proposições a priori. Esse pensamento deu origem ao positivismo lógico (BARRETO, 2001). 
A base epistemológica deste paradigma está na combinação dessas duas linhas 
filosóficas, o empirismo clássico e o positivismo lógico (LIMA, 2011). O princípio da 
verificabilidade desenvolvido pelos empiristas reflete essa base epistemológica. Segundo 
Barreto (2001), esse princípio admite que o significado de uma proposição está relacionado 
diretamente aos dados empíricos que resultam de sua observação e que, uma vez existentes, 
dão veracidades à proposição. Ou seja, somente a verificação empírica definirá se as 
proposições são providas de significado ou não. 
Dentre os positivistas lógicos, destaca-se Karl Popper que demarcou os limites entre a 
ciência e a pseudociência ao propor o princípio da falseabilidade. Para Popper (1980),as 
teorias não são verificáveis, mas podem ser falseadas através de experimentos. Uma teoria 
existe desde que ela seja falseável, ela exclui ou proíbe não somente um acontecimento, mas 
pelo menos um evento e na medida em que a teoria resiste aos testes ela é corroborada. 
O positivismo incorpora uma ontologia realista que também é chamada de ingênua, pois 
considera que a realidade existe “lá fora” é real, inteligível, estável e mensurável (LINCOLN 
e GUBA, 2006; MERRIAM, 2009). A ciência é vista como uma forma de explicar a realidade 
através de fenômenos que são mensuráveis, possam ser testados e verificados. De acordo com 
Merriam (2009), o conhecimento obtido através do estudo desta realidade foi rotulado de 
"científico" e incluiu o estabelecimento de “leis” com vistas a generalização. 
	
4	
Esse paradigma incorpora uma epistemologia objetivista. Ou seja, os achados são 
considerados verdadeiros, representam a realidade e são obtidos através do saber experimental 
(LINCOLN e GUBA, 2006). O positivismo ainda considera a interdependência entre o 
pesquisador e o objeto de pesquisa. Nesta ótica, o pesquisador é capaz de estudar o objeto sem 
influenciá-lo ou ser influenciado por ele, de modo que se os procedimentos forem 
rigorosamente seguidos, é garantida a neutralidade e a “verdade” dos achados (FELL et al., 
2010). 
Assim, o positivismo contrapõe-se ao conhecimento baseado apenas no raciocínio 
lógico, o qual acredita que a razão pode explicar os fenômenos. O positivismo privilegia o 
empirismo, a experiência e a observação dos fatos (BARBOSA et al. 2013). 
Neste paradigma sempre houve preocupação com o método e o rigor científico 
(CHAIU, 2012). Para obter o conhecimento o mais próximo da realidade possível, o uso do 
método científico passa a ser imprescindível. O uso adequado do método científico permite a 
realização de previsões, explicações de causa-efeito, generalização etc. 
Sob a perspectiva metodológica, o positivismo é experimental e manipulativo, pautado 
na verificação de hipóteses, testes empíricos e predomina estudos quantitativos e 
experimentais (LINCOLN e GUBA, 2006). 
Dessa forma, a falsificação e verificação das hipóteses se torna a tarefa básica de uma 
pesquisa que adota o paradigma positivista. Os objetivos de pesquisas desse paradigma 
convergem para a descoberta de verdades, teste de teorias, teste de hipóteses, inferências 
sobre um fenômeno a partir de uma amostra da população, previsão e a generalização de 
descobertas (GEPHART, 2004; BARBOSA et al., 2013 ). 
A principal unidade de análise em uma pesquisa positivista são as variáveis que 
representam um atributo ou característica representativa da teoria que pode ser mensurada. Os 
tipos e estratégias de pesquisa adotadas pelos positivistas são os estudos experimentais e/ou 
quasi/experimentais e predomina o uso de survey. 
O método defendido pelos positivistas é o hipotético-dedutivo. Popper (1980), um dos 
expoentes do positivismo, criticou o princípio da indução, ao afirmar que esse princípio pode 
não garantir uma verdade universal, pois o homem parte sempre do singular. Opondo-se ao 
princípio da indução, Popper desenvolveu o método dedutivo como a concepção de que 
somente se pode testar uma hipótese empiricamente após ela ter sido formulada. 
Neste método, o pesquisador começa o estudo com uma teoria ou com um 
conhecimento prévio, cria hipóteses, coleta dados, testa as hipóteses geradas. Essas hipóteses 
podem ser refutadas ou corroboradas. Caso elas passem pelo teste e sejam refutadas, elas 
terão que ser revistas ou reformuladas. Caso tenham sido comprovadas, poderão gerar um 
novo conhecimento ou uma nova teoria (SACCOL,2009). 
Como paradigma posterior ao positivismo surgiu o pós-positivismo, uma corrente 
desenvolvida pelos filósofos do século XIX que ratifica a ideia da verdade absoluta do 
conhecimento, reconhece que não podemos ser realista quando estudamos o comportamento e 
as ações dos seres humanos (CRESWELL, 2010). Do ponto de vista ontológico, é adotado o 
realismo crítico o qual corrobora com o pensamento da existência da realidade, todavia 
acredita que ela não pode ser perfeitamente representada pela ciência em função da própria 
natureza dos fenômenos e das falhas dos mecanismos de investigação (FELL et al., 2010). 
O pós-positivismo ainda incorpora uma epistemologia objetivista, mas não acredita que 
os achados são sempre verdadeiros e defende que eles estão sujeitos a falsificação. No aspecto 
metodológico, essa corrente dá ênfase ao “multiplismo crítico” que trás a ideia da 
triangulação das perspectivas e defende a realização das investigações em situações mais 
naturais, coletando mais elementos e mais informações, passando a incluir os métodos 
qualitativos (FELL et al., 2010). 
	
5	
Em administração e nas Ciências sociais, o positivismo é amplamente utilizado nas 
pesquisas, sendo o paradigma vigente (SACCOL, 2009). Ottoboni (2009) afirma que a 
administração é uma ciência recente que tem bases em outras ciências, ainda está em busca da 
sua consolidação, mas que se iniciou dentro do paradigma positivista. 
Apesar da ampla utilização, o paradigma positivista tem recebido diversas críticas. Uma 
das críticas reside na questão da neutralidade e interdependência do sujeito e do objeto. Na 
pesquisa científica essa neutralidade almejada pelo positivismo é difícil de ser alcançada, uma 
vez que desde o começo o pesquisador está envolvido com o seu estudo. A escolha do tema, 
do problema e do método não acontece de maneira neutra, o pesquisador utiliza as suas 
impressões, suas preferências e o seu próprio julgamento para fazê-las. Isso se torna ainda 
mais evidente no campo das ciências sociais em que os objetos investigados são próximos ao 
sujeito e estão envoltos na realidade que ele vivencia. 
 Outra crítica que o positivismo recebe é a sua insistência na inadequação de transpor 
para as ciências sociais, os procedimentos e métodos que são dominantes em ciências 
naturais. Isso muitas vezes resulta em reducionismo da realidade e a falta da compreensão 
completa de um determinado fenômeno. O rigor positivismo também é criticado, um vez que 
a preocupação excessiva com formalismos e empirismos pode limitar, a busca pela 
criatividade, pela possibilidade de pensar ciência a partir de outras abordagens paradigmáticas 
(BARBOSA et al., 2013). 
 
 
2.2. Paradigma Interpretativista / Construtivista 
As críticas feitas ao positivismo impulsionaram a construção de novos paradigmas. O 
interpretativismo teve sua origem no final do século XIX e início do século XX, diante das 
reações de alguns estudiosos à filosofia do positivismo (PINTO e SANTOS, 2008). Esses 
filósofos mostraram a possibilidade de estudo e compreensão da ação humana sob uma nova 
concepção ontológica, epistemológica e metodológica que não estava em coerência com os 
ideais positivistas. 
Merriam (2009) afirma que o construtivismo é um termo frequentemente usado como 
sinônimo de interpretativismo. Assim, entende-se que esse paradigma pode obter a 
nomenclatura de interpretativista e/ou construtivista. 
O foco da perspectiva interpretativista difere do foco da positivista pois o objetivo de 
uma pesquisa interpretativista é entender a atual produção de significados e conceitos usados 
pelos atores sociais em seu ambiente real (GEPHART, 2004). Nos estudos interpretativistas 
as pessoas tentam compreender o mundo em que vivem e trabalham, desenvolvendo 
significados subjetivos para suas experiências os quais são variados e múltiplos, levando o 
pesquisador a buscar uma complexidade de visões, em vez de estreitar significados em poucas 
categorias ou ideias (CRESWELL, 2010). 
Esse paradigma adota uma ontologia relativista o qual considera que a realidade é 
construída socialmente em planos e locais específicos e baseadas na experiências dos 
indivíduos, deixando de lado a ideia de uma realidade objetiva (LINCOLN e GUBA, 2006). 
Segundo Gephart (2004), o relativismo é adotada de tal modoque diversos significados 
existem e influenciam a forma como as pessoas entendem e respondem ao mundo objetivo. 
Ou seja, a realidade é socialmente construída, não existe uma realidade singular e observável 
mas existem múltiplas realidades e interpretações de um evento singular (MERRIAM, 2009). 
No que concerne a epistemologia, o interpretativismo é transacional e subjetivista, o que 
implica em descobertas que são criadas pelas ações humanas, a partir de diferentes 
significados detidos por diferentes pessoas ou grupos que produzem e sustentam um senso de 
verdade (GEPHART, 2004). Neste paradigma, o sujeito e o objeto interagem e não estão 
	
6	
distantes, pois pesquisador tem um envolvimento pessoal com a pesquisa, escolhe o fenômeno 
a ser investigado, o método, os dados etc. 
Sob o ponto de vista metodológico, esse paradigma fundamenta-se na hermenêutica e na 
investigação da ação por parte do indivíduo (LINCOLN e GUBA, 2006). Diante disso, a 
unidade de análise desse paradigma é a ação verbal e não-verbal. Neste sentido, os 
pesquisadores interpretativos procuram descrever, entender, e interpretar os significados dos 
membros e as implicações que os significados divergentes titulares para interação social 
(GEPHART, 2004). 
O método mais comumente utilizado neste paradigma é o indutivo (CRESWELL, 
2010). Os pesquisadores geram ou desenvolvem indutivamente uma teoria ou padrão de 
significado a partir da investigação e análise dos dados empíricos. 
O processo de investigação em um estudo interpretativista deve ser flexível, aberto à 
visão dos atores pesquisados e à sensibilidade do contexto no qual a pesquisa está sendo 
realizada. Os métodos utilizados são essencialmente qualitativos, sendo o Estudo de Caso, a 
Pesquisa-Ação e a Etnografia, os mais utilizados na área da Administração. Embora esses 
métodos não sigam a lógica da generalização, validação inerentes ao paradigma positivista, a 
pesquisa interpretativista também tem critérios a serem atendidos e exigem uma preparação 
por parte do pesquisador para garantir a seriedade, profundidade e robustez (SACCOL, 2009). 
Em administração, percebe-se o aumento de trabalhos que adotam esse paradigma 
(BARBOSA et al., 2013). É importante destacar que além das abordagens utilizadas na 
administração, outras estratégias de pesquisa também são utilizadas nos estudos 
interpretativistas, tais como: Fenomenologia, Etnografia, teoria fundamentada e narrativas. 
Uma das principais críticas ao interpretativismo é o relativismo e a subjetividade que 
está intrínseca a pesquisa no fato do sujeito e o objeto não serem dissociados. Assim, alguns 
pesquisadores questionam a validade do conhecimento produzido (BARBOSA et al., 2013). 
 
2.3. Paradigma Crítico 
A perspectiva crítica vai além de desvendar a interpretação dos entendimentos das 
pessoas, tem suas raízes em várias tradições e atualmente envolve uma variedade de 
abordagens. As influências iniciais incluem os estudos de Marx das condições 
socioeconômicas e estruturas de classe, ideias de Habermas de conhecimento técnico, prático 
e emancipatório, e educação transformadora e emancipatória de Paulo Freire (MERRIAM, 
2009). Esse paradigma contrapõe-se ao positivismo e a teoria tradicional. 
A origem da teoria crítica remete a Escola de Frankfurt que foi criada em 1923-24, e 
recebeu essa denominação a partir dos anos 50, por pensadores, como Horkheimer, Adorno, 
Marcuse e Habermas, com origens intelectuais e influências teóricas variadas, que, sob o 
impacto dos acontecimentos da época (fim da monarquia na Alemanha e constituição da 
República de Weimar; primeira Guerra Mundial; Revolução Soviética; intensas lutas 
operárias, sobretudo na própria Alemanha; ascensão do nazismo etc.), aliados à rejeição 
teórica e prática que eles dispensavam à determinada versão do marxismo, procuravam 
desenvolver uma teoria crítica do conhecimento e da sociedade inspirados na obra de Marx e 
em suas raízes hegelianas, relacionando o marxismo com a tradição crítica moderna 
(BARRETO, 2001). 
 Na teoria crítica prevalece a dialética da razão, se articula o grito dos violentados, 
marginalizados e dos mortos. O que caracteriza todos os pensadores é a rejeição do projeto da 
modernidade que é identificada com a concretização dessa razão cínica. Outro elemento 
retratado por esses teóricos foi a cultura. Os trabalhos sobre a cultura e a arte estão entre os 
que certamente mais contribuíram para divulgar o pensamento crítico de Frankfurt entre 
teóricos literários, musicólogos, críticos de arte e teóricos da comunicação (FREITAG, 2004). 
	
7	
Os trabalhos de Horkheimer (1980) e Habermas (1982) incorporaram importantes 
contribuições ao paradigma crítico. Horkheimer (1980) destacou a diferença entre a teoria 
tradicional e a teoria crítica. A teoria tradicional procura abranger todos os fatos de um campo 
determinado identificando as relações entre os elementos que compõem esse campo. 
Enquanto que a teoria crítica objetiva a busca de determinações abstratas e criação de 
hipóteses, começando, por exemplo, com a caracterização de uma economia baseada na troca, 
discorrendo sobre as suas, para se chegar a conceitos genéricos (HORKHEIMER, 1980). 
 Habermas (1982) desenvolveu a teoria do conhecimento como teoria da sociedade e a 
teoria da ação. Segundo Diniz (2006), a racionalidade comunicativa desenvolvida por este 
autor opõe-se a racionalidade instrumental, é orientada para o entendimento, não para a 
manipulação e encontra-se inscrita nas relações sociais contemporâneas refletindo o 
capitalismo contemporâneo. 
 Do ponto de vista ontológico, esse paradigma defende o realismo assim como no 
positivismo, todavia o realismo é histórico e a construção da realidade não é dada mas 
influenciada por valores sociais, políticos, econômicos, culturais, étnicos e de gênero 
cristalizadas e reificadas ao longo do tempo (LINCOLN e GUBA, 2006). 
Epistemologicamente, a teoria crítica é transacional e subjetivista, as descobertas são 
mediadas pelos valores dos sujeitos que realizam as pesquisas e são co-criadas por eles. 
Assim como no paradigma interpretativista, o sujeito e o objeto não estão separados mas estão 
em constante interação, de modo que os valores do sujeito influenciam o processo da pesquisa 
e a criação do conhecimento (LINCOLN e GUBA, 2006). 
No campo metodológico, destaca-se o uso da dialógica, dialética e de métodos baseados 
no contexto (LINCOLN e GUBA, 2006). Diferente das outras abordagens, a teoria crítica 
considera o contexto em que o fenômeno está situado. De acordo com Fell et al. (2010) esses 
métodos exigem uma diálogo baseado na dialética entre o investigador e os sujeitos 
investigados. Além disso, a teoria crítica considera que existem múltiplas visões de mundo e 
emprega metodologias interpretativas para descobrir significados divergentes entre os sujeitos 
(GEPHART, 2004). 
O método da dialética é baseado na contradição. Uma afirmação é ultrapassada por sua 
negação, e esta, por sua vez, pela negação da negação, isto acaba gerando uma nova 
afirmação. Esse movimento é peculiar, cada momento de dialética e da história ao mesmo 
tempo ultrapassa o anterior e o conserva (BARRETO, 2001). Assim, a unidade de análise 
desse método são as contradições, os incidentes críticos, os signos e os símbolos. 
 A teoria crítica tem como objeto de estudo os homens como produtores de todas as 
suas formas históricas de vida (BARRETO, 2001). O objetivo das pesquisas que adotam o 
paradigma crítico é descobrir interesses e contradições ocultas, valorizando a crítica, a 
transformação e a emancipação dos sujeitos. Em relação a estratégia de pesquisa adotada, 
destacam-se o neo-marxismo, feminismo, pesquisa ação participativa (PAR), teoria racional 
crítica, etnografia crítica como ( MERRIAM, 2009). 
 Na área de Administração, constata-se uma carência de pesquisas críticas que 
aprofundem conhecimento sobre práticas e organizações locais. Entretanto, identifica-sealguns trabalhos como os de Guerreiros Ramos, Mauricio Tragtenberg e Fernando Prestes 
Motta que submeteram a Administração e os estudos organizacionais ao crivo crítico antes da 
década de 1990 (DAVEL e ALCADIPANI, 2004). Os trabalhos de Guerreiro Ramos (1989, 
1996) iniciaram a tradição crítica na área de Administração no Brasil chamando atenção para 
os problemas decorrentes da expansão do mercado e propondo a delimitação dos sistemas 
sociais (VIEIRA e CALDAS, 2006). 
De um modo geral, os estudos críticos em administração emergem com o objetivo de 
conferir a palavra àqueles que, ao se identificarem como racionais, indiscutíveis e 
indubitáveis, são raramente considerado(a)s pelas teorias organizacionais tradicionais que 
	
8	
tendem a idealizar a administração. Em administração, são constatadas três grandes conjuntos 
de tradições teóricas que tem sido regularmente utilizadas. O primeiro conjunto engloba as 
tradições modernistas desenvolvidas no âmbito do marxismo, do neomarxismo e da Escola de 
Frankfurt. O segundo é baseado na proposta de Jacobson e Jacques denominados de tradições 
pós-analíticas. E, o terceiro grupo incorpora as teorias feministas (DAVEL e ALCADIPANI, 
2004). 
Por fim, o quadro 1 apresenta uma síntese dos três paradigmas abordados aqui exibindo 
as principais características de cada um deles em relação a ontologia, epistemologia, 
metodologia, objetivos, tarefas, unidade de análise e estratégias de pesquisa. 
 
Quadro 1- Crenças básicas dos paradigmas da pesquisa. 
 
 Positivista/Pós-positivista Interpretativista/ Construtivista Crítica 
Ontologia Positivismo- Realismo ingênuo: 
realidade “real” mas inteligível 
 
Pós positivismo- 
Realismo crítico: realidade 
“real” mas imperfeitamente 
inteligível 
Relativismo: realidades 
construídas em planos e locais 
específicos 
Realismo histórico : A 
realidade virtual 
influenciada por valores 
sociais, políticos, 
econômicos, étnicos, de 
gênero cristalizados ao 
longo do tempo 
Epistemolo
gia 
Positivismo – 
Dualista/objetivista: descobertas 
verdadeiras, saber experimental 
 
Pós-Positivismo- 
Objetivista/Dualista: tradição 
crítica/comunidade: descobertas 
provavelmente verdadeiras 
Transacional/subjetivista: 
Descobertas criadas 
Transacional/subjetivista: 
Descobertas mediadas 
por valores e co-criadas 
Metodolog
ia 
Positivismo – 
Experimental/manipuladora: 
verificação das hipóteses; 
métodos sobretudo quantitativos 
 
Pós-Positivismo- 
Experimental modificada/ 
manipuladora: multiplismo 
crítico: falsificação de 
hipóteses, pode incluir métodos 
qualitativos 
Hermenêutica: investigação da 
ação. 
Dialógica/dialética : 
métodos baseados no 
contexto 
Objetivos Descoberta de verdades, 
Previsão, controle, 
Generalização 
Descrever, 
Entender, 
Interpretar significados 
Descobrir interesses e 
contradições ocultas : a 
crítica, a transformação e 
a emancipação 
Tarefas Realizar a explicação e controle 
das variáveis: discernir 
hipóteses verificadas ou 
hipóteses não-falseadas 
Produzir descrições de 
significados dos membros e 
definições da situação: 
compreender a construção da 
realidade 
Desenvolver uma visão 
estrutural ou histórica 
que revelam as 
contradições e permitem 
emancipação, espaços 
para vozes silenciadas 
Unidade de 
análise 
Variável Ação verbal e não verbal Contradições, incidentes 
críticos, signos e 
símbolos 
Tipos/ 
Estratégia 
de 
pesquisa 
Experimental, survey, quasi-
experimental 
Fenomenologia, 
Etnografia, hermenêutica, teoria 
fundamentada, narrativas, 
estudo de caso, naturalista/ 
qualitativa 
Neo-marxismo, 
feminismo, pesquisa ação 
participativa (PAR), 
teoria racional crítica, 
etnografia crítica 
Fonte: Adaptado de Licoln e Gubba (2006), Gephart (2004) e Merriam (2009) 
	
9	
 
3. Procedimentos metodológicos 
 
 Esse estudo é caracterizado como uma pesquisa documental, exploratória e utiliza a 
abordagem qualitativa. Dessa forma, a unidade de análise desta pesquisa são artigos 
acadêmicos dos Anais do Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em 
Administração (Enanpad) que foram premiados como o melhor artigo da sua divisão 
acadêmica. O período de análise escolhido foi do ano de 2010 a 2014. A coleta dos artigos 
premiados das 11 divisões do Enanpad no período escolhido resultou em 54 artigos. 
 Os artigos dos anais do Enanpad foram escolhidos para a análise devido a 
expressividade do evento, o qual é considerado o principal congresso da área de 
Administração do Brasil. O prestígio e respeito do evento reflete a qualidade dos trabalhos 
aprovados e apresentados no encontro. Esses artigos foram coletados no site da Anpad e nos 
CD’s que contém os anais do evento. 
A análise de dados foi apoiada pelo software QSR NVivo® versão 10 para Windows. 
Esse software é um tipo de software de apoio a análise qualitativa de dados, também 
conhecido como Computer Assisted Qualitative Data Analysis Software (CAQDAS) que 
auxilia o processo e facilita a análise (MERRIAM, 2009). Os 54 artigos foram exportados 
para o NVivo® e tiveram a classificação de fonte interna. Em seguida, foi realizada a leitura 
dos artigos com um maior ênfase no resumo, introdução, metodologia e conclusão. 
Após isso, foram criados as categorias de análise que foram baseadas no framework 
especificado por Diniz et al. (2006). As categorias de análise foram: unidade de análise, foi 
identificado se o artigo apresenta explicitamente um problema/pergunta e objetivo de 
pesquisa; paradigma adotado, o qual foi identificado do ponto de vista ontológico, 
epistemológico e metodológico com base nos pressupostos teóricos aqui discutidos e contidos 
no quadro 1; método de pesquisa, identificou-se a tipologia do método empregado e a 
consistência da conclusão, que foi identificada a partir do alinhamento da conclusão com o 
problema, objetivo da pesquisa e paradigma adotado. 
Em seguida, foi realizada uma análise de conteúdo do tipo categorial ou temática de 
Bardin (2004) que consistiu na criação de códigos para cada categoria de análise e na 
interpretação dos resultados. Foram utilizadas algumas ferramentas do software que 
auxiliaram na interpretação e visualização dos resultados, tais como matriz de codificação, 
matriz agrupada e mapa de contexto. 
 
4. Resultados 
 
Em relação a unidade de análise, foram criados três códigos para identificar se os 
autores dos trabalhos especificam os objetivos e problema de pesquisa. Todos os artigos 
analisados especificam o objetivo da pesquisa, o qual foi claramente identificado nos resumos 
dos trabalhos e na introdução. 
Entretanto, a problematização da pesquisa e o detalhamento da questão de pesquisa não 
foi identificado em todos os trabalhos. Apenas 14 trabalhos apresentaram explicitamente o 
problema da pesquisa que guiou a pesquisa. Os outros trabalhos discutiram o objeto do 
estudo, alguns mostraram lacunas teóricas e práticas mas não deixaram a questão de pesquisa 
explícita. 
Para análise do método adotado nos trabalhos, foram criadas duas subcategorias 
"empírico" e "teórico" e três códigos "quantitativo", "qualitativo" e "misto". Conforme pode 
ser visto no quadro abaixo, a maioria dos trabalhos premiados nos últimos cinco anos são 
empíricos e adotaram uma abordagem quantitativa estudando os fenômenos através da adoção 
de modelos que explicam relações causais entre variáveis, geram e testam hipóteses. Destaca-
	
10	
se que apenas 17 trabalhos utilizaram uma abordagem qualitativa, o que mostra que essa 
abordagem ainda pode ser mais explorada na pesquisa em administração. 
 
 Quadro 1- Método por divisão 
 
 
A : Empírico B : Misto E : Qualitativo O : Quantitativo AB : Teórico 
ADI 5 1 2 2 0 
APB 4 0 3 1 1 
CON 4 0 0 4 1 
EOR 4 0 4 0 0 
EPQ 3 0 1 2 2 
ESO 5 0 1 4 0 
FIN 5 0 0 5 0 
GCT 5 0 0 5 0 
GOL 5 0 2 3 0 
GPR 5 0 5 0 1 
MKT 5 0 1 4 0 
Total 49 1 17 31 5 
 Fonte: Resultados da pesquisa, 2015 
 
Aliado a isso, foi identificado apenas um estudo que adotou o métodomisto e utilizou 
técnicas de coleta e análise de dados qualitativos e quantitativos. Esse estudo pertence a área 
de Administração da Informação (ADI). Creswell (2010) destaca as potencialidades desse 
método e mostra que os pesquisadores poderão adotá-lo para expandir os resultados de um 
método com outro e obter uma análise ampla do problema de pesquisa. Assim, recomenda-se 
o uso desse método para aprimorar e enriquecer os estudos em administração. 
Essa matriz de codificação também mostra o método adotado nos estudos de cada 
divisão da Anpad. Em algumas áreas percebe-se o predomínio de determinado método, como 
é o caso da área de Finanças (FIN), Gestão de Ciência Tecnologia e Inovação (GCT), 
Contabilidade (CON), Estratégia em organizações (ESO) e Marketing (MKT) em que 
predominam os estudos quantitativos os quais fundamentam seus achados em dados e técnicas 
estatísticas. 
Nas áreas de Administração Pública (APB) e Estudos Organizacionais (EOR) 
predominam estudos qualitativos voltados para o entendimento dos fenômenos sociais a partir 
das experiências, interações etc. Nas áreas de Ensino e Pesquisa em Administração e 
Contabilidade (EPQ), Administração da Informação (ADI) e Gestão de Operações e Logística 
(GOL) não foi identificada a predominância de um método. 
Cada abordagem de pesquisa tem técnicas e estratégias de investigação peculiares. 
Diante disso, o quadro 2 apresenta uma matriz de codificação que dispõe as técnicas e 
estratégias da pesquisa qualitativa e da quantitativa identificadas nos artigos de cada área da 
Anpad. 
 
Quadro 2 – Detalhamento do método por divisão 
Métodos ADI APB CON EOR EPQ ESO FIN GCT GOL GPR MKT 
Quantitativo – Estudo survey | Experimental 
Análise de 
Cluster 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 
Análise de 
variância 
(ANOVA) 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 2 
Análise 
envoltória de 
dados 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 
Análise 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 
	
11	
fatorial 
Equações 
estruturais 2 0 1 0 1 2 0 0 2 0 2 
Estatística 
descritiva 0 1 0 0 0 1 1 0 1 0 0 
Estatística 
não – 
paramétrica 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 
Regressão 
linear 0 0 3 0 0 0 4 2 0 0 1 
Regressão 
Quantílica 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 
Qualitativo 
Estudo de 
caso 1 0 0 1 0 0 0 0 2 1 1 
Etnografia 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 
Observação 
participante 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 
Pesquisa 
narrativa 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 
Entrevistas 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 
Grupo focal 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 
Painel de 
especialistas 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 
Fonte: Resultados da pesquisa, 2015. 
 
Em relação ao método de levantamento (survey) e experimento, a modelagem de 
equações estruturais é a técnica de análise mais utilizada e foi identificada em estudos de 
diversas áreas, tais quais ADI, CON, EPQ, ESO, GOL e MKT. Além disso, constata-se o uso 
da técnica de regressão linear nos estudos da área de CON, FIN e GCT. 
No que concerne as estratégias de investigação da pesquisa qualitativa, constatou-se a 
aplicação de três das técnicas especificadas por Creswell (2014) que foi o estudo de caso, a 
etnografia e a pesquisa narrativa. A estratégia mais utilizada nos estudos foi o estudo de caso 
o que corrobora com a literatura que apresenta essa estratégia como uma das mais utilizadas 
na pesquisa qualitativa no campo das ciências sociais (YIN, 2015). Na maior parte dos 
estudos analisados constatou-se o rigor metodológico na aplicação do método, constatou-se 
que em alguns deles foi utilizada a triangulação. 
É importante destacar que outras estratégias como a fenomenologia e a teoria 
fundamentada não foram utilizadas nesses estudos. Além disso, foi observado que a maior 
parte dos estudos qualitativos analisados não especificou qual é a abordagem de pesquisa 
utilizada, apontando apenas as técnicas de coleta e análise adotadas. Creswell (2014) 
recomenda a adoção de uma estratégia de investigação da pesquisa qualitativa que seja 
adequada para o alcance dos objetivos da pesquisa e resposta ao problema de pesquisa. 
A outra categoria de análise foi "Paradigma" que está subdivida em três subcategorias 
que representam os três paradigmas abordados nesse estudo, que são: “Positivista/Pós-
positivista”; “Interpretativista” e “Crítico”. Para cada subcategoria forma vinculados três 
códigos que apresentam aspectos ontológicos, epistemológicos e metodológicos de cada 
paradigma conforme pode ser visto na matriz de codificação abaixo (quadro 3). Não foi 
possível identificar o paradigma em três artigos que foram codificados como teóricos. 
Constatou-se que o paradigma positivista/ pós-positivista é o que orienta a grande parte 
dos estudos, dos 54 estudos analisados, 36 são orientados por esse paradigma. Os aspectos 
epistemológicos e metodológicos do positivismo foram facilmente identificados e 
codificados, todavia o aspecto ontológico não foi identificado nem codificado na maioria 
deles pois os trabalhos não situam e explicam o paradigma que norteia o seu trabalho. 
	
12	
Creswell (2014) afirma que os investigadores em geral desconsideram a etapa de 
apresentar os pressupostos filosóficos que estão incorporados na pesquisa, todavia é útil 
destacá-los e posicioná-los nos níveis do processo de pesquisa. Dos trabalhos analisados que 
foram classificados como positivista, apenas o trabalho premiado da divisão ESO em 2012 
especifica a sua orientação ontológica como pode ser visto no trecho abaixo. 
 
 O objetivo do presente estudo é desenvolver um modelo organizacional para 
avaliação de desempenho e eficiência dos hospitais filantrópicos (...) .A concepção 
de avaliar desempenho e produtividade (eficiência) nas organizações surgiu dos 
ideais positivistas propostas por Augusto Comte, numa revolução científica em que 
a matemática servira de respaldo para as experimentações e validações dos 
processos operacionais. 
Esse resultado corrobora com Barbosa et al. (2013) o qual apresenta o positivismo 
como um paradigma muito forte na administração que orienta grande parte das pesquisas. O 
autor ainda explica que o fato da Administração ter sua origem no campo prático sob a égide 
do paradigma positivista-funcionalista contribui para essa tendência. 
 
Quadro 3 – Categoria Paradigma por Divisão 
 ADI APB CON 
EO
R 
EP
Q ESO FIN 
GC
T GOL GPR MKT 
PARADIGMA CRÍTICO 
D : ONT- A realidade 
é influenciada por 
valores 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0 
B : EPIST- 
Conhecimento gerado 
ligado a 
transformação e 
emancipação 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 
C : MET-Uso da 
dialética e dialógica 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 
PARADIGMA POSITIVISTA / PÓS-POSITIVISTA 
H : ONT-A realidade 
é socialmente 
construída 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 
J : EPIST- 
Conhecimento gerado 
ligado a previsão, 
controle e 
generalização 3 1 4 0 1 4 5 5 4 0 5 
G : MET- 
Investigação de ação, 
percepção e 
experiência 3 1 4 0 2 2 5 3 1 0 7 
PARADIGMA INTERPRETATIVISTA 
L : ONT-A realidade 
é objetiva e 
compreendida 0 0 0 3 1 0 0 0 0 2 0 
F : EPIST- 
Conhecimento gerado 
ligado a interpretação 
de significados 1 1 0 3 1 0 0 0 0 3 0 
K : MET-
Experimental, 
manipulativo, 
verificação de 
hipóteses 1 1 0 3 1 1 0 0 1 3 0 
Fonte: Resultados da pesquisa, 2015 
	
13	
 
O paradigma interpretativista foi identificado em 12 estudos. Em 11 desses estudos 
foram identificados os aspectos epistemológicos, ontológicos e metodológicos. Nesses 
trabalhos foi possível constatar que os autores especificaram suas escolhas e justificaram o 
uso do método e o delineamento do estudo com base no paradigma escolhido. Um bom 
exemplo disso é o trecho do artigo premiado na divisão de EOR em 2014. 
 
A justificativa para a escolha do método se baseou principalmente nos pressupostos 
ontológicos e epistemológicos dos autores, que não só compartilham dos ideais da 
produção coletiva do saber, como também sustentam o argumento de que o uso de 
métodos participativos no estudo da economia solidária (...) 
 
O paradigma crítico foi identificado em apenas três estudos das linhas de EOR, GPR e 
EPQ. Nesses estudos, os aspectos ontológicos, epistemológicos e metodológicos estão 
explicitados. Esse resultado corroboracom Davel e Alcadipani (2003) que mostra a carência 
de estudos críticos em administração e principalmente de estudos empíricos em profundidade, 
os autores afirmam que existe um predomínio de artigos ensaísticos. 
No quadro acima é possível constatar os paradigmas utilizados em cada divisão da 
Anpad. Os estudos analisados das divisões CON, FIN, GCT e MKT adotam o paradigma 
positivista e utilizam métodos eminentemente quantitativos com o uso de experimentos e 
survey para explicar os fenômenos, identificar relações e testar hipóteses. 
Apenas um estudo da divisão de MKT, adota o paradigma positivista/ pós positivista e o 
método qualitativo. Creswell (2014) mostra que é possível adotar um sistema de crenças 
fundamentado no pós-positivismo na pesquisa qualitativa, esses estudos utilizam múltiplos 
níveis de análise de dados, usam programa de computadores para auxiliarem a análise e 
redigem os resultados em forma de relatórios científicos que tem uma estrutura parecida com 
o de estudos quantitativos. 
 Nas divisões EOR e GPR predomina o paradigma interpretativista e o crítico, não 
foram verificados estudos que estão dentro do paradigma positivista/ pós-positivista. Uma 
explicação para a adoção desses paradigmas é o objeto de estudo que estão vinculados a essas 
divisões. O objeto de estudo muitas vezes são fenômenos organizacionais que são 
investigados dentro de um contexto e a partir das vivências dos sujeitos. Para subsidiar esses 
estudos são utilizados métodos qualitativos para compreender os significados, experiências e 
ações dos sujeitos. 
Nas divisões APB, EPQ e ADI não existe um paradigma nem um método dominante. 
Os estudos quantitativos adotam um paradigma positivista, já os estudos qualitativos estão 
incorporados ao paradigma interpretativista. Esse resultado que mostra o panorama da divisão 
ADI corrobora com Fell et al. (2010) e Diniz (2006) que constataram a predominância da 
visão positivista nos estudos de sistemas de informação no Brasil e a carência de estudos que 
explicam o contexto social e cultural da área. 
 A maior parte dos estudos das divisões GOL e ESO tem uma orientação positivista e 
utiliza métodos quantitativos. Foram identificados apenas dois estudos que estão vinculados 
ao paradigma interpretativista e utilizam métodos qualitativos. 
 A última categoria de análise foi “Consistência da conclusão” que teve o código 
“Consistente com objetivo, paradigma e métodos”. Esse código teve 54 referências 
codificadas, ou seja, todos os artigos analisados apresentam uma consistência nos seus 
achados com objetivo e método especificados e também com o paradigma, embora grande 
parte deles não torna explícito o paradigma adotado. 
 
 
 
	
14	
5. Considerações finais 
 
Este estudo trouxe algumas reflexões sobre os paradigmas da pesquisa e sua aplicação 
em administração. Por meio de uma pesquisa empírica foi constatado que a maior parte dos 
estudos em administração adotam uma visão positivista com o uso métodos quantitativos. 
Verificou-se que em algumas áreas da administração esse paradigma é mais evidente, tais 
quais, Finanças, Contabilidade, Gestão da Ciência, Tecnologia e Inovação e Marketing. 
Em contrapartida, foram identificados poucos estudos sob a ótica dos paradigmas 
interpretativistas e crítico. Aliado a isso, evidencia-se a existência de poucos trabalhos que 
utilizam os métodos qualitativos. As áreas de Estudos organizacionais e Gestão de Pessoas e 
Relações de Trabalho destacam-se na utilização de uma linha interpretativista e/ou crítica em 
seus estudos, procurando analisar os fenômenos a luz dos pressupostos ontológicos, 
epistemológicos e metodológicos dessas correntes. 
Apesar da predominância do positivismo, foram identificados trabalhos interpretativos e 
críticos que enfatizam a complexidade dos fenômenos estudados. Isso parece mostrar que a 
administração está inserida em uma perspectiva multiparadigmática de modo que são 
desenvolvidos diversos métodos para analisar os fenômenos e desenvolvidas teorias mais 
abrangentes. Barbosa et al. (2013) defende essa perspectiva mostrando que a administração 
pode usar paradigmas múltiplos para olhar os fenômenos organizacionais, respeitando as 
abordagens opostas e revelando facetas interdependentes de fenômenos complexos. 
É importante ressaltar que não existe um paradigma superior a outro, cada um apresenta 
aspectos metodológicos, ontológicos e epistemológicos únicos. Ao adotar um paradigma, o 
pesquisador deve escolher aquele que seja coerente e capaz de subsidiar uma investigação 
eficaz do seu objeto de pesquisa. 
Como limitação da pesquisa destaca-se a restrição do período do tempo analisado. 
Sugere-se estudos posteriores que analisem a produção científica nas áreas específicas da 
administração e mostrem estratégias de triangulação de paradigmas e métodos. Por fim, esse 
estudo contribui para a reflexão sobre os paradigmas da pesquisa em administração, 
mostrando a importância da adoção de novos enfoques epistemológicos, metodológicos e 
ontológicos para a compreensão dos fenômenos organizacionais. 
 
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