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Módulo X Saúde Da Mulher Raquel Rogaciano 1 PRINCÍPIOS ÉTICOS NO ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE Os princípios éticos no atendimento a adolescentes nos serviços de saúde se referem especialmente à privacidade, caracterizada pela não permissão de outrem no espaço da consulta; confidencialidade, definida como acordo entre profissional da saúde e cliente de que as informações discutidas durante e após a consulta não podem ser passadas aos responsáveis sem a permissão do adolescente; sigilo, regulamentado pelo Artigo 103, publicado no DOU de 26 de janeiro de 1983: “É vedado ao médico revelar segredo profissional referente a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-se por seus próprios meios para solucioná-lo, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente” do Código de Ética Médica*; e autonomia, contida no Capítulo II, art. 17, do ECA+. Estudo realizado nos EUA mostra que, quando o sigilo e a confidencialidade não são garantidos, a maioria dos adolescentes não revela certas informações. Existem, entretanto, situações em que o profissional percebe que o adolescente não tem condições de arcar sozinho com sua saúde ou se conduz de forma a causar danos a si ou a outras pessoas. Nessas, a quebra do sigilo é justificada. Nas situações em que se caracterizar a necessidade da quebra do sigilo médico, o paciente deve ser informado, justificando-se os motivos para essa atitude. A consulta deve sempre acontecer em dois momentos, um junto com a sua família e outro só com o adolescente, às vezes a família não autoriza essa privacidade. No entanto, é um direito do adolescente, garantido pelo ECA. O art. 3o descreve que "a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata essa lei, assegurando- se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar os desenvolvimentos físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade". Portanto, qualquer exigência que possa afastar ou impedir o exercício pleno do adolescente de seu direito fundamental à saúde e à liberdade, como a obrigatoriedade da presença de um responsável para acompanhamento no serviço de saúde, constitui lesão ao direito maior de uma vida saudável. MENORES DE 14 ANOS: A população entre 10 e 14 anos (fase inicial da adolescência) também deve ser considerada como de risco para atividade sexual consentida e, frequentemente, desprotegida. Assim, métodos e técnicas de prevenção precisam estar direcionados à adolescência inicial. Não esquecer que, neste grupo, prevalecem a curiosidade, experimentação e consequentemente, comportamentos de risco. É interessante, ainda, lembrar que nesta faixa etária, onde prevalece a fantasia, é imprescindível que se garanta uma abordagem mais ampla da sexualidade, com ênfase para a afetividade e o prazer. Independentemente da idade, os profissionais devem valorizar a autonomia de decisão e capacidade do adolescente de administrar suas tarefas. Mesmo que não haja solicitação, o médico deverá realizar a orientação sexual pertinente, ressaltando-se a importância da informação sobre todos os métodos anticoncepcionais, com ênfase no uso de preservativos, sem colocar, a priori, juízo de valor. A prescrição de anticoncepcionais está relacionada à solicitação dos adolescentes, respeitando- se os critérios de elegibilidade, independentemente da idade. Em relação ao temor da prescrição de anticoncepcionais para menores de 14 anos, faixa em que haveria violência presumida (estupro), esse deixa de existir frente à informação ao profissional da não ocorrência da violência, a partir da informação da adolescente e da avaliação criteriosa do caso, que deve ser devidamente registrada no prontuário médico. ATIVIDADE SEXUAL E CONTRACEPÇÃO ANTES DOS 15 ANOS As relações sexuais antes dos 15 anos, segundo o Código Penal Brasileiro, configuram-se em crime de estupro, previsto no art. 213, estando a violência presumida na razão da idade da vítima (art.224, alínea a). Portanto, nesses casos, seria necessária notificação ao Conselho Tutelar. Essa lei está totalmente defasada da realidade social atual, em que cerca da metadedos adolescentes inicia a atividade sexual antes dos 15 anos, e a jurisprudência vem reduzindo o rigor do dispositivo quando se comprova que esses têm discernimento para consentir a prática sexual. O art. 103 do ECA supera o Código Penal Brasileiro quando preconiza que os direitos básicos de saúde e liberdade predominam sobre qualquer outro que possa prejudicá-los. A avaliação médica pode, junto com a paciente, decidir pela contracepção, se assim considerar o melhor para ela. A orientação contraceptiva envolvendo métodos de curta duração, como pílulas, geralmente é realizada sem problemas seguindo esses preceitos. Por outro lado, os métodos de longa ação (métodos intrauterinos e implantes), por necessitarem de procedimento médico para a inserção, podem suscitar dúvidas. Para esses métodos, quando indicados, a FEBRASGO sugere que pode-se considerar o consentimento da adolescente e do responsável, reforçando o aconselhamento contraceptivo Módulo X Saúde Da Mulher Raquel Rogaciano 2 Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), a prescrição de métodos anticoncepcionais para menores de 15 anos deverá levar em conta a solicitação delas, respeitando- se os critérios médicos de elegibilidade, o que não constitui ato ilícito. A presunção de estupro deixa de existir, frente ao conhecimento que o profissional possui de sua não-ocorrência, a partir da informação da paciente e avaliação criteriosa do caso. É importante que você aborde aqui sobre esse impasse e todos os problemas que diversas crianças e adolescentes se encontram. Problematize aqui a prostituição infantil. MÉDICO X RELIGIÃO X CÓDIGO DE ÉTICA – Código de Ética Médico Capítulo I PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS I - A Medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e será exercida sem discriminação de nenhuma natureza. VIII - O médico não pode, em nenhuma circunstância ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade profissional, nem permitir quaisquer restrições ou imposições que possam prejudicar a eficiência e a correção de seu trabalho. VII - O médico exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à saúde do paciente. Capítulo II DIREITOS DOS MÉDICOS É direito do médico: I - Exercer a Medicina sem ser discriminado por questões de religião, etnia, sexo, nacionalidade, cor, orientação sexual, idade, condição social, opinião política ou de qualquer outra natureza. IX - Recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência. Capítulo III RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL É vedado ao médico: Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. Art. 20. Permitir que interesses pecuniários, políticos, religiosos ou de quaisquer outras ordens, do seu empregador ou superior hierárquico ou do financiador público ou privado da assistência à saúde, interfiram na escolha dos melhores meios de prevenção, diagnóstico ou tratamento disponíveis e cientificamente reconhecidos no interesse da saúde do paciente ou da sociedade. Capítulo V - RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES É vedado ao médico:Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente risco de morte. Art. 32. Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente. Art. 42. Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre método contraceptivo, devendo sempre esclarecê-lo sobre indicação, segurança, reversibilidade e risco de cada método. Capítulo VI( não falava nada sobre o assunto) Capítulo VII - Art. 47. Utilizar sua posição hierárquica para impedir, por motivo de crença religiosa, convicção filosófica, política, interesse econômico ou qualquer outro, que não técnico-científico ou ético, que as instalações e os demais recursos da instituição sob sua direção sejam utilizados por outros médicos no exercício da profissão, particularmente se forem os únicos existentes no local. CASOS DE TRANSFUSAO SANGUÍNEA RESOLUÇÃO CFM nº 1.021/80 Em caso de haver recusa em permitir a transfusão de sangue, o médico, obedecendo a seu Código de Ética Médica, deverá observar a seguinte conduta: 1º - Se não houver iminente perigo de vida, o médico respeitará a vontade do paciente ou de seus responsáveis. 2º - Se houver iminente perigo de vida, o médico praticará a transfusão de sangue, independentemente de consentimento do paciente ou de seus responsáveis. Módulo X Saúde Da Mulher Raquel Rogaciano 3 CONDUTA MÉDICA AO ADOLESCENTE DE ACORDO A SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA No momento da consulta, o profissional vai ao encontro das problemáticas, dos anseios e frustrações do adolescente, sendo altamente recomendável evitar julgamentos de valores para que se estabeleça uma relação de confiança, o que não impede de realizar as intervenções pertinentes. O pediatra deve, pois, atuar enquanto mediador, apaziguando conflitos e dirigindo-se ao cliente de forma empática, assertiva e sincera, para esclarecer dúvidas e orientar, estendendo suas ações aos familiares. No início do primeiro encontro, deve-se pontuar que a pessoa central da consulta é o adolescente, deixando claro seus direitos ao sigilo, privacidade, confiabilidade, porém alertando quanto aos limites das questões éticas, tanto para o cliente quanto seus É preciso que fique claro ao jovem que nada será tratado com seus pais/responsáveis sem que ele seja informado previamente, mesmo quando é preciso romper o sigilo, conscientizando-o da importância de informar determinadas situações. Segredos íntimos próprios da adolescência não requerem quebra de sigilo, havendo necessidade de informar se houver riscos à saúde ou integridade de vida do cliente ou de terceiros. Cabe aqui, também, abordar as novas formas de comunicação na era da informática. As mensagens instantâneas – WhatsApp, Messenger do Facebook, FaceTime, Skype, dentre outros – facilitam a comunicação rápida entre o médico e o paciente, mas é preciso utilizá-los seguindo cuidados. Assim, recomenda-se adotar o que dispõe o Código de Ética Médica, sendo vedado ao profissional: “Art. 37. Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nessas circunstâncias, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento. Fica claro que o CFM proíbe consultas, diagnóstico ou prescrições por qualquer meio de comunicação, por entender que a consulta física é insubstituível. Contudo, o próprio Conselho informa que “o médico pode orientar por telefone pacientes que já conheça, aos quais já prestou atendimento presencial, para esclarecer dúvidas em relação a um medicamento prescrito, por exemplo”. ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE Esse momento da consulta implica coletar informações sobre o paciente, familiares e o ambiente onde vive. Necessita ser ampla e abordar os aspectos físicos, psíquicos, sociais, culturais, sexuais e espirituais. Do ponto de vista didático, pode-se dividir a anamnese em três ou mais momentos: entrevista com paciente e familiares juntos, entrevista com o paciente a sós e retorno para cliente e pais/responsáveis. Primeiro momento da anamnese: adolescente e familiares juntos • Tópicos a serem abordados; • Motivo da consulta – nem sempre é uma patologia, mas uma situação ou agravo, por exemplo, queda no rendimento escolar, “timidez excessiva”; • Histórico da situação atual e pregressa do paciente, incluindo agravos e doenças; • Estado vacinal (verificar o cartão de imunizações); • Dados da gestação, parto e condições de nascimento, e peso ao nascer; • Hábitos alimentares (horário das refeições, quantidade e qualidade dos nutrientes, hábitos de guloseimas); • Condições de habitação, ambiente e rendimento escolar, exposição a ambientes violentos, uso de tecnologia da informática (tempo em celular, games, computador); • História familiar – refere-se à configuração, dinâmica e funcionalidade: com quem o(a) adolescente mora, situação conjugal dos pais e consanguinidade, outros agregados na residência, harmonia ou situações conflituosas no ambiente. • Não se esquecer de obter dados sobre o sono, lazer, as atividades culturais, exercícios físicos, religião. Segundo momento da anamnese: a sós com o adolescente Constitui o tempo mais importante da consulta, uma vez que é a oportunidade de o paciente se expressar de forma mais livre e aberta. A conversa deve ocorrer em ambiente sigiloso, abordando novamente o motivo que o traz à consulta, pois pode diferir do relato da família. Convém relembrar a abordagem de acordo com a ética profissional, sem julgar a sua versão dos fatos. Nesta etapa, devem ser coletadas informações sobre: • A percepção corporal e autoestima; • Relacionamento com a família (pais, irmãos, parentes), ocorrência de conflitos; • A utilização das horas de lazer, as relações sociais, grupo de iguais, desenvolvimento afetivo, emocional e sexual; • Conhecer outros espaços por onde o adolescente transita e mantém relacionamentos interpessoais – escola, comunidade, grupos de jovens, e trabalho (normas adequadas do tipo e local, salubridade, não interferência na escola e remuneração); • Crenças e atividades religiosas; Módulo X Saúde Da Mulher Raquel Rogaciano 4 • Investigar situações de risco e vulnerabilidade a que os adolescentes se expõem: contato com drogas lícitas (álcool, tabaco, cigarro eletrônico, narguilés) e ilícitas, • Aspectos relacionados aos comportamentos sexuais, gênero e orientação sexual saúde reprodutiva, gestações não planejadas, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs); • Ocorrência de acidentes, submissão a violências; • Tempo de exposição às telas digitais – celulares, notebooks, televisão e videogames. Existem exceções para o não atendimento a sós com o cliente: déficit intelectual do paciente que o incapacite responder, distúrbios psiquiátricos graves ou mesmo o próprio desejo do paciente em não ficar sozinho com o profissional. Terceiro momento da anamnese: com os pais /responsáveis Na existência de conflitos evidentes, ou de violência familiar, torna-se necessário mais uma etapa, desta vez para uma conversa a sós com os responsáveis. Assim como, para orientá-los sobre as hipóteses diagnósticas percebidas e as explicações sobre as condutas terapêuticas a serem tomadas. Exame físico Devem ser avaliados ou examinados: • Aspectos gerais (aparência física, pele hidratada, eupneico, normocorado, etc.); • Peso, altura, índice de massa corporal (IMC)/ idade e altura/idade – utilizar gráficos e critérios da OMS; Pregas cutâneas; • Pressão arterial (deve ser mensurada pelo menos uma vez/ano e compará-las às curvas de pressãoarterial para idade); • Acuidade visual com escala de Snellen. • Estado nutricional; • Tireoide, cavidade oral, otoscopia; • Coluna Vertebral e postura; • Exame neurológico e mental (sumários); • A genitália deve ser avaliada ao final do exame físico, no próximo momento oportuno se paciente não permitiu, especialmente se houver queixa específica. O profissional deve ser habilitado para tal exame, evitando a exposição desnecessária do paciente. • Maturação sexual - utilizar critérios de Tanner (masculino e feminino), orquidômetro para avaliar o volume testicular. A Caderneta de Saúde de Adolescentes, nas versões masculina e feminina, foi desenvolvida pelo Ministério da Saúde para ser um instrumento de apoio aos profissionais, adolescentes e famílias, objetivando a promoção da saúde e do autocuidado, devendo ser utilizada desde o início da adolescência, a partir dos 10 anos. Contém gráficos das curvas de crescimento, espaço para registro das medidas antropométricas e dos estágios de maturação sexual, das intervenções odontológicas, calendário vacinal, períodos menstruais. Possui ainda informações em linguagem prática sobre questões comuns: acne, amizades e afeto, alimentação, colocação do preservativo masculino, calendário para registro dos ciclos menstruais. Direito a Escolhas -Os adolescentes têm o direito de receber informações sobre qualquer aspecto relacionado com sua sexualidade e saúde reprodutiva. Orientados por profissionais de saúde, inclusive o pediatra, podem e devem decidir pela escolha de métodos contraceptivos adequados para essa fase, para o exercício de uma vida sexual saudável e responsável: preservativos masculino e feminino, anticoncepcionais hormonais orais, anticoncepcional injetável, diafragma, DIU e, se necessária, a contracepção de emergência. -Os adolescentes têm direito à escolha de realizar consulta médica, procedimentos não invasivos como coleta de exames laboratoriais, sozinhos ou acompanhados por familiares, amigos ou parceiros, desde que o profissional reconheça que ele tem discernimento adequado de sua saúde e compreensão de seu autocuidado. Este atendimento vem se revelando como elemento indispensável para a melhoria do acesso aos serviços, da qualidade da prevenção, assistência e promoção de sua saúde. Toda e qualquer exigência, como a obrigatoriedade da presença de um responsável para acompanhamento no serviço de saúde, constitui lesão ao direito maior de uma vida saudável. Em casos de internação hospitalar, será necessária a autorização de pai-mãe-responsável legal, o que não impedirá qualquer conduta de emergência, por motivos éticos e profissionais de omissão de socorro. Solicitar, sempre que possível, a presença de um profissional da equipe do serviço social. ORIENTAÇÕES PARA O ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE SEGUNDO O SUS -No atendimento à saúde de adolescente, alguns pontos devem ser considerados na abordagem clínica, destacando-se o estabelecimento do vínculo de confiança entre a equipe de saúde da família, o adolescente e sua família. Uma atitude acolhedora e compreensiva também possibilitará a continuidade de um trabalho com objetivos específicos e resultados satisfatórios no dia a dia. Princípios importantes que facilitam a relação entre a equipe de saúde e o adolescente: 1. O adolescente precisa perceber que o profissional de saúde inspira confiança, que adota atitude de respeito e imparcialidade, restringindo-se às questões de saúde física. Não julga as questões emocionais e existenciais Módulo X Saúde Da Mulher Raquel Rogaciano 5 escutadas. Nesse terreno, o profissional de saúde não deve ser normativo. 2. O adolescente precisa estar seguro do caráter confidencial da consulta, mas ficar ciente também das situações nas quais o sigilo poderá ser rompido, o que, no entanto, ocorrerá sempre com o conhecimento dele. 3. É importante estar preparado não só para ouvir com atenção e interesse o que o adolescente tem a dizer, mas também ter sensibilidade suficiente para apreender outros aspectos que são difíceis de serem expressados oralmente por eles. 4. Geralmente, o atendimento de adolescente necessita de tempo e, na maioria das vezes, demanda mais de um retorno. 5. O modelo clássico de anamnese clínica mostra-se inadequado ao atendimento do adolescente na Unidade Básica de Saúde, pois não são considerados os aspectos da vida social, de trabalho, da sexualidade, da situação psicoemocional e violência, entre outros. 6. Na maioria das vezes, o adolescente não procura o médico espontaneamente, é levado pelos pais e, com certa frequência, contra a sua vontade. Assim, é comum defrontar-se com um jovem ansioso, inseguro, com medo ou, pelo contrário, assumindo uma atitude de enfrentamento, ou do mais absoluto silêncio. 7. Se o adolescente procurar a Unidade Básica de Saúde sem o acompanhamento dos pais, ele tem o direito de ser atendido sozinho. No entanto, a equipe poderá negociar com ele a presença dos pais ou responsáveis se for o caso. 8. A entrevista inicial poderá ser feita só com o adolescente, ou junto com a família. De qualquer forma, é importante haver momento a sós com o adolescente, que será mais de escuta, propiciando uma expressão livre, sem muitas interrogações, evitando-se observações precipitadas. 9. O exame físico exige acomodações que permitam privacidade e propiciem ambiente em que o adolescente se sinta mais à vontade. O exame é de grande importância, devendo ser completo e detalhado, possibilitando a avaliação do crescimento, do desenvolvimento e da saúde como um todo. Alguns aspectos devem ser levados em conta pelo profissional: a) Esclarecimento sobre a importância do exame físico; b) Esclarecimento sobre os procedimentos a serem realizados; c) Respeito ao pudor; d) Compreensão do adolescente sobre as mudanças do seu corpo; e) Compreensão da imagem corporal que o adolescente traz. Sempre, durante o exame físico, deverá ter um outro profissional presente para que preserve a ética em relação a interpretações diferentes por parte do adolescente, resguardando o profissional. Esclarecer ao adolescente, antes do exame, tudo o que vai ser realizado. O roteiro inclui: 1- Aspecto geral (aparência física, humor, pele hidratada, eupneico, normocorado, etc.) 2- Avaliação de peso, altura, IMC/idade e altura/idade – usar curvas e critérios da OMS (2007); 3- Verificação da pressão arterial (deve ser mensurada pelo menos uma vez/ano usar curvas de pressão arterial para idade); 4- Avaliação dos sistemas: respiratório, cardiovascular, gastrointestinal, etc.; 5- Avaliação do estagiamento puberal – usar critérios de Tanner (masculino e feminino). Aproveitar sempre este momento, após a consulta, para esclarecer o uso do preservativo (masculino e feminino) e dos contraceptivos para a prevenção da gravidez e das DSTs/AIDS, enfatizando a dupla proteção, que é o uso do preservativo masculino ou feminino, associado a outro método contraceptivo. Observar o estágio de maturação sexual, e qualquer anormalidade, encaminhar à referência. Encaminhar para exame ginecológico todas as adolescentes que já iniciaram atividades sexuais e/ou apresentarem algum problema ginecológico. Em relação ao adolescente masculino que já iniciou as atividades sexuais ou apresentaram algum problema geniturinários esclarecer suas dúvidas, orientando para o autocuidado e para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez. Ao final da consulta devem ser esclarecidos os dados encontrados e a hipótese diagnóstica. A explicação da necessidade de exames e de medicamentos pode prevenir possíveis resistências aos mesmos. REFERÊNCIAS Berek & Novak. TRATADO DE GINECOLOGIA. 15ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. TAQUETTE,Stella R. Conduta ética no atendimento à saúde de adolescentes. Adolescencia e Saude, v. 7, n. 1, p. 6-11, 2010.
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