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RESENHA DO DOCUMENTARIO - ME AGUARDANDO PRA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
CENTRO DE CIENCIAS 
DEPARTAMNETO DE GEOGRAFIA 
DISCIPLINA DE GEOGRAFIA DA ENERGIA E DAS INDUSTRIAS 
PROFª.DR ALEXSANDRA MARIA VIEIRA MUNIZ 
 
RESENHA - ESTOU ME GUARDANDO PARA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR 
 O documentário lançado em 2019 pelo serviço de streaming “Netflix”, trouxe um 
grande questionamento a sociedade e material a ser pensado, além de dialogar com a 
disciplina de Geografia da Energia e das Industrias. O cenário é o Agreste de Pernambuco, 
nas localidades de Toritama, Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe, ambas compõem o polo 
de produção de Jeans de Pernambuco. Em análise ao documentário podemos discorrer em 
alguns pontos bem presentes como: a produção de jeans, a ligação da produção do Jeans 
com a economia local e o impacto da produção de Jeans na vida dos produtores e moradores 
da cidade. 
 A produção de Jeans em Toritama é visivelmente presente em toda a cidade desde a 
forma de produção com as facções, grande indústrias e pequenas indústrias “de quintal”, até 
sua comercialização na grande “feira de domingo”, onde a produção semanal e escoada, é 
perceptível que a cidade se molda a produção de Jeans em cada ponto da cidade mostrada 
em cena no documentário, era visível a presença da produção, inclusive pelos grandes totens 
publicitários espalhados pela entrada da cidade. Uma característica peculiar notada no 
documentário era a participação masculina na produção, desde os trabalhos manuais (corte 
e costura) até os braçais (lavagens, carregamento e descarregamento) e a formação de 
facções familiares, onde toda a família se envolve na produção das peças. 
Também é notável a organização do trabalho observado no documentário, o que 
dialoga com o texto de David Harvey sobre a transformação do capitalismo e o que ele trouxe 
para as formas de produção, como o modelo Fordista e toyotista, e observado na forma em 
que é sistematizado a produção do Jeans, cada qual exercendo sua função, em longas 
jornadas de trabalho tendo como pensamento, TRABALHO = TEMPO = DINHEIRO, quanto 
mais tempo eles passam produzindo peças a preço barato como 0,20 a 0,25 centavos citados 
no documentário mais eles ganhavam, com isso, surge a problemática os trabalhadores se 
desgastam ao máximo para arrecadar o máximo possível, em lugares desprovidos de 
qualidade de trabalho, com iluminação um tanto precária, sem segurança no maquinário ou a 
saúde, sendo trabalho informal os mesmo são isentos de direitos trabalhistas ou de qualquer 
seguro em caso de problemas de saúde, alimentando assim a produção capitalista, onde há 
a exploração em forma de alienação pelo capital, muitos na cidade não possuem perspectiva 
de vida, o que é mostrado em muitas cenas crianças e adolescente envolvidas na produção 
do Jeans, desde cedo aprendendo e reproduzindo o mesmo pensamento. Um ponto 
interessante dito por muitos dos entrevistados era em ser “seu próprio dono/chefe”, logo nos 
é mostrado a controvérsia desse mesmo pensamento, como ser “seu próprio dono/chefe”, 
sendo que os mesmos se dão a trabalhos estressantes e extremamente cansativos, sem 
direitos ou férias, esperando ao menos o carnaval chegar para o mínimo de relaxamento? isto 
se dá, ao controle do capital em suas vidas, onde a busca por ele se mostra o verdadeiro dono 
de suas vidas e da força de suas produções. 
Outro ponto percebido no documentário é a influência da produção do Jeans com a 
economia local, em algumas cenas e entrevistas foi notado que a antiga forma econômica da 
cidade de Toritama era apenas a agricultura familiar, de plantio e colheita, em entrevista a 
moradores mais antigos da cidade, isso é percebido com mais notoriedade pela forma de suas 
falas e ditos populares sobre conhecimentos relacionados ao plantio como assuntos ligados 
ao clima, a direção dos ventos e ao trato de animais de pequeno porte, porém é visto que sua 
forma de sustento com os novos impulsos econômicos da cidade estava diretamente ligada a 
produção de peças para a construção do jeans. Nisto, podemos analisar um fator de grande 
impacto na cidade de Toritama, que é a transformação do campo pelas zonas urbanas, que 
transformaram a paisagem da cidade com a confecção de Jeans, seja em teor social no que 
diz respeito a forma de sustento da população da cidade que impactou diretamente na 
qualidade e cotidiano dos moradores de Toritama, seja modificação econômica, tornando a 
cidade dependente da produção das peças, isso é visto pelo fato de que todas as formas de 
sustentos representadas no documentário como indústria, facção caseira, lojas e feiras livres, 
estão interligadas com a produção de Jeans. Até a organização da cidade é propicia ao 
escoamento de produção sendo ela ligada a importantes vias e rodovias que assim facilitam 
a entrada da cidade e a comercialização para o resto do Brasil. 
Analisando os pontos acima, percebemos o dialogo com os escritos da autora Ana 
Fani em seu texto sobre “Indústria e Urbana”, percebemos na forma de instalação da indústria 
e os impactos causados pelas a mesma nos habitantes das cidades expressadas no 
documentário, principalmente na malha urbana com sua aparência caótica e desordenada 
criada a pelos próprios que se utilizam do espaço. Ainda em acordo com Carlos é perceptivo 
a intensa necessidade pela produção, venda e distribuição das produções notada pela 
formação cíclica de produção, alimentada pelo capital e promovendo a desigualdade e as 
relações sociais de trabalho. Outro fator que reafirma tal pensamento notado no documentário 
está presente na mecanização do trabalho e no investimentos a tecnologias como a de laser 
mostrada nas cenas, tudo isso para a promover a produção em grandes quantidades, logo, 
quanto mais produzido em menos tempo, mais lucros se tem, pois mais mercadorias serão 
produzidas e comercializadas, ou seja, toda essa logica para sustentar o ciclo do capital. 
Assim podemos perceber o impacto da produção de Jeans na vida dos produtores e 
moradores da cidade de Toritama e nas demais transmitidas no documentário, nisto, 
chegamos ao clímax “O Carnaval”, a festa mais esperadas pelos moradores de Toritama, um 
momento de êxtase onde todos param a caótica e organizada produção de peças e se 
preparam desesperadamente pro carnaval chegar e assim poderem sair dessa realidade e 
“curtir” um momento tão merecido de descanso, porém chama a atenção a grande 
preocupação dos moradores em vender tudo o que tem para conseguir ir a praia, com isso se 
desfazem de maquinas, eletrodomésticos e eletrônicos, apenas para sentir o gosto da 
liberdade da intensa produção, e com isso é perceptível o quanto eles dependem das 
maquinas, da produção e de como a cidade é dependente a eles, pois imagens da cidade no 
carnaval não se percebe nenhum barulho ou movimentação, os comércios parados as 
avenidas sem movimento. 
Com isso, é nítido no documentário observar o impacto da indústria no espaço, logo 
entender a indústria é buscar compreender o espaço onde a mesma esta localizada, isto é 
percebido no documentário que entender a indústria de produção de Jeans em Toritama é 
buscar analisar os fatores com que a mesma se relaciona direta ou indiretamente. Foi possível 
conceber através do documentário a intensa relação da indústria com a produção do espaço 
urbano e organização da cidade, analisando a forma como se desenha a cidade de Toritama 
e de como ela funciona, é possível compreender a lógica capitalista e a influência na vidas 
dos habitantes da cidade que se tornam a mão-de-obra na circulação do capital no qual 
vendem sua força de trabalho na busca de sustentar sua existência, logo, o documentário traz 
importantes discursões e problemáticas além de mostrar a verdadeira face do capitalismo e 
da organização industrial.

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