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filosofia geral e juridica

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FILOSOFIA GERAL E 
JURÍDICA 
Cássio Vinícius Steiner de Sousa
Hermenêutica filosófica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Identificar em Hans-Georg Gadamer o expoente da hermenêutica
filosófica.
 � Explicar o que foi o círculo hermenêutico e o que é hermenêutica
filosófica.
 � Diferenciar hermenêutica de interpretação e apresentar a influência
de ambas no Direito.
Introdução
Sem atividade interpretativa, o Direito seria completamente vazio e vão, 
pois todos os dispositivos legais sequer poderiam ser considerados um 
ordenamento jurídico propriamente dito, não passando de um conjunto 
de sinais sem o menor sentido. Além disso, dado que um dispositivo 
legal qualquer suscita uma multiplicidade de interpretações possíveis, é 
necessário encontrar critérios e métodos para se estabelecer quais são 
boas e quais não são. Como você verá, é justamente nesse contexto que 
entra em cena a questão da hermenêutica.
Neste capítulo, você vai refletir sobre a questão da hermenêutica e da 
interpretação dos dispositivos legais. Aprenderá sobre a hermenêutica 
filosófica de Gadamer, bem como sobre a sua influência para o Direito.
Interpretação e hermenêutica
Embora seja muito comum considerar que nos distinguimos dos demais seres 
em virtude da racionalidade, não seria nenhum exagero se tal distinção fosse 
posta em função da nossa aptidão para interpretar as coisas. De modo geral, 
interpretar é a atividade de atribuir sentido a alguma coisa: textos, sons, 
imagens, estrelas, leis, etc. Tendo isso em mente, não é difícil compreender 
que a atividade interpretativa é constitutiva da humanidade, pois, se não 
fôssemos capazes de atribuir sentido às coisas, a própria atividade de pensar 
restaria perigosamente comprometida, sendo vazia e vã.
Tendo isso como pano de fundo, é importante perceber que a própria ativi-
dade interpretativa tem como pressuposto a ideia de que as coisas possuem um 
sentido que demanda interpretação. Nesse contexto, não é como se o homem 
visse, por exemplo, um conjunto de palavras sem sentido e procurasse dar um 
sentido qualquer para elas, mas que tal conjunto de palavras esconde certa 
mensagem que, por sua vez, deve ser decodificada por meio da interpretação. 
Em função disso, a ideia de que a interpretação atribui sentido para as coisas 
deve ser entendida, sobretudo, como um extrair ou um desvendar o próprio 
sentido daquilo que é interpretado. Isto é, algo que está implícito ou oculto e 
que só se revela pelo processo interpretativo.
Dada tal caracterização geral da interpretação, torna-se possível inferir que 
o objetivo da interpretação é justamente compreender o sentido de algo. Isto 
é, a finalidade do processo de interpretação de alguma coisa é compreender 
essa coisa. Dito isso, não é difícil inferir que, na medida em que possui uma 
finalidade, é perfeitamente possível que a interpretação erre ou acerte o seu 
alvo. Nesse contexto, uma boa interpretação é aquela que é capaz de explicitar 
o sentido efetivo de algo, ao passo que uma má interpretação é aquela que 
não consegue fazer isso de forma perspicaz. Assim, perguntamo-nos: como 
garantir que a interpretação efetivamente capture o sentido imanente das coisas?
É justamente no contexto de tal questão que a ideia de hermenêutica entra 
em cena. A palavra hermenêutica, cuja origem etimológica remonta à palavra 
grega hermeneuein, denota a arte ou o método de interpretar ou traduzir. Quanto 
a isso, é interessante que você saiba que a raiz da palavra está intimamente 
ligada aos mitos gregos, em especial à figura do deus Hermes.
Segundo a mitologia grega, Hermes, filho de Zeus com a ninfa Maia, é, entre outras 
coisas, considerado o mensageiro dos deuses olimpianos. Um dos modos de com-
preender tal atribuição passa pela ideia de que os deuses e os homens não falavam 
a mesma língua. Nesse contexto, a tarefa de Hermes era traduzir ou interpretar as 
mensagens que os deuses pretendiam comunicar aos homens, de modo que eles 
pudessem entendê-las. Com base nisso, torna-se possível concluir que, na sua origem, a 
palavra hermenêutica está, sobretudo, ligada à atividade de tornar algo compreensível. 
Agora, se esse é o caso, como devemos compreender a ligação entre a hermenêutica 
e a interpretação? Seriam uma e a mesma coisa ou coisas distintas?
Hermenêutica filosófica2
Como você deve estar imaginando, interpretação e hermenêutica não 
são termos sinônimos. Enquanto a interpretação tem por finalidade buscar o 
sentido das coisas, na sua acepção tradicional, a hermenêutica visa elucidar 
os métodos e os procedimentos utilizados para que a atividade interpretativa 
possa atingir, com sucesso, a sua finalidade precípua. Nesse contexto, torna-se 
possível compreender que, na base da diferença entre ambas, está a ideia de 
que, quando interpretamos algo, estamos seguindo, ainda que implicitamente, 
certo conjunto de princípios hermenêuticos que regem e governam a própria 
atividade interpretativa. Com efeito, não é exagero afirmar que a interpretação 
é uma aplicação da hermenêutica (MAXIMILIANO, 1997, p. 17).
Uma das questões mais importantes no contexto da hermenêutica diz 
respeito à relação entre a interpretação e a aplicação de algo. Com o obje-
tivo de elucidar a questão, e já encaminhando o debate para aquilo que nos 
importa, o caminho mais natural é apresentá-la no seu contexto jurídico. 
Nesse sentido, a questão da relação entre a interpretação e a aplicação gira 
em torno da norma jurídica. Tendo isso em mente, enquanto a interpreta-
ção visa elucidar qual norma jurídica, abstratamente, pode ser extraída de 
determinado texto legal, a aplicação visa, justamente, adequar a norma ao 
caso concreto. Para tornar mais claro o ponto, é necessário dar um passo 
para trás e distinguir o texto legal da norma jurídica.
Embora seja comum pensar que o texto legal, assim como definido 
pelo legislador, é, em si mesmo, a norma jurídica, se analisarmos mais 
profundamente a questão, veremos que tudo que o legislador faz é fornecer 
um texto que serve de fonte para a norma jurídica. Em outras palavras, 
rigorosamente falando, o legislador não produz normas, apenas textos 
legais. Para que o texto legal possa ser tomado como uma norma jurídica, 
ele deve ser decifrado por meio de um processo interpretativo que deter-
minará o seu alcance e o seu sentido. Assim, o próprio caráter normativo 
do texto legal é explicitado apenas no contexto da sua interpretação. Disso, 
resulta a ideia segundo a qual o papel do intérprete não é especificamente 
interpretar normas jurídicas, pois elas surgem justamente como o resultado 
ou o produto de um processo interpretativo.
Tendo estabelecido que a função precípua da interpretação, no contexto 
do Direito, é a decodificação da mensagem ou da norma jurídica contida no 
texto legal, torna-se possível voltar com mais propriedade à questão da relação 
entre a interpretação e a sua aplicação. Quanto a isso, com base no que foi 
dito anteriormente, a interpretação estaria mais ligada à elucidação do sentido 
da norma em abstrato, ao passo que a aplicação estaria ligada à fixação do 
sentido da norma para o caso concreto.
3Hermenêutica filosófica
Agora, se esse é o caso, perceba que, sem uma interpretação que seja capaz 
de transformar o texto legal em uma norma jurídica propriamente dita, a própria 
questão da aplicação da norma ao caso concreto restaria, em alguma medida, 
comprometida, pois, se não temos alguma compreensão da norma em abstrato, 
sequer somos capazes de saber se ela é ou não aplicável ao caso concreto. 
Nesse caso, parece natural considerar que existe uma espécie de primazia 
da interpretação sobre a aplicação. Porém, na prática, isso estaria correto?
Embora, por muito tempo, a visão acerca da hermenêutica tenha sido que 
ela tem total prioridade sobre a aplicação, contemporaneamente, tal concepção 
passou a ser bastante questionada. Nesse contexto, valendo-se de tal questio-
namento, é possível apresentarpelo menos dois modos de conceber a própria 
natureza da hermenêutica, bem como a sua função. De um lado, temos aquilo 
que podemos chamar de hermenêutica moderna, ou clássica, e, de outro lado, 
aquilo que podemos chamar de hermenêutica contemporânea.
Hermenêutica clássica: na base da hermenêutica clássica, cuja origem 
remonta ao período moderno, temos a ideia segundo a qual a interpretação 
e a aplicação são duas etapas radicalmente distintas. Além disso, há também 
o compromisso com a ideia de que a interpretação antecede a aplicação. Ou 
seja, há um compromisso com o primado da interpretação sobre a aplicação. 
Nesse contexto, conforme apresentamos anteriormente, torna-se possível 
compreender que, em um primeiro momento, devemos extrair qual é o 
sentido de algo, para que, em um segundo momento, possamos aplicar tal 
sentido aos casos concretos.
Segundo a compreensão clássica, a hermenêutica deve ser compreen-
dida, sobretudo, como uma metodologia, com uma série de procedimentos 
controlados e previsíveis, que garante objetivamente que o sentido abstrato 
será aplicado para o caso concreto. Nesse contexto, torna-se possível inferir 
que o grande problema da hermenêutica clássica pode ser traduzido como 
um problema de subsumir situações ou fatos concretos às normas jurídicas.
Hermenêutica contemporânea: na base da hermenêutica contemporâ-
nea, cujos principais representantes são Martin Heidegger e Hans-Georg 
Gadamer, está a ideia de que não existe efetivamente uma prioridade da 
interpretação sobre a aplicação. Nesse contexto, embora persista a ideia de 
que a interpretação e a aplicação não são atividades idênticas, abandona-
-se a concepção de que aquela antecede esta. Segundo tal concepção da 
Hermenêutica filosófica4
hermenêutica, também chamada de hermenêutica filosófica, interpretação 
e aplicação de algo são atividades que se complementam e que constituem 
conjuntamente certo processo de compreensão do que quer que seja. Em 
função disso, entre outras coisas, como veremos a seguir, surge com força 
a ideia de uma espécie de círculo hermenêutico da compreensão.
Gadamer e a hermenêutica filosófica
Hans-Georg Gadamer (1900 d.C.–2002 d.C.) foi um filósofo da tradição con-
tinental cuja principal obra foi Verdade e método. Em tal obra, ele aborda com 
detalhes aquilo que ficou conhecido como hermenêutica filosófica. Entre as 
suas principais contribuições, é possível citar as suas ideias sobre a verdade, 
sobre o que significa compreender algo, bem como a introdução da questão 
da linguagem no contexto da hermenêutica. As suas ideias influenciaram 
enormemente diversos campos para além da filosofia, como o Direito, a lite-
ratura, a psicologia e a arte.
Figura 1. Hans-Georg Gadamer.
Fonte: Gadamer (2015).
Na primeira parte de Verdade e método, Gadamer (2002) reflete com 
bastante originalidade sobre a questão da natureza da verdade. Quanto a isso, 
a primeira coisa que é importante destacar é que ele entendia que o conceito 
5Hermenêutica filosófica
de verdade fora, por assim dizer, empobrecido com o passar das gerações, 
sobretudo no período moderno. Segundo ele, com o desenvolvimento das 
ciências e do método científico, a noção de verdade acabou sendo cada vez 
mais identificada com aquilo que a ciência reconhece como tal. Contra tal 
posição, Gadamer (2002) defendeu que a verdade é um conceito que possui 
uma multiplicidade de significados, não devendo ser identificada tão somente 
com as verdades obtidas por meio das ciências.
Quanto a isso, é importante destacar que o filósofo não era especifica-
mente contra as ciências, tampouco desacreditava das verdades obtidas por 
meio do método científico. Porém, como sugerido anteriormente, isso não 
esgotaria por completo o campo da verdade. Nesse contexto, a sua ideia é 
que verdade e verdade científica não são considerados termos sinônimos. 
No entanto, se verdade não é um termo que pode ser redutível à sua acepção 
científica, então como devemos compreendê-la?
Partindo de uma apurada análise dos grandes filósofos antigos, e contra 
o reducionismo científico, Gadamer (2002) defendeu uma concepção mais 
contextual e holista do conceito de verdade. Em linhas gerais, o conceito de 
verdade é estabelecido em função da própria compreensão que certa comu-
nidade ou sociedade tem a respeito do termo. Quanto a isso, é importante 
que você não confunda tal posição com a ideia de que não existem verdades 
ou de que as verdades são puramente subjetivas. Ao contrário, além de 
assumir que a noção de verdade é constitutiva de nossa própria existência, 
Gadamer (2002) também não vê problemas com a ideia de verdades objetivas. 
Porém, o próprio sistema no qual essas verdades estão inseridas é objeto de 
convenção social. É justo em função disso que é possível falar em verdades 
éticas, jurídicas, artísticas, técnicas, práticas, etc.
Para compreender melhor o ponto, é necessário tecer um breve comen-
tário sobre a compreensão gadameriana acerca da linguagem. Para ele, 
diferentemente da visão herdada da tradição moderna, a linguagem não 
consiste em um mero veículo utilizado para que possamos formular nossos 
pensamentos, mas ela é, acima de tudo, o modo como a própria realidade 
é compreendida e estruturada. Isto é, segundo ele, não é que a linguagem 
seja utilizada meramente para expressar aquilo que experienciamos na 
realidade, mas principalmente para que possamos compreender a nossa 
própria existência enquanto seres. Ou seja, a nossa própria experiência das 
coisas é moldada pela linguagem.
Hermenêutica filosófica6
Se, do dia para a noite, você fosse parar em uma comunidade indígena da Amazônia que 
nunca teve contato com a língua portuguesa nem com os nossos hábitos e costumes, 
para compreendê-los, você teria que descobrir como eles usam as palavras, mas não 
em um sentido trivial, como saber qual palavra eles usam para denotar árvore, chuva ou 
fogo. Por si só, isso não faria com que você pudesse verdadeiramente compreendê-los. 
Para compreendê-los de fato, você deveria entender os seus hábitos, bem como os 
sentidos que estão vinculados às palavras. Nesse contexto, não bastaria saber que a 
palavra fogo significa X, mas também que, quando eles a utilizam, estão invocando 
certo deus Y, ou que isso faz parte de certo ritual Z, que possui um significado muito 
profundo na sua cultura.
Tendo isso em mente, temos tudo que precisamos para introduzir a noção 
de hermenêutica jurídica assim como concebida por Gadamer. Na introdução 
da sua obra, ele afirma:
O fenômeno da compreensão e de maneira correta de se interpretar o que se 
entendeu não é apenas, e em especial, um problema da doutrina dos métodos 
aplicados nas ciências do espírito. Sempre houve também, desde os tempos 
mais antigos, uma hermenêutica teológica e outra jurídica, cujo caráter não 
era tão acentuadamente científico e teórico, mas, muito mais, assinalado 
pelo comportamento prático correspondente e a serviço do juiz ou do clérigo 
instruído (GADAMER, 2002, p. 31).
Levando isso em consideração, o próximo passo é perceber que, diferen-
temente da visão clássica, segundo o filósofo, a hermenêutica não deve ser 
entendida como um método ou um procedimento instrumentalizado e orien-
tador da atividade interpretativa das ciências, mas, sobretudo, diz respeito à 
questão da própria possibilidade da compreensão. Nesse contexto, mais do 
que um método a serviço do intérprete, a hermenêutica é vista como uma 
condição da própria experiência existencial do intérprete.
Com o objetivo de elucidar tal concepção, é necessário apresentar o en-
tendimento do autor acerca do famoso círculo hermenêutico. Embora o nome 
possa sugerir algo muito profundo e elaborado, a ideia é relativamente simples. 
Resumidamente, quando pretendemos traduzir um texto de uma língua antiga, 
7Hermenêutica filosófica
entender um romance ou uma pintura renascentista, geralmente estamos 
buscando pelo seu sentido. Porém, a despeito do que a concepção clássica 
da hermenêutica sugere, a visãoda hermenêutica filosófica gadameriana 
aponta para a ideia de que há uma correlação indissociável entre a aplicação, 
a intepretação e a compreensão.
O primeiro passo para compreender o que isso significa passa pela ideia de 
que o sentido das coisas é holista. Em outras palavras, para que se compreenda 
o sentido de algo não basta fazer uma análise das suas partes constituintes, 
pois o todo é considerado mais do que a mera soma das suas partes.
Um modo de ilustrar o ponto vem, por exemplo, do contraste entre a noção de peso 
e gosto. Se você está carregando uma mochila que pesa 1 kg e adiciona dentro um 
livro que pesa 1 kg, você estará carregando 2 kg. Nesse contexto, a ideia de peso não é 
considerada holista, pois o todo pode ser completamente resolvido em função das suas 
partes constituintes, sendo considerado uma composição atomista. No caso da ideia 
de gosto, suponhamos que você goste de feijão e também de sorvete de chocolate. 
Agora, se alguém oferecer para você um prato com feijão e sorvete, é muito provável 
que diga que perdeu o apetite. Em função disso, a noção de gosto é identificada com 
o holismo, pois o prato é considerado mais do que os ingredientes que o compõem.
Tendo essa ilustração como pano de fundo, o próximo passo é compreender 
que, segundo o pensamento de Gadamer, o sentido das coisas é holista de modo 
ainda mais radical, pois, em tal visão, não existe propriamente sentido fora de 
um contexto mais amplo. Isto é, as partes de um todo não possuem sentido 
algum a despeito do todo em que estão inseridas. Imagine, por exemplo, as 
palavras da nossa língua. Com base no holismo, elas não podem ser com-
preendidas fora do contexto das sentenças em que elas podem ser inseridas. 
Além disso, as próprias sentenças que podem ser formuladas na nossa língua 
não podem ser apropriadamente compreendidas fora do contexto da língua.
Estabelecida a relação entre o sentido e o holismo, torna-se possível apresentar 
a definição de círculo hermenêutico como um processo de interpretação que se 
movimenta sistematicamente de baixo para cima e de cima para baixo, isto é, que 
busca compreender o sentido das partes com base no todo e busca compreender o 
sentido do todo com base nas partes. Tal processo é entendido como um círculo, 
pois, cada vez que passamos do todo para a parte e da parte para o todo, aumen-
tamos nossa compreensão geral tanto sobre o todo quanto sobre as suas partes.
Hermenêutica filosófica8
Enquanto você está lendo essa sentença, começa com a sua preconcepção do que 
as palavras significam e do que elas podem estar querendo significar na sentença. 
Porém, depois que você termina a frase, você volta nas palavras que a compuseram 
e avalia se a interpretação que estava atribuindo às palavras estava apropriada. Se 
você tiver se equivocado acerca da intepretação do significado de alguma palavra, 
revisará a sentença. Caso contrário, você seguirá com a leitura da próxima frase. Além 
disso, o mesmo processo se repete no contexto de um parágrafo, um texto, uma 
bibliografia inteira.
Para finalizar, é importante deixar claro que, embora, a rigor, o processo 
possa se estender infinitamente, você eventualmente para no momento em 
que se sentir satisfeito com a sua intepretação. Além disso, mesmo que o 
processo em si possa ser sofisticado e elaborado, isso é algo que fazemos com 
regularidade e de modo quase que instantâneo.
Hermenêutica jurídica
Como você já deve suspeitar, a hermenêutica jurídica é a disciplina que tem por 
objetivo refletir sobre a questão da interpretação no contexto jurídico. Nesse 
espectro, ela estabelece as bases e os métodos por meio dos quais os textos 
legais podem se transformar em normas jurídicas, bem como trata da questão 
da aplicação delas ao caso concreto. Quanto a isso, Carlos Maximiliano afirma 
que “a hermenêutica jurídica tem por objeto o estudo e a sistematização dos 
processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do 
Direito” (MAXIMILIANO, 1997, p. 17).
Como dito na primeira seção, um texto legal que não passou pelo crivo 
da interpretação, rigorosamente falando, sequer pode ser considerado uma 
norma jurídica, pois depende da explicitação do seu sentido e alcance via um 
procedimento de interpretação. Em primeiro lugar, é importante que você 
perceba que isso não significa que o texto legal não possa vir a ser considerado 
literalmente uma norma jurídica. Porém, se esse for o caso, isso só significará 
que um tal dispositivo legal recebeu uma interpretação literal. Nesse caso, 
haverá uma coincidência entre o texto legal e a norma jurídica propriamente 
dita. Seguindo essa linha, Eduardo Bittar e Guilherme Almeida, em Curso 
de filosofia do Direito, afirmam que:
9Hermenêutica filosófica
[...] a interpretação é construtiva para o Direito. Não cabe ao legislador, mas 
ao sujeito-da-interpretação, ou ao usuário da linguagem jurídica de modo 
geral, atribuir sentidos a textos normativos. Se o usuário for a um só tempo 
intérprete e aplicador, então a aplicação, a decisão, se forjará de acordo com 
uma interpretação sustentada em provas racionais. Com esse tipo de atitude 
ante a discussão da interpretação, não se está a atribuir ao texto-em-si um 
sentido único; está-se, em verdade, a atribuir ao usuário o poder de “dizer” o 
sentido jurídico ( juris-dictio) (BITTAR; ALMEIDA, 2015, p. 673).
Tendo isso em mente, em segundo lugar, é fundamental que você perceba 
que isso também não significa que há um completo esvaziamento da atividade 
legislativa, tampouco que a intepretação é uma atividade completamente 
arbitrária e independente dos desígnios legislativos. É justamente para evitar 
arbitrariedades na atividade interpretativa que um dos critérios para que uma 
interpretação seja considerada boa é que ela seja capaz de capturar o espírito 
ou a vontade do legislador, seja ela qual for. Isto é, parte do processo de 
interpretação se presta justamente a desvendar o sentido do texto legal tendo 
como referência, ou como um dos pontos de chegada, a intenção do legislador.
O próximo passo é compreender como a hermenêutica filosófica influen-
ciou a questão da interpretação do Direito. Quanto a isso, é fundamental que 
você saiba que a hermenêutica filosófica teve grande impacto tanto na prática 
da interpretação jurídica quanto na questão teórica sobre o que alguém está 
fazendo ao interpretar o Direito. Com relação a esse último ponto, graças 
aos avanços e desenvolvimentos de reflexões de filósofos como Gadamer, 
tornou-se possível compreender que a atividade interpretativa, mais do que 
um mero método para desvelar o sentido dos textos jurídicos, consiste em um 
modo de compreender o próprio fazer jurídico.
Outra consideração importante no que tange à influência da hermenêutica 
filosófica para o Direito vem da ideia de círculo hermenêutico. Em função 
dela, tornou-se possível superar a ideia de que a interpretação e a aplicação 
do Direito são atividades absolutamente distintas, bem como a ideia de que 
a interpretação tem prioridade sobre a aplicação do Direito. Nesse contexto, 
além do fato de que a interpretação e a aplicação são indispensáveis para a 
compreensão do Direito, também temos a ideia de que o intérprete é alguém 
que, ao executar tal atividade, possui uma série de preconcepções e ideologias 
que não são facilmente abandonáveis. Assim, diferentemente do que pensavam 
os modernos, a busca por uma boa interpretação dos textos legais depende 
do próprio reconhecimento, por parte do intérprete, de que ele não é um ser 
completamente isento, pois o modo como ele interpreta os textos legais é, em 
alguma medida, dependente do que ele espera encontrar neles.
Hermenêutica filosófica10
Você sabe quais são os métodos de interpretação dos textos legais?
Existem muitos métodos de interpretação dos textos legais. A propósito da questão 
da sua natureza normativa, chamamos a sua atenção para sete deles.
Método gramatical: na base do método gramatical, está a busca pelo sentido literaldo texto legal. Isto é, tal método interpretativo leva em consideração as palavras que 
foram empregadas pelo legislador para a composição do dispositivo normativo. 
Tendo isso em mente, é importante saber que tal método de interpretação pode ser 
considerado não apenas o mais simples, como também o mais utilizado, pois importa 
no esclarecimento do significado das palavras.
Método lógico: com o método lógico, valemo-nos das próprias leis do dispositivo 
normativo como um todo para elucidar o sentido de dispositivos específicos que fazem 
parte dela. Isto é, objetiva-se interpretar um dispositivo qualquer à luz do contexto 
do dispositivo legal em que está inserido. Nesse contexto, a interpretação leva em 
consideração a questão da harmonia entre uma parte do texto legal e o texto legal 
como um todo.
Método sistemático: o ponto de partida de tal método é a ideia de que o conjunto 
de normas que compõe o ordenamento jurídico deve estar em harmonia. Nesse 
contexto, embora seja similar ao método lógico, o campo de interpretação do método 
sistemático é expandido, pois ele abarca o ordenamento jurídico como um todo. Isto 
é, o sentido de um dispositivo legal particular é fixado em função da sua contribuição 
para o ordenamento jurídico tomado na sua integralidade.
Método histórico: o método histórico prega que, para que possamos compreender 
qual é o sentido corrente de um dispositivo legal qualquer, devemos buscar auxílio 
no sentido que ela possuía no momento da sua edição. Isto é, para buscar o sentido 
de um determinado dispositivo legal, procura-se analisar o contexto histórico que o 
engendrou. 
Método sociológico: a ideia por trás do método sociológico tem como norte a 
questão da eficácia social do dispositivo normativo. Tendo sempre como objetivo 
evitar que ela venha por acarretar injustiças sociais flagrantes.
Método teleológico: a ideia por trás do método de interpretação teleológico é 
buscar a finalidade do texto legal, isto é, quais eram os objetivos ou as intenções que 
o legislador visava ao editar tal e tal dispositivo legal.
Método axiológico: por fim, com o método axiológico, busca-se explicitar quais são 
os valores que o legislador pretende concretizar com a edição de um certo dispositivo 
normativo. Nesse contexto, é interessante notar que muitos teóricos consideram que 
o método axiológico é um sinônimo do método teleológico.
11Hermenêutica filosófica
BITTAR, E. C. B.; ALMEIDA, G. A. Curso de filosofia do Direito.11. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
GADAMER. Eric Gerlach, Berkeley, 2015. Disponível em: <https://ericgerlachdotcom.
files.wordpress.com/2015/06/gadamer.jpg>. Acesso em: 16 fev. 2018.
GADAMER, H. G. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filo-
sófica. Petrópolis: Vozes, 2002.
MAXIMILIANO, C. Hermenêutica e aplicação do Direito. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
1997.
Leituras recomendadas
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos Direitos humanos. 11. ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2017.
FERRAZ JÚNIOR, T. S. Introdução ao estudo do Direito: técnica, decisão, dominação.10. 
ed. São Paulo: Atlas, 2018.
MASCARO, A. L. Filosofia do Direito. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
MORRIS, C. (Org.). Os grandes filósofos do Direito: leituras escolhidas em Direito. São 
Paulo: Martins Fontes, 2002.
NADER, P. Filosofia do Direito. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018.
NADER, P. Introdução ao estudo do Direito. 39. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
REALE, M. Introdução à filosofia. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
REALE, M. Lições Preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
VILLEY, M. Filosofia do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
Hermenêutica filosófica12

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