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CRASE DESCOMPLICADA

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Prévia do material em texto

2 
 
Se você chegou até aqui por meio de um anúncio, o que nas atuais 
circunstâncias é muitíssimo provável, sabe que eu fiz uma promessa. 
 
Promessa feita em tudo quanto é canto, e aliás com letras garrafais. 
Promessa de libertação. Promessa entusiasmada e enfática; tão inédita 
quanto difícil de acreditar. 
 
Promessa feita com a empolgação (alguns diriam histeria) e ênfase de um 
pastor da Universal — com a diferença de ser uma promessa verdadeira. 
 
Eu não me esqueci da promessa. 
 
 
 
3 
 
 
Irei cumpri-la logo no 
comecinho desta aula. Antes, 
porém, quero bater um papo 
rápido e reto aqui. Uma 
conversa cara a cara — ou cara 
a página, já que você não 
conseguirá ver minha bela e 
barbuda cara quando estiver 
lendo este PDF. 
 
Eu separei uma parte do meu 
tempo, que hoje em dia é 
beeeem corrido e escasso, a 
fim de PREPARAR-LHE A 
MELHOR AULA DE 
PORTUGUÊS QUE VOCÊ JÁ 
VIU NA VIDA. 
 
Sem brincadeira. O espírito 
com que preparei este 
conteúdo foi “como posso dar 
a melhor aula da minha vida?” 
 
 “Como pegar um assunto que 
é um porre e deixá-lo 
interessante? Como pegar 
algo complicado e deixá-lo 
fácil? Como pegar algo que 
exige vários conhecimentos 
prévios e explicá-lo do zero, 
de um jeito que todo mundo 
entenda e os alunos não saiam 
da aula com um monte de 
macetezinhos com meias-
verdades e músicas 
abestalhadas?” 
 
Foi o que tentei fazer com essa 
aula. 
 
O que me leva a dois pontos: 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
Para ser bem sincero, eu 
também não gosto muito 
não. 
E justamente porque não 
sou um entusiasta, como 
aqueles professores cujos 
olhinhos refulgem e 
resplandecem diante da 
segunda pessoa do plural 
do pronome pessoal 
oblíquo tônico, é que sei em 
quais partes a coisa vira um 
porre, E CONSIGO 
PRENDER SUA ATENÇÃO 
COM UMA INESGOTÁVEL 
VARIEDADE DE 
PIADINHAS CRETINAS, 
HISTÓRIAS CURIOSAS E 
ANEDOTAS 110% 
INVENTADAS PARA AS 
MINHAS AULAS. 
 
 
 
5 
 
Olha aqui pra mim: eu sei 
como é não saber NADA de 
português. Na escola, não 
fui um daqueles alunos que 
todas as aulas levavam 
maçãs para os professores. 
 
Ou era um aluno 
completamente morno, 
fazendo o mínimo dos 
mínimos para não bombar; 
ou, quando cheguei ao 
segundo ano do ensino 
médio e arranjei emprego 
num mercadinho perto de 
casa, era um daqueles 
alunos “não dou a mínima” e 
dormia todos os dias na 
sala. 
 
Reprovei duas vezes. 
Terminei o ensino médio 
fazendo supletivo. 
 
Ou seja: o que aprendi de 
português foi mais tarde, 
fora da escola. 
 
 
6 
 
Eu tive de bater muito a cabeça para começar a entender esse negócio. 
 
Como não tinha nenhuma bagagem escolar, não sabia nenhuma 
terminologia e não me lembrava de nada. 
 
Estava seco. Puro. Começando do zero. 
 
E o que eu fiz? Tive de acessar aquelas terminologias e abstrações por 
outros caminhos. Não sabia o que significavam direito palavras como 
“morfologia” ou “preposição” ou até mesmo “pronome”. 
 
Então pesquisei se a origem dos nomes tinha algo a ver com seu sentido. 
Muitas vezes, criei analogias para entender funções que desconhecia: as 
preposições são como porcas, pregos e dobradiças, que usamos para ligar 
as palavras umas às outras de certos modos específicos; os pronomes são 
como canos, vazios até que os enchamos com o sentido das palavras a que 
estão ligados, e por aí vai. 
Ou seja: SEMPRE QUE EU PUDER FUGIR À TERMINOLOGIA E EXPLICAR 
ALGO PARA VOCÊ DA FORMA MAIS SIMPLES POSSÍVEL, EU O FAREI. 
 
E por que estou lhe contando tudo isso? Para que você entenda melhor o 
que vou dizer agora: 
 
 
 
 
7 
 
 
Mas não quero você no celular, no zap ou no Youtube. Não quero sua meia 
atenção. Eu garanto meu método. Garanto minha didática e meu conteúdo. 
MAS NÃO TENHO COMO GARANTIR SEU COMPROMETIMENTO. 
 
Não tenho como garantir que você fique focado. Não tenho como saber se 
haverá mais 15 abas abertas aí na internet enquanto a aula está rodando. 
Não tenho como garantir que você fará os exercícios. 
 
Aí é com você. 
 
Eu não consigo fazer milagres. O que consigo fazer é tirar você daquelas 
diquinhas infernais, salvá-lo daqueles becos sem saída e mostrar-lhe a 
LÓGICA da língua. 
 
Você quer aprender esse negócio de uma vez por todas? Então me dê uma 
hora e pouco do seu tempo. Dê-me seu tempo de verdade. Caso contrário, 
eu e você só iremos perder tempo. Você vai assistir mal, entender mal e 
aprender pouco ou nada. 
 
Eu vou ter gravado uma baita aula de besta. Aula com material escrito 
autoral. Com exercícios. Até com bônus. Coisa grátis com bônus. É bônus 
do bônus. Inception dos bônus. 
 
Então a escolha é sua: ou me dá uma hora e pouquinho do seu tempo e 
aprende REALMENTE a crase; ou… para todo o sempre fique com as 
diquinhas de cinco minutos, sem aprender nada. VOCÊ É QUEM SABE. 
 
Então bora. Vamos acabar de uma vez por todas com essa crase maledita! 
 
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
 
 
Em primeiríssimo lugar, 
finjamos que somos todos 
monges budistas e façamos 
uma daquelas meditações que 
a gente vê em filmes. 
 
Cruze as pernas uma sobre a 
outra, sente-se no chão e 
ponha a palma de sua mão 
direita aberta contra a palma 
de sua mão esquerda aberta. E 
comece a entoar aqueles 
mantras místicos: 
 
óóóóóóónnnnnnnnn 
 
óóóóóóónnnnnnnnn 
 
óóóóóóónnnnnnnnn 
 
Respire, inspire. Respire, 
inspire. 
 
 
 
 
 Feche os olhinhos e limpe sua 
mente. Faça uma faxina geral 
aí na ca-beça. Tire as tralhas. 
Deixe tudo limpo, feito uma 
paisagem verdejante sob um 
luminoso e vazio céu azul… 
especialmente, tire da cabeça 
tu-do o que você acha que 
sabe em relação à crase. 
 
APAGUE. DELETE. 
 
Sabe aquelas regrinhas? 
Aquelas “facilitadoras” que 
tanto encontra-mos em vídeos 
no YouTube e artigos na 
internet? Tipo estas: 
 
 
10 
 
 
NÃO PODE CRASE ANTES DE PALAVRA 
MASCULINA; 
 
 
NÃO PODE CRASE ANTES DE PALAVRA NO 
PLURAL; 
 
 
NÃO PODE CRASE ANTES DE PRONOME 
INDEFINIDO; 
 
 
NÃO PODE CRASE ANTES DE NUMERAIS… 
 
Então… jogue todas num lençol velho, amarre-o com cuidado, lambuze a 
coisa inteira com gasolina e taque fogo sem dó. Não existem mais essas 
regrinhas. Acabou. Game over. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
Na verdade, como você deve ter percebido, nem chega a ser uma “regra”. 
É a descrição de um fenômeno. Só estou explicando o que é a tal da crase. 
 
Vamos devagar. 
 
Primeiro, de onde raios surgiu esse nome estranho? “Crase”. Parece até que 
a gente tá falando grego. E é porque estamos mesmo. 
 
CRASE vem de krásis: “mistura”, “fusão” ou “junção”. 
 
Digamos que na época dos gregos já existissem Red Bull e uísque. Um 
moleque grego, todo malandrão, queria juntar os dois e encher a cara. Se 
você misturar uísque com Red Bull, as duas bebidas se fundem. Viram uma 
só, não é? Pois bem. O grego malandrão usaria krásis para explicar sua ideia 
da mistura a algum outro grego beberrão. 
 
 
 
 
 
 
14 
 
Veja: o primeiríssimo erro de muita gente já começa pelo nome. 
 
CRASE não é o nome do acento. Afinal de contas, o que diabos teria a ver 
um nome desses com aquele risquinho para a esquerda em cima de 
algumas palavras? Nada. 
 
Crase não é o acento. A crase é a fusão. A MISTURA OU JUNÇÃO DE DOIS 
“A”. O acento serve para AVISAR o leitor de que houve a tal fusão. É um x-
9 gramatical. Um dedo-duro (só que do bem). 
 
O acento acena. Pula e estica os braços para que os olhos do leitor não 
passem batidos por aquela letra. 
 
“Ei! Tem alguma coisa aqui”, diz o acento. “Eu juro que tinha dois ‘a’ aqui, 
bicho! Juro mesmo! Deram sumiço em um deles!” 
 
O sumiço de um dos “a” é a fusão. É a própria crase. Havia dois, agora só 
existe um. 
 
“Mas, Raul, então como a gente deve chamaresses negócios tudo aí?” 
 
Se estiver falando do ACENTO, diga ACENTO INDICATIVO DE CRASE. 
 
Se estiver falando da FUSÃO, diga A CRASEADO, ou simples e mais 
facilmente: CRASE. 
 
 
 
 
 
 
15 
 
 
Agora, que eu já lhe disse qual é a única regra da crase, surge a outra 
questão: POR QUE DOIS “A” PRECISARIAM SER FUNDIDOS? 
 
Pra quê? De onde vem essa necessidade? Algum gramático desocupado, 
virjão, inventou isso aí para levarmos bomba em provas e passarmos 
vergonha escrevendo errado? 
 
Há TRÊS CASOS PRINCIPAIS em que isso é preciso. E já lhe adianto que só 
o primeiro é mais comum. 
 
Ou seja: é bem mais baixa a probabilidade de você ter problemas com os 
outros dois. 
 
 
 
16 
 
Uma regra geral. Três casos específicos. 
 
“Ah, Raul, você tá de treta com a minha cara. Vai dizer que são três casos e 
logo depois vai enfiar um milhão de casos diferentes aqui. Se é tão fácil 
assim, por que tantas regrinhas?” 
 
Porque nego só sabe ensinar macetes, porca miséria. Musiquinhas, rimas, 
tiradas espertonas para facilitar a memorização de um caso isolado. Casos 
isolados, casos isolados, casos isolados. É que hoje em dia aluno nenhum 
vai seguir uma explicação de mais de cinco linhas, né? 
 
Então o negócio é ensinar sem nunca explicar. Explicar sem nunca ligar um 
caso aos outros. Ensinar sem… ensinar. 
 
Repito: há uma regra e três casos específicos em que ela se aplica. 
 
Vamos a eles de uma vez. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
 
Calma, não precisa largar o material porque não sabe o que diabos é uma 
preposição ou um artigo. Confia em mim. Vamos devagar. 
 
Imagine que eu quero dar as boas-vindas a vocês, alunos desta aula. 
 
Eu escreveria algo como “Sejam bem-vindos ao aulão sobre crase!” 
 
Bem-vindos AO. Reparou? Beleza. 
 
Mas por que não escrever BEM-VINDOS A AULÃO ou BEM-VINDOS O 
AULÃO? 
 
 
 
18 
 
FICARIA ESTRANHO, NÃO É? Ficaria frouxo, vazio, como se algo estivesse 
faltando. E você perceberia isso imediatamente, mesmo sem saber explicar 
o que são artigos ou preposições. Algum radarzinho aí começaria a apitar. 
 
Provavelmente, você até corrigiria a frase na cabeça: “bem-vindos ao”. 
 
Agora me diga se você sente qualquer estranhamento diante desta frase: 
“eu adorei o aulão!” 
 
Aí a frase soa completa, não é? Redondinha. E está mesmo. Certíssima. 
Ninguém pensaria em escrever “adorei AO aulão”. 
 
Você achou estranha a primeira frase e não achou estranha a segunda. 
 
Com isso já aprendemos algo importantíssimo. Sabe o que é? 
 
SABE ESSA ESTRANHEZA? ESSE RADARZINHO QUE APITA E VOCÊ NÃO 
SABE DE ONDE? É SUA MEMÓRIA ENTRANDO EM AÇÃO. Quer você esteja 
consciente disto, quer não, a verdade é que, na sua memória, existe um 
montaréu de padrões frasais, coletados ao longo do tempo com suas 
leituras e ali sedimentados de forma inconsciente. 
 
Quando você lê uma frase e sente que algo nela está estranho ou fora do 
lugar ou incompleto, é porque sua memória entrou em ação, automática e 
imediatamente a comparou com incontáveis outros exemplos e percebeu 
algo de diferente. Mas a memória só vai até aí. 
 
É aquele algo que você não consegue apontar, sabe? Igual quando a sua 
esposa, sem te contar nada, corta sutilmente o cabelo e chega em casa 
 
 
19 
 
toda sorridente — e você sabe que tem alguma coisa diferente; um ar que 
não é dela; algum detalhe fora do lugar. Só não sabe o que é. Onde está. 
Não sabe por que de repente surgiu um tesão maluco pela patroa. 
 
Mas o tesão e a intuição estão lá. 
 
Doidera, né? Se você duvida, vou te provar. Aqui a gente mata a cobra e 
mostra o pau. 
 
Por que o certo é bem-vindo ao aulão? 
 
Porque, na língua, as palavras não ficam soltas. Você não pode pegar 
qualquer palavra e ligá-la a qualquer outra palavra. Há padrões de ligações 
que se repetem. SÃO OS BANDOS DE PALAVRAS. AS PANELINHAS. 
 
Bem-vindo ao aulão. 
 
ao é a junção de duas palavras diferentes, ainda que só tenham uma letra. 
a é uma coisa, o é outra. O a está ligado ao bem-vindos. São uma panelinha. 
o está ligado a aulão. São outra panelinha. 
 
Quem é bem-vindo, é bem-vindo a alguma coisa. O a faz parte da 
expressão. É errado dizê-la sem essa bendita palavrinha. Daí que você 
 
 
20 
 
provavelmente tenha achado estranho bem-vindo o, ainda que não saiba 
explicar por quê. Sua memória entrou em ação. 
 
Beleza. Temos um a e um o. Na hora de escrevê-los, o que a gente faz? 
Juntamos os dois, oras. Ninguém escreve “sejam bem-vindos a o”, igual um 
palhaço. Já que ambas as partículas1 são obrigatórias, o jeito mais elegante 
e sensato de escrevê-las é colando uma na outra. 
 
E aí vem o pulo do gato. 
 
E, se em vez de aulão, tivéssemos alguma palavra feminina depois de 
bem-vindos a? E se fosse aula, por exemplo? O que iria acontecer? 
 
Rufem os tambores, segurem as tripas, tirem as crianças da sala: 
 
“SEJAM BEM-VINDOS À AULA." 
 
Eeeeeeeeepa! 
 
De onde surgiu essa crase aí? Agora você já sabe a resposta. 
 
O a de bem-vindo continua igual. Mas o artigo, que está pregado ao 
substantivo, não. No primeiro exemplo, tínhamos um artigo masculino (o) 
ligado a aulão. Agora, porém, a palavra é aula, e o artigo que está colado 
em aula é feminino. É um a. 
 
 
1 Nome gramatical pomposo para “palavrinha pequena que nunca muda”. 
 
 
 
21 
 
Ficamos, portanto, com isto aqui: “Bem-vindos a a aula”. Dois a. E o que 
fazemos com dois a? 
 
Nós os fundimos. 
 
Em vez do vergonhoso, brega e caricato “bem-vindo a a aula” ficamos com 
o elegantérrimo bem-vindos à aula. 
2 
Entendeu por que a crase foi criada? Porque ficaria ridículo, além de 
confuso, escrever “a a”. A crase foi criada para FACILITAR a vida do leitor. 
 
Agora você entende por que dizem que existe uma “regra” “proibindo” 
crases antes de palavras masculinas? Não existe regra nenhuma e ninguém 
proibindo crase alguma. O que existe é falta de necessidade. 
 
Não é que você esteja proibido de colocar crase em “à todos”; é que não 
faz sentido. Não existe por quê. 
 
Isso é como dizer que você está PROIBIDO de pular da ponte. Ué, você não 
pula da ponte porque não é tonto. Porque sabe que a força da gravidade 
aumenta de acordo com a altura e poderá espatifá-lo irremediavelmente 
no chão. 
 
Igualmente, quem aprendeu como funciona a crase não a usa em “louvor à 
Deus” porque sabe que ali não existem dois a. Tudo faz perfeito sentido. 
 
 
2 E a crase não resolve só um problema de feiura e compreensão no texto. Também na fala a crase nos salva de ter que 
repetir “a a” feito uns bananas. Dizemos um só “a”, normalmente. Talvez, com um pouco mais de ênfase para deixar claro ao 
ouvinte que se trata de uma crase. 
 
 
 
22 
 
E assim se explicam quase todos as deslizadas crasísticas: 
 
“Robertinho declarou-se à ela”. 
 
Errado. Quem se declara, se declara a alguém. Maravilha. Temos um a. Mas 
existe algum outro a? Ela é pronome e não exige artigo. Não se fala “a ela 
gosta de sorvete” como “o Português é uma língua maravilhosa”.3 
 
“Robertinho declarou-se a ela.” 
 
Haveria crase se algo assim estivesse escrito: “Robertinho declarou-se à 
amada”. 
 
“Ele já viajou à capitais enormes.” 
 
Errado. Verdade, existe um a colado em viajar a. Mas “capitais enormes” é 
uma expressão indeterminada e, portanto, não leva artigo. 
 
“Eu gosto de capitais enormes.” 
 
Haveria crase aqui: “Ele já viajou às capitais enormes da Ásia.”4 
 
3 Outra porcaria de consequência daquela história de “proibido” é que os alunos começam a imaginar que o contrário 
sempre se aplica: “Ah, se não pode usar crase antes de palavras masculinas a gente tem de usá-la antes de palavras 
femininas”. 
 
Não. Ela é palavra feminina. Só que não tem um a pra chamar de seu. 
 
4 Por quê? Porque é uma exceção? Não. 
 
Porque dizer “capitais” e dizer “as capitais” são duas coisas diferentes. No segundo caso, estamos determinando as capitais;sabemos quais são. E o segundo caso… adivinha? Leva artigo. Artigo + preposição = crase. 
 
 
 
23 
 
 
“Eu gosto das capitais enormes da Ásia.” 
 
“Os alunos são levados à acreditar…”. 
 
Errado. De novo, só existe um a na história. Acreditar é verbo e não exige 
artigo.5 Macetinho pra você: ANTES DE VERBOS, NÃO USE CRASE. NUNCA. 
 
Haveria crase aqui: “Os alunos são levados à crença”. 
 
“Quero contar algo à você”. 
 
Errado. Você é pronome de tratamento e não leva artigo. Cadê o segundo 
a? 
 
Haveria crase em: “Quero contar algo à vizinha”. 
 
“Vou à Paris”. 
 
Errado. Ir exige preposição a. O substantivo Paris não exige artigo a. 
 
 
5 “Mas, Raul, você não falou que alguns verbos exigem a?” 
 
Falei, criatura. Mas presta atenção: exigem um a PREPOSIÇÃO. Como o a de “ser levado a”. Mas não fundimos nunca duas 
preposições. Lembra-se da primeiro caso de fusão? É “preposição + artigo”. Aqui, falta o artigo porque verbos não exigem 
artigo. 
 
Dito de outro modo, mais fácil: antes de verbos, não use crase. 
 
 
 
24 
 
Haveria crase aqui: “Vou à Bahia”.6 
 
Está percebendo o padrão? Está percebendo de onde vêm aquelas 
proibiçõezinhas? Vêm do fato ridiculamente simples de que NÃO TEMOS 
DOIS A EM NENHUM DESSES CASOS. 
 
Pois bem. Esse foi o primeiro caso de fusão — e o mais longo. PREPOSIÇÃO 
+ ARTIGO. 
 
VAMOS AGORA AO SEGUNDO. BEM MAIS 
TRANQUILO, BEM MAIS FÁCIL E LIVRE DE 
ARMADILHAS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 Alguns nomes de cidades e estados levam artigo, outros não. Sim. É uma porcaria. Sim, é algo aleatório que foi consagrado 
apenas pelo uso. Mas isso não muda a natureza da crase. Para verificar se a palavra leva artigo, imagine uma frase 
começando com: “A Bahia é linda”; “Paris é linda”. 
 
 
 
25 
 
 
Aqui a coisa é mais simples porque você não precisa verificar se existe UMA 
PREPOSIÇÃO E UM ARTIGO: basta saber se EXISTE A PREPOSIÇÃO E 
AQUELE, AQUELA OU AQUILO. É metade do trabalho.7 
 
“Hoje vou àquele bar de que você tanto me falou 
ontem.” 
 
Ir quando designa movimento exige o a preposição. Junta com aquele e é 
só sucesso crasístico. 
 
7 Duas observações: 1) a regra da fusão de dois a se mantém; 2) palavras como “alguma”, “algo” e semelhantes não 
entram aqui. 
 
 
 
26 
 
 
“Entregue isso aqui àquela moça.” 
 
Quem entrega, entrega algo a alguém. Põe aquela na história e logo surge 
a crase, aquela lambisgoia (sim, rimei de propósito). 
 
“Fez referência àquilo que tínhamos decidido na 
última reunião.” 
 
Quem faz referência, faz referência A alguma coisa ou alguém. Com o 
AQUILO… bem, cê já sabe. 
 
Pronto, é isso. Eu avisei que seria fácil. Só precisa verificar se existe o A 
PREPOSIÇÃO e… pronto! 
 
Ah, e mais uma coisa: essas crases são obrigatórias. Você não pode 
escrever “a aquele” ou “a aquilo”. 
 
Beleza? Então só nos resta o terceiro caso. 
 
 
 
27 
 
 
Lembra-se de que eu falei só existir uma regra para o uso da crase? Pois é. 
Não estava de gogó não. Leia as seguintes frases: 
 
“Essa reclamação é semelhante à de muitos outros 
alunos.” 
 
“Foram à Brigadeiro Faria Lima para encher o rabo 
de pinga no happy hour.” 
 
Nos dois exemplo a crase está perfeita, maravilhosa e elegantemente 
CERTA. 
 
 
28 
 
 
“Mas, Raul do céu! ‘Que’ exige um a e eu não tô 
sabendo? E esse ‘de’? O que raios tá 
acontecendo?” 
 
Chega a ser ridículo de tão simples, ó pupilo: nas duas frases, há um 
substantivo feminino escondido. Subentendido. Está lá, só não aparece. E a 
crase surge porque a regra está sendo aplicada àquele substantivo 
escondido. 
 
“Essa reclamação é semelhante à [reclamação] de 
muitos outros alunos.” 
 
“Foram à [avenida] Brigadeiro Faria Lima para 
encher o rabo de pinga no happy hour.” 
 
Em ambos os casos está presente a regra da fusão: reclamação, avenida e 
calça exigem artigo. Artigo a + preposição dá no quê? Cê já sabe. 
 
DÁ EM CRASE. 
 
Pronto. Acabei de ensinar-lhe o que raios é a crase e provei, por A+B, que 
os três casos principais em que ela surge são apenas consequências de 
sua natureza. Ou, dito de outro modo, são aplicações práticas da única 
regra. 
 
 
29 
 
Como tudo no português é interligado e uma coisa explica-se pela sua 
relação com outras coisas, seria uma baita pilantragem minha dizer que 
“você nunca mais vai errar a crase com essas 15 dicas” e sei lá o quê. 
 
É bem verdade que você irá precisar ter pelo menos alguma ideia de quais 
palavras exigem a preposição e quais palavras exigem o artigo. Mas isso 
não é coisa de outro mundo. Não é um conhecimento esotérico, inacessível 
a quaisquer seres que estejam abaixo dos anjos. 
 
Com um pouco de esforço, daqui a pouco você estará raciocinando 
gramaticalmente. Isto é: estará analisando se existe ou não uma crase em 
tal frase apelando aos conceitos gramaticais, em vez de a simples macetes. 
 
“Mas, Raul, quer dizer que não existe nenhum outro caso de crase? Nem um 
único sequer? Encerramos tudo? Passa a régua? Nunca mais encontrarei por 
aí nada que não tenha sido explicado aqui?” 
 
Olha… eu realmente gostaria de responder um retumbante e triunfal SIM. 
Mas estaria mentindo. Existem alguns casos especiais que exigirão só mais 
um pouquinho de esforço. 
 
O que prometo é isto: O PIOR JÁ PASSOU. 
 
 
 
 
 
30 
 
Agora você já sabe, de cor e salteado, qual é a única regra da crase. Mas há 
casos e casos. Nesta última seção, para facilitar sua vida, eu separei os 
casos em OBRIGATÓRIOS, PROIBITIVOS E FACULTATIVOS. 
 
Às vezes, DEVE haver a crase. Às vezes, NÃO PODE haver crase. Às vezes, 
você tem que SE VIRAR para escolher se quer a crase ou não. Ou seja: 
existem casos em que o trambolho é obrigatório, casos em que é proibido 
e casos em que é facultativo. 
 
Logo você vai ver, com minhas explicações, que: nos casos obrigatórios, há 
obrigatoriamente dois a; nos casos proibitivos, não temos dois a; nos casos 
facultativos, o artigo a pode ou não ser usado. 
 
Ou seja, prepare-se para a última rodada de aplicações da nossa única e 
maravilhosa regra. Então bora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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“Ensino à distância” está errado. 
 
Sim. Eu também acho estranho. Sim, também me parece haver algo 
faltando. Mas não há. DISTÂNCIA não está sendo usada de modo 
 
 
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determinado. Isto é: não existem metros, quilômetros ou anos-luz exatos ou 
aproximados. A palavra foi usada só como inverso de “presencial”. 
 
“Eu vejo um aluno do Raul à distância de 30 
metros: está radiante e nunca vi alguém mais feliz 
em toda minha vida.” 
 
A crase está certa e a vista, 100%. Não precisa nem de professor de 
português, nem de oftalmologista. 
 
Não me vá confundir à medida que com na medida em que, faz favor. 
Também não me vá escrever à medida em que. 
 
À medida que (sem o “em”) designa proporcionalidade. Alguma coisa 
acontece proporcionalmente a outra. “À medida que o tempo passa, 
ficamos mais carrancudos.” 
 
 
 
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E o que são locuções adverbiais? São conjuntos de palavras que fazem o 
papel de um advérbio. Em vez de dizer confortavelmente, pode-se dizer à 
vontade. Em vez de dizer cegamente, pode-se dizer às cegas. Logo, em 
princípio as locuções adverbiais podem tudo quanto os advérbios podem 
expressar: tempo, modo, intensidade, lugar… 
 
à noite, às cegas, às tontas, à meia-noite, à vontade, à uma, à toa, à beira de, 
à custa de, à mercê de, à moda de, à maneira de… 
 
 
 
Imagine que você está naquela peladinha de final de semana, todo mundo 
jogando mal como sempre, e eis que de repente baixa no seu amigo um 
santo futebolístico que o faz dar caneta em dois sujeitos, um chapeuzinho 
no terceiro e de bicicleta meter um gol na gaveta. Você, assombrado, diria: 
 
“Puta merda, que gol lindo. Foi um gol à Ronaldinho 
Gaúcho!” 
 
A crase está CERTA. Por que é uma exceção? Não. Porque aí houve uma 
elipse. Isto é dizer:há palavras que estão na frase, só não aparecem. 
 
 
34 
 
 
“Gol à Ronaldinho Gaúcho” é na verdade “Gol à [moda de] Ronaldinho 
Gaúcho”. Um gol como o que o próprio bruxo faria. E já vimos que “à moda 
de” leva crase, não é? 
 
“Bife à milanesa” tem crase? Tem. Porque seu sentido é “bife à maneira 
milanesa” ou, ainda, “bife à maneira de Milão”. Um bife como os de Milão. 
 
“Bife a cavalo” tem crase? Não. Porque não existe uma receita especial que 
os cavalos usam para fazer o bife. O “a cavalo” provavelmente veio da ideia 
de que o ovo (que fica em cima do bife) monta a carne como se estivesse 
sobre um cavalo — como se estivesse a cavalo. Em “bife a cavalo” não há 
moda/maneira nenhuma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Não dá, não rola. Sem exceções. Por quê? Porque não se usam artigos antes 
de verbos. Sem artigo, sem crase. 
 
“O Raul se propôs à dar a melhor aula sobre crase 
de todos os tempos!” 
 
 
 
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Quem se propõe, propõe-se a alguma coisa. Temos o a preposição. Mas 
não o a artigo. 
 
“O Raul se propôs a dar a melhor aula sobre crase 
de todos os tempos!” 
 
Mesmo que uma palavra masculina exija artigo, será um artigo o quê? 
Exato: masculino. Será um o. Não um a. 
 
“Seja bem-vindo à aulão." 
 
“Fulano não assiste à novelas.” 
 
Novelas é uma palavra genérica, que não designa nenhuma novela 
específica. É como dizer “você gosta de novelas?” ou “novelas prestam?” 
Repare que em ambos os casos não existe artigo. 
 
 
37 
 
 
Coisa bem diferente seria dizer “você gosta das novelas da Globo?” ou “as 
novelas da Record prestam?” Se a palavra for determinada, tem artigo. Se 
houver artigo e uma preposição… 
 
“Fulano não assiste às novelas da Globo.” 
 
“Fulano deu um presente à mim.” Ai, meu 
pâncreas. 
 
“Sicrano fez alusão à ela.” Ai, meu rim. 
 
 
 
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“Mande um abraço à eles!” Ai, meu coração, minha 
próstata, meu esôfago e, sim: meu saco. 
 
Será que eu preciso explicar de novo por que não existe crase aí? Preciso. 
Pra você nunca mais se esquecer desse negócio. Para que a regra puxe o 
seu pezinho de madrugada. SE NÃO TEM ARTIGO, NADA DE CRASE. 
 
Listinha procê: ele, ela, mim, eles, nós, esta, essa, quem, quanta, cuja, toda, 
alguma, nenhuma, qualquer, certa… 
 
Outra listinha procê: cara a cara, mano a mano, dia a dia, frente a frente, gota 
a gota, passo a passo, de mais a mais… 
 
E é isso. Zerou. Viu como na verdade não existe proibição nenhuma? 
Só o que existe é a crase que não existe. 
 
 
 
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“Referimo-nos a sua irmã” ou “referimo-nos à sua irmã” — ambos os 
exemplos estão certos, e isto porque o artigo antes desses pronomes 
também é facultativo. Podemos dizer “sua irmã” ou “a sua irmã”. 
 
Se escolhemos não usar o artigo, o a preposição fica sozinho e não existe 
crase. Se escolhemos usá-lo, cê já sabe no que dá artigo + preposição. 
 
 
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O raciocínio é o mesmíssimo do anterior: pode-se usar ou não o artigo antes 
de nomes próprios femininos. No geral, os gramáticos recomendam que 
não se use o artigo definido diante de um nome… definido. A depender de 
sua escolha, consequentemente haverá ou não a crase. 
 
“Fizeram uma homenagem a Bianca” ou “fizeram 
uma homenagem à Bianca”. 
 
Leia esta frase: “A chuvarada de ontem alagou tudo, até a casa do coitado!” 
 
Escrita como está, a frase pode significar duas coisas: ou que a chuva 
chegou até junto da casa, que nela colou e chegou a “lamber”, ou que a 
água da chuva entrou na casa. 
 
No primeiro caso, até significa “extensão ou movimento com limite 
determinado”: significa que a água moveu-se até encostar na casa, mas 
 
 
41 
 
parou ali. No segundo, é palavra inclusiva, equivalente a “mesmo” ou 
“inclusive”: significa que a água alagou tudo, inclusive a casa. 
 
Quando usar crase então? Quando o “até” significar “extensão ou 
movimento”. Se o até indicar MOVIMENTO, e não inclusão, terá de levar 
crase. 
 
 
 
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EXERCÍCIOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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RESPOSTAS 
 
 
 
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