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SÊNECA “A VIDA, SE VOCÊ SOUBER USÁ-LA, É LONGA” Sobre a Brevidade da Vida Tradução, introdução e notas de ALEXANDRE PIRES VIEIRA ©2018 Copyright Montecristo Editora LÚCIO ANEU SÊNECA Sobre a Brevidade da Vida Ad Paulinum, De Brevitate Vitae Lucius Annaeus Sêneca Supervisão de Editoração/Capa Montecristo Editora Tradução Alexandre Pires Vieira Imagem da Capa fotografia de "Nero e Sêneca", por Eduardo Barrón (1904), Museo del Prado ISBN: 978-1-61965-125-8 – Edição Digital Montecristo Editora Ltda. e-mail: editora@montecristoeditora.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SÊNECA Sobre a Brevidade da Vida / Sêneca; introdução, tradução e notas de Alexandre Pires Vieira. – São Paulo, SP : Montecristo Editora, 2018. Título original: Ad Paulinum, De Brevitate Vitae https://en.wikipedia.org/wiki/Seneca_the_Younger#/media/File:Ner%C3%B3n_y_S%C3%A9neca_(Barr%C3%B3n).JPG mailto:editora%40montecristoeditora.com.br?subject=Direitos%20Humanos%20Idade%20M%C3%ADdia Sumário Notas de Louvor ao livro Introdução – Nota do tradutor Sobre a tradução Sobre a Brevidade da Vida I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XVI XVII XVIII XIX XX On the shortness of life (Inglês) I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX Ad Paulinum, De Brevitate Vitae (Latim) I. II. III. IV. V. VI. VII. VIII. IX. X. XI. XII. XIII XIV. XV. XVI. XVII XVIII. XIX. XX. CRONOLOGIA Bonus Carta I. Sobre aproveitar o tempo Carta LXVI. Sobre vários aspectos da virtude Notas de Louvor ao livro "A vida, se você souber usá-la, é longa” - Sêneca “Nenhum livro moldou minha vida mais do que Sobre a Brevidade da Vida de Sêneca. Acredito com todo o meu coração que é a melhor coisa que já foi escrita, e não há meio de fazer justiça a não ser encorajar a todos que conheço a lê-lo. É a resposta para a questão de como devemos viver nossas vidas, um chamado poderoso para usarmos nossos dias em coisas que realmente importam. Eu tenho meditado sobre este livro e aprendido com ele por tanto tempo que Sêneca se tornou meu melhor amigo e mentor mais sábio. Ele fez por mim o que Zenão, Pitágoras, Demócrito e Aristóteles fizeram por ele: ele não me forçou a morrer, mas me ensinou como morrer, ele não gastou meus anos, mas contribuiu com seus anos para os meus, e ele nunca uma vez me mandou embora de mãos vazias.” – Susan Fowler “Sobre a Brevidade da Vida é maravilhoso, recomendo a todos os homens” – Denis Diderot “Existem várias passagens em Sobre a Brevidade da Vida, onde a capacidade de Sêneca de escrever de forma clara e evocativa realmente brilha... tornou-se um dos meus ensaios favoritos. É fácil de ler, repleto de prosa cativante, analogias imaginativas e comentários incisivos sobre a existência humana. É também uma fonte para a qual eu volto sempre que alguém faz demandas irracionais de meu próprio tempo...” – Massimo Pigluicci “Um dos livros mais perspicazes que já li. Sêneca, sendo um dos filósofos mais conhecidos na época, mergulha em nossos pensamentos, bem como outros pensamentos de todas as gerações. Mesmo que suas reflexões tenham sido feitas no início do primeiro século, ele ainda é atual. Ele faz o que qualquer bom filósofo deve fazer: fazer você pensar. Quão rápido somos para dispensar alguém que está nos pedindo $100, enquanto teremos prazer em dar uma tarde em um evento que não queremos participar? Eu releio este livro o tempo todo.” – N.J.Terry Introdução – Nota do tradutor Sobre a Brevidade da Vida Sêneca escreveu suas 20 seções sobre a Brevidade da Vida em 49, ano em que retornou a Roma de seu exílio na Córsega como um ensaio moral dirigido a seu amigo Paulino. Começa: “A maioria dos mortais, Paulino, queixa-se amargamente da maldade da natureza, porque nascemos por um breve período de vida, porque até mesmo esse tempo que nos foi concedido corre tão depressa e tão rapidamente que, à exceção de muito poucos, encontramos a morte quando ainda estamos nos preparando para viver”. Sêneca argumenta imediatamente que não é realmente o caso que a vida humana seja curta, mas sim que a maioria das pessoas desperdiça grande parte dela. “A parte da vida que realmente vivemos é pequena. Pois todo o resto da existência não é vida, mas apenas tempo”. Na seção III ele observa que nós tendemos a guardar cuidadosamente de bens que podem ser trocados por dinheiro, e ainda assim somos incrivelmente esbanjadores da única coisa pela qual as pessoas não podem nos devolver: o tempo. “Olhe para trás na memória e considere quando você já teve um plano determinado, como poucos dias se passaram como você pretendia, quando você esteve sempre à sua disposição, quando seu rosto usou sua expressão natural, quando a sua mente não esteve perturbada” Depois dessa passagem, Sêneca repreende Paulinus por reservar para a busca da sabedoria apenas os pedaços de sua vida que sobram depois de ter cuidado dos negócios comuns: “Você não tem vergonha de reservar para si mesmo apenas o remanescente da vida, e separar para a sabedoria apenas o tempo que não pode ser dedicado a qualquer negócio? Viver apenas quando devemos deixar de viver!” Sêneca diz que adiar as coisas é um grande desperdício de recursos da vida e que “o maior obstáculo para a vida é a expectativa, que depende do amanhã e do desperdício de hoje”. Na seção X, diz que a vida pode ser dividida em três partes principais: “aquilo que foi, aquilo que é, aquilo que será. Destes, o tempo presente é curto, o futuro é duvidoso, o passado é certo ”. O que, então, é uma boa maneira de passar sua vida? Não surpreendentemente, Sêneca sugere envolver-se em conversas com filósofos de todas as épocas, como podemos fazer lendo este livro: “Não nos é vedado o acesso a nenhum século, somos admitidos a todos; e se desejamos, pela grandeza da alma, ultrapassar os estreitos limites da fraqueza humana, há um vasto espaço de tempo a percorrer. Poderemos discutir com Sócrates, duvidar com Carnéades, encontrar a paz com Epicuro, vencer a natureza humana com a ajuda dos estoicos, ultrapassá-la com os cínicos” logo na sequência diz “Nós estamos acostumados a dizer que não está em nosso poder escolher os pais que a sorte nos destinou, que eles foram dados aos homens por acaso; contudo nós podemos ser os filhos de quem quisermos. Existem famílias do mais nobre intelecto; escolha aquela em que você deseja ser adotado” Sobre a tradução A tradução para o português foi baseada em versões em inglês, principalmente no trabalho de John W. Basore, inclusa neste livro. A leitura das seguintes obras foi fundamental para a conclusão deste trabalho: 1. “Moral Letters to Lucilius by Seneca” por Richard Mott Gummere1; 2. Reading Seneca: Stoic Philosophy at Rome por Brad Inwood2; 3. A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy3 por William Braxton Irvine; 4. Seneca - Selected Letters por Elaine Fantham4 Poucas observações sobre a tradução são necessárias. No latim, o uso da segunda pessoa é natural para expressar a relação de proximidade e familiaridade. Nas traduções referidas anteriormente os editores decidiram também usar a segunda pessoa. Contudo, no português atual, principalmente no Brasil, o uso da terceira pessoa me parece mais adequado à intenção de Sêneca, que ensinava filosofia a um amigo, como consequência toda a tradução foi feita em terceira pessoa. Algumas escolhas lexicais devem ser esclarecidas. Sêneca usa o termo “occupati”, aqui traduzido como "ocupado" para designar aqueles que são tão absorvidos em interesses mundanos que não dedicam tempo à filosofia. Já “fortuna/fortunae”, para o autor latino, se assemelha à nossa “sorte” ou “destino”, mas era também uma divindade: o nome comum e o nome próprio são dificilmente distinguíveis nas cartas, portanto, decidi usar sempre “fortuna”. Que este livro o sirva como amigo, professor e companheiro. Espero que gostem tanto quanto eu, Alexandre Pires Vieira Viena, Maio de 2018 NOTAS: 1 Moral Letters to Lucilius2 Reading Seneca: Stoic Philosophy at Rome 3 A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy 4 Seneca - Selected Letters http://amzn.to/2rE38sw http://amzn.to/2E93b23 http://amzn.to/2Eak78w http://amzn.to/2DJ2KxD Sobre a Brevidade da Vida I A maioria dos mortais, Paulino1, queixa-se amargamente da maldade da natureza, porque nascemos por um breve período de vida, porque até mesmo esse tempo que nos foi concedido corre tão depressa e tão rapidamente que, à exceção de muito poucos, encontramos a morte quando ainda estamos nos preparando para viver. Nem é apenas o rebanho comum e a multidão irrefletida que lamentam esse mal universal; o mesmo sentimento provocou reclamação também de homens que eram famosos. Foi isso que fez o maior dos médicos exclamar que "a vida é curta, a arte é longa2"; foi isso que levou Aristóteles, enquanto amigo da natureza, a fazer uma acusação indecorosa para um homem sábio - que, em termos de idade, ela mostrou tal favor aos animais que eles passam por cinco ou dez gerações3, mas que limite muito mais curto é fixado para o homem, embora ele nasça para tantas e tão grandes conquistas. Não é que tenhamos um curto espaço de tempo, mas que desperdiçamos muito dele. A vida é longa o suficiente, e foi dada em medida suficientemente generosa para permitir a realização das maiores coisas, se a totalidade dela estiver bem investida. Mas quando é desperdiçada em luxo e descuido, quando é dedicada um fim inútil, forçada, finalmente, pela necessidade final, percebemos que já passou antes que estivéssemos conscientes de que estava passando. Assim é - a vida que recebemos não é curta, mas nós a assim fazemos, nem somos dela carentes, mas esbanjadores. Assim como a riqueza grandiosa é esbanjada no momento em que chega às mãos de um mau dono, já a riqueza, por mais limitada que seja, quando confiada a um bom guardião, aumenta, assim também nossa vida é amplamente longa para aquele que sabe dela bem dispor. II Por que nos queixamos da natureza? Ela se mostrou benevolente: a vida, se você souber usá-la, é longa. Mas um homem é possuído por uma avareza que é insaciável, outro por uma devoção a tarefas que são inúteis; um homem é obcecado por vinho, outro é paralisado pela preguiça; um homem está exausto por uma ambição que sempre depende da decisão dos outros, outro, impulsionado pela ganância, é conduzido sobre todas as terras e todos os mares pela esperança de ganho; alguns são atormentados por uma paixão pela guerra e estão sempre inclinados a infligir perigo aos outros ou preocupados com os seus; alguns há que estão desgastados pela servidão voluntária em uma ingrata solicitude aos superiores; muitos são mantidos ocupados, seja na busca da fortuna de outros homens, seja em sua própria reclamação; muitos, sem nenhum objetivo fixo, inconstantes e insatisfeitos, são mergulhados em sua inconstância em planos sempre novos; alguns não têm um princípio fixo pelo qual direcionar seu curso, mas o Destino os pega de surpresa enquanto eles relaxam e bocejam - então certamente acontece que eu não posso duvidar da verdade daquele enunciado que o maior dos poetas entregou a maneira de um oráculo : "A parte da vida que realmente vivemos é pequena.4" Pois todo o resto da existência não é a vida, mas apenas o tempo. Vícios nos envolvem e nos cercam por todos os lados, e eles não nos permitem levantar-nos de novo e erguer nossos olhos para o discernimento da verdade, mas eles nos mantêm para baixo quando nos dominam e nos acorrenta, à luxúria. Suas vítimas nunca são autorizadas a retornar ao seu verdadeiro eu; se alguma vez encontram alguma liberação, como as águas do mar profundo, que continuam a se agitar mesmo depois que a tempestade passar, elas são balançadas, e nenhum descanso de suas luxúrias permanece. Acha que estou falando dos infelizes cujos vícios são declarados? Olhe para aqueles cuja prosperidade os homens se reúnem para contemplar; eles são sufocados por suas bênçãos. Para quantos são as riquezas um fardo! A quantos a eloqüência e o esforço diário para mostrar seus poderes atraem sangue! Quantos não estão pálidos por causa de seus contínuos prazeres! Para quantos a multidão de clientes que se aglomeram não deixa liberdade! Em suma, percorra a lista de todos esses homens, do mais baixo ao mais alto - um homem deseja um defensor, aquele é advogado, esse está em julgamento, aquele o defende, aquele dá sentença; ninguém afirma sua reivindicação para si mesmo, todos são desperdiçados em benefício de outro. Pergunte sobre os homens cujos nomes são conhecidos de cor, e você verá que estas são as marcas que os distinguem: A serve B e B serve C; ninguém é seu próprio mestre. E então certos homens mostram a indignação mais insensata - eles se queixam da insolência de seus superiores, porque estavam ocupados demais para vê-los quando desejavam uma audiência! Mas alguém pode ter a dificuldade de reclamar do orgulho do outro quando ele mesmo não tem tempo de cuidar de si mesmo? Afinal, não importa quem você seja, o grande homem às vezes olha para você mesmo que o rosto dele seja insolente, às vezes ele condescende a ouvir suas palavras, ele permite que você apareça ao lado dele; mas você nunca se digna a olhar para si mesmo, para dar ouvidos a si mesmo. Não há razão, portanto, para contar alguém em dívida por tais serviços, visto que, quando você os executou, você não desejava a companhia de outra pessoa, mas não podia suportar a sua própria. III Mesmo que todos os brilhantes intelectos das eras se concentrassem nesse único tema, jamais poderiam expressar adequadamente sua admiração diante dessa densa escuridão da mente humana. Os homens não toleram ninguém se apoderar de suas propriedades, e correm para pedras e armas se houver a menor disputa sobre o limite de suas terras, mas permitem que outros invadam sua vida - ou melhor, eles mesmos levam quem acabará por possuí- la. Não se encontra ninguém disposto a distribuir seu dinheiro, mas entre quantos cada um de nós distribui sua vida! Ao guardar sua fortuna, os homens quase sempre são fechados, no entanto, quando se trata de desperdiçar tempo, no caso da única coisa em que é certo ser mesquinho, eles se mostram pródigos. E assim gostaria de interrogar alguém do grupo de homens mais velhos e dizer: "Eu vejo que você alcançou o limite mais distante da vida humana, está pressionando com força no seu centésimo ano, ou está além dele; venha agora lembre-se da sua vida e faça um ajuste de contas, considere quanto do seu tempo foi gasto com um prestamista, quanto com uma amante, quanto com um patrono, quanto com um cliente, quanto em brigas com sua esposa, quanto na punição de seus escravos, quanto em errandas pela cidade quanto nos deveres sociais. Adicione as doenças que causamos por nossos próprios atos, adicione, também, o tempo que ficou ocioso e sem uso, você verá que você tem menos anos; Olhe para trás na memória e considere quando você já teve um plano determinado, como poucos dias se passaram como você pretendia, quando você esteve sempre à sua disposição, quando seu rosto usou sua expressão natural, quando a sua mente não esteve perturbada, que trabalho você conseguiu em uma vida tão longa, quanto roubou-lhe a vida quando não sabia o que estava a perder, quanto foi recebido em tristezas inúteis, na alegria tola, no desejo ávido, nas seduções da sociedade, quão pouco de si lhe foi deixado; você perceberá que está morrendo antes de sua temporada!5" Qual é, então, a razão disso? Você vive como se estivesse destinado a viver para sempre, não se importa com a sua fragilidade, com quanto tempo já passou por você sem você perceber. Você desperdiça o tempo como se você extraísse de um suprimento copioso e abundante, embora todo o dia aquele que você concede a uma pessoa ou coisa seja talvez o seu último. Você tem todos os medos dos mortais e todos os desejos dos imortais. Você vai ouvir muitos homens dizendo: “Depois do meu quinquagésimo ano eu me retiro ao lazer, meu sexagésimo ano me libertará dos deveres públicos.” E quegarantia, ora, você tem para que sua vida dure tanto tempo? Quem vai garantir seu curso ser exatamente como você planeja? Você não tem vergonha de reservar para si mesmo apenas o remanescente da vida, e separar para a sabedoria apenas o tempo que não pode ser dedicado a qualquer negócio? Viver apenas quando devemos deixar de viver! Que tolo esquecimento da mortalidade o adiar planos saudáveis para o quinquagésimo e sexagésimo ano, e para pretender começar a vida em um ponto ao qual poucos atingem! IV Você verá que os homens mais poderosos e mais bem colocados deixam escapar palavras em que anseiam por lazer, aclamam e preferem a todos os seus bens. Desejam às vezes, se puder com segurança, descer de seu alto pináculo; pois, embora nada de fora possa assaltar ou quebrar, a Fortuna desaba por si so6. O deificado Augusto, a quem os deuses outorgaram mais do que a qualquer outro homem, não cessou de orar por descanso e de procurar libertação dos assuntos públicos; toda a conversa dele voltou a esse assunto - sua esperança de ócio. Este era o doce consolo, ainda que em vão, com o qual ele alegraria seus esforços - que um dia ele viveria para si mesmo. Em uma carta dirigida ao Senado, na qual ele havia prometido que seu descanso não seria desprovido de dignidade nem inconsistente com sua antiga glória, encontrei estas palavras: "É porém mais ilusório que essas coisas se realizem do que podem ser prometidas. Contudo o desejo daquele tempo, que tanto ambiciono, me anima de tal forma, que antecipo algo do desejado pela doçura das palavras pronunciadas, ainda que tarde seu deleite." Tão desejável era o ócior que ele antecipou isto em pensamento porque ele não podia alcançar isto em realidade. Aquele que via tudo dependendo de si mesmo, que determinava a fortuna dos indivíduos e das nações, pensava muito feliz naquele dia futuro em que deveria deixar de lado sua grandeza. Ele havia descoberto quanto suor essas bênçãos que brilhavam em todas as terras se desenhavam, quantas preocupações secretas ocultavam. Forçado a lançar armas primeiro contra seus conterrâneos, depois contra seus colegas e, por fim, contra seus parentes, ele derramou sangue na terra e no mar. Através da Macedônia, Sicília, Egito, Síria e Ásia, e quase todos os países ele seguiu o caminho da batalha, e quando suas tropas estavam cansadas de derramar sangue romano, ele as direcionaou em guerras estrangeiras. Enquanto ele estava pacificando as regiões alpinas e subjugando os inimigos plantados no meio de um império pacífico, enquanto ele estava estendendo seus limites até além do Reno e do Eufrates e do Danúbio, em Roma as espadas de Murena, Caepio, Lépido, Egnatius e outros estavam sendo estimuladas a matá-lo. Ainda não tinha escapado de suas conspirações, quando sua filha7 e muitos jovens nobres que estavam ligados a ela por adultério como por um juramento sagrado, muitas vezes atormentando dessa forma sua velhice - e havia Paulus8, e uma segunda vez o receio uma mulher aliada a um Antonio. Ele arrancava essas ulceras9 com suas próprias mãos, e outras, latentes, irrompiam; tal como num corpo ferido e sangrando, uma outra parte qualquer sempre se rompia. E assim ele ansiava por ócio, na esperança e pensamento de que ele encontraria alívio para seus trabalhos. Esta era o desejo daquele que podia satisfazer todos os desejos. V Marcus Cícero, por muito tempo jogado entre homens como Catilina e Clódio e Pompeu e Crasso, alguns inimigos abertos, outros amigos duvidosos, enquanto ele oscilava com a república e procurava impedi-la de fracassar, para ser finalmente varrida, incapaz como ela era em repousar em prosperidade ou paciente em adversidade quantas vezes amaldiçoa seu consulado que tinha louvado não sem motivo entretanto não sem moderação10! Quão chorosas as palavras que ele usa em uma carta11 escrita para Ático, quando Pompeu, o ancião, havia sido conquistado, e o filho ainda estava tentando restaurar seus braços estilhaçados na Espanha! "Você pergunta", ele disse, "o que eu estou fazendo aqui? “Semi-livre, quedo-me em minha vila de Túsculo". Ele então prossegue para outras declarações, nas quais ele lamenta sua vida anterior e reclama do presente e desespera pelo futuro. Cícero disse que era "semi-livre". Mas, na verdade, nunca o homem sábio recorrerá a um termo tão baixo, nunca será semi-livre - aquele que sempre possui uma liberdade inalterável e estável, sendo livre e seu próprio mestre e que se eleva sobre todos os outros. Pois o que pode estar acima daquele que está acima da Fortuna? VI Diz-se que Lívio Druso12, homem ousado e arrebatador, após ter dado curso a novas leis e às más medidas dos Gracos, com o apoio de uma vasta multidão de toda a Itália, não vendo uma saída para sua política, que já não mais podia levar adiante, nem, uma vez precipitada, abandonar, amaldiçoou sua vida agitada desde o berço, e que exclamou que ele era a única pessoa que nunca teve um feriado nem mesmo quando menino. Pois, enquanto ele ainda era um guarda e usava o vestido de um menino, ele teve a coragem de elogiar aqueles que foram acusados e fazer sentir sua influência nas cortes de justiça, tão poderosamente, de fato. É bem sabido que em certos julgamentos ele forçou um veredicto favorável. Até que ponto não era essa ambição prematura destinada a ir? Poder-se-ia saber que tal obstinação precoce resultaria em grande infortúnio pessoal e público. E então era tarde demais para reclamar que nunca tivera um feriado, quando da infância ele tinha sido um encrenqueiro e um incômodo no fórum. Discute-se se ele teria se suicidado; pois ele caiu de uma ferida repentina recebida em sua virilha, há quem duvide se sua morte foi voluntária, mas ninguém, de que foi oportuna. Seria supérfluo mencionar mais que, embora outros os julgassem os mais felizes dos homens, expressaram sua aversão a cada ato de seus anos e, com seus próprios lábios, deram verdadeiro testemunho contra si mesmos; mas por essas reclamações eles não mudaram nem a si próprios nem a outros. Pois quando eles exalam seus sentimentos em palavras, eles retornam à sua rodada habitual. Mas, por Júpiter! Uma vida como a sua, mesmo que dure mais de mil anos, será sempre determinada pelos mais estreitos limites: seus vícios engolirão qualquer quantidade de tempo. O espaço de tempo que temos, a razão pode na verdade dilatá-lo; e, embora a Natureza faça-o correr, necessariamente ele o escapará, pois que não aposse dele, nem o retenha ou faça demorar a mais fugidia de todas as coisas, mas permite que se perca como se fosse uma coisa supérflua e substituível. VII Mas entre os piores eu também conto aqueles que não têm tempo para nada além de vinho e luxúria; porque ninguém tem mais vergonhosa ocupação13. Os outros, mesmo que sejam possuídos pelo sonho vazio da glória, desviam- se de maneira aparentemente correta; embora você deva citar para mim os homens que são avarentos, os homens que são irados, sejam eles ocupados com ódios injustos ou com guerras injustas, todos eles pecam de maneira mais viril. Mas aqueles que são mergulhados nos prazeres da barriga e na luxúria carregam uma mancha que é desonrosa. Analise as horas de todas essas pessoas14, veja quanto tempo eles dão para as contas, quanto para colocar armadilhas, quanto temê-las, quanto para cortejar, quanto a ser cortejado, quanto é gasto ao dar ou receber fiança, quanto por banquetes - pois mesmo estes se tornaram uma questão de negócios -, e você verá como os seus interesses, quer você os chame de maus ou bons, não permitem que eles tenham tempo de respirar. Finalmente, todos concordam que nenhuma busca pode ser seguida com sucesso por um homem ocupado com muitas coisas - a eloqüência não pode, nem os estudos liberais - já que a mente, quando seus interesses estão divididos, não absorve profundamente nada, mas rejeita tudo o que é, por assim dizer, espremido nela. Não há nada que o homem ocupado esteja menos ocupado do que em viver: não há nada que seja mais difícil de aprender. Das outras artes, há muitos professores em toda parte;alguns deles viram que meros garotos dominaram tão completamente que poderiam até mesmo interpretar o mestre. É preciso que o todo da vida aprenda a viver e - o que talvez faça você se maravilhar - leva toda a vida para aprender a morrer. Muitos homens muito grandes, tendo deixado de lado todos os seus obstáculos, tendo renunciado a riquezas, negócios e prazeres, fizeram de seu único objetivo até o fim da vida saber como viver; todavia, o maior número deles se afastou da vida confessando que eles ainda não conheciam - menos ainda os outros sabem. Acredite em mim, é preciso um grande homem e alguém que tenha se elevado muito acima das fraquezas humanas para não permitir que qualquer de seu tempo seja roubado, e segue-se que a vida de tal homem é muito longa porque ele dedicou inteiramente a si mesmo, seja qual for o tempo que ele teve. Nada dele foi negligenciado e ocioso; nada dele estava sob o controle de outro, pois, guardando-o mesquinhamente, não encontrou nada digno de ser recebido em troca de seu tempo. E assim aquele homem teve tempo suficiente, mas aqueles que foram roubados de grande parte de sua vida pelo público, necessariamente tiveram muito pouco disso. E não há razão para você supor que essas pessoas nem sempre estão conscientes de sua perda. De fato, você ouvirá muitos daqueles que estão sobrecarregados de grande prosperidade, às vezes clamam no meio de sua multidão de clientes, ou de suas súplicas no tribunal, ou de suas outras gloriosas misérias: "Não tenho chance de viver". Claro que não tem chance! Todos aqueles que o convocam a si mesmos, afastam você de si mesmo. De quantos dias esse réu roubou você? De quantos daquele candidato? De quantos a velha mulher usou para enterrar seus herdeiros? De quantos aquele homem que está fingindo doença com o propósito de excitar a ganância dos caçadores de legado? De quantos amigos tão poderosos que têm você e seus semelhantes na lista, não de seus amigos, mas de seu séquito? Confira, eu digo e reveja os dias da sua vida; você verá que muito poucos foram deixados para você. Aquele homem que orou pelos cargos, quando os alcança, deseja colocá-los de lado e diz repetidamente: "Quando este ano acabará!" Esse homem proporciona espetáculos públicos15 e, depois de dar grande valor a ganhar a chance, agora diz: "Quando me livrarei deles?" Esse advogado é venerado em todo o fórum, e preenche todo o lugar com uma grande multidão que se estende além do que pode ser ouvido, mas ele diz: "Quando chegarão as férias?" Todo mundo apressa sua vida e sofre de um anseio pelo futuro e um cansaço do presente. Mas aquele que concede todo o seu tempo às suas próprias necessidades, que planeja todos os dias como se fosse o último, não anseia nem teme o dia seguinte. Pois que novo prazer existe que qualquer hora pode trazer? Todos eles são conhecidos, todos foram apreciados ao máximo. Senhora Fortuna pode lidar com o resto como ela gosta; sua vida já encontrou segurança. Algo pode ser acrescentado a ele, mas nada é tirado dele, e ele tomará qualquer adição, pois o homem que está satisfeito e cheio toma a comida que ele não deseja e ainda pode suportar. E então não há razão para você pensar que qualquer homem tenha vivido muito tempo porque ele tem cabelos grisalhos ou rugas; ele não viveu muito tempo - ele existiu por muito tempo. E você pensa que aquele homem teve uma longa viagem que fora capturado por uma tempestade violenta assim que saía do porto e, varrido para lá e para cá por uma sucessão de ventos que se alastravam de diferentes quadrantes, fora conduzido um círculo em torno do mesmo curso? Não havia muita viagem, mas muita agitação. VIII Muitas vezes fico maravilhado quando vejo alguns homens exigindo o tempo dos outros e daqueles de quem eles mais pedem complacencia. Ambos fixam os olhos no objeto do pedido de tempo, nenhum deles no próprio tempo; como se o que é pedido não fosse nada, o que é dado, nada. Homens brincam com a coisa mais preciosa do mundo; mas eles são cegos para isso porque é uma coisa incorpórea, porque não salta aos olhos, e por essa razão é contada uma coisa muito barata - não, de quase nenhum valor. Os homens dão muito grande importância às aposentadorias e às pensões e, para esses, contratam seu trabalho, serviço ou esforço. Mas ninguém define um valor ao tempo; todos usam isso como se não custasse nada. Mas vejam como essas mesmas pessoas agarram os joelhos dos médicos se adoecerem e o perigo da morte se aproximar, vejam como estão dispostas, se ameaçadas pela pena capital, a gastar todas as suas posses para poderem viver! Tão grande é a inconsistência de seus sentimentos. Mas se cada um pudesse ter o número de seus anos futuros diante dele como é possível no caso dos anos que se passaram, quão alarmados seriam aqueles que veem apenas alguns remanescentes, quão poupadores eles seriam! E, no entanto, é fácil dispensar uma quantia garantida, por menor que seja; mas deve ser guardado com mais cuidado, o que você não saberá quando falhará. No entanto, não há razão para supor que essas pessoas não saibam quão precioso é o tempo; pois para aqueles a quem eles amam mais devotadamente, eles têm o hábito de dizer que estão prontos para lhes dar uma parte de seus próprios anos. E eles dão, sem perceber; mas o resultado de sua doação é que eles mesmos sofrem perdas sem acrescentar aos anos de seus entes queridos. Mas o que eles não sabem é que estão sofrendo perdas; portanto, a remoção de algo que é perdido sem ser notado é considerada suportável. No entanto, ninguém vai trazer de volta os anos, ninguém lhe dará mais uma vez a si mesmo. A vida seguirá o caminho iniciado, e não reverterá nem verificará seu curso; não fará barulho, não lembrará sua rapidez. Silenciosa ela irá deslizar; não se prolongará ao comando de um rei ou ao aplauso da população. Assim como foi iniciada no primeiro dia, ela será executada; em nenhum lugar vai virar de lado, em nenhum lugar vai atrasar. E qual será o resultado? Você ficou ocupado, a vida se apressa; enquanto isso, a morte estará à mão, para a qual, por bem ou por mal, você deve encontrar tempo disponível. IX Pode alguma coisa ser mais tola do que o ponto de vista de certas pessoas - quero dizer, aqueles que se orgulham de sua previdência? Eles se mantêm muito ocupados engajados para que possam viver melhor; eles passam a vida prontos para viver! Eles formam seus propósitos com vistas ao futuro distante; contudo, o adiamento é o maior desperdício de vida; priva-os de cada dia como se chega, arrebata-os do presente prometendo algo daqui em diante. O maior obstáculo para a vida é a expectativa, que depende do amanhã e do desperdício de hoje. Você dispõe daquilo que está nas mãos da Fortuna, você solta aquilo que está na sua. Para onde você olha? A que objetivo você aponta? Todas as coisas que ainda estão por vir estão na incerteza; viva direto! Veja como o maior dos poetas clama e, como inspirado por divinos lábios, canta este canto de salvação: “Os melhores dias da vida dos tristes mortais São os primeiros a fugir"16 "Por que você hesita", diz ele, "Por que você está ocioso? A menos que você aproveite o dia, ele foge." Mesmo que você aproveite, ele ainda vai fugir; portanto, você deve competir com a rapidez do tempo na velocidade de usá-lo e, a partir de uma corrente rápida que nem sempre fluirá, você deve beber rapidamente. E, também, a pronúncia do poeta é mais admiravelmente formulada para lançar censura em atraso infinito, em que ele diz, não "a melhor idade", mas "o melhor dia". Por que, para o comprimento que sua ganância se inclina, você se alonga diante de si mesmo meses e anos em longo prazo, despreocupado e lento, embora o tempo voe tão rápido? O poeta fala com você sobre o dia e sobre este dia que está voando. Há, então, alguma dúvida de que, para os pobres mortais, isto é, para os homens ocupados, o dia mais belo é o primeiro a fugir? A velhice os surpreende enquanto suas mentes ainda são infantis, e chegam a eles despreparados e desarmados, pois não fizeram provisões para isso;eles tropeçaram de repente e inesperadamente, eles não perceberam que estava se aproximando dia a dia. Mesmo quando conversas ou leituras ou meditação profunda sobre algum assunto seduz o viajante, ele descobre que chegou ao fim de sua jornada antes de perceber que estava se aproximando, exatamente com essa incessante e rápida jornada de vida, nós fazemos no mesmo ritmo quer acordar ou dormir; aqueles que estão ocupados só tomam consciência disso no final. X Quisesse eu dividir minha tese em tópicos e argumentos, ocorrer-me-iam muitos exemplos, pelos quais provaria que é muito breve a vida dos ocupados. Costumava dizer Fabiano17, que não era um desses filósofos acadêmicos, mas um dos verdadeiros e genuínos: “contra as paixões deve-se lutar com arrojo, não com sutilezas; e deve-se romper a linha de batalha com um grande assalto, não com tímidas tentativas.” Não aprovava sofismas: “pois devemos esmagar as paixões, não espicaçá-las”. Contudo, para demonstrar às suas vítimas seu desvario, devemos instruí-las, não lamentá- las. A vida é dividida em três períodos - aquilo que foi, aquilo que é, aquilo que será. Destes o tempo presente é curto, o futuro é duvidoso, o passado é certo. Pois o último é aquele sobre o qual a Fortuna perdeu o controle, é aquele que não pode ser trazido de volta sob o poder de qualquer homem. Mas os homens que estão ocupados perdem isso; pois eles não têm tempo para olhar para o passado e, mesmo que devessem, não é agradável relembrar algo que devem ver com pesar. Estão, portanto, indispostos a dirigir seus pensamentos para trás a horas mal passadas, e aqueles cujos vícios se tornam óbvios se eles revêem o passado, mesmo os vícios que foram disfarçados sob alguma atração de prazer momentâneo, não têm a coragem de reverter para essas horas. Ninguém voluntariamente volta seu pensamento para o passado, a menos que todos os seus atos tenham sido submetidos à censura de sua consciência, que nunca é enganada; aquele que ambiciosamente cobiçado, orgulhosamente desprezado, conquistado imprudentemente, traiçoeiramente traído, avidamente agarrado ou generosamente esbanjado, deve ter medo de sua própria memória. Ora, de nossa vida, esta é a parte inviolável e já consagrada, que está acima de todas as vicissitudes humanas, que foi subtraída ao império da Fortuna e que não pode ser afetada pela pobreza, nem pelo medo, nem pelo assédio das doenças. Não se pode perturbá-la ou roubá-la de seu possessor, pois sua posse é perpétua e livre de receios. Os dias apresentam-se a nós um a um e momento por momento, entretanto todos os dias do passado se apresentarão a nós quando ordenarmos, e consentirão em ser apropriados e examinados à vontade – coisa que os ocupados não têm tempo de fazer. É próprio de uma mente segura de si e sossegada poder percorrer todas as épocas de sua vida; mas o espírito dos ocupados, tal como se estivesse subjugado, não pode se voltar sobre si mesmo e se examinar. Portanto sua vida se precipita num abismo; e, tal como não é de nenhum proveito procurar encher uma ânfora, por mais que nela se coloque líquido, se não há fundo que o receba ou sustenha18, assim também não importa quanto tempo tens à disposição: se não tens como retê-lo, ele vazará como de almas rachadas e furadas. O tempo presente é brevíssimo, tanto que a alguns parece não existir, pois está sempre em movimento; flui e precipita-se; deixa de ser antes de vir a ser; é tão incapaz de deter-se, quanto o mundo ou as estrelas, cujo infatigável movimento não lhes permite permanecer no mesmo lugar. Pertence, pois, aos ocupados, apenas o tempo presente, que é tão breve que não pode ser abarcado; e este mesmo escapa-lhes, ocupados que estão em muitas coisas. XI Em uma palavra, você quer saber como eles, os ocupados, não "vivem muito"? Veja como eles estão ansiosos para viver por muito tempo! Os velhos decrépitos imploram em suas orações pelo acréscimo de mais alguns anos; eles fingem que são mais jovens do que são; consolam-se com uma falsidade e têm o prazer de enganar a si mesmos como se enganassem o Destino ao mesmo tempo. Mas quando finalmente alguma enfermidade os lembra de sua mortalidade, em que terror eles morrem, sentindo que estão sendo arrastados para fora da vida, e não apenas deixando-a. Eles clamam que foram tolos, porque na verdade não viveram e que viverão a partir de agora apenas se escaparem dessa doença; então, finalmente, eles refletem quão inutilmente eles se esforçaram por coisas das quais não desfrutaram, e como todo o seu trabalho se foi em vão. Mas para aqueles cuja vida é passada distante de todos os negócios, por que não deveria ser ampla? Nenhuma delas é atribuída a outra, nenhuma delas está dispersa por toda direção e, nenhuma delas está comprometida com a Fortuna, nenhuma delas perece por negligência, nenhuma é subtraída por desperdícios inúteis, nenhuma delas é inutilizada; o todo, por assim dizer, produz renda. E assim, por menor que seja a quantia, é abundantemente suficiente e, portanto, sempre que seu último dia chegar, o sábio não hesitará em ir ao encontro da morte com passo firme. XII Talvez você se pergunte a quem eu chamaria de "o ocupado"? Não há nenhuma razão para você supor que eu quero dizer apenas aqueles advogados a quem os cães expulsam do tribunal19, aqueles que você vê gloriosamente esmagados em sua própria multidão de seguidores, ou desdenhosamente. na de outra pessoa, aqueles a quem os deveres sociais chamam de suas próprias casas para esbarrá-los contra as portas de outra pessoa, ou a quem a lança do pretor se ocupa em buscar ganho que é de má reputação e que um dia infeccionará. Até mesmo o ócio de alguns homens é ocupado; na sua villa ou no seu sofá, no meio da solidão, embora tenham se retirado de todos os outros, eles próprios são a fonte de sua própria preocupação; deveríamos dizer que estes estão vivendo não no ócio, mas na ociosidade ocupada. Você diria que aquele homem está à ocioso, que organiza com cuidado cuidadoso seus bronzes coríntios, que a mania de alguns torna dispendiosos, e gasta a maior parte de cada dia com pedacinhos enferrujados de cobre? Quem se senta em um local de luta pública (pois, para nossa vergonha! Trabalhamos com vícios que nem são romanos) assistindo a disputa de rapazes? Quem separa os rebanhos de suas mulas em pares da mesma idade e cor? Quem patrocina novos gladiadores? Diga-me, você diria que aqueles homens estão no ócio e passam muitas horas no barbeiro enquanto estão sendo despojados do que quer que tenha crescido na noite anterior? enquanto um debate solene é realizado sobre cada cabelo separado? enquanto os cachos de cabelo desarrumados são restauradas no seu lugar ou de desbaste são retirados deste lado e na direção da testa? Quão irritados eles ficam se o barbeiro tiver sido um pouco descuidado, como se ele estivesse tosando um homem de verdade! Como eles se incendeiam se alguma de suas crinas é cortada, se alguma delas estiver fora de ordem, se não cair em seus cachos apropriados! Qual destes não preferiria ver a desordem na República, a ver a de seus cabelos? Quem não se preocupa mais com a elegância de sua cabeça do que com sua saúde? Qual não prefere ser bem penteado a ser honesto? Quem não preferiria ser bem barbeado que saudável? Você diria que estes estão ocupados com o pente e o espelho? E aqueles que estão engajados em compor, ouvir e aprender canções, enquanto distorcem a voz, cujo melhor e mais simples movimento a Natureza projetou para ser direta, nos meandros de alguma melodia indolente, que estão sempre estalando os dedos enquanto andam? tempo para alguma música que eles têm em sua cabeça, que são ouvidos cantarolando uma melodia quandosão convocados para assuntos sérios, muitas vezes até melancólicos? Estes não têm ocupação de lazer, mas ociosa. E seus banquetes, o céu sabe! Eu não posso contar entre as horas desocupadas deles, já que vejo o quão ansiosamente eles colocam seu prato de prata, quão diligentemente eles amarram as túnicas de seus belos meninos escravos, como sem fôlego observampara ver em que estilo o javali sai das mãos do cozinheiro, com que velocidade a um dado sinal os rapazes de cara lisa se apressam a desempenhar as suas tarefas, com que habilidade os pássaros são esculpidos em porções, todos de acordo com a regra, como os rapazinhos cuidadosamente infelizes limpam o cuspe dos bêbados. Por tais meios, eles buscam a reputação de serem meticulosos e elegantes, e, a tal ponto, seus males os seguem em todas as privacidades da vida, que não podem comer nem beber sem ostentação. E eu também não os contaria entre a turma de ócio - os homens que são levados para cá e para lá em uma carruagem ou em uma liteira, e são pontuais às horas de seus passeios como se fosse ilegal omiti-los, que são lembrados por outra pessoa quando precisam tomar banho, quando devem nadar, quando devem jantar; tão enfraquecidos são eles, pela excessiva canseira de uma mente mimada, que não conseguem descobrir sozinhos se estão com fome! Ouvi dizer que uma dessas pessoas mimadas - contanto que você possa chamá-lo de mimo para desaprender os hábitos da vida humana -, quando ele foi levantado pelas mãos do banho e colocado em sua cadeirinha, disse interrogativamente: "Estou agora sentado? " Você acha que esse homem, que não sabe se está sentado, sabe se está vivo, se vê, se está livre? Acho difícil dizer se tenho mais pena dele se ele realmente não soubesse, ou se ele finge não saber disso. Eles realmente estão sujeitos ao esquecimento de muitas coisas, mas também fingem esquecimento de muitas. Alguns vícios os encantam como provas de sua prosperidade; parecem-lhes o papel de um homem que é muito baixo e desprezível saber o que se está fazendo. Depois disso, imagine que os mimos fabricam muitas coisas para fazer uma simulação de luxuria20! Na verdade, eles passam por cima mais do que inventam, e tal multidão de inacreditáveis vícios surgiu nesta era, tão inteligente nesta única direção, que agora podemos acusar os mimos de negligência. Pensar que há alguém que está tão perdido no luxo que ele precisa da palavra de outra pessoa sobre se ele está sentado! Este homem, então, não é está em ócio, você deve aplicar-lhe um termo diferente - ele está doente, ou melhor, ele está morto; o homem que está em ócio, também tem uma percepção de seu ócio. Mas este outro que é semi-vivo, que, para que ele possa conhecer as posturas de seu próprio corpo, precisa de alguém para lhe dizer - como poderia ser senhor de um momento sequer de sua vida? XIII Seria alongar demais percorrer todos os exemplos daqueles que desperdiçaram suas vidas em jogos de xadrez, bola, ou queimando-se ao sol. Não gozam de ócio aqueles cujos prazeres trazem muitas ocupações. Pois ninguém duvidará que muito se fatigam sem nada obrar, os que se prendem a inúteis questões de literatura – e eles já são multidão entre os romanos! Foi um vício dos gregos investigar quantos remadores teve Ulisses, se a Ilíada ou a Odisséia foi escrita primeiro e, além disso, se eram de um mesmo autor, e vários outros assuntos deste selo, que, se você guarda-os para si mesmo, de modo algum dá prazer à sua alma secreta e, se os publicar, faz com que pareça mais chato do que acadêmico. Mas agora essa paixão vã por aprender coisas inúteis atacou os romanos também. Nos últimos dias, ouvi alguém dizer quem foi o primeiro general romano a fazer isto ou aquilo; Duilius foi o primeiro que ganhou uma batalha naval, Curius Dentatus foi o primeiro que teve elefantes domados em seu triunfo. Ainda assim, estas questões, mesmo que não acrescentem nada à verdadeira glória, estão, no entanto, preocupadas com serviços de sinalização para o estado; Não haverá lucro em tal conhecimento, no entanto, ganha nossa atenção em razão da atratividade de um sujeito vazio. Podemos desculpar também aqueles que investigam isso - que primeiro induziu os romanos a embarcar no navio. Era Cláudio, e essa era a razão pela qual ele era de sobrenome Caudex, porque entre os antigos uma estrutura formada pela junção de várias tábuas era chamada de caudex, de onde também as Tabelas da Lei são chamadas de códices21, e, na moda antiga, os barcos que transportam suprimentos até o rio Tibre são até hoje codicárias. Sem dúvida isso também pode ter algum ponto - o fato de que Valerius Corvinus foi o primeiro a conquistar Messana, e foi o primeiro da família dos Valerii a ter o sobrenome Messana, porque foi transferido para si o nome da cidade conquistada, e foi mais tarde chamado Messala após a corrupção gradual do nome no discurso popular. Talvez você permita que alguém se interesse também por isso - o fato de que Lucius Sulla foi o primeiro a exibir leões soltos no Circo, embora em outras ocasiões fossem exibidos acorrentados, e que arqueiros foram enviados pelo rei Bocchus para exterminá-los? E, sem dúvida, isso também pode encontrar alguma desculpa - mas serve a algum propósito útil saber que Pompeu foi o primeiro a exibir a matança de dezoito elefantes no Circo, colocando criminosos contra eles em uma batalha simulada? Ele, um líder do Estado e aquele que, de acordo com o relatório, era notável entre os líderes de antigamente pela bondade de seu coração22, considerou um notável tipo de espetáculo matar seres humanos seguindo uma nova moda. Eles lutam até a morte? Isso não é suficiente! Eles estão despedaçados? Isso não é suficiente! Deixe-os ser esmagados por animais de massa monstruosa! Melhor seria que essas coisas passem ao esquecimento para que, a partir de então, algum homem poderoso as aprenda e tenha inveja de um ato que era desumano23. Quantas trevas uma grande fortuna causa às nossas mentes!! Quando ele estava atirando tropas de seres humanos miseráveis para bestas selvagens nascidas sob um céu estranjeiro, quando ele estava proclamando a guerra entre criaturas tão mal equiparadas, quando ele estava derramando tanto sangue diante dos olhos do povo romano, que em si era logo ser forçado a lançar mais. ele então acreditava que ele estava além do poder da natureza. Mais tarde, porém, esse mesmo homem, traído pela deslealdade alexandrina, ofereceu-se à adaga do mais vil escravo e, finalmente, descobriu que é vazio ostentar seu sobrenome24. Mas, voltando ao ponto do qual eu me deparei, e para mostrar que algumas pessoas remoem dores inúteis sobre esses mesmos assuntos - o homem que mencionei relatou que Metelo, quando triunfou após sua vitória sobre os cartagineses na Sicília, foi o único de todos os romanos que haviam feito cento e vinte elefantes capturados serem conduzidos antes de seu carro; que Sila era o último dos romanos que estenderam o pomerium25, que antigamente era costume estender depois da conquista de território italiano, mas nunca provinciano. É mais proveitoso saber disso do que o Monte Aventino, segundo ele, está fora do pomerium por uma das duas razões, seja porque aquele era o lugar para onde os plebeus tinham se separado, ou porque as aves não tinham sido favoráveis quando Remus tomou seus auspícios nesse ponto - e, por sua vez, inúmeros outros relatórios que estão repletos de falsidade ou são do mesmo tipo? Pois, embora você conceda que eles digam essas coisas de boa fé, embora eles se comprometam com a verdade do que escrevem, ainda assim, os erros serão cometidos menos por tais histórias? Quais paixões eles irão conter? Quem farão mais corajosos, quem mais justos, quem mais nobre de espírito? Às vezes meu caro Fabiano dizia duvidar se era melhor não empreender estudo algum do que se envolver com os deste gênero. XIV Dentre todos os homens, somente são ociosos os que estão disponíveis para a sabedoria; eles são os únicos a viver, pois, não apenas administram bem sua vida, mas acrescentam-lhe toda a eternidade. Todos os anos que se passaram antes deles são somados aos seus. A menos que sejamos os maiores dos ingratos, aqueles fundadores das sublimes filosofias nasceram para nós, e eles nos preparam o caminho para a vida. Graças aos seus esforços, conduzem- nos das trevas à luz, aos mais belos conhecimentos. Não nos é vedado o acesso a nenhum século, somos admitidosa todos; e se desejamos, pela grandeza da alma, ultrapassar os estreitos limites da fraqueza humana, há um vasto espaço de tempo a percorrer. Poderemos discutir com Sócrates, duvidar26 com Carnéades, encontrar a paz com Epicuro, vencer a natureza humana com a ajuda dos estoicos, ultrapassá-la com os cínicos. Já que a Natureza nos permite entrar em comunhão com toda a eternidade, por que não nos desviarmos dessa estreita e curta passagem do tempo e nos entregarmos com todo nosso espírito àquilo que é ilimitado, eterno e partilhado com os melhores? Os que se desdobram em muitos compromissos sociais, que agitam a si mesmos e a outros, bem conscientes de suas tolices, após terem percorrido diariamente as soleiras de todos e não ter deixado de entrar em nenhuma porta aberta, após terem levado sua interesseira saudação à volta das mais remotas casas, quão pouco não terão eles visto numa cidade tão grande e dilacerada por várias paixões! Quantos haverá cujo sono, dissolução ou grosseria não os afastará? Quantos, após os terem torturado com uma longa espera, não passarão por eles fingindo estarem apressados? Quantos não evitarão aparecer no átrio repleto de clientes, escapando por portas secretas, como se fosse menor descortesia enganar do que despedir! Quantos, ainda meio adormecidos e pesados devido à embriaguez da noite anterior, responderão, àqueles pobres coitados que interromperam seu sono para esperar o despertar de um outro, com o bocejo mais arrogante, mal levantando os lábios27! Podemos afirmar que se dedicam a verdadeiros deveres, somente aqueles que desejam estar cotidianamente na intimidade de Zenão, Pitágoras, Demócrito, Aristóteles, Teofrasto e os demais mestres de virtude. Nenhum deles deixará de estar à nossa disposição, nenhum despedirá o que o procurar, sem que o faça mais feliz e mais devotado a ele, nenhum permitirá a quem quer que seja partir de mãos vazias; e eles podem ser encontrados por qualquer homem, tanto durante o dia como à noite. Nenhum destes lhe forçará a morrer, mas todos lhe ensinarão como morrer; nenhum destes irá desgastar seus anos, mas cada um adicionará seus próprios anos ao seu; conversas não lhe trarão perigo, a amizade não porá em risco a sua vida, o cortejo de nenhum deles vai sobrecarregar sua bolsa. Deles você pegará o que quiser; não será culpa deles se você não tirar o máximo que puder. Que felicidade, que bela velhice espera por aquele que se ofereceu como cliente a eles! Este terá amigos de quem poderá pedir conselhos sobre assuntos grandes e pequenos, a quem poderá consultar todos os dias a respeito de si mesmo, de quem poderá ouvir a verdade sem insultos, ser louvado sem adulação, a cuja semelhança se possa moldar. Nós estamos acostumados a dizer que não está em nosso poder escolher os pais que a sorte nos destinou, que eles foram dados aos homens por acaso; contudo nós podemos ser os filhos de quem quisermos. Existem famílias do mais nobre intelecto; escolha aquela em que você deseja ser adotado; você herdará não apenas seu nome, mas até mesmo sua propriedade, que não haverá necessidade de guardar em um espírito mesquinho ou avarento; com quanto mais pessoas você compartilhar, mais terá. Estas lhe abrirão o caminho para a imortalidade, e elevarão você a uma altura da qual ninguém é derrubado. Essa é a única maneira de prolongar a mortalidade - ou melhor, de transformá-la em imortalidade. Honras, monumentos, toda aquela ambição ordenada por decretos ou criadas em obras de pedra, caem rapidamente em ruína; Não há nada que o lapso de tempo não derrube e remova. Mas as obras que a filosofia consagrou não podem ser prejudicadas; nenhuma idade as destruirá, nenhuma idade as reduzirá; a seguinte e cada era sucessiva aumentará a reverência por elas, já que a inveja trabalha sobre o que está por perto, e as coisas que estão distantes são mais livres serem admiradas. A vida do filósofo, portanto, tem amplo alcance, e ele não está confinado pelos mesmos limites que calam os outros. Somente ele é libertado das limitações da raça humana; todas as idades o servem como se fosse um deus. Tem algum tempo passado? Isso ele abraça por lembrança. O tempo está presente? Isso ele usa. Ainda está por vir? Isso ele antecipa. Ele faz sua vida longa, combinando todos os tempos em um. XVI Mas aqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem pelo futuro, têm uma vida que é muito breve e conturbada; quando chegam ao fim, os pobres infelizes percebem tarde demais que durante tanto tempo se ocuparam em não fazer nada. Nem porque às vezes invocam a morte, você tem alguma razão para pensar que seja uma prova de que eles acham a vida longa. Em sua loucura, eles são assediados por emoções inconstantes que os apressam para as próprias coisas que temem; muitas vezes rezam pela morte porque temem isso. E também, você não tem razão para pensar que isso é uma prova de que eles estão vivendo há muito tempo - o fato de que o dia muitas vezes lhes parece longo, o fato de que eles reclamam que as horas passam devagar até a hora marcada para o jantar; pois, sempre que suas ocupaões os falham, ficam inquietos porque não têm nada para fazer, e não sabem como se desfazer de seu ócio ou arrastar o tempo. E assim eles se esforçam por algo mais para ocupá-los, e todo o tempo de intervenção é penoso; exatamente como quando uma luta de gladiadores é anunciada, ou quando eles estão esperando pelo horário marcado de algum outro espetáculo ou diversão, eles querem pular os dias que se encontram entre eles. Todo adiamento de algo que eles esperam parece muito para eles. No entanto, o tempo que eles desfrutam é curto e rápido, e é muito mais curto por sua própria culpa; pois fogem de um prazer para outro e não podem permanecer fixos em um desejo. Seus dias não são longos para eles, mas odiosos; contudo, por outro lado, quão escassas parecem as noites que passam nos braços de uma prostituta ou entregues ao vinho! É isso também que explica a loucura dos poetas em fomentar as fragilidades humanas pelos contos em que eles representam Júpiter, sob a sedução dos prazeres de uma amante, duplicando a duração da noite. Pois o que é senão inflamar nossos vícios inscrever o nome dos deuses como seus patrocinadores e apresentar a indulgência perdoada da divindade como um exemplo para nossa própria fraqueza? As noites pelas quais pagam tão caro deixam de parecer curtas demais para esses homens? Eles perdem o dia na expectativa da noite, e a noite no medo do amanhecer. XVII Os próprios prazeres de tais homens são inquietos e agitados por terrores de vários tipos, e no momento de regozijo, o pensamento ansioso se apossa deles: quanto tempo essas coisas duram? "Esse sentimento levou reis a chorarem pelo poder que possuíam, e eles não têm tanto prazer na grandeza de sua fortuna, mas aterrorizaram-se com o fim que um dia lhes advirá. Quando o rei da Pérsia28, em toda a insolência de seu orgulho, espalhou seu exército sobre as vastas planícies e não conseguia abarcar seu número, mas simplesmente sua extensão29, ele derramou lágrimas copiosas porque dentro de cem anos nenhum homem de seu exército tão poderoso estaria vivo30. Mas este mesmo que chorou era quem empurava eles ao seu destino, fazendo perecer alguns a no mar, alguns na terra, alguns em batalha, alguns em retirada, e dentro de pouco tempo foi destruu todos aqueles por cujo centésimo ano ele tinha tanto medo. Por que é que mesmo suas alegrias são desconfortáveis pelo medo? É que não brotam de causas sólidas; pelo contrário, o próprio vazio de onde nascem perturba-as. Mas como pensar serem esses tempos que até por sua própria confissão são miseráveis, uma vez que mesmo as alegrias pelas quais eles são exaltados e elevados acima da humanidade não são de forma alguma puras? Todas as maiores bênçãos são uma fonte de ansiedade, e em nenhum momento a fortuna é menos sabiamente confiável do que quando no auge; para alimentar a felicidade, faz- se necessária uma outra felicidade, e em paga a uma promessa realizada, outras promessas devem ser feitas.Pois tudo o que nos sucede por obra do acaso é instável, e quanto mais alto nos elevamos, tanto mais estamos sujeitos a cair. É claro que o que estar condenado a cair não agrada a ninguém; muito miserável, portanto, e não apenas curta, deve ser a vida daqueles que trabalham arduamente para ganhar o que devem trabalhar mais para manter. Com grande esforço, eles alcançam o que desejam e, com ansiedade, retêm o que alcançaram; enquanto isso, não levam em conta o tempo que nunca mais retornará. Novas ocupações tomam o lugar da antiga, a esperança leva a uma nova esperança, à ambição de uma nova ambição. Eles não buscam o fim de sua miséria, mas mudam a causa. Nós somos atormentados por nossos próprios cargos públicos? Aqueles dos outros levam mais do nosso tempo. Já paramos de trabalhar como candidatos? Nós começamos a buscar os outros. Nós nos livramos dos problemas de um promotor? Encontramos os de um juiz. Um homem deixou de ser juiz? Ele se torna presidente de um tribunal. Ele cansou de administrar a propriedade dos outros por salário? Ele está perplexo por cuidar de sua própria riqueza. Os quartéis libertaram Marius? O consulado o mantém ocupado. Cincinato apressa-se a escapar do cargo ditatorial? Será novamente chamado do arado31. Cipião ainda muito jovem para uma tarefa de tal envergadura, combaterá os cartagineses; vencedor de Aníbal, vencedor de Antíoco, orgulho de seu consulado e garantia do de seu irmão, seria colocado ao lado de Júpiter, não fosse sua intervenção pessoal32. As guerras civis perseguirão este salvador da pátria e, tendo sido na juventude honrado como um deus, já velho deleitar-se-á apenas com o desejo de um altivo exílio33. Nunca faltarão motivos de inquietação, quer na prosperidade, quer na miséria: a vida será dilacerada entre as ocupações; o ócio sempre desejado, nunca obtido. XVIII E assim, meu querido Paulinus, afaste-se da multidão e, muito atormentado pelo tempo que você viveu, por fim, retire-se para um porto tranqüilo. Pense em quantas ondas você encontrou, quantas tempestades, por um lado, você sofreu na vida privada, quantas, por outro lado, trouxe para si na vida pública; por tempo suficiente, sua virtude foi demonstrada em provas laboriosas e incessantes - tente ver como ela se comportará no ócio. A maior parte de sua vida, certamente a melhor parte dela, foi dada ao estado; Tome agora também uma parte do seu tempo para si mesmo. E eu não convoco você para a preguiça indolente ou ociosa, ou para afogar toda a sua energia vigorosa no sono e nos prazeres que são caros à multidão. Isso não é descansar; você encontrará trabalhos muito maiores do que todos aqueles que até agora você desempenhou tão energicamente, para ocupá-lo no meio de sua libertação e retiro. Você, eu sei, administra as contas do mundo inteiro com a mesma honestidade que você faria com um estranho, com tanto cuidado quanto faria com o seu, tão conscienciosamente quanto o do estado. Você ganha estima em um cargo em que é difícil evitar o ódio; mas, mesmo assim, acredite em mim, é melhor ter conhecimento do livro de contabilidade da própria vida do que do mercado de trigo. Lembre-se de que sua mente apurada é a mais competente para lidar com os maiores assuntos, de um serviço que é de fato honrado, mas dificilmente adaptado à vida feliz, e reflete isso em toda a sua formação nos estudos liberais, desde seus primeiros anos você não estava mirando nisso, para que alqueires de trigo lhe fossem confiados: você tem esperança de algo maior e mais elevado. Não haverá falta de homens de valor testado e indústria meticulosa. Mas os jumentos são muito mais adequados para transportar cargas pesadas do que os cavalos puros-sangues, e quem dificulta a frota de criaturas tão elevadas com uma carga pesada? Reflita, além disso, quanta preocupação você tem em sujeitar- se a um fardo tão grande; Suas transações são com a barriga do homem. O povo faminto não ouve a razão, nem é apaziguado pela justiça, nem é inclinado por qualquer pedido. Muito recentemente, dentro daqueles poucos dias depois de Caio César34 morrer - ainda sofrendo mais profundamente (se os mortos no inferno tiverem algum sentimento) porque ele sabia que o povo romano estava vivo e tinha comida suficiente para, pelo menos, sete ou oito dias enquanto ele construía pontes de barcos35 e jogando com os recursos do império, fomos ameaçados com o pior mal que pode acontecer aos homens, mesmo durante um cerco - a falta de provisões; sua imitação de um rei estrangeiro louco e mal-intencionado36 quase custou a destruição e a fome da cidade e a ruina geral que segue a fome. O que, então, deve ter sido o sentimento daqueles que se encarregaram do mercado de trigo e tiveram que enfrentar pedras, a espada, o fogo - e um Calígula? Com a maior dissimulação, encobriam um tão grande mal incrustado nas vísceras do Estado - com boas razões, você pode ter certeza. Pois certos males devem ser tratados enquanto o paciente é mantido em ignorância; o conhecimento de sua doença causou a morte de muitos. XIX Recolha-se para essas coisas maiores, mais seguras e mais silenciosas! Você pensa que é exatamente o mesmo se você está preocupado em ter trigo do ultramar derramado nos celeiros, ileso da desonestidade ou negligência daqueles que o transportam, ver que não se torne fermentado e estragado pela umidade e que o peso e medida confiram, ou se você entra nestes estudos sagrados e elevados com a finalidade de descobrir que substância, que prazer, que modo de vida, que forma Deus tem; que destino aguarda sua alma; onde a natureza nos repousa quando somos libertados do corpo; Qual é o princípio que sustenta toda a matéria mais pesada no centro deste mundo, suspende a luz ao alto, leva o fogo até a parte mais alta, chama as estrelas para suas próprias mudanças - e outras questões, por sua vez, cheias de poderosas maravilhas? Você realmente deve deixar o chão e voltar sua mente para essas coisas! Agora, enquanto o sangue está quente, devemos entrar com passos rápidos no melhor caminho. Nesse tipo de vida, há muito que é bom saber - o amor e a prática das virtudes, o esquecimento das paixões, o saber viver e morrer, enfim, uma grande tranqüilidade. A condição de todos os ocupados é miserável, mas a mais desgraçada é a condição daqueles que trabalham com ocupações que nem sequer são suas, que regulam o seu sono pelo de outro, a sua caminhada pelo ritmo de outro, que estão sob ordens no caso das coisas mais livres do mundo - amar e odiar. Se estes desejam saber quão breve é a sua vida, que considerem quão insignificante é a parte que lhes cabe. XX E assim, quando você vê um homem frequentemente usando a toga pretexta37, quando você vê alguém cujo nome é famoso no Fórum, não o inveje; essas coisas são compradas pelo preço da vida. Eles desperdiçarão todos os seus anos, a fim de que possam ter um ano contado pelo seu nome38. A vida deixou alguns no meio de suas primeiras lutas, antes que pudessem subir ao auge de sua ambição; alguns, quando se arrastaram através de mil indignidades para a dignidade culminante, foram possuídos pelo pensamento infeliz de que eles apenas labutaram por uma inscrição em um túmulo; alguns que chegaram à velhice extrema, enquanto o ajustavam a novas esperanças como se fossem jovens, falharam por pura fraqueza no meio de seus grandes e desavergonhados esforços. Vergonhoso é aquele cuja a vida o deixa no meio de um julgamento quando, avançando em anos e ainda cortejando o aplauso de um círculo ignorante, está advogando por algum litigante desconhecido; É vergonhoso aquele que, exausto mais rapidamente por seu modo de vida do que por seu trabalho, desmorona no meio de seus deveres; vergonhoso é aquele que morre no ato de receber pagamentos, e tira um sorriso de seu herdeiro a tempos deserdado. Eu não posso passar por cima de um exemplo que me ocorre. Sextus Turannius era um homem idoso de longa diligência testada, que, após seu nonagésimo ano, tendo sido dispensado dos deveres de seu ofício pelo ato de Caio César, ordenou que ele fosse deitadoem sua cama e fosse chorado pela casa reunida como se ele estivesse morto. Toda a casa lamentava o ócio de seu antigo mestre, e não deixou sua tristeza até que seu trabalho costumeiro lhe fosse restaurado. É realmente tão prazeroso para um homem morrer em arreios? No entanto, muitos têm o mesmo sentimento; seu desejo por seu trabalho dura mais que sua capacidade; eles lutam contra a fraqueza do corpo, eles julgam que a velhice não é uma dificuldade por nenhuma outra razão senão porque ela os põe de lado. A lei não mobiliza um soldado após o seu quinquagésimo ano, não chama senador depois dos sessenta anos; é mais difícil para os homens obterem folga de si mesmos do que da lei. Enquanto isso, eles roubam e estão sendo roubados, enquanto eles quebram o repouso uns dos outros, enquanto eles fazem um ao outro desgraçado, sua vida é sem lucro, sem prazer, sem qualquer melhoria da mente. Ninguém mantém a morte em vista, ninguém se abstém de grandes esperanças; alguns homens, na verdade, até mesmo organizam coisas que estão além da vida - enormes massas de túmulos e dedicatórias de obras públicas e presentes para suas piras funerárias e funerais ostentosos. Mas, na verdade, os funerais de tais homens devem ser conduzidos pela luz de tochas e velas de cera39, como se eles tivessem vivido, mas o menor período de tempo. NOTAS: 1 Fica claro nos capítulos 18 e 19 que, quando este ensaio foi escrito (em cerca de 49 d.C.), Paulino era praefectus annonae, o oficial que supervisionava o suprimento de grãos de Roma, e, portanto, um homem de importância. Ele era, acredita-se, um parente próximo da esposa de Sêneca, Pompeia Paulina, e é geralmente identificado com o pai de Pompeio Paulino, que ocupou altos cargos públicos sob Nero. 2 O famoso aforismo de Hipócrates: βίος βραχύς, ἡ δὲ τέχνη μακρή. 3 ’ Εννέα τοι ζώει γενεὰς λακέρυζα κορώνη ἀνδρῶν γηράντω· ἔλαφος δέ τε τετρακόρωνος 4 Quando Sêneca se refere ao maior dos poetas, não se sabe se refere-se a Homero ou Virgílio. Σίμιλις ἐνταῦθα κεῖται βιοὺς μὲν ἔτη τόσα, ζήσας δὲ ἔτη ἑπτά. 5 Immaturum, literalmente „verde“, não maduro. “Você irá para a sepultura em pleno vigor, como um feixe recolhido no devido tempo” (Jó 5:26) 6 A ideia é que a grandeza afunda sob seu próprio peso: Sidunt ipso pondere magna Editceditque oneri Fortuna suo. 7 A notória Julia, que foi banida por Augusto para a ilha de Pandataria. 8 Em 31 a.C. Augusto tinha enfrentado Marco Antônio e Cleópatra; em 2 a.C. Iulus Antonius, filho mais novo do triumvir, foi condenado à morte por causa de sua intriga com a Julia mais velha. 9 A linguagem é uma reminiscência da própria caracterização de Augusto de Julia e seus dois netos em Suetônio (Ago. 65.5): "nec (solebat) aliter eos appellare quam tris vômicas ac tria carcinomata sua" ("seu trio de furúnculos e trio de úlceras" "). 10 Cícero (106 – 43 a.C.), o maior orador romano, outro exemplo de vida bem vivida para o romano médio da época de Sêneca – Cícero era muito vaidoso, chegou a escrever um poema épico em louvor de seu próprio consulado. 11 Carta não sobreviveu ao tempo. 12 Tribuno da plebe em 91 a.C., considerado um gênio da política, foi assassinado por suas reformas democráticas. Daí teve início a Guerra Social. (91 – 89 a.C.) 13 Ao longo do texto “occupati”, "o ocupado" é um termo técnico que designa aqueles que são tão absorvidos pelos interesses mundanos que não dedicam tempo à filosofia. 14 ou seja, os vários tipos de ocupações que foram apresentados de forma esquemática. A frouxidão da estrutura levou alguns editores a duvidar da integridade da passagem. 15 A gestão dos jogos públicos estava a cargo dos pretores. 16 Trecho de Virgílio, Georgicas, iii. 17 Um professor muito admirado por Sêneca. 18 Uma alusão ao destino das Danaides, que no Hades despejaram para sempre água em um vaso com um fundo perfurado. 19 Aparentemente advogados que trabalhando tarde da noite são pegos pelos cães de guarda do tribunal 20 Atores dos mimos populares, ou baixas farsas, que eram frequentemente censurados por suas indecências 21 O antigo códice era feito de tábuas de madeira presas juntas. 22 Tais como Mário, Sila, César e Crasso. 23 Plínio relata que as pessoas ficaram tão comovidas que se levantaram em um corpo e amaldiçoaram Pompeu. As impressões de Cícero sobre a ocasião são registradas em Epistulae ad Familiares. vii. 1. 3: "extremus elephantorum morfa, em quo admiratio magna vulgi atque turbae, delectatio nulla exstitit; quin etiam misericordia quaedam consecuta est atque opinio eiusmodi, esse quandam illi beluae cum genere humana societatem." 24 isto é, Magnus. 25 Nome dado a um espaço consagrado mantido no interior da cidade. O direito de https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Social_(91%E2%80%9388_a.C.) estendê-lo pertencia originalmente ao rei que havia acrescentado território a Roma. 26 A Nova Academia ensinava que a certeza do conhecimento era inatingível. 27 A salutatio era realizada no início da manhã. 28 Xerxes, que invadiu a Grécia em 480 a.C. 29 Na planície de Doriscus na Trácia, a enorme força terrestre foi estimada contando o número de vezes que um espaço capaz de conter 10.000 homens foi preenchido (Heródoto, vii. 60). 30 Heródoto, vii. 45, 46 conta a história. 31 Seu primeiro compromisso foi anunciado enquanto ele arava seus próprios campos. 32 Ele não permitiu que sua estátua fosse colocada no Capitólio. 33 Provavelmente uma alusão ao desejo louco de Calígula: "utinam populus romanus unam cervicem haberet!" (Suetônio, Calig. 30) (A lógica de toda a passagem sofre da incerteza do texto) 34 Caio Júlio César Augusto Germânico (em latim Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus;), também conhecido como Caio César ou Calígula 35 Três quilômetros e meio de extensão, indo de Baiae até o píer de Puteoli (Suetônio, Calig. 19). 36 Xerxes, que colocou uma ponte sobre o Helesponto. 37 Toga pretexta (Toga praetexta) - era uma toga branca que apresentava uma banda larga de cor púrpura. Era usada pelos principais magistrados e sacerdotes. 38 O ano romano era datado pelos nomes de dois cônsules anuais. 39 isto é, como se fossem crianças, cujos funerais ocorriam à noite (Servius, Eneida, xi. 143). Seneca On the shortness of life translated by John W. Basore I The majority of mortals, Paulinus, complain bitterly of the spitefulness of Nature, because we are born for a brief span of life, because even this space that has been granted to us rushes by so speedily and so swiftly that all save a very few find life at an end just when they are getting ready to live. Nor is it merely the common herd and the unthinking crowd that bemoan what is, as men deem it, an universal ill; the same feeling has called forth complaint also from men who were famous. It was this that made the greatest of physicians exclaim that "life is short, art is long;" it was this that led Aristotle, while expostulating with Nature, to enter an indictment most unbecoming to a wise man—that, in point of age, she has shown such favour to animals that they drag out five or ten lifetimes, but that a much shorter limit is fixed for man, though he is born for so many and such great achievements. It is not that we have a short space of time, but that we waste much of it. Life is long enough, and it has been given in sufficiently generous measure to allow the accomplishment of the very greatest things if the whole of it is well invested. But when it is squandered in luxury and carelessness, when it is devoted to no good end, forced at last by the ultimate necessity we perceive that it has passed away before we were aware that it was passing. So it is—the life we receive is not short, but we make it so, nor do we have any lack of it, but are wasteful of it. Just as great and princely wealth is scattered in a moment when it comes into the hands of a bad owner, while wealth however limited, if it is entrusted to a good guardian, increases by use, so our life is amply long for him who orders it properly. II Why do we complain of Nature? She hasshown herself kindly; life, if you know how to use it, is long. But one man is possessed by an avarice that is insatiable, another by a toilsome devotion to tasks that are useless; one man is besotted with wine, another is paralyzed by sloth; one man is exhausted by an ambition that always hangs upon the decision of others, another, driven on by the greed of the trader, is led over all lands and all seas by the hope of gain; some are tormented by a passion for war and are always either bent upon inflicting danger upon others or concerned about their own; some there are who are worn out by voluntary servitude in a thankless attendance upon the great; many are kept busy either in the pursuit of other men's fortune or in complaining of their own; many, following no fixed aim, shifting and inconstant and dissatisfied, are plunged by their fickleness into plans that are ever new; some have no fixed principle by which to direct their course, but Fate takes them unawares while they loll and yawn—so surely does it happen that I cannot doubt the truth of that utterance which the greatest of poets delivered with all the seeming of an oracle: "The part of life we really live is small." For all the rest of existence is not life, but merely time. Vices beset us and surround us on every side, and they do not permit us to rise anew and lift up our eyes for the discernment of truth, but they keep us down when once they have overwhelmed us and we are chained to lust. Their victims are never allowed to return to their true selves; if ever they chance to find some release, like the waters of the deep sea which continue to heave even after the storm is past, they are tossed about, and no rest from their lusts abides. Think you that I am speaking of the wretches whose evils are admitted? Look at those whose prosperity men flock to behold; they are smothered by their blessings. To how many are riches a burden! From how many do eloquence and the daily straining to display their powers draw forth blood! How many are pale from constant pleasures! To how many does the throng of clients that crowd about them leave no freedom! In short, run through the list of all these men from the lowest to the highest—this man desires an advocate, this one answers the call, that one is on trial, that one defends him, that one gives sentence; no one asserts his claim to himself, everyone is wasted for the sake of another. Ask about the men whose names are known by heart, and you will see that these are the marks that distinguish them: A cultivates B and B cultivates C; no one is his own master. And then certain men show the most senseless indignation —they complain of the insolence of their superiors, because they were too busy to see them when they wished an audience! But can anyone have the hardihood to complain of the pride of another when he himself has no time to attend to himself? After all, no matter who you are, the great man does sometimes look toward you even if his face is insolent, he does sometimes condescend to listen to your words, he permits you to appear at his side; but you never deign to look upon yourself, to give ear to yourself. There is no reason, therefore, to count anyone in debt for such services, seeing that, when you performed them, you had no wish for another's company, but could not endure your own. III Though all the brilliant intellects of the ages were to concentrate upon this one theme, never could they adequately express their wonder at this dense darkness of the human mind. Men do not suffer anyone to seize their estates, and they rush to stones and arms if there is even the slightest dispute about the limit of their lands, yet they allow others to trespass upon their life—nay, they themselves even lead in those who will eventually possess it. No one is to be found who is willing to distribute his money, yet among how many does each one of us distribute his life! In guarding their fortune men are often closefisted, yet, when it comes to the matter of wasting time, in the case of the one thing in which it is right to be miserly, they show themselves most prodigal. And so I should like to lay hold upon someone from the company of older men and say: "I see that you have reached the farthest limit of human life, you are pressing hard upon your hundredth year, or are even beyond it; come now, recall your life and make a reckoning. Consider how much of your time was taken up with a moneylender, how much with a mistress, how much with a patron, how much with a client, how much in wrangling with your wife, how much in punishing your slaves, how much in rushing about the city on social duties. Add the diseases which we have caused by our own acts, add, too, the time that has lain idle and unused; you will see that you have fewer years to your credit than you count. Look back in memory and consider when you ever had a fixed plan, how few days have passed as you had intended, when you were ever at your own disposal, when your face ever wore its natural expression, when your mind was ever unperturbed, what work you have achieved in so long a life, how many have robbed you of life when you were not aware of what you were losing, how much was taken up in useless sorrow, in foolish joy, in greedy desire, in the allurements of society, how little of yourself was left to you; you will perceive that you are dying before your season!" What, then, is the reason of this? You live as if you were destined to live forever, no thought of your frailty ever enters your head, of how much time has already gone by you take no heed. You squander time as if you drew from a full and abundant supply, though all the while that day which you bestow on some person or thing is perhaps your last. You have all the fears of mortals and all the desires of immortals. You will hear many men saying: "After my fiftieth year I shall retire into leisure, my sixtieth year shall release me from public duties." And what guarantee, pray, have you that your life will last longer? Who will suffer your course to be just as you plan it? Are you not ashamed to reserve for yourself only the remnant of life, and to set apart for wisdom only that time which cannot be devoted to any business? How late it is to begin to live just when we must cease to live! What foolish forgetfulness of mortality to postpone wholesome plans to the fiftieth and sixtieth year, and to intend to begin life at a point to which few have attained! IV You will see that the most powerful and highly placed men let drop remarks in which they long for leisure, acclaim it, and prefer it to all their blessings. They desire at times, if it could be with safety, to descend from their high pinnacle; for, though nothing from without should assail or shatter, Fortune of its very self comes crashing down. The deified Augustus, to whom the gods vouchsafed more than to any other man, did not cease to pray for rest and to seek release from public affairs; all his conversation ever reverted to this subject—his hope of leisure. This was the sweet, even if vain, consolation with which he would gladden his labours —that he would one day live for himself. In a letter addressed to the senate, in which he had promised that his rest would not be devoid of dignity nor inconsistent with his former glory, I find these words: "But these matters can be shown better by deeds than by promises. Nevertheless, since the joyful reality is still far distant, my desire for that time most earnestly prayed for has led me to forestall some of its delight by the pleasure of words." So desirable a thing did leisure seem that he anticipated it in thought because he could not attain it in reality. He who saw everything depending upon himself alone, who determined the fortune of individuals and of nations, thought most happily of that future day on which he should lay aside his greatness. He had discovered how much sweat those blessings that shone throughout all lands drew forth, how many secret worries they concealed.
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