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Poderes da Administração Pública

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PODERES DA ADMINISTRAÇÃO: 
O vocábulo do poder pertencente a Administração Pública não indica faculdade, e sim poder-dever, é um poder irrenunciável em prol da coletividade, poderes esses exercidos dentro dos limites da lei. Dentre eles estão os poderes normativos, disciplinares e os decorrentes de hierarquia. Os poderes discricionários e vinculantes não são autônomos, são elementos de outros poderes ou competências da Administração. O poder vinculado restringe a prerrogativa do administrador, é um aspecto da atribuição do administrador que está sujeita a lei valorada previamente pelo legislador. O poder discricionário tem em si inserida a ideia de prerrogativa, mas não é considerada autônoma, ela implica a liberdade a ser exercida pelo administrador quando respeitados os limites da lei. 
Poderes normativos: Alguns também chamam de poderes regulamentar. MIGUEL REALE o divide em poder normativo originários e derivados. Os originários são emanados de um órgão estatal em virtude de competência própria, outorgada direta e imediatamente pela Constituição. Os derivados buscam explicitar ou especificar um conteúdo normativo preexistente, por excelência, é de regulamento. Para REALE, os atos legislativos diferem dos regulamentos e seus semelhantes não por conta de sua natureza normativa, e sim por sua originariedade, pondo o direito e a sua vigência e eficácia, enquanto os demais atos normativos explicitam ou complementam a lei. Esse poder regulamentar seria a aquele exercido pelo Chefe de Estado Executivo da União, dos Estados e dos Municípios. 
A doutrina admite dois tipos de regulamento, o regulamento executivo e o regulamento independente ou autônomo. O regulamento executivo é aquele que visa a fiel execução, não podendo ela ser contra legem (quando se atua contra a lei) ou ultra legem (quando se atua além do permitido pela lei), ela não pode criar novos direitos, obrigações e sanções. O regulamento independente ou autônomo inova na ordem jurídica, estabelecendo uma nova norma que não é complementar e nem desenvolve nenhuma lei prévia. Existe outra classe de distinção entre regulamentos jurídicos ou normativos e regulamentos administrativos ou de organização. Os regulamentos jurídicos ou normativos estabelecem normas relacionadas a supremacia geral (relações entre particulares e Estado), como é o caso das normas inseridas no poder polícia que visa o bem da coletividade, limitando os direitos individuais. Os regulamentos administrativos ou de organização contem normas sobre a organização administrativa ou sobre relações especiais entre particulares e Estado, decorrente de título jurídico especial, como em casos de contratos, de concessões de serviços públicos, a nomeação de servidor público, etc. O poder regulamentar nos regulamentos jurídicos é menor pois não envolve títulos jurídicos especiais emitidos pela própria administração, os regulamentos jurídicos são complementos da lei, e os administrativos podem ser baixados com mais liberdade.
A Constituição de 88 limitou bastante o poder regulamentar, estando ele submetido a organização e o funcionamento da administração federal em forma de lei. Nem mesmo o poder regulamentar autônomo em matéria de organização administrativa existem no direito brasileiro, apesar de ele ser admitido nos demais Poderes. No direito brasileiro só existe o regulamento de execução, subordinado a uma lei prévia, de competência privativa do Chefe do Poder Executivo. Alguns órgãos dispõem de competência normativa, pois a legislação que as delegavam tiveram o prazo de vigência de vigência prorrogado pela lei, mas são poucos. O poder normativo da Administração se expressa por meio de decretos regulamentares, resoluções, portarias, deliberações, instruções, editadas por autoridades (que não o Chefe do Executivo). Os Ministros de Estado podem expedir instruções para a execução de leis, decretos e regulamentos. Os regimentos estabelecem normas sobre o funcionamento interno dos órgãos colegiados. Esses atos não tem o alcance nem a natureza dos regulamentos expedidos pelo Chefe do Executivo. 
O ato normativo não pode contrariar a lei e estabelecer novos direitos, obrigações e penalidades, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade. O Congresso Nacional dispõe do poder de controle dos atos normativos do Executivo, podendo sustar os do que exorbitem do poder regulamentar. O exercício de controle de constitucionalidade feito pelo STF não abrange só a lei, também abrange o ato normativo federal ou estadual. A omissão do Poder Executivo em editar regulamentos está parcialmente remediada na CF/88 que prevê o mandado de injunção e a ação de inconstitucionalidade por omissão. O mandado de injunção é tem alcance restrito em caso em que a falta da norma regulamentadora torna inviável o exercício de direitos e liberdades constitucionais e prerrogativas inerentes a nacionalidade, a cidadania e a soberania. Cabe ao Judiciário suprir essa omissão em caso concreto. A ação de inconstitucionalidade por omissão é cabível quando haja omissão de medida necessária para tornar efetiva a norma constitucional, cabendo ao STF informar da decisão ao Poder competente para prazo de cumprimento em 30 dias. 
Poder disciplinar: É aquele que cabe à Administração Pública, responsável por apurar infrações e aplicar penalidades aos servidores públicos e aos demais sujeitos à disciplina administrativa, é o caso dos estudantes de uma escola pública. As medidas punitivas encontram seu fundamento no poder de polícia. No que diz respeito aos servidores públicos, o poder disciplinar decorre da hierarquia, os seus membros ficam sujeitos a disciplina interna da instituição (como é o caso do Poder Judiciário e Ministério Público). O poder disciplinar é discricionário (não facultativo), tendo a Administração conhecimento da infração, deve instaurar processo e aplicar a pena cabível se necessário, sob pena condescendência criminosa (art. 320 do CP) e improbidade administrativa (art. 11, II, da Lei 8.429/1992) em caso de não instauração do processo sem justificativa aceitável. No entanto, as regras dos Estatutos funcionais dessa esfera não são tão rígidas quanto as impostas na esfera criminal, então a discricionariedade não é propriamente dita. A decisão tem que ser adequadamente motivada e basear-se em fatos devidamente apurados, assegurados o devido processo legal (o procedimento legal), o direito ao contraditório e a ampla defesa, como previsto pelo art. 5º, LV, da CF. É inaceitável que a sanção seja fundamentada sobre o critério da oportunidade e conveniência. Deve haver uma relação de adequação e proporção entre os fatos apurados e a pena cabível. O procedimento irregular e ineficiência no serviço são passiveis de demissão, e a falta grave, em que é cabível a pena de suspensão, cabendo a Administração enquadrar os casos concretos em uma ou outra dessas infrações (assim é disposto em lei), e que a sua decisão final se baseie nos fatos apurados e a sua pena seja devidamente motivada. 
Poderes decorrentes da hierarquia: A organização administrativa se baseia em dois pressupostos fundamentais, a distribuição de competência e a hierarquia. A organização administrativa, quando não implique aumento de despesa, é de competência do Presidente da República, quando acarreta aumento de despesa, é matéria de lei de iniciativa do Presidente da República. No entanto, mesmo que dependa da lei, pode-se dizer que da organização administrativa decorrem para a Administração Pública os poderes para: editar atos normativos (resoluções, portarias, instruções) de efeito interno, inconfundíveis com os regulamentos. Decorrem da relação hierárquica; dar ordens aos subordinados, implica dever de obediência salvo caso de ordens manifestamente ilegais; controlar a atividade de órgãos inferiores, podendo anular atos ilegais e revogar os inconvenientes e inoportunos, seja por meio ex officio, seja por provocação dos interessados; aplicar sanções em caso de infrações disciplinares; avocar (confere a si próprio) atribuições (que não sejam de competênciaexclusiva do órgão subordinado) e delegar atribuições que não sejam privativas. 
A hierarquia pode ser empregada em três sentidos diferentes: o primeiro, sendo técnico-político, a hierarquia é um princípio, um critério de organização administrativa, que se dá em forma de pirâmide, e no seu ápice se encontra o Chefe do Poder Executivo, de onde emanam as diretrizes dos órgãos inferiores, que por sua vez fornecem os elementos e preparam as decisões do órgãos superiores; o segundo, sendo este jurídico, a hierarquia é um ordenamento hierárquico definido por lei e que implica diversidade de funções atribuídas a cada órgão, essa distribuição pode ser mais ou menos rígida, concorrente ou exclusiva, quanto maior a rigidez, os órgãos terão maior controle sobre seus subordinados e vice-versa; o terceiro, sendo este também jurídico, a hierarquia corresponde a uma relação pessoal, obrigatória, de natureza pública, que se estabelece entre os titulares, de órgãos hierarquicamente ordenados. Esse ordenamento hierárquico é fixado por lei, e desse ordenamento se resulta uma relação de coordenação e subordinação. 
Para MÁRIO MASAGÃO, a relação hierárquica é uma relação estabelecida entre órgãos, de forma necessária e permanente, que os coordena, que os subordina uns aos outros e gradua a competência de cada um. Nos poderes Judiciários e Legislativos não existe hierarquia no sentido de relação de coordenação e subordinação, no que diz respeito às suas funções institucionais. No Poder Judiciário, há uma distribuição de competências entre instâncias, uma funcionando em relação de independência com a outra. Com a aprovação da Reforma do Judiciário com a Emenda Constitucional nº 45/04, cria-se uma hierarquia parcial entre o STF e os demais órgãos do Judiciário, visto que suas decisões sobre matérias constitucionais, quando aprovadas como súmulas, terão efeitos vinculantes para todos. O mesmo se aplica as suas decisões proferidas em ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade ou ato normativo federal ou estadual. No Legislativo, a distribuição de competências entre a Câmara e o Senado se faz de forma que haja uma independência funcional entre uma e outra Casa do Congresso.

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