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Desenvolvimento Pessoal - Uma Proposta de Individuação- DJALMA ARGOLO

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DJALMA ARGOLLO 
DESENVOLVIMENTO PESSOAL 
Livraria, Editora e Distribuidora 
DJALMA ARGOLLO 
DESENVOLVIMENTO PESSOAL 
"A alma não é de hoje! Sua idade conta muitos milhões de 
anos. A consciência individual é apenas a florada e a fruti-
ficação própria da estação, que se desenvolveu a partir do 
perene rizoma subterrâneo, e se encontra em melhor har-
monia com a verdade quando inclui a existência do rizoma 
em seus cálculos, pois a trama das raízes é mãe universal" 
(Jung, 1986, Prefácio à quarta edição de 1950, pág. X V ) . 
A M A R - Sociedade de Estudos Espíritas (AMAR-SE) 
CNPJ/MF 04952039/0001-60 
Av. Sete de Setembro 3865 
40.140-110 - Salvador, Bahia - Brasil 
2010 
I A EDIÇÃO 
Do IO ao 5 o milheiro 
Criação da capa Café com Leite Comunicação 
Direção de Arte Jamile Buck 
Projeto Gráfico Editorial Victor Abreu 
Revisão Sônia Dórea Dumet & Mariluce Lorenzo 
Copyright © 2010 by 
A M A R - Sociedade de Estudos Espíritas (AMAR-SE) 
Av. Sete de Setembro, 3865 - Barra 
41650-020 
editoraamar@amar-se.org.br 
www.amar-se.org.br 
Telefone: 71 3264-3585 
Impresso no Brasil 
ISBN: 978-85-63589-00-2 
O produto desta obra é destinado à manutenção dos projetos da 
AMAR - Sociedade de Estudos Espíritas (AMAR-SE) 
Argollo, Djalma. 
Desenvolvimento Pessoal: uma proposta de individuação, 
Salvador: 
AMAR - Sociedade de Estudos Espíritas (AMAR-SE), 2010 
192 p. 
I, Espiritismo. I. Argollo, Djalma, 
1940. - Título 
CDU - 133.7 
C D D - 1339 
índice para catálogo sistemático: 
I. Espiritismo 139.9 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
mailto:editoraamar@amar-se.org.br
http://www.amar-se.org.br
Para minhas queridas netas: 
Liz, Mel e Ana Luiza 
Almejando-lhes uma vida digna, a realização 
dos seus mais belos sonhos e uma 
individuação plena. 
Sumário 
11 Prefácio 
15 C A P Í T U L O I Quem sou eu? 
20 C A P Í T U L O II Tomando consciência do corpo 
27 C A P Í T U L O III A Psique 
32 C A P Í T U L O IV A consciência 
36 C A P Í T U L O V Como temos consciência de nós e das nossas circunstâncias? 
42 C A P Í T U L O VI As máscaras com as quais atuamos no dia-a-dia 
48 C A P Í T U L O VII O tipo psicológico 
52 C A P Í T U L O VIII As Funções da Consciência 
58 C A P Í T U L O IX O mundo em nós que desconhecemos 
65 C A P Í T U L O X Os conteúdos do inconsciente pessoal e a vida cotidiana 
73 C A P Í T U L O XI Atuação dos complexos na rotina da vida 
102 C A P Í T U L O XII Aquilo que relutamos reconhecer em nós próprios1. 
109 C A P Í T U L O XIII Conteúdos inconscientes comuns a todos os seres 
116 C A P Í T U L O XIV Os arquétipos 
125 C A P Í T U L O XV Alguns arquétipos que influenciam a vida diária 
133 C A P Í T U L O XVI Como o inconsciente nos fala 
144 C A P Í T U L O XVII Individuação: a busca da singularidade psíquica 
158 C A P Í T U L O XVIII Somos indivíduos de personalidade? 
172 C A P Í T U L O XIX Coincidências intrigantes que, algumas vezes, nos acontecem 
185 Conclusão 
189 Referências Bibliográficas 
Prefácio 
O ser humano já realizou o sonho de todas as épocas passadas 
de ir á lua, pisar seu solo e olhar a Terra contra o pano de fundo 
pintalgado dos pontos luminosos de estrelas, galáxias e nebulosas. 
Outra memorável conquista foi o mergulho ao ponto mais pro-
fundo dos Oceanos: as Fossas das Marianas, no Pacífico. Juntan-
do-se a essas proezas extraordinárias estão o franqueamento dos 
centros geográficos dos Pólos, do Everest, o ponto mais elevado 
da Terra, e o coração das florestas tropicais, além da exploração 
dos desertos e locais mais inóspitos conhecidos. 
Todavia, existe em cada ser humano um local que guarda os 
maiores desafios, misteriosas regiões, habitadas por seres mais 
esdrúxulos do que os que vivem nos abismos oceânicos, nas fu-
marolas da cordilheira do Atlântico. Eles podem ser entrevistos 
em pesadelos saturados de horror, angústia e desespero; nos so-
nhos idílicos e saturados de amor e espiritualidade; e nas lendas, 
mitos e contos, onde príncipes, princesas, ogros, duendes, sacis 
e demais seres fantásticos, vivem ou participam de mirabolantes 
aventuras. Esta região é a psique. Sua característica é a absoluta 
originalidade, que faz de cada um dos seres humanos da Terra, 
um ser absolutamente único, particular e indivisível; apesar disso, 
nela encontram-se similitudes originais e coletivos particulares 
que nos aproximam um dos outros, gerando uma superficial e 
enganosa igualdade. 
Cada um de nós é tão singular, que nos surpreendemos, 
em diversas ocasiões, realizando e sentindo coisas que nunca 
imaginamos ter a capacidade de fazer e sentir em nossas mais 
alucinadas fantasias. 
Explorar o universo interior é o grande desafio, mais emocio-
nante do que explorar as mais profundas cavernas do globo, os 
variegados e emaranhados cenotes do Yucatã ou os restos de civi-
lizações nas alturas quase anaeróbicas dos Andes. 
Ê para essa aventura cheia de perigos e gratificações, 
surpresas e sustos, caro leitor, que este livro lhe convida. 
Ele tem por finalidade levá-lo, passo a passo, à compreensão da 
Psicologia Analítica e, ao mesmo tempo, conduzi-lo em uma 
jornada ao encontro de você mesmo e ao desenvolvimento de 
um processo de individuação. 
É certo que o livro não substituirá sessões de análise, feitas 
com profissional especializado, todavia, será o ponto de partida 
que colocará você em contato com seu corpo e sua psique, descer-
rando os véus iniciais do grande mistério que é você. 
Ao final de cada capítulo, serão sugeridas práticas que o 
encaminharão pela via do autoconhecimento, passo a passo. 
Isto por que, o auto conhecimento é o passo inicial para um 
desenvolvimento interior, para se resolver os conflitos psicológicos 
que interferem no comportamento e na normalidade psíquica. 
Assim, uma boa e heróica jornada, com a certeza de que, 
ao final dela você não será manchete da mídia mundial, nem 
receberá os aplausos enganosos das volúveis multidões nem 
o assédio de fãs invasivos e patologicamente incorporados 
pela inveja dos vencedores. Você será o espectador solitário de 
suas vitórias, única testemunha da suprema realização, que é a 
conquista da opus extraordinária: o lápis philosophorum, pelo 
qual sofreram e morreram gerações de pacientes e dedicados 
alquimistas: a individuação. 
O Autor 
CAPÍTULO I 
Quem sou eu: 
Qual o meio prático mais eficaz para melhorar-se desde esta vida e 
resistir às influências do mal? 
"Um sábio da antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo." 
(Kardec, 2007, questão 9 1 9 ) . 
Sócrates. - Então, poderíamos conhecer que arte nos faz melhores, 
desconhecendo em realidade o que somos nós mesmos? 
Alcebíades. - De modo algum. 
Sócrates. - Acreditas, por acaso, que é coisa fácil conhecer-se a si 
mesmo, que era um homem vulgar o que pôs isto no templo de 
Delfos ou, pelo contrário, que não está ao alcance de qualquer um? 
(Platão, 1974, p. 256) . 
Poderíamos adquirir, em tese, qualquer tipo de conhecimento 
ao qual dedicássemos tempo, atenção e perseverança. Mas existe 
um conhecimento que é um desafio, e que pode escapar a uma 
aquisição completa: o conhecimento de nós mesmos. 
13 
frontispício do templo de Delfos, onde o deus Apolo, através da 
Pitonisa, dava prognósticos simbólicos, aos que o buscavam para 
ter uma idéia sobre o que o futuro reservava para si ou sua comu-
nidade. A autoria da frase é atribuída a Tales de Mileto ( ± 6 2 5 / 6 2 4 
a . C - ± 5 5 8 / 5 5 6 ) . 
É interessante que, num local destinado a fornecer, mesmo 
que rápida, uma precognição sobre eventos futuros, os consu-
lentes fossem instados a se conhecerem, ou seja, o deus alertava 
quem o consultava, que não bastava a antecipação do futuro, mas 
era necessário um conhecimento sobre si mesmo, talvez para que 
pudesse fazer bom uso do que lhe fosse revelado. 
Conhecer-se, pois, é o desafio! Mas não se espereque a tarefa 
seja fácil, como parece. Ao começar a pensar sobre si, descobre-se 
que existe uma pequena parte de nós que é razoavelmente conhe-
cida: Em geral, todo mundo sabe o que está fazendo agora, e o que 
fez até um período razoável de tempo passado; sabe seu nome com-
pleto e onde nasceu; normalmente sabe quem são seus pais; sua 
história pessoal; o que faz; quem são seus irmãos e parentes; do que 
gosta e do que não gosta, mas de um modo relativo, pois existem 
muitas coisas no mundo interior, desconhecidas, e, portanto, não se 
pode saber se gosta-se delas ou não. E assim sucessivamente. 
14 
(conhece-te a ti mesmo), estava escrita no 
Como se pode ver, pelas citações em epígrafe, tanto Sócrates, 
segundo Platão, quanto o Espírito de Agostinho de Hipona, em 
O Livro dos Espíritos, afirmam que somente podemos nos tor-
nar melhores se, e somente se, conhecermos a nós próprios. 
Afirma a História do Pensamento que a frase 
Vamos fazer alguns raciocínios sobre a área a respeito da qual 
o conhecimento da imensa maioria é absolutamente superficial: 
o corpo. Alguém conhece sua pele? Sem dúvida que todos têm 
acesso à sua epiderme, inclusive em algumas partes internas de 
fácil acesso, como boca, nariz, ouvido, etc. Mas, quantas vezes a 
pessoa se surpreende com o aparecimento de um ponto inflama-
do, por exemplo, no rosto. Há poucas horas, olhou-se no espelho 
e a pele estava limpa, agora apresenta uma saliência avermelhada, 
que descobriu ao passar a mão na face, e ter percebido uma sen-
sação dolorosa. Apareceu assim, repentinamente, embora seja o 
resultado de um processo que se iniciou, talvez, no dia anterior. 
Por outro lado, existe um mundo de acontecimentos e fenô-
menos ocorrendo dentro de todos nós, que desconhecemos. No 
interior do organismo, neste momento; o seu sistema imunológi-
co, amigo leitor, está em plena atividade, evitando que você adoe-
ça de uma moléstia qualquer, que poderia, inclusive, ser fatal; e o 
mais interessante, você nunca saberá que isto ocorreu. 
Quantas vezes você foi dormir bem, e acordou sentindo um 
mal estar, sem qualquer motivo aparente; e esse mal estar lhe 
acompanhou por algum tempo durante o dia, e depois desapare-
ceu sem deixar vestígios? Enquanto você o estava sentindo, ficava 
sem graça, e com a fisionomia refletindo que algo não estava bem, 
então, quando lhe perguntavam sobre o que estava acontecendo 
com você, a resposta era: O engraçado é que não sei! Não estou com 
qualquer problema! Não há motivo para o que estou sentindo. Como 
não havia razão, se você estava sentindo? 
Acontece que, normalmente, desconhecemos os processos 
15 
que estão acontecendo numa instância do psiquismo que fica 
além do consciente; porque existem infinitos processamentos 
que ocorrem na estrutura psíquica, que nem imaginamos. Mais 
ainda, existe um mundo de fatos, sentimentos e acontecimentos 
dos quais não temos a menor idéia: o futuro, por exemplo; e não 
estou falando de um futuro longínquo, mas do futuro imediato 
de cada um de nós. O que vai acontecer daqui a um minuto? Al-
guém sabe? De forma nenhuma; imagino, por exemplo, que es-
tarei escrevendo estas linhas... Mas poderei garantir? Ninguém 
tem essa capacidade. Como o fluxo da vida é um vir-a-ser inin-
terrupto, não existe quem possa ter absoluta certeza sobre o que 
ocorrerá no segundo seguinte, quanto mais no minuto seguinte, 
e assim sucessivamente. Existe sim, uma alta probabilidade de 
que, no próximo minuto (que não é mais aquele sobre o qual eu 
escrevia, mas um novo), estarei escrevendo a sequência deste 
texto. Mas qual a garantia? 1 
O futuro somente pode ser imaginado como probabili-
dade, nunca quanto certeza, a não ser no que diz respeito 
ao termino desta existência. Aliás, apenas temos absoluta (?) 
certeza sobre dois eventos de nossa existência: o nascimento 
e a morte! 
Quero lhe propor, caro leitor, um exercício de meditação, 
I Agora, após terminar o livro, sei que consegui continuar o escrito. Mas é um saber a posteriori, 
uma visão histórica do passado, um conhecimento do ontem. 
16 
ao longo desta obra. O objetivo é levá-lo, gradualmente, a 
conscientizar-se de você mesmo, descobrindo aquilo que não 
conscientizou, até agora. 
Neste ponto, coloque-se num estado de relaxamento, tanto do 
corpo quanto da mente. Respire lenta, profunda e tranquilamen-
te, umas cinco vezes, concentrando-se na inspiração e na expira-
ção. A seguir, faça-se a seguinte pergunta: Quem sou eu? Aguarde 
um pouco, percebendo os pensamentos e sentimentos que lhe 
venham à mente. Repita a pergunta e o perceber, durante algum 
tempo; no máximo dez a quinze minutos. Depois, volte a respirar 
da forma inicial, pela mesma quantidade, enquanto realiza alguns 
exercícios de alongamento dos músculos, como se espreguiçando, 
e prossiga com suas atividades normais. 
*** 
Igualmente, passe a registrar num meio qualquer (caderno, 
agenda, computador e t c ) , os sonhos que venha a ter, enquan-
to estiver lendo este livro. Mais à frente, você saberá por que, 
quando t ra tarmos dos sonhos e sua importância em nosso 
desenvolvimento psíquico. 
17 
CAPÍTULO II 
Tomando consciência do corpo 
Existem vários métodos que procuram levar seus praticantes 
ao autoconhecimento. Todos são unânimes em afirmar um fato: 
o autoconhecimento é uma tarefa que deve ser contada em anos, 
requerendo aplicação e perseverança. Mas, sem constância numa 
tarefa qualquer, não se consegue o domínio, a expertise em que 
seja realizada com o menor esforço e a maior produtividade. 
Porém, seja como for, antes de iniciar um projeto de autoco-
nhecimento temos de nos informar sobre nós, em todos os senti-
dos. O capítulo I tem por título: Quem sou eu? Ou seja, adquirir 
um conhecimento teórico sobre si próprio. 
Mas, por onde começar a tarefa de autoconhecimento? Claro 
que deve ser sobre o que é mais facilmente percebido: o corpo. 
Afinal, o corpo é um elemento que vemos e sentimos! Mas, co-
nhecemos o nosso corpo? Sabemos suas possibilidades e limites? 
Sabemos como ele funciona, pelo menos em linhas gerais? 
18 
Vamos verificar uma coisa! Ao ler, parece que estamos vendo 
a página e as letras com os olhos, não é mesmo? Na verdade não é 
o que está acontecendo. É certo que os fótons que estão saindo 
da página alcançam os olhos e, no interior dos olhos se formam 
duas imagens da página com os sinais gráficos, mas de cabeça 
para baixo. Isto ocorre com tudo que enxergamos. Mas, isto não 
significa, ainda, que estamos vendo a página e as letras. As célu-
las do fundo do olho captam essa imagem invertida, transforman-
do-a em impulsos nervosos, que o nervo óptico conduz para o 
centro da visão, no córtex occipital do cérebro, que o interpreta 
e permite vermos a página, suas palavras e frases, nas posições 
em que realmente se encontram. Ou seja, quem realmente en-
xerga é o cérebro, e não os olhos. E isto acontece com todos os 
sentidos. Mas, se o processo de ver é, aparentemente, simples, o 
de compreender o que estamos vendo é muito complicado, por-
que envolve diversas áreas do cérebro e do psiquismo. 
Alguns impulsos nervosos não chegam imediatamente ao cen-
tro cerebral que deve processá-lo, por exigir uma resposta ime-
diata, por causa disso a medula, quando os recebe, envia uma 
mensagem-resposta imediata, é o chamado arco reflexo. O arco 
reflexo é uma a reação involuntária rápida, consciente ou não, 
originado de um estímulo externo antes mesmo do cérebro to-
mar conhecimento dele, e antes que possa coordenar uma res-
posta. Ele objetiva proteger ou adaptar o organismo. Os atos 
reflexos são comandados pela substância cinzenta da medula 
espinhal e do bulbo. 
Agora mesmo, enquanto você está lendo, se alguma coisa pi-
19 
casse seu cotovelo, imediatamente você retiraria, bruscamente, o 
braço da posição em que se encontra. O que aconteceu? O arco 
reflexo possibilitou que houvesse um movimento defensivoime-
diato, com o objetivo de proteger você de qualquer dano. 
Então, o sistema nervoso em geral, e o seu cérebro em par-
ticular, é o centro para onde se dirigem todos os estímulos, in-
ternos e externos ao organismo, e de onde partem as respostas 
necessárias para o controle e coordenação de todas as atividades 
internas e externas dele. O sistema nervoso é o veículo de todas 
as percepções orgânicas, e o cérebro é o centro coordenador e 
mantenedor de tudo o que acontece no corpo. 
De modo geral, temos noção do que acabei de descrever: pois 
estudamos esse e outros assuntos na escola! Mas temos consciên-
cia do que isso significa? Quando digo que estou sentindo algo, 
tenho noção exata da localização do que foi percebido, todavia, 
o fato de que tudo é sentido no cérebro, e ali decodificado, de-
monstra que vivemos a grande ilusão de que nossa percepção do 
mundo é objetiva, quando, na verdade, é toda ela subjetiva. 
A importância do corpo nunca será exaltada demasiada-
mente. Precisamos estar cientes e conscientes disso. Normal-
mente as pessoas abusam do corpo, levando-o a extremos, pelo 
uso indiscriminado e, na maioria dos casos, desnecessário, 
de sua capacidade. 
O corpo humano possui uma engenharia tão perfeita, que os biólo-
gos ficam admirados com a inteligência e funcionalidade do seu design. 
A nossa pele, por exemplo, o maior órgão do corpo, se compõe 
de derme, a parte interna, e epiderme, a parte externa, é um ór-
20 
gão de múltiplas funções. Ela é uma armadura, um radiador, e o 
portal de entrada das sensações. A pele segura todos os músculos 
e órgãos internos do corpo. A camada mais externa, epiderme, é 
composta de células mortas; nela, vivem milhares de bactérias, 
em cada centímetro quadrado. Essa camada morta é eliminada à 
taxa de 6 0 0 . 0 0 0 partículas por hora, aproximadamente 700 gra-
mas por ano. Ela compõe 80% da poeira de nossa casa. A pele 
é substituída, completamente, todo mês. Na epiderme se encon-
tram as saídas do suor, os poros, os quais agem como reguladores 
de temperatura, mantendo os 37 graus de temperatura constan-
te do organismo, protegendo, assim, o corpo do calor e do frio; 
através da pele passam os pêlos, uma verdadeira rede de proteção, 
que nos fazem sentir o contato de qualquer coisa, antes que atinja 
a pele, propriamente dita. 
Na epiderme se encontram as terminações nervosas, que nos 
proporcionam sentir o ambiente. E a pele tem muitas outras im-
portantes e diversificadas funções. Estas rápidas informações so-
bre a epiderme devem servir de estímulo para uma pesquisa sobre 
o organismo. 
Pesquisando sobre o corpo humano , admiraremos sua 
complexidade. Devemos observar se temos feito uso racio-
nal dele, e aproveitado seus mult ivariados recursos. 
O corpo é, nesta dimensão, a parte mais densa do espirito, quer 
dizer que ele é um dos veículos de manifestação da essência es-
piritual, ou princípio inteligente. Como meio de manifestação no 
universo material, proporciona condições para experiências ne-
cessárias que permitem a esse princípio atualizar suas potencia-
21 
lidades. O sistema nervoso é a conquista máxima do atual estágio 
evolutivo das entidades espirituais. Quando o sistema nervoso 
é prejudicado por doenças adquiridas ou genéticas, acidentes, 
agressão voluntária (vícios químicos ou psíquicos), a manifesta-
ção espiritual acontecerá de forma inadequada. Por exemplo, uma 
contusão ou uma enfermidade que atinja o cérebro, pode alterar 
a percepção das coisas, dificultando a compreensão dos estímu-
los captados pelos sentidos ou sua integração no conjunto dos 
conhecimentos adquiridos; inclusive, como demonstrado pelas 
experiências do Dr. Antonio Damásio (Lisboa, 1 9 4 4 ) , neurocien-
tista na University of Southern California, podem mesmo alterar 
o caráter. Quanto a esta última afirmação, o espírito André Luiz, 
referiu-se a um componente genético do caráter em livro, cujo 
copyright foi registrado em 1 9 4 5 . 
O pensamento envenenado de Adelino (que deveria ser o pai do 
espírito a reencarnar) destruía a substância da hereditariedade, in-
toxicando a cromatina dentro da própria bolsa seminal. Ele pode-
ria atender aos apelos da natureza, entregando-se à união sexual, 
mas não atingiria os objetivos sagrados da criação, porque, pelas 
disposições lamentáveis de sua vida íntima, estava aniquilando as 
células criadoras. Ao nascerem, e, quando não as aniquilasse por 
completo, intoxicava os genes do caráter, dificultando-nos a ação... 
(Xavier, 1985, p. 197. Destaque meu). 
Como podemos ver, o corpo não é uma simples veste do 
espírito, ao contrário, é um veículo importante e governando 
por leis próprias, que não podem ser esquecidas nem menospre-
22 
zadas. Até nossa maneira de ser, de viver e de tratar os outros, 
em particular os de nossa família, pode ter efeitos positivos ou 
danosos na estruturação do caráter dos nossos descentes, inclu-
sive em nível físico. 
A estrutura de caráter e as conquistas no campo das atitudes, 
sedimentada pelo espírito em suas encarnações passadas, exige 
uma correspondente estrutura genética, no sistema nervoso, que 
propicie sua manifestação. Aliás, como diz a sabedoria popular: 
espinho que tem de furar, desde cedo mostra a ponta; outra expressão, 
que transita igualmente pela consciência coletiva, é mais radical: 
pau que nasce torto, até a cinza é torta. No inconsciente coletivo 
existe a experiência ancestral, arquetípica, que permitiu intuir a 
existência de um caráter ancestral, trazido à nova existência. Na-
turalmente, o meio ao qual o espírito reencarnante tenha de se 
adaptar, psicologicamente, pode contribuir para que a auto-he-
rança psíquica venha a se manifestar plenamente ou sofrer modi-
ficações importantes. E, ainda mais, as condições do nascimento 
podem influir no código genético que permite ao caráter do es-
pírito reencarnante se manifestar, para a necessária confrontação 
com o caráter coletivo do meio onde nascerá. 
*** 
Neste ponto faça o seguinte exercício: toque, com uma leve 
pressão, todas as partes do seu corpo, da cabeça aos pés, concen-
trando-se em sentir as pressões. A seguir, busque perceber as sen-
sações causadas por sua roupa, no seu corpo. 
23 
Quando estiver tomando banho, procure conscientizar o que 
você sente, quando a água escorre pelo seu corpo; quando passa 
o xampu, lavando os cabelos; e quando se esfrega com o sabão. 
Finalmente, o que sente ao se enxugar. 
24 
CAPÍTULO III 
A Psiquê 
Mas, não somos apenas corpo! Existe uma dimensão não 
física, na qual realmente estamos sempre, e onde se encontram 
funções que estão além das orgânicas: a psiquê. Observe, agora 
mesmo, leitor, que você está pensando, e isto não é uma função 
orgânica, porque, se fosse, os cientistas já teriam descoberto seus 
mecanismos, e isto ainda não aconteceu. O termo psiquê, com o 
advento da Psicologia, passou a ser aplicado como um sinónimo 
de mente, e é nesse sentido que Carl Gustav Jung o emprega. 
Os seres humanos apresentam similitudes funcionais com 
todos os seres vivos, quer animais ou vegetais. Uma coisa, 
porém, os diferencia: o pensamento contínuo, a capacidade 
de inovar e criar em todo o espectro de atividades existen-
ciais, além do fato da consciência permanente de si mesmo 
e o sent imento de alteridade. E tudo isso ocorre na ps iqueê 
A psique e o corpo são duas partes do ser humano que se 
25 
apresentam profundamente interligadas e, ao mesmo tempo, 
bastante diferenciadas. 
A psiquè é composta de conteúdos e de funções diversos. Nor-
malmente se usa representá-la como uma esfera cortada ao meio, 
para poder se mostrar, didaticamente, seus compartimentos; mas 
isto é apenas uma representação, um esquema; a psiquê não tem 
um formato que conheçamos. A esfera psíquica se divide em cons-
ciente e inconsciente. 
O consciente é formado por tudo que percebemos e elabora-
mos na psiquê ou que vem de uma dimensãoda psiquê denomi-
nada inconsciente. 
Antes de tratar de cada parte estrutural da psiquê, vou es-
crever mais sobre ela, cuja origem e atuação tem sido motivo 
de discussões filosóficas, religiosas e científicas. 
Lembra-se, leitor, de quando você era um recém-nascido? 
Provavelmente não! E por que não se recorda? Porque não tinha 
consciência de si mesmo, era apenas um inconsciente manifes-
tado. Você apresentava uma série de comportamentos que eram 
inatos, como o reflexo de mamar, a percepção do cheiro do leite 
materno, o choro quando se sentia desconfortável ou com fome e 
sede. Esses impulsos eram inatos e automáticos e você os realizava 
sem saber como nem por que; eles estavam vinculados ao corpo, 
e são denominados instintos. Naquele estágio, além de instintos, 
você manifestava, também, algumas emoções, ainda que de forma 
embrionária, como raiva e alegria, afinal, as emoções estão vincu-
ladas, também ao corpo, sobre o qual seu inconsciente atuava. 
26 
Os instintos são formas típicas de comportamento, e todas as vezes que 
nos deparamos com formas de reação que se repetem de maneira uni-
forme e regular, trata-se de um instinto, quer esteja associado a um 
motivo consciente ou não. (Jung, 1998, par. 273) . 
Como toda criança, você se apresentava, nos primeiros tempos 
da existência, como um ser inconsciente. Apenas recebia e reagia, 
automaticamente, os estímulos, sem compreendê-los. Percebia as 
coisas ao seu redor, mas não as discriminava, nem era capaz de 
qualquer entendimento delas. O seu mundo interior era formado 
de percepções e sensações desconectadas entre si. 
Gradativamente, na medida do seu desenvolvimento, você co-
meçou a mostrar capacidade de associação e discriminação. Fi-
nalmente, pôde dizer: eu quero, eu sou, e tornou-se consciente de 
que existe como um ser diferente de tudo à sua volta. O que acon-
teceu? Você estava desenvolvendo funções psíquicas, que vinham 
evoluindo desde o seu nascimento. 
A psiquê é formada, t ambém, por elementos que são 
construídos duran te a existência. Como visto no capítulo 
I, todas as sensações corporais, externas ou internas , cons-
cientes ou não, vão para o cérebro; daí t ransformam-se em 
psicóides, ou quase psíquicos, para, finalmente, se transfor-
marem em conteúdos psíquicos. 
Se uso o termo "psicóide", faço-o com três ressalvas; a primeira é 
que emprego esta palavra como adjetivo e não como substantivo; a 
segunda é que ela não denota uma qualidade anímica ou psíquica 
27 
no sentido próprio, mas uma qualidade quase psíquica, como o pro-
cesso dos reflexos; e a terceira é que esse termo tem por função dis-
tinguir uma determinada categoria de fatos dos meros fenômenos 
vitais, por uma parte, e dos processos psíquicos em sentido próprio, 
por outra (Jung, 1998, par. 368) . 
Por sua vez, minha visão espírita de mundo, me leva a teo-
rizar que, além das sensações eminentemente físicas, a influ-
ência do consciente e inconsciente do meio familiar e social 
onde nascemos, e nos desenvolvemos, contribui para a for-
mação de um extrato psíquico que poderia ser chamado de 
consciente atual, o qual se estrutura de acordo com as vivências 
da encarnação em curso. 
Assim, graças às sensações corporais, internas e externas, o 
inconsciente construiu o eu que, como veremos, é um complexo 
responsável pela consciência de se ser consciente. 
Resumindo, a psiquê contém os seguintes conteúdos: as per-
cepções que os sentidos captam do mundo interno e externo; o eu 
ou ego, que faz o indivíduo ter consciência das percepções, o incons-
ciente, que recebe os conteúdos da consciência que perderam libi-
do, tudo que foi reprimido e, também, tudo o que passou para ele 
sem conhecimento do ego, quer dizer subliminarmente, além dos 
conteúdos formados nele, ou apercepções; em seguida os conteú-
dos do inconsciente que virão à consciência na forma de símbolos, 
ou nunca chegarão a ela. A psiquê, no que eu chamo inconsciente 
pretérito, guarda todas as informações das existências passadas. Es-
ses conteúdos atuam na existência em curso, através dos estigmas 
28 
e complexos, desde os estágios conscientes ou inconscientes de sua 
elaboração automática ou, em alguns casos, planejada. 
Uma explicação necessária: na Psicologia Analítica o termo 
libido é usado como energia psíquica de modo geral. A energia 
sexual é apenas uma forma de manifestação da libido e não o con-
trário, como na Psicanálise 
Uma característica da psiquê é sua capacidade de dissociar-se 
do corpo, isto tanto no sentido simbólico, ou seja, alienando-se 
dele, negando-o e, até destruindo-o; mas, também no sentido li-
teral, isto é, projetando-se e percebendo o que se passa à distância 
dos sentidos físicos, no sentido espacial ou temporal, nos deno-
minados fenômenos extra-sensoriais. 
Igualmente, a psiquê pode associar-se a outras, captando e 
transmitindo informações que elas queiram transmitir por seu 
intermédio. Essas psiquês, que a ela se associem, podem estar li-
gadas a um corpo físico ou desligadas deles, pela morte: são os de-
nominados fenômenos mediúnicos. E eles somente são possíveis 
porque a psiquê faz parte do espírito, o qual sobrevive ao faleci-
mento do corpo físico conservando integralmente a consciência. 
Comece a escrever uma autobiografia. Exercite-se em recordar 
os fatos da infância mais remota. O objetivo é fazer você tomar 
consciência do que aconteceu em sua existência, até agora, a fim 
de conscientizar os pontos de origem de muitos fenômenos psí-
quicos que acontecem em sua vida, pautando-a. 
29 
CAPÍTULO IV 
A consciência 
Ao fazer o exercício do capítulo II, você estava conscientizando 
as sensações corporais. Veja bem o que eu disse: conscientizando, 
ou seja, tomando consciência. Esta palavra de suma importância, 
pois indica algo que ocorre normalmente com todos nós, de for-
ma automática, desde que nascemos: perceber a nós mesmos, aos 
outros e ao meio ambiente. 
Mas o que é ter consciência! Significa que constatamos a nós, 
e a tudo o que nos cerca, através dos cinco sentidos, como um 
conjunto variado de percepções que nos chegam, e que, em parte, 
compreendemos! Na verdade não percebemos tudo, mas isto é 
assunto para mais adiante. 
A consciência é, sobretudo, o produto da percepção e orientação 
no mundo externo, que provavelmente se localiza no cérebro e sua 
origem seria ectodérmica. No tempo de nossos ancestrais era pro-
vavelmente um sentido sensorial da pele (Jung, 1961, par. 14) . 
30 
O consciente parece penetrar em nós do exterior, sob a forma de 
percepção sensorial. Vemos, entendemos, apalpamos e sentimos 
o mundo e é assim que temos consciência. A percepção nos diz 
que qualquer coisa é. Mas ela não nos diz o que é qualquer coisa. 
Não é o processo da percepção que no-lo diz, é 0 da apercepção" 
(Jung, 1961, par. 13). 
Realmente, percebemos o mundo através dos sentidos, e o 
primeiro sentido biológico foi o tato. A partir do tato, evoluíram 
todos os sentidos. Assim, tem razão Jung quando afirma que a 
percepção do mundo externo ,ou seja., aconsciência dele teve 
início pela sensação de contato com as coisas. Os seres unicelu-
lares sentem o meio ambiente, apenas. E ainda, apesar de todos 
os demais sentidos, estamos sempre percebendo o mundo pelo 
contato, como você pôde verificar ao fazer as atividades sugeri-
das no capítulo II. Observe como, desde ela, você está realizando, 
gradativamente, a tarefa de tomar consciência das coisas que lhe 
ocorrem, sem que precise pensar nelas. E que são muito impor-
tantes, pois sem suas percepções, o que você seria? 
Todavia, a consciência tem uma origem, e um desenvolvimen-
to, que está e é coordenada por conteúdos e funções da psique, 
que estão além deía, que são inconscientes. 
Nossa consciência não se cria a si mesma, mas emana de profun-
dezas desconhecidas. Desperta gradualmente na criança, e cada 
manhã, ao longo da existência, desperta dasprofundezas do sono, 
saindo de um estado de inconsciência. É como uma criança que 
nasce diariamente das profundezas do inconsciente materno. Sim, 
um estudo mais acurado da consciência nos mostra claramente 
que ela não é somente influenciada pelo inconsciente, como emana 
constantemente do abismo do inconsciente, sob a forma de inúme-
ras idéias espontâneas (Jung, 1988, par, 935) . 
O corpo é uma máquina de alto desempenho, que lhe faz ex-
perimentar sensações diversas, e realizar inúmeras terefas que fa-
zem de você o que você é. Ele lhe permite, primeiramente, atuar 
sobre o universo de três dimensões, no qual você está existindo, e 
ter consciência do mundo em seu redor. 
O corpo exige cuidados, para lhe proporcionar o melhor de 
suas possibilidades. Quando o menosprezamos ou maltratamos, 
sofremos as consequências de nossa imprevidência. 
Algumas religiões e religiosos afirmam que a alma é tudo, e 
o corpo é nada. Inclusive prescrevem métodos de cilício, para fa-
zer o corpo sofrer. Acontece que o sofrimento não será nunca do 
corpo, mas nosso. Somente gosta de sofrer quem é masoquista, e 
isto é um desvio mental. O corpo não deve ser usado nem para o 
sofrimento, nem para o hedonismo exagerado. Querer usufruir, 
exageradamente, o prazer que os sentidos proporcionam é tão 
prejudicial, quanto o flagelá-lo. 
Virtus in médio (a virtude está no meio), diz o axioma filosó-
fico atribuído a Aristóteles. Use o seu corpo e os prazeres que ele 
proporciona, moderadamente, e ele sempre será seu aliado. 
Quanto à dor, ela é, unicamente, um aviso de que algo está 
errado e precisa, urgentemente, ser consertado, seja no corpo 
ou na mente. 
32 
Corpo e consciência são funções um do outro. Mas, a cons-
ciência, pode ultrapassar os limites corporais, como já disse e 
detalharei mais adiante porque, em última análise, eles são re-
presentações extremamente limitadas do espírito que você é. 
*** 
Tomando os devidos cuidados, busque realizar algumas ati-
v i d a d e s c o m o s olhos fechados; por exemplo, ao tomar banho, 
faça todas as atividades, desde abrir a torneira do chuveiro para 
se molhar, até fechá-la, por haver terminado, com olhos fechados 
e pense que existem seres que têm apenas o tato para guiá-los em 
s u a s trajetórias existenciais. 
33 
CAPÍTULO V 
Como temos consciência de 
nós e das nossas circunstâncias? 
No capítulo precedente, vimos que temos uma percepção ge-
ral de nós próprios e das coisas que nos rodeiam. Porém, o cão, 
o cavalo, os insetos, as plantas, demonstram, em graus diversos, 
perceber o mundo externo; ou seja, todos os serem vivos sentem 
o que acontece a eles e em torno deles. Todavia, existem entre nós, 
os animais (sem esquecer de que também somos animais) e as 
plantas, uma diferença fundamental: enquanto eles sentem, agem 
e reagem às suas sensações, nós sabemos que sentimos; sim, e isto 
é importante, não sentimos nebulosamente as coisas, nós temos 
consciência disto; ou seja, neste instante, você sabe que está lendo, 
você sente a textura das páginas, o peso do livro, e tem consciên-
cia do que está escrito e do seu sentido, quer dizer que você está 
vendo, e elaborando o que vê. 
Existe algo em você que sabe o que você está fazendo e, ainda 
34 
mais, sabe quem você é. O que é esse algo? Eu me referi a ele no 
título do primeiro capítulo deste livro, quando escrevi: Quem 
sou eu? Esse algo é o eu! Os outros seres vivos sentem e perce-
bem a si e ao mundo, mas não têm ciência disto. Eles não sa-
bem o que estão fazendo, agem por instinto, isto é, por impulsos 
inconscientes! Nós, muitas vezes, agimos por instinto, mas, na 
maioria das vezes agimos deliberadamente, sabendo exatamente 
o que vamos fazer. 
E o que é mais importante, nós sabemos quem somos. Os seres 
humanos são os únicos, na escala biológica, que podem afirmar 
eu sou um ser humano! Você nunca encontrará um cão que possa 
dizer: eu sou um canídeo. Nem ele, nem os demais seres vivos, têm 
essa capacidade de se saber pertencente a uma espécie! Nós sabe-
mos quem foram nossos pais, a que família pertencemos, quem 
somos, o que temos feito e o que estamos fazendo; além disto 
tudo, temos a possibilidade de imaginar o que faremos no futuro! 
E isto nos é facultado pelo complexo do ego! 
Mas o que é o eu? É um dado complexo formado primeiramente 
pela percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos 
registros de nossa memória (Jung, 1998, par. 18) . 
Deixarei a definição de complexo para o momento adequado, 
por enquanto concentremo-nos no eu, também denominado nos 
livros de Psicologia de egol A definição de Jung nos diz que o eu 
nasce da percepção geral do corpo. Ou seja, o conjunto das sen-
sações, que são integradas numa percepção integrada de mim das 
minhas circunstancias. O eu tem a propriedade da discriminação, 
35 
quer dizer, ele me faz sentir uma entidade diversa dos outros 
seres e objetos que me circundam. 
O eu está, teoricamente, no centro da consciência, e somente se 
pode conhecer o que lhe é apresentado, Quando um objeto qual-
quer, seja interno ou externo ao corpo, não é apresentado ao eu, 
esse objeto não é percebido, isto é, não se toma conhecimento de 
sua existência. Por isto o bispo anglicano George Berkeley (1685-
1753) desenvolveu uma teoria psicológica, segundo a qual as coi-
sas só existem quando são percebidas, e o que se percebe não é 
a coisa em si, mas as qualidades dela reveladas pelas sensações. 
Assim, afirma ele, o que existe realmente nada mais é do que um 
feixe de sensações e é por isso que ser é ser percebido. Tentaram 
ridicularizar as afirmações do bispo dizendo que, se quisermos 
saber se uma pedra existe ou não, é só dar um chute nela: a dor 
seria uma prova de sua existência. Sem entrar numa discussão 
filosófica de vasta ordem, posso dizer que a objeção falha num 
ponto: a dor é uma sensação que revela uma qualidade da pedra: 
a dureza, e é um sinal de que ela foi percebida, o que referenda a 
afirmação de Berkeley 
Numa coisa, Berkeley tinha absoluta razão, tudo que nós co-
nhecemos são sensações que os nervos transmitiram ao cérebro, 
que as integrou a outras percepções já sentidas e registradas, in-
dicando o que elas representam; é o que se denomina em Psico-
logia Analítica de realidade absoluta do que é psíquico, Mas, o mais 
importante, é que todas as sensações foram percebidas pelo eu, o 
que torna a pessoa consciente delas. 
O eu tem uma base orgânica e uma psíquica. A base orgânica 
36 
é formada pelas sensações conscientes ou inconscientes que che-
gam ao cérebro, e uma base psíquica, a qual se embasa numa série 
de conteúdos e fatores inconscientes. 
O u t r o t a n t o se p o d e d izer da base ps íquica : o eu se assenta , de 
um lado, sobre o c a m p o da consciência global e , do ou t ro , so-
bre a to ta l idade dos con teúdos inconscientes . Estes ú l t imos se 
dividem em três g rupos : ( i ) o dos con teúdos t e m p o r a r i a m e n t e 
subl iminares , isto é, vo lun ta r i amen te reproduzíveis ; ( 2 ) o dos 
con teúdos que não p o d e m ser r ep roduz idos vo lun ta r iamente , 
e ( 3 ) o dos con teúdos t o t a lmen te incapazes de se t o r n a r e m 
conscientes . Pode-se deduz i r a existência do g r u p o n ú m e r o 2, 
dada a ocorrência de i r rupções e spon tâneas na consciência de 
con teúdos subl iminares . O g r u p o n ú m e r o 3 é h ipoté t ico , isto 
é , u m a decorrência lógica dos fatos que estão na or igem do 
segundo g r u p o : que r dizer, es te g r u p o encerra c o n t e ú d o s que 
ainda não i r r o m p e r a m ou j a m a i s i r r o m p e r ã o na consciência . 
( Jung , 1988 , par. 3 ) . 
Veja bem, existem fatores psíquicos ligados ao eu que são in-
conscientes para ele, quer temporariamente, quer incontroláveis ou 
que sempre permanecerão ignorados. 
Apesar do fato de estarmos inconscientes quando dormimos, 
nos sonhos temos consciência de nós mesmos.Isto indica que 
existe outro eu, que funciona nessas condições. Ele é denomina-
do de eu onírico. Isto é, um eu que somente funciona durante os 
sonhos. Mais à frente voltarei a tratar dele. 
Observando-se uma criança com menos de três anos, verifica-
se que ela normalmente se refere a si na terceira pessoa. Dizem 
37 
sempre: Nenê quer, ou dá água pra Bebeto, e assim por diante. Isto 
indica que o ego ainda não estava formado. Em torno dos três 
anos a criança começa a dizer: Eu quero; é a indicação de que o eu 
já está se formando. Esta é uma fase crítica, porque um ego bem 
estruturado proporcionará, pela vida afora, condições da pessoa 
lidar com as mais variadas situações, inclusive perdas e fracas-
sos. Quando não, ela ficará sempre perplexa e em crise, diante de 
qualquer situação mais estressante. 
Para terminar este capítulo, quero chamar sua atenção para 
a necessidade de você entender que o eu é um recurso criado a 
cada encarnação da alma. Ou seja, seu eu atual é diferente de 
qualquer outro que você já tenha tido, em existências passadas. 
É claro que o que já fomos influencia a existência atual, mas 
não se esqueça que o eu é um complexo que nasce do corpo, e 
que se assenta num mar de conteúdos, como dito mais acima, 
que ficam abaixo da consciência. Assim, não se preocupe com 
o que você foi, em qualquer outra existência, mas trabalhe pelo 
fortalecimento do eu atual e ampliação do seu consciente. Na 
verdade, para a psique, não existe ontem, mas agora; quer dizer, 
tudo o que já fomos ou fizemos está conosco aqui e agora, agin-
do em nossa atualidade. O próprio futuro faz parte do agora, 
pois a psique não conhece o tempo como uma mera sucessão de 
eventos, mas como uma vivência continuada e sempre atuante 
no momento que passa. 
38 
Faça uma relação dos problemas que você já enfrentou em sua 
existência, como perdas, frustrações, mudanças inesperadas etc. 
Recorde-se como você reagiu diante deles. Não se preocupe se não 
reagiu como acha que devia, verifique, apenas, se apesar dos receios, 
frustrações, angústias e tristezas, você teve a capacidade de resolve-
los ou enfrentá-los com decisão. Caso contrário, procure entender 
o que lhe aconteceu, e fantasie como você agirá se uma situação 
semelhante vier a ocorrer. 
39 
CAPÍTULO VI 
As máscaras com as quais 
atuamos no dia-a-dia 
palavra grega que significa face, figura, gesto, olhar, aspecto; másca-
ra, papel, personagem (no teatro); pessoa, jachada, frontispício. Esse 
termo, e seu emprego é mais conhecido por sua tradução latina: 
persona, que tem significado assemelhado: máscara (de teatro), pa-
pel, personagem do ator; cargo, função, caráter; pessoa gramatical, 
Jung usou o termo persona para indicar um complexo funcio-
nal, nascido da necessidade de adaptação às varias circunstâncias 
do viver social, que permite ao ego se relacionar com o meio exte-
rior de forma cômoda e eficaz. 
4 0 
O eu não se relaciona com o mundo sempre da mesma forma. 
Ao contrário, para cada situação, cada atividade, ele mostra uma fa-
ceta específica, e, com ela, exerce suas funções. Como o título deste 
capítulo diz, nos diversos cenários da ribalta existencial, atuamos 
como faziam os atores do teatro grego: usando uma 
Persona, também, pode ser definida como a parte do eu que 
está voltada para o mundo externo. Não se pode confundir per-
sona com individualidade, pois esta é constante, enquanto aquela 
é variável, adaptando-se às exigências do momento. E, também, a 
persona é interpenetrada pela função principal da consciência; as 
funções serão tratadas mais adiante. 
Por exemplo, quantas vezes temos de agir e nos expressar de 
acordo com a conveniência social? Somos obrigados a ir ao enter-
ro de alguém que nunca vimos, um desconhecido, mas ao entrar 
no local do velório, assumimos uma atitude contrita e fácies de 
sentimento ao exprimir condolências aos parentes; até nossa voz 
se torna baixa e soturna, enquanto dizemos expressões que não 
refletem nossos reais sentimentos que, muitas vezes, são de enfa-
do, por estarmos perdendo tempo. 
Mas, a persona não é uma coisa negativa: é uma necessidade 
relacional, que atende ao compromisso existente entre a estru-
tura interna do indivíduo e aquilo que exigem as circunstâncias 
onde ele está inserido. 
Uma persona funciona corretamente quando atende ao que 
Arthur Schopenhauer (1788-1860) pontuou: 
O que se é: quer dizer, a personalidade no sentido mais extenso. 
Compreendido aqui, portanto, a saúde, a força, a beleza, o tempera-
mento, o caráter moral, a inteligência e o seu desenvolvimento. 
O que se tem: portanto, propriedades e possessões de toda ordem. 
O que se representa: sabe-se que por esta expressão se entende a 
maneira pela qual os outros se representam um indivíduo e, por-
tanto, aquilo que ele é na representação deles. Isso consiste, pois, na 
4 1 
opinião a seu respeito, que se apresenta como honra, nível social e 
glória (Schopenhauer, 2005, p. 257. Tradução minha) . 
Quando existe um equilíbrio relativo em todas essas condi-
ções, a persona funcionará normalmente, cumprindo sua tarefa; 
ela terá a necessária elasticidade para que o indivíduo possa se 
relacionar de forma natural e fácil com o meio onde vive. Caso 
alguma delas esteja mais anormalmente evidenciada, a personali-
dade do indivíduo não se desenvolverá plenamente. 
Por exemplo, quem se compraz em ostentar os traços que a so-
ciedade aprova, desenvolverá uma personalidade para o coletivo, 
subordinada ao que é socialmente aceito por seu grupo. 
A persona não é algo meramente psíquico, mas envolve toda a 
nossa maneira de ser, isto é, o caminhar, atitude, penteado, manei-
ra de vestir, forma de rir e sorrir, como contraímos os músculos da 
face, os tics, enfim, o conjunto de particularidades que apresenta-
mos habitualmente ao mundo. 
A persona pode, também, ser utilizada para "mascarar" os reais 
propósitos de alguém. Os criminosos, os sedutores, os espiões, os 
mal-intencionados e todos que vivem do ludíbrio e da falsidade, 
costumam desempenhar papéis, como atores, para enganar suas 
vítimas, e conseguir atingir seus inconfessáveis fins. Jesus deno-
minava indivíduos enquadráveis nessas categorias de hipócritas, 
sepulcros caiados e lobos vestidos como ovelhas! 
A meta da individuação não é outra senão a de despojar o si-mesmo 
dos invólucros falsos da persona, assim como do poder sugestivo 
das imagens primordiais. Do que até agora foi dito depreende-se 
42 
claramente o significado psicológico da persona. Entretanto, quan-
do nos voltamos para o outro lado, isto é, para as influências do 
inconsciente coletivo, encontramo-nos num obscuro mundo inte-
rior, de compreensão muito mais difícil do que a da psicologia da 
persona, acessível a qualquer um. Não há quem não saiba o que 
significa "assumir um ar oficial", ou "desempenhar seu papel na so-
ciedade". Através da persona o homem quer parecer isto ou aquilo, 
ou então se esconde atrás de uma "máscara", ou até mesmo constrói 
uma persona definida, a modo de muralha protetora. Assim, pois, 
o problema da persona não apresenta grandes dificuldades intelec-
tuais (Jung, 1991, par. 269) . 
Quando a persona se torna rígida, ela se torna naquilo que sua 
etimologia indica: uma máscara. É o caso daqueles que se identi-
ficam com a profissão que exercem, a tal ponto que, em momento 
algum deixam de agir e se mostrar como se nunca de desligassem 
dela. É comum ouvirmos alguém se apresentando ao telefone, a 
um interlocutor: Aqui quem fala é Dr. Fulano... Por detrás da más-
cara, todavia, se esconde um pobre coitado, com um imenso com-
plexo de inferioridade, que se julga importante apenas pelo título 
que porta, mas não pelo que é realmente. Vive tão só de aparên-
cia. Temos, igualmente, os atores que nunca deixam de atuar, os 
políticos que nunca abandonam sua máscara, e por aí vai. 
Um caso frequente é a identificação com apersona, que é o sistema da 
adaptação ou estilo de nossa relação com o mundo. Assim sendo, quase to-
das as profissões têm a sua persona característica. Tais coisas são fáceis 
de estudar atualmente, uma vez que as pessoas públicas aparecem fo-
tografadas frequentemente na imprensa. O mundo exige um certo tipo 
43 
de comportamento e os profissionais se esforçam por corresponder-a 
tal expectativa. O único perigo é identificar-se com a persona, como, 
por exemplo, o professor com o seu manual, o tenor com sua voz; dai a 
desgraça. É que, então, se vive apenas em sua própria biografia, náo se 
é mais capaz de executar uma atividade simples de modo natural. Pois já 
está escrito:"... e então ele foi para cá ou para lá; disse isso ou aquilo" 
etc. A túnica de Dejanira colou-se à pele de Héracles e nela se enraizou. 
É preciso a determinação desesperada de um Héracles para arrancar 
do corpo a túnica de Nesso e entrar no fogo da imortalidade, a fim de 
transformar-se naquilo que verdadeiramente é. Exagerando um pouco, 
poderíamos até dizer que a persona é o que não se é realmente, mas sim 
aquilo que os outros e a própria pessoa acham que se é 2. Em todo caso a 
tentação de ser o que se aparenta é grande, porque a persona frequente-
mente recebe seu pagamento à vista (Jung, 2000, par, 221). 
As situações existenciais exigem sempre que nos relacionemos 
de acordo com uma postura adequada, ou seja, com uma perso-
na apropriada.Quando estamos exercendo a paternidade, nossa 
persona é de pai e as mães, exercendo seu papel, agem com uma 
persona de acordo. Ao ministrarmos ensinos, nossa persona é a 
do professor, e assim sucessivamente. 
A persona é tão importante para o eu, quanto a pele para o 
organismo. Como fator de relacionamento, ela nos proporciona 
os meios de construirmos pontes com os outros indivíduos e de 
exercemos nossos papéis sociais de forma adequada e produtiva. 
2 Nesse contexto pode ser útil 1er Aphorismen zur Lebensweisheit de SCHOPENHAUER (Pa-
rerga und Paralipomena I [cap. IE "Sobre o que se é", e cap. IV: "Sobre o que se representa"]). Nota 
de número 15 no original. 
44 
Você tem, agora, um objeto de estudo sobre você mesmo, nes-
ta jornada de autoconhecimento: as personas que usa nos diver-
sos momentos de seu cotidiano. Analise a forma como você atua 
quando está no trabalho, nas festas, nos esportes que pratica, no 
seu relacionamento afetivo, no culto religioso do qual participa, 
quando está na condição de aluno. Na família, sua postura como 
filho, pai, marido, irmão, mãe, etc. E, o que é mais importante, 
está você identificado com uma persona especifica? Se estiver, co-
mece a se descolar dela, procurando viver suas personas, de forma 
mais dinâmica. 
45 
CAPÍTULO VII 
O tipo psicológico 
Temos o hábito de rotular as pessoas de acordo com sua persona 
mais comum, como introvertidas e extrovertidas. Quer dizer: umas 
são alegres e expansivas, enquanto outras são pensativas e tímidas. 
Esta classificação empírica está errada. Quem criou a clas-
sificação das pessoas segundo dois tipos de atitudes foi Carl 
Gustav Jung, num estudo detalhado e memorável. 
Os tipos de atitude são formas de reação aos estímulos que 
lhes vêm do mundo exterior e interior. São comportamentos con-
dicionantes do processo psíquico. Para Jung, o tipo de atitude po-
deria ser uma disposição orgânica de cada um de nós. Realmente, 
desde o nascimento as pessoas apresentam as características de 
um tipo de atitude específico. 
Quando, por imposição do meio, o indivíduo é obrigado a 
funcionar num tipo de atitude diferente da sua inclinação natural, 
sofrerá distúrbios sérios. 
46 
Todavia, a partir da meia idade, é comum haver uma troca gra-
dativa no tipo de atitude pessoal. Assim é que, pessoas introverti-
das passam a se apresentar como extrovertidas, e as extrovertidas, 
como o seu oposto. Inclusive, pode-se verificar que, na meia-
idade, acontece uma modificação no comportamento de homens 
e mulheres, a ponto de homens antes masculinamente rígidos, 
passam a ficar femininamente sentimentais; enquanto mulheres 
muito femininas, passam a apresentar atitudes masculinas. Não 
que mudem de identidade sexual, nada disso. Apenas passam a 
apresentar modos de ser diferentes, e até opostos, aos que esta-
vam acostumados, e pelos quais eram conhecidos. 
O tipo extrovertido é aquele cuja libido é atraída pelo 
objeto. Ele se caracteriza por uma relação positiva com os 
objetos externos. Neste tipo: 
...interesse e atenção é direcionado para acontecimentos objetivos, 
o que está fora, em primeiro lugar os do meio ambiente próximo; 
pessoas e coisas cativam o interesse, somente depois volta-se para 
a própria pessoa. O extrovertido interessa-se por coisas novas, opi-
niões, lugares, invenções, grandes desempenhos. O extrovertido é 
sempre tentado a desfazer-se de si, em benefício (aparentemente) 
do objeto (Jung, 1991a, par. 6 3 6 ) . 
O tipo extrovertido tende a seguir o espírito da época, as nor-
mas externas de validade coletiva. Ele dirige seu interesse para 
fora, para o objeto, quer dizer, ele se orienta, preferencialmente, 
no externo, com desenvoltura e facilidade. 
47 
Para o extrovertido, "as leis morais do agir coincidem com as exi-
gências da sociedade, isto é, com a concepção moral válida em geral. 
Se a concepção válida em geral fosse outra, também as diretrizes 
morais subjetivas seriam outras, sem que houvesse alteração algu-
ma no hábito psicológico em geral" (Jung, VI , 1991a, par. 629) . 
O extrovertido tende a desvalorizar os fatores subjetivos, por 
isto não costuma se preocupar com sua saúde nem com o atendi-
mento às necessidades básicas, indispensáveis ao bem estar cor-
poral. Somente volta a atenção para seu corpo, quando algo de 
anormal aparece no funcionamento dele. 
O tipo introvertido tem uma atitude negativa face ao objeto, é 
conduzido, basicamente, por fatores subjetivos. Seu mundo inter-
no é o ponto de partida e de orientação, o objeto tem, para ele, um 
valor secundário. Sua tendência, diante das solicitações do meio, 
é se por de sobreaviso, colocar um pé atrás e evitar, num primeiro 
momento, que sua libido flua diretamente para o objeto. Parece 
que reage, primeiramente, pela recusa. 
O introvertido não é tímido, o seu interesse é subjetivo; ele vive 
mais no mundo das idéias, que lhe chama atenção, e onde está à 
vontade, do que no mundo das realidades concretas, que lhe pa-
rece difícil de lidar. 
As pessoas têm um tipo de atitude dominante, mas, as situ-
ações existenciais impõem, em circunstâncias do cotidiano, que 
elas passem a atuar com a atitude contrária. Jung dá o exemplo 
de dois amigos que vão andando por uma rua. Um é extroverti-
do e o outro introvertido. Em dado momento, vêm uma mansão 
48 
antiga, com as portas abertas, sem qualquer pessoa tomando 
conta. O Tipo extrovertido, então, convida seu amigo para en-
trarem. Esse se recusa, ponderando que os donos dela podem 
não gostar, e criarem problemas. O outro revida, desfazendo da 
cautela do amigo, e o arrasta consigo. No interior, encontram 
uma sala cheia de cotas de malhas, de armaduras e textos anti-
gos. Neste instante, o tipo introvertido extroverte. Seu interesse 
pelos objetos se torna ativo. Ao mesmo tempo, o extrovertido 
introverte, e perde o interesse, passando a chamar o amigo para 
irem embora, ao que este se recusa. 
Saber o seu tipo psicológico é um passo importante no auto-
conhecimento. Isto fará você entender melhor sua atitude diante 
dos atos e fatos do seu cotidiano. Mas, para melhor se entender, 
neste aspecto, e aos outros, vamos estudar as junções da consciên-
cia, no próximo capítulo. 
Qual será sua atitude dominante? Busque perceber se você age 
mais motivado pelos objetos (tudo o que está fora de você), ou 
se suas ações têm base no seu mundo interior! Aclarando: você 
age primeiro, para depois refletir ou, ao contrário, reflete primeiropara depois agir? 
49 
CAPÍTULO VIII 
As Funções da Consciência 
Você, muitas vezes, fica agastado porque algumas pessoas, 
inclusive familiares, não têm uma forma expedita de agir, assim 
como você; ou, você se compara com pessoas ativas, que estão 
sempre agindo, prontas para fazer qualquer coisa, e como não 
tem esse dinamismo, se acha com certa deficiência. 
Quantas vezes você tem reclamado porque alguém não é 
como eu, ou se viu repreendido dessa maneira ou por não ser 
igual a outro. Muitos pais cometem uma infame comparação 
entre filhos, com propósito de educar, e conseguem justamente 
o oposto. A comparação entre pessoas, e principalmente entre 
irmãos é uma atitude cruel, perniciosa e destruidora. É preciso 
que se entenda que cada pessoa tem um tipo psicológico espe-
cífico, dentro do qual vive e atua no mundo. Por isso, leia com 
atenção o que vem a seguir, para entender-se e entender os ou-
tros com quem convive. No Espiritismo existe o conceito de ní-
50 
vel evolutivo, que não é a mesma coisa. Nível evolutivo estabelece 
um limite de apreensão da realidade, por falta de maturidade 
espiritual, e não um tipo psicológico. 
As pessoas se caracterizam por mais diversidades na maneira de 
ser, do que apenas pela dualidade de atitude. Por isso, Jung apro-
fundou sua investigação, verificando que o ego tem à sua disposição 
quatro funções, segundo as quais constrói seus comportamentos, 
seus juízos e suas visões de mundo. Essas funções apresentam ca-
racterísticas individuais específicas, as quais sofrem variações de 
acordo com o tipo de atitude dominante no indivíduo. 
Jung descobriu, em suas investigações, quatro tipos de fun-
ções de atitudes, as quais se apresentam aos pares, sendo cada 
par mutuamente excludente: Sensação ou percepção e intuição; 
sentimento e pensamento. 
Assim, tanto o tipo de atitude extrovertido, quanto o intro-
vertido, utilizam essas funções, para adaptações e ações no co-
tidiano do viver. 
No homem primitivo, que está mais sob o império do in-
consciente, as quatro funções estão todas à disposição do ego, 
se não estivessem, sua sobrevivência seria difícil. Mas, com o 
advento da civilização, gradualmente as pessoas foram se es-
pecializando de acordo com um tipo de função, contribuindo 
assim para que houvesse uma diversidade de comportamento e 
aptidões na sociedade. 
Por isso, hoje em dia, é comum a existência de uma função su-
perior, dominante, com a qual o indivíduo pensa e age, enquanto 
as três restantes permanecem no inconsciente. 
51 
A função superior, naturalmente, impõe a existência de ou-
tra, a sua oposta, que está mergulhada no inconsciente e é, tec-
nicamente, denominada função inferior. Como tudo que fica no 
inconsciente sofre um decaimento natural, e é através dela que os 
complexos se manifestam em nosso cotidiano. A função inferior é 
utilizada pelo ego, quando necessário, mas ela não se mantém em 
ação por muito tempo, causando logo cansaço, e sendo abandona-
da e retornando a atividade normal da função superior. 
A função inferior é, geralmente, caracterizada por traços da psico-
logia primitiva - sobretudo pela participation mystique - isto é, ela 
faz a pessoa particularmente idêntica a outras pessoas ou outras 
situações (Jung, 1997, p. 6. Tradução minha). 
As duas outras funções, embora no inconsciente, atuam mais 
próximas da função superior, sendo utilizadas pelo ego como fun-
ções auxiliares, sendo que uma é mais usada do que sua oposta. 
As funções pensamento e sentimento são funções racionais, 
pois trabalham com estimativas. A função pensamento é aquela 
que, pela atividade de pensar, capta e processa as percepções, 
tanto internas quanto externas, em suas relações e consequên-
cias lógicas, ou seja, desde o ponto de vista do verdadeiro ou 
falso; a função sentimento capta o mundo interno e externo por 
suas qualidades, por seus valores, isto é, desde o ponto de vista 
emocional do prazer e desprazer, de agradável e desagradável, 
de aceitação ou rechaço. Em resumo, enquanto a função pensa-
mento busca sentidos, para decidir, a função sentimento procu-
ra compreender pelos valores. 
52 
As funções sensação/percepção e intuição são denominadas de 
funções irracionais, pois não trabalham com juízos, mas apenas 
sentem o mundo, sem valorá-lo ou buscar um sentido. 
A função sensação/percepção está voltada para a realidade, 
prioritariamente. Esta função capta os detalhes de episódios, mas 
não dará muito valor em suas relações intrínsecas. A função in-
tuição percebe as possibilidades das coisas, de forma inconsciente. 
N u m episódio, a intuição não captará os detalhes, mas perceberá 
o sentido interno dele, suas possíveis relações e consequências. 
A função diferenciada ou superior é a que determina o tipo 
do indivíduo, ou a forma habitual dele pensar o mundo externo 
ou interno, além de sua maneira de se relacionar com os outros. 
Mas, o indivíduo também se utiliza, no seu cotidiano de uma se-
gunda função, denominada função auxiliar. 
A função inferior, por estar no inconsciente, atua de forma au-
tônoma, ou seja, quando requisitada por fatores independentes 
da vontade; pelo fato de estar indiferenciada, atua gerando atos 
de caráter infantil, primitivo, impulsivo e arcaico. 
A junção dos tipos de atitude com as funções dá ao indivíduo 
sua maneira de ser, sentir e pensar. Inclusive, vai ditar suas ava-
liações sobre os outros. Como sempre estamos inclinados a exigir 
que as pessoas tenham nossa maneira de ser e pensar, ou seja, 
nosso tipo psicológico, quando diferem, temos o vezo de qualifi-
cá-las de forma negativa. Uma pessoa com atitude extrovertida, 
com função diferenciada sensação/percepção rotulará uma com 
atitude introvertida, e com a mesma função, de devagar; também 
dirá que uma da mesma atitude, mas com função superior in-
53 
tuição, de molenga, e assim sucessivamente. Isto tem causado os 
maiores problemas, tanto em família como em sociedade. 
Normalmente, as pessoas se associam pelo inverso comple-
mentar dos seus tipos psicológicos (associação da atitude da fun-
ção diferenciada), e isto é visto com mais propriedade nos casa-
mentos: intuição com sensação, por exemplo. 
Sinto-me na obrigação de esclarecer você, leitor, por me ha-
ver referido, linhas atrás, à participação mística. Esse termo pro-
vém de Lucien Lévi-Bruhl (1857-1939), e apareceu no seu livro: 
Les fonctions mentales dans les sociétés injérieures, (As funções 
mentais nas sociedades inferiores), publicado em 1910, e se refe-
re a uma espécie de vinculação psicológica com um objeto; nela 
a pessoa não consegue distinguir-se claramente desse objeto, es-
tando ligado a ele por uma identidade parcial. 
A participação mística é um fenômeno que pode ser observa-
do claramente nos povos primitivos, pois a vivem normalmente. 
Todavia, é muito encontrado entre os civilizados, de forma menos 
intensa e extensa. 
Normalmente ela ocorre entre pessoas; mas pode acontecer 
entre uma pessoa e outro ser vivo da escala zoológica ou com um 
objeto. Pode-se identificar a participação mística num tipo espe-
cífico de ato falho: quando uma pessoa chama outra pelo seu pró-
prio nome, e não pelo dela ou vice-versa. 
Quando se estabelece a participação mística entre pessoas e 
animais, por exemplo, ela pode expressar certas características 
deles; por exemplo, o almíscar. 
A participação mística ocorre mais frequentemente entre pessoas 
54 
de uma mesma família: entre pais e filhos, entre esposos, namorados 
etc. Nestes casos pode representar uma falha do eu na discriminação 
com os outros (alteridade), isto é, uma perda de identidade. 
Se há identidade, nenhum relacionamento é possível; o relaciona-
mento efetivo só acontece quando há separatividade. Desde que 
a participação mística é a condição usual na união, especialmente 
quando as pessoas se casam jovens, uma relação individual é im-
possível. Talvez os doisescondam seus segredos um do outro; se 
os admitirem, poderão estabelecer um relacionamento. Ou , talvez, 
não tenham qualquer segredo para compartilhar; então não há 
nada que os proteja contra a participação mística: um afunda no 
poço sem fundo da identidade e, após um tempo, descobre que, de 
forma alguma algo acontece, ( Jung, i984, p. 63 ) . 
Mas, a participação mística pode se dar, também entre pessoas 
estranhas, mas com uma vinculação arquetípica, logo inconscien-
te. Por exemplo, podemos ter sonhos por influência do incons-
ciente de um vizinho, colega de trabalho, e tc , sem que nenhum 
de nós tenha consciência disso. 
Procure identificar qual sua função superior, a partir do resu-
mo supra. Para identificar o seu tipo psicológico existem testes 
específicos. Procure na internet um teste, e aproprie-se dessa nova 
informação para conhecer, ainda mais, você mesmo e as pessoas 
com quem convive. 
55 
CAPÍTULO IX 
O mundo em nós que desconhecemos 
Lembre-se de que lhe foi pedido para fazer uma autobiografia, 
buscando lembrar-se de episódios de sua infância mais remota. 
Vamos continuar aquela experiência: procure se lembrar de um 
acontecimento vivenciado por você há dois anos... Lembrou? Re-
corde outro fato, agora de sua infância..! Lembrou? Naturalmente, 
você não estava pensando nesses dois episódios o tempo inteiro. 
Eles estavam "esquecidos", guardados em sua memória. Quando 
você pôs sua atenção na necessidade de se lembrar, eles vieram à 
consciência. Isto significa que estes episódios não tinham energia 
suficiente para ficar o tempo inteiro na consciência, e se tornaram 
inconscientes. Estavam numa situação subliminar, mas o eu pôde 
acessá-los, transferindo para eles a energia psíquica, ou libido, 
para se tornarem conscientes. 
56 
Eu defino o inconsciente como a totalidade de todos os fenômenos 
psíquicos a que falta a qualidade da consciência. Podemos classifi-
car adequadamente os conteúdos psíquicos como subliminares, na 
suposição de que todo conteúdo psíquico deve possuir certo valor 
energético que o capacita a se tornar consciente. Quan to mais bai-
xo é o valor de um conteúdo consciente, tanto mais facilmente ele 
desaparece sob o limiar. Daqui se segue que o inconsciente é o re-
ceptáculo de todas as lembranças perdidas e de todos aqueles con-
teúdos que ainda são muito débeis para se tornarem conscientes. 
Estes conteúdos são produzidos pela atividade associativa incons-
ciente que dá origem também aos sonhos (Jung, 1998, par. 270) . 
A consciência é muito limitada, e por isso não tem capacidade 
de perceber e registrar tudo o que ocorre, nem de manter um re-
gistro sempre consciente de tudo. Li, certa feita, sobre um indiví-
duo que não conseguia esquecer-se de nada; resultado, terminou 
por perder contato com a realidade, entrando em surto psicótico. 
O inconsciente é denominado o país da infância, pois tudo o 
que nele está adquire a característica de símbolo. Quer dizer, todos 
os conteúdos que adentram o inconsciente sofrem uma regressão, 
pois no inconsciente não existe a mutabilidade e o vir-a-ser ca-
racterístico da consciência. Nos sonhos e visões, os conteúdos do 
inconsciente aparecem simbolizados em coisas e pessoas, necessi-
tando ser devidamente interpretados. 
Inconsciente e consciente estão sempre em estado de compen-
sação, ou seja, estão se influenciando reciprocamente. O incons-
ciente tende sempre a atuar para modificar a unilateralização da 
consciência, isto é, quando a consciência está se vinculando mais 
57 
a uma forma de pensar e agir, em detrimento de outras. Normal-
mente, aquilo que está presente na consciência, no inconsciente 
se encontra o seu oposto. Por exemplo, aquele que construiu uma 
persona de muita humildade, apresenta um imenso orgulho no 
inconsciente. A compensação entre consciente e inconsciente será 
sempre de qualidade oposta, e de mesma intensidade. 
A compensação deve ser estritamente distinguida da complementa-
ção. O complemento é um conceito muito limitado e muito limi-
tativo, e por isso não é capaz de explicar, de maneira satisfatória, a 
função onírica. Com efeito, ele designa uma relação em que duas 
ou mais coisas se completam, por assim dizer, forçosamente 3. A 
compensação, pelo contrário, é, como o próprio termo está dizen-
do, uma confrontação e uma comparação entre diferentes dados 
ou diferentes pontos de vista, da qual resulta um equilíbrio ou uma 
retificação (Jung, 1998, par. 545) . 
Todavia, como tudo que diz respeito à vida psíquica, tem 
sempre um aspecto que foge à normalidade, por se apresen-
tar como uma compensação que corrige uma unilateralidade, 
por via patológica: 
Embora, na imensa maioria dos casos, a compensação tenha por 
fim estabelecer um equilíbrio psíquico normal, e se comporte como 
uma espécie de auto-regulação do sistema psíquico, contudo, não 
podemos simplesmente nos contentar com esta verificação, pois a 
compensação, em certas condições e em determinados casos (como, 
3 Com isto não estamos negando o princípio da complementaridade. O termo "compensação" 
indica apenas um refinamento psicológico desse princípio. Nota de rodapé número 4 no original. 
58 
por ex., nas psicoses latentes), pode levar a um desenlace fatal (pre-
domínio das tendências destrutivas), como, por ex,, o suicídio ou 
outros comportamentos anormais que parecem "predeterminados" 
no plano da existência de certos indivíduos portadores de tara 
(Jung, 1998, par. 547) . 
Nosso inconsciente divide-se em:pessoal e coletivo, O inconscien-
te pessoal é formado durante esta existência; nele estão os registros 
de tudo o que ocorreu conosco durante o lapso de tempo transcor-
rido desde a vida intra-uterina, até a idade corrente. Nele existem, 
ainda, complexos, conteúdos que foram reprimidos, conteúdos dos 
quais o ego não tomou conhecimento, isto é, que o consciente não 
registrou e foram assimilados subliminarmente. Igualmente, estão 
no inconsciente os registros de memória, ou seja, tudo o que apren-
demos, os quais estão à disposição da consciência para quando se 
tornarem necessários às atividades do cotidiano. Existem conteú-
dos que se formam no inconsciente pessoal: são apercepções; cujo 
resultado aparecerá na consciência como insight, como inspiração. 
O inconsciente pessoal contém lembranças perdidas, reprimidas 
(propositalmente esquecidas). Evocações dolorosas, percepções 
que, por assim dizer, não ultrapassaram o nível do limiar da consci-
ência (subliminais), isto é, percepções dos sentidos que por falta de 
intensidade não atingiram a consciência e conteúdos que ainda não 
amadureceram para a consciência. Corresponde à figura da sombra, 
que frequentemente aparece nos sonhos (Jung, 1991, par. 103) . 
Os conteúdos do inconsciente pessoal serão tratados em capí-
tulo específico. 
59 
O inconsciente pessoal não é um simples depósito dos fatos 
acontecidos durante a existência corporal, mas um núcleo ativo, 
com uma dinâmica específica e importante para a vida. 
Você não tem consciência do que está acontecendo no seu 
inconsciente pessoal neste instante, todavia, ele está agindo, in-
fluenciando suas palavras, ações, pensamentos e atitudes. Sem 
que você tenha a menor consciência da origem dessa influência. 
E ela não é simples nem fácil de detectar. No mais das vezes, não 
há porque você se preocupar em saber se o que você está fazendo 
é motivado por influencia do inconsciente pessoal ou não; mas, 
em certos casos, quando está havendo problemas no seu modo 
normal de ser, como tristezas, ansiedades, agressividade e tc , sem 
causas objetivas, é preciso investigar o que o inconsciente está 
pretendendo com essas manifestações. 
Para identificar o que está ocorrendo, um terapeuta junguiano 
se informará sobre o seu momento atual, no plano consciente; 
fará um levantamento do que você já viveu e, dentre outras coisas, 
utilizará seus sonhos como uma das possibilidadesde acessar o 
inconsciente, para identificar o que ele está compensando. 
Veja o seguinte caso, de uma mulher, que buscou meus servi-
ços profissionais: Estava no auge dos seus 36 anos, e era solteira. 
Não mantinha relacionamentos duradouros, geralmente namora-
va homens de lugares distantes. 
Anamnese: O pai era um homem agressivo, autoritário; sua 
mãe extremamente submissa, o que lhe causava raiva; o relacio-
namento dos pais era difícil, sem troca de carinhos; a mãe sempre 
desqualificava tanto o casamento, quanto os homens. 
60 
Diagnóstico: autossabotagem, ou seja, o eu queria se rela-
cionar, constituir família, mas os complexos formados durante 
a infância, a respeito do casamento, que o relacionamento dos 
pais referendava. 
No decorrer da terapia, ela conheceu um rapaz que, uma noi-
te, durante um jantar, lhe ofereceu um anel de compromisso. Ela 
sentiu um frisson na espinha, começou a beber, terminando por 
"armar um barraco", tendo ele tomado o anel de volta. Nesse mo-
mento, ela conscientizou a autossabotagem. Resultado, hoje está 
casada, com dois filhos. 
O caso supra é um exemplo de como um conteúdo do incons-
ciente pessoal age sobre a atividade do eu, causando transtornos em 
assuntos que deveriam ter um desenvolvimento tranquilo. 
Jung resumiu o modelo de nossa psique da seguinte maneira: 
..devemos distinguir, por assim dizer, três níveis psíquicos, a saber: 
1) a consciência; 2) o inconsciente pessoal, que se compõe, primeira-
mente, daqueles conteúdos que se tornam inconscientes, seja por-
que perderam sua intensidade e, por isto, caíram no esquecimento, 
seja porque a consciência se retirou deles (é a chamada repressão) e, 
depois, daqueles conteúdos, alguns dos quais percepções sensoriais, 
que nunca atingiram a consciência, por causa de sua fraquíssima 
intensidade, embora tenham penetrado de algum modo na cons-
ciência e 3) o inconsciente coletivo, que, como herança imemorial de 
possibilidades de representação, não é individual, mas comum a 
todos os homens e mesmo a todos os animais, e constitui a verda-
deira base do psiquismo individual. Todo este organismo psíquico 
corresponde perfeitamente ao corpo que, embora varie sempre de 
indivíduo para indivíduo, é, ao mesmo tempo e em seus traços es-
61 
senciais básicos, o corpo especificamente humano que todos temos 
e que em seu desenvolvimento e em sua estrutura conserva vivos 
aqueles elementos que o ligam aos invertebrados e, por último, até 
mesmo aos protozoários. Teoricamente deveria ser possível extrair, 
de novo, das camadas do inconsciente coletivo não só a psicologia 
do verme, mas até mesmo a da ameba (Jung, 1998, pars. 321-322) . 
O texto acima citado, mesmo não sendo a intenção de Carl Gus-
tav Jung, nos remete ao fato de que a evolução da alma, através das 
existências sucessivas, está gravada no inconsciente e, teoricamente, 
pode ser acessada, como será visto adiante. 
Medite a respeito de sua vida, identificando os fatores impul-
sivos de muitas de suas escolhas e atitudes. Pesquise seus estados 
emocionais inesperados e aparentemente sem motivos, e investi-
gue quanto eles estão influindo em sua vida, de forma positiva ou 
negativa. 
62 
*** 
CAPITULO X 
Os conteúdos do inconsciente 
pessoal e a vida cotidiana 
Em geral, quando alguém apresenta uma atitude reativa des-
medida, com relação a algo que se lhe diga, ou faça, costumamos 
acusá-lo de ser complexado. Este termo já faz parte do vocabulário 
corrente, e se o usa de forma negativa, para desfazer de alguém. 
O complexo é um conteúdo encontrado na consciência e no 
inconsciente pessoal de todas as pessoas. Não existe ninguém des-
complexado, ou seja, sem nenhum complexo. Afinal, temos cons-
ciência de quem somos, o que fazemos, enfim, que existimos, por 
causa de um complexo: o eu ou ego. 
Como se sabe, a palavra "complexo" no seu sentido psicológico in-
troduziu-se na língua alemã e inglesa correntes. Hoje em dia todo 
mundo sabe que as pessoas "têm complexos". Mas o que não é bem 
conhecido e, embora teoricamente seja da maior importância, é que 
os complexos podem "ter-nos". A existência dos complexos põe se-
63 
riamente em dúvida o postulado ingênuo da unidade da consciên-
cia que é identificada com a "psique", e o da supremacia da vontade. 
Toda constelação de complexos implica um estado perturbado de 
consciência. Rompe-se a unidade da consciência e se dificultam 
mais ou menos as intenções da vontade, quando não se tornam de 
todo impossíveis. A própria memória... é muitas vezes profunda-
mente afetada. Daí se deduz que o complexo é um fator psíquico 
que, em termos de energia, possui um valor que supera, às vezes, o 
de nossas intenções conscientes; do contrário, tais rupturas da or-
dem consciente não seriam de todo possíveis. De fato, um comple-
xo ativo nos coloca por algum tempo num estado de não-liberdade, 
de pensamentos obsessivos e ações compulsivas para os quais, sob 
certas circunstâncias, o conceito jurídico de imputabilidade limita-
da seria o único válido. (Jung, 1998, par. 200) . 
De fato, existem momentos em que, por coisas mínimas, 
a pessoa perde o controle, diz e faz coisas das quais, depois, se 
arrepende amargamente; ela própria, e quem foi testemunha de 
tais descontroles, diz: Parecia que estava tomado(a) por um espírito 
ruim! Isto acontece quando o complexo é constelado: 
Este termo exprime o fato de que a situação exterior desencadeia 
um processo psíquico que consiste na aglutinação e na atualização 
de determinados conteúdos. A expressão "está constelado" indica que 
o indivíduo adotou uma atitude preparatória e de expectativa, com 
base na qual reagirá de forma inteiramente definida. A constelação é 
um processo automático que ninguém pode deter por própria von-
tade. Esses conteúdos constelados são determinados complexos que 
possuem energia específica própria (Jung, 1998, par. 198). 
64 
Também acontecem situações em que se devia tomar uma ati-
tude, todavia, algo nos paralisa, momentânea ou duradoramente, 
e fica-se sem saber o que dizer ou fazer; isto é muito comum em 
provas e testes, quando se estudou profundamente os assuntos, 
mas, na hora de responder as questões, dá um branco, ou seja, 
acontece uma situação peculiar de esquecimento: a pessoa sabe 
que tem conhecimento do assunto, mas ele não vem à consciência 
de forma alguma, causando intensa angústia e frustração; ao se 
sair do ambiente, o conhecimento volta, como por encanto, ge-
rando uma intensa raiva de si mesmo. 
O mesmo acontece em situações de confronto, quando pode-
ríamos nos defender coerentemente, e não conseguimos encon-
trar a explicação ou argumento devido. Esses mesmos bloqueios 
acontecem em outros momentos da existência, quando esquece-
mos palavras e nomes que nos são perfeitamente familiares; exis-
te uma sensação frustrante de se saber que se sabe o nome ou a 
palavra, mas ele não vem à consciência, por mais esforços que se 
façam; mais tarde, em geral quando não se precisa mais, o nome 
ou a palavra é lembrado facilmente. Isto é denominado ato falho, 
e é um complexo que impede a recordação. 
O ato falho não acontece, apenas, quando se fala, mas quando 
se escreve, quando se é desastrado: você tem um objeto que al-
guém lhe deu, uma caneta, por exemplo, a qual você usa sempre; 
um dia, vocês brigam e, na mesma semana, você perde a caneta. 
O que houve? Uma coincidência? Não acredite nisso. Você, de 
forma inconsciente se livrou do objeto que era um significante da 
pessoa de quem você estava com raiva. 
65 
Conheço o caso de um ato falho com consequências fatais: um 
professor universitário de Química, depois de muitos anos de traba-
lho, e com sacrifícios, conseguiu construir a casa dos seus sonhos. 
Era-lhe um motivo de permanente satisfação e orgulho. Um dia, 
sua esposa resolveu separar-se e exigiu que a casa fosse vendida, 
para o resultado ser devidamente partilhado entre os

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