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Resumo do artigo "Toward a philosophical history of psychology; an alternative path for the future" (Araújo, 2017)

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Toward a philosophical history of psychology: an alternative path for the future (Araújo, 2017)
Discordâncias entre historiadores da psicologia:
- Daniel Robinson (2013): aceita a existência de temas psicológicos desde a Grécia antiga e considera Aristóteles
como parte da história da psicologia
- Kurt Danziger (2013): a psicologia moderna começou apenas no séc XVIII
1960 - muitas vozes se levantaram contra a maneira tradicional de fazer a história da psicologia e pediram a
desenvolvimento de uma historiografia crítica em consonância com as novas realizações da história da ciência.
Mitchell Ash (1983) → tensão entre a história em TEXTBOOKS, vinculada a propósitos pedagógicos e
SYSTEMATIC SCHOLARSHIP, resultado de uma institucionalização mais ampla da disciplina como um subcampo
da psicologia.
Causa da tensão: os estudos sistemáticos produziram uma imagem de psicologia que não é compatível com a dos
livros didáticos + diferentes tipos de estudiosos que estão escrevendo a história da psicologia: psicólogos
experimentais, historiadores profissionais, professores, etc.
Futuro +: a tensão deve continuar, mas deve ser produtiva entre filósofos e historiadores da psicologia
Danzinger (1994) - “Does the history of psychology have a future?”
- Com a crescente profissionalização e institucionalização da história da ciência, ele perguntou o que deveria
acontecer com a história da psicologia: os psicólogos deveriam deixar sua história para historiadores
profissionais? Ou eles deveriam se envolver em uma nova forma de historiografia que se torne relevante para
suas práticas científicas? Para ele, o surgimento de um historiografia crítica da psicologia permitiria uma relação
equilibrada entre insiders e outsiders.
- Como Ash, Danziger pediu uma tensão positiva ou criativa:
insider (conceitos e práticas da disciplina) + outsider (distância moral) = historiografia crítica e eficaz
- Mas qual é a ideia de Danzinger de historiografia crítica? propostas de uma história que reconhece "a natureza
socialmente construída do conhecimento psicológico" // social turn na história da ciência
A NOVA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA E SEUS PROBLEMAS
Consequência de 1960: nova geração de historiadores da psicologia; publicações ⇧
“critical historiography of psychology” ou “social turn” na historiografia da psicologia ou “the new history of
psychology” (Furomoto, 1989). Segundo Furomoto,
Crítica x cerimonial, naïve
Contextual x história de ideias
Fontes primárias x fontes secundárias
New history: ênfase nos aspectos sociais, políticos e institucionais da psicologia em detrimento de sua lógica,
metodologia e elementos metafísicos
Representantes: Kurt Danziger, Nikolas Rose, Roger Smith, Mitchell Ash, Martin Kusch e outros
➔ Ajudaram a iluminar fatores cruciais subjacentes à teoria e prática psicológicas, como os objetivos
ideológicos do uso em larga escala de testes mentais.
➔ Deixam a desejar em termos metodológicos:
● Dicotomias exageradas criadas pelos novos historiadores para “separar” seu trabalho
● Generalizações sobre a historiografia da psicologia levam a apreensões inadequadas de questões
metodológicas que são intrínsecas à pesquisa histórica
● Adotaram suposições metodológicas distintas = diversidade conceitual e metodológica em seus
relatos históricos
Lovett (2006):
a) Novos historiadores se comprometeram prematuramente com visões normativas sobre questões
historiográficas onde não existe um consenso claro (ex.: Robinson x Danziger - falta de consenso entre
historiadores da psicologia sobre questões fundamentais (por exemplo, continuidade versus descontinuidade)
(b) as novas pesquisas muitas vezes repousam em uma visão particular da ciência que não é amplamente aceita
e nem mesmo entendida por filósofos profissionais da mesma maneira que os novos historiadores assumem;
ex.: aceitação acrítica de suposições teóricas (por exemplo, a filosofia da ciência de Kuhn) e erros semelhantes
atribuídos à história antiga (por exemplo, novas formas de whiggismo)
Porter e Micale (1994): crítica ao revisionismo histórico da historiografia recente da psiquiatria: “suas agendas
políticas serviram para selecionar seus objetos de estudo, para moldar suas metodologias, para texturizar suas
interpretações e predeterminar suas conclusões”
(c) as diretrizes normativas defendidas por novos historiadores podem ser impossíveis de seguir consistentemente
- Problema da consistência - exemplo da análise de Wundt por Danziger:
Constructing the Subject (1990)➙ ele argumenta que na historiografia da psicologia “o que falta é o
reconhecimento da natureza socialmente construída do conhecimento psicológico”. Ele então afirma que o
conceito de metodologia deve ser substituído pelo conceito de prática investigativa, que é mais adequado para
captar o elemento social presente na pesquisa psicológica, incluindo o laboratório de Wundt. No entanto, a análise
de Danziger não é capaz de revelar a determinação social dos objetivos epistêmicos de Wundt, que frustram os
mais altos objetivos de sua abordagem construtivista social. Além de não aderir totalmente aos seus próprios
princípios, falta uma investigação cuidadosa dos fundamentos filosóficos do trabalho de Wundt.
- Outro exemplo: Kusch em Psychological Knowledge: A Social History and Philosophy (1999)
A principal tese de Kusch, a saber, que "os corpos do conhecimento psicológico são instituições sociais", faz parte
de seu sociologismo geral. Para Kusch, sociologismo é a afirmação de que os chamados fatores “racionais", ou
seja, teorias, argumentos e razões, são de fato fatores sociais. No entanto, ainda não está claro até que ponto o
programa de Wundt poderia ser uma instituição social. Kush diz que “para que algo seja uma instituição social,
basta que algum coletivo tenha uma crença auto-referencial a respeito”, mas ele ignora a heterogeneidade da
época.
⤷ Mesmo que o caráter social da teoria psicológica de Wundt (ou partes dela) fosse demonstrado, isso não seria
suficiente para explicar aspectos fundamentais deste último, como o abandono do inconsciente ou os princípios da
causalidade mental. Assim, os aspectos mais essenciais do programa psicológico de Wundt não são
compreendidos pela análise sociológica de Kusch.
- Benetka, em seu Denkstile der Psychologie (estilos de pensamento em psicologia), propõe igualmente
uma análise sociológica da psicologia, usando a análise sociológica do conhecimento científico de Fleck
(1896-1961) e enfatizando seus dois conceitos centrais: Denkstil (estilo de pensamento) e Denkkollektiv
(pensamento coletivo). Nenhuma tentativa é feita para estabelecer até que ponto as categorias de 'estilo de
pensamento' ou 'pensamento coletivo' fornecem uma nova compreensão do projeto psicológico de Wundt em
comparação com os históricos anteriores da psicologia. Como na abordagem de Danziger, Benetka se mostra
incapaz de compreender a profunda estrutura conceitual da psicologia wundtiana e acaba repetindo suas vagas
indicações sobre as raízes intelectuais de Wundt (Kant, Fichte, Schopenhauer etc.).
● Social history da psicologia não consegue abordar completamente algumas questões teóricas e conceituais
profundas subjacentes a projetos psicológicos ⟶ exigem uma análise filosófica mais cuidadosa
● Questões filosóficas/conceituais não podem ser reduzidas a questões sociais, isto é, análises construtivistas
ou sociológicas sociais não são capazes de esgotar seu significado.
● Entretanto, essas análises podem lançar uma nova luz sobre o desenvolvimento histórico da psicologia.
● Categorias como "práticas sociais", "práticas discursivas" → imprecisão e usos problemáticos
● Isso não significa que fatores políticos, sociais e institucionais sejam irrelevantes para compreender a
psicologia em seu desenvolvimento histórico, mas esses fatores, por si só, não são suficientes.
A INTEGRAÇÃO DA HISTÓRIA E FILOSOFIA DA CIÊNCIA
The History and Philosophy of Science (HPS): Lakatos (1922-1974) — A história da ciência sem filosofia da
ciência é cega, filosofia da ciência sem história da ciênciaé vazia
- Alguns problemas metacientíficos só poderiam ser resolvidos através de uma intensa colaboração
- Peter Galison → relentless historicism: “É possível escrever uma história e filosofia da ciência sem que o
dia passe da história, onde a filosofia entra no palco com a história, não antes do relato começar? Isso
seria realmente um historicismo implacável”
- Não é uma tarefa fácil → historiadores e filósofos da ciência negligenciam o trabalho um do outro,
resultando em uma falta de comunicação entre eles
Na primeira metade do século XX, a história da ciência foi escrita principalmente por cientistas e filósofos.
Surgimento de departamentos de História da Ciência⟹ levou a uma crescente profissionalização do campo, que
começou a pôr em dúvida sua relação com a filosofia da ciência.
A partir da década de 1960, começaram a surgir iniciativas oficiais de integração entre as duas áreas (ex.:
fundação, na Universidade de Indiana, do primeiro Departamento de HPS dos Estados Unidos).
Thomas Kuhn (1962): The Structure of Scientific Revolutions➝ Em oposição à concepção neopositivista de
ciência representada por membros do Círculo de Viena, Kuhn enfatizou a dimensão histórica e social do
conhecimento científico, em vez de seus aspectos lógicos.
⤷ Transformação decisiva na história da ciência → em vez de encarar a ciência como uma estrutura formal e
abstrata, propôs um modelo dinâmico, baseado principalmente na história da física, segundo a qual o
conhecimento científico se desenvolve por meio de revoluções
Obs.: No entanto, Kuhn se declarou contra a integração da história e filosofia da ciência em um único campo ou disciplina. Para
ele, as duas disciplinas diferem principalmente em seus objetivos.
Após tentativas oficiais de promover essa integração - como a fundação da revista Studies in History and
Philosophy of Science em 1970 - muitos estudiosos começaram a expressar ceticismo.
Ronald Giere: casamento de conveniência - utilidade institucional sem boa justificativa teórica e conceitual
Lorenz Krüger: integração de HPS seria um “casamento por uma questão de razão/for the sake of reason”
- Nas décadas seguintes, essa tendência a aceitar o relacionamento foi reforçada na filosofia da ciência.
O problema está longe de ser resolvido:
1) Historiadores da ciência não compartilharam a tendência entre filósofos da ciência de argumentar pela
integração.
2) Não há consenso sobre a precisão com que a integração deve ser feita. Um modelo geral elaborado para a
integração ainda não existe. Subjacente à identidade de seu objetivo geral (integração), existe uma gama
diversificada de abordagens.
Hasok Chang (2012) → disciplina integrada, cuja função é suplementar o conhecimento científico
produzido por especialistas científicos. Com base na noção de ciência normal de Kuhn - segundo a qual
a ciência só pode funcionar dentro de uma estrutura geral de suposições indiscutíveis, que levam à
eliminação de perguntas que podem contradizê-las ou desestabilizá-las - Chang entende a HPS como
uma maneira de contrabalançar essa situação. A integração deve ocorrer através da análise de episódios
históricos concretos, sem incorrer na falácia da generalização apressada.
Outro exemplo é Mary Domsky e Michael Dickson, que defendem um novo método para revigorar o
casamento entre a história e a filosofia da ciência, que eles chamam de ABORDAGEM SINTÉTICA.
⇾ Síntese de Michael Friedman da história e filosofia da ciência: o objetivo é trazer a filosofia para a
história e a história para a filosofia, a fim de que possamos "ver além" do que ambos podem oferecer
sozinhos. Essa ampliação de nossa compreensão produziria uma unidade entre as duas disciplinas.
Theodore Arabatzis (2006): a filosofia da ciência pode ser frutífera para a história da ciência, explicitando
os fundamentos filosóficos das escolhas e categorias historiográficas em jogo (ex.: realismo científico)
➢ Attitude of ontological bracketing
"Explora episódios históricos específicos, levando em consideração questões filosóficas sobre, por
exemplo, a dinâmica das teorias científicas ou os processos de mudança conceitual"
“Visa compreender a vida científica em termos de conceitos metacientíficos filosoficamente articulados,
como descoberta, objetos, modelos, valores epistêmicos, relação entre teoria e experimento, etc.”
UMA HISTÓRIA FILOSÓFICA DA PSICOLOGIA
(A) Como as análises filosóficas de projetos psicológicos tornam o conhecimento histórico em psicologia mais
preciso e profundo?
(B) Como as investigações de episódios históricos concretos podem ser relevantes para as discussões
filosóficas contemporâneas em psicologia?
Ambas as questões devem ser vistas como refletindo as duas vertentes gerais da HPS: uma história filosófica da
ciência e uma filosofia histórica da ciência
Uma história filosófica da psicologia, como eu a entendo, é uma história da psicologia guiada por questões
filosóficas específicas, a mais importante das quais é a relação geral entre psicologia e filosofia.
➪ O objetivo central é revelar como o desenvolvimento histórico e a elaboração de projetos psicológicos estão
intimamente relacionados a premissas filosóficas, que nem sempre são explícitas. A idéia é tornar essas
premissas explícitas e abertas à avaliação.
➪ Em vez de uma ênfase exclusiva nas dimensões políticas e sociais da psicologia, usando as lentes de teorias
sociais e categorias como 'práticas sociais', uma história filosófica da psicologia se concentra na coerência e
racionalidade dos projetos psicológicos dentro de seu próprio contexto histórico
➪ Cumpre 3 critérios importantes colocados pelos novos historiadores da psicologia:
1) Não é ingênua nem dogmática, mas crítica, na medida em que desenvolve suas hipóteses não para
celebrar qualquer projeto psicológico em particular, mas para mostrar suas potencialidades e seus
problemas, usando assim argumentos e evidências válidos de fontes primárias.
2) Não é monocêntrica, mas policêntrica, pois está aberta aos mais diversos projetos psicológicos do mundo,
incluindo a possibilidade de interação entre eles.
3) Não é paroquial, mas internacional, porque pode ser feita por historiadores de diferentes origens culturais,
com perspectivas distintas, desde que tenham treinamento filosófico apropriado.
4) Finalmente, uma história filosófica da psicologia não precisa se comprometer prematuramente com
doutrinas ou princípios metafísicos.
CONCLUSÃO
- Para alcançar essa integração em uma escala maior, no entanto, são necessárias discussões mais sistemáticas.
- É importante ter em mente que uma história filosófica da psicologia não pode resolver todos os problemas
colocados na história da psicologia.
- Além disso, a ideia de uma história filosófica da psicologia, como apresentada aqui, deve ser entendida apenas
como uma diretriz geral, constituindo os primeiros passos para uma abordagem mais elaborada e potencialmente
integradora da história da psicologia

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