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06 OS SISTEMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 2019

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Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019 
 
P
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1
 
OS SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
 
A proteção internacional dos direitos humanos é feita atualmente por meio 
dos chamados Sistemas Internacionais de Proteção dos Direitos Humanos, 
arquitetados tanto em nível global como regional. O sistema global de proteção 
está arquitetado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). Já os 
sistemas regionais de proteção estão afetos a regiões específicas do planeta, 
encontrando-se arquitetados no âmbito de organizações internacionais 
específicas. Atualmente encontram-se consolidados três sistemas regionais de 
proteção: (i) o sistema europeu, no âmbito da União Europeia (EU), (ii) o sistema 
interamericano, no plano da Organização dos Estados Americanos (OEA) e (iii) o 
sistema africano, no âmbito da União Africana (UA). 
 
1. O SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
 
O sistema global de proteção dos direitos humanos foi criado e vem sendo 
administrado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Tem início com a 
Carta da ONU (também conhecida como Carta de São Francisco)1, documento 
que estabeleceu a ONU em 1945 e que dispôs em seu art. 1º (3) ser propósito da 
Organização “conseguir uma cooperação internacional para resolver os 
problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, 
e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades 
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”. (Grifo 
nosso) 
O sistema desenvolveu-se posteriormente com a proclamação da 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada e proclamada pela 
Assembleia Geral das Nações Unidas (Resolução 217 A III) em 10 de dezembro 
1948, que foi complementada (material e processualmente) por dois importantes 
tratados internacionais: o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos 
(PIDCP) e o Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais 
(PIDSEC), ambos adotados pela Assembleia Geral da ONU em 1966. Esse 
 
1 A Carta da ONU pode ser baixada na íntegra no seguinte endereço: <https://goo.gl/KzC7cu>. 
Acesso em 26 set. 2018. 
https://nacoesunidas.org/carta/
https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm
https://goo.gl/KzC7cu
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019 
 
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2
 
conjunto de textos recebeu o nome de Carta Internacional dos Direitos 
Humanos. 
 O sistema global de proteção dos direitos humanos também é conhecido 
como sistema internacional de proteção dos direitos humanos, sistema 
onusiano ou sistema universal de proteção dos direitos humanos e tem como 
finalidade alcançar a promoção, a proteção e o respeito dos direitos humanos de 
todas as pessoas que se encontram espalhadas ao redor do globo. 
 Trata-se de um sistema composto por (i) tratados internacionais abertos 
à adesão de todos os Estados (e também de Organizações Internacionais), 
indistintamente de sua localização geográfica; e por (ii) órgãos (mecanismos de 
proteção, v.g., os Comitês) voltados à promoção da dignidade humana em todo 
o mundo. Cumpre ainda lembrar que, além dos tratados internacionais (que são 
instrumentos juridicamente vinculantes para os Estados que deles fazem parte), 
existem no sistema global várias declarações internacionais (que não geram 
propriamente uma vinculação jurídica para os Estados que as proclamam, senão 
uma vinculação de ordem moral) voltadas genérica ou especificamente para a 
proteção dos direitos humanos no plano global, além de normas de outra 
natureza que de algum modo estão relacionadas aos direitos humanos. 
Em relação aos instrumentos internacionais (tratados, declarações, 
resoluções etc.) de proteção dos direitos humanos, além da Carta Internacional 
dos Direitos Humanos, composta pela DUDH, pelo PIDCP e pelo PIDSEC, torna-
se importante aqui destacar os principais instrumentos onusianos até o 
momento existentes e que protegem a todos os seres humanos em geral ou a 
categorias mais específicas ao redor do globo. 
 
É preciso aqui fazer uma advertência a todos que se preparam para concursos 
públicos e para o exame da OAB: estes exames jurídicos têm exigido 
conhecimentos não apenas acerca das normas que tutelam os direitos 
humanos (nome dos instrumentos), mas também do conteúdo do tratado ou 
documento internacional, razão pela qual recomenda-se fortemente o estudo 
detido de seus textos, para que se domine a informação acerca dos diplomas 
jurídicos onde podem ser encontradas determinadas normas. 
Vide tabela dos instrumentos internacionais globais abaixo: 
 
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019 
 
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3
 
INSTRUMENTOS GLOBAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
* Tabela elaborada a partir dos textos originais dos instrumentos internacionais, extraídos da internet, 
bem como das obras Curso de Direitos Humanos (André de Carvalho Ramos) e Direito Internacional 
Público e Privado (Paulo Henrique Gonçalves Portela) 
Instrumento Ano Comentários 
Carta das Nações Unidas 1945 
Cria a ONU e inicia o sistema internacional de 
proteção dos direitos humanos (art. 1º, 3). Não 
consagra direitos, nem cria órgãos 
especificamente voltados a promover a 
observância dos direitos humanos no plano 
internacional. No entanto, define que a proteção 
da dignidade humana é um dos fundamentos da 
paz e do bem-estar no mundo e atribui, portanto, 
à promoção dos direitos humanos, o caráter de 
tema prioritário da sociedade internacional (art. 
55, “c”). 
Declaração Universal dos 
Direitos Humanos 
1948 
Documento mais respeitado em matéria de 
direitos humanos no âmbito global; juntamente 
com o PIDCP e o PIDSEC, dá início ao 
desenvolvimento do Direito Internacional dos 
Direitos Humanos como um ramo autônomo do 
Direito Internacional. Do ponto de vista técnico-
formal não é um tratado, mas uma resolução da 
Assembleia Geral da ONU, razão pela qual há 
discussão na doutrina acerca de seu caráter 
jurídico vinculante. 
Pacto Internacional dos 
Direitos Civis e Políticos 
1966 
É um tratado cujos preceitos são juridicamente 
vinculantes e que tem como objetivo principal 
detalhar os direitos estabelecidos na DUDH e 
contribuir para sua aplicação. Cria mecanismos 
de monitoramento internacional de sua 
implementação pelos Estados Partes (Comitê de 
Direitos Humanos, que recebe relatórios sobre as 
medidas adotadas para tornar efetivos os direitos 
civis e políticos e comunicações interestatais). 
Protocolo Facultativo ao 
Pacto Internacional dos 
Direitos Civis e Políticos 
1966 
Tratado com a finalidade de instituir mecanismo 
de análise de petições de vítimas ao Comitê de 
Direitos Humanos por violações a direitos civis e 
políticos previstos no Pacto. 
Segundo Protocolo Adicional 
ao Pacto Internacional dos 
Direitos Civis e Políticos 
1989 
Tratado que tem como objetivo a abolição da pena 
de morte. Visa a avançar no sentido de proibir 
quase que completamente a pena de morte no 
mundo. 
Pacto Internacional dos 
Direitos Sociais, Econômicos 
e Culturais 
1966 
Tratado que visa a promover e proteger os direitos 
econômicos, sociais e culturais, que também 
deverão ser objeto da atenção dos Estados, os 
quais deverão progressivamente assegurar seu 
gozo, por esforços próprios ou pela cooperação 
internacional, com o auxílio de todos os meios 
apropriados nos planos econômico e técnico e até 
o máximo de seus recursos disponíveis (art. 2, 1). 
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019 
 
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Importante Lacuna:não foi criado um Comitê 
específico para monitorar o cumprimento do 
PIDESC pelos Estados, como ocorreu no PIDCP. 
Protocolo Facultativo ao 
Pacto Internacional dos 
Direitos Sociais, Econômicos 
e Culturais 
2008 
Tratado que veio contribuir para a efetivação dos 
direitos econômicos, sociais e culturais, ao 
combinar o sistema de petições, o procedimento de 
investigação e as medidas provisionais 
(cautelares), reafirmando, assim, a exigibilidade e 
a justiciabilidade de tais direitos e os equiparando, 
finalmente, ao regime jurídico internacional dos 
direitos civis e políticos. O seu art. 1º prevê a 
competência do Comitê de Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais para receber petições 
individuais ou no interesse de indivíduos e grupos 
de indivíduos, que noticiem violação de direitos 
econômicos, sociais e culturais realizadas pelo 
Estado Parte. 
Convenção para a Prevenção 
e a Repressão do Crime de 
Genocídio 
1948 
Tratado celebrado logo após a 2ª Guerra Mundial 
que denota a preocupação da comunidade 
internacional em evitar a repetição de 
determinados atos de violência ocorridos durante 
o conflito, que foram dirigidos especificamente a 
certos grupos nacionais, raciais e religiosos. A 
Convenção parte da percepção de que o genocídio 
é algo “odioso”, que causou grandes perdas para a 
humanidade no decorrer da história, e cujo 
enfrentamento requer a cooperação internacional. 
Genocídio como crime de jus cogens. Foi o primeiro 
tratado a definir o crime (art. 2º). 
Convenção Relativa ao 
Estatuto dos Refugiados 
1951 
Tratado internacional que tem como objetivo 
precípuo a proteção dos refugiados ao redor do 
globo. Inicialmente, a Convenção possuía uma 
limitação temporal (para acontecimentos ocorridos 
antes de 1º de janeiro de 1951) e outra geográfica 
(somente para os eventos ocorridos na Europa) 
para a definição de refugiado, que foram abolidas 
posteriormente por um Protocolo adicional. 
Protocolo de 1967 Relativo ao 
Estatuto dos Refugiados 
1967 
Tratado que eliminou as limitações (temporal e 
geográfica) trazidas pela Convenção de 1951. 
Combinando-se o art. 1º do Protocolo com o art. 
1º da Convenção, refugiado é a “pessoa que é 
perseguida ou tem fundado temor de perseguição; 
por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo 
social ou opiniões políticas e encontra-se fora do 
país de sua nacionalidade ou residência; e que não 
pode ou não quer voltar a tal país em virtude da 
perseguição ou fundado temor de perseguição”. 
Regras Mínimas das Nações 
Unidas para o Tratamento de 
Presos (Regras de Mandela) 
1955 
Estabelecem os padrões internacionais mínimos 
para o tratamento de reclusos. Foram adotadas 
pelo I Congresso das Nações Unidas para a 
Prevenção do Crime e para o Tratamento de 
Delinquentes, em 1955, aprovadas pelo Conselho 
Econômico e Social em 1957 e 1977. Em maio de 
2015, foram atualizadas pela Comissão das 
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Nações Unidas sobre Prevenção do Crime e Justiça 
Criminal, tendo tais atualizações sido aprovadas, 
à unanimidade, pela Assembleia Geral da ONU em 
dezembro de 2015. Foi aprovada, pela Assembleia 
Geral da ONU, a denominação honorífica da 
Resolução como “Regras Nelson Mandela”, em 
homenagem a quem passou 27 anos de sua vida 
preso, na luta pelos direitos humanos, igualdade, 
democracia e promoção da cultura da paz. Estas 
regras possuem natureza de soft law (conjunto de 
normas não vinculantes de Direito Internacional) 
e espelham diversos direitos dos presos, previstos 
em tratados, como, por exemplo, o direito à 
integridade física e psíquica, igualdade, liberdade 
de religião, direito à saúde, entre outros. A 
aplicação dessas regras deve ser feita de forma 
imparcial, sem qualquer tipo de discriminação 
(com base em raça, cor, sexo, língua, religião, 
opinião política ou outra, origem nacional ou 
social, meios de fortuna, nascimento ou outra 
condição). Entretanto, as crenças religiosas e os 
preceitos morais do grupo a que pertença o recluso 
devem ser respeitados. Devem ser respeitados os 
demais direitos fundamentais do preso não 
afetados pela restrição de sua liberdade. 
Convenção Suplementar 
sobre Abolição da 
Escravatura, do Tráfico de 
Escravos e das Instituições e 
Práticas Análogas à 
Escravatura 
1956 
O tratado sucedeu a Convenção sobre Escravatura 
de 1926, emendada pelo Protocolo de 1953, com o 
intuito de intensificar os esforços para abolir a 
escravidão, o tráfico de escravos e as instituições 
e práticas análogas à escravidão. Veio em resposta 
a um problema persistente em todo o mundo 
ainda hoje: as práticas análogas à escravidão, 
também denominadas “escravidão 
contemporânea”, já que episódios de redução a 
condição análoga de escravo ainda ocorrem no 
mundo, inclusive no Brasil. 
Convenção Internacional 
sobre a Eliminação de todas 
as Formas de Discriminação 
Racial 
1966 
Tratado que tem como finalidade promover e 
encorajar o respeito universal e efetivo pelos 
direitos humanos, sem qualquer tipo de 
discriminação, em especial a liberdade e a 
igualdade em direitos, tendo em vista que a 
discriminação entre seres humanos constitui 
ameaça à paz e à segurança entre os povos. O 
combate à discriminação racial parte dos 
princípios da universalidade, da igualdade e da 
não discriminação, que levam à premissa de que 
todos os indivíduos possuem uma dignidade que 
lhes é inerente e que não pode ser afetada por 
qualquer motivo, inclusive de raça. A Convenção 
fundamenta-se também no entendimento de que 
qualquer doutrina de superioridade baseada em 
diferenças raciais é cientificamente falsa, 
moralmente condenável, socialmente injusta e 
perigosa, e que não existe justificativa para a 
discriminação racial, teórica ou prática. 
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Convenção sobre a 
Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação 
contra a Mulher (CEDAW) 
1979 
Tendo em vista a persistente manutenção das 
discriminações contra a mulher ao redor do 
mundo, esse tratado visa a contribuir para 
conferir maior peso político e jurídico à proteção 
da dignidade da mulher, cuja situação na maioria 
das sociedades do mundo, no decorrer da história 
e na atualidade, nem sempre tem sido marcada 
pelo gozo de direitos em patamar de igualdade com 
os homens. Além disso, a Convenção visa a tutelar 
certas peculiaridades da condição da mulher, 
como a maternidade. 
Protocolo Facultativo à 
Convenção sobre a 
Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação 
contra a Mulher 
1999 
O tratado teve por objetivo aperfeiçoar o sistema 
de monitoramento da CEDAW, assegurando o 
direito de petição quanto às violações dos direitos 
nela garantidos. Por meio dele o Estado reconhece 
a competência do Comitê sobre a Eliminação da 
Discriminação contra a Mulher para receber e 
considerar comunicações apresentadas por 
indivíduos ou grupo de indivíduos – ou em nome 
deles, se contarem com seu consentimento ou se 
for justificada a ação independente do 
consentimento – que se encontrem sob sua 
jurisdição e que sejam vítimas de violações de 
quaisquer dos direitos estabelecidos na 
Convenção (arts. 1º e 2º). 
Convenção contra a Tortura 
e Outros Tratamentos ou 
Penas Cruéis, Desumanos ou 
Degradantes 
1984 
A conclusão de um tratado específico quanto ao 
tema demonstra a preocupação da sociedade 
internacional com a tortura, fato recorrente na 
história da humanidade, que atinge diretamente a 
vida e à integridade física e mental da pessoa e que 
é promovido pelo ente que tem como compromisso 
primário proteger a dignidade humana: o Estado. 
A Convenção dispõe expressamente que ninguém 
será sujeito à tortura ou a pena ou tratamento cruel, 
desumano ou degradante. 
Regras Mínimas daONU 
para Administração da 
Justiça da Infância e 
Juventude (Regras de 
Beijing) 
1985 
Adotadas pela Assembleia Geral das Nações 
Unidas na sua Resolução 40/33, de 29 de 
novembro de 1985, estas regras, que são normas 
soft law, têm como objetivo instar os Estados 
Membros a procurar, em consonância com seus 
respectivos interesses gerais, promover o bem-
estar da criança e do adolescente e de sua família, 
bem como a se esforçar para criar condições que 
garantam à criança e ao adolescente uma vida 
significativa na comunidade, fomentando, durante 
o período de idade em que ele é mais vulnerável a 
um comportamento desviado, um processo de 
desenvolvimento pessoal e de educação o mais 
isento possível do crime e da delinquência. Deverá 
ser concedida a devida atenção à adoção de 
medidas concretas que permitam a mobilização de 
todos os recursos disponíveis, com a inclusão da 
família, de voluntários e outros grupos da 
comunidade, bem como da escola e de demais 
instituições comunitárias, com o fim de promover 
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o bem-estar da criança e do adolescente, reduzir a 
necessidade da intervenção legal e tratar de modo 
efetivo, equitativo e humano a situação de conflito 
com a lei. 
Protocolo Facultativo à 
Convenção contra a Tortura 
e Outros Tratamentos ou 
Penas Cruéis, Desumanos ou 
Degradantes 
2002 
Tratado que teve por objetivo estabelecer um 
sistema de visitas regulares de órgãos nacionais e 
internacionais independentes a lugares onde as 
pessoas são privadas de liberdade, com o intuito 
de prevenir a tortura e outros tratamentos ou 
penas cruéis, desumanos ou degradantes (art. 1º). 
Protocolo de Istambul 1999 
A incompatibilidade entre a proibição da tortura e 
sua subsistência no cenário contemporâneo 
evidencia a necessidade constante de 
implementação de medidas eficazes contra 
tratamentos desumanos por parte dos Estados. 
Por este motivo, foi apresentado ao Alto 
Comissariado das Nações Unidas para os Direitos 
Humanos, em 1999, um manual para a 
investigação e documentação eficazes da tortura e 
outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos 
ou degradantes, que foi denominado Protocolo de 
Istambul. Em 2003, o documento foi oficialmente 
adotado pelo Alto Comissariado, como manual 
modelo na área, bem como tem sido sua utilização 
recomendada no âmbito do Conselho de Direitos 
Humanos (relatoria especial contra a tortura, por 
exemplo). Juridicamente o Protocolo não é 
vinculante, por ser norma soft law. 
Convenção sobre os Direitos 
da Criança 
1989 
Tratado voltado especificamente para a proteção 
dos direitos humanos das crianças. A Convenção 
leva em conta o direito de que as pessoas na 
infância recebam cuidados e assistência especiais, 
em virtude da falta de maturidade física e mental, 
conforme reconheceu a DUDH, bem como a 
Declaração de Genebra de 1924 sobre os Direitos 
da Criança, a Declaração dos Direitos da Criança 
adotada pela Assembleia Geral da ONU em 20 de 
novembro de 1959 e PIDCP e PIDSEC. Embora 
outros diplomas internacionais também confiram 
proteção às crianças, a Convenção sistematizou 
não só direitos civis e políticos, mas também 
econômicos, sociais e culturais em um só texto, 
voltado especificamente para a sua proteção. 
Protocolo Facultativo à 
Convenção sobre os Direitos 
da Criança referente à venda 
de crianças, à prostituição 
infantil e à pornografia 
infantil 
2000 
Tratado adotado com a finalidade de ampliar 
medidas previstas na Convenção, com a finalidade 
de garantir a proteção das crianças (grupo 
particularmente vulnerável e mais exposto ao risco 
de exploração sexual) contra a venda de crianças, 
a prostituição infantil e a pornografia infantil, ante 
a preocupação com o significativo e crescente 
tráfico internacional de crianças para tais fins, 
com a prática disseminada do turismo sexual e 
com a crescente disponibilidade de pornografia 
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infantil na internet e em outras tecnologias 
modernas. 
O Protocolo Facultativo à 
Convenção Sobre os Direitos 
da Criança Relativo ao 
Envolvimento de Crianças 
em Conflitos Armados 
2000 
Tratado firmado com o objetivo de aumentar a 
idade para o possível recrutamento (forçado ou 
voluntário) de pessoas pelas forças armadas, 
reconhecendo-se as necessidades especiais das 
crianças particularmente vulneráveis ao 
recrutamento ou utilização em hostilidades, em 
decorrência de sua situação econômica, social ou 
de sexo. Leva em consideração as causas 
econômicas, sociais e políticas que levam ao 
envolvimento de crianças em conflitos armados. 
Enuncia que os Estados Partes deverão adotar 
todas as medidas possíveis para assegurar que 
membros de suas forças armadas menores de 18 
anos não participem diretamente de hostilidades e 
deverão assegurar que menores de 18 anos não 
serão recrutados de maneira compulsória em suas 
forças armadas (arts. 1º e 2º). Devem ainda elevar 
a idade mínima para o recrutamento voluntário de 
pessoas em suas forças armadas nacionais acima 
de 15 anos (art. 3º). 
Regras Mínimas da ONU 
para Proteção dos Jovens 
Privados de Liberdade 
1990 
Adotadas pela Assembleia Geral da ONU por meio 
da Resolução 45/113, de 14 de dezembro de 1990, 
estas regras, de caráter soft law, têm como 
objetivo fixar os padrões internacionais mínimos 
para o tratamento de jovens privados de sua 
liberdade. Afirmam que a reclusão de um jovem 
em um estabelecimento deve ser feita apenas em 
último caso e pelo menor espaço de tempo 
necessário; e também se reconhece que, devido a 
sua grande vulnerabilidade, os jovens privados de 
liberdade requerem e proteção especiais e que 
deverão ser garantidos seus direitos e bem-estar 
durante o período em que estejam privados de sua 
liberdade e também após este. 
Diretrizes das Nações Unidas 
para a Prevenção da 
Delinquência Juvenil 
(Diretrizes de Riade) 
1990 
Adotado pela Resolução 45/112, de 14 de 
dezembro de 1990, este documento, também de 
caráter soft law, fixa princípios orientadores para 
a atuação dos Estados, auxiliando-os no 
desenvolvimento de abordagens e estratégias 
nacionais, regionais e internacionais para a 
prevenção da delinquência juvenil. 
Convenção Internacional 
sobre a Proteção dos Direitos 
de Todos os Trabalhadores 
Migrantes e dos Membros 
das suas Famílias 
1990 
Este tratado foi elaborado tendo em vista uma 
série de diplomas internacionais já existentes 
sobre os direitos dos trabalhadores migrantes, 
bem como considerando a amplitude do fenômeno 
da migração, nessa era de globalização. Seu 
objetivo fundamental foi estabelecer normas para 
uniformizar princípios fundamentais relativos ao 
tratamento dos trabalhadores migrantes e de suas 
famílias, por meio de uma proteção internacional 
adequada, especialmente tendo em vista sua 
situação de vulnerabilidade e seu afastamento do 
Estado de origem. A elaboração do tratado 
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considerou ainda os problemas das migrações 
irregulares, em que os trabalhadores são 
frequentemente empregados em condições de 
trabalho menos favoráveis que outros, o que leva 
a que se procure tal mão de obra a fim de se 
beneficiar da concorrência desleal. Assim, seu 
texto considerou a necessidade de encorajar a 
adoção de medidas adequadas para prevenir e 
eliminar os movimentos clandestinos e o tráfico 
dos trabalhadores migrantes, assegurando, ao 
mesmo tempo, a proteção dos direitos 
fundamentais desses trabalhadores. 
Declaração e Programa de 
Ação de Viena 
1993 
A Declaração e Programa de Ação de Viena foi 
firmada em 1993, por ocasião da Conferência 
Mundialsobre Direitos Humanos. O objetivo da 
Declaração é o de reafirmar, no contexto 
internacional pós-Guerra Fria e de 
aprofundamento da globalização, os princípios 
relativos à proteção da dignidade humana e 
atualizá-los ao novo quadro internacional. 
Tecnicamente, a Declaração de Viena não é um 
tratado, consistindo apenas em documento de 
caráter político. Entretanto, seus dispositivos já 
fazem parte de tratados e de normas internas dos 
Estados e, desse modo, são vistos, por boa parte 
da doutrina, como normas costumeiras ou 
princípios gerais do Direito. 
Protocolo de Prevenção, 
Supressão e Punição do 
Tráfico de Pessoas, 
especialmente Mulheres e 
Crianças, complementar à 
Convenção das Nações 
Unidas contra o Crime 
Organizado Transnacional 
2000 
Este tratado é complementar à Convenção das 
Nações Unidas contra o Crime Organizado 
Transnacional, de 2000. Sua finalidade está 
pautada na prevenção e no combate ao tráfico de 
pessoas, que requer atuação conjunta dos países 
de origem, trânsito e destino, com medidas 
destinadas a prevenir o tráfico, punir os 
traficantes e proteger suas vítimas, nos termos de 
seu preâmbulo. 
Convenção Internacional 
para a Proteção de Todas as 
Pessoas contra o 
Desaparecimento Forçado 
2006 
Este tratado ressalta a necessidade de prevenir o 
desaparecimento forçado de pessoas e de 
combater a impunidade nesses casos, afirmando 
o direito à verdade das vítimas sobre as 
circunstâncias do desaparecimento forçado e o 
destino da pessoa desaparecida, bem como o 
direito à liberdade de buscar, receber e difundir 
informação com este fim. Foi adotada após a 
adoção da Declaração sobre a Proteção de Todas 
as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados 
pela Assembleia Geral das Nações Unidas 
(Resolução n. 47/133), de 1992, tendo em vista a 
gravidade do desaparecimento forçado, que 
constitui crime e, em certas circunstâncias 
definidas pelo Direito Internacional, crime contra 
a humanidade. 
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Convenção Internacional 
sobre os Direitos das Pessoas 
com Deficiência 
2007 
A Convenção visa a promover, a proteger e a 
assegurar o exercício pleno e equitativo dos 
direitos humanos por todas as pessoas com 
deficiência e a fomentar o respeito pela dignidade 
que lhes é inerente (art. 1°), tratando-as em 
condições de igualdade em face dos demais 
integrantes do gênero humano e contribuindo, 
desse modo, “para corrigir as profundas 
desvantagens sociais” com que convivem e para 
permitir sua maior participação na vida social. Foi 
o primeiro tratado aprovado pelo Brasil na 
forma do § 3º, do art. 5º, da CRFB, tendo, 
portanto, equivalência de emenda 
constitucional na ordem jurídica brasileira. 
Protocolo Facultativo à 
Convenção Internacional 
sobre os Direitos das Pessoas 
com Deficiência 
2007 
Por meio deste Protocolo, os Estados reconhecem 
a competência do Comitê sobre os Direitos das 
Pessoas com Deficiência para receber e considerar 
comunicações submetidas por pessoas ou grupos 
de pessoas, ou em nome deles, sujeitos à sua 
jurisdição, alegando serem vítimas de violação das 
disposições da Convenção pelo referido Estado 
Parte. O Comitê tem competência para o exame 
dos relatórios periódicos e para o exame de 
petições das vítimas. 
Regras das Nações Unidas 
para o Tratamento de 
Mulheres Presas e Medidas 
não Privativas de Liberdade 
para Mulheres Infratoras 
(Regras de Bangkok) 
2010 
Trata-se de um conjunto de normas de soft law, 
não possuindo força vinculante aos Estados. 
Porém, serve como importante vetor de 
interpretação do alcance de normas nacionais e 
internacionais sobre direitos humanos que podem 
incidir sobre as mulheres presas, como, por 
exemplo, o direito à integridade pessoal, devido 
processo legal, entre outras, bem como para 
orientar a produção normativa posterior. 
Vale aqui ressaltar o Tratado de Marraquexe para Facilitar o Acesso a 
Obras Publicadas para Pessoas Cegas, adotado em 2013 pela conferência 
diplomática da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Este 
tratado tem como objetivo possibilitar às pessoas cegas, com deficiência visual 
ou com outras dificuldades de leitura, o acesso ao conteúdo de livros 
originalmente impressos, principalmente “a criação de instrumentos normativos 
e administrativos internos voltados a assegurar o acesso facilitado à reprodução 
e distribuição de obras em formato acessível aos cegos e deficientes visuais, 
superando limitações (por exemplo, direitos autorais). Visa, assim, eliminar a 
escassez crônica de publicação de obras em formatos acessíveis a pessoas com 
deficiência visual, democratizando o acesso à cultura, educação, bem como ao 
Direitos Humanos Prof. Luciano Meneguetti – ver. 03 - set. 2019 
 
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desenvolvimento pessoal e ao trabalho em igualdade de oportunidades”.2 Trata-
se de mais um tratado aprovado pelo Brasil de acordo com o § 3º, do art. 
5º, da CRFB, tendo, portanto, equivalência de emenda constitucional no 
ordenamento jurídico brasileiro. 
Além da proteção de caráter normativo, que se dá por meio de todos os 
tratados internacionais (e por textos de outra natureza, v.g., declarações, 
diretrizes, regras etc.) acima elencados, o sistema global conta ainda com órgãos 
e mecanismos internacionais de monitoramento dos direitos humanos, que 
serão os responsáveis pela aplicação e efetivação das normas internacionais. 
A ONU possui órgãos próprios e também relações de apoio administrativo 
e técnico com vários órgãos criados pelos diversos tratados que são elaborados 
sob seu patrocínio, voltados à proteção dos direitos humanos. Esse conjunto de 
mecanismos de proteção geridos tanto por órgãos onusianos quanto por órgãos 
previstos em tratados diversos apoiados pela ONU também integra o denominado 
“sistema global, internacional, onusiano ou universal de direitos humanos”. O 
ponto que une esses órgãos é a atuação da ONU, quer (i) diretamente (órgãos da 
própria organização) ou (ii) indiretamente (órgãos independentes, previstos em 
tratados elaborados sob seu patrocínio e que recebem apoio técnico e 
administrativo da Organização). 
São órgãos das Nações Unidas voltados à proteção dos direitos humanos: 
• o Conselho de Direitos Humanos – criado em 2006, por meio da 
Resolução n. 60/251 da Assembleia Geral da ONU, o Conselho 
substituiu a antiga Comissão de Direitos Humanos (1946-2006), que 
havia sido criada pelo Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC). 
Sua principal função é promover o respeito universal aos direitos 
humanos por meio do acompanhamento do cumprimento dos 
compromissos internacionais celebrados pelos entes estatais na 
matéria. É composto por 47 Estados-membros, escolhidos por votação 
secreta da Assembleia Geral da ONU, para um mandato de 3 (três) 
anos. Tem competência para (i) promover e fiscalizar a observância da 
proteção de direitos humanos pelos Estados da ONU e (ii) atualmente, 
 
2 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, e-
book. 
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gere o sistema dos procedimentos especiais e o Mecanismo da Revisão 
Periódica Universal (RPU); 
 
Procedimentos Especiais – Paulo H. G. Portela explica que os 
procedimentos especiais são aqueles previstos nas Resoluções n. 1235, de 
1967 (procedimento público), e n. 1503, de 1970 (procedimento confidencial), do 
Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC). “São objeto de um 
mandato conferido a um especialista, chamado de ‘relator especial’ (special 
rapporteur), ou a um grupo de trabalho, competentes para examinar 
transgressões das normas de direitos humanos e para elaborar estudos e 
relatórios e emitirrecomendações a respeito, podendo receber reclamações 
individuais, prestar assessoria aos interessados e formular e executar 
iniciativas dirigidas à promoção dos direitos humanos. Os procedimentos 
especiais podem incluir visitas aos Estados. Tais missões dependem, porém, 
de que os entes estatais a serem visitados tenham, previamente, declarado sua 
anuência em receber tais missões, por meio dos chamados ‘convites 
permanentes’ (standing invitations), os quais, quando apresentados, implicam 
que os Estados deverão sempre aceitar pedidos de visitas em sede de 
procedimentos especiais”.3 
Revisão Periódica Universal (RPU) – Um dos mais importantes 
instrumentos de ação do Conselho de Direitos Humanos é o do RPU. A 
essência desse mecanismo é o peer review (monitoramento pelos pares), pelo 
qual um Estado tem a sua situação de direitos humanos analisada pelos 
demais Estados da ONU. Conforme explica André de Carvalho Ramos, o 
“RPU prevê que todos os Estados da ONU serão avaliados em períodos de 
quatro a cinco anos, evitando-se a seletividade e os parâmetros dúbios da escolha 
de um determinado país e não outro”.4 O procedimento do RPU foi 
estabelecido pela Resolução n. 5/1 do Conselho de Direitos Humanos, de 18 
de junho de 2007. Quanto à composição, são os Estados-membros do 
Conselho de Direitos Humanos avaliam o Estado. Todos os Estados da 
ONU devem passar pela RPU a cada quatro anos. Quanto à competência, o 
RPU visa estabelecer um “diálogo construtivo” com o Estado examinado, de 
modo que os compromissos são voluntários e não podem ser impostos ao 
Estado sob revisão. Portanto, não há nesse procedimento qualquer condenação 
formal dos Estados como haveria, v.g., perante os tribunais internacionais de 
direitos humanos. No caso do peer review o cumprimento das recomendações 
é totalmente voluntário, dependendo a sua efetividade da boa vontade (e, 
sobretudo, da ética) dos Estados.5 
 
3 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Incluindo Noções 
de Direitos Humanos e de Direito Comunitário. Salvador: JusPODIVM, 2017, p. 916. 
4 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit. 
5 Vide página da RPU relativa ao Brasil no sítio da ONU: <https://goo.gl/j21jVZ>. Acesso em 04 
out. 2018. 
https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=R4ukdbt8YK0
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• os Relatores Especiais de Direitos Humanos – a partir da criação dos 
procedimentos especiais pelas Resoluções n. 1235 (procedimento 
público) e n. 1503 (procedimento confidencial)6 do ECOSOC, 
especialmente em razão do primeiro surgiu a necessidade de nomeação 
de órgãos de averiguação de violações de direitos humanos, cuja 
abrangência pode ser geográfica (por país) ou temática. Tais órgãos 
podem ser unipessoais ou coletivos e a denominação é variada, isto é, 
nos casos unipessoais, há o uso da expressão “Relator Especial” ou 
ainda “Especialista Independente”; no caso dos órgãos colegiados, 
utiliza-se a expressão “Grupo de Trabalho”. Conforme explica André de 
Carvalho Ramos, o trabalho desses órgãos “consiste em realizar visitas 
aos países, em missões de coleta de dados (fact-finding missions), bem 
como em agir diante de violações de direitos humanos solicitando (não 
podem exigir) atenção do Estado infrator sobre os casos. Seus relatórios 
não vinculam, apenas contêm recomendações, que são enviadas aos 
Estados e também ao Conselho de Direitos Humanos e Assembleia 
Geral da ONU”.7 
• o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos 
(OHCHR) – é o principal órgão da ONU encarregado de promover e 
proteger os direitos humanos. Foi criado pela Resolução 48/141 da 
Assembleia Geral da ONU, de 1993, a partir de recomendação da 
Conferência Mundial sobre Direitos Humanos de Viena, ocorrida no 
mesmo ano. Conforme explica Paulo H. G. Portela a “função precípua 
do OHCHR é promover e proteger os direitos humanos no mundo e 
liderar os esforços das Nações Unidas nesse sentido, conferindo 
também maior relevância política ao tratamento do tema (...) inclui, 
entre suas competências específicas, o apoio aos demais órgãos da ONU 
envolvidos com a matéria, abrangendo a coordenação das atividades 
que desenvolvem e o esforço para que todas as áreas das Nações Unidas 
 
6 O procedimento confidencial tem alcance diminuto, pois visa apenas detectar quadro de 
violação grave e sistemática de direitos humanos em um país. 
7 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos, op. cit. 
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incluam considerações relativas à proteção da dignidade humana no 
tratamento dos temas de sua competência”.8 
São órgãos e entes externos, criados por tratados diversos elaborados com 
incentivo explícito da ONU e que recebem apoio da Organização: 
• os Comitês criados por tratados internacionais de âmbito universal 
– têm como principal atribuição monitorar o cumprimento das 
obrigações que os Estados assumiram dentro do sistema global ao 
aderirem ou ratificarem determinado tratado. Estão voltados, portanto, 
a assegurar a observância das normas convencionais (seja de um único 
tratado ou de uma restrita série de acordos específicos); 
COMITÊS QUE INTEGRAM A ARQUITETURA DE PROTEÇÃO DOS 
DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS 
Nome do Comitê Tratado determinante da criação 
Comitê de Direitos Humanos 
Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
Políticos 
Comitê de Direitos Sociais, Econômicos e 
Culturais 
Protocolo Facultativo ao Pacto 
Internacional dos Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais 
Comitê para a Eliminação da 
Discriminação Racial 
Convenção sobre a Eliminação de Todas 
as Formas de Discriminação Racial 
Comitê sobre a Eliminação da 
Discriminação contra a Mulher 
Convenção sobre a Eliminação de Todas 
as Formas de Discriminação contra a 
Mulher (CEDAW) 
Comitê contra a Tortura 
Convenção contra a Tortura e outros 
Tratamentos ou Penas Cruéis, 
Desumanos ou Degradantes 
Comitê para os Direitos da Criança Convenção sobre os Direitos da Criança 
Comitê sobre os Direitos das Pessoas 
com Deficiência 
Convenção Internacional sobre os 
Direitos das Pessoas com Deficiência 
Comitê contra Desaparecimentos 
Forçados 
Convenção Internacional para a Proteção 
de Todas as Pessoas contra o 
Desaparecimento Forçado 
 
 
 
8 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, op. cit., p. 914. 
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O Comitê de Direitos Humanos é um órgão da ONU, composto por 18 
peritos independentes, cuja criação e funcionamento foram regulados pelo 
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos – PIDCP (arts. 28 a 39).9 
O primeiro Protocolo ao referido Pacto instituiu um mecanismo de 
análise de petições de vítimas ao Comitê, por violações a direitos civis 
e políticos previstos no PIDCP. Estes dois tratados, PIDCP e Protocolo são 
normas de caráter supralegal no ordenamento jurídico brasileiro, de 
acordo com o entendimento atual do Supremo Tribunal Federal. 
Em 17 de agosto de 2018, o Comitê proferiu uma decisão (medida 
provisória ou interim measures) contra o Estado brasileiro, envolvendo o 
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o Comitê, o Brasil estaria 
violando direitos civis e políticos previstos no PIDCP (precisamente o art. 
25), razão pela qual “solicitou” ao país a adoção de medidas provisórias 
aptas a fazer cessar a violação de tais direitos e possibilitar que Lula 
concorresse “nas eleições de 2018” até a existência de uma sentença 
irrecorrível (o que até o presente momento não há) e com “acesso 
adequado à imprensa e aos membros do seu partido político”. Em outra 
decisão subsequente, proferida em 10 desetembro de 2018, o Comitê 
reafirmou que o Judiciário, Executivo e Legislativo brasileiros têm que 
cumprir a sua decisão e permitir candidatura de Lula. 
A questão foi muito debatida no Brasil. Em relação a tais decisões, há 
basicamente dois posicionamentos divergentes. Alguns alegam que as 
decisões do Comitê são obrigatórias e vinculantes para o Brasil, sob o 
argumento de que: (i) as decisões do Comitê são de um órgão internacional 
ao qual o Brasil reconheceu a competência para fiscalizar o cumprimento 
e eventuais violações dos direitos previstos no PIDCP; (ii) o Brasil aderiu 
internacionalmente ao Protocolo ao depositar a carta de adesão. Por outro 
lado, outros alegam que tais decisões seriam apenas uma recomendação 
e por isso não poderiam vincular juridicamente o Estado brasileiro, 
argumentando que: (i) as recomendações são de cunho político e não têm 
força vinculante para o país; (ii) a não existência de um decreto 
presidencial internalizando o Protocolo, de modo que ele ainda não integra 
a ordem jurídica brasileira. 
É preciso ressaltar que o Congresso Nacional brasileiro aprovou o referido 
Protocolo ao PIDCP por meio do Decreto Legislativo n. 311, de 17 de junho 
de 2009, ratificando-o em 25 ele setembro ele 2009. No entanto, até o 
presente momento o Brasil ainda não internalizou o referido tratado por 
meio de um decreto presidencial que, de acordo com o entendimento do 
STF, é o instrumento necessário para a vigência dos tratados 
internacionais no plano interno brasileiro. No entanto, com a ratificação 
do tratado internacional, o Brasil já se torna obrigado internacionalmente 
ao seu cumprimento, sob pena de responsabilização internacional. 
 
 
9 O Brasil depositou a Carta de Adesão ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos 
junto à ONU em 24 de janeiro de 1992. Posteriormente, o país internalizou o referido tratado por 
meio do Decreto Presidencial n. 592, de 06 de julho de 1992, momento em que passou a integrar 
a ordem jurídica brasileira com força de norma supralegal. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0592.htm
https://www.viomundo.com.br/politica/urgente-conselho-de-direitos-humanos-da-onu-garante-os-direitos-politicos-de-lula-ser-candidato-nas-eleicoes-de-2018-incluindo-acesso-apropriado-a-imprensa.html
https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=23464&LangID=E
https://lula.com.br/wp-content/uploads/2018/09/Scanner_20180910_164015-3.pdf
https://lula.com.br/wp-content/uploads/2018/09/Scanner_20180910_164015-3.pdf
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/2009/decretolegislativo-311-16-junho-2009-588912-publicacaooriginal-113605-pl.html
http://indicators.ohchr.org/
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• o Tribunal Penal Internacional (TPI) – criado pelo Estatuto de Roma 
de 1998, o TPI visa, precipuamente, a processar e a julgar indivíduos 
que tenham cometido “crimes internacionais”', assim entendidos 
aqueles atos ilícitos, tipificados no Estatuto, que se revestem de maior 
gravidade, que tenham alcance internacional e que incluem atos 
atentatórios aos direitos humanos, como os crimes de genocídio e de 
guerra e os crimes contra a humanidade. No entanto, conforme 
esclarece Paulo H. G. Portela, “o TPI ainda não está aberto a examinar 
todas as causas envolvendo direitos humanos, mas apenas aquelas de 
maior gravidade e de alcance internacional (...). Outrossim, o TPI não é 
proclamado especificamente como cone internacional de direitos 
humanos, nem pela doutrina nem por seus próprios instrumentos 
constitutivos”.10 
Além destes órgãos que foram analisados, importa ainda mencionar o 
Conselho Econômico e Social (ECOSOC), criado pela Carta das Nações Unidas 
(Capítulo X, arts. 61 a 72) como órgão ONU responsável por coordenar assuntos 
internacionais de caráter econômico, social, cultural, educacional, de saúde e 
conexos. Trata-se do foro central para discussão desses temas e de formulação 
de recomendações aos Estados e ao sistema das Nações Unidas. É composto por 
54 Estados das Nações Unidas eleitos pela Assembleia Geral e cada membro tem 
um voto. As decisões são tomadas por maioria dos membros presentes e 
votantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, op. cit., p. 935. 
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2. OS SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 
 
Além do sistema onusiano de proteção dos direitos humanos, de 
abrangência global, conforme visto, existem também os sistemas regionais de 
proteção desses direitos, que se encontram afetos a regiões distintas do globo e 
arquitetados junto a organizações internacionais específicas. Atualmente 
existem 3 (três) sistemas que se encontram estruturados em diferentes 
continentes: 
1) o Sistema Europeu de Proteção dos Direitos Humanos – arquitetado no 
âmbito da União Europeia (UE), pelo Conselho da Europa (CE); 
2) o Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos – 
arquitetado no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA); 
3) o Sistema Africano de Proteção dos Direitos Humanos – arquitetado no 
âmbito da União Africana (UA). 
Apesar da existência de alguns documentos voltados à proteção dos 
direitos humanos no plano regional árabe-islâmico, não é possível afirmar-se na 
atualidade a existência de um Sistema Árabe-Islâmico de Proteção dos Direitos 
Humanos, o que ainda é uma grande aspiração. Nesse contexto é possível 
destacar a existência dos seguintes documentos: (i) a Declaração Universal 
Islâmica de Direitos Humanos, de 1981; a Declaração dos Direitos Humanos do 
Cairo ou Declaração dos Direitos Humanos do Islam, adotada em 1990 pela 
Organização para a Cooperação Islâmica (OCI); e (iii) a Carta Árabe dos Direitos 
do Homem, adotada pelo Conselho da Liga dos Estados Árabes, em 1994 e 
atualizada em 2004. Vale destacar que os direitos humanos para os povos árabes 
se apresentam como um poder derivado de um poder divino, o que acaba por 
produzir situações complexas para determinados segmentos sociais, v.g., para 
as mulheres.11 
Por sua vez, no continente asiático não existe até o presente momento 
qualquer documento relevante sobre a proteção dos direitos humanos e sequer 
uma expectativa de conclusão de uma convenção regional ou sub-regional de 
direitos humanos. 
 
11 GUERRA, Sidney. Direito Internacional dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 
164. 
https://goo.gl/52Zisc
https://goo.gl/52Zisc
https://goo.gl/tXCeUL
https://goo.gl/tXCeUL
http://www.refworld.org/docid/3ae6b38540.html
http://www.refworld.org/docid/3ae6b38540.html
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Por fim, vale esclarecer que os sistemas internacionais (global e regionais) 
de proteção dos direitos humanos não são estanques, separados ou distantes 
um dos outros. Conforme ressalta Valerio Mazzuoli, “pelo contrário, o sistema 
global e os sistemas regionais são coadjuvantes e complementares. Isso significa 
que a falta de solução para um caso concreto no sistema interamericano (ou no 
sistema europeu, ou africano) de direitos humanos não impede a vítima de se 
dirigir às Nações Unidas para vindicar o mesmo direito, previsto num tratado 
pertencente ao sistema global (v.g., o Pacto Internacional dos Direitos Civis e 
Políticos de 1966)”.12 
Verifica-se então que os sistemas regionalizados de proteção dos direitos 
humanos são organizados paralelamente ao sistema de proteção global da ONU, 
sendo que a finalidade do sistema global é atuar de forma ampla em todos os 
Estados soberanos, tendo os sistemas regionais uma atuação complementar 
àquele, buscando-se aperfeiçoar e fortalecer asdeterminações dos moldes gerais, 
bem como tratar das especificidades relativas aos direitos humanos em cada 
âmbito regional. 
Rhona K. M. Smith, ao apontar algumas vantagens dos sistemas regionais, 
destaca que, “na medida em que um número menor de Estados está envolvido, 
o consenso político se torna mais facilitado, seja com relação aos textos 
convencionais, seja quanto aos mecanismos de monitoramento. Muitas regiões 
são ainda relativamente homogêneas, com respeito à cultura, à língua e às 
tradições, o que oferece vantagens”.13 
Atualmente, portanto, está consolidada a convivência entre o sistema 
global de proteção dos direitos humanos (integrado pelos instrumentos das 
Nações Unidas acima analisados) e os sistemas regionais de proteção desses 
direitos (europeu, interamericano e africano), cada um apresentando um aparato 
jurídico próprio. 
Na sequência será estudado o sistema interamericano de proteção dos 
direitos humanos, por ser aquele do qual o Brasil faz parte. 
 
12 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Os Sistemas Regionais de Proteção dos Direitos Humanos. Uma 
análise comparativa dos sistemas interamericano, europeu e africano. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2011, p. 16. 
13 SMITH, Rhona K. M. Textbook on International Human Rights. 6. ed. Oxford: Oxford University 
Press, 2014, p. 87. 
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2.1 O SISTEMA REGIONAL INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS 
 
2.3.1 Aspectos introdutórios 
 
O sistema interamericano de direitos humanos (SIDH) está constituído no 
âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA)14, uma organização 
internacional intergovernamental, criada por um ato internacional, isto é, por um 
tratado, especificamente pela Carta da Organização dos Estados Americanos (ou 
Carta da OEA)15, aprovada na IX Conferência Internacional Pan-Americana, 
realizada em Bogotá, em 1948. 
Pode-se afirmar que o sistema interamericano de direitos humanos foi 
“inaugurado” formalmente pela Carta da OEA, que destacou em seu preâmbulo 
a necessidade de contemplar um sistema capaz de garantir o respeito aos direitos 
humanos no continente americano.16 Mais tarde previu o seu atual art. 53 que 
a OEA realiza os seus fins por intermédio de alguns órgãos específicos, dentre 
eles a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Comissão IDH). 
 
 
 
 
 
14 A OEA é também uma organização regional, de acordo com o art. 52 (1) da Carta das Nações 
Unidas: “Nada na presente Carta impede a existência de acordos ou de entidades regionais, 
destinadas a tratar dos assuntos relativos à manutenção da paz e da segurança internacionais 
que forem suscetíveis de uma ação regional, desde que tais acordos ou entidades regionais e 
suas atividades sejam compatíveis com os Propósitos e Princípios das Nações Unidas”. 
15 O texto da Carta está disponível em: <https://goo.gl/EQKcFN>. Acesso em 25 abr. 2018. A 
Carta foi posteriormente reformada pelo Protocolo de Reforma da Carta da Organização dos 
Estados Americanos (“Protocolo de Buenos Aires”), assinado em 27 de fevereiro de 1967, na 
Terceira Conferência Interamericana Extraordinária; pelo Protocolo de Reforma da Carta da 
Organização dos Estados Americanos (“Protocolo de Cartagena das Índias”), assinado em 5 de 
dezembro de 1985, no Décimo Quarto período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral; 
pelo Protocolo de Reforma da Carta da Organização dos Estados Americanos “Protocolo de 
Washington”), assinado em 14 de dezembro de 1992, no Décimo Sexto período Extraordinário de 
Sessões da Assembleia Geral; e pelo Protocolo de Reforma da Carta da Organização dos Estados 
Americanos (“Protocolo de Manágua”), assinado em 10 de junho de 1993, no Décimo Nono 
Período Extraordinário de Sessões da Assembleia Geral da OEA. 
16 “Certos de que o verdadeiro sentido da solidariedade americana e da boa vizinhança não pode 
ser outro senão o de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições 
democráticas, um regime de liberdade individual e de justiça social, fundado no respeito dos 
direitos essenciais do Homem”. 
https://goo.gl/EQKcFN
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Artigo 53. A Organização dos Estados Americanos realiza os seus fins por 
intermédio: 
a) Da Assembleia Geral; 
b) Da Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores; 
c) Dos Conselhos; 
d) Da Comissão Jurídica Interamericana; 
e) Da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; 
f) Da Secretaria-Geral; 
g) Das Conferências Especializadas; e 
h) Dos Organismos Especializados. 
Poderão ser criados, além dos previstos na Carta e de acordo com suas disposições, 
os órgãos subsidiários, organismos e outras entidades que forem julgados 
necessários. 
A existência de uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos para 
a proteção dos direitos humanos no continente americano foi prevista, ainda que 
não originariamente, pelo art. 106 da Carta da OEA17, que também previu que 
um tratado internacional posterior (no caso, a CADH), estabeleceria a sua 
estrutura, competência e normas de funcionamento: 
 
 
Artigo 106. Haverá uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos que terá por 
principal função promover o respeito e a defesa dos direitos humanos e servir como 
órgão consultivo da Organização em tal matéria. 
Uma convenção interamericana sobre direitos humanos estabelecerá a estrutura, a 
competência e as normas de funcionamento da referida Comissão, bem como as dos 
outros órgãos encarregados de tal matéria. 
 
 
17 A Carta da OEA, em sua redação original, não contemplava nenhum órgão ou mecanismo 
encarregado da promoção ou proteção dos direitos humanos, não havia nenhuma instância 
encarregada de supervisionar a vigência destes direitos no continente. Originariamente a 
Comissão IDH foi criada pela Resolução n. VIII, adotada durante a V Reunião de Consulta de 
Ministros de Relações Exteriores, em 1959 e iniciou suas operações em 1960, quando o Conselho 
da OEA aprovou seu Estatuto e elegeu os seus primeiros membros. “Em decorrência da criação 
da Comissão não ter sido realizada por um instrumento convencional e nem sido contemplada 
na estrutura institucional da OEA, mediante o Protocolo de Buenos Aires, em 1967, é que foi 
corrigida tal situação jurídica precária com a revisão da Carta da OEA, incorporando a Comissão 
IDH ao texto da Carta e designando-a como um órgão principal da Organização, que tem como 
função essencial promover a observância e proteção dos direitos humanos e servir como órgão 
consultivo da Organização, nestes assuntos” (FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de 
Direitos Humanos e o Sistema Interamericano. Timburi, 2016, e-book). 
http://www.oas.org/council/sp/RC/Actas/Acta%205.pdf
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Em razão destas disposições da Carta da OEA se afirma que a Comissão 
IDH é um órgão da OEA, embora ela também seja um órgão da Convenção 
Americana Sobre Direitos Humanos (CADH), conforme dispôs a própria 
Convenção, como se verá adiante. 
Na mesma Conferência em que foi adotada a Carta, os Estados americanos 
também adotaram a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem 
(1948)18, primeiro instrumento regional americano específico sobre direitos 
humanos. Esta Declaração não foi adotada na forma de um tratado 
internacional, de modo que não constitui um instrumento juridicamente 
vinculante que resulta obrigatório para os Estados. No entanto, tem-se 
sustentado que os direitos previstos nela têm a categoria de costume 
internacional ou que enuncia princípios fundamentais reconhecidos pelos 
Estados americanos.19 
Anos mais tarde, em 1969 é adotadano âmbito da OEA a Convenção 
Americana Sobre Direitos Humanos (CADH)20, o tratado regente e mais 
importante de proteção dos direitos humanos no continente americano. 
Portanto, atualmente o sistema de proteção internacional dos direitos 
humanos no continente americano abarca os procedimentos contemplados na 
Carta da Organização dos Estados Americanos e na Declaração Americana dos 
Direitos e Deveres do Homem, bem como na Convenção Americana Sobre Direitos 
Humanos. Em razão disso se costuma afirmar que no âmbito americano existe 
um duplo sistema de proteção dos direitos humanos:21 
a) o sistema geral da Carta e da Declaração Americana; que abrange todos 
os 35 países independentes e soberanos das Américas; e, 
b) o sistema específico da CADH, que abarca apenas os Estados que são 
partes na Convenção. 
 
 
 
18 Disponível em: <https://goo.gl/NgsnGz>. Acesso em 25 abr. 2018. 
19 Corte IDH – Interpretação da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem no 
âmbito do art. 64, da CADH, Opinião Consultiva OC - 10/89 de 14 de julho de 1989, parágrafos 
11, 14 e 18. 
20 Disponível em: <https://goo.gl/oGMsJh>. Acesso em 25 abr. 2018. 
21 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar. 3. ed. São Paulo: 2015, p. 143. 
https://goo.gl/NgsnGz
https://goo.gl/oGMsJh
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O “sistema americano é um sistema duplo com a presença de dois 
subsistemas normativos em matéria de direitos humanos, que são resultados da 
pluralidade de fontes jurídicas aplicáveis nessa matéria e do grau em que elas 
resultam vinculantes para os Estados. O primeiro subsistema compreende 
competências que possui a Organização de Estados Americanos com relação a 
todos seus membros [em decorrência da Carta da OEA e da Declaração 
Americana], o segundo somente é aplicável aos Estados Partes da Convenção e 
documentos conexos [em decorrência da CADH”.22 
A Carta da OEA é um documento mais abrangente no que tange ao número 
de Estados a ela submetidos, porém menos protetivo, por contemplar apenas a 
Comissão IDH como órgão voltado à proteção dos direitos humanos (art. 53). Já 
a CADH se apresenta como um documento menos abrangente no que diz respeito 
ao número de Estados a ela submetidos (só aqueles que a ratificaram ou a ela 
aderiram posteriormente), porém mais protetivo, pois além de contemplar a 
Comissão IDH como órgão de proteção dos direitos humanos, também instituiu 
a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), que é o órgão 
jurisdicional do sistema interamericano para a proteção dos direitos humanos, 
a ela se submetendo todos os Estados que reconhecem a sua jurisdição (art. 
33).23 
Além da Carta da Organização dos Estados Americanos (1948), da 
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948) e da Convenção 
Americana sobre Direitos Humanos (1969), o SIDH conta ainda com diversos 
outros tratados internacionais que compõem o corpus juris interamericano, que 
pode ser sintetizado conforme quadro abaixo: 
 
 
 
 
22 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos, op. cit. 
23 “Artigo 33. São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o cumprimento 
dos compromissos assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção: a) a Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Comissão; e b) a Corte 
Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Corte”. 
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INTRUMENTOS NORMATIVOS DO SISTEMA INTERAMERICANO 
Os instrumentos abaixo podem ser acessados na íntegra no site da Comissão IDH: 
<https://goo.gl/5Ck4Ps>. Acesso em 15 mai. 2017. 
 
Documentos institutivos da OEA e do Sistema Interamericano 
1. Carta da Organização dos Estados Americanos (1948) (tratado); 
2. Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948); 
Tratados internacionais de direitos humanos 
3. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969); 
4. Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (1985); 
5. Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em 
Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, “Protocolo de San 
Salvador” (1988); 
6. Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos referente à 
Abolição da Pena de Morte (1990); 
7. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência 
contra a Mulher, “Convenção de Belém do Pará” (1994); 
8. Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas 
(1994); 
9. Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (1999); 
10. Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e 
Formas Correlatas de Intolerância (2013); 
11. Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e 
Intolerância (2013); 
12. Convenção Interamericana sobre a Proteção dos Direitos Humanos das 
Pessoas Idosas (2015); 
Outros instrumentos relativos aos direitos humanos (soft law) 
13. Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão (2000); 
14. Carta Democrática Interamericana (2001); 
15. Princípios e Boas Práticas para a Proteção das Pessoas Privadas de 
Liberdade nas Américas (2008); 
16. Carta Social das Américas (2012); 
17. Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas (2016); 
Estatutos e Regulamentos dos órgãos do Sistema Interamericano 
18. Estatuto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; 
https://goo.gl/5Ck4Ps
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19. Regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; 
20. Regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre o 
Fundo de Assistência Jurídica do Sistema Interamericano de Direitos 
Humanos; 
21. Estatuto da Corte Interamericana de Direitos Humanos; 
22. Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos; 
23. Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre o 
Funcionamento do Fundo de Assistência Jurídica às Vítimas. 
O Sistema Interamericano “apresenta-se como ferramenta de importância 
inestimável para a garantia efetiva dos direitos humanos no continente 
americano, pois através dos dois órgãos de proteção dos direitos humanos 
previstos nos documentos internacionais americanos (Comissão e Corte 
Interamericana) garante-se não só o acompanhamento da conduta dos Estados-
membros, mas também a possibilidade de julgar casos atentatórios aos direitos 
humanos”.24 
 
2.3.2. Os órgãos de proteção dos direitos humanos no Sistema 
Interamericano 
 
De acordo com o art. 33 da Convenção Americana sobre Direitos 
Humanos, tem competência para realizar a proteção dos direitos humanos 
previstos na CADH dois importantes órgãos: (i) a Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. 
 
 
Artigo 33. São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o 
cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados Partes nesta Convenção: 
a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a 
Comissão; e b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada 
a Corte. 
 
 
 
 
24 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar, op. cit., p. 151. 
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COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (COMISSÃO IDH) 
 
A Comissão IDH25 é um órgão principal e autônomo da OEA, instituído 
pela Carta da OEA, conforme visto. Mas também é um órgão de proteção dos 
direitos humanos consagrado na Convenção, conforme estabelecido pelo art. 
33 da CADH. Conforme se nota, a Comissão possui tratamento normativoem 
dois tratados internacionais (Carta da OEA e a CADH). Ela tem, portanto, uma 
natureza dúplice ou ambivalente, isto é, constitui um órgão da OEA e também 
um órgão da CADH. 
De acordo com Adriano Fernandes Ferreira, com relação aos Estados que 
não ratificaram a CADH (mas que são membros da OEA), a Comissão IDH exerce 
funções puramente políticas ou diplomáticas. Já com relação aos Estados 
partes na Convenção, a Comissão também cumpre importantes funções de 
natureza “semi-jurisdicional”.26 
A Comissão IDH é um órgão criado pela Organização dos Estados 
Americanos para “promover o respeito e a defesa dos direitos humanos e 
servir como órgão consultivo da Organização” sobre a matéria, conforme 
estabelecido pelo art. 106 da Carta da OEA. Por determinação desse dispositivo 
convencional previsto na Carta, a CADH dispôs sobre a organização, funções, 
competência e procedimento da Comissão IDH em seus arts. 34 a 51. 
O art. 39 da CADH estabeleceu que “a Comissão elaborará seu estatuto e 
submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu próprio 
regulamento”. Portanto, importante notar que além da regulação prevista na 
CADH, a Comissão Interamericana também conta com normas 
regulamentadores em seu Estatuto27 e em seu Regulamento.28 
 
25 Vide site da Comissão IDH em: <http://www.oas.org/pt/cidh/>. Acesso em 15 mai. 2018. 
26 FERREIRA, Adriano Fernandes. Elementos de Direitos Humanos, op. cit. 
27 O estatuto da Comissão foi aprovado pela Resolução AG/RES. 447 (IX-O/79), adotada pela 
Assembleia Geral da OEA, em seu Nono Período Ordinário de Sessões, realizado em La Paz, 
Bolívia, em outubro de 1979. O texto integral do documento pode ser encontrado em: 
<https://goo.gl/5zEqA5>. Acesso em 15 mai. 2018. 
28 O regulamento da Comissão foi por ela aprovado em seu 137° período ordinário de sessões, 
realizado de 28 de outubro a 13 de novembro de 2009 e foi modificado em 02 de setembro de 
2011, em seu 147º período de sessões, celebrado de 08 a 22 de março de 2013, para entrada em 
vigor em 01 de agosto de 2013. O texto integral do documento pode ser encontrado em: 
<https://goo.gl/Kn0rMQ>. Acesso em 15 mai. 2018. 
http://www.oas.org/pt/cidh/
https://goo.gl/5zEqA5
https://goo.gl/Kn0rMQ
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A Comissão IDH representa todos os membros da Organização dos 
Estados Americanos (CADH, art. 35). Por isso, sua competência “alcança todos 
os Estados-partes da Convenção Americana em relação aos direitos da pessoa 
humana nela consagrados, como também a todos os Estados integrantes da 
Organização dos Estados Americanos, em relação aos direitos consagrados na 
Declaração Americana de 1948”.29 
Sua sede está situada em Washington, D.C., nos Estados Unidos. 
A Comissão realiza pelo menos dois períodos ordinários de sessões por 
ano, no lapso que haja determinado previamente, bem como tantas sessões 
extraordinárias quantas considerem necessárias. Antes do término do período 
de sessões, a Comissão determinará a data e o lugar do período de sessões 
seguinte (Art. 14, 1, do Regulamento). As sessões, como regra geral, serão 
realizadas em sua sede; no entanto, pelo voto da maioria absoluta de seus 
membros, a Comissão poderá decidir por reunir-se em outro lugar, com a 
anuência ou a convite do respectivo Estado (Art. 14, 2, do Regulamento). 
Em relação à sua composição, a CIDH é composta por 07 (sete) membros 
(denominados Comissários ou Comissionados), que devem ser pessoas de alta 
autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos 
(CADH, art. 34). Estes membros são eleitos a título pessoal (não como 
representantes dos seus Estados de origem), pela Assembleia Geral da OEA, de 
uma lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados membros, sendo 
que cada governo pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que 
os propuser ou de qualquer outro Estado membro da OEA. Quando for proposta 
uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado 
diferente do proponente (CADH, art. 36). 
No tocante ao mandato de seus membros, eles serão eleitos por quatro 
anos e só poderão ser reeleitos uma única vez, não podendo fazer parte da 
Comissão mais de um nacional de um mesmo Estado (CADH, art. 37). 
 
29 GUERRA, Sidney. Direitos Humanos: Curso Elementar, op. cit., p. 152. 
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As vagas na Comissão, não resultantes da expiração normal do mandato, 
serão preenchidas pelo Conselho Permanente da Organização, de acordo com o 
que dispuser o Estatuto da Comissão (CADH, art. 38).30 
Conforme previsto no art. 106 da Carta da OEA e também no art. 41 da 
CADH, a principal função da Comissão IDH é “promover a observância e a 
defesa dos direitos humanos” no continente americano, sendo que, para 
desempenhar esta tarefa, no exercício de seu mandato ela desempenha funções 
e atribuições no sentido de (CADH, art. 41): 
a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América; 
b) formular recomendações aos governos dos Estados membros, quando 
o considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas 
progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis 
internas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições 
apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos; 
c) preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o 
desempenho de suas funções; 
d) solicitar aos governos dos Estados membros que lhe proporcionem 
informações sobre as medidas adotadas no âmbito interno em matéria 
de direitos humanos; 
e) atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da OEA, lhe 
formularem os Estados membros sobre questões relacionadas com os 
direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o 
assessoramento que eles lhe solicitarem; 
 
30 Conforme explica Caio Paiva, “ocorrendo vaga na CIDH que não seja decorrente de expiração 
normal do mandato (renúncia e morte de um comissário p. ex.), o preenchimento desta deve 
obedecer ao que preveem a CADH (art. 38) e o Estatuto da Comissão (art. 11), funcionando da 
seguinte forma: (I) Ao verificar-se uma vaga que não se deva à expiração normal de mandato, o 
Presidente da Comissão notificará imediatamente ao Secretário-Geral da OEA, que, por sua vez, 
levará a ocorrência ao conhecimento dos Estados membros da Organização; (II) Para preencher 
as vagas, cada Governo poderá apresentar um candidato, dentro do prazo de 30 dias, a contar 
da data de recebimento da comunicação do Secretário-Geral na qual informe da ocorrência de 
vaga; (III) O Secretário-Geral preparará uma lista, em ordem alfabética, dos candidatos e a 
encaminhará ao Conselho Permanente da Organização, o qual preencherá a vaga. Finalmente, 
prevê o art. 11.4 do Estatuto da CIDH que ‘Quando o mandato expirar dentro dos seis meses 
seguintes à data em que ocorrer uma vaga, esta não será preenchida’” (PAIVA, Caio. (Quase) Tudo 
sobre a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, op. cit.). 
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f) atuar com respeito às petições (individuais) e outras comunicações 
(interestatais), no exercício de sua autoridade, de conformidade com o 
disposto na Convenção; e, 
g) apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Organização dos 
Estados Americanos. 
Um Estado membro da OEA pode vir a sofrer uma “sanção” aplicada pela 
Comissão IDH, em razão de não observar os preceitos contidos nos documentos 
internacionais componentes do corpus juris interamericano. Nesse caso, o 
Estado violador dos direitos humanos será submetido a um constrangimento 
internacional público (power of shame and embarasment) por meio dadivulgação de um relatório para os Estados-membros da OEA. 
Por não se tratar de um órgão jurisdicional, esta é a “sanção” máxima que 
a Comissão poderá impor a um Estado membro (da OEA e/ou da CADH), isto é, 
a publicação no seu Relatório Anual sobre a condenação do Estado, 
documento este que será divulgado na Assembleia Geral da OEA. E além 
disso, a Comissão poderá ainda incluir em seu relatório, recomendações para 
que o Estado solucione o problema denunciado. 
A CADH criou um sistema de petições individuais e de comunicações 
interestatais, possibilitando à Comissão IDH o recebimento de denúncias ou 
queixas contendo alegações de violações de direitos humanos protegidos pela 
Convenção e por outros tratados do Sistema Interamericano. 
O procedimento de petição individual é considerado de adesão 
obrigatória para os Estados que aderem ou ratificam a CADH (art. 44). 
 
 
Artigo 44 
Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente 
reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização, pode apresentar à 
Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta 
Convenção por um Estado Parte”. 
 
 
 
 
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Por outro lado, o procedimento de comunicação interestatal (entre 
Estados) é estabelecido pela própria Convenção como facultativo (art. 45). 
 
Artigo 45 
1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de 
ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, 
declarar que reconhece a competência da Comissão para receber e examinar 
as comunicações em que um Estado Parte alegue haver outro Estado Parte 
incorrido em violações dos direitos humanos estabelecidos nesta Convenção. 
2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só podem ser admitidas e 
examinadas se forem apresentadas por um Estado Parte que haja feito uma 
declaração pela qual reconheça a referida competência da Comissão. A Comissão 
não admitirá nenhuma comunicação contra um Estado Parte que não haja feito tal 
declaração. 
3. As declarações sobre reconhecimento de competência podem ser feitas para que 
esta vigore por tempo indefinido, por período determinado ou para casos específicos. 
4. As declarações serão depositadas na Secretaria-Geral da Organização dos 
Estados Americanos, a qual encaminhará cópia das mesmas aos Estados membros 
da referida Organização. 
Para que um procedimento de petição individual (art. 44) ou comunicação 
interestatal (art. 45) contendo uma denúncia ou queixa de violação dos direitos 
humanos previstos na CADH possa ser iniciado junto à Comissão IDH, devem 
estar presentes algumas condições de admissibilidade, conforme o 
estabelecido pelo art. 46 da Convenção: 
 
Artigo 46 
1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 
45 seja admitida pela Comissão, será necessário: 
a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo 
com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos; 
b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o 
presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva; 
c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de 
solução internacional; e 
d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão, 
o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade 
que submeter a petição. 
2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se aplicarão quando: 
a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal 
para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados; 
b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos 
recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e 
c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos. 
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Com fundamento neste dispositivo da Convenção, a doutrina aponta como 
condições de admissibilidade as seguintes: 
1) Esgotamento dos recursos internos (local remedies rule) – o art. 46, 
1, “a”, da CADH estabelece que antes do peticionamento à Comissão 
devem ter “sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição 
interna, de acordo com os princípios de direito internacional geralmente 
reconhecidos”; 
A jurisdição internacional de proteção aos direitos humanos apresenta 
um caráter subsidiário, isto é, somente atua quando o Estado supostamente 
violador dos direitos não atua ou atua deficientemente. Portanto, compete 
primeiramente ao Estado, num legítimo exercício de sua soberania, apurar e 
tomar providências relativas a violações que tenham sido aplicadas em sua 
contingência territorial. 
Conforme expõe André de Carvalho Ramos, o “esgotamento dos recursos 
internos exige que o peticionante prove que tenha esgotado os mecanismos 
internos de reparação, quer administrativos, quer judiciais, antes que sua 
controvérsia possa ser apreciada perante o Direito Internacional”, pois desse 
modo, “fica respeitada a soberania estatal ao se enfatizar o caráter subsidiário 
da jurisdição internacional, que só é acionada após o esgotamento dos recursos 
internos”.31 
Desse modo, os recursos internos devem apresentar-se de maneira 
adequada e acessível para que possam satisfazer as pretensões daqueles 
indivíduos que tenham sido alvo de violações no plano interno estatal.32 Ou seja, 
constitui um dever do Estado, prover os recursos internos aptos a reparar 
os danos porventura causados aos indivíduos, sob pena de responder 
 
31 RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 
338. 
32 A Corte IDH já se pronunciou sobre o que entende por recursos adequados. Para a Corte, dizer 
que os recursos são adequados significa “(...) que a função desses recursos, dentro do sistema 
do direito interno, seja idônea para proteger a situação jurídica infringida. Em todos os 
ordenamentos jurídicos internos existem múltiplos recursos, porém nem todos são aplicáveis em 
todas as circunstâncias. Se, em um caso específico, o recurso não é adequado, é óbvio que não 
há que se esgotá-lo. Assim, ele indica o princípio de que a norma está encaminhada a produzir 
um efeito e não pode interpretar-se no sentido de que não produza nenhum ou seu resultado 
seja manifestamente absurdo ou irrazoável” (Caso Fairén Garbi e Solís Corrales vs. Honduras. 
Mérito. Sentença de 15 de março de 1989. Série C, n. 6, § 88). Disponível em: 
<https://goo.gl/16iaU9>. Acesso em 22 mai. 2018. 
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duplamente no plano internacional, isto é, (i) pela violação inicial de direitos 
humanos protegidos nos tratados internacionais e (ii) por não prover o indivíduo 
de recursos internos aptos a reparar o dano causado. 
A própria CADH, em seu art. 46 (2), estabelece os casos de dispensa da 
necessidade de prévio esgotamento dos recursos internos, a saber: 
a) quando não existir o devido processo legal para a proteção do direito 
violado (art. 46, 2, “a”); 
b) quando não se houver permitido à vítima o acesso aos recursos da 
jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los (art. 46, 
2, “b”); 
c) quando houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados 
recursos (artigo 46, 2, “c”); 
d) quando o recurso disponível for inidôneo (por exemplo, o recurso não 
é apto a reparar o dano); ou inútil (por exemplo, já há decisão da 
Suprema Corte local em sentido diverso); ou, 
e) quando

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