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RESENHA CRÍTICA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA A sociedade limitada se estabelece quando duas ou mais pessoas se unem com o intuito de criar uma sociedade empresária dividida por cotas e amparada por um contrato social, o qual deverá ser registrado na Junta Comercial do estado para sua regularização. Nessa modalidade de sociedade, a responsabilidade dos sócios limita-se as quotas-parte de cada um. Todavia, de acordo com o artigo 1.024 do Código Civil brasileiro, a responsabilidade do sócio da empresa pelas dívidas da sociedade é subsidiária, ou seja, os bens particulares dos sócios que compõem a sociedade somente poderão ser executados depois da execução dos bens sociais. Ou seja, em primeiro lugar serão buscados os bens da empresa e, somente depois, serão perseguidos os bens pessoais de cada sócio. Segundo Fábio Ulhoa Coelho: “Se o patrimônio social não for suficiente para integral pagamento dos credores da sociedade, o saldo passivo poderá ser reclamado dos sócios, em algumas sociedades, de forma ilimitada, ou seja, os credores poderão saciar seus créditos até a total satisfação, enquanto suportarem os patrimônios particulares de cada sócio. Em outras sociedades, os credores somente poderão alcançar dos patrimônios particulares um determinado limite, além do qual o respectivo saldo será perda que deverão suportar. Em um terceiro grupo de sociedades, alguns dos sócios têm responsabilidade ilimitada e outros não.”1 No caso da sociedade limitada, o Código Civil de 2002 normatizou conduta que já vinha sendo adotada pela jurisprudência, de desconsiderar a personalidade jurídica, a fim de imputar aos sócios ou administradores a responsabilidade pelo ato ilícito praticado pela empresa. Ou seja, os bens particulares dos sócios que concorreram para a prática do ato respondem pela reparação dos danos provocados pela sociedade. Os sócios da sociedade limitada, portanto, responderão com seu patrimônio, se os bens da sociedade não forem suficientes para repararem o dano cometido. Pois bem, quando se verifica ocorrência de fraude ou abuso na utilização da pessoa jurídica, a responsabilidade subsidiaria se transforma em solidária e os bens particulares de 1 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 117. cada sócio irão responder pelas obrigações da pessoa jurídica, sendo, assim, desconsiderada a personalidade jurídica, nos termos do artigo 50 do Código Civil. Nos termos da doutrina de Fábio Ulhoa Coelho: “A desconsideração é instrumento de coibição do mau uso da pessoa jurídica; pressupõe, portanto, o mau uso. O credor da Sociedade que pretende a sua desconsideração deverá fazer prova da fraude perpetrada, caso contrário suportará o dano da insolvência da devedora. Se a autonomia patrimonial não foi utilizada indevidamente, não há fundamento para a desconsideração.”2 O fato do incidente de desconsideração da personalidade jurídica ter sido disciplinado pelo Código de Processo Civil entre as intervenções de terceiro cabíveis no procedimento civil comum não exclui sua aplicação aos procedimentos especiais à execução forçada. Tampouco afasta de seu alcance dos processos da Justiça do Trabalho, tendo em vista a inexistência de procedimento para a matéria na legislação especial trabalhista, havendo de ser aplicada subsidiariamente o processo civil vigente e, também, tal procedimento mantém a garantia fundamental do contraditório e da ampla defesa estipulados na Constituição Federal em seu artigo 5º, incisos LIV e LV. Vejamos o entendimento dos Tribunais: “AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1580544 - RJ (2019/0269127-5) DECISÃO Trata-se de agravo interno interposto por MARCOS BARBIEUX LOPES contra a decisão de fls. 216-217 (e-STJ), da Presidência desta Corte, que não conheceu do agravo em recurso especial, com base no art. 21-E, inciso V, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, haja vista a ausência de impugnação a todos os fundamentos da decisão agravada. (...) Trata-se de agravo contra decisão que não admitiu recurso especial interposto por Marcos Barbieux Lopes, com base no art. 105, III, a e c, da Constituição Federal, desafiando acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro assim ementado (e-STJ, fls. 58-59): AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DECISÃO QUE DEFERIU O PEDIDO DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA EMPRESA RÉ. (...)TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA POSITIVADA NO ARTIGO 50 DO 2 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 127. CÓDIGO CIVIL. (...) DECISÃO QUE DEFERIU O PEDIDO DE DESCONSIDERAÇÃO DAPERSONALIDADE JURÍDICA DA EMPRESA. MEDIDA EXCEPCIONAL. DESVIO DE FINALIDADE OU CONFUSÃO PATRIMONIAL, COMO NO CASO EM EXAME. FORMAÇÃO DE GRUPO ECONÔMICO. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA, POIS PRESENTES OS ELEMENTOS MÍNIMOS DE CONFUSÃO PATRIMONIAL ENTRE SÓCIO E AS EMPRESAS JURÍDICAS EM PREJUÍZO AO EXEQUENTE, ALÉM DE GESTÃO COMUM DAS EMPRESAS. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (...) APLICAÇÃO NO NCPC. PRECEDENTES. RECONHECIMENTO DO ABUSO NA UTILIZAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICADA EMPRESA QUE DEVE SER CONCEDIDA PARA AQUELE CASO ESPECÍFICO, QUANDO HÁ DESVIO DE FINALIDADE OU PELA CONFUSÃO PATRIMONIAL, COMO NO CASO DOS AUTOS. PROVAS DOS AUTOS QUE EVIDENCIAM CONFUSÃO PATRIMONIAL. FORMAÇÃO DE GRUPO ECONÔMICO. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA, POIS PRESENTES OS ELEMENTOS MÍNIMOS DE CONFUSÃO PATRIMONIAL ENTRE SÓCIO E AS EMPRESAS JURÍDICAS EM PREJUÍZO AO EXEQUENTE, ALÉM DE GESTÃO COMUM DAS EMPRESAS. DESPROVIMENTO DO RECURSO. EXECUTADA, CARACTERIZADO PELA CONFUSÃO PATRIMONIAL, O QUE AFASTA A NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO DA EXISTÊNCIA OU NÃO DE BENS PASSÍVEIS DE PENHORA. BENS INDICADOS QUE NÃO ATENDEM A ORDEM DE PREFERÊNCIA DO ARTIGO 835 DO CPC. BENS DE DIFÍCIL ALIENAÇÃO. DESCABIMENTO DOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS COM FUNDAMENTO NO VOTO DIVERGENTE. MATÉRIA DECIDIDA DE FORMA CLARA E EXAUSTIVA. ACÓRDÃO QUE NÃO CONTÉM QUALQUER VÍCIO ENSEJADOR DO PRESENTE RECURSO. INEXISTÊNCIA DE QUALQUER DAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ARTIGO 1.022 DO NCPC. PREQUESTIONAMENTO. JULGADO QUE ABRANGEU TODAS AS TESES E NORMAS JURÍDICAS. EMBARGANTES QUE OBJETIVAM A MODIFICAÇÃO E O REEXAME DO JULGADO. REJEIÇÃO DOS ACLARATÓRIOS. Em suas razões de recurso especial (e- STJ, fls. 104-110), o agravante alegou violação ao art. 50 do Código Civil de 2002 , bem como a existência de dissídio jurisprudencial. Sustentou, em síntese, que a desconsideração da personalidade jurídica necessita da comprovação de fraude praticada de forma dolosa pelo sócio. (...) Sobre o tema de fundo, esta Corte adotou orientação no sentido de que, nas relações jurídicas de natureza civil-empresarial, o legislador pátrio adotou a teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica, segundo a qual é exigida a demonstração da ocorrência de algum dos elementos objetivos caracterizadores de abuso da personalidade jurídica, tais como o desvio de finalidade (caracterizado pelo ato intencional dos sócios em fraudar terceiros com o uso abusivo da personalidade jurídica) ou a confusão patrimonial (configurada pela inexistência, no campo dos fatos, de separação patrimonial entre o patrimônio da pessoa jurídica e os bens particulares dos sócios ou, ainda, dos haveres de diversas pessoas jurídicas). A respeito do tema, destaca-se o seguinte precedente da Segunda Seção deste Tribunal Superior: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. ARTIGO 50, DO CC. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. REQUISITOS. ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES OU DISSOLUÇÃO IRREGULARES DA SOCIEDADE. INSUFICIÊNCIA. DESVIO DE FINALIDADE OU CONFUSÃO PATRIMONIAL. DOLO. NECESSIDADE. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. ACOLHIMENTO. 1. A criação teórica da pessoa jurídica foi avanço que permitiu o desenvolvimento da atividade econômica, ensejandoa limitação dos riscos do empreendedor ao patrimônio destacado para tal fim. Abusos no uso da personalidade jurídica justificaram, em lenta evolução jurisprudencial, posteriormente incorporada ao direito positivo brasileiro, a tipificação de hipóteses em que se autoriza o levantamento do véu da personalidade jurídica para atingir o patrimônio de sócios que dela dolosamente se prevaleceram para finalidades ilícitas. Tratando-se de regra de exceção, de restrição ao princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, a interpretação que melhor se coaduna com o art. 50 do Código Civil é a que relega sua aplicação a casos extremos, em que a pessoa jurídica tenha sido instrumento para fins fraudulentos, configurado mediante o desvio da finalidade institucional ou a confusão patrimonial. 2. O encerramento das atividades ou dissolução, ainda que irregulares, da sociedade não são causas, por si só, para a desconsideração da personalidade jurídica, nos termos do Código Civil. 3. Embargos de divergência acolhidos. (EREsp n. 1.306.553/SC, Relatora Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/12/2014, DJe 12/12/2014). No caso em exame, a Corte de origem concluiu ser devida a desconsideração da personalidade jurídica com base nos seguintes fundamentos (e-STJ, fls. 63- 65, sem grifo no original): Com efeito, importante destacar que a teoria da desconsideração da personalidade jurídica foi positivada no artigo 50 do Código Civil, mantidos os parâmetros anteriormente fixados na legislação consumerista e em outros microssistemas (Lei 8.884/94, Lei 9.605/98), in verbis: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Desta forma, a partir do momento em que se visualiza o abuso de direito caracterizado pela fraude imposta a terceiros através do véu protetivo da pessoa jurídica, seja com o desvio de finalidade, seja pela confusão patrimonial, mostra-se viável desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade para atingir bens dos sócios visando a satisfação da obrigação que não pode ser atendida pelo patrimônio da empresa. O critério, portanto, é objetivo, independentemente do elemento anímico, ou seja, da vontade deliberada de prejudicar terceiros ou fraudar a lei. Havendo, pois, abuso na utilização da personalidade jurídica da empresa através de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial, presente se encontram as hipóteses para a desconsideração. (...) Verifica-se, ainda, pelas provas colacionadas aos autos que a Nord Oil, empresa que atualmente encontra-se em plena atividade, possui como acionistas a Tamar Energia e Participações Ltda e o agravante Marcos Barbieux Lopes, que figura como presidente de ambas as empresas, além de ser sócio da Nord Oil e da Cisco Oil & Gás, sendo que a última integra o Grupo Gávea Oil & Gás. À luz do narrado, evidencia-se o abuso na utilização da personalidade jurídica da empresa executada, caracterizado pela confusão patrimonial, ante a formação de grupos econômicos por seus sócios, o que autoriza a desconsideração da personalidade jurídica. Ora, assim presentes os elementos mínimos de confusão patrimonial entre sócio e as empresas jurídicas em prejuízo ao exequente, além de gestão comum das empresas, a decisão hostilizada deve ser mantida. (...) Outrossim, para derruir a convicção formada, desconstituindo o acórdão estadual, seria necessário o revolvimento fático-probatório, o que é vedado na via eleita, ante a incidência do Enunciado sumular n. 7/STJ. A propósito: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. ART. 50 DO CÓDIGO CIVIL. REQUISITOS. AUSÊNCIA. REEXAME. FUNDAMENTOS. SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a desconsideração da personalidade jurídica a partir da Teoria Maior (art. 50 do Código Civil) exige a comprovação de abuso, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pelo que a mera inexistência de bens penhoráveis ou eventual encerramento irregular das atividades da empresa não justifica o deferimento de tal medida excepcional. (...) 4. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp 1679434/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/09/2020, DJe 28/09/2020) PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. AUSÊNCIA DE PROVA SUFICIENTE. APELO NOBRE. 1) RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO CPC/73. 2) VIOLAÇÃO DO ART. 535, II, DO CPC. OMISSÃO INEXISTENTE. (...) 4. O Tribunal local dirimiu a controvérsia, reconhecendo a falta de preenchimento dos requisitos necessários para a desconsideração da personalidade jurídica, com base nas provas dos autos. A reforma de tal entendimento atrai o óbice da Súmula nº 7 do STJ. 4.1. O entendimento da Corte local está em conformidade com a jurisprudência desta Corte, no sentido de que a dissolução irregular da sociedade empresarial, por si só, não é causa para a desconsideração da personalidade jurídica. Aplicação da Súmula nº 83 do STJ. (...) 6. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp n. 719.286/SC, Relator Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/6/2016, DJe 21/6/2016) AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. INVIABILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ART. 50 DO CC/2002. APLICAÇÃO DA TEORIA MAIOR DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DESVIO DE FINALIDADE OU DE CONFUSÃO PATRIMONIAL. PRECEDENTES. AGRAVO NÃO PROVIDO. (...) 4. A mera demonstração de inexistência de patrimônio da pessoa jurídica ou de dissolução irregular da empresa sem a devida baixa na junta comercial, por si sós, não ensejam a desconsideração da personalidade jurídica. Precedentes. (...) 7. Agravo interno não provido. (AgRg no AREsp n. 347.476/DF, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 5/5/2016, DJe 17/5/2016). Ante o exposto, em juízo de reconsideração, conheço do agravo para negar provimento ao recurso especial. Publique-se. Brasília, 13 de maio de 2021. MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator”. (STJ - AgInt no AREsp: 1580544 RJ 2019/0269127-5, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Publicação: DJ 19/05/2021) “DECISÃO: Trata-se de recurso extraordinário com agravo contra decisão de inadmissão do recurso extraordinário. O apelo extremo foi interposto com fundamento na alínea a do permissivo constitucional. O acórdão recorrido ficou assim ementado: MEDIDA CAUTELAR FISCAL PREPARATÓRIA. LEI Nº 8.397/92. DÉBITOS SUPERIORES A 30% DO PATRIMÔNIO. ESVAZIAMENTO PATRIMONIAL. CARÊNCIA DA AÇÃO AFASTADA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. PARCELAMENTO. A medida cautelar fiscal se destina tão somente a preservar a higidez do crédito tributário. Assim como as demais cautelares, pretende apenas resguardar o direito do credor, não sendo ato expropriatório de bens, não violando o direito de propriedade, o princípio do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, XXII, LIV e LV da CF), e quaisquer outros preceitos da Constituição Federal. A existência de débito em montante superior a 30% do patrimônio do devedor (art. 2º, VI, da Lei 8.397, de 1992), aliada à constatação de indícios que apontam a intenção de inadimplemento do débito, autoriza a cautelarfiscal. Pelos elementos de prova trazidos aos autos, há fortes indícios que indicam a ocorrência de fato graves, quais sejam, falsificação de notas fiscais, sonegação de impostos e a prática, em tese, de crime fazendário. O § 1º do artigo 4º da Lei nº 8.397/92 autoriza a extensão da indisponibilidade aos bens dos sócios administradores da empresa em débito, já que em última análise são eles que acabam tirando proveito econômico à custa do Erário Público. Os fatos narrados comportam a aplicação do disposto no artigo 50 do Código Civil de 2002, que prevê desconsideração da personalidade jurídica nas hipóteses de abuso por desvio de finalidade, confusão patrimonial ou fraudes entre empresas e administradores integrantes de grupo econômico, com estrutura meramente formal, ou, ainda, incidência do artigo 135, III, do CTN, especificamente, pela confusão patrimonial entre a empresa autuada, sócios e administradores, sobretudo em razão da dispersão do patrimônio social,-que obstou o regular adimplemento dos débitos tributários. (...) Ex positis, nego seguimento ao recurso (alínea c do inciso V do art. 13 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). Havendo prévia fixação de honorários advocatícios pelas instâncias de origem, seu valor monetário será majorado em 10% (dez por cento) em desfavor da parte recorrente, nos termos do art. 85, § 11, do Código de Processo Civil, observado os limites dos §§ 2º e 3º do referido artigo e a eventual concessão de justiça gratuita. Publique-se. Brasília, 13 de maio de 2021. Ministro LUIZ FUX Presidente - Documento assinado digitalmente”. (STF - ARE: 1320278 SP 0046538-83.2009.4.03.6182, Relator: LUIZ FUX, Data de Julgamento: 13/05/2021, Data de Publicação: 17/05/2021) Existem também a desconsideração inversa da personalidade jurídica que objetiva o afastamento da autonomia patrimonial da sociedade empresária, com o fito desta responder pelas obrigações adquiridas pelos seus sócios-administradores, a qual encontra previsão no artigo 133, §2º, do CPC. Vejamos: “EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA.EXECUÇÃO. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA. É possível a penhora dos bens de empresa terceira, em processo em que o sócio é o reclamado”. (TRT-15 - AGVPET: 62129 SP 062129/2011, Relator: FLAVIO ALLEGRETTI DE CAMPOS COOPER, Data de Publicação: 23/09/2011) “AGRAVO DE PETIÇÃO DA EXECUTADA. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA. Cabível a desconsideração inversa da personalidade jurídica quando constatado que o sócio da empresa executada integra o quadro societário de outra empresa, a qual deve ser responsabilizada pela satisfação do débito processual apurado. Sentença mantida”. (TRT-4 - AP: 00200062120175040026, Data de Julgamento: 20/03/2021, Seção Especializada em Execução) Cabe lembrar que o incidente pode ser instaurado em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial (art. 13, caput, CPC), devendo, após a solicitação da desconsideração, ser aberto prazo de 15 (quinze) dias para que o sócio ou a pessoa jurídica apresente defesa para que seja cumprida a garantia fundamental do contraditório e ampla defesa. Conclui-se que o principal efeito da desconsideração da personalidade jurídica é imputar aos sócios ou administradores da empresa a responsabilidade pelos atos fraudulentos praticados em prejuízo de terceiros. Dessa forma, a indenização será assegurada não apenas pelos bens da pessoa jurídica, mas, também, pelo patrimônio social dos sócios ou administradores envolvidos. De igual sorte, ocorrendo a desconsideração inversa, a pessoa jurídica será responsabilidade por obrigações contraídas por seu sócio, de modo que o patrimônio daquela será utilizado para a reparação dos danos provocados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAVICHIOLI, Ana Paula. A responsabilidade subsidiária dos sócios da empresa e a teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Disponível em: <https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/41400/a-responsabilidade-subsidiaria- dos-socios-da-empresa-e-a-teoria-da-desconsideracao-da-personalidade- juridica#:~:text=Refer%C3%AAncias.&text=O%20artigo%201.024%20do%20C%C3%B3digo, da%20execu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20bens%20sociais.>. Acesso em 16 de maio de 2021. COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2006. FREITAS, Grace Kellen Corrêa. Direito Empresarial de Leve na Prática. 1ª ed. São Paulo: Editora Rideel, 2021. Vazquez, Juan; Guimarães, Márcio Souza. Direito Societário: Sociedade Limitada. Apostila on-line. Rio de Janeiro, Fundação Getulio Vargas – FGV. https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/41400/a-responsabilidade-subsidiaria-dos-socios-da-empresa-e-a-teoria-da-desconsideracao-da-personalidade-juridica#:~:text=Refer%C3%AAncias.&text=O%20artigo%201.024%20do%20C%C3%B3digo,da%20execu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20bens%20sociais https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/41400/a-responsabilidade-subsidiaria-dos-socios-da-empresa-e-a-teoria-da-desconsideracao-da-personalidade-juridica#:~:text=Refer%C3%AAncias.&text=O%20artigo%201.024%20do%20C%C3%B3digo,da%20execu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20bens%20sociais https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/41400/a-responsabilidade-subsidiaria-dos-socios-da-empresa-e-a-teoria-da-desconsideracao-da-personalidade-juridica#:~:text=Refer%C3%AAncias.&text=O%20artigo%201.024%20do%20C%C3%B3digo,da%20execu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20bens%20sociais https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/41400/a-responsabilidade-subsidiaria-dos-socios-da-empresa-e-a-teoria-da-desconsideracao-da-personalidade-juridica#:~:text=Refer%C3%AAncias.&text=O%20artigo%201.024%20do%20C%C3%B3digo,da%20execu%C3%A7%C3%A3o%20dos%20bens%20sociais
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