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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO METROPOLITANO DE ANGOLA JOSÉ CHIPA EIÚBA MATIAS DIMENSIONAMENTO DE UM PAVIMENTO FLEXIVEL ESTRADA DO BAIRRO CAPOLO II EM LUANDA LUANDA 2020 JOSÉ CHIPA EIÚBA MATIAS DIMENSIONAMENTO DE UM PAVIMENTO FLEXIVEL ESTRADA DO BAIRRO CAPOLO II EM LUANDA Trabalho de fim de curso apresentado ao Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola como requisito parcial para a conclusão da Licenciatura em Engenharia Civil, sob orientação do Prof. Nelson Mandela Portugal de Almeida. LUANDA 2020 JOSÉ CHIPA EIÚBA MATIAS DIMENSIONAMENTO DE UM PAVIMENTO FLEXIVEL ESTRADA DO BAIRRO CAPOLO II EM LUANDA Trabalho de fim de curso apresentado ao Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola como requisito parcial para a conclusão da Licenciatura em Engenharia Civil sob orientação do Prof. Nelson Mandela Portugal de Almeida. Aprovado ao: __/__/____ _____________________________________________________________________ Coordenação do Curso de Engenharia Civil Considerações_______________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Dedico este trabalho Á Deus todo poderoso, em especial à minha querida mãe (em memória) Ao meu pai pela ajuda força e conselhos dados durante o percurso, aos meus irmãos e familiares e todos aqueles que sempre acreditaram em mim. Agradecimentos Agradeço à Deus todo poderoso pela força e sabedoria que me deu, graças a ele tornou- se possível alcançar os objectivos traçados, A minha família no geral pelo apoio dado em todos os sentidos para realização desde sonho, ao meu orientador Professor Eng.º Nelson Mandela Portugal de Almeida pelo apoio e suporte dado, muito obrigado. A todos os professores pela dedicação em poder transmitir seus conhecimentos que me foram muito úteis ao longo da caminhada. Ao Departamento de Ciências Tecnológicas e Engenharia (DTEC). Agradeço também a Empresa Prongila vias de Comunicação pelo estágio concedido e pelos ensinamentos transmitidos, todos os funcionários, em especial ao Eng.º Quintino Vinevala. O meu muito obrigado pai, mãe, irmãos, familiares, colegas e amigos. E em especial a minha namorada Elizabeth. Estradas de Angola, fomento para diversificação e desenvolvimento da economia. RESUMO O presente trabalho, tem como objectivo no dimensionamento de um pavimento flexível avaliação e conformidade do mesmo na estrada em terra batida isto no Bairro Capolo II localizada no município do Kilamba Kiaxi, provincia de Luanda. E para alcançar os objectivos fez se a recolha de amostra para os ensaios de laboratório como análise granulométrica, limites de consistência, e CBR usando a norma ASTM. E para o dimensionamento a norma que se utilizou foi da SATCC, aplicando modelos de cálculos para à obtenção das espessuras das camadas do pavimento e calculando também os módulos de deformabilidade do solo, e por ser uma via terciaria onde o tráfego é muito baixo de classe T3, e o tempo de vida útil do projecto é de 15 anos, e na execução do projecto considerou se também conhecimentos relacionados a disciplinas, de Vias de comunicação I e II. PALAVRAS-CHAVE: Dimensionamento. Pavimento flexível. Rodoviário. ABSTRACT The present work has the objective of dimensioning pavement flexible assessing and conforming it to the dirt road in the neighborhood capolo II located in the Municipality of Kilamba Kiaxi province Luanda. And to achieve the objectives, sample collection for laboratory tests such as granulometric analysis, consistency limits, and CBR using the ASTM standard. And for the dimensioning the standard that was used was the SATCC, applying calculation models to obtain the thickness of the pavement layers and also calculating the soil deformability modules, and because it is a tertiary road where traffic is very under the class is T3, and the lifetime of the project is 15 years, and in the execution of the project it was also considered knowledge related the discipline, to communication routes I and II. KEY WORDS: Sizing. Flexible floor. Road. LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1.1 - Processo construtivo de estrada romana revestida de pedra ……………..….…...... 17 Fotografias 2.1 e 2.2 - Solo retido no peneiro. E o solo passado ………...…….….……………...... 28 Fotografias 2.3 e 2.4 - Lavagem do solo passado no peneiro. E do solo retido …………………….. 29 Fotografias 2.5 e 2.6 - Solo passado no peneiro. E o solo retido ………………………………….... 30 Fotografias 2.7 e 2.8 - Batendo CBR. E homogeneização do solo …………………………………. 30 Fotografias 2.9 e 2.10 - Lisando o solo sobre o molde. E tirar seu peso ………………………….... 31 Fotografias 2.11 e 2.12 - Expansão. Molde colocado na prensa para ser rebentado ……………….. 31 Fotografia 3.1 - Vista aérea do caso de estudo ……………………………………………………... 42 Fotografias 3.2 , 3.3 e 3.4 - Entrada principal. E suas respectivas ruas ……………………………. 43 LISTA DE TABELAS Tabela 1.1 - Módulo de deformabilidade das misturas betuminosas segundo a norma da SATCC …. 24 Tabela 1.2 - Módulo de deformabilidade das misturas betuminosas em função da temperatura ……. 24 Tabela 2.1 - Seleção do tempo útil do projeto ……………………………………………………..… 38 Tabela 3.1 - Classe de fundação ……………………………………………………………………… 44 Tabela 3.2 - Classe do tráfego …………………………………………………………………….…... 44 Tabela 3.3 - Espessura das camadas ……………………………………...………………………..... 44 Tabela 3.4 - Diagrama da sub-base e base …………………………………………………………… 45 Tabela 3.5 - Módulo de deformabilidade das misturas betuminosas segundo a norma da SATCC ..... 46 Tabela 3.6 - Profundidade em função da classe de fundação ……………………………..…….…… 47 Tabela 3.7 - Modulo de deformabilidade ………………………………………………………..…… 47 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍGLAS ASTM - American CBR - Califórnia Bearing Ratio DNIT - Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes INEA - Instituto Nacional de Estradas de Angola K(t) - Densidade LL - Limite de Liquidez LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil q(t) - Fluxo ou volume de tráfego (veículo/h) SADC - Southern Africa Development Community SATCC - Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral S - Velocidade média (Km/h) TMDA - Tráfego Médio Diário Anual TMD - Tráfego Médio Diário VHP - Variações Horárias de Tráfego T3 - Classe do Tráfego SUMÁRIO INTRODUÇÃO……………………………………………………………….…………......14 1BREVE HISTÓRICO DOS PAVIMENTOS RODOVIÁRIOS E SUA CONSTITUIÇÃO ………………………………………………………………………………………………...17 1.1 IMPORTÂNCIA DOS PAVIMENTOS RODOVIÁRIOS .......................................... 18 1.2 CARACTERIZAÇÃO DE PAVIMENTO FLEXIVEL ................................................ 19 1.2.1 GENERALIDADES ..................................................................................................... 19 1.3 COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DO PAVIMENTO .................................................. 19 1.4 MATERIAIS .................................................................................................................23 1.5 MISTURAS BETUMINOSAS ..................................................................................... 23 1.6 MATERIAIS GRANULARES ..................................................................................... 25 1.7 SOLOS DE FUNDAÇÃO ............................................................................................. 25 1.8 REVESTIMENTO......................................................................................................... 26 1.9 BASE ............................................................................................................................. 26 1.10 SUB-BASE .................................................................................................................... 26 1.11 TERRENO DE FUNDAÇÃO ........................................................................................ 27 2 METODOLÓGIA DE ENSAIOS E PARA O DIMENSIONAMENTO……………….28 2.1 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA................................................................................... 28 2.2 LIMITES DE CONSISTÊNCIA ...................................................................................... 29 2.3 CBR .................................................................................................................................. 30 2.4 GENERALIDADES ......................................................................................................... 32 2.5 TRÁFEGO ........................................................................................................................ 34 2.6 DENSIDADE DE TRÁFEGO ......................................................................................... 35 2.7 VELOCIDADE DO TRÁFAGO ...................................................................................... 35 2.8 VOLUME DE TRÁFEGO ............................................................................................... 36 2.9 VOLUME DIÁRIO .......................................................................................................... 36 2.10 VOLUME HORÁRIO ..................................................................................................... 37 2.11 VIDA ÚTIL DO PROJETO ............................................................................................ 37 2.12 CARACTERIZAÇÃO DO TRÁFEGO ......................................................................... 38 2.13 CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ........................................................................................ 38 3 ESTUDO DE CASO……………………………………………………..………………..42 3.1 ESTADO ACTUAL DA ESTRADA ............................................................................... 43 3.2 DETERMINAÇÃO DAS ESPESSURAS DAS CAMADAS E DOS CBR .................... 44 3.3 DETERMINAÇÃO DO MÓDULO DE DEFORMABILIDADE DO SOLO……………46 CONCLUSÃO……………………………………………………………………...………..48 RECOMENDAÇÕES FUTURAS……………………………………………………..……. 49 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………………. 50 APÊNDICES.………………………………………………………………………………... 52 14 INTRODUÇÃO Primeiramente, pavimento é uma estrutura composta por várias camadas sobre a superfície final da terraplanagem, destinada a resistir aos esforços oriundos do tráfego de veículos e do clima e a garantir aos usuários melhores condições de rolamento, com conforto, economia e segurança ( Luciano, 2009). Pois bem, o pavimento flexível é apenas um dos tipos de pavimento existentes, são eles rígidos, semi-rígidos e flexíveis. E ele se diferencia dos demais por apresentar deformação elástica significativa sob o carregamento aplicado em todas as camadas e, portanto, a carga se distribui em parcelas aproximadamente iguais entre elas. O tema é bastante pertinente, pois poderá contribuir e de que maneira, à comunidade académica, pelo facto, de reunir informações actualizadas em relação ao dimensionamento do pavimento flexível. Portanto, o caso de estudo previsto no presente trabalho, consubstancia-se, seguindo a Kaka ( 2019 ), na estrada localizada no Bairro Capolo II com uma extensão de 2.641 Km, no Município de Kilamba Kiaxi, na Província de Luanda, e permite a ligação da Avenida Pedro de Castro Van-dunem Loy com a Avenida Deolinda Rodrigues, actualmente a mobilidade nesta via é realizada num traçado em terra batida, sem as características ideias de mobilidade e de conforto para os utentes da via. O trabalho tem 3 capítulos, onde se abordou aspectos relacionados a um breve historial do pavimento, fez-se a recolha de amostras no caso de estudo para se fazer os ensaios de laboratório por ser muito importante para o dimensionamento, seguindo todas especificações das normas, calculou-se as espessuras das camadas que constituirão o pavimento e os seus módulos de deformabilidade, e o pavimento terá um tempo de vida útil de 15 anos. E por fim seguem-se a conclusão recomendações futuras, referências bibliográficas e apêndices. 15 DESCRIÇÃO DO PROBLEMA Actualmente a mobilidade na via em estudo é realizada num traçado em terra batida, sem as características ideais de mobilidade e de conforto para os utentes da via por este motivo proponho como dimensionar um pavimento flexível seguindo todos os parâmetros e requisitos necessários. DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA O estudo estará delimitado no dimensionamento de um pavimento flexível. A estrada em estudo é em terra batida, está localizada no Bairro Capolo II, município do Kilamba Kiaxi, província de Luanda, a mesma liga a Avenida Pedro de Castro Van-dunem Loy e a Avenida Deolinda Rodrigues, com uma extensão total de 2.641 km a mesma será dimensionada tendo em conta a realidade do local de implantação. HIPÓTESE Com a aplicação de acções aos trabalhos de campo como a recolha de amostras para os devidos ensaios, e a realidade do local de implantação que actualmente a mobilidade na via em estudo é realizada num traçado em terra batida, sem as características ideais de mobilidade e de conforto para os utentes da via perspectiva-se fazer um bom dimensionamento da estrada no Bairro Capolo II em Luanda. OBJECTIVOS Com base no problema e a hipótese apresentada, delinearam-se os seguintes objectivos a atingir: Objectivo geral: Dimensionar pavimento flexível da estrada em terra batida no Bairro Capolo II em Luanda com uma extensão de 2.641Km. 16 Objectivos específicos: • Recolher amostras para os ensaios laboratoriais a fim de saber as propriedades físicas e mecânicas dos materiais no local de estudo; • Fazer os ensaios de laboratório seguindo especificações da norma para se obter bons resultados confiáveis; • Aplicar os modelos de cálculo específicos, para a obtenção das espessuras das camadas que constituirão o pavimento. METODOLOGIA O método utilizado para a elaboração deste estudo foi o método misto (qualitativo e quantitativo) com base nos seguintes tipos de pesquisa: • Pesquisa bibliográfica Na pesquisa bibliográfica fez-se consultas em diversos livros relacionados ao dimensionamento de pavimento flexível e dissertação de mestrado. • Pesquisa descritiva Neste tipo de pesquisa fez-se um estudo em relação ao tráfego e por ser uma via terciaria notou- se que o tráfego é muito baixo. • Pesquisa de campo Fez-se a recolha de solo no caso de estudo para fazer a sua caracterização. INSTRUMENTOS DE COLECTA DE DADOS Para a investigação deste trabalho, usou-se entrevista ao engenheiro civil (Quintino Vinevala Director da Prongila Vias de Comunicação), que já tenham efectuado projectos de concepção de estradas no Instituto Nacional de Estradas de Angola (INEA). E aos técnicos do laboratório da empresa Prongila. 17 1 BREVE HISTÓRICO DOS PAVIMENTOS RODOVIÁRIOS O homem primitivo, na sua busca de alimentação e água, procurava deixar os caminhos entre a suacaverna e os campos de caça ou poços de água, em condições de permitir a passagem o mais fácil possível. Quando montou um animal, o homem deu um passo adiante, conseguindo maior rendimento das viagens à custa de melhorias que teve de introduzir nos caminhos. Mais tarde teve que atrelar um rústico veículo a esse animal, melhorando mais ainda o rendimento das viagens. Essa passagem foi conseguida graças a invenção da roda, verdadeiro passo de gigante na evolução (Kamena, 2017). Com o aumento cada vez maior da frequência das viagens, na medida que o transporte se tornava necessário para a própria sobrevivência dos povos, um outro grave problema surgiu e tinha de ser resolvido: os caminhos teriam de se tornar transitáveis em qualquer época do ano independentemente do clima. A regra básica inicial era bastante simples: se os terrenos arenosos oferecem boas condições nas chuvas e excessiva poeira nas épocas secas, e se os terrenos argilosos, ao contrário, oferecem boas condições nas épocas secas e lama nas chuvas, pode-se encontrar estabilização misturando areias e argilas, em proporções que as argilas evitem o aparecimento de poeira nos terrenos arenosos, em tempos secos, e as areias evitem o aparecimento de lamas nos terrenos argilosos em épocas de chuvas. A busca de melhores materiais para estabilização dos caminhos, levou a utilização de revestimentos de pedras, das misturas betuminosas ou de betão de cimento Portland, ou seja, a pavimentação segundo os conceitos actuais (Kamena, 2017). Fotografia 1.1 - Processo construtivo de estrada romana revestida de pedra Fonte: DREAMSTIME, 2015 18 1.1 IMPORTÂNCIA DOS PAVIMENTOS RODOVIÁRIOS A pavimentação de estradas devolveu aos transportes rodoviários um lugar de destaque entre os meios de transporte terrestre, pois que, em 1825 com a inauguração da primeira linha férrea da STOCK TON AND DARLINGTON RAILWAY construída por George Stephenson, muitos países lançaram-se de corpo e alma em construções de caminhos de ferro, tendo as estradas servirem praticamente como terminais de estações ferroviárias. Assim, com as melhorias da pavimentação e a evolução na tecnologia automobilística restituíram, no século XX, a estrada a sua devida importância, ao ponto de, em países como Angola, o transporte rodoviário ser responsável pelo maior quinhão do transporte de passageiros e mercadorias, o conhecimento da infra-estrutura de transportes é essencial para definir estratégias de desenvolvimento. Um país com uma malha rodoviária adequada, permite a distribuição da maioria das produções e cargas, além da circulação e do deslocamento de passageiros em condições adequadas de uso, garantindo conforto e segurança. Nos últimos anos, em Angola, assiste-se um grande investimento na construção de estradas, a conclusão e entrada em funcionamento destas estradas, permitirá o desenvolvimento do país e o intercâmbio comercial com os países da região da SADC, além de desenvolver o turismo, crescimento e movimentação económico-financeiro e até mesmo aumentar a empregabilidade na região (Kamena, 2017). Os pavimentos rodoviários são construídos para proporcionarem aos utentes uma circulação rodoviária com segurança e conforto. Porém, devidas as acções a que um pavimento está exposto (tráfego e clima), o comportamento global de um pavimento é afectado pelo aparecimento de degradações, reduzindo assim, a sua capacidade para suportar as solicitações e afectando desta forma o seu comportamento estrutural e a sua aptidão funcional. O aparecimento de degradações num pavimento é um sinal indicativo de que a capacidade estrutural ou funcional para que foi projectado é insuficiente para suportar as acções do tráfego e das condições climáticas. Assim, após a abertura ao tráfego o comportamento dos pavimentos deve ser acompanhado a fim de, atempadamente, serem promovidas as acções de conservação necessárias para manter a sua qualidade ao longo do seu tempo de vida útil (Alves, 2016). 19 1.2 CARACTERIZAÇÃO DE PAVIMENTO FLEXIVEL A caracterização tem grande importância para o dimensionamento do pavimento devido as cargas, bem como para o seu desempenho para fins de gerência do pavimento. 1.2.1 GENERALIDADES No âmbito do desenvolvimento económico africano, em particular, Angola, surgiu a necessidade de se potenciar o projecto e planeamento das obras rodoviárias devido ao aumento do tráfego e das cargas por eixo associadas, que tornam a vida útil dos pavimentos rodoviários cada vez mais limitada (Alves, 2016). Os pavimentos rodoviários, em geral, são constituídos por um conjunto de camadas horizontais, aplicadas sobre uma fundação, cujo objectivo primordial é garantir a sustentação das acções induzidas pelos veículos. Estas camadas devem garantir uma superfície segura e comoda que permita uma circulação confortável dos utentes. Os pavimentos flexíveis são os mais utilizados por conseguirem se acomodar melhor às condições do terreno devido à sua elevada deformabilidade e constituição material. Dependendo do nível do tráfego as estruturas de pavimentos deverão apresentar maior ou menor espessura nas diferentes camadas ou melhor ou pior qualidade dos materiais constituintes, a fim de se conciliar a qualidade e durabilidade a uma maior economia na execução de estruturas de pavimentos (Alves, 2016). 1.3 COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA DO PAVIMENTO Segundo o Glossário de Termos Técnicos Rodoviários, o pavimento é a superestrutura constituída por um sistema de camadas de espessuras finitas, assentes sobre um semi-espaço considerado teoricamente infinito, destinada a resistir e distribuir à fundação os esforços verticais oriundos dos veículos, a melhorar as condições de circulação quanto ao conforto e segurança e resistir aos esforços horizontais, tornando mais durável a superfície de desgaste (DNIT, 2017). 20 Pode ser constituído por uma ou mais camadas, tendo, no caso mais geral, uma camada de desgaste e terreno de fundação. Cada uma delas composta por várias camadas elementares. Geralmente, os pavimentos, face à sua deformabilidade e aos materiais que os constituem, são classificados em três tipos, entre eles: pavimentos flexíveis, pavimentos rígidos e semi-rígidos. A opção entre um destes tipos de pavimento está associada à intensidade do tráfego, à resistência do solo de fundação, bem como, os materiais disponíveis naquela localização (DNIT, 2017). É expectável que um pavimento consiga satisfazer os requisitos para os quais foi concebido, nomeadamente estruturais e funcionais. Ou seja, que consiga garantir a capacidade de carga correspondente às solicitações a que foi preconizado, e que possa ter uma superfície que garanta o conforto, segurança e eficiência seguindo um padrão económico aceitável (do Vale, 2004). O pavimento flexível é aquele que as camadas superiores são em misturas betuminosas, sendo as camadas subjacentes às betuminosas e sobrejacentes à fundação em materiais granulares, conforme se pode verificar na figura, abaixo. Figura 1.1 - Estrutura de um pavimento flexível. Fonte: Moraes, 2017 21 Quadro 1.1 - São descritas as funcionalidades de cada uma das camadas constituintes de um pavimento flexível. Principais camadas Função Camadas de revestimento Camadas granulares Camada de desgaste - Adequada circulação do tráfego com conforto e segurança - Drenagem ou impermeabilizaçõ - Distribuição das tenções introd uzidas pelo tráfego Camada de ligação e regularização - Camada estrutural - Regularizar a superfície da camada de base Base - Camada estrutural - Degradação das cargas introduzidas pelo tráfego Sub - base - Proteger durante a fase construtiva ascamadas inferiores - Proteger a base da subida de água capilar - Drenagem interna do pavimento - Camada estrutural - Resistência a erosão Solo de fundação Leito do pavimento - Evitar deformação do solo - Homogeneidade das características mecânicas da fundação - Plataforma para circulação durante a construção - Possibilidade de compactação das camadas sobrejacentes em adequadas condições Terreno da fundação - Suporte do pavimento - São as suas características que condicionam o dimensionamento Fonte: Francisco, 2012 22 Existe uma diferença notável entre o comportamento à deformação por parte de um pavimento flexível em relação a um pavimento rígido, tal diferença pode ser percebida, considerando a rigidez de uma placa de betão comparada à rigidez de um revestimento asfáltico, material com o módulo de deformação inferior, sofre deformações locais, enquanto que a placa de betão trabalha para absorver as cargas aplicadas como um todo, uniformizando o comportamento ao longo de toda a placa. Figura 1.2 - Distribuição de cargas Fonte: Guedes, 2009 23 1.4 MATERIAIS Os pavimentos são, genericamente estruturas como outras, estudadas no âmbito da engenharia civil, contudo, apresentam a particularidade de estarem dispostas em camadas sobrepostas e de serem constituídas por materiais com características mecânicas mais difíceis de quantificar contrariamente ao caso do betão e do aço. Certos materiais dos pavimentos apresentam características viscoelásticas (função da temperatura e dos tempos de aplicação de carga) como é o caso dos materiais betuminosos, ou função do estado de tensão como é o caso dos módulos de deformabilidade dos materiais granulares (Batista, 2010). A solicitação de tráfego e as características das camadas do pavimento são de grande importância estrutural. Como tal, é necessário limitar as tensões e deformações na estrutura do pavimento através de uma combinação de materiais e espessuras das camadas constituintes. Desta forma, é necessário um bom conhecimento dos materiais usados para o seu correcto dimensionamento. 1.5 MISTURAS BETUMINOSAS As misturas betuminosas são constituídas por um conjunto de materiais granulares doseados e misturados em central com uma quantidade de ligante betuminoso previamente determinada. As misturas betuminosas fabricadas a quente em central podem ser aplicadas em camadas com características de desgaste, regularização, ligação ou base (Alves, 2016). O seu comportamento depende da temperatura que apresentam, do tempo de carregamento e das percentagens associadas à composição da mistura. Em presença de temperaturas mais altas, os betumes podem apresentar comportamentos viscoelásticos ou mesmo viscosos, afectando o desempenho das misturas. O módulo de deformabilidade das misturas betuminosas indicado no catálogo SATCC (1998) é apresentado na tabela 1.1. Ainda assim, o manual refere que os valores a adoptar de coeficiente de Poisson para as misturas betuminosas está entre 0,40 a 0,44, sendo o valor aconselhado 0,44. Contudo não se faz referência de nenhuma metodologia de cálculo para a previsão do módulo de deformabilidade em misturas betuminosas, nem como deve ser considerada a influência da temperatura na sua definição, nem se indicam os valores de 24 velocidade de circulação dos veículos pesados para as quais foram definidos os módulos de deformabilidade indicados (Alves, 2016). Tabela 1.1 - Módulo de deformabilidade das misturas betuminosas segundo a norma da SATCC Fonte: SATCC, 1998 É de referir que devido a essas condicionantes, os valores propostos na (tabela 1.2 são os que devem ser tidos em consideração, desta forma serão utilizados os valores correspondentes no que diz respeito ao módulo de deformabilidade das misturas betuminosas (Alves, 2016). Tabela 1.2 - Módulo de deformabilidade das misturas betuminosas em função da temperatura Fonte: SATCC, 1998 25 1.6 MATERIAIS GRANULARES O agregado para efeitos de pavimentação deve ser um material granular de origem natural, artificial ou reciclado. Estes materiais devem manter-se pouco alterados e não devem conter substâncias orgânicas ou quaisquer outras substâncias estranhas, tais como madeira etc. As camadas granulares constituem muitas vezes o principal elemento resistente da estrutura. Elas devem resistir às acções induzidas pelo tráfego e redistribuí-las pela camada de fundação, de forma a que possam ser sustentadas por esta. Estas camadas trabalham, fundamentalmente, pelo atrito interno entre as partículas, fazendo com que a resistência ao desgaste por atrito dos agregados seja uma das propriedades indispensáveis para o seu bom funcionamento. Contudo, quando se colocam agregados com resistências mais baixas, provocasse a produção excessiva de finos, que por sua vez, aumenta a deformabilidade das camadas (Jiménez, 2006). 1.7 SOLOS DE FUNDAÇÃO A fundação de um pavimento é dada pelo conjunto das camadas onde este está assente, incluindo, para além da camada de leito do pavimento, os terrenos subjacentes. A capacidade de suporte da fundação sobre a qual assenta o pavimento. Depende, essencialmente da natureza e das propriedades dos solos existentes. Todavia, a rapidez com que se faz sentir a sua degradação depende das condições de drenagem e da proporcionalidade com que as cargas, vindas das camadas superiores, actuam sobre ela (Jiménez, 2006). O solo de fundação é classificado em função do índice CBR do material, que representa as condições a que o solo de fundação se encontra. Na prática o índice CBR deve ser avaliado para as condições de teor de humidade e compactação mais condicionantes (Alves, 2016). Para obtenção do módulo de deformabilidade do solo através de um valor do índice CBR é utilizada a expressão (1) proposta pela Shell ((Shell, 1985). Com esta expressão é possível obter-se, de forma expedita, uma boa estimativa do módulo de deformabilidade. E(MPa)=10×CBR (%) 26 1.8 REVESTIMENTO A camada de revestimento de uma estrada tem a função de resistir aos esforços horizontais e transmitir a carga dos veículos para as camadas inferiores, além de evitar a infiltração da água pela superfície. Esta camada tem carácter funcional e deve proporcionar: • Condições adequadas de tráfego, mesmo em situações adversas; • Resistência aos desgastes causados pelo tráfego; • Diminuição de poeira excessiva no período seco; • Baixo custo de construção; • Baixa necessidade de manutenção. 1.9 BASE A camada base com capacidade de suporte maior do que a sub-base, tem função de distribuir as cargas absorvidas pela camada superficial, de forma tal que estas não causem deformações nas camadas inferiores. A base também deve proteger a sub-base de mudanças de volume ou desagregação, devendo ser estável pois a projecção de uma estrada sobre uma camada, com capacidade de suporte inadequada, promove a rápida deterioração da via. 1.10 SUB-BASE A sub-base é a camada existente entre a fundação e a base, tendo sua existência ligada às condições do solo sobre o qual a estrada será construída, ou seja, sua construção só é necessária em solos com resistência e propriedades inadequadas. Esta camada tem a função de proteger o terreno de fundação, promover drenagem adequada, e distribuir as cargas a fundação. 27 1.11 TERRENO DE FUNDAÇÃO O terreno de fundação é a camada de fundação das vias, devendo suportar os carregamentos recebidos por estas. Pode ser constituída de material do próprio terreno (material in situ) ou por rocha ou solos compactados O terreno de fundação do pavimento, geralmente, passapor um serviço de terraplenagem que lhe proporcionará características geométricas definitivas. 28 2 METODOLOGIA DE ENSAIOS E PARA O DIMENSIONAMENTO Para os ensaios utilizou-se a norma da ASTM, e para o dimensionamento a norma da SATCC. 2.1 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA Análise granulométrica: consiste na determinação das percentagens em peso das diferentes fracções constituintes da fase solida do solo (DNIT, 2006). Neste ensaio, não se pretende mais do que analisar o tamanho das partículas dentro uma amostra de solo e a forma como elas se distribuem nesta amostra. Para as partículas de solo maiores do que 0,075 mm (peneira nº 200 da ASTM), o ensaio é feito passando uma amostra do solo por uma série de peneiras de malhas quadradas de dimensões padronizadas, no peneiro 10 ficou o retido e o passado de seguida lavados e colocados em uma estufa para sua secagem. Fotografias 2.1 e 2.2 - Solo retido no peneiro. E o solo passado Fonte: AUTOR, 2020 29 Fotografias 2.3 e 2.4 - Lavagem do solo passado no peneiro. E do solo retido Fonte: AUTOR, 2020 2.2 LIMITES DE CONSISTÊNCIA Para caracterizar um solo segundo sua plasticidade, no Manual de pavimentação, indica a determinação do limite de liquidez e o limite de plasticidade. Quando a humidade de um solo é muito elevada, ele se apresenta como um fluido denso e diz-se estar no estado liquido. A medida que vai perdendo água, ele endurece e vai passando do estado liquido para estado plástico. ou fluido. A humidade correspondente ao limite entre os estados liquido e plástico é denominada de limite de liquidez ( DNIT, 2006). Limites de consistência: estes limites permitem avaliar a plasticidade dos solos, e o solo encontrando no caso de estudo e arenoso logo não tem plasticidade ( NP). Peneirou-se no peneiro 40 conforme a norma diz. 30 Fotografias 2.5 e 2.6 - Solo passado no peneiro. E o solo retido Fonte: AUTOR, 2020 2.3 CBR O CBR que permite obter o valor da capacidade resistente do solo do leito do pavimento em percentagem. Momento em que homogeneizava o solo e de seguida o mesmo solo ia dentro do molde para as devidas pancadas, depois lizava o solo sobre o molde e pesava na balança. Colocados os moldes embebidos na água durante 4 dias conforme diz a norma e durante os quatro dias fez-se leituras de expansão, no ultimo dia tirou-se os moldes da água para depois serem rompidos em uma prensa fazer a colheita dos dados para temos os valores do CBR conforme nas fotografias abaixo. Fotografias 2.7 e 2.8 - Batendo CBR. E homogeneização do solo Fonte: AUTOR, 2020 31 Fotografias 2.9 e 2.10 - Lisando o solo sobre o molde. E tirar seu peso Fonte: AUTOR, 2020 Fotografias 2.11 e 2.12 - Expansão. Molde colocado na prensa para ser rebentado Fonte: AUTOR, 2020 32 Quadro 2.1 - Especificações para estabelecimento do índice CBR Condições do solo de fundação Condições das amostras nos ensaios de CBR laboratoriais Em alguns períodos ocorrem situações de satur ação (época de chuva, zonas com nível freático alto e potenciais zonas de inundação). CBR a 100٪ de compactação para as condições ótimas (AASHTOT-99). Valores de CBR obtidos após 4 dias embebidos em água. Ocorréncias de situações de saturação pouco pr ovável, mas épocas com maior humidade pode m ocorrer. CBR a 100٪ de compactação para as condições ótimas (AASHTOT-99). Valores de CBR obtidos sem embebi ção em água. Condições secas (nível freático baixo). CBR a 100٪ de compactação para as condições ótimas (AASHTOT-99). Amostras são posteriormente secas até se obter o teor de água de projecto. Valores de CBR obtidos sem embebição em água. Fonte: SATCC,1998 2.4 GENERALIDADES No sentido de facilitar o processo de dimensionamento de pavimentos na região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC - Southern Africa Development Community) foi criado pela Southern Africa Transport and Communications Commission (SATCC) o manual de dimensionamento, Draft Code of Practice for Design of Road Pavements (SATCC, 1998), em que se apresentam diversas tipologias de pavimentos rodoviários flexíveis novos sendo elas dimensionadas em função do tráfego, classe de fundação e das condições climáticas como será abordado em pormenor. 33 Existem algumas restrições à utilização do Manual SATCC, descritas no mesmo, dentre elas, são as seguintes: • Só é considerado para pavimentos flexíveis, podendo ter camadas granulares de base e sub- base estabilizadas com ligantes hidráulicos. •.Está limitado ao dimensionamento de cargas por eixo padronizada com 80kN, um valor de tráfego de 30x106 ESAs, e o solo de fundação tem que apresentar no mínimo, um índice CBR de 2%. • Para casos em que se extrapole um valor de tráfego superior a 30x106, o manual estabelece que se devem adoptar metodologias de outros países como o Reino Unido, Estados Unidos da América ou Austrália. E para os casos em que o índice CBR for inferior a 2%, devem ser utilizadas medidas curativas (estabilização com cal, remoção do material numa dada profundidade ou introdução de geo-materiais). O Manual SATCC (1998) foca-se apenas na origem da configuração da camada mais apropriada para formar a estrutura de pavimentação, porém existem condições inerentes que devem ser apresentadas se a pavimentação funcionar adequadamente: • A estrada tem uma superfície impenetrável; • A estrada tem bermas de pelo menos 1m de largura; • A estrada tem uma inclinação transversal mínima de 2%. 34 Figura 2.1 - Países contemplados pelo manual da SATCC Fonte: SADC, 2012 2.5 TRÁFEGO Uma estrada procura garantir a deslocação de veículos, pessoas e bens em condições de segurança, comodidade e economia. Desta forma, tráfego(circulação) é o conjunto dos veículos, dos passageiros e das mercadorias que circulam numa via de comunicação, consideradas em conjunto ou separadamente ( LNEC, 1962). Se consideradas separadamente teremos, tráfego de veículos, tráfego de passageiros, ou tráfego de mercadorias. O tráfego rodoviário (ação conjunta) é a principal ação que irá solicitar o pavimento. Contudo, a sua definição reveste-se sempre de muitas incertezas pois existe a necessidade de fazer projeções para o tempo de vida útil do pavimento (Afonso & Gomes, 2010). É de realçar que, o objetivo primordial de uma estrada é garantir a existência de uma superfície que permita 35 a circulação de veículos com segurança, comodidade e, ainda assim, que seja económica e sustentável. O tráfego provoca ao longo do tempo, uma consolidação das camadas constituintes do pavimento que, por sua vez, gera assentamentos irreversíveis. O tráfego é caraterizado pela sua densidade, pelo seu volume e pela sua velocidade. 2.6 DENSIDADE DE TRÁFEGO A densidade de tráfego é o número de veículos que, num dado instante, ocupa a unidade de comprimento de uma via de tráfego. Exprime-se geralmente em veículos/km. Onde: q(t) - Fluxo ou volume de tráfego (veículo/h) S - Velocidade média (Km/h) K(t) - Densidade de tráfego (veículo/Km) 2.7 VELOCIDADE DO TRÁFEGO A velocidade de tráfego é a rapidez com que um veículo se faz deslocar entre dois pontos pré-definidos. A velocidade de tráfego influencia o correto desempenho dos pavimentos, nomeadamente no seu módulo de deformabilidade. Devido ao comportamento visco-elasto- plástico das misturas betuminosas, a velocidade de tráfego, ou de aplicação de cargas,influencia consideravelmente o desempenho do pavimento, exibindo módulos mais baixos para velocidades mais baixas e módulos altos quando as velocidades de circulação são altas. Desta forma a deformabilidade do pavimento perante velocidades baixas é mais que para velocidades mais altas do tráfego. Alguns investigadores referem que a extensão vertical 36 máxima das camadas betuminosas provocada por um veículo pesado a 20 km/h é cerca do dobro da provocada pelo mesmo veículo a 80 km/h (Chen, 2000). Fazendo o cruzamento entre a densidade, o volume e a velocidade, é possível apresentar um conceito muito importante, a capacidade, que representa o número máximo de veículos que poderá passar por uma determinada seção durante um determinado período de tempo. 2.8 VOLUME DE TRÁFEGO O volume de tráfego é o número de veículos que passa numa dada seção da estrada durante um período determinado. Exprime-se geralmente em veículos por unidade de tempo. Podendo esta ser medida durante anos, meses, semanas, dias ou até horas. Esta caraterística do tráfego é dinâmica em regiões que se encontram em desenvolvimento, aumentando anualmente, desta forma é necessário que seja feita uma previsão através de modelos adequados, que sejam representativos das caraterísticas do tráfego futuro, nomeadamente, a capacidade estrutural do pavimento. Desta forma, é necessário estabelecer alguns conceitos que fazem uma estimativa dos volumes de tráfego: diário e horário. 2.9 VOLUME DIÁRIO Os volumes de tráfego variam ao longo de todo o mês, ao longo de cada semana, tornandose mais expressivos entre os dias úteis e os fins-de-semana. Para caraterizar melhor esses picos, estabelece-se: Tráfego médio diário anual (TMDA) - média dos volumes de tráfego medidos num determinado local nas 24 horas do dia e ao longo de 365 dias por ano, ou seja, é o número total de veículos que atravessou uma dada secção, dividido por 365 (Viegas, 2006). Tráfego médio diário (TMD) - média dos volumes de tráfego medidos num determinado local nas 24 horas do dia, mas ao longo de um período inferior a um ano. Enquanto o TMDA é para um ano inteiro um TMD pode ser medido para seis meses, uma estação, um mês, uma semana ou até para dois dias. Um TMD é válido apenas para o período de tempo em que é medido (Viegas, 2006). 37 2.10 VOLUME HORÁRIO Os volumes de tráfego diários sendo preponderantes para a definição de elementos necessários ao correto dimensionamento dos pavimentos, não são a única caraterística do tráfego rodoviário a ter em conta, desta forma, é necessário analisar que além das variações entre os dias da semana, também existem as variações entre as várias horas do dia, existindo picos de maior fluxo de veículos (Viegas, 2006). Para tal, estabelece-se o conceito do volume horário de ponta (VHP) que permite avaliar as variações horárias de tráfego, geralmente, ao longo da manhã e ao final da tarde devido ao grande fluxo que se verifica nesses períodos, tendo em conta as deslocações casatrabalho, e vice-versa. Estabelecendo-se a hora do dia com maior volume de tráfego (ponta horária). 2.11 VIDA ÚTIL DO PROJETO A vida útil do projeto é o período durante o qual espera-se que a estrada possa suportar um tráfego em um nível satisfatório de serviço, sem necessitar uma reabilitação principal ou trabalho de reparação. No entanto, existe a necessidade de se efetuarem trabalhos de manutenção periódica para que não haja um fracasso prematuro e uma perda significativa do investimento inicial (SATCC, 1998). A norma estabelece que o tempo máximo de vida destes pavimentos é de 20 anos e que o tempo mínimo deverá ser de 10 anos por questões económicas. Para os valores presentes nesse intervalo existem alguns fatores e incertezas que devem ser especificadas pelo projetista, no entanto, habitualmente, estabelece um período de 15 ou 20 anos (SATCC, 1998). 38 Tabela 2.1- Seleção do tempo útil do projeto Segurança das informações do projecto Importância Nivel de serviço Baixo 10 - 15 anos 15 anos Alto 10 - 20 anos 15 - 20 anos Fonte: SATCC, 1998 2.12 CARACTERIZAÇÃO DO TRÁFEGO Quando se dimensionam os pavimentos rodoviários, tem-se em conta, apenas, as acções induzidas pelos veículos pesados, uma vez que, induzem o fendilhamento e a deformação das camadas do pavimento. O efeito causado ao pavimento por parte do veículo pesado depende da carga por eixo e da sua respectiva configuração. São considerados veículos pesados, aquele cujo peso bruto seja superior ou igual a 300 KN, incluindo autocarros e camiões com ou sem reboque ou semi-reboque. No âmbito da verificação do dimensionamento dos pavimentos, é frequente utilizarem- se os efeitos do tráfego pesado acumulado ao longo do período de dimensionamento em termos de número equivalente de eixos padrão, sendo adoptados, no SATCC, eixos padrão de 80 KN para pavimentos flexíveis e 130 KN para pavimentos semi-rígidos e rígidos (Jiménez, 2006). 2.13 CONDIÇÕES CLIMÁTICAS A condição climática é um factor preponderante a ter em conta no dimensionamento de pavimentos. As mudanças de temperatura e a precipitação provocam diversas acções danosas que reduzem o período de vida, aumentam a rugosidade, provocam a subida de finos e, gradualmente vão levando à rotura do pavimento (Climate, 2018). Estes factores têm especial relevância em Angola por se tratar de um país localizado em uma zona tropical, contudo, apresenta um comportamento climático diferenciado em várias zonas do país. Isto deve-se ao fato de comportar três factores distintos, nomeadamente a corrente fria de Benguela, ao longo da zona costeira na parte sul do país; apresenta um relevo 39 considerável no interior e sofre a influência do clima desértico na zona do Namibe, a sudoeste do país. O clima, em Angola, caracteriza-se por duas estações, nomeadamente época da chuva, de Outubro a Abril e o Cacimbo (época seca), de Maio a Agosto, sendo esta a época em que se atingem as temperaturas mais baixos durante o ano. Os índices de pluviosidade, na zona costeira, decrescem de Norte a Sul, desde os 800mm até aos 50mm, com temperaturais médias anuais acima dos 23ºC. Desta forma pode-se dividir em três grandes zonas. • Zona Norte – caracterizada por apresentar grande pluviosidade e temperaturas altas; • Zona Centro/Planalto Central – com temperaturas médias anuais mais baixas do que na orla costeira, a rondar os 19ºC; • Zona Sul – com amplitudes térmicas bastante elevadas dada a proximidade que se faz sentir com o Deserto do Kalahari e a influência das massas de ar tropical. Classificação Climática Tropical húmido Modificado pela altitude Tropical seco Tropical desértico Capital das províncias 40 Figura 2.2 - Tipos de clima em Angola. No norte, sul, centro, e planalto central Fonte: SUPRAWEB LDA, 2018 Uma vez que, os pavimentos apresentam grandes áreas expostas ao intemperismo e ações do tráfego facilmente se desenvolvem patologias que colocam em causa a segurança, comodidade e bem-estar dos que nele se fazem circular. Nesta vertente, as variações de temperatura potenciam o desenvolvimento de pequenas aberturas nos pavimentos devidas às tensões que se geram, abrindo caminho para a entrada da água proveniente da precipitação, que por sua vez aumenta os níveis de degradação progressivamente (Climate, 2018). 41 Figura 2.2 - Tipos de clima em Angola. No norte, sul, centro, e planalto central Fonte: SUPRAWEB LDA, 2018 Desta forma, as condições climáticas, de uma forma geral, traduzem-se no desempenho do pavimento, uma vez que a retracção dos solos da fundação do pavimento e o empenamento das camadas betuminosas devido a variações de temperatura podem levar à perda de contacto com a fundação e, por isso, facilitar aintrodução de água precipitada entre a parte inferior das camadas betuminosas e o leito do pavimento. A água pode penetrar nos pavimentos pelas juntas, aberturas e superfícies porosas pois, é muito difícil manter a água longe dos pavimentos, por muito tempo. Como as condições climáticas variam de estação para estação, de uma forma cíclica, os índices de produção de patologias/degradações seguem uma tendência periódica, com maiores danos e perdas de serventia nos períodos húmidos que nos secos (Climate, 2018). 42 3 ESTUDO DE CASO O projecto esta localizado em Luanda no Município do Kilamba Kiaxi, Bairro Capolo II e tem uma extensão de 2.641 km, vista aérea do caso de estudo. Fotografia 3.1 - Vista aérea do caso de estudo Fonte: Google, 2020 Legenda: Troço do caso de estudo. 43 3.1 ESTADO ACTUAL DA ESTRADA O troço em estudo encontra-se em péssimas condições dificultando a circulação, e em tempos de chuva as ruas ficam todas alagadas precisa-se melhorar para evitar a existência de buracos e lombas conforme mostram as fotografias. Fotografias 3.2 , 3.3 e 3.4 - Entrada principal. E suas respectivas ruas Fonte: AUTOR, 2020 44 3.2 DETERMINAÇÃO DAS ESPESSURAS DAS CAMADAS E DOS CBR Terreno de fundação:9 ٪ Sub - base:30٪ Base:75٪ Tabela 3.1 - Classe de fundação Designação de classe de subsolo Limites do subsolo CBR (٪) S1 S2 S3 S4 S5 S6 2 3 - 4 5 - 7 8 - 14 15 - 29 30+ Fonte: SATCC,1998 Tabela 3.2 - Classe do tráfego Designação de classe de subsolo Limites de tráfego (milhão ESAs) T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7 T8 ˂ 0.3 0.3 - 0.7 0.7 - 1.5 1.5 - 3 3 - 6 6 -10 10 -17 17 - 30 Fonte: SATCC,1998 Nota : A classe de fundação é a S4 e a do tráfego é T3, e o limite do tráfego é de 1.5 milhão ESAs. Tabela 3.3 - Espessura das camadas Camadas Designação cm 1 Mistura betuminosa continua 5.0 2 Camada granular de base 15 3 Solo na sub base 15 4 Solo de fundação 20 Fonte: AUTOR, 2020 45 Tabela 3.4 - Diagrama da sub-base e base Fonte: SATCC,1998 Nota: Tabela para regiões húmidas. 46 3.3 DETERMINAÇÃO DO MÓDULO DE DEFORMABILIDADE DO SOLO ETerreno de fundação = 10 × CBR ETerreno de fundação = 10 × 9 = 90 MPa Esub-base = K × ETerreno de fundação = 0.68 × 90 = 61.20 MPa Ebase = K × Esub-base = 0.68 × 61.20 = 41.62 MPa EBetuminoso = 4000 MPa K = 0,2 × (h)0,45 K = 0,2 × (15)0,45 = 0.68 Nota : O modulo de deformabilidade do betuminoso é de 4000MPa devido a está condição d≤100 na tabela 3.5. Tabela 3.5 - Módulo de deformabilidade das misturas betuminosas segundo a norma da SATCC Fonte: SATCC, 1998 47 Tabela 3.6 - Profundidade em função da classe de fundação dmin (m) S1 S2 S3 S4 S5 S6 0,25 0.25 0.35 0.45 0.55 0.65 Fonte : SATCC (CSIR, 1998) d é a profundidade onde a estrutura do pavimento vai se assentar e onde os materiais vão se intersectar e obtém-se o valor de d tendo em conta a classe de fundação que é S4. Tabela 3.7 - Modulo de deformabilidade Camadas E (MPa) Camada de revestimento 4000 Camada de base 41.62 Camada de sub-base 61.20 Solo de fundação 90 Fonte : AUTOR, 2020 Nota : Os valores obtidos no modulo de deformabilidade são aceitáveis, porque se desse valores mas baixos já não seriam aceitáveis e a deformação seria maior. 48 CONCLUSÃO O trabalho foi elaborado tendo em conta os pré-requisitos da norma SATCC, atendendo à situação económica vivida em Angola, e à sua necessidade em se estabelecer na economia mundial, tem-se verificado um grande crescimento ao nível da sua rede viária, devido ao fato de se pretender potenciar o transporte de pessoas e bens. Dessa forma, espera-se que nos próximos anos a indústria da AEC venha a precisar de implementar soluções economicamente mais eficientes. Neste momento as infra-estruturas de transporte mais utilizadas são as estradas, e nestas, diariamente, verificam-se em maior destaque, grandes solicitações de carga associadas ao grande fluxo de veículos, assim como, não menos importante, os factores climáticos que acabam por acelerar o processo de degradação dos pavimentos. Foi necessário fazer a recolha de amostras no caso de estudo, para se fazer os devidos ensaios laboratoriais de modos a saber as propriedades do material, seguindo as especificações da norma ASTM. E aplicou-se modelos de cálculos com objectivos de se obter as espessuras das camadas que constituirão o pavimento flexível, e os ensaios são muito importantes no dimensionamento de pavimento flexível. Conclui-se que para ter um dimensionamento melhorado ao nível dos pavimentos, é necessário ter dados de tráfego actualizados, ter o controle da carga que circula no pavimento, necessidade de implementação de uma normalização e regulamentação técnica mais adequada ao país, para que se possa posteriormente melhorar os sistemas de gestão de pavimentos para optimização da vida útil dos pavimentos. O pavimento terá o tempo de vida útil de 15 anos e quando se fez o dimensionamento cumpriu-se com todas as especificações da norma da SATCC, e vai permitir que o tráfego no Bairro do Capolo II ofereça boas condições e segurança sendo também umas das alternativas para os utentes. 49 RECOMENDAÇÕES FUTURAS Com o passar do tempo, o transporte rodoviário tem-se intensificado cada vez mais, o turismo, o comércio, a intensificação demográfica são factores preponderantes para que se faça sentir esse efeito, de tal modo que, a capacidade de carga dos pavimentos tem sido colocada à prova. Então, apela-se que a manutenção das mesmas seja monitorizada da melhor forma possível. Para tal, contempla-se que sejam feitas campanhas periódicas nos pavimentos mais solicitados por forma a garantir a sua funcionalidade a custos menos onerosos. Espera-se que se faça um estudo mais pormenorizado, constante e periódico por forma a manter actualizados os dados de tráfego rodoviário ao nível nacional. 50 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Afonso, (2010). Pavimentos rodoviários em África. Alves, (2016). Dimensionamento de pavimentos rodoviários: comparação entre diferentes metodologias. Tese de Mestrado, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Engenharia Civil. Batista, (2010). Drenagem superficial de vias de comunicação. Tese de Mestrado, Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, Departamento de Engenharia Civil, Lisboa, Portugal. Cerqueira, (2013). Dimensionamento de pavimentos rodoviários flexíveis.Trabalho Prático. Geotecnia rodoviária e pavimentação. Aveiro: Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Aveiro. Chen, (2000). Traffic Modeling, Prediction, and Congestion Control for High-Speed Networks: A Fuzzy AR Approach. IEEE Transaction on Fuzzy Systems Vol.8, Nº5. Climate,(2018).Climate-Data.Obtidode https://pt.climatedata.org/africa/angola/cuanza- norte/dondo. DNIT, (2017). Glossário de Termos Técnicos Rodoviários. Rio de Janeiro: Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. do Vale, (2004). Comportamento estrutural de pavimentos rodoviários flexíveis. Contributos para modelação. Tese de Mestrado, Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia, Porto, Portugal. Francisco, (2012). Comportamento estrutural de pavimentos rodoviários flexíveis. Tese de Mestrado, Instituto Politécnico de Bragança, Escola Superior de Tecnologia e de Gestão, Bragança. Guedes, (2009). Concreto rolado como base para pavimento de revestimento em concreto betuminoso. Especialização em pavimentação e restauração rodoviária e aeroportuária, Faculdades Kennedy, Belo Horizonte, Brasil. Jiménez, (2006). Manual de pavimentação. CEPSA. 51 Kamena,(2017). Anotações na disciplina de vias de comunicação I. Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola. Luciano, (2009). Manual de Técnicas de Pavimentação. Moraes, (2017). Análise de alternativas de dimensionamento de pavimento asfáltico para uma rodovia de alto volume de tráfego. Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Engenharia Civil, Minas Gerais, Brasil. Supraweb Angola, LDA. (2018). Info Angola. Obtido de A Biblioteca Virtual de Angola. SATCC, (1998). Code of Practice for Design of Road Pavements (Draft). Maputo: Southern Africa Transport and Communications Commission. Shell, (1985). Shell Pavement Design Manual - Asphalt Pavements and Overlays of road Traffic. London: Shell International Petroleum. Viegas, (2006). Engenharia de tráfego rodoviário. Folhas da disciplina, Instituto Superior Técnico, Departamento de engenharia e arquitetura, Lisboa. 52 APÊNDICES 01 - Identificação da amostra 02 - Determinação do teor de água 03 - Análise granulométrica de solos por peneiração húmida 04 - Determinação dos limites de consistência e índice de plasticidade 05 - Ensaio de compactação tipo proctor 06 - Determinação do C.B.R
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