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Saúde Pública e Processo 
Saúde/Doença
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Saúde Pública e Processo Saúde/Doença
Autora: Stella Bianca Gonçalves Brasil Pissatto
Como citar este documento: BRASIL-PISSATTO, Stella Bianca Gonçalves. Saúde Pública e Processo 
Saúde/Doença. Valinhos: 2015.
Sumário
Apresentação da Disciplina 03
Unidade 1: Conceitos e Definições de Saúde e de Doença 04
Unidade 2: Teoria Miasmática 29
Unidade 3: Unicausalidade 49
Unidade 4: Multicausalidade 76
Unidade 5: Determinantes Sociais 102
Unidade 6: Iniquidades 125
Unidade 7: Princípios do Sistema Único de Saúde 153
Unidade 8: Normas Regulamentadoras do Sistema Único de Saúde 177
2/201
3/201
Apresentação da Disciplina
Caro(a) aluno(a),
Para trabalhar na saúde pública, tanto 
como gestor, gerente de unidade ou como 
profissional, deve-se ter conhecimento 
de epidemiologia com compreensão do 
processo saúde/doença e reconhecimento 
de que esse fenômeno se modifica ao 
longo do tempo.
Mesmo que você não trabalhe na saúde 
pública é imprescindível o conhecimento 
dos conceitos para exercer uma prática 
mais reflexiva e contextualizada, não 
somente dos conceitos, mas de todo o 
Sistema de Saúde.
Você verá que os conceitos se constroem 
de acordo com os avanços tecnológicos, 
os aspectos sociais e econômicos da 
população no contexto histórico dos 
países, incluindo o Brasil. 
Nesta disciplina serão apresentados os 
conceitos de saúde e de doença ao longo 
do tempo, os modelos teóricos de saúde 
e o conceito de saúde e doença como 
processo. Além dos conceitos, serão 
abordados os determinantes sociais, o 
desafio de vencer as iniquidades, bem 
como os outros princípios do SUS.
Para deixar a leitura mais interessante, os 
conceitos serão mesclados com exemplos, 
convidando você a refletir sobre as 
questões relacionadas ao tema.
Esperamos que, a partir das reflexões e 
considerações propostas nesta disciplina, 
poderemos contribuir para sua formação 
e, consequentemente, contribuir para a 
própria consolidação do Sistema Único de 
Saúde (SUS) em nosso país.
4/201
Unidade 1
Conceitos e Definições de Saúde e de Doença
Objetivos
1. Apresentar os vários conceitos de 
saúde e doença ao longo da história;
2. Discutir sobre os aspectos filosóficos 
e antropológicos do conceito de 
saúde e de doença; 
3. Abordar a saúde e a doença como 
processo.
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença5/201
Introdução
Quando o enfermeiro, o médico, o paciente 
e a família do paciente falam em saúde 
e em doença, eles estão se referindo à 
mesma realidade?
Conceituar tanto saúde quanto doença 
pode parecer tarefa simples, mas ambos 
exigem conhecimentos complexos, 
pois dependem de valores individuais, 
concepções científicas, concepções 
religiosas e até mesmo filosóficas que 
variam de acordo com o tempo, lugar e 
sociedade (SCLIAR, 2007).
A definição de saúde na antiguidade 
remetia às questões religiosas e 
sobrenaturais. Para algumas civilizações 
antepassadas, a alma poderia se separar 
do corpo devido a ações dos deuses ou 
dos próprios inimigos terrenos, assim, a 
pessoa adoecia quando estava tomada 
por espíritos ou almas estranhas. Em 
algumas crenças, o próprio demônio 
poderia possuir a pessoa, e nesses casos 
os tratamentos consistiam em expulsar as 
almas e demônios dos corpos, utilizando 
as práticas de exorcismo. No entanto, a 
ingestão de substâncias ou a aspiração 
de vapores (que desagradariam às almas) 
também consistiam em práticas utilizadas 
nessa época. (HEGENBERG, 1998).
Na Antiguidade, as religiões politeístas 
concebiam que a saúde era dádiva, e a 
doença, castigo dos deuses. Já as religiões 
monoteístas também consideravam 
a saúde como dádiva, a exemplo das 
citações bíblicas de Êxodo (15, 26): “Eu 
sou o Senhor, e é saúde que te trago” e em 
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença6/201
Eclesiastes (38, 1-9): “De Deus vem toda 
a cura”, porém, diferente dos politeístas, 
a doença era considerada castigo, sendo 
esse um sinal de ira diante dos pecados 
humanos (SCLIAR, 2007). 
Hipócrates (460 e 370 a.C.), considerado 
o pai da Medicina, afasta as explicações 
mágicas e religiosas da doença, atribuindo 
para essa as causas naturais. Para ele, “A 
doença chamada sagrada não é, em minha 
opinião, mais divina ou mais sagrada que 
qualquer outra doença; tem uma causa 
natural e sua origem supostamente divina 
reflete a ignorância humana” (SCLIAR, 
2007). Assim, as causas naturais ou o 
desequilíbrio entre os fluidos corporais 
eram, para Hipócrates, os causadores das 
doenças. Considerava ainda a avaliação do 
paciente como um todo, além de outros 
fatores, como o clima, a maneira de viver, e 
os hábitos alimentares interferindo nesse 
equilíbrio e ocasionando a doença, a partir 
desse desequilibrando. (PEREIRA, 2006). 
Galeno (131-201) dá continuidade aos 
postulados de Hipócrates, sendo que esse 
pensamento doutrina se mantém e se 
transmite, dominando o cenário até quase 
o final do século XVIII (HEGENBERG, 1998).
Vários estudos eram realizados através 
dos registros das pessoas que adoeciam, 
porém, ainda não estava claro o que as 
fazia adoecer, ou seja, a causa.
Com o avanço da ciência e o invento 
do microscópio, novos estudos 
foram realizados utilizando-se desse 
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença7/201
equipamento, assim, os estudos 
microscópicos, como o de Louis Pasteur 
(1822-1895), revelaram a existência de 
microrganismos que causavam doenças. 
Nos estudos de Koch (1873-1910), o bacilo 
da tuberculose e a bactéria da cólera 
foram isolados e analisados, reafirmando 
assim o conceito de doença à presença 
de um agente externo. Esses estudos 
possibilitaram também o desenvolvimento 
de soros e vacinas, revelando a 
possibilidade da prevenção e da cura de 
algumas doenças (SCLIAR, 2007). 
No século XIX, o médico inglês John Snow 
(1813-1858) realizou o primeiro e grande 
estudo sobre epidemiologia. Partindo 
dos casos de óbito por diarreia distribuída 
na população de Londres, o referido 
médico epidemiologista relacionou-os 
com as empresas de distribuição de água 
da cidade, associando-os, mais tarde, à 
descoberta da cólera. A doença passou 
a ser considerada em números de casos, 
como apontaram os estudos posteriores, 
de Louis René Villermé (1782-1863), o 
qual analisou a mortalidade nos diferentes 
bairros de Paris, e os de William Farr (1807-
1883), na Inglaterra, quando combinados 
os números de mortalidade entre os 
distritos (PEREIRA, 2006).
As condições sanitárias nos Estados 
Unidos, as revoluções de 1848 em Paris 
e os apontamentos de Karl Marx sobre o 
capitalismo fizeram com que a sociedade 
mundial se modificasse. Tais mudanças 
ocasionaram a criação de um sistema de 
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença8/201
seguridade social e saúde na Alemanha 
no ano de 1883. Em seguida, o mesmo 
ocorreu na França e, após a Primeira 
Guerra Mundial, em vários outros países, 
que foram implantando o sistema com o 
objetivo de oferecer uma compensação 
às pessoas, principalmente após a guerra. 
Cria-se então o Welfare System, o qual 
fornece atenção integral à saúde custeada 
pelo Estado. Até então não havia ainda um 
conceito único de saúde entre os países 
(SCLIAR, 2007). 
Após a Segunda Guerra Mundial, em 7 
de abril de 1948, criou-se a Organização 
Mundial da Saúde (OMS) (desde então, o 
dia 7 de abril é considerado o Dia Mundial 
da Saúde). A OMS divulgou um conceito 
de saúde que passou a ser a principal 
referência desse termo, assim, “Saúde é o 
estado do mais completo bem-estar físico, 
mental e social e não apenas a ausência de 
enfermidade” (SCLIAR, 2007). 
Nessa concepção, utilizada até os dias 
de hoje, a saúde abrange os conceitos 
da biologia (herança genética e os 
processos biológicos inerentes à vida); 
o meio ambiente (o solo, a água, o ar, a 
moradia, o local de trabalho); o estilo de 
vida (fumar ou deixar de fumar, beber 
ou não, praticar ou não exercícios, entreoutros); e a organização da assistência 
à saúde, como a assistência médica, os 
serviços ambulatoriais, hospitalares e os 
medicamentos (SCLIAR, 2007). 
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença9/201
1. As Questões Filosóficas e An-
tropológicas do Conceito de 
Saúde e de Doença
Você já ficou doente? Lembra-se de ter 
sentido dor? O que ela representou para 
você? 
Veja que a doença não pode ser 
compreendida apenas por meio das 
condições fisiopatológicas, pois quem 
estabelece o estado da doença é o 
sofrimento, a dor, o desprazer, enfim, 
os valores e sentimentos expressos 
pelo corpo subjetivo que adoeceu 
(CANGUILHEM, 2009).
Pense na seguinte estimativa realizada pelo 
sistema VIGITEL em 2015: “Quase 60% das 
pessoas com 65 anos ou mais dizem ser 
hipertensos”. No entanto, podemos afirmar 
que as pessoas que fazem parte desses 
60% da população se sentem doentes por 
ter diagnóstico de hipertensão?
Link
VIGITEL é um sistema do Ministério da Saúde que 
investiga, por inquérito telefônico, os fatores de 
risco para doenças crônicas (diabetes, obesida-
de, câncer, doenças respiratórias, cardiovascu-
lares) não transmissíveis (DCNT) no país. Dispo-
nível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/
index.php?option=com_content&view=ar-
ticle&id=10948&Itemid=649>
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10948&Itemid=649
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10948&Itemid=649
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10948&Itemid=649
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença10/201
A dor é uma experiência subjetiva, você 
pode sentir a dor, percebê-la, mas faltam 
palavras para descrevê-la. É provável 
que ao tentar defini-la você recorra 
a termos como: ‘pontada’, ‘facada’, 
‘soco’, etc. Todos esses termos remetem 
ao sofrimento, aversão e sensação de 
desprazer. Quadros clínicos semelhantes, 
ou seja, com os mesmos parâmetros 
biológicos, podem afetar diferentemente 
as pessoas, com diferentes manifestações 
de sintomas e desconforto, com 
comprometimento diferenciado de suas 
habilidades, e de atuar em sociedade 
(ALVES; MINAYO, 1994). 
Com certeza, você já deve ter ouvido 
alguma queixa de pessoas expressando sua 
dor, com descrições parecidas com essas: 
“Parece que escorre um líquido quente das 
costas até os pés” ou “Tenho uma dor como 
pontada, que inicia na barriga e vai até as 
costas toda vez que como carne” ou ainda 
“Sinto um calor tomar conta do meu corpo, 
e a cabeça parece que vai estourar”.
É difícil a compreensão exata da dor que 
o outro expressa, não é mesmo? Essas 
definições não se encontram nos livros e 
nos tratados.
Assim como a dor e a doença, a saúde 
também é um estado de percepção 
individual e do desempenho social (ALVES; 
MINAYO, 1994). Portanto, não pode ser 
reduzida a um termo científico, estatístico 
e probabilístico, mas como uma sensação 
e sentimentos do subjetivo (CANGUILHEM, 
2009).
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença11/201
Geralmente você não percebe a saúde, pois 
ela é silenciosa, você pode identificar apenas 
quando se adoece. Saúde é uma sensação 
vivenciada no corpo de cada indivíduo, de 
acordo com as suas particularidades. Dessa 
maneira, não é possível de ser medida 
ou comparada, pois tem representação 
diferente em cada pessoa. Assim, pode-se 
deduzir que o ser humano precisa conhecer-
se, avaliando as transformações sofridas ao 
longo de sua vida, já que somente ele pode 
identificar os sinais que seu corpo expressa 
(CAPONI, 2009).
Não existe um limite preciso entre a saúde 
e a doença, existe uma reciprocidade 
entre ambas. Os mesmos fatores de 
sobrevivência do ser humano como 
alimento, a água, o ar, entre outros, podem 
estar presentes em excesso ou podem 
não existir (falta de), sendo causadores 
de doença (CAPONI, 2009). O que você 
considera normal pode não ser normal 
para o outro, portanto não existe rigidez no 
processo. 
Veja que algumas palavras que vocês 
utilizam diariamente, como patologia, 
transtorno, doença, moléstia e 
enfermidade têm origens semânticas 
diferentes e remetem a significados 
diferentes. Almeida-Filho e Rouquayrol 
(2006, p. 33-4) descrevem muito bem 
esses termos, distinguindo-os:
• disease (doença) = “uma condição 
do corpo, ou de alguma parte ou 
órgão, cujas funções encontram-
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença12/201
se perturbadas ou prejudicadas”, 
“quadro clínico ou formas de 
comprometimento reconhecido 
socialmente como enfermidade”;
• illness (moléstia) = “qualidade ou 
condição de estar enfermo”. Tem 
origem de mal-estar no qual remete 
à percepção subjetiva do sofrimento 
(no espanhol: molestar = incomodar);
• pathology (patologia) = “interrupção 
de processos normais do organismo e 
esforços no sentido de restabelecer o 
estado normal da existência”;
• impairment (comprometimento) = 
“redução da capacidade anatômica, 
fisiológica, emocional ou funcional, 
impedindo a realização de atividade 
cotidiana e papéis sociais comuns”;
• disability (incapacidade) = 
“comportamento resultante de 
limitação funcional crônica ou 
permanente”;
• sickness (enfermidade) = está 
relacionado ao caráter social da 
doença (fermer do francês significa 
fechar), enfermaria remete a 
quarentena – isolamento; e
• handicap (desvantagem) = 
“prejuízo”.
2. O Conceito de Saúde-Doença 
como Processo
Para compreensão de processo deve-
se considerar a saúde percebida pelos 
indivíduos, a dimensão do bem-estar, o 
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença13/201
sofrimento experimentado pelas pessoas, 
suas famílias e grupos sociais. Aliadas à 
dimensão coletiva, interativa com ações 
individuais e coletivas, deve-se considerar 
ainda os dados de mortalidade, morbidade 
e classes sociais (SCHRAIBER; MENDES-
GONÇALVES, 1996).
O processo representa, então, o conjunto 
de relações e variáveis que produz e 
condiciona o estado de saúde e doença 
de uma população, considerando que 
essa se modifica ao longo da história, de 
acordo com o desenvolvimento científico 
(GUALDA; BERGAMASCO, 2004). 
Assim, o processo saúde-doença 
representa o conjunto de relações e 
variáveis que produzem e condicionam 
esse estado em uma população, 
modificando-se em diversos momentos 
históricos do desenvolvimento científico 
da humanidade. A esse conjunto de 
relações e variáveis soma-se o ambiente, 
sendo esse considerado como: o local em 
que as pessoas moram, trabalham e se 
relacionam, nos quais exercem influências 
e são afetadas por ele.
Reflita sobre a seguinte situação: “Uma 
família formada por quatro adultos e 
quatro crianças, habitando uma casa, de 
apenas dois cômodos, compondo cozinha 
e quarto, sendo o banheiro externo”. 
Provavelmente essa família apresentará 
conflitos, problemas que atingirão sua 
saúde mental; esse quarto, na maioria das 
vezes, é pequeno, úmido e sem ventilação, 
o que o torna insalubre. Essas prováveis 
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença14/201
características do local poderão acarretar 
doenças respiratórias, como bronquite, 
pneumonias, tuberculose, entre outras.
Com esse exemplo, pode-se observar que 
os fatores ambientais da moradia, assim 
como as relações econômicas, as relações 
sociais e as condições biológicas de cada 
um, podem ter interferência na vida das 
pessoas, causando ou não doenças. 
Para melhor compreensão, propõe-se a 
utilização de um conceito descrito por 
Narvai e Frazão (2008) para descrever a 
condição de saúde, denominando-a em 
três planos.
Assim, no Plano Subindividual há 
referência ao nível biológico ou orgânico e 
fisiológico ou fisiopatológico. Neste caso, o 
processo saúde-doença pode ser definido 
pelo equilíbrio entre a normalidade e a 
anormalidade, ou entre a funcionalidade 
e as disfunções. Comparando com 
imagem de uma balança (tipo específico), 
que pende para o lado mais pesado, 
assim, quando acometido por algumaanormalidade ou disfunção, podem 
ocorrer duas situações: a enfermidade ou 
a doença. Sendo assim, a enfermidade 
remete à condição percebida pela pessoa 
(algum sintoma físico ou mesmo dor), por 
exemplo: “desânimo, dores pelo corpo, 
calafrios”. A doença seria a condição 
detectada pelo profissional de saúde, com 
quadro clínico definido e enquadrado como 
uma entidade ou classificação noológica, 
por exemplo, o diagnóstico médico: HD: 
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença15/201
Pneumonia bacteriana não especificada 
CID: J15.9.
No Plano Individual as disfunções e 
anormalidades são consideradas pelos 
indivíduos como seres biológicos e sociais 
ao mesmo tempo. Ou seja, as alterações 
no processo saúde-doença resultam 
nos aspectos biológicos e nas condições 
gerais da existência dos indivíduos, 
grupos e classes sociais, considerando as 
dimensões individuais e coletivas. Segundo 
essa concepção, a condição de saúde 
poderia variar entre um extremo de mais 
perfeito bem-estar, com todos os eventos 
intermediários, até o extremo da morte.
E no Plano Coletivo, o entendimento sobre 
o processo saúde-doença se amplia para 
além das condições orgânicas e sociais 
individualmente, sendo estendida às 
representações dos determinantes do 
fenômeno na família, no domicílio, na 
microárea, no bairro, no município, na 
região, no país, entre outros. 
A condição de saúde, segundo esses três 
planos, propõe que uma condição saudável 
vai além da disponibilidade e do acesso 
aos serviços de saúde, mas propõe essa 
condição como um direito, que contempla 
o entendimento proposto pela OMS, no 
qual “o contínuo agir do ser humano ante 
o universo físico, mental e social em que 
vive, sem regatear um só esforço para 
modificar, transformar e recriar aquilo que 
deve ser mudado”, atribui ao conceito uma 
dimensão dinâmica, que valoriza o papel 
dos seres humanos na manutenção e na 
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença16/201
transformação da saúde tanto individual 
quanto coletiva, considerando-os como 
atores sociais no processo da própria vida 
(BRÊTAS; GAMBA, 2006).
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença17/201
Glossário
Welfare System: denominação em inglês para o Estado de Bem-Estar. Considera como o 
Estado, portanto público, assistencial que garante como direito à população a saúde, educação, 
habitação, renda, entre outros.
Nosológica: Área da medicina que estuda a classificação das doenças.
Microárea: subdivisão de uma área, sendo essa o espaço físico delimitado em que se 
concentram pessoas.
Questão
reflexão
?
para
18/201
Fazendo uma comparação, você pode observar que, 
no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, as ações 
de diagnóstico e de tratamento são voltadas para as 
doenças, enquanto que a promoção e a equidade são 
consideradas ações de saúde. Nessa perspectiva, quais 
conceitos de saúde e de doença foram valorizados pelo 
SUS?
19/201
Considerações Finais
Não existem conceitos únicos para saúde e para a doença, ou seja, ambos os 
conceitos foram construídos ao longo da história;
O conceito de saúde considera os aspectos biológicos, psicológicos e sociais; 
A saúde e o adoecer são experiências subjetivas e individuais, dificilmente 
descritas ou quantificáveis.
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença20/201
Referências
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2006. 296p
ALVES, P. C.; MINAYO, M. C. S. (org). Saúde e doença: um olhar antropológico [online]. Rio de 
Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1994. 174 p. ISBN 85-85676-07-8. Disponível em <http://books.
scielo.org>.
BRÊTAS, A. C. P.; GAMBA, M. A. (org). Enfermagem e saúde do adulto. São Paulo. Manole, 2006. 
328p.
CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitário, 2009. 
154p. ISBN 978-85-218-0393-5
CAPONI, S. A saúde como abertura ao risco. In: CZERESNIA, D. Promoção da Saúde: conceitos, 
reflexões, tendências. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009, p. 59-81.
GUALDA, D. M. R.; BERGAMASCO, R. Enfermagem - cultura e o processo saúde-doença. São 
Paulo: Ícone, 2004. 352p.
HEGENBERG, L. Doença: um estudo filosófico [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1998. 
137 p. ISBN: 85-85676-44-2. Disponível em <http://books.scielo.org>.
http://books.scielo.org
http://books.scielo.org
http://books.scielo.org
Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença21/201
NARVAI, P. C.; FRAZÃO, P. Práticas de saúde pública. In: ROCHA, A. A.; CESAR, C.L.G. (Org.). 
Saúde pública: bases conceituais. 1. ed. São Paulo: Atheneu, 2008, p. 269-295
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 558p. 
SCLIAR, M. História do conceito de saúde. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1), 
2007, p.29-41
SCHRAIBER, L.B. ; MENDES-GONÇALVES, R.B. Necessidades de saúde e atenção primária. In: 
SCHRAIBER,L.B. et al. (org.) Saúde do adulto: programas e ações na unidade básica. São Paulo, 
Hucitec, 1996. p.29-46
22/201
1. Em relação à saúde, assinale a alternativa incorreta:
a) Geralmente você não percebe a saúde, pois ela é silenciosa, você pode identificar apenas 
quando se adoece. 
b) Durante todo o processo histórico a doença esteve relacionada ao agente patogênico como 
sendo causa principal.
c) Pode-se considerar saúde o estado de bem-estar físico, mental e social.
d) Não existem conceitos únicos para saúde e para a doença, ou seja, ambos os conceitos 
foram construídos ao longo da história.
e) A saúde e o adoecer são experiências subjetivas e individuais, dificilmente descritas ou 
quantificáveis.
Questão 1
23/201
2. Em relação à doença, considere a alternativa incorreta:
a) A causa das doenças na antiguidade estava relacionada aos aspectos religiosos e 
sobrenaturais. 
b) A doença pode ser definida como condição detectada pelo profissional de saúde, com 
quadro clínico definido. 
c) A doença já teve, ao longo da história, causas naturais ou o desequilíbrio entre os fluídos 
corporais.
d) Quadro clínico ou formas de comprometimento reconhecido socialmente como 
enfermidade.
e) Para a definição da doença sempre se considerou o contrário de saúde.
Questão 2
24/201
3. Associe a palavra à sua definição:
I. Uma condição do corpo, ou de alguma parte ou órgão, cujas funções encontram-se 
perturbadas ou prejudicadas.
II. Tem origem de mal-estar, no qual remete à percepção subjetiva do sofrimento.
III. Interrupção de processos normais do organismo e esforços no sentido de restabelecer o 
estado normal da existência.
IV. Redução da capacidade anatômica, fisiológica, emocional ou funcional, impedindo a 
realização de atividade cotidiana e papéis sociais comuns. 
V. Relaciona-se ao caráter social da doença.
a) Doença-II, Moléstia-I, Patologia-III, Comprometimento-IV, Enfermidade-V
b) Doença-I, Moléstia-II, Patologia-III, Comprometimento-IV, Enfermidade-V
c) Doença-I, Moléstia-III, Patologia-II, Comprometimento-V, Enfermidade-IV
d) Doença-V, Moléstia-III, Patologia-II, Comprometimento-IV, Enfermidade-I
e) Doença-IV, Moléstia-V, Patologia-II, Comprometimento-III, Enfermidade-I.
Questão 3
25/201
4. Assinale a alternativa correta em relação à descrição de condição de 
saúde definida por planos:
a) Plano Subindividual - há referência ao nível biológico ou orgânico e fisiológico ou 
fisiopatológico. 
b) O subindividual - a condição de saúde poderia variar entre um extremo de mais perfeito 
bem-estar com todos os eventos intermediários até o extremo da morte.
c) O plano individual refere-se à doença como a condição ou quadro clínico definido e 
enquadrado como uma entidade ou classificação nosológica. 
d) O plano individual - entendimento sobre o processo saúde-doença se amplia para além das 
condições orgânicas e sociais individualmente.
e) O plano coletivo - a doença tem condição ou quadro clínico definido e enquadrado como 
uma entidade ou classificação nosológica.
Questão 4
26/2015. Assinale a alternativa incorreta em relação à descoberta do microscó-
pio e das bactérias:
a) Foi possível identificar vários agentes causadores da doença. 
b) Possibilitou o desenvolvimento de vacinas, revelando a possibilidade da prevenção de 
algumas doenças.
c) Estabeleceu sempre a relação causal com a presença do agente etiológico.
d) Comprovou a existência de microrganismos, derrubando o conceito de doença da 
antiguidade. 
e) Possibilitou o desenvolvimento de soros da cura de algumas doenças.
Questão 5
27/201
Gabarito
1. Resposta: B.
A saúde é silenciosa, geralmente é 
percebida quando se adoece; é considerada 
pela OMS como o estado de bem-estar 
físico, mental e social; os conceitos, 
tanto de saúde como de doença, foram 
construídos ao longo da história; e a saúde 
e o adoecer são experiências subjetivas 
e individuais, dificilmente descritas ou 
quantificáveis.
2. Resposta: E.
Várias são as definições da doença ao longo 
da história, portanto não foi sempre que se 
considerou o contrário de saúde.
3. Resposta: B.
Doença: Uma condição do corpo, ou de 
alguma parte ou órgão, cujas funções 
encontram-se perturbadas ou prejudicadas.
Moléstia: Tem origem de mal-estar, no qual 
remete à percepção subjetiva do sofrimento.
Patologia: Interrupção de processos normais 
do organismo e esforços no sentido de 
restabelecer o estado normal da existência.
Comprometimento: Redução da capacidade 
anatômica, fisiológica, emocional ou 
funcional, impedindo a realização de 
atividade cotidiana e papéis sociais comuns. 
Enfermidade: Relaciona-se ao caráter social 
da doença.
28/201
4. Resposta: A.
Plano Subindividual - há referência ao 
nível biológico ou orgânico e fisiológico 
ou fisiopatológico. Neste caso, o processo 
saúde-doença pode ser definido pelo 
equilíbrio entre a normalidade e a 
anormalidade, ou entre a funcionalidade e 
as disfunções.
5. Resposta: C.
Estabeleceu a relação causal com a 
presença do agente etiológico para 
explicação das doenças infecciosas, mas 
esse conceito não explica a causa das 
doenças crônico-degenerativas.
Gabarito
29/201
Unidade 2
Teoria Miasmática
Objetivos
1. Resgatar os conceitos da teoria 
miasmática para explicação e 
definição de doença;
2. Relacionar a Teoria Miasmática com o 
saneamento e urbanização;
3. Problematizar a instalação de 
edifícios durante a vigência da Teoria 
Miasmática.
Unidade 2 • Teoria Miasmática30/201
Introdução
Retomando os conceitos e as definições 
da doença ao longo da história. Perceba 
que a busca pela origem, ou seja, a causa, 
sempre foi alvo, desde a antiguidade, tanto 
de deduções empíricas quanto pesquisas 
científicas.
Veja que na tentativa de buscar explicações 
para a origem das doenças, ainda na 
antiguidade, as causas divinas foram 
atribuídas e permaneceram vigentes até os 
postulados de Hipócrates.
Hipócrates considerou a razão para 
explicar a origem das doenças, afastando 
as causas sobrenaturais e divinas, vigentes 
até então. O pensamento dele remetia 
à avaliação minuciosa do paciente e sua 
relação com o ambiente (PEREIRA, 2006). 
Perceba que as contribuições de Hipócrates 
são utilizadas até hoje no raciocínio 
ecológico atual, pois, além da avaliação 
minuciosa do paciente, ele considerava, 
entre outros fatores, o clima, a maneira de 
viver e os hábitos de vida (PEREIRA, 2006).
Outra explicação para a origem das 
doenças que permaneceu vigente no 
pensamento médico até a segunda metade 
do século XIX foi a Teoria Miasmática. De 
acordo com essa teoria, a doença tinha 
a sua origem nos miasmas. Miasmas são 
emanações devido à decomposição de 
animais e plantas (PEREIRA, 2006). 
Segundo essa teoria, a decomposição 
de animais e plantas emana para o ar, 
contaminando-o e fazendo com que esse 
fique sem qualidade. Essa emanação 
Unidade 2 • Teoria Miasmática31/201
passaria de pessoa para pessoa, 
transmitindo doenças. Assim, surgiam as 
primeiras concepções para a explicação 
da origem das doenças contagiosas 
(PEREIRA, 2006).
Para compreender um pouco mais sobre 
a Teoria Miasmática, considere essas 
duas diferentes concepções de doença 
citadas anteriormente: a da antiguidade 
e a hipocrática. Ou seja, a concepção de 
doença presente no imaginário associada 
a algo que entrava no corpo, como os 
espíritos e demônios, sendo que a cura se 
dava através da expulsão da doença. E a 
concepção de Hipócrates, em que a doença 
tinha existência própria vinda do exterior 
(do ar, dos outros indivíduos e de objetos), 
compreendida como um desequilíbrio 
que fazia parte da natureza do homem 
como um processo no indivíduo, sendo 
assim, o tratamento devia tolerar e até 
mesmo reforçar o processo natural. A 
Teoria Miasmática associa essas duas 
concepções, pois considera que a absorção 
de ar corrupto degenerava os humores 
corporais, sendo que a reação do corpo era 
compreendida como esforço para expelir, 
por forças próprias, os humores destrutivos 
(CZERESNIA, 1997)
Veja bem, se não existia, até então, o 
conhecimento dos microrganismos 
causadores de doenças (agentes), 
acreditava-se que o ar estivesse 
contaminado pelo odor que exalava das 
pessoas doentes e através desse mesmo 
ar se transmitia a doença. Ora, não é difícil 
Unidade 2 • Teoria Miasmática32/201
deduzir que as pessoas que adoeciam eram 
abandonadas, pois cuidar representava se 
contaminar e adoecer também.
Portanto, as práticas, naquela época, eram 
de se evitar proximidade e o toque; por 
outro lado, os odores eram amenizados 
com perfumes e máscaras. Observe que o 
ar era fundamental para a explicação da 
transmissão das doenças.
A ideia do contágio se dava também pela 
exalação dos humores contaminados 
através dos poros ou da respiração e da 
consequente contaminação do ar, portanto 
a pessoa que adoecia era associada a 
circunstâncias que afrouxavam os poros, 
permitindo a permeabilidade do corpo, 
para a saída e entrada de estímulos 
danosos através do ar. 
Nesse contexto foi instituída a quarentena, 
a qual se constituía, no período da peste, 
em retirar as pessoas da convivência 
e em observá-las até se ter certeza de 
que não estivessem com a doença; é 
referida, por exemplo, pelos historiadores 
contemporâneos, como uma das primeiras 
contribuições fundamentais à prática da 
saúde pública (CZERESNIA, 1997).
Essa preocupação com os odores 
exalados fez com que os pesquisadores 
da época passassem a se preocupar com 
o saneamento, os aglomerados urbanos e 
os cemitérios como fontes causadoras de 
doenças.
Unidade 2 • Teoria Miasmática33/201
1. Saneamento e Urbanização 
das Cidades
A decomposição de diversas matérias, 
incluindo matéria orgânica e plantas, nos 
pântanos, além da lama, emana gases que 
se espalham pelo ar e, segundo a Teoria 
Miasmática, não poderiam ser inalados 
pelas pessoas (MASTROMAURO, 2010).
Importante saber que o odor exalado 
pela decomposição denotava a presença 
de matérias pútridas presentes no ar. O 
miasma representava esse odor repulsivo 
e misterioso, porém sem explicação pela 
química de tal fato (MASTROMAURO, 2010).
Existia a ideia de que o ar tinha importância 
para a manutenção da vida das pessoas, 
sendo esse um fluido e não a combinação 
química entre gases. Era imprescindível 
manter o equilíbrio desses fluidos no corpo, 
pois tudo que se desfazia perdia ar, esse 
ar se misturava com a fumaça e procurava 
rapidamente o orifício nasal, portanto, 
viver estava diretamente relacionado com 
os gases (SILVA, 2012).
Veja como o controle dos miasmas era de 
grande importância na época, pois estava 
relacionado com o ar necessário para a 
vida das pessoas, consequentemente, a 
sobrevivência humana. Essa explicação 
em relação ao controle dos miasmas 
para manutenção da vida foi utilizada, 
inclusive com poder coercitivo, para sanear 
as cidades e portos no Brasil, através de 
métodos de desinfecção e queima de 
objetos.
Unidade 2 • Teoria Miasmática34/201
Desde os romanos, a preocupação com 
o saneamento ambiental existe. Foram 
construídosaquedutos para levar água 
para a população das cidades. 
Com o início da industrialização ocorreram 
as migrações para as grandes cidades, 
sendo que as pessoas se conglomeravam 
e viviam em cortiços insalubres e com 
precárias condições de trabalho em 
ambientes inóspitos. Nesse contexto as 
doenças facilmente eram transmitidas 
entre as pessoas, e as explicações para esse 
contágio se davam através dos miasmas 
(PEREIRA, 2006).
Imagine que para se construir as cidades 
levavam-se em consideração as grandes 
avenidas para promover a ventilação e 
combater os miasmas. Tanto que no Rio de 
Janeiro, em meados do século XIX, vários 
profissionais de saúde tiveram influência 
na urbanização da cidade, assim, pântanos 
foram drenados e morros foram demolidos. 
Há de se convir que também era necessário 
manter o país livre das doenças e das 
enfermidades pestilentas, para assim 
garantir o comércio internacional com 
a exportação dos produtos agrícolas, 
principalmente o café. Os grandes 
latifundiários brasileiros cobravam ações 
do então Presidente do Brasil, Rodrigues 
Alves, para que os portos brasileiros 
estivessem livres das doenças, para que os 
navios estrangeiros pudessem aqui atracar.
As práticas de higiene das cidades e as 
campanhas foram lideradas, no Brasil, 
por Oswaldo Cruz (1902), que, naquela 
Unidade 2 • Teoria Miasmática35/201
época, já não acreditava na transmissão 
da doença pelo contato com roupas, suor, 
sangue e secreções, mas sim na existência 
de agentes causadores de doenças.
Importante saber que o discurso associado 
de limpeza estava fundamentado na 
associação de sujeira, imundície, perversão, 
e até a doença com a pobreza, de maneira 
que a sujeira fazia parte da vida do pobre. 
Assim, higienizar as cidades teria a mesma 
conotação de higienizar as pessoas 
pobres. Esse simbolismo tinha como 
consequência a degeneração moral e física 
dos indivíduos. Os médicos utilizavam dos 
conhecimentos, da época, para justificar 
cientificamente a higienização das cidades 
para resolver, inclusive, os problemas 
sociais do país (OLIVEIRA, 2012).
2. Instalação de Edifícios Duran-
te a Vigência da Teoria Miasmá-
tica
Assim como a lama e o pântano, o corpo 
entra em estado de putrefação com 
a liberação de gases e odores, porém 
Link
O início do filme “História das Políticas de Saúde 
no Brasil” retrata bem a eliminação dos cortiços 
e o saneamento das grandes cidades, vale a 
pena ver o poder coercitivo da Polícia Sanitária. 
Disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=SP8FJc7YTa0>.
http://www.youtube.com/watch?v=SP8FJc7YTa0
http://www.youtube.com/watch?v=SP8FJc7YTa0
Unidade 2 • Teoria Miasmática36/201
esses com características temíveis entre 
a população: o contágio de doença. 
Os cemitérios, hospitais, matadouros, 
hospícios e leprosários passaram a ser 
alvos de planejamento nesta perspectiva, 
de maneira que os mesmos eram 
construídos fora do perímetro urbano das 
grandes cidades.
Pois bem, se por um lado o poder coercitivo 
utilizado pela polícia sanitária atuava 
diretamente nos cortiços e entre os pobres 
(SILVA, 2012), por outro lado os médicos 
definiam locais a serem instalados, bem 
como a arquitetura desses cemitérios, 
hospitais, matadouros, hospícios e 
leprosários (MASTROMAURO, 2008).
Os estabelecimentos ligados à saúde e à 
morte não poderiam ser construídos em 
áreas centrais e nem em locais úmidos e 
pantanosos. Tais regras eram impostas 
não somente pelos médicos da época, mas 
pelos engenheiros e arquitetos. Também se 
privilegiava os locais altos e arejados para 
a construção desses hospitais e cemitérios 
(MASTROMAURO, 2008).
Percebam que essas imposições já 
denotavam, mesmo naquela época, uma 
preocupação com o zoneamento urbano, 
pois estavam definidos quais os locais 
em que deveriam ser construídos os 
estabelecimentos, sendo que se tratasse de 
hospitais e cemitérios, eram relacionados à 
sujeira e desgraça (MASTROMAURO, 2008). 
Uma análise importante desse contexto 
é a associação da construção desses 
estabelecimentos, considerados insalubres, 
Unidade 2 • Teoria Miasmática37/201
como potenciais contaminadores do ar e transmissores de doenças. Portanto, era necessário 
o isolamento desses e torná-los salubres. Não se esqueçam de que o contágio se iniciava no 
próprio corpo ou no mundo externo (pântanos, água e o ar). 
Com a segregação social e espacial, pessoas com doenças específicas foram confinadas nas 
periferias das cidades grandes, como, por exemplo, a construção do Complexo Hospitalar 
Emilio Ribas em São Paulo e o Cemitério do Araçá (MASTROMAURO, 2008).
Para saber mais
Emilio Marcondes Ribas (1861-1925) foi um grande sanitarista que, juntamente com Oswaldo Cruz, 
tratou de pacientes com febre amarela em São Paulo, comprovando que a doença não era transmitida 
pelo contato. O Hospital em São Paulo leva o seu nome e foi uma das primeiras instituições de saúde 
pública. Iniciou suas atividades em 1880 como o Hospital que atendia exclusivamente doentes de 
varíola. Reconhecido como um dos melhores do mundo no tratamento de doenças infectocontagiosas, 
em 1991 passou a se chamar “Instituto de Infectologia Emílio Ribas”. Em abril de 2012 passou a 
coordenar uma das pesquisas mundiais mais importantes para o tratamento da Aids e atualmente atua 
na formação de profissionais, tendo em sua rotina, além da assistência médica, as atividades de pesquisa 
e ensino. (Disponível em: <http://www.emilioribas.sp.gov.br/institucional/linha-do-tempo/>).
http://www.emilioribas.sp.gov.br/institucional/linha-do-tempo/
Unidade 2 • Teoria Miasmática38/201
Essa estrutura se manteve nas pequenas 
cidades. Observem que nas cidades 
menores os cemitérios se localizam fora 
das cidades. O mesmo movimento não 
ocorre nas grandes cidades, pois essas 
foram crescendo e o que estava em área 
periférica, hoje está na região central.
Com a descoberta dos microrganismos, a 
Teoria Miasmática foi derrubada e está em 
desuso desde a segunda metade do século 
XIX (PEREIRA, 2006).
Unidade 2 • Teoria Miasmática39/201
Glossário
Emanação: é o mesmo que exalação, ou seja, ação volátil no estado gasoso de substâncias que 
estavam presas aos corpos (massa).
Empíricas: é o que não foi comprovado cientificamente, ou seja, senso comum, experiência, 
prática.
Putrefação: decomposição da matéria orgânica, apodrecimento.
Coercitivo: uso da força, coagido, obrigado a fazer algo.
Questão
reflexão
?
para
40/201
Como você viu, os médicos associavam a doença com a 
sujeira e os pobres. Reflita sobre essa questão e tente apontar 
situações da atual realidade do país que remetem a essa 
associação.
41/201
Considerações Finais
A Teoria Miasmática tem uma explicação da transmissão da doença 
através dos miasmas.
As cidades e os portos foram saneados, pois se associavam a higiene à 
saúde e a sujeira à doença. 
Os estabelecimentos de saúde foram instalados nas periferias das 
cidades.
A Teoria Miasmática está em desuso.
Unidade 2 • Teoria Miasmática42/201
Referências 
CZERESNIA, D. Do contágio à transmissão: urna mudança na estrutura perceptiva de apreensão 
da epidemia’. História, Ciências, Saúde, Manguinhos, v. 4, n. 1, p. 75-94, mar.-jun. 1997.
MASTROMAURO, Giovana Carla. Alguns aspectos da saúde pública e do urbanismo higienista 
em São Paulo no final do século XIX. Cad. hist. ciênc. São Paulo,  v. 6,  n. 2, dez.  2010.   
Disponível em <http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
76342010000200004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  29 nov.  2015.
OLIVEIRA, I. B. et al. A ordem antes do progresso: o discurso médico-higienista e a educação 
dos corpos no Brasil do início do século XX. Fênix: Revista de História e Estudos Culturais, v. 
9, nº 1, jan.-abr. 2012. ISSN: 1807-6971. Disponível em: www.revistafenix.pro.br. Acesso em: 
08/11/15.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006, p 558. 
SILVA, C. M. A história cultural: um diálogo entre Alain Corbine Norbert Elias. Fênix: Revista de 
História e Estudos Culturais, v. 9, n. 1, jan.-abr. 2012. ISSN: 1807-6971. Disponível em: <www.
revistafenix.pro.br>. Acesso em: 08/11/15.
http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-76342010000200004&lng=pt&nrm=iso
http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-76342010000200004&lng=pt&nrm=iso
http://www.revistafenix.pro.br
http://www.revistafenix.pro.br
http://www.revistafenix.pro.br
43/201
1. O que eram os miasmas?
a) Evaporação das plantas
b) Decomposição dos animais e plantas
c) Estado de putrefação dos pântanos
d) Emanações devido à decomposição de animais e plantas 
e) Efeitos sobrenaturais e divinos.
Questão 1
44/201
2. Quais eram as explicações para as doenças na antiguidade?
a) As doenças eram causadas pelos miasmas 
b) As doenças eram causadas pelas bactérias
c) As causas das doenças eram sobrenaturais e divinas
d) As causas das doenças eram a sujeira e a pobreza
e) A doença era causada pelos vírus.
Questão 2
45/201
3. O que Hipócrates considerava na avaliação do paciente?
a) Apenas os aspectos biológicos através do exame físico
b) O local em que as pessoas viviam e trabalhavam
c) Os fatores hereditários e a história de vida
d) O clima, a maneira de viver do paciente, os hábitos de vida, entre outros fatores
e) Os aspectos sociais e psicológicos da pessoa.
Questão 3
46/201
4. Por que era importante a limpeza das cidades para os médicos durante o 
século XIX?
a) Eles acreditavam que a doença era transmitida através do lixo
b) Eles acreditavam que as bactérias se multiplicavam na matéria orgânica
c) Eles acreditavam que os miasmas estavam na sujeira
d) Eles acreditavam que a doença era transmitida através da emanação da decomposição de 
animais e plantas
e) Eles acreditavam que as doenças eram transmitidas através dos ratos.
Questão 4
47/201
5. DPor que os hospitais e cemitérios foram construídos nas periferias das 
grandes cidades?
a) A área central já estava ocupada pelas residências
b) Eles associavam a transmissão da doença de pessoa para pessoa
c) Eles consideravam os hospitais e cemitérios como contaminadores do ar e transmissores 
de doenças
d) Eles consideravam os hospitais e cemitérios salubres
e) Eles valorizavam o conforto dos pacientes.
Questão 5
48/201
Gabarito
1. Resposta: D.
Os miasmas eram considerados emanações 
devido à decomposição de animais e 
plantas.
2. Resposta: C.
Na antiguidade as causas das doenças 
eram atribuídas ao sobrenatural e 
divindades, teoria essa que foi derrubada 
pela dos miasmas.
3. Resposta: D.
Hipócrates propunha uma avaliação 
minuciosa do paciente, além de considerar 
o clima, a maneira de viver do paciente, os 
hábitos de vida, entre outros fatores.
4. Resposta: D.
Os médicos associavam a transmissão das 
doenças aos miasmas, ou seja, emanação 
da decomposição de animais e plantas.
5. Resposta: C.
Os médicos influenciaram as construções 
por considerar que as doenças eram 
transmitidas através de substâncias que 
estavam presentes no ar e que os hospitais 
e cemitérios, por serem insalubres, 
contaminavam o ar transmitindo doenças.
49/201
Unidade 3
Unicausalidade
Objetivos
1. Apresentar a teoria da unicausalidade 
e a descoberta das doenças 
infecciosas e parasitárias.
2. Descrever a história natural da 
doença.
3. Apresentar os conceitos de 
prevenção e seus níveis.
Unidade 3 • Unicausalidade50/201
Introdução
Na saúde, assim como em qualquer outra 
área, é comum a relação de uma causa ter 
um efeito. Com certeza, ao ser questionado 
sobre qual a causa da doença de Chagas, 
você rapidamente poderia responder que é 
o Trypanosoma cruzi, não é mesmo?
Mas essa relação de causa e efeito nem 
sempre foi assim. Tampouco existia a 
clareza que se tem hoje em relação à 
descrição da história do curso da doença. 
Lembra-se da Teoria Miasmática estudada 
anteriormente? 
As doenças eram transmitidas pelos 
miasmas, como algo mágico presente no 
ar. Com a descoberta dos germes, a Teoria 
Miasmática cai em desuso, pois mesmo 
que considerada como simplista, a relação 
da causa única (presença do agente) como 
o desencadeador da doença teve grande 
impacto na época (JEKEL, KATZ e ELMORE, 
2005).
Em 1675, Leeuwenhoek (1632-
1723) descobriu o microscópio, o que 
possibilitou ao francês Louis Pasteur 
(1822-1895) isolar numerosas bactérias, 
e Robert Koch (1843-1910) identificar 
o bacilo causador da tuberculose. Esses 
dois pesquisadores e vários outros 
contemporâneos contribuíram com os 
estudos da bacteriologia e evidenciaram 
que as doenças poderiam ter uma relação 
causal. A causa estava relacionada aos 
agentes etiológicos. Nascia então a Teoria 
Unicausal (PEREIRA, 2006).
Mas não foi tão simples convencer a todos 
de que existiam germes extremamente 
Unidade 3 • Unicausalidade51/201
pequenos, visíveis apenas através do 
microscópio, sendo eles os causadores 
de doença. Mesmo assim, apesar das 
resistências iniciais, os conceitos de doença 
através dos miasmas e do contágio não 
poderiam ser mais aceitos pelos médicos, 
pois estava comprovada não somente 
a existência, como a presença desses 
agentes etiológicos como essenciais para 
causar as doenças. 
O avanço na descoberta dos 
microrganismos data das primeiras 
décadas do século XX. Naquela época 
precisava-se convencer a população 
a respeito da existência dos agentes 
causadores da doença, bem como o 
seu mecanismo de transmissão. Várias 
pesquisas também foram realizadas com 
o intuito de, além de identificar os germes, 
produzir substâncias que preveniam a 
doença, como a produção de vacinas; e 
produzir o tratamento, como os soros e o 
antibiótico; além de descrever a evolução 
da doença (PEREIRA, 2006). 
Com o aprofundamento dos mecanismos 
de transmissão da doença, as pesquisas 
foram se voltando para outros fatores 
que envolviam esse ciclo, para além 
da presença do gérmen. Passou-se a 
observar e descrever as condições do 
meio ambiente, assim como as condições 
biológicas do homem para a explicação da 
doença. Nessa perspectiva foram criadas 
as representações esquemáticas sobre 
o agente, hospedeiro e o meio ambiente 
(PEREIRA, 2006).
Unidade 3 • Unicausalidade52/201
Na FIGURA 1 vocês podem perceber a 
descrição gráfica da doença infecciosa 
em forma de cadeia, de maneira que, para 
a pessoa adoecer a cadeia não pode ser 
interrompida. Por outro lado, para se evitar 
a doença deve-se eliminar um dos pontos 
da cadeia epidemiológica.
Porém, para essas doenças chamadas de 
infecciosas, sempre esteve relacionado 
com a presença do agente etiológico como 
a única causa, considerando esse um ser 
vivo que causa a doença/infecção, conclui-
se que a infecção, portanto é, um processo 
biológico na luta pela sobrevivência 
entre organismos vivos (ALMEIDA-FILHO; 
ROUQUAYROL, 2006).
Na descrição da doença infecciosa 
considera-se o agente etiológico 
(microrganismo), reservatório ou fonte 
de infecção, portas de entrada e de saída, 
mecanismo de transmissão e o hospedeiro 
(PEREIRA, 2006).
Para saber mais
Os agentes etiológicos são microrganismos que 
causam doenças, ou seja, têm a responsabilidade 
causal comprovada no processo infeccioso. Os 
agentes podem ser os vírus, bactérias, fungos, 
protozoários, helmintos. 
Unidade 3 • Unicausalidade53/201
Figura 1 - Cadeia Epidemiológica
Fonte: OPAS, 2010.
Em relação à evolução da doença, a 
pesquisa que se destacou na época foi 
a realizada por Carlos Chagas em 1909, 
o qual identificou o vetor (Triatomídeo – 
barbeiro), o agente etiológico (Trypanosoma 
cruzi) e vinculou a doença que leva o seu 
nome (Chagas). Tal estudo possibilitou, 
mais tarde, a comprovação de doenças 
agudas e a condição de portadores de 
doenças que poderiam ser manifestadas 
em outro momento (PEREIRA, 2006).
Unidade 3 • Unicausalidade54/201
Na descrição da doença infecciosa 
consideram-se os principais elementos da 
cadeia epidemiológica (PEREIRA, 2006):
1. Agente etiológico:
•Infectividade, 
• Patogenicidade, 
• Virulência;
• Antigenicidade; e
• Mutagenicidade.
2. Reservatório e fonte de infecção:
• Homem: fase clínica, subclínica e 
portador da doença.
• Animal: selvagem ou doméstico.
• Solo: esporos (formas e resistência).
Link
Carlos Chagas (1879-1934), renomado médico 
sanitarista, foi chefe do Departamento Nacional 
de Saúde. Além de descrever a doença que 
recebe o seu nome, esteve à frente no combate 
à gripe espanhola em 1818, no Rio de Janeiro, 
realizou campanha contra a malária no interior 
de São Paulo, organizou serviços de higiene 
infantil, tuberculose, hanseníase e doenças 
venéreas. Foi também o grande responsável pela 
criação da Escola de Enfermagem Ana Nery, 
além de professor na Faculdade de Medicina 
do Rio de Janeiro. Conheça mais da história 
desse brasileiro acessando: <http://www.
invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?infoid=109&sid=7>.
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=109&sid=7
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=109&sid=7
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=109&sid=7
Unidade 3 • Unicausalidade55/201
3. Porta de entrada e de saída:
• Respiratória.
• Intestinal.
• Pele e mucosa.
• Sangue.
4. Vias de transmissão:
• Direta: contato físico ou gotículas.
• Indireta: veículo (água, alimento e 
objetos); vetor (mecânico – moscas 
– ou biológico – triatomídeo); 
aerossóis.
5. Hospedeiro:
• Refratariedade: resistência da espécie 
a uma doença.
• Resistência e susceptibilidade: 
maior ou menor resposta positiva do 
organismo.
• Imunidade: ativa – natural (por 
doença) e artificial (por vacina) e 
passiva – natural (transplacentária) e 
artificial (por soros).
Com a Teoria Unicausal se avançou muito 
na explicação e descrição da doença, 
com essa teoria se explica as doenças 
infecciosas, porém é insuficiente para 
explicar as doenças não infecciosas, 
principalmente as crônico-degenerativas, 
pois estas têm várias causas, ou melhor, 
múltiplos fatores causais relacionados à 
doença. A Teoria Multicausal será tema da 
próxima aula. 
Unidade 3 • Unicausalidade56/201
1. História Natural da Doença
Agora que você já aprendeu sobre a 
necessidade da presença do agente 
etiológico para causar a doença, é hora de 
saber como evitá-la e em que momento 
utilizar qual estratégia.
Para tanto, é importante conceber o 
conceito de saúde e de doença como um 
processo. A História Natural da Doença 
(Figura 2), sistematizada por Leavell 
e Clark em 1976, considera o modelo 
processual dos fenômenos patológicos, ou 
seja, a doença ocorre devido a processos ao 
longo do tempo desde o período anterior 
às manifestações clínicas da doença e 
se entende até a cura ou reabilitação da 
pessoa que adoece (PEREIRA, 2006).
Unidade 3 • Unicausalidade57/201
Figura 2 - História Natural da Doença.
Fonte: Almeida-Filho; Rouquayrol, 2006.
Unidade 3 • Unicausalidade58/201
Segundo a História Natural da Doença, 
na fase inicial, ou seja, a pré-patogênese, 
ainda não existe a doença, porém existem 
todas as condições necessárias para o seu 
aparecimento. A pessoa não apresenta 
sintomas, e pode ou não adoecer. Dessa 
maneira, pode-se considerar que não 
apresenta o mesmo risco de morrer, 
pois existem fatores que protegem e que 
facilitam o desenvolvimento de doença, 
assim como fatores que abreviam o 
mesmo. Conhecendo esses fatores e 
riscos, pode-se eliminá-los, ou seja, fazer a 
promoção e a prevenção (PEREIRA, 2006).
Para saber mais
Risco é o grau de probabilidade de ocorrer 
um evento. O risco pode ser absoluto quando 
mostra, através de cálculos estatísticos, quantos 
casos novos de uma doença podem aparecer 
num grupo em determinado momento. O risco 
também pode ser relativo, quando informa 
quantas vezes mais existe o risco em um grupo 
de pessoas comparando com outros grupos. 
E ainda, o risco atribuível, o qual se refere à 
exposição, ou seja, quantidade de pessoas 
expostas que tiveram a doença atribuída ao fator 
de risco que se está estudando (PEREIRA, 2006).
Unidade 3 • Unicausalidade59/201
Na fase pré-clínica a doença está em sua 
fase inicial, ainda não se tem os sintomas, 
mas o agente está presente na pessoa. 
Neste momento o curso da doença pode 
ser o início do processo patológico, com 
o aparecimento dos sintomas ou evoluir 
para os processos subclínicos sem o 
aparecimento dos sintomas (PEREIRA, 
2006). Imagine agora, como exemplo, a 
realização de sorologia para hepatite C na 
população em geral. Essa ação servirá de 
triagem para saber quais as pessoas são 
portadoras do vírus da hepatite, ou seja, 
serão identificadas quais as pessoas que 
estão na fase pré-clínica da doença. Outras 
ações se justificam para identificar pessoas 
nessa fase, como rastreamento ou screening 
para a identificação de fenilcetonúria 
através do teste do pezinho em recém-
nascido, rastreamento do câncer de mama 
com a mamografia, entre outros.
Na fase clínica os sintomas da doença 
já estão presentes e sua gravidade pode 
variar de acordo com o próprio curso 
de cada doença. Nessa fase a atuação é 
exclusivamente curativa, no sentido de 
tratamento das pessoas doentes (PEREIRA, 
2006).
Na última fase da História Natural da 
Doença ocorre o desenlace, o seja, o 
desfecho. Pode ser a incapacidade à 
progressão da doença até a morte, ou seja, 
as alterações funcionais e anatômicas que 
se adaptam e estabilizam. Neste caso, as 
ações propostas são as de reabilitação 
(PEREIRA, 2006).
Unidade 3 • Unicausalidade60/201
A História Natural da Doença pode ser 
utilizada para descrever o curso natural 
da doença, importante na investigação 
clínica individual ou para descrever o curso 
da doença na comunidade num território 
definido.
Vários estudos foram realizados 
considerando a história natural da doença 
a partir dos serviços, descrevendo e 
explicando as doenças que passaram 
pelo serviço de saúde. Para exemplificar, 
imagine o seguinte estudo hipotético: 
Formação de um grupo de 100 pessoas 
que tiveram sorologia positiva para 
doença de Chagas no Laboratório X. Para 
fazer parte do grupo as pessoas devem 
ser assintomáticas. Esse grupo deve ser 
acompanhado, observado e após alguns 
anos deve-se ter os registros de: Quantos 
apresentaram sintomas e após quanto 
tempo? Quais os sintomas? Quais as 
alterações dos exames laboratoriais? 
Quantos morreram? Quantos ficaram 
inválidos ou incapazes? Quantos 
permanecem vivos?
Vejam que com essas respostas pode-se 
descrever o comportamento da doença, 
ou seja, a sua descrição ao longo do 
tempo, a fim de prever, inclusive com 
porcentagem, quando irá morrer ou 
ficar incapaz a população que adquiriu a 
doença de Chagas, a partir do serviço que a 
diagnosticou.
No plano coletivo existiram pesquisas 
que acompanharam o curso da doença 
nas comunidades em grupo de pessoas 
Unidade 3 • Unicausalidade61/201
expostas ao longo do tempo. Nesse caso, a 
identificação das pessoas para a formação 
do grupo que será acompanhado não deve 
ser a partir dos serviços, mas sim da própria 
comunidade. 
Assim, várias doenças foram descritas 
e já se tem exatamente quais ações são 
adequadas para a intervenção a fim de 
preveni-las, tratá-las e até mesmo a 
possibilidade de reabilitação.
Não se esqueça de que é importante 
conhecer cada fase do processo saúde/
doença na história natural da doença, 
para que se tenha uma localização exata 
de ações que podem ser realizadas com 
o intuito de quebrar a cadeia e planejar 
ações preventivas e curativas em diversos 
momentos.
2. Apresentar os Conceitos de 
Prevenção e seus Níveis
Prevenir significa preparar, ou seja, chegar 
antes, evitar, impedir que se realize. 
Prevenção em saúde exige uma ação 
antecipada, mas para fazê-lo é necessário 
conhecer (PEREIRA, 2006). 
Ora, se você já conhece a história natural 
da doença, é possível intervir em momento 
oportuno, ou seja, fazer a prevenção e 
quebrar a cadeia, evitando a doença. 
Açõespreventivas são feitas ainda com o 
objetivo de controle da transmissão das 
doenças infecciosas e a redução do risco 
de doenças degenerativas, sendo que 
a base do conhecimento preventivo é o 
conhecimento epidemiológico.
Unidade 3 • Unicausalidade62/201
A Figura 3 mostra os níveis de medida de prevenção de acordo com o modelo da História Natural da 
Doença, sendo que a prevenção pode ser classificada em níveis primário, secundário e terciário.
Figura 3 - Níveis de aplicação de medidas de prevenção
Fonte: Pereira (2006)
Unidade 3 • Unicausalidade63/201
No nível primário a prevenção é feita antes 
mesmo da doença, ou seja, no período pré-
patogênico, e remete-se à promoção da 
saúde que se caracteriza em sentido mais 
amplo para aumentar o nível de bem-estar 
e a proteção específica do indivíduo, não 
permitindo que o mesmo entre em contato 
com o agente, como uma forma de barreira 
contra esses agentes e o meio (PEREIRA, 
2006). 
Você pode pensar que ações de promoção 
podem ser: educação em saúde e 
motivação sanitária, nutrição adequada, 
condições de habitação adequada, 
salários e empregos adequados. Já em 
relação à proteção específica, pense em 
vacinação, quimioprofilaxia para doença 
meningocócica, fluoretação da água, entre 
outros. 
Prevenção secundária são as ações de 
prevenção quando o curso da doença se 
encontra na fase patológica. Esse nível de 
prevenção se desdobra em outros dois: 
a limitação do dano, em que o objetivo 
é fazer o processo regredir com vistas à 
reincidência de complicações e sequelas; 
ou diagnóstico precoce, para o início do 
tratamento oportunamente (PEREIRA, 
2006).
Como exemplo para a prevenção do 
dano, pense no uso de anticoagulante em 
pessoas com trombose venosa profunda 
para se evitar uma embolia pulmonar.
Já em relação ao diagnóstico precoce, o 
exame periódico de saúde, autoexame de 
mama, intervenções médicas e cirúrgicas 
como as biopsias, entre outros. 
Unidade 3 • Unicausalidade64/201
E, por último, a prevenção terciária, a 
qual remete às ações para a fase final do 
processo e visa a desenvolver a adaptação 
da pessoa a condições irremediáveis, 
ou seja, a reabilitação; para tanto, será 
necessária a ação da fisioterapia, terapia 
ocupacional (PEREIRA, 2006).
O modelo descrito por Leavell e Clark 
explica várias doenças e indica as ações 
de prevenção, porém não se aplica para as 
doenças crônicas não transmissíveis. Para 
compreender essas doenças você estudará 
na próxima aula os determinantes sociais e 
os modelos sistêmicos para a explicação do 
processo saúde-doença. 
Unidade 3 • Unicausalidade65/201
Glossário
Infectividade: capacidade de um agente etiológico de se instalar em um hospedeiro e nele se 
multiplicar.
Patogenicidade: capacidade que o agente etiológico tem de produzir doença no hospedeiro.
Virulência: capacidade do agente etiológico de produzir sintomas e manifestações graves.
Antigenicidade: capacidade do agente etiológico de produzir anticorpos.
Mutagenicidade: capacidade que o agente etiológico tem de produzir alterações genéticas.
Questão
reflexão
?
para
66/201
Agora que você já estudou sobre a história natural 
da doença e os níveis de prevenção, pense em quatro 
doenças infecciosas e aponte ações de prevenção 
primária, secundária e terciária para cada uma das 
doenças selecionadas.
67/201
Considerações Finais
A Teoria da Unicausalidade considera sempre a presença de um agente 
etiológico na causa da doença.
Para se evitar as doenças infecciosas é necessário interromper a cadeia 
epidemiológica.
A doença é explicada como um processo através da representação gráfica da 
história natural da doença.
Existem vários níveis de prevenção da doença.
Unidade 3 • Unicausalidade68/201
Referências 
ALMEIDA-FILHO, N; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à epidemiologia. 4. ed. rev. e ampliada. 
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006, 296p.
JEKEL, J. F; KATZ, D. L; ELMORE, J.G. Epidemiologia, bioestatística e medicina preventiva. 2. ed. 
Porto Alegre: Artmed, 2005, 432p.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 558p. 
69/201
1. Segundo a teoria da unicausalidade, qual a explicação para a causa da 
doença?
a) A doença tinha explicação na presença de vários fatores, inclusive os hábitos de vida.
b) A causa da doença estava relacionada com a presença dos miasmas.
c) A causa das doenças estava relacionada com a presença de uma bactéria.
d) A causa das doenças estava relacionada com a presença de um agente etiológico, podendo 
ser esse vírus, bactéria ou protozoário. 
e) A causa da doença estava relacionada com os vetores.
Questão 1
70/201
2. Em relação à cadeia epidemiológica, considere a alternativa correta:
a) obrigatoriamente deve-se ter a presença do agente etiológico para se ter a doença, porém 
deve-se levar em consideração o reservatório, as portas de entrada e de saída, o mecanismo 
de transmissão e o hospedeiro, pois se a cadeia for interrompida a doença é prevenida.
b) obrigatoriamente deve-se ter a presença do vetor para se ter a doença, porém deve-se 
levar em consideração as portas de entrada e de saída, o mecanismo de transmissão e o 
hospedeiro, pois se a cadeia for interrompida a doença é prevenida.
c) obrigatoriamente deve-se ter a presença do agente etiológico para se ter a doença, porém 
deve-se levar em consideração o reservatório, as portas de entrada e de saída, o mecanismo de 
transmissão e o hospedeiro, pois mesmo que a cadeia for interrompida, não se evita a doença.
d) o agente etiológico pode estar presente ou não para se ter a doença, e deve-se levar em 
consideração o reservatório, as portas de entrada e de saída, o mecanismo de transmissão e 
o hospedeiro, pois se a cadeia for interrompida a doença é prevenida.
e) O agente etiológico pode estar ou não estar presente, mas obrigatoriamente deve-se ter 
a presença, porém deve-se levar em consideração o reservatório, as portas de entrada e 
de saída, o mecanismo de transmissão e o hospedeiro, pois se a cadeia for interrompida a 
doença é prevenida.
Questão 2
71/201
3. Qual afirmativa está incorreta em relação à História Natural da Doença?
a) A doença é explicada pela cadeia epidemiológica na interação entre o agente, reservatório, 
mecanismo de transmissão e hospedeiro.
b) Fase clínica - os sintomas da doença já estão presentes e sua gravidade pode variar de 
acordo com o próprio curso de cada doença. Nessa fase a atuação é exclusivamente 
curativa, no sentido de tratamento das pessoas doentes. 
c) Na fase pré-clínica a doença está em sua fase inicial, ainda não se tem os sintomas, mas 
o agente está presente na pessoa. Neste momento o curso da doença pode ser o início 
do processo patológico, com o aparecimento dos sintomas, ou evoluir para os processos 
subclínicos sem o aparecimento dos sintomas. 
d) Pode ser utilizada para descrever o curso natural da doença, importante na investigação 
clínica individual ou para descrever o curso da doença na comunidade num território 
definido.
e) A doença é explicada pelo modelo sistêmico dos fenômenos patológicos, ou seja, a doença 
ocorre devido a processos ao longo do tempo desde o período anterior às manifestações 
clínicas da doença e se entende até a cura ou reabilitação da pessoa que adoece.
Questão 3
72/201
4. O que é período pré-patogênico?
a) Nesta fase ainda não existe a doença, porém existem todas as condições necessárias para o 
seu aparecimento. A pessoa não apresenta sintomas, e pode ou não adoecer.
b) A doença está em sua fase inicial, ainda não se tem os sintomas, mas o agente está 
presente na pessoa. 
c) Nessa fase a atuação é exclusivamente curativa, no sentido de tratamento das pessoas 
doentes. 
d) Neste momento o curso da doença pode ser o início do processo patológico, com o 
aparecimento dos sintomas, ou evoluir para os processos subclínicos sem o aparecimento 
dos sintomas. 
e) Período em que ocorre o desenlace, ou seja, o desfecho. Pode ser a incapacidade à 
progressãoda doença até a morte, ou seja, as alterações funcionais e anatômicas que se 
adaptam e estabilizam.
Questão 4
73/201
5. Em relação à prevenção, qual alternativa está incorreta?
a) No nível primário a prevenção é feita antes mesmo da doença, ou seja, no período pré-
patogênico.
b) Prevenção terciária remete às ações para a fase final do processo e visa a desenvolver a 
adaptação da pessoa a condições irremediáveis, ou seja, a reabilitação; para tanto, será 
necessária a ação da fisioterapia, terapia ocupacional. 
c) Na prevenção primária, a promoção da saúde se caracteriza em sentido mais amplo para 
aumentar o nível de bem-estar e a proteção específica do indivíduo, não permitindo que o 
mesmo entre em contato com o agente, como uma forma de barreira contra esses agentes 
e o meio.
d) Prevenção secundária são ações de promoção da saúde que se caracterizam em sentido 
mais amplo para aumentar o nível de bem-estar e a proteção específica do indivíduo, não 
permitindo que o mesmo entre em contato com o agente, como uma forma de barreira 
contra esses agentes e o meio.
e) Prevenção secundária são as ações de prevenção quando o curso da doença se encontra na 
fase patológica.
Questão 5
74/201
Gabarito
1. Resposta: D.
Na teoria Unicausal, como próprio nome 
diz, está relacionado com apenas uma 
causa o agente etiológico, podendo ser 
esse vírus, bactéria ou protozoário.
2. Resposta: A. 
A cadeia epidemiológica está relacionada 
com a unicausalidade, portanto 
obrigatoriamente deve-se ter a presença 
do agente etiológico para se ter a doença, 
porém deve-se levar em consideração 
o reservatório, as portas de entrada e 
de saída, o mecanismo de transmissão 
e o hospedeiro, pois se a cadeia for 
interrompida a doença é prevenida.
3. Resposta: E.
A História Natural da Doença é explicada 
pelo modelo processual e não sistêmico 
dos fenômenos patológicos, ou seja, a 
doença ocorre devido a processos ao 
longo do tempo desde o período anterior 
às manifestações clínicas da doença e 
se entende até a cura ou reabilitação da 
pessoa que adoece.
4. Resposta: A.
No período patogênico não existe a 
doença, porém existem todas as condições 
necessárias para o seu aparecimento. A 
pessoa não apresenta sintomas, e pode ou 
não adoecer.
75/201
Gabarito
5. Resposta: D.
A prevenção primária e não a secundária 
corresponde às ações de promoção da 
saúde, se caracteriza em sentido mais 
amplo para aumentar o nível de bem-estar 
e a proteção específica do indivíduo, não 
permitindo que o mesmo entre em contato 
com o agente, como uma forma de barreira 
contra esses agentes e o meio.
76/201
Unidade 4
Multicausalidade
Objetivos
1. Abordar os fatores multicausais na 
definição de doença
2. Diferenciar os fatores de risco e 
causalidade
3. Apresentar os conceitos de promoção 
à saúde
Unidade 4 • Multicausalidade77/201
Introdução
Pense na seguinte afirmação: Pessoas com 
câncer de pulmão são fumantes. Ora, se 
fumar causa câncer de pulmão, abolindo o 
hábito de fumar se erradicará o câncer de 
pulmão. Esta afirmativa é verdadeira? 
Há de se convir que o hábito de fumar 
contribua e muito para o desenvolvimento 
do câncer de pulmão, mas não é a única 
causa. Assim como pessoas que nunca 
fumaram também podem desenvolver 
o câncer de pulmão. Veja que, com esse 
exemplo, afastando a causa (hábito de 
fumar) a pessoa ainda tem chance de 
desenvolver a doença. 
O mesmo acontece com várias outras 
doenças que podem ter múltiplas causas 
e que uma causa única pode ter muitos 
efeitos e, consequentemente, as medidas 
de prevenção podem surtir efeitos em 
várias direções.
A Teoria da Multicausalidade oferece 
respostas mais adequadas, principalmente 
às doenças crônico-degenerativas, pois, 
diferente das doenças infecciosas, tem 
várias etiologias e algumas doenças ainda 
permanecem com etiologias obscuras, 
carecendo de estudos e respostas.
Exemplos dessa afirmação estão pautados 
nas pesquisas mais recentes, como a 
descoberta da associação da cárie dentária 
e a presença da bactéria Streptococcus 
mutans. Ou a relação da gastrite e úlcera 
péptica com a identificação do Helicobacter 
pylori em aproximadamente 90% dos 
casos. Essas descobertas fizeram com 
que a cárie dentária, assim como a úlcera, 
Unidade 4 • Multicausalidade78/201
pudessem se consideradas como doenças 
infecciosas, podendo assim mudar os 
rumos das ações preventivas para essas 
duas doenças (PEREIRA, 2006).
Entretanto, para as doenças crônicas em 
que existe o período de latência, início 
insidioso e curso prolongado, além de 
etiologia multicausal, ou seja, não se 
relacionam com a invasão do organismo 
por outros seres vivos, a causa se dá pela 
exposição a fatores de riscos, sendo esses 
correspondentes à história familiar, estilos 
de vida, hábito de fumar, entre outros 
(PEREIRA, 2006).
Para explicação gráfica das múltiplas 
causas tem-se o modelo sistêmico da 
saúde representado por círculos. A Figura 
4 ilustra a explicação para a síndrome da 
diarreia e da desnutrição. 
Unidade 4 • Multicausalidade79/201
Figura 4 - Modelo sistêmico na determinação da doença diarreica
Fonte: Almeida-Filho; Rouquayrol (2006)
Unidade 4 • Multicausalidade80/201
Veja que as setas indicam que os fatores 
produzem efeitos por outros fatores e esses 
também são afetados. Todos os fatores 
estão contemplados, sendo que quanto 
mais distantes do centro, mais incorporam 
os aspectos sociais e coletivos, e os fatores 
mais centrais aos individuais e biológicos 
(ALMEIDA-FILHO; ROUQUAYROL, 2006; 
PEREIRA, 2006).
Vários estudos têm sido realizados na 
tentativa de identificar causas para as 
doenças, principalmente as doenças 
crônicas, assim como os seus efeitos e a 
relação entre esses dois eventos, causa e 
efeito.
Para o raciocínio lógico e comprovação 
científica das causas e efeitos, bem como 
a relação entre esses eventos, tem-se a 
investigação epidemiológica. Quando se 
fala em investigação epidemiológica faz-
se necessário que se reúna informações 
empíricas sobre fatores de risco e efeitos. 
Esses fatores podem ser testados em 
experimentos envolvendo animais de 
laboratório, observações clínicas, análises 
comparativas e inquéritos populacionais. 
Outra etapa essencial para a investigação 
epidemiológica é o estabelecimento 
da relação causal, afastando assim a 
coincidência dos eventos. Para essa 
comprovação existe a formulação das 
hipóteses e a comprovação das mesmas 
através de delineamento de estudos 
(PEREIRA, 2006).
Para cada tipo de estudo existe 
delineamento, ou seja, método mais 
Unidade 4 • Multicausalidade81/201
adequado para a explicação científica da 
relação causal. Mesmo assim, há de se ter 
critério tanto para a seleção dos métodos 
como a condução de todo o estudo, a fim 
de apontar as reais evidências e não a 
simples coincidência dos fatos, sendo esse 
um dos grandes desafios da epidemiologia 
atual (PEREIRA, 2006).
Pois bem, quando a doença está 
relacionada à presença de outro ser vivo, 
o microrganismo, fica mais evidente a sua 
prevenção explicada através da Teoria 
Unicausal, porém, se são múltiplas as 
causas, consequentemente a prevenção 
terá várias direções. Portanto, a 
terminologia mais adequada para estudar 
e inferir sobre os diversos componentes 
envolvidos no complexo causal são os 
determinantes de saúde, os quais serão 
aprofundados na próxima aula.
1. Fatores de Risco e Causalidade
Você acha que fator de risco é causa?
Para responder essa questão você terá 
que compreender melhor outros conceitos 
relacionados ao processo causal.
Nas investigações epidemiológicas 
procura-se estabelecer as relações causais, 
sendo que a causa pode ser suficiente ou 
necessária. 
Entende-se por causa suficiente quando 
na sua presença a doença sempre irá 
ocorrer, esses casos são raros e explicados 
apenas em anomalias genéticas (JEKEL; 
Unidade 4 • Multicausalidade82/201
KATZ; ELMORE, 2005). Todos os outros 
casos não se aplicam, pois, mesmo que 
as pessoas estejam expostasao risco, 
algumas não vão adoecer. Lembra-se da 
afirmativa anterior em relação ao hábito 
de fumar e o desenvolvimento do câncer 
de pulmão? Pode considerar, portanto, que 
o tabagismo não é causa suficiente para 
o desenvolvimento do câncer de pulmão, 
pois mesmo algumas pessoas fumam e não 
desenvolvem a doença.
Outro conceito importante para o estudo 
é a causa necessária. Considera-se causa 
necessária quando se está presente para 
que a doença aconteça, ou seja, a doença 
somente irá existir na presença de um 
microrganismo, porém, a pessoa pode ter o 
microrganismo e não desenvolver a doença 
(JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). Tome como 
exemplo a tuberculose. Acompanhe o 
raciocínio: para a pessoa desenvolver a 
tuberculose é necessário o contato com o 
Micobacterium tuberculosis, certo? Porém, 
nem todas as pessoas que entram em 
contato com o bacilo (exposição inicial) 
desenvolvem a doença, o microrganismo 
pode ficar latente durante anos e, até 
mesmo, pelo resto da vida da pessoa. 
Utilizando o mesmo exemplo da relação 
entre o tabagismo e o câncer de pulmão, 
pode-se afirmar que existem pessoas com 
câncer de pulmão que nunca fumaram, 
logo, o hábito de fumar não é causa 
necessária para o desenvolvimento do 
câncer (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). 
Percebe a necessidade do agente para 
Unidade 4 • Multicausalidade83/201
o desenvolvimento da doença para 
considerar a causa necessária?
Agora que você já estudou o que é a causa, 
é hora de compreender o que é fator de 
risco. Para entender melhor o conceito, 
retomamos a outro que foi estudado na 
unidade anterior, o conceito de risco, sendo 
esse o grau de probabilidade de ocorrer 
um evento. Portanto, Fator de Risco é uma 
característica que está presente ou não, 
está relacionado com a chance de, ou 
seja, se o fator está presente existe o risco, 
ou melhor, a probabilidade de a doença 
acontecer (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). 
Pense na mesma relação tabagismo e 
câncer de pulmão. O tabagismo é um fator 
de risco para o câncer de pulmão, pois 
fumar aumenta cerca de 20 vezes mais 
a chance de uma pessoa desenvolver o 
câncer. Conclui-se então que o tabagismo 
é fator de risco para o desenvolvimento de 
câncer de pulmão, apesar de fumar não ser 
causa suficiente e nem necessária para o 
desenvolvimento da doença (JEKEL; KATZ; 
ELMORE, 2005).
Portanto, de posse desses conceitos já é 
possível responder à questão inicial, ou 
seja, fator de risco e causa têm conceitos e 
inferências diferentes.
Para o início dos estudos em relação 
à causa e ao efeito é preciso se ter um 
requisito essencial, que é a associação 
entre o efeito que se está estudando com 
a causa presumível, ou seja, a associação 
causal. Importante saber que a causa 
presumível não pode ser considerada acaso 
Unidade 4 • Multicausalidade84/201
ou coincidência, para tanto ela deve ter 
associação estatisticamente significativa, 
e isso somente é possível com estudos 
epidemiológicos e testes estatísticos 
(JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005).
Associação, portanto, é a relação entre a 
causa e o efeito, sendo essa uma medida 
estatisticamente testada. Existem ainda 
outros dois conceitos importantes a ser 
aprendidos: a associação causal direta e a 
indireta (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). 
Por associação causal direta entende-
se que ocorre uma relação direta, ou 
seja, o fator exerce efeito sem fatores 
intermediários, por exemplo: se o 
indivíduo recebe uma paulada na cabeça 
(causa) e essa resulta em traumatismo 
crânioencefálico (efeito).
Já na associação causal indireta o fator 
exerce efeito com interferência de 
outros fatores intermediários. Existem 
ainda associações que são meramente 
acaso ou coincidências, denominados, 
então, associação não causal, ou seja, a 
associação não provoca o efeito (JEKEL; 
KATZ; ELMORE, 2005).
Veja na Figura 5 que o hábito de fumar 
tem associação causal, ou seja, associação 
estatisticamente significativa, para o 
desenvolvimento de bronquite crônica, 
assim como associação causal para se 
ter mancha amarela nos dedos. Porém a 
bronquite não tem relação causal com a 
presença de mancha nos dedos.
Unidade 4 • Multicausalidade85/201
Figura 5 - Relação entre o hábito de fumar, bronquite crônica e mancha amarela nos dedos
Fonte: Pereira (2006, p. 401).
Essas investigações devem ser comprovadas com investigação estatística e teste de hipóteses 
sobre os fatores de risco, sendo que esses podem ter efeitos protetores, ou seja, quando ele 
está presente ele evita a doença. Ou podem ser fator de risco, quando a presença dele faz 
aumentar a probabilidade de adoecer.
2. Promoção da Saúde
A promoção à saúde ganhou força como uma reação, principalmente dos países do primeiro 
mundo, como o Canadá e Estados Unidos, frente aos gastos excessivos com tratamentos 
Unidade 4 • Multicausalidade86/201
caros e a medicalização das pessoas nos 
sistemas de saúde (BUSS, 2009).
Desde a década de 1970 se vem tentando 
definir a promoção à saúde por diversas 
frentes, quer sejam os técnicos da saúde 
quanto os outros atores sociais envolvidos 
no sistema de saúde. O movimento 
moderno de promoção da saúde surge 
no Canadá em 1974, em um documento 
oficial do Ministério da Saúde conhecido 
como Informe Lalond, o qual representou 
um marco histórico de referência para as 
políticas de saúde, principalmente nos 
países que enfrentam os custos crescentes 
decorrentes da assistência à saúde, além 
de questionar os resultados insatisfatórios 
para as doenças crônicas (BUSS, 2009).
Para saber mais
Informe Lalond foi um documento divulgado 
pelo então ministro da Saúde do Canadá. O 
texto intitulado “A new perspective on the health 
of canadians”. Era o primeiro documento oficial 
que utilizou o termo ‘promoção da saúde’. Foi 
construído utilizando os preceitos das atividades 
de educação em saúde já desenvolvidas pelo 
Governo Federal do Canadá. O documento tinha 
como fundamentos o componente da biologia 
humana, ambiente, estilo de vida e organização 
da assistência à saúde (BUSS, 2009).
Como você estudou nas unidades 
anteriores, já se sabia que ações como 
sanear o ambiente melhoravam as 
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condições de vida das pessoas, assim como 
a imunização. Também já foi aprendido que 
na História Natural da Doença também se 
utilizou do conceito de promoção à saúde 
para as ações de prevenção no período 
pré-patogênese.
A definição de Promoção à Saúde vem 
sendo construída ao longo do tempo 
desde os pressupostos do Informe 
Lalonde. Contribuiu para essa definição 
o estabelecimento de uma Diretoria de 
Promoção à Saúde junto ao Ministério 
da Saúde do Canadá, desenvolvendo 
ações com ênfase na mudança do estilo 
de vida; O grande marco da saúde 
pública mundial, a Conferência realizada 
em Alma Ata em 1978, a qual propõe 
a meta de ‘Saúde para todos no ano 
2000’; e produção cooperativa entre 
o Canadá e a Organização Mundial de 
Saúde de conceitos e práticas. Esses 
movimentos culminaram com a realização 
da I Conferencia Internacional sobre 
Promoção à Saúde (BUSS, 2009).
Para saber mais
 I Conferência Internacional sobre Promoção à 
Saúde, realizada em 1986 em Otawa/Canadá, 
contou com a participação de 38 países 
representados por pessoas interessadas na 
discussão referente à promoção à saúde (BUSS, 
2009).
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Durante esses dez anos o documento 
produzido na Conferência de Otawa 
apresentava alguns desafios a serem 
enfrentados para alcançar a saúde para 
todos, como: reduzir desigualdades; 
prevenção; e a capacidade de as pessoas 
enfrentarem seus problemas. Como 
estratégias de execução de enfrentamento 
desses desafios, o documento aponta o 
autocuidado, ajuda mútua e ambientes 
saudáveis. Através da participação da 
população, fortalecimento dos serviços 
de saúde e coordenação das políticas de 
saúde saudáveis (BUSS, 2009).
Esse documento definiu a promoção à 
saúde como: “Processo e capacitação da 
comunidade para atuar na melhora da 
sua qualidade de

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