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Saúde Pública e Processo Saúde/Doença W B A 0 12 3 _ v1 .1 2/201 Saúde Pública e Processo Saúde/Doença Autora: Stella Bianca Gonçalves Brasil Pissatto Como citar este documento: BRASIL-PISSATTO, Stella Bianca Gonçalves. Saúde Pública e Processo Saúde/Doença. Valinhos: 2015. Sumário Apresentação da Disciplina 03 Unidade 1: Conceitos e Definições de Saúde e de Doença 04 Unidade 2: Teoria Miasmática 29 Unidade 3: Unicausalidade 49 Unidade 4: Multicausalidade 76 Unidade 5: Determinantes Sociais 102 Unidade 6: Iniquidades 125 Unidade 7: Princípios do Sistema Único de Saúde 153 Unidade 8: Normas Regulamentadoras do Sistema Único de Saúde 177 2/201 3/201 Apresentação da Disciplina Caro(a) aluno(a), Para trabalhar na saúde pública, tanto como gestor, gerente de unidade ou como profissional, deve-se ter conhecimento de epidemiologia com compreensão do processo saúde/doença e reconhecimento de que esse fenômeno se modifica ao longo do tempo. Mesmo que você não trabalhe na saúde pública é imprescindível o conhecimento dos conceitos para exercer uma prática mais reflexiva e contextualizada, não somente dos conceitos, mas de todo o Sistema de Saúde. Você verá que os conceitos se constroem de acordo com os avanços tecnológicos, os aspectos sociais e econômicos da população no contexto histórico dos países, incluindo o Brasil. Nesta disciplina serão apresentados os conceitos de saúde e de doença ao longo do tempo, os modelos teóricos de saúde e o conceito de saúde e doença como processo. Além dos conceitos, serão abordados os determinantes sociais, o desafio de vencer as iniquidades, bem como os outros princípios do SUS. Para deixar a leitura mais interessante, os conceitos serão mesclados com exemplos, convidando você a refletir sobre as questões relacionadas ao tema. Esperamos que, a partir das reflexões e considerações propostas nesta disciplina, poderemos contribuir para sua formação e, consequentemente, contribuir para a própria consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) em nosso país. 4/201 Unidade 1 Conceitos e Definições de Saúde e de Doença Objetivos 1. Apresentar os vários conceitos de saúde e doença ao longo da história; 2. Discutir sobre os aspectos filosóficos e antropológicos do conceito de saúde e de doença; 3. Abordar a saúde e a doença como processo. Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença5/201 Introdução Quando o enfermeiro, o médico, o paciente e a família do paciente falam em saúde e em doença, eles estão se referindo à mesma realidade? Conceituar tanto saúde quanto doença pode parecer tarefa simples, mas ambos exigem conhecimentos complexos, pois dependem de valores individuais, concepções científicas, concepções religiosas e até mesmo filosóficas que variam de acordo com o tempo, lugar e sociedade (SCLIAR, 2007). A definição de saúde na antiguidade remetia às questões religiosas e sobrenaturais. Para algumas civilizações antepassadas, a alma poderia se separar do corpo devido a ações dos deuses ou dos próprios inimigos terrenos, assim, a pessoa adoecia quando estava tomada por espíritos ou almas estranhas. Em algumas crenças, o próprio demônio poderia possuir a pessoa, e nesses casos os tratamentos consistiam em expulsar as almas e demônios dos corpos, utilizando as práticas de exorcismo. No entanto, a ingestão de substâncias ou a aspiração de vapores (que desagradariam às almas) também consistiam em práticas utilizadas nessa época. (HEGENBERG, 1998). Na Antiguidade, as religiões politeístas concebiam que a saúde era dádiva, e a doença, castigo dos deuses. Já as religiões monoteístas também consideravam a saúde como dádiva, a exemplo das citações bíblicas de Êxodo (15, 26): “Eu sou o Senhor, e é saúde que te trago” e em Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença6/201 Eclesiastes (38, 1-9): “De Deus vem toda a cura”, porém, diferente dos politeístas, a doença era considerada castigo, sendo esse um sinal de ira diante dos pecados humanos (SCLIAR, 2007). Hipócrates (460 e 370 a.C.), considerado o pai da Medicina, afasta as explicações mágicas e religiosas da doença, atribuindo para essa as causas naturais. Para ele, “A doença chamada sagrada não é, em minha opinião, mais divina ou mais sagrada que qualquer outra doença; tem uma causa natural e sua origem supostamente divina reflete a ignorância humana” (SCLIAR, 2007). Assim, as causas naturais ou o desequilíbrio entre os fluidos corporais eram, para Hipócrates, os causadores das doenças. Considerava ainda a avaliação do paciente como um todo, além de outros fatores, como o clima, a maneira de viver, e os hábitos alimentares interferindo nesse equilíbrio e ocasionando a doença, a partir desse desequilibrando. (PEREIRA, 2006). Galeno (131-201) dá continuidade aos postulados de Hipócrates, sendo que esse pensamento doutrina se mantém e se transmite, dominando o cenário até quase o final do século XVIII (HEGENBERG, 1998). Vários estudos eram realizados através dos registros das pessoas que adoeciam, porém, ainda não estava claro o que as fazia adoecer, ou seja, a causa. Com o avanço da ciência e o invento do microscópio, novos estudos foram realizados utilizando-se desse Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença7/201 equipamento, assim, os estudos microscópicos, como o de Louis Pasteur (1822-1895), revelaram a existência de microrganismos que causavam doenças. Nos estudos de Koch (1873-1910), o bacilo da tuberculose e a bactéria da cólera foram isolados e analisados, reafirmando assim o conceito de doença à presença de um agente externo. Esses estudos possibilitaram também o desenvolvimento de soros e vacinas, revelando a possibilidade da prevenção e da cura de algumas doenças (SCLIAR, 2007). No século XIX, o médico inglês John Snow (1813-1858) realizou o primeiro e grande estudo sobre epidemiologia. Partindo dos casos de óbito por diarreia distribuída na população de Londres, o referido médico epidemiologista relacionou-os com as empresas de distribuição de água da cidade, associando-os, mais tarde, à descoberta da cólera. A doença passou a ser considerada em números de casos, como apontaram os estudos posteriores, de Louis René Villermé (1782-1863), o qual analisou a mortalidade nos diferentes bairros de Paris, e os de William Farr (1807- 1883), na Inglaterra, quando combinados os números de mortalidade entre os distritos (PEREIRA, 2006). As condições sanitárias nos Estados Unidos, as revoluções de 1848 em Paris e os apontamentos de Karl Marx sobre o capitalismo fizeram com que a sociedade mundial se modificasse. Tais mudanças ocasionaram a criação de um sistema de Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença8/201 seguridade social e saúde na Alemanha no ano de 1883. Em seguida, o mesmo ocorreu na França e, após a Primeira Guerra Mundial, em vários outros países, que foram implantando o sistema com o objetivo de oferecer uma compensação às pessoas, principalmente após a guerra. Cria-se então o Welfare System, o qual fornece atenção integral à saúde custeada pelo Estado. Até então não havia ainda um conceito único de saúde entre os países (SCLIAR, 2007). Após a Segunda Guerra Mundial, em 7 de abril de 1948, criou-se a Organização Mundial da Saúde (OMS) (desde então, o dia 7 de abril é considerado o Dia Mundial da Saúde). A OMS divulgou um conceito de saúde que passou a ser a principal referência desse termo, assim, “Saúde é o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade” (SCLIAR, 2007). Nessa concepção, utilizada até os dias de hoje, a saúde abrange os conceitos da biologia (herança genética e os processos biológicos inerentes à vida); o meio ambiente (o solo, a água, o ar, a moradia, o local de trabalho); o estilo de vida (fumar ou deixar de fumar, beber ou não, praticar ou não exercícios, entreoutros); e a organização da assistência à saúde, como a assistência médica, os serviços ambulatoriais, hospitalares e os medicamentos (SCLIAR, 2007). Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença9/201 1. As Questões Filosóficas e An- tropológicas do Conceito de Saúde e de Doença Você já ficou doente? Lembra-se de ter sentido dor? O que ela representou para você? Veja que a doença não pode ser compreendida apenas por meio das condições fisiopatológicas, pois quem estabelece o estado da doença é o sofrimento, a dor, o desprazer, enfim, os valores e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoeceu (CANGUILHEM, 2009). Pense na seguinte estimativa realizada pelo sistema VIGITEL em 2015: “Quase 60% das pessoas com 65 anos ou mais dizem ser hipertensos”. No entanto, podemos afirmar que as pessoas que fazem parte desses 60% da população se sentem doentes por ter diagnóstico de hipertensão? Link VIGITEL é um sistema do Ministério da Saúde que investiga, por inquérito telefônico, os fatores de risco para doenças crônicas (diabetes, obesida- de, câncer, doenças respiratórias, cardiovascu- lares) não transmissíveis (DCNT) no país. Dispo- nível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/ index.php?option=com_content&view=ar- ticle&id=10948&Itemid=649> http://portalsaude.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10948&Itemid=649 http://portalsaude.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10948&Itemid=649 http://portalsaude.saude.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=10948&Itemid=649 Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença10/201 A dor é uma experiência subjetiva, você pode sentir a dor, percebê-la, mas faltam palavras para descrevê-la. É provável que ao tentar defini-la você recorra a termos como: ‘pontada’, ‘facada’, ‘soco’, etc. Todos esses termos remetem ao sofrimento, aversão e sensação de desprazer. Quadros clínicos semelhantes, ou seja, com os mesmos parâmetros biológicos, podem afetar diferentemente as pessoas, com diferentes manifestações de sintomas e desconforto, com comprometimento diferenciado de suas habilidades, e de atuar em sociedade (ALVES; MINAYO, 1994). Com certeza, você já deve ter ouvido alguma queixa de pessoas expressando sua dor, com descrições parecidas com essas: “Parece que escorre um líquido quente das costas até os pés” ou “Tenho uma dor como pontada, que inicia na barriga e vai até as costas toda vez que como carne” ou ainda “Sinto um calor tomar conta do meu corpo, e a cabeça parece que vai estourar”. É difícil a compreensão exata da dor que o outro expressa, não é mesmo? Essas definições não se encontram nos livros e nos tratados. Assim como a dor e a doença, a saúde também é um estado de percepção individual e do desempenho social (ALVES; MINAYO, 1994). Portanto, não pode ser reduzida a um termo científico, estatístico e probabilístico, mas como uma sensação e sentimentos do subjetivo (CANGUILHEM, 2009). Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença11/201 Geralmente você não percebe a saúde, pois ela é silenciosa, você pode identificar apenas quando se adoece. Saúde é uma sensação vivenciada no corpo de cada indivíduo, de acordo com as suas particularidades. Dessa maneira, não é possível de ser medida ou comparada, pois tem representação diferente em cada pessoa. Assim, pode-se deduzir que o ser humano precisa conhecer- se, avaliando as transformações sofridas ao longo de sua vida, já que somente ele pode identificar os sinais que seu corpo expressa (CAPONI, 2009). Não existe um limite preciso entre a saúde e a doença, existe uma reciprocidade entre ambas. Os mesmos fatores de sobrevivência do ser humano como alimento, a água, o ar, entre outros, podem estar presentes em excesso ou podem não existir (falta de), sendo causadores de doença (CAPONI, 2009). O que você considera normal pode não ser normal para o outro, portanto não existe rigidez no processo. Veja que algumas palavras que vocês utilizam diariamente, como patologia, transtorno, doença, moléstia e enfermidade têm origens semânticas diferentes e remetem a significados diferentes. Almeida-Filho e Rouquayrol (2006, p. 33-4) descrevem muito bem esses termos, distinguindo-os: • disease (doença) = “uma condição do corpo, ou de alguma parte ou órgão, cujas funções encontram- Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença12/201 se perturbadas ou prejudicadas”, “quadro clínico ou formas de comprometimento reconhecido socialmente como enfermidade”; • illness (moléstia) = “qualidade ou condição de estar enfermo”. Tem origem de mal-estar no qual remete à percepção subjetiva do sofrimento (no espanhol: molestar = incomodar); • pathology (patologia) = “interrupção de processos normais do organismo e esforços no sentido de restabelecer o estado normal da existência”; • impairment (comprometimento) = “redução da capacidade anatômica, fisiológica, emocional ou funcional, impedindo a realização de atividade cotidiana e papéis sociais comuns”; • disability (incapacidade) = “comportamento resultante de limitação funcional crônica ou permanente”; • sickness (enfermidade) = está relacionado ao caráter social da doença (fermer do francês significa fechar), enfermaria remete a quarentena – isolamento; e • handicap (desvantagem) = “prejuízo”. 2. O Conceito de Saúde-Doença como Processo Para compreensão de processo deve- se considerar a saúde percebida pelos indivíduos, a dimensão do bem-estar, o Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença13/201 sofrimento experimentado pelas pessoas, suas famílias e grupos sociais. Aliadas à dimensão coletiva, interativa com ações individuais e coletivas, deve-se considerar ainda os dados de mortalidade, morbidade e classes sociais (SCHRAIBER; MENDES- GONÇALVES, 1996). O processo representa, então, o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e doença de uma população, considerando que essa se modifica ao longo da história, de acordo com o desenvolvimento científico (GUALDA; BERGAMASCO, 2004). Assim, o processo saúde-doença representa o conjunto de relações e variáveis que produzem e condicionam esse estado em uma população, modificando-se em diversos momentos históricos do desenvolvimento científico da humanidade. A esse conjunto de relações e variáveis soma-se o ambiente, sendo esse considerado como: o local em que as pessoas moram, trabalham e se relacionam, nos quais exercem influências e são afetadas por ele. Reflita sobre a seguinte situação: “Uma família formada por quatro adultos e quatro crianças, habitando uma casa, de apenas dois cômodos, compondo cozinha e quarto, sendo o banheiro externo”. Provavelmente essa família apresentará conflitos, problemas que atingirão sua saúde mental; esse quarto, na maioria das vezes, é pequeno, úmido e sem ventilação, o que o torna insalubre. Essas prováveis Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença14/201 características do local poderão acarretar doenças respiratórias, como bronquite, pneumonias, tuberculose, entre outras. Com esse exemplo, pode-se observar que os fatores ambientais da moradia, assim como as relações econômicas, as relações sociais e as condições biológicas de cada um, podem ter interferência na vida das pessoas, causando ou não doenças. Para melhor compreensão, propõe-se a utilização de um conceito descrito por Narvai e Frazão (2008) para descrever a condição de saúde, denominando-a em três planos. Assim, no Plano Subindividual há referência ao nível biológico ou orgânico e fisiológico ou fisiopatológico. Neste caso, o processo saúde-doença pode ser definido pelo equilíbrio entre a normalidade e a anormalidade, ou entre a funcionalidade e as disfunções. Comparando com imagem de uma balança (tipo específico), que pende para o lado mais pesado, assim, quando acometido por algumaanormalidade ou disfunção, podem ocorrer duas situações: a enfermidade ou a doença. Sendo assim, a enfermidade remete à condição percebida pela pessoa (algum sintoma físico ou mesmo dor), por exemplo: “desânimo, dores pelo corpo, calafrios”. A doença seria a condição detectada pelo profissional de saúde, com quadro clínico definido e enquadrado como uma entidade ou classificação noológica, por exemplo, o diagnóstico médico: HD: Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença15/201 Pneumonia bacteriana não especificada CID: J15.9. No Plano Individual as disfunções e anormalidades são consideradas pelos indivíduos como seres biológicos e sociais ao mesmo tempo. Ou seja, as alterações no processo saúde-doença resultam nos aspectos biológicos e nas condições gerais da existência dos indivíduos, grupos e classes sociais, considerando as dimensões individuais e coletivas. Segundo essa concepção, a condição de saúde poderia variar entre um extremo de mais perfeito bem-estar, com todos os eventos intermediários, até o extremo da morte. E no Plano Coletivo, o entendimento sobre o processo saúde-doença se amplia para além das condições orgânicas e sociais individualmente, sendo estendida às representações dos determinantes do fenômeno na família, no domicílio, na microárea, no bairro, no município, na região, no país, entre outros. A condição de saúde, segundo esses três planos, propõe que uma condição saudável vai além da disponibilidade e do acesso aos serviços de saúde, mas propõe essa condição como um direito, que contempla o entendimento proposto pela OMS, no qual “o contínuo agir do ser humano ante o universo físico, mental e social em que vive, sem regatear um só esforço para modificar, transformar e recriar aquilo que deve ser mudado”, atribui ao conceito uma dimensão dinâmica, que valoriza o papel dos seres humanos na manutenção e na Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença16/201 transformação da saúde tanto individual quanto coletiva, considerando-os como atores sociais no processo da própria vida (BRÊTAS; GAMBA, 2006). Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença17/201 Glossário Welfare System: denominação em inglês para o Estado de Bem-Estar. Considera como o Estado, portanto público, assistencial que garante como direito à população a saúde, educação, habitação, renda, entre outros. Nosológica: Área da medicina que estuda a classificação das doenças. Microárea: subdivisão de uma área, sendo essa o espaço físico delimitado em que se concentram pessoas. Questão reflexão ? para 18/201 Fazendo uma comparação, você pode observar que, no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, as ações de diagnóstico e de tratamento são voltadas para as doenças, enquanto que a promoção e a equidade são consideradas ações de saúde. Nessa perspectiva, quais conceitos de saúde e de doença foram valorizados pelo SUS? 19/201 Considerações Finais Não existem conceitos únicos para saúde e para a doença, ou seja, ambos os conceitos foram construídos ao longo da história; O conceito de saúde considera os aspectos biológicos, psicológicos e sociais; A saúde e o adoecer são experiências subjetivas e individuais, dificilmente descritas ou quantificáveis. Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença20/201 Referências ALMEIDA-FILHO, N; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à Epidemiologia. Rio de Janeiro: Medsi, 2006. 296p ALVES, P. C.; MINAYO, M. C. S. (org). Saúde e doença: um olhar antropológico [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1994. 174 p. ISBN 85-85676-07-8. Disponível em <http://books. scielo.org>. BRÊTAS, A. C. P.; GAMBA, M. A. (org). Enfermagem e saúde do adulto. São Paulo. Manole, 2006. 328p. CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitário, 2009. 154p. ISBN 978-85-218-0393-5 CAPONI, S. A saúde como abertura ao risco. In: CZERESNIA, D. Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009, p. 59-81. GUALDA, D. M. R.; BERGAMASCO, R. Enfermagem - cultura e o processo saúde-doença. São Paulo: Ícone, 2004. 352p. HEGENBERG, L. Doença: um estudo filosófico [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1998. 137 p. ISBN: 85-85676-44-2. Disponível em <http://books.scielo.org>. http://books.scielo.org http://books.scielo.org http://books.scielo.org Unidade 1 • Conceitos e Definições de Saúde e de Doença21/201 NARVAI, P. C.; FRAZÃO, P. Práticas de saúde pública. In: ROCHA, A. A.; CESAR, C.L.G. (Org.). Saúde pública: bases conceituais. 1. ed. São Paulo: Atheneu, 2008, p. 269-295 PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 558p. SCLIAR, M. História do conceito de saúde. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1), 2007, p.29-41 SCHRAIBER, L.B. ; MENDES-GONÇALVES, R.B. Necessidades de saúde e atenção primária. In: SCHRAIBER,L.B. et al. (org.) Saúde do adulto: programas e ações na unidade básica. São Paulo, Hucitec, 1996. p.29-46 22/201 1. Em relação à saúde, assinale a alternativa incorreta: a) Geralmente você não percebe a saúde, pois ela é silenciosa, você pode identificar apenas quando se adoece. b) Durante todo o processo histórico a doença esteve relacionada ao agente patogênico como sendo causa principal. c) Pode-se considerar saúde o estado de bem-estar físico, mental e social. d) Não existem conceitos únicos para saúde e para a doença, ou seja, ambos os conceitos foram construídos ao longo da história. e) A saúde e o adoecer são experiências subjetivas e individuais, dificilmente descritas ou quantificáveis. Questão 1 23/201 2. Em relação à doença, considere a alternativa incorreta: a) A causa das doenças na antiguidade estava relacionada aos aspectos religiosos e sobrenaturais. b) A doença pode ser definida como condição detectada pelo profissional de saúde, com quadro clínico definido. c) A doença já teve, ao longo da história, causas naturais ou o desequilíbrio entre os fluídos corporais. d) Quadro clínico ou formas de comprometimento reconhecido socialmente como enfermidade. e) Para a definição da doença sempre se considerou o contrário de saúde. Questão 2 24/201 3. Associe a palavra à sua definição: I. Uma condição do corpo, ou de alguma parte ou órgão, cujas funções encontram-se perturbadas ou prejudicadas. II. Tem origem de mal-estar, no qual remete à percepção subjetiva do sofrimento. III. Interrupção de processos normais do organismo e esforços no sentido de restabelecer o estado normal da existência. IV. Redução da capacidade anatômica, fisiológica, emocional ou funcional, impedindo a realização de atividade cotidiana e papéis sociais comuns. V. Relaciona-se ao caráter social da doença. a) Doença-II, Moléstia-I, Patologia-III, Comprometimento-IV, Enfermidade-V b) Doença-I, Moléstia-II, Patologia-III, Comprometimento-IV, Enfermidade-V c) Doença-I, Moléstia-III, Patologia-II, Comprometimento-V, Enfermidade-IV d) Doença-V, Moléstia-III, Patologia-II, Comprometimento-IV, Enfermidade-I e) Doença-IV, Moléstia-V, Patologia-II, Comprometimento-III, Enfermidade-I. Questão 3 25/201 4. Assinale a alternativa correta em relação à descrição de condição de saúde definida por planos: a) Plano Subindividual - há referência ao nível biológico ou orgânico e fisiológico ou fisiopatológico. b) O subindividual - a condição de saúde poderia variar entre um extremo de mais perfeito bem-estar com todos os eventos intermediários até o extremo da morte. c) O plano individual refere-se à doença como a condição ou quadro clínico definido e enquadrado como uma entidade ou classificação nosológica. d) O plano individual - entendimento sobre o processo saúde-doença se amplia para além das condições orgânicas e sociais individualmente. e) O plano coletivo - a doença tem condição ou quadro clínico definido e enquadrado como uma entidade ou classificação nosológica. Questão 4 26/2015. Assinale a alternativa incorreta em relação à descoberta do microscó- pio e das bactérias: a) Foi possível identificar vários agentes causadores da doença. b) Possibilitou o desenvolvimento de vacinas, revelando a possibilidade da prevenção de algumas doenças. c) Estabeleceu sempre a relação causal com a presença do agente etiológico. d) Comprovou a existência de microrganismos, derrubando o conceito de doença da antiguidade. e) Possibilitou o desenvolvimento de soros da cura de algumas doenças. Questão 5 27/201 Gabarito 1. Resposta: B. A saúde é silenciosa, geralmente é percebida quando se adoece; é considerada pela OMS como o estado de bem-estar físico, mental e social; os conceitos, tanto de saúde como de doença, foram construídos ao longo da história; e a saúde e o adoecer são experiências subjetivas e individuais, dificilmente descritas ou quantificáveis. 2. Resposta: E. Várias são as definições da doença ao longo da história, portanto não foi sempre que se considerou o contrário de saúde. 3. Resposta: B. Doença: Uma condição do corpo, ou de alguma parte ou órgão, cujas funções encontram-se perturbadas ou prejudicadas. Moléstia: Tem origem de mal-estar, no qual remete à percepção subjetiva do sofrimento. Patologia: Interrupção de processos normais do organismo e esforços no sentido de restabelecer o estado normal da existência. Comprometimento: Redução da capacidade anatômica, fisiológica, emocional ou funcional, impedindo a realização de atividade cotidiana e papéis sociais comuns. Enfermidade: Relaciona-se ao caráter social da doença. 28/201 4. Resposta: A. Plano Subindividual - há referência ao nível biológico ou orgânico e fisiológico ou fisiopatológico. Neste caso, o processo saúde-doença pode ser definido pelo equilíbrio entre a normalidade e a anormalidade, ou entre a funcionalidade e as disfunções. 5. Resposta: C. Estabeleceu a relação causal com a presença do agente etiológico para explicação das doenças infecciosas, mas esse conceito não explica a causa das doenças crônico-degenerativas. Gabarito 29/201 Unidade 2 Teoria Miasmática Objetivos 1. Resgatar os conceitos da teoria miasmática para explicação e definição de doença; 2. Relacionar a Teoria Miasmática com o saneamento e urbanização; 3. Problematizar a instalação de edifícios durante a vigência da Teoria Miasmática. Unidade 2 • Teoria Miasmática30/201 Introdução Retomando os conceitos e as definições da doença ao longo da história. Perceba que a busca pela origem, ou seja, a causa, sempre foi alvo, desde a antiguidade, tanto de deduções empíricas quanto pesquisas científicas. Veja que na tentativa de buscar explicações para a origem das doenças, ainda na antiguidade, as causas divinas foram atribuídas e permaneceram vigentes até os postulados de Hipócrates. Hipócrates considerou a razão para explicar a origem das doenças, afastando as causas sobrenaturais e divinas, vigentes até então. O pensamento dele remetia à avaliação minuciosa do paciente e sua relação com o ambiente (PEREIRA, 2006). Perceba que as contribuições de Hipócrates são utilizadas até hoje no raciocínio ecológico atual, pois, além da avaliação minuciosa do paciente, ele considerava, entre outros fatores, o clima, a maneira de viver e os hábitos de vida (PEREIRA, 2006). Outra explicação para a origem das doenças que permaneceu vigente no pensamento médico até a segunda metade do século XIX foi a Teoria Miasmática. De acordo com essa teoria, a doença tinha a sua origem nos miasmas. Miasmas são emanações devido à decomposição de animais e plantas (PEREIRA, 2006). Segundo essa teoria, a decomposição de animais e plantas emana para o ar, contaminando-o e fazendo com que esse fique sem qualidade. Essa emanação Unidade 2 • Teoria Miasmática31/201 passaria de pessoa para pessoa, transmitindo doenças. Assim, surgiam as primeiras concepções para a explicação da origem das doenças contagiosas (PEREIRA, 2006). Para compreender um pouco mais sobre a Teoria Miasmática, considere essas duas diferentes concepções de doença citadas anteriormente: a da antiguidade e a hipocrática. Ou seja, a concepção de doença presente no imaginário associada a algo que entrava no corpo, como os espíritos e demônios, sendo que a cura se dava através da expulsão da doença. E a concepção de Hipócrates, em que a doença tinha existência própria vinda do exterior (do ar, dos outros indivíduos e de objetos), compreendida como um desequilíbrio que fazia parte da natureza do homem como um processo no indivíduo, sendo assim, o tratamento devia tolerar e até mesmo reforçar o processo natural. A Teoria Miasmática associa essas duas concepções, pois considera que a absorção de ar corrupto degenerava os humores corporais, sendo que a reação do corpo era compreendida como esforço para expelir, por forças próprias, os humores destrutivos (CZERESNIA, 1997) Veja bem, se não existia, até então, o conhecimento dos microrganismos causadores de doenças (agentes), acreditava-se que o ar estivesse contaminado pelo odor que exalava das pessoas doentes e através desse mesmo ar se transmitia a doença. Ora, não é difícil Unidade 2 • Teoria Miasmática32/201 deduzir que as pessoas que adoeciam eram abandonadas, pois cuidar representava se contaminar e adoecer também. Portanto, as práticas, naquela época, eram de se evitar proximidade e o toque; por outro lado, os odores eram amenizados com perfumes e máscaras. Observe que o ar era fundamental para a explicação da transmissão das doenças. A ideia do contágio se dava também pela exalação dos humores contaminados através dos poros ou da respiração e da consequente contaminação do ar, portanto a pessoa que adoecia era associada a circunstâncias que afrouxavam os poros, permitindo a permeabilidade do corpo, para a saída e entrada de estímulos danosos através do ar. Nesse contexto foi instituída a quarentena, a qual se constituía, no período da peste, em retirar as pessoas da convivência e em observá-las até se ter certeza de que não estivessem com a doença; é referida, por exemplo, pelos historiadores contemporâneos, como uma das primeiras contribuições fundamentais à prática da saúde pública (CZERESNIA, 1997). Essa preocupação com os odores exalados fez com que os pesquisadores da época passassem a se preocupar com o saneamento, os aglomerados urbanos e os cemitérios como fontes causadoras de doenças. Unidade 2 • Teoria Miasmática33/201 1. Saneamento e Urbanização das Cidades A decomposição de diversas matérias, incluindo matéria orgânica e plantas, nos pântanos, além da lama, emana gases que se espalham pelo ar e, segundo a Teoria Miasmática, não poderiam ser inalados pelas pessoas (MASTROMAURO, 2010). Importante saber que o odor exalado pela decomposição denotava a presença de matérias pútridas presentes no ar. O miasma representava esse odor repulsivo e misterioso, porém sem explicação pela química de tal fato (MASTROMAURO, 2010). Existia a ideia de que o ar tinha importância para a manutenção da vida das pessoas, sendo esse um fluido e não a combinação química entre gases. Era imprescindível manter o equilíbrio desses fluidos no corpo, pois tudo que se desfazia perdia ar, esse ar se misturava com a fumaça e procurava rapidamente o orifício nasal, portanto, viver estava diretamente relacionado com os gases (SILVA, 2012). Veja como o controle dos miasmas era de grande importância na época, pois estava relacionado com o ar necessário para a vida das pessoas, consequentemente, a sobrevivência humana. Essa explicação em relação ao controle dos miasmas para manutenção da vida foi utilizada, inclusive com poder coercitivo, para sanear as cidades e portos no Brasil, através de métodos de desinfecção e queima de objetos. Unidade 2 • Teoria Miasmática34/201 Desde os romanos, a preocupação com o saneamento ambiental existe. Foram construídosaquedutos para levar água para a população das cidades. Com o início da industrialização ocorreram as migrações para as grandes cidades, sendo que as pessoas se conglomeravam e viviam em cortiços insalubres e com precárias condições de trabalho em ambientes inóspitos. Nesse contexto as doenças facilmente eram transmitidas entre as pessoas, e as explicações para esse contágio se davam através dos miasmas (PEREIRA, 2006). Imagine que para se construir as cidades levavam-se em consideração as grandes avenidas para promover a ventilação e combater os miasmas. Tanto que no Rio de Janeiro, em meados do século XIX, vários profissionais de saúde tiveram influência na urbanização da cidade, assim, pântanos foram drenados e morros foram demolidos. Há de se convir que também era necessário manter o país livre das doenças e das enfermidades pestilentas, para assim garantir o comércio internacional com a exportação dos produtos agrícolas, principalmente o café. Os grandes latifundiários brasileiros cobravam ações do então Presidente do Brasil, Rodrigues Alves, para que os portos brasileiros estivessem livres das doenças, para que os navios estrangeiros pudessem aqui atracar. As práticas de higiene das cidades e as campanhas foram lideradas, no Brasil, por Oswaldo Cruz (1902), que, naquela Unidade 2 • Teoria Miasmática35/201 época, já não acreditava na transmissão da doença pelo contato com roupas, suor, sangue e secreções, mas sim na existência de agentes causadores de doenças. Importante saber que o discurso associado de limpeza estava fundamentado na associação de sujeira, imundície, perversão, e até a doença com a pobreza, de maneira que a sujeira fazia parte da vida do pobre. Assim, higienizar as cidades teria a mesma conotação de higienizar as pessoas pobres. Esse simbolismo tinha como consequência a degeneração moral e física dos indivíduos. Os médicos utilizavam dos conhecimentos, da época, para justificar cientificamente a higienização das cidades para resolver, inclusive, os problemas sociais do país (OLIVEIRA, 2012). 2. Instalação de Edifícios Duran- te a Vigência da Teoria Miasmá- tica Assim como a lama e o pântano, o corpo entra em estado de putrefação com a liberação de gases e odores, porém Link O início do filme “História das Políticas de Saúde no Brasil” retrata bem a eliminação dos cortiços e o saneamento das grandes cidades, vale a pena ver o poder coercitivo da Polícia Sanitária. Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=SP8FJc7YTa0>. http://www.youtube.com/watch?v=SP8FJc7YTa0 http://www.youtube.com/watch?v=SP8FJc7YTa0 Unidade 2 • Teoria Miasmática36/201 esses com características temíveis entre a população: o contágio de doença. Os cemitérios, hospitais, matadouros, hospícios e leprosários passaram a ser alvos de planejamento nesta perspectiva, de maneira que os mesmos eram construídos fora do perímetro urbano das grandes cidades. Pois bem, se por um lado o poder coercitivo utilizado pela polícia sanitária atuava diretamente nos cortiços e entre os pobres (SILVA, 2012), por outro lado os médicos definiam locais a serem instalados, bem como a arquitetura desses cemitérios, hospitais, matadouros, hospícios e leprosários (MASTROMAURO, 2008). Os estabelecimentos ligados à saúde e à morte não poderiam ser construídos em áreas centrais e nem em locais úmidos e pantanosos. Tais regras eram impostas não somente pelos médicos da época, mas pelos engenheiros e arquitetos. Também se privilegiava os locais altos e arejados para a construção desses hospitais e cemitérios (MASTROMAURO, 2008). Percebam que essas imposições já denotavam, mesmo naquela época, uma preocupação com o zoneamento urbano, pois estavam definidos quais os locais em que deveriam ser construídos os estabelecimentos, sendo que se tratasse de hospitais e cemitérios, eram relacionados à sujeira e desgraça (MASTROMAURO, 2008). Uma análise importante desse contexto é a associação da construção desses estabelecimentos, considerados insalubres, Unidade 2 • Teoria Miasmática37/201 como potenciais contaminadores do ar e transmissores de doenças. Portanto, era necessário o isolamento desses e torná-los salubres. Não se esqueçam de que o contágio se iniciava no próprio corpo ou no mundo externo (pântanos, água e o ar). Com a segregação social e espacial, pessoas com doenças específicas foram confinadas nas periferias das cidades grandes, como, por exemplo, a construção do Complexo Hospitalar Emilio Ribas em São Paulo e o Cemitério do Araçá (MASTROMAURO, 2008). Para saber mais Emilio Marcondes Ribas (1861-1925) foi um grande sanitarista que, juntamente com Oswaldo Cruz, tratou de pacientes com febre amarela em São Paulo, comprovando que a doença não era transmitida pelo contato. O Hospital em São Paulo leva o seu nome e foi uma das primeiras instituições de saúde pública. Iniciou suas atividades em 1880 como o Hospital que atendia exclusivamente doentes de varíola. Reconhecido como um dos melhores do mundo no tratamento de doenças infectocontagiosas, em 1991 passou a se chamar “Instituto de Infectologia Emílio Ribas”. Em abril de 2012 passou a coordenar uma das pesquisas mundiais mais importantes para o tratamento da Aids e atualmente atua na formação de profissionais, tendo em sua rotina, além da assistência médica, as atividades de pesquisa e ensino. (Disponível em: <http://www.emilioribas.sp.gov.br/institucional/linha-do-tempo/>). http://www.emilioribas.sp.gov.br/institucional/linha-do-tempo/ Unidade 2 • Teoria Miasmática38/201 Essa estrutura se manteve nas pequenas cidades. Observem que nas cidades menores os cemitérios se localizam fora das cidades. O mesmo movimento não ocorre nas grandes cidades, pois essas foram crescendo e o que estava em área periférica, hoje está na região central. Com a descoberta dos microrganismos, a Teoria Miasmática foi derrubada e está em desuso desde a segunda metade do século XIX (PEREIRA, 2006). Unidade 2 • Teoria Miasmática39/201 Glossário Emanação: é o mesmo que exalação, ou seja, ação volátil no estado gasoso de substâncias que estavam presas aos corpos (massa). Empíricas: é o que não foi comprovado cientificamente, ou seja, senso comum, experiência, prática. Putrefação: decomposição da matéria orgânica, apodrecimento. Coercitivo: uso da força, coagido, obrigado a fazer algo. Questão reflexão ? para 40/201 Como você viu, os médicos associavam a doença com a sujeira e os pobres. Reflita sobre essa questão e tente apontar situações da atual realidade do país que remetem a essa associação. 41/201 Considerações Finais A Teoria Miasmática tem uma explicação da transmissão da doença através dos miasmas. As cidades e os portos foram saneados, pois se associavam a higiene à saúde e a sujeira à doença. Os estabelecimentos de saúde foram instalados nas periferias das cidades. A Teoria Miasmática está em desuso. Unidade 2 • Teoria Miasmática42/201 Referências CZERESNIA, D. Do contágio à transmissão: urna mudança na estrutura perceptiva de apreensão da epidemia’. História, Ciências, Saúde, Manguinhos, v. 4, n. 1, p. 75-94, mar.-jun. 1997. MASTROMAURO, Giovana Carla. Alguns aspectos da saúde pública e do urbanismo higienista em São Paulo no final do século XIX. Cad. hist. ciênc. São Paulo, v. 6, n. 2, dez. 2010. Disponível em <http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809- 76342010000200004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 29 nov. 2015. OLIVEIRA, I. B. et al. A ordem antes do progresso: o discurso médico-higienista e a educação dos corpos no Brasil do início do século XX. Fênix: Revista de História e Estudos Culturais, v. 9, nº 1, jan.-abr. 2012. ISSN: 1807-6971. Disponível em: www.revistafenix.pro.br. Acesso em: 08/11/15. PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006, p 558. SILVA, C. M. A história cultural: um diálogo entre Alain Corbine Norbert Elias. Fênix: Revista de História e Estudos Culturais, v. 9, n. 1, jan.-abr. 2012. ISSN: 1807-6971. Disponível em: <www. revistafenix.pro.br>. Acesso em: 08/11/15. http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-76342010000200004&lng=pt&nrm=iso http://periodicos.ses.sp.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-76342010000200004&lng=pt&nrm=iso http://www.revistafenix.pro.br http://www.revistafenix.pro.br http://www.revistafenix.pro.br 43/201 1. O que eram os miasmas? a) Evaporação das plantas b) Decomposição dos animais e plantas c) Estado de putrefação dos pântanos d) Emanações devido à decomposição de animais e plantas e) Efeitos sobrenaturais e divinos. Questão 1 44/201 2. Quais eram as explicações para as doenças na antiguidade? a) As doenças eram causadas pelos miasmas b) As doenças eram causadas pelas bactérias c) As causas das doenças eram sobrenaturais e divinas d) As causas das doenças eram a sujeira e a pobreza e) A doença era causada pelos vírus. Questão 2 45/201 3. O que Hipócrates considerava na avaliação do paciente? a) Apenas os aspectos biológicos através do exame físico b) O local em que as pessoas viviam e trabalhavam c) Os fatores hereditários e a história de vida d) O clima, a maneira de viver do paciente, os hábitos de vida, entre outros fatores e) Os aspectos sociais e psicológicos da pessoa. Questão 3 46/201 4. Por que era importante a limpeza das cidades para os médicos durante o século XIX? a) Eles acreditavam que a doença era transmitida através do lixo b) Eles acreditavam que as bactérias se multiplicavam na matéria orgânica c) Eles acreditavam que os miasmas estavam na sujeira d) Eles acreditavam que a doença era transmitida através da emanação da decomposição de animais e plantas e) Eles acreditavam que as doenças eram transmitidas através dos ratos. Questão 4 47/201 5. DPor que os hospitais e cemitérios foram construídos nas periferias das grandes cidades? a) A área central já estava ocupada pelas residências b) Eles associavam a transmissão da doença de pessoa para pessoa c) Eles consideravam os hospitais e cemitérios como contaminadores do ar e transmissores de doenças d) Eles consideravam os hospitais e cemitérios salubres e) Eles valorizavam o conforto dos pacientes. Questão 5 48/201 Gabarito 1. Resposta: D. Os miasmas eram considerados emanações devido à decomposição de animais e plantas. 2. Resposta: C. Na antiguidade as causas das doenças eram atribuídas ao sobrenatural e divindades, teoria essa que foi derrubada pela dos miasmas. 3. Resposta: D. Hipócrates propunha uma avaliação minuciosa do paciente, além de considerar o clima, a maneira de viver do paciente, os hábitos de vida, entre outros fatores. 4. Resposta: D. Os médicos associavam a transmissão das doenças aos miasmas, ou seja, emanação da decomposição de animais e plantas. 5. Resposta: C. Os médicos influenciaram as construções por considerar que as doenças eram transmitidas através de substâncias que estavam presentes no ar e que os hospitais e cemitérios, por serem insalubres, contaminavam o ar transmitindo doenças. 49/201 Unidade 3 Unicausalidade Objetivos 1. Apresentar a teoria da unicausalidade e a descoberta das doenças infecciosas e parasitárias. 2. Descrever a história natural da doença. 3. Apresentar os conceitos de prevenção e seus níveis. Unidade 3 • Unicausalidade50/201 Introdução Na saúde, assim como em qualquer outra área, é comum a relação de uma causa ter um efeito. Com certeza, ao ser questionado sobre qual a causa da doença de Chagas, você rapidamente poderia responder que é o Trypanosoma cruzi, não é mesmo? Mas essa relação de causa e efeito nem sempre foi assim. Tampouco existia a clareza que se tem hoje em relação à descrição da história do curso da doença. Lembra-se da Teoria Miasmática estudada anteriormente? As doenças eram transmitidas pelos miasmas, como algo mágico presente no ar. Com a descoberta dos germes, a Teoria Miasmática cai em desuso, pois mesmo que considerada como simplista, a relação da causa única (presença do agente) como o desencadeador da doença teve grande impacto na época (JEKEL, KATZ e ELMORE, 2005). Em 1675, Leeuwenhoek (1632- 1723) descobriu o microscópio, o que possibilitou ao francês Louis Pasteur (1822-1895) isolar numerosas bactérias, e Robert Koch (1843-1910) identificar o bacilo causador da tuberculose. Esses dois pesquisadores e vários outros contemporâneos contribuíram com os estudos da bacteriologia e evidenciaram que as doenças poderiam ter uma relação causal. A causa estava relacionada aos agentes etiológicos. Nascia então a Teoria Unicausal (PEREIRA, 2006). Mas não foi tão simples convencer a todos de que existiam germes extremamente Unidade 3 • Unicausalidade51/201 pequenos, visíveis apenas através do microscópio, sendo eles os causadores de doença. Mesmo assim, apesar das resistências iniciais, os conceitos de doença através dos miasmas e do contágio não poderiam ser mais aceitos pelos médicos, pois estava comprovada não somente a existência, como a presença desses agentes etiológicos como essenciais para causar as doenças. O avanço na descoberta dos microrganismos data das primeiras décadas do século XX. Naquela época precisava-se convencer a população a respeito da existência dos agentes causadores da doença, bem como o seu mecanismo de transmissão. Várias pesquisas também foram realizadas com o intuito de, além de identificar os germes, produzir substâncias que preveniam a doença, como a produção de vacinas; e produzir o tratamento, como os soros e o antibiótico; além de descrever a evolução da doença (PEREIRA, 2006). Com o aprofundamento dos mecanismos de transmissão da doença, as pesquisas foram se voltando para outros fatores que envolviam esse ciclo, para além da presença do gérmen. Passou-se a observar e descrever as condições do meio ambiente, assim como as condições biológicas do homem para a explicação da doença. Nessa perspectiva foram criadas as representações esquemáticas sobre o agente, hospedeiro e o meio ambiente (PEREIRA, 2006). Unidade 3 • Unicausalidade52/201 Na FIGURA 1 vocês podem perceber a descrição gráfica da doença infecciosa em forma de cadeia, de maneira que, para a pessoa adoecer a cadeia não pode ser interrompida. Por outro lado, para se evitar a doença deve-se eliminar um dos pontos da cadeia epidemiológica. Porém, para essas doenças chamadas de infecciosas, sempre esteve relacionado com a presença do agente etiológico como a única causa, considerando esse um ser vivo que causa a doença/infecção, conclui- se que a infecção, portanto é, um processo biológico na luta pela sobrevivência entre organismos vivos (ALMEIDA-FILHO; ROUQUAYROL, 2006). Na descrição da doença infecciosa considera-se o agente etiológico (microrganismo), reservatório ou fonte de infecção, portas de entrada e de saída, mecanismo de transmissão e o hospedeiro (PEREIRA, 2006). Para saber mais Os agentes etiológicos são microrganismos que causam doenças, ou seja, têm a responsabilidade causal comprovada no processo infeccioso. Os agentes podem ser os vírus, bactérias, fungos, protozoários, helmintos. Unidade 3 • Unicausalidade53/201 Figura 1 - Cadeia Epidemiológica Fonte: OPAS, 2010. Em relação à evolução da doença, a pesquisa que se destacou na época foi a realizada por Carlos Chagas em 1909, o qual identificou o vetor (Triatomídeo – barbeiro), o agente etiológico (Trypanosoma cruzi) e vinculou a doença que leva o seu nome (Chagas). Tal estudo possibilitou, mais tarde, a comprovação de doenças agudas e a condição de portadores de doenças que poderiam ser manifestadas em outro momento (PEREIRA, 2006). Unidade 3 • Unicausalidade54/201 Na descrição da doença infecciosa consideram-se os principais elementos da cadeia epidemiológica (PEREIRA, 2006): 1. Agente etiológico: •Infectividade, • Patogenicidade, • Virulência; • Antigenicidade; e • Mutagenicidade. 2. Reservatório e fonte de infecção: • Homem: fase clínica, subclínica e portador da doença. • Animal: selvagem ou doméstico. • Solo: esporos (formas e resistência). Link Carlos Chagas (1879-1934), renomado médico sanitarista, foi chefe do Departamento Nacional de Saúde. Além de descrever a doença que recebe o seu nome, esteve à frente no combate à gripe espanhola em 1818, no Rio de Janeiro, realizou campanha contra a malária no interior de São Paulo, organizou serviços de higiene infantil, tuberculose, hanseníase e doenças venéreas. Foi também o grande responsável pela criação da Escola de Enfermagem Ana Nery, além de professor na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Conheça mais da história desse brasileiro acessando: <http://www. invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start. htm?infoid=109&sid=7>. http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=109&sid=7 http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=109&sid=7 http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=109&sid=7 Unidade 3 • Unicausalidade55/201 3. Porta de entrada e de saída: • Respiratória. • Intestinal. • Pele e mucosa. • Sangue. 4. Vias de transmissão: • Direta: contato físico ou gotículas. • Indireta: veículo (água, alimento e objetos); vetor (mecânico – moscas – ou biológico – triatomídeo); aerossóis. 5. Hospedeiro: • Refratariedade: resistência da espécie a uma doença. • Resistência e susceptibilidade: maior ou menor resposta positiva do organismo. • Imunidade: ativa – natural (por doença) e artificial (por vacina) e passiva – natural (transplacentária) e artificial (por soros). Com a Teoria Unicausal se avançou muito na explicação e descrição da doença, com essa teoria se explica as doenças infecciosas, porém é insuficiente para explicar as doenças não infecciosas, principalmente as crônico-degenerativas, pois estas têm várias causas, ou melhor, múltiplos fatores causais relacionados à doença. A Teoria Multicausal será tema da próxima aula. Unidade 3 • Unicausalidade56/201 1. História Natural da Doença Agora que você já aprendeu sobre a necessidade da presença do agente etiológico para causar a doença, é hora de saber como evitá-la e em que momento utilizar qual estratégia. Para tanto, é importante conceber o conceito de saúde e de doença como um processo. A História Natural da Doença (Figura 2), sistematizada por Leavell e Clark em 1976, considera o modelo processual dos fenômenos patológicos, ou seja, a doença ocorre devido a processos ao longo do tempo desde o período anterior às manifestações clínicas da doença e se entende até a cura ou reabilitação da pessoa que adoece (PEREIRA, 2006). Unidade 3 • Unicausalidade57/201 Figura 2 - História Natural da Doença. Fonte: Almeida-Filho; Rouquayrol, 2006. Unidade 3 • Unicausalidade58/201 Segundo a História Natural da Doença, na fase inicial, ou seja, a pré-patogênese, ainda não existe a doença, porém existem todas as condições necessárias para o seu aparecimento. A pessoa não apresenta sintomas, e pode ou não adoecer. Dessa maneira, pode-se considerar que não apresenta o mesmo risco de morrer, pois existem fatores que protegem e que facilitam o desenvolvimento de doença, assim como fatores que abreviam o mesmo. Conhecendo esses fatores e riscos, pode-se eliminá-los, ou seja, fazer a promoção e a prevenção (PEREIRA, 2006). Para saber mais Risco é o grau de probabilidade de ocorrer um evento. O risco pode ser absoluto quando mostra, através de cálculos estatísticos, quantos casos novos de uma doença podem aparecer num grupo em determinado momento. O risco também pode ser relativo, quando informa quantas vezes mais existe o risco em um grupo de pessoas comparando com outros grupos. E ainda, o risco atribuível, o qual se refere à exposição, ou seja, quantidade de pessoas expostas que tiveram a doença atribuída ao fator de risco que se está estudando (PEREIRA, 2006). Unidade 3 • Unicausalidade59/201 Na fase pré-clínica a doença está em sua fase inicial, ainda não se tem os sintomas, mas o agente está presente na pessoa. Neste momento o curso da doença pode ser o início do processo patológico, com o aparecimento dos sintomas ou evoluir para os processos subclínicos sem o aparecimento dos sintomas (PEREIRA, 2006). Imagine agora, como exemplo, a realização de sorologia para hepatite C na população em geral. Essa ação servirá de triagem para saber quais as pessoas são portadoras do vírus da hepatite, ou seja, serão identificadas quais as pessoas que estão na fase pré-clínica da doença. Outras ações se justificam para identificar pessoas nessa fase, como rastreamento ou screening para a identificação de fenilcetonúria através do teste do pezinho em recém- nascido, rastreamento do câncer de mama com a mamografia, entre outros. Na fase clínica os sintomas da doença já estão presentes e sua gravidade pode variar de acordo com o próprio curso de cada doença. Nessa fase a atuação é exclusivamente curativa, no sentido de tratamento das pessoas doentes (PEREIRA, 2006). Na última fase da História Natural da Doença ocorre o desenlace, o seja, o desfecho. Pode ser a incapacidade à progressão da doença até a morte, ou seja, as alterações funcionais e anatômicas que se adaptam e estabilizam. Neste caso, as ações propostas são as de reabilitação (PEREIRA, 2006). Unidade 3 • Unicausalidade60/201 A História Natural da Doença pode ser utilizada para descrever o curso natural da doença, importante na investigação clínica individual ou para descrever o curso da doença na comunidade num território definido. Vários estudos foram realizados considerando a história natural da doença a partir dos serviços, descrevendo e explicando as doenças que passaram pelo serviço de saúde. Para exemplificar, imagine o seguinte estudo hipotético: Formação de um grupo de 100 pessoas que tiveram sorologia positiva para doença de Chagas no Laboratório X. Para fazer parte do grupo as pessoas devem ser assintomáticas. Esse grupo deve ser acompanhado, observado e após alguns anos deve-se ter os registros de: Quantos apresentaram sintomas e após quanto tempo? Quais os sintomas? Quais as alterações dos exames laboratoriais? Quantos morreram? Quantos ficaram inválidos ou incapazes? Quantos permanecem vivos? Vejam que com essas respostas pode-se descrever o comportamento da doença, ou seja, a sua descrição ao longo do tempo, a fim de prever, inclusive com porcentagem, quando irá morrer ou ficar incapaz a população que adquiriu a doença de Chagas, a partir do serviço que a diagnosticou. No plano coletivo existiram pesquisas que acompanharam o curso da doença nas comunidades em grupo de pessoas Unidade 3 • Unicausalidade61/201 expostas ao longo do tempo. Nesse caso, a identificação das pessoas para a formação do grupo que será acompanhado não deve ser a partir dos serviços, mas sim da própria comunidade. Assim, várias doenças foram descritas e já se tem exatamente quais ações são adequadas para a intervenção a fim de preveni-las, tratá-las e até mesmo a possibilidade de reabilitação. Não se esqueça de que é importante conhecer cada fase do processo saúde/ doença na história natural da doença, para que se tenha uma localização exata de ações que podem ser realizadas com o intuito de quebrar a cadeia e planejar ações preventivas e curativas em diversos momentos. 2. Apresentar os Conceitos de Prevenção e seus Níveis Prevenir significa preparar, ou seja, chegar antes, evitar, impedir que se realize. Prevenção em saúde exige uma ação antecipada, mas para fazê-lo é necessário conhecer (PEREIRA, 2006). Ora, se você já conhece a história natural da doença, é possível intervir em momento oportuno, ou seja, fazer a prevenção e quebrar a cadeia, evitando a doença. Açõespreventivas são feitas ainda com o objetivo de controle da transmissão das doenças infecciosas e a redução do risco de doenças degenerativas, sendo que a base do conhecimento preventivo é o conhecimento epidemiológico. Unidade 3 • Unicausalidade62/201 A Figura 3 mostra os níveis de medida de prevenção de acordo com o modelo da História Natural da Doença, sendo que a prevenção pode ser classificada em níveis primário, secundário e terciário. Figura 3 - Níveis de aplicação de medidas de prevenção Fonte: Pereira (2006) Unidade 3 • Unicausalidade63/201 No nível primário a prevenção é feita antes mesmo da doença, ou seja, no período pré- patogênico, e remete-se à promoção da saúde que se caracteriza em sentido mais amplo para aumentar o nível de bem-estar e a proteção específica do indivíduo, não permitindo que o mesmo entre em contato com o agente, como uma forma de barreira contra esses agentes e o meio (PEREIRA, 2006). Você pode pensar que ações de promoção podem ser: educação em saúde e motivação sanitária, nutrição adequada, condições de habitação adequada, salários e empregos adequados. Já em relação à proteção específica, pense em vacinação, quimioprofilaxia para doença meningocócica, fluoretação da água, entre outros. Prevenção secundária são as ações de prevenção quando o curso da doença se encontra na fase patológica. Esse nível de prevenção se desdobra em outros dois: a limitação do dano, em que o objetivo é fazer o processo regredir com vistas à reincidência de complicações e sequelas; ou diagnóstico precoce, para o início do tratamento oportunamente (PEREIRA, 2006). Como exemplo para a prevenção do dano, pense no uso de anticoagulante em pessoas com trombose venosa profunda para se evitar uma embolia pulmonar. Já em relação ao diagnóstico precoce, o exame periódico de saúde, autoexame de mama, intervenções médicas e cirúrgicas como as biopsias, entre outros. Unidade 3 • Unicausalidade64/201 E, por último, a prevenção terciária, a qual remete às ações para a fase final do processo e visa a desenvolver a adaptação da pessoa a condições irremediáveis, ou seja, a reabilitação; para tanto, será necessária a ação da fisioterapia, terapia ocupacional (PEREIRA, 2006). O modelo descrito por Leavell e Clark explica várias doenças e indica as ações de prevenção, porém não se aplica para as doenças crônicas não transmissíveis. Para compreender essas doenças você estudará na próxima aula os determinantes sociais e os modelos sistêmicos para a explicação do processo saúde-doença. Unidade 3 • Unicausalidade65/201 Glossário Infectividade: capacidade de um agente etiológico de se instalar em um hospedeiro e nele se multiplicar. Patogenicidade: capacidade que o agente etiológico tem de produzir doença no hospedeiro. Virulência: capacidade do agente etiológico de produzir sintomas e manifestações graves. Antigenicidade: capacidade do agente etiológico de produzir anticorpos. Mutagenicidade: capacidade que o agente etiológico tem de produzir alterações genéticas. Questão reflexão ? para 66/201 Agora que você já estudou sobre a história natural da doença e os níveis de prevenção, pense em quatro doenças infecciosas e aponte ações de prevenção primária, secundária e terciária para cada uma das doenças selecionadas. 67/201 Considerações Finais A Teoria da Unicausalidade considera sempre a presença de um agente etiológico na causa da doença. Para se evitar as doenças infecciosas é necessário interromper a cadeia epidemiológica. A doença é explicada como um processo através da representação gráfica da história natural da doença. Existem vários níveis de prevenção da doença. Unidade 3 • Unicausalidade68/201 Referências ALMEIDA-FILHO, N; ROUQUAYROL, M. Z. Introdução à epidemiologia. 4. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006, 296p. JEKEL, J. F; KATZ, D. L; ELMORE, J.G. Epidemiologia, bioestatística e medicina preventiva. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005, 432p. PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 558p. 69/201 1. Segundo a teoria da unicausalidade, qual a explicação para a causa da doença? a) A doença tinha explicação na presença de vários fatores, inclusive os hábitos de vida. b) A causa da doença estava relacionada com a presença dos miasmas. c) A causa das doenças estava relacionada com a presença de uma bactéria. d) A causa das doenças estava relacionada com a presença de um agente etiológico, podendo ser esse vírus, bactéria ou protozoário. e) A causa da doença estava relacionada com os vetores. Questão 1 70/201 2. Em relação à cadeia epidemiológica, considere a alternativa correta: a) obrigatoriamente deve-se ter a presença do agente etiológico para se ter a doença, porém deve-se levar em consideração o reservatório, as portas de entrada e de saída, o mecanismo de transmissão e o hospedeiro, pois se a cadeia for interrompida a doença é prevenida. b) obrigatoriamente deve-se ter a presença do vetor para se ter a doença, porém deve-se levar em consideração as portas de entrada e de saída, o mecanismo de transmissão e o hospedeiro, pois se a cadeia for interrompida a doença é prevenida. c) obrigatoriamente deve-se ter a presença do agente etiológico para se ter a doença, porém deve-se levar em consideração o reservatório, as portas de entrada e de saída, o mecanismo de transmissão e o hospedeiro, pois mesmo que a cadeia for interrompida, não se evita a doença. d) o agente etiológico pode estar presente ou não para se ter a doença, e deve-se levar em consideração o reservatório, as portas de entrada e de saída, o mecanismo de transmissão e o hospedeiro, pois se a cadeia for interrompida a doença é prevenida. e) O agente etiológico pode estar ou não estar presente, mas obrigatoriamente deve-se ter a presença, porém deve-se levar em consideração o reservatório, as portas de entrada e de saída, o mecanismo de transmissão e o hospedeiro, pois se a cadeia for interrompida a doença é prevenida. Questão 2 71/201 3. Qual afirmativa está incorreta em relação à História Natural da Doença? a) A doença é explicada pela cadeia epidemiológica na interação entre o agente, reservatório, mecanismo de transmissão e hospedeiro. b) Fase clínica - os sintomas da doença já estão presentes e sua gravidade pode variar de acordo com o próprio curso de cada doença. Nessa fase a atuação é exclusivamente curativa, no sentido de tratamento das pessoas doentes. c) Na fase pré-clínica a doença está em sua fase inicial, ainda não se tem os sintomas, mas o agente está presente na pessoa. Neste momento o curso da doença pode ser o início do processo patológico, com o aparecimento dos sintomas, ou evoluir para os processos subclínicos sem o aparecimento dos sintomas. d) Pode ser utilizada para descrever o curso natural da doença, importante na investigação clínica individual ou para descrever o curso da doença na comunidade num território definido. e) A doença é explicada pelo modelo sistêmico dos fenômenos patológicos, ou seja, a doença ocorre devido a processos ao longo do tempo desde o período anterior às manifestações clínicas da doença e se entende até a cura ou reabilitação da pessoa que adoece. Questão 3 72/201 4. O que é período pré-patogênico? a) Nesta fase ainda não existe a doença, porém existem todas as condições necessárias para o seu aparecimento. A pessoa não apresenta sintomas, e pode ou não adoecer. b) A doença está em sua fase inicial, ainda não se tem os sintomas, mas o agente está presente na pessoa. c) Nessa fase a atuação é exclusivamente curativa, no sentido de tratamento das pessoas doentes. d) Neste momento o curso da doença pode ser o início do processo patológico, com o aparecimento dos sintomas, ou evoluir para os processos subclínicos sem o aparecimento dos sintomas. e) Período em que ocorre o desenlace, ou seja, o desfecho. Pode ser a incapacidade à progressãoda doença até a morte, ou seja, as alterações funcionais e anatômicas que se adaptam e estabilizam. Questão 4 73/201 5. Em relação à prevenção, qual alternativa está incorreta? a) No nível primário a prevenção é feita antes mesmo da doença, ou seja, no período pré- patogênico. b) Prevenção terciária remete às ações para a fase final do processo e visa a desenvolver a adaptação da pessoa a condições irremediáveis, ou seja, a reabilitação; para tanto, será necessária a ação da fisioterapia, terapia ocupacional. c) Na prevenção primária, a promoção da saúde se caracteriza em sentido mais amplo para aumentar o nível de bem-estar e a proteção específica do indivíduo, não permitindo que o mesmo entre em contato com o agente, como uma forma de barreira contra esses agentes e o meio. d) Prevenção secundária são ações de promoção da saúde que se caracterizam em sentido mais amplo para aumentar o nível de bem-estar e a proteção específica do indivíduo, não permitindo que o mesmo entre em contato com o agente, como uma forma de barreira contra esses agentes e o meio. e) Prevenção secundária são as ações de prevenção quando o curso da doença se encontra na fase patológica. Questão 5 74/201 Gabarito 1. Resposta: D. Na teoria Unicausal, como próprio nome diz, está relacionado com apenas uma causa o agente etiológico, podendo ser esse vírus, bactéria ou protozoário. 2. Resposta: A. A cadeia epidemiológica está relacionada com a unicausalidade, portanto obrigatoriamente deve-se ter a presença do agente etiológico para se ter a doença, porém deve-se levar em consideração o reservatório, as portas de entrada e de saída, o mecanismo de transmissão e o hospedeiro, pois se a cadeia for interrompida a doença é prevenida. 3. Resposta: E. A História Natural da Doença é explicada pelo modelo processual e não sistêmico dos fenômenos patológicos, ou seja, a doença ocorre devido a processos ao longo do tempo desde o período anterior às manifestações clínicas da doença e se entende até a cura ou reabilitação da pessoa que adoece. 4. Resposta: A. No período patogênico não existe a doença, porém existem todas as condições necessárias para o seu aparecimento. A pessoa não apresenta sintomas, e pode ou não adoecer. 75/201 Gabarito 5. Resposta: D. A prevenção primária e não a secundária corresponde às ações de promoção da saúde, se caracteriza em sentido mais amplo para aumentar o nível de bem-estar e a proteção específica do indivíduo, não permitindo que o mesmo entre em contato com o agente, como uma forma de barreira contra esses agentes e o meio. 76/201 Unidade 4 Multicausalidade Objetivos 1. Abordar os fatores multicausais na definição de doença 2. Diferenciar os fatores de risco e causalidade 3. Apresentar os conceitos de promoção à saúde Unidade 4 • Multicausalidade77/201 Introdução Pense na seguinte afirmação: Pessoas com câncer de pulmão são fumantes. Ora, se fumar causa câncer de pulmão, abolindo o hábito de fumar se erradicará o câncer de pulmão. Esta afirmativa é verdadeira? Há de se convir que o hábito de fumar contribua e muito para o desenvolvimento do câncer de pulmão, mas não é a única causa. Assim como pessoas que nunca fumaram também podem desenvolver o câncer de pulmão. Veja que, com esse exemplo, afastando a causa (hábito de fumar) a pessoa ainda tem chance de desenvolver a doença. O mesmo acontece com várias outras doenças que podem ter múltiplas causas e que uma causa única pode ter muitos efeitos e, consequentemente, as medidas de prevenção podem surtir efeitos em várias direções. A Teoria da Multicausalidade oferece respostas mais adequadas, principalmente às doenças crônico-degenerativas, pois, diferente das doenças infecciosas, tem várias etiologias e algumas doenças ainda permanecem com etiologias obscuras, carecendo de estudos e respostas. Exemplos dessa afirmação estão pautados nas pesquisas mais recentes, como a descoberta da associação da cárie dentária e a presença da bactéria Streptococcus mutans. Ou a relação da gastrite e úlcera péptica com a identificação do Helicobacter pylori em aproximadamente 90% dos casos. Essas descobertas fizeram com que a cárie dentária, assim como a úlcera, Unidade 4 • Multicausalidade78/201 pudessem se consideradas como doenças infecciosas, podendo assim mudar os rumos das ações preventivas para essas duas doenças (PEREIRA, 2006). Entretanto, para as doenças crônicas em que existe o período de latência, início insidioso e curso prolongado, além de etiologia multicausal, ou seja, não se relacionam com a invasão do organismo por outros seres vivos, a causa se dá pela exposição a fatores de riscos, sendo esses correspondentes à história familiar, estilos de vida, hábito de fumar, entre outros (PEREIRA, 2006). Para explicação gráfica das múltiplas causas tem-se o modelo sistêmico da saúde representado por círculos. A Figura 4 ilustra a explicação para a síndrome da diarreia e da desnutrição. Unidade 4 • Multicausalidade79/201 Figura 4 - Modelo sistêmico na determinação da doença diarreica Fonte: Almeida-Filho; Rouquayrol (2006) Unidade 4 • Multicausalidade80/201 Veja que as setas indicam que os fatores produzem efeitos por outros fatores e esses também são afetados. Todos os fatores estão contemplados, sendo que quanto mais distantes do centro, mais incorporam os aspectos sociais e coletivos, e os fatores mais centrais aos individuais e biológicos (ALMEIDA-FILHO; ROUQUAYROL, 2006; PEREIRA, 2006). Vários estudos têm sido realizados na tentativa de identificar causas para as doenças, principalmente as doenças crônicas, assim como os seus efeitos e a relação entre esses dois eventos, causa e efeito. Para o raciocínio lógico e comprovação científica das causas e efeitos, bem como a relação entre esses eventos, tem-se a investigação epidemiológica. Quando se fala em investigação epidemiológica faz- se necessário que se reúna informações empíricas sobre fatores de risco e efeitos. Esses fatores podem ser testados em experimentos envolvendo animais de laboratório, observações clínicas, análises comparativas e inquéritos populacionais. Outra etapa essencial para a investigação epidemiológica é o estabelecimento da relação causal, afastando assim a coincidência dos eventos. Para essa comprovação existe a formulação das hipóteses e a comprovação das mesmas através de delineamento de estudos (PEREIRA, 2006). Para cada tipo de estudo existe delineamento, ou seja, método mais Unidade 4 • Multicausalidade81/201 adequado para a explicação científica da relação causal. Mesmo assim, há de se ter critério tanto para a seleção dos métodos como a condução de todo o estudo, a fim de apontar as reais evidências e não a simples coincidência dos fatos, sendo esse um dos grandes desafios da epidemiologia atual (PEREIRA, 2006). Pois bem, quando a doença está relacionada à presença de outro ser vivo, o microrganismo, fica mais evidente a sua prevenção explicada através da Teoria Unicausal, porém, se são múltiplas as causas, consequentemente a prevenção terá várias direções. Portanto, a terminologia mais adequada para estudar e inferir sobre os diversos componentes envolvidos no complexo causal são os determinantes de saúde, os quais serão aprofundados na próxima aula. 1. Fatores de Risco e Causalidade Você acha que fator de risco é causa? Para responder essa questão você terá que compreender melhor outros conceitos relacionados ao processo causal. Nas investigações epidemiológicas procura-se estabelecer as relações causais, sendo que a causa pode ser suficiente ou necessária. Entende-se por causa suficiente quando na sua presença a doença sempre irá ocorrer, esses casos são raros e explicados apenas em anomalias genéticas (JEKEL; Unidade 4 • Multicausalidade82/201 KATZ; ELMORE, 2005). Todos os outros casos não se aplicam, pois, mesmo que as pessoas estejam expostasao risco, algumas não vão adoecer. Lembra-se da afirmativa anterior em relação ao hábito de fumar e o desenvolvimento do câncer de pulmão? Pode considerar, portanto, que o tabagismo não é causa suficiente para o desenvolvimento do câncer de pulmão, pois mesmo algumas pessoas fumam e não desenvolvem a doença. Outro conceito importante para o estudo é a causa necessária. Considera-se causa necessária quando se está presente para que a doença aconteça, ou seja, a doença somente irá existir na presença de um microrganismo, porém, a pessoa pode ter o microrganismo e não desenvolver a doença (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). Tome como exemplo a tuberculose. Acompanhe o raciocínio: para a pessoa desenvolver a tuberculose é necessário o contato com o Micobacterium tuberculosis, certo? Porém, nem todas as pessoas que entram em contato com o bacilo (exposição inicial) desenvolvem a doença, o microrganismo pode ficar latente durante anos e, até mesmo, pelo resto da vida da pessoa. Utilizando o mesmo exemplo da relação entre o tabagismo e o câncer de pulmão, pode-se afirmar que existem pessoas com câncer de pulmão que nunca fumaram, logo, o hábito de fumar não é causa necessária para o desenvolvimento do câncer (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). Percebe a necessidade do agente para Unidade 4 • Multicausalidade83/201 o desenvolvimento da doença para considerar a causa necessária? Agora que você já estudou o que é a causa, é hora de compreender o que é fator de risco. Para entender melhor o conceito, retomamos a outro que foi estudado na unidade anterior, o conceito de risco, sendo esse o grau de probabilidade de ocorrer um evento. Portanto, Fator de Risco é uma característica que está presente ou não, está relacionado com a chance de, ou seja, se o fator está presente existe o risco, ou melhor, a probabilidade de a doença acontecer (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). Pense na mesma relação tabagismo e câncer de pulmão. O tabagismo é um fator de risco para o câncer de pulmão, pois fumar aumenta cerca de 20 vezes mais a chance de uma pessoa desenvolver o câncer. Conclui-se então que o tabagismo é fator de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão, apesar de fumar não ser causa suficiente e nem necessária para o desenvolvimento da doença (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). Portanto, de posse desses conceitos já é possível responder à questão inicial, ou seja, fator de risco e causa têm conceitos e inferências diferentes. Para o início dos estudos em relação à causa e ao efeito é preciso se ter um requisito essencial, que é a associação entre o efeito que se está estudando com a causa presumível, ou seja, a associação causal. Importante saber que a causa presumível não pode ser considerada acaso Unidade 4 • Multicausalidade84/201 ou coincidência, para tanto ela deve ter associação estatisticamente significativa, e isso somente é possível com estudos epidemiológicos e testes estatísticos (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). Associação, portanto, é a relação entre a causa e o efeito, sendo essa uma medida estatisticamente testada. Existem ainda outros dois conceitos importantes a ser aprendidos: a associação causal direta e a indireta (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). Por associação causal direta entende- se que ocorre uma relação direta, ou seja, o fator exerce efeito sem fatores intermediários, por exemplo: se o indivíduo recebe uma paulada na cabeça (causa) e essa resulta em traumatismo crânioencefálico (efeito). Já na associação causal indireta o fator exerce efeito com interferência de outros fatores intermediários. Existem ainda associações que são meramente acaso ou coincidências, denominados, então, associação não causal, ou seja, a associação não provoca o efeito (JEKEL; KATZ; ELMORE, 2005). Veja na Figura 5 que o hábito de fumar tem associação causal, ou seja, associação estatisticamente significativa, para o desenvolvimento de bronquite crônica, assim como associação causal para se ter mancha amarela nos dedos. Porém a bronquite não tem relação causal com a presença de mancha nos dedos. Unidade 4 • Multicausalidade85/201 Figura 5 - Relação entre o hábito de fumar, bronquite crônica e mancha amarela nos dedos Fonte: Pereira (2006, p. 401). Essas investigações devem ser comprovadas com investigação estatística e teste de hipóteses sobre os fatores de risco, sendo que esses podem ter efeitos protetores, ou seja, quando ele está presente ele evita a doença. Ou podem ser fator de risco, quando a presença dele faz aumentar a probabilidade de adoecer. 2. Promoção da Saúde A promoção à saúde ganhou força como uma reação, principalmente dos países do primeiro mundo, como o Canadá e Estados Unidos, frente aos gastos excessivos com tratamentos Unidade 4 • Multicausalidade86/201 caros e a medicalização das pessoas nos sistemas de saúde (BUSS, 2009). Desde a década de 1970 se vem tentando definir a promoção à saúde por diversas frentes, quer sejam os técnicos da saúde quanto os outros atores sociais envolvidos no sistema de saúde. O movimento moderno de promoção da saúde surge no Canadá em 1974, em um documento oficial do Ministério da Saúde conhecido como Informe Lalond, o qual representou um marco histórico de referência para as políticas de saúde, principalmente nos países que enfrentam os custos crescentes decorrentes da assistência à saúde, além de questionar os resultados insatisfatórios para as doenças crônicas (BUSS, 2009). Para saber mais Informe Lalond foi um documento divulgado pelo então ministro da Saúde do Canadá. O texto intitulado “A new perspective on the health of canadians”. Era o primeiro documento oficial que utilizou o termo ‘promoção da saúde’. Foi construído utilizando os preceitos das atividades de educação em saúde já desenvolvidas pelo Governo Federal do Canadá. O documento tinha como fundamentos o componente da biologia humana, ambiente, estilo de vida e organização da assistência à saúde (BUSS, 2009). Como você estudou nas unidades anteriores, já se sabia que ações como sanear o ambiente melhoravam as Unidade 4 • Multicausalidade87/201 condições de vida das pessoas, assim como a imunização. Também já foi aprendido que na História Natural da Doença também se utilizou do conceito de promoção à saúde para as ações de prevenção no período pré-patogênese. A definição de Promoção à Saúde vem sendo construída ao longo do tempo desde os pressupostos do Informe Lalonde. Contribuiu para essa definição o estabelecimento de uma Diretoria de Promoção à Saúde junto ao Ministério da Saúde do Canadá, desenvolvendo ações com ênfase na mudança do estilo de vida; O grande marco da saúde pública mundial, a Conferência realizada em Alma Ata em 1978, a qual propõe a meta de ‘Saúde para todos no ano 2000’; e produção cooperativa entre o Canadá e a Organização Mundial de Saúde de conceitos e práticas. Esses movimentos culminaram com a realização da I Conferencia Internacional sobre Promoção à Saúde (BUSS, 2009). Para saber mais I Conferência Internacional sobre Promoção à Saúde, realizada em 1986 em Otawa/Canadá, contou com a participação de 38 países representados por pessoas interessadas na discussão referente à promoção à saúde (BUSS, 2009). Unidade 4 • Multicausalidade88/201 Durante esses dez anos o documento produzido na Conferência de Otawa apresentava alguns desafios a serem enfrentados para alcançar a saúde para todos, como: reduzir desigualdades; prevenção; e a capacidade de as pessoas enfrentarem seus problemas. Como estratégias de execução de enfrentamento desses desafios, o documento aponta o autocuidado, ajuda mútua e ambientes saudáveis. Através da participação da população, fortalecimento dos serviços de saúde e coordenação das políticas de saúde saudáveis (BUSS, 2009). Esse documento definiu a promoção à saúde como: “Processo e capacitação da comunidade para atuar na melhora da sua qualidade de
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