Buscar

Opinião, verdade e conhecimento: dos encontros nas praças gregas a cultura digital

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO 
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS 
HUMANAS – IFCH 
 
 
 
 
 
Camila Alves Branco Belini 
 
 
 
 
OPINIÃO, VERDADE E CONHECIMENTO: DOS 
ENCONTROS NAS PRAÇAS GREGAS À CULTURA 
DIGITAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Passo Fundo 
2020 
Camila Alves Branco Belini 
 
 
 
 
Opinião, verdade e conhecimento: dos encontros nas praças 
gregas à cultura digital 
 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao 
Curso de Filosofia, do Instituto de Filosofia e 
Ciências Humanas, da Universidade de Passo 
Fundo, como requisito parcial para a obtenção do 
grau de Licenciada em Filosofia, sob a orientação 
do Prof. Dr. Marcelo José Doro. 
 
 
 
 
 
 
 
Passo Fundo 
2020 
Camila Alves Branco Belini 
 
 
Opinião, verdade e conhecimento: dos encontros nas praças gregas à cultura digital 
 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao 
curso de Filosofia, do Instituto de Filosofia e 
Ciências Humanas da Universidade de Passo Fundo 
como requisito parcial para a obtenção do grau de 
Licenciada em Filosofia, sob orientação do Prof. Dr. 
Marcelo José Doro. 
 
 
 
 
 
 
 
Aprovada em ____ de ____________________ de ________. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
_____________________________________________ 
Prof. 
_____________________________________________ 
Prof. 
______________________________________________ 
Prof. 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente escrito tem como objetivo investigar o conceito de opinião na história da filosofia 
e o papel da opinião no contexto digital, dado que este espaço é de fácil acesso e muitas 
pessoas podem expor o que pensam. Quando uma opinião exposta nesses ambientes é 
questionada os internautas creem no direito de poder sentirem-se ofendidos. Mas porque 
questionar uma ideia é tão incomodo? Se uma crença é exposta todos que interagem, devem 
concordar? Ter uma opinião, nos torna autoridade no assunto? Uma ideia deve ser aceita em 
qualquer circunstância no ambiente digital? Qual a importância do saber filosófico em tempos 
cuja opinião é considerada sabedoria divina? Como a filosofia pode nos ajudar a chegar mais 
próximo do conhecimento? Para compreender o que é opinião devemos compreender também 
o que é conhecimento e como ele se constitui, visto que a opinião faz parte do conhecimento 
humano. Para realizar tal construção conceitual recorreu-se ao estudo dos clássicos da teoria 
do conhecimento tendo como principais referências os filósofos Platão e Immanuel Kant. A 
investigação acerca do conceito opinião, serve não só para compreender o que é opinar, mas 
também para compreender porque a opinião na sociedade contemporânea possui tanto valor. 
A partir do entendimento do conceito é que foi possível analisar e entender o porquê da opinião 
ser o sinônimo de verdade na sociedade contemporânea e no contexto digital que permeia a 
vida no século XXI. Definindo o que é opinião e compreendendo como se obtém o 
conhecimento a partir das ideias dos filósofos já citados, foi possível criar um elo entre a 
história da filosofia, os fenômenos dos pós-verdade e da cultura digital, para esclarecer o 
período de pós-verdade recorreu-se a artigos científicos e uso de imagens. Para trabalhar a 
questão da informação e verdade na cultura digital, recorreu-se aos estudos do filósofo 
sociólogo Byung-Chun Han, devido sua atualidade e conexão com a temática proposta. A 
investigação foi impulsionada desde o início pelo interesse e curiosidade em relação ao tema, 
nascidos da observação de discussões sobre temas polêmicos nas redes sociais. O método 
utilizado para a condução da pesquisa foi o bibliográfico, com orientação hermenêutica, pois 
a definição de cada conceito foi importante para construir o raciocínio que analisaria a opinião 
no contexto digital da pós-verdade. 
Palavras-chave: Opinião, Pós-verdade, Conhecimento, Globalização, Cultura digital, 
Conhecimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 6 
2 . A OPINIÃO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA ............................................................... 9 
2.1 OS SOFISTAS E O CONHECIMENTO ........................................................................ 9 
2.2 CONHECIMENTO E OPINIÃO AOS OLHOS DE PLATÃO ................................. 10 
2.3 A VERDADE E A OPINIÃO Á LUZ DE KANT ..................................................... 15 
3. PÓS-VERDADE E OPINIÃO ......................................................................................... 21 
3.1 OPINIÃO E PÓS-VERDADE ..................................................................................... 20 
3.2 CONHECIMENTO E OPINIÃO NA ERA DIGITAL ................................................. 25 
4. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 29 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 30 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho monográfico surgiu de uma ação que faz parte do cotidiano de muitas 
pessoas: navegar na internet. A partir do contato com um grupo que discutia o aborto, 
percebeu-se que as pessoas brigavam para afirmar seus conhecimentos, tornando-se 
agressivas ao ter uma ideia que foi exposta, questionada e até mesmo refutada. Não é de hoje 
que os debates acontecem nos diversos cenários da sociedade e algumas discordâncias sempre 
geram confrontos. Entretanto, os confrontos da internet são extremamente violentos, 
verbalmente, isso por que as pessoas não gostam quando suas posições são questionadas ou 
contrariadas. Perguntar ou argumentar contra uma crença na internet muitas vezes é algo 
ofensivo para quem expôs uma ideia. Justamente por isso o problema do referente trabalho se 
voltará a questão da opinião, sobre o que as pessoas que usam internet definem como opinião 
e porquê é um problema ter a opinião questionada, dado que a opinião nesse contexto é 
sinônimo de verdade. 
Mas se a opinião não é verdade, o que é verdade? Opinião e conhecimento são a 
mesma coisa? Como definir o conhecimento se a opinião também é um saber? Por que uma 
opinião não pode ser tomada como verdade? Quais os critérios que estabelecem uma ideia 
como verdadeira? E justamente para dar conta de todas essas questões é que se faz neste 
trabalho, uma viagem pela história da filosofia. Para isso a pesquisa está dividida em dois 
capítulos, o primeiro capítulo busca fazer um percurso histórico acerca dos conceitos: opinião, 
verdade e conhecimento. O primeiro capítulo dará conta de explanar brevemente a ideia de 
verdade na concepção dos sofistas Górgias e Protágoras, afim de contextualizar uma ideia 
oposta de verdade diante dos pensamentos filosóficos de Platão. 
Não podendo visitar todos os filósofos da tradição que já pensaram nas teorias do 
conhecimento, tomaremos as ideias de Platão afim de compreender a opinião como um saber 
imediato aos estímulos do mundo sensível, não podendo ser uma verdade por não pertencer a 
classe dos saberes absolutos, universais e imutáveis. As obras utilizadas para tal compreensão 
são A república e Teetteto, bem como alguns artigos científicos de comentadores que 
facilitarão a compreensão das ideias em questão. Posteriormente, recorreremos a um estudo 
do filósofo Immanuel Kant, que pensou o conhecimento em uma época onde o empirismo e o 
racionalismo ganharam espaço na filosofia, tendo como referência a Crítica da razão pura. 
As ideias que Kant desenvolve acerca da definição do que é conhecimento e a luz 
que nos traz acerca do que podemos definir como opinião, ainda é atual, pois esta é definida 
como um saber insuficiente para ser universalizado, ou seja, para ser acolhido desde uma 
7 
 
perspectiva racional; porém, no entender de Kant, o sujeito que opinacompreende que aquela 
ideia faz parte de sua subjetividade e não é um saber suficiente e objetivamente válido para 
ser determinado como conhecimento. Kant também aborda a questão de fé, um conceito 
essencial para compreendermos o papel da opinião na era da pós-verdade, que é regida pelas 
emoções e que é um saber insuficiente para razão, sendo suficiente apenas para o próprio 
sujeito, tornando-se então uma questão de fé. A diferença entre uma opinião e de fé diante 
dela, é que o sujeito que opina reconhece a fragilidade desse pensamento e o sujeito que tem 
fé na própria opinião não reconhece. 
No último capítulo, abordaremos a questão da opinião no contexto de pós-verdade, 
sendo a opinião entendida nesse meio como um sinônimo de verdade, pois é cunhada a partir 
de emoções e as emoções são a ferramenta de manutenção da verdade na era digital. Para 
explorar a pós-verdade recorremos a artigos científicos e o uso de um meme1 disponível na 
internet. No último tópico do segundo capítulo, será colocado em pauta a questão das 
informações e sua conexão com o conceito de verdade, para isso, utilizaremos dos conceitos 
e estudos do filósofo Byung-Chul Han, que tem como foco do ensaio filosófico No enxame: 
perspectivas do digital e a obra Sociedade da transparência, onde tenta entender o 
comportamento humano diante do excesso de informação e falta da verdade, ou relativização 
do conceito. 
Diante deste quadro, o objetivo deste trabalho é elucidar alguns aspectos que tornam 
a opinião um sinônimo de verdade e ajudar a compreender o papel do excesso de informações 
na constituição do conhecimento da sociedade contemporânea, visto que antes de todos 
poderem se informar e alcançar uma verdade, o percurso era muito mais criterioso e efetivo. 
Espera-se, por fim, que este estudo possa auxiliar o leitor a entender o porquê da opinião ser 
sinônimo de verdade e que conhecimentos é que podem ser considerados verdadeiros ou não. 
 
1 São imagens humoradas encontradas nas redes sociais para ironizar situações ou apenas divertir seguidores a 
partir do humor feito das situações cotidianas. 
8 
 
2 A OPINIÃO NA HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
 
 Na impossibilidade de se fazer uma investigação completa sobre o que cada filósofo 
teorizou sobre a opinião, concentraremos a análise em alguns poucos momentos e pensadores. 
Iniciamos considerando a posição dos Sofistas em relação ao conhecimento, considerando 
este como maleável diante de quem conhece essa explanação será feita como forma de 
apresentação da contraposição de Platão, para quem o conhecimento, diferente da opinião, 
encontra-se no domínio das coisas absolutas, não relativas; por fim, nos voltamos ao 
pensamento de Immanuel Kant e sua distinção entre opinião, fé e ciência (conhecimento), 
visando mostrar como suas ideias se aproximam e aprofundam as teorias de Platão. 
 
2.1 Os sofistas e o conhecimento 
 
Quando perguntamos a alguém o que esse alguém define como opinião, as respostas 
que obtemos são parecidas com: “opinião é um comentário”, “a opinião é um conhecimento 
sem embasamento científico” ou obtemos respostas como: “opinião é o que todos pensam 
sobre algum assunto”. E é exatamente essa concepção que envolve o pensamento comum que 
os gregos nominavam de doxa, ou seja, opinião. A discussão desse conceito ganhou relevância 
a partir do embate dos filósofos com os sofistas. Por isso, convém contextualizar brevemente 
suas posições. 
Os filósofos da Grécia repudiavam os sofistas justamente pelo fato de eles venderem 
o conhecimento e na mais pesada das acusações, feita por Platão, os Sofistas falsificavam o 
saber filosófico. Para os filósofos, especialmente os discípulos de Sócrates, o Saber era algo 
que deveria partir da alma, o saber deveria ser efetivo, refletido e concreto. Quando falamos 
de saberes da alma falamos de episteme. Por isso, o conhecimento verdadeiro não podia ser 
uma mercadoria, mas deveria ser adquirido através do aprimoramento das virtudes. O saber 
que era vendido pelos sofistas geralmente recusava critérios de verdade sobre determinado 
assunto, e a recusa desses critérios não constituía o conhecimento verdadeiro. Para o sofista 
Górgias (485-380 a.C), por exemplo, um critério que estabelecesse a verdade não era possível, 
pois para algo existir deveria ser e não era o que acontecia com esse objeto, assim sustentava-
se um nihilismo epistemológico. Enquanto a teoria de outro sofista, Protágoras (490-415 a.C.), 
pautava-se em um relativismo epistemológico. (HOBBUS, 2014, p.75-82) 
O nihilismo epistemológico de Górgias sustenta que para algo existir deve Ser. O não 
Ser não existe pois para que existisse ele deveria ser eterno ou imaginado; já o Ser, diz 
9 
 
Górgias, é eterno, no sentido de que sempre esteve ali, não tendo sido gerado por nada ou 
ninguém, então ele é também ilimitado, pois não está em parte nenhuma, uma vez que caso 
estivesse em alguma parte que não é onde deveria estar, se limitaria e não seria eterno. Sendo 
eterno é ilimitado, o não Ser não está em parte alguma, logo não existe. E como este não 
existe, não pode ser criado, pois para ser criado deveria provir do Ser e originando-se daí seria 
limitado e originando-se do Não-ser, seria impossível justamente pelo fato de não ser, pois o 
não ser não existe. Logo, o Ser também não existe, pois não é eterno, não é imaginado, nem 
há de ser os dois ao mesmo tempo, por isso nada existe. E se existisse não caberia ao homem 
conceber essa existência pois o Ser não pode ser objeto de pensamento. As ideias de Górgias 
negam a existência do Ser e assim fazendo impossibilitam que exista um critério de verdade 
(HOBBUS, 2014 p.82). 
Um dos sofistas que fora muito procurado pelos gregos, na época em que viveu, era 
Protágoras. Parte das teses de Protágoras se contrapunham às de Platão, porque, enquanto para 
este o conhecimento era imutável, para aquele, o homem era compreendido como a medida 
de todas as coisas e sendo o homem a medida de todas as coisas, o conhecimento poderia ser 
relativo. Isto é, o mundo se mostra de uma forma para mim, enquanto o outro compreende as 
ideias de forma diferente, sendo assim, cada homem pode interpretar o que se apresenta de 
acordo com sua subjetividade e a partir da interpretação e exposição desse conhecimento 
relativo, se formam as opiniões. Por exemplo: um cidadão comum, sem o conhecimento de 
física, ou ao menos sem a mínima noção do que é o sistema solar, pode ver e compreender o 
sol como um corpo amarelo e quente, algo que aparece durante o dia e apenas quando o tempo 
não está nublado, enquanto um físico pode compreender o sol como uma estrela, que tem 
determinada distância da terra e uma matéria responsável pelo mantimento da vida humana e 
que ainda influencia o planeta terra, mesmo o dia estando nublado. A visão do físico e do 
homem comum em referência ao sol é uma visão completamente relativa, pois cada um vê o 
sol da maneira como este se apresenta para si a partir da base conceitual que dispõe, e assim 
cada um cria um juízo acerca do que se compreende e vê por sol. 
Outro aspecto importante da argumentação de Protágoras sobre a definição do homem 
como medida de todas as coisas é que devido ao fato de o mundo se apresentar a cada homem 
de uma determinada maneira, possibilitando interpretações diferentes acerca do que se 
apresentou, não seria possível estabelecer um critério de verdade e voltando ao exemplo do 
físico e do homem comum, pode-se perceber que devido ao conhecimento mais amplo do 
físico e limitado do homem a verdade sobre a definição do sol é distinta, pois o físico não 
utiliza os mesmo critérios para estabelecer determinado objeto e por isso pode-se concluir que 
10 
 
o homem torna-se o critério dos seres (HOBBUS, 2014, p. 75). Para Protágoras o homem é a 
medida de todas as coisas e a verdade há de ser relativa, mas para seuopositor Platão, a 
verdade provém da alma e é imutável. 
 
Logo, a tese do homem-medida [de todas as coisas], funda, como vimos, o 
relativismo epistemológico, porque as coisas são apenas na medida em que são para 
mim. Por conseguinte, a aparência de cada objeto diferirá a partir do modo em que 
este aparecerá para cada um. Conforme Aristóteles, que uma coisa é e não é, é bem 
e mal, é bonita e feia, o mesmo valendo para todas as proposições que afirmam 
coisas contrárias, pois a medida é o que aparece para cada um [...] (HOBBUS, 2014. 
p. 77) 
 
2.2 Conhecimento e opinião aos olhos de Platão 
 
Para figurar sua ideia de verdade, Platão desenvolve o mito da caverna no livro VII da 
República (PLATÃO, 2001, p.315-319). Ali vemos Sócrates propor à Glauco que suponha 
que em uma habitação subterrânea, como uma caverna, haja homens acorrentados desde sua 
infância de maneira que estas correntes lhes prendem o pescoço, os braços e as pernas, 
impossibilitando qualquer movimento que não seja olhar fixamente para o muro desta gruta. 
Para iluminar os homens que encontram-se imóveis, há por trás e distante deles uma 
fogueira, e por perto da fogueira passam homens livres que transportam todas as espécies de 
objetos desde estátuas com formas de animais ou até mesmo no formato de pessoas. Estes 
acorrentados nunca viram nada além de si mesmos e das sombras que são criadas a partir das 
imagens que passam por perto da fogueira e reflete as formas no muro. 
O filósofo então discorre com Glauco sobre o que poderiam estes homens pensar das 
imagens que viam; o que pensariam se pudessem também ouvir o eco que vinha de dentro da 
caverna, não julgariam eles que aquele era o som das sombras que se apresentavam na parede? 
Sócrates conclui que aquela era a visão do mundo que aqueles homens tinham e que aquela 
era sua realidade, posteriormente pergunta a Glauco o que aconteceria se aqueles mesmos 
homens se libertassem tanto de suas amarras quanto de sua ignorância; será que conseguiriam 
descrever com precisão o mundo real, sem questionar o porquê aquilo era o que estavam 
vendo, ou mesmo sem questionar o que estavam vendo, já que a visão das sombras moldou o 
modo de perceber o mundo daqueles prisioneiros? 
Mas há ainda o fato de que, ao sair da caverna estes prisioneiros seriam arrastados e 
obrigados a seguir um caminho rude que os levaria até a luz do sol, a mesma luz poderia os 
cegar, até a adaptação; assim, saindo da caverna e vendo o mundo tal como ele é, seria o 
11 
 
prisioneiro capaz de contemplá-lo em todas as suas reais formas? Seria preferível esse 
sofrimento todo ou o conforto de já compreender o mundo das sombras em que se encontram? 
Ao sair da caverna um dos prisioneiros conhece o mundo tal como ele é, depois de um 
tempo adaptando-se a essa realidade, compreende as sombras que eram refletidas, compreende 
o sol, além do seu reflexo na água, compreende o mundo e sua mecânica, relembra os tempos 
da caverna, reconhece as limitações encontradas naquela realidade e volta para buscar seus 
companheiros. Entretanto, o que acontece ao contar para os outros prisioneiros a verdade que 
lhe foi possibilitada fora da caverna é que esta é recusada, o prisioneiro que viu o mundo é 
zombado pelos demais, pois estes acreditam que a vista da parede e a projeção da fogueira são 
a única verdade possível. (PLATÃO,2001, p.319) 
E é a partir desta alegoria que Platão fundamenta suas ideias acerca do mundo 
inteligível e sensível. O mundo inteligível é o mundo onde as formas são verdadeiras e essas 
formas se apresentam ao mundo sensível como cópia das ideias perfeitas encontradas no 
mundo inteligível. Quando o prisioneiro saiu da caverna e pôde ver o mundo tal como ele é, 
poderíamos dizer que ele viu o mundo inteligível, ou seja, viu os objetos na sua forma real, 
não aumentados ou distorcidos pela forma que ganhavam na sombra. 
Quando esses objetos mudavam sua forma, estariam eles indo para o mundo sensível 
que era representado pela caverna, de maneira que tornavam-se as cópias imperfeitas do 
inteligível, sendo ele simbolizado pelo mundo fora da caverna. A questão que se pretende 
abordar com a alegoria é a sua conexão com o conhecimento verdadeiro. 
O conhecimento é concebido, na República, como algo proveniente da alma. E a alma 
é compreendida como um segmento do mundo inteligível ao qual Platão se refere. Por isso, o 
conhecimento não poderia ser relativo, como tentavam convencer os sofistas, porque se assim 
fosse, seria apenas opiniões; as opiniões são passíveis de mudanças e o que é passível de 
mudança, assim como a reprodução da imagem de um objeto distorcido pela luz da fogueira 
no muro, não está no mundo inteligível onde a ideia é perfeita ou seja, verdadeira. 
Na República, a partir da distinção que Platão estabelece entre o conhecimento 
verdadeiro (episteme) e a opinião (doxa) e a partir da constatação de que o conhecimento 
verdadeiro tem como objeto o Ser, surge a dúvida: a opinião, então, faria parte do não-Ser? 
Cabe aqui esclarecer que o não-Ser é interpretado, em um primeiro momento, como algo 
inexistente, por isso o questionamento que sucede o diálogo reflete sobre a certeza de que uma 
opinião a respeito do que não existe é impossível e por isso as opiniões são sempre formadas 
apenas em relação ao que existe. (PLATÃO, 2001, p. 259-260) 
12 
 
 A opinião parece mais obscura que a ciência e mais clara que a ignorância? A partir 
dessa indagação, a opinião é entendida como um termo intermediário entre o Ser e o Não-Ser, 
ou seja, algo intermediário entre o conhecimento e a ignorância. (PLATÃO,2001, p.261). Mas 
afinal o que é esse meio termo entre conhecimento e ignorância? O que constitui o Ser e o 
Não-Ser? Qual o objeto da opinião? 
Platão usa como exemplo a reflexão sobre a concepção de beleza e justiça, estas 
concepções são pautadas na ideia de que apesar de haver muitas coisas belas, o homem 
reconhece que há um belo absoluto, assim como as ações, algumas podem parecer justas e 
outras injustas (PLATÃO, 2001, p. 261). A opinião se enquadra na realidade das coisas que 
podem ser de várias formas, uma opinião se forma e a partir de outras experiências ela muda, 
justamente por essa possiblidade de mudança que ela se encontra em um grau intermediário 
do pensamento, ou seja, entre o conhecimento verdadeiro (episteme), pois surge daquilo que 
é visível e possível e é ignorante enquanto implica em criar juízos naquilo que não se sabe. 
 
Descobrimos, portanto, ao que parece, que as múltiplas noções da multidão acerca 
da beleza e das restantes coisas que andam a rolar entre o Não-Ser e o Ser absoluto. 
– Descobrimos. –Mas assentamos previamente em que, se uma coisa destas nos 
aparecesse, teríamos de considerar o domínio da opinião e não da ciência, pois, 
como objecto errante no espaço intermédio, é apreendida pela potência 
intermediária. –Assentámos. – Por conseguinte, dos que contemplam a 
multiplicidade de coisas belas, sem ver a beleza em si, nem serem capazes de seguir 
outra pessoa que os conduza até junto dela, e sem verem a justiça, e tudo da mesma 
maneira- desses, diremos que tem opinião sobre tudo, mas não conhecem nada 
daquilo sobre que as emitem. (PLATÃO, 2001, p. 263) 
 
Na obra Teeteto, escrita depois de A república, Platão busca expor por meio dos 
diálogos de Sócrates, uma teoria sobre o que podemos definir como conhecimento, vale 
lembrar que nessa época, o filósofo já havia atingindo uma maturidade intelectual que não se 
apegava somente na teoria da perfeição explanada anteriormente. 
No diálogo, Teeteto, um jovem estudante de matemática e geometria, é interrogado 
por Sócrates, que quer saber: O que é o conhecimento? No primeiro momento da conversa 
com Teeteto, Sócrates questiona o adolescente sobre a sabedoria. A pergunta que faz Sócrates 
é: aprender não significa tornar-se sábio a respeito do que se aprende? Teeteto questiona: 
como não nos tornamossábios a respeito do que aprendemos? O filósofo por sua vez, afirma 
que é através da sabedoria que os sábios se tornam sábios (PLATÃO, 1973, p.22-23). Teeteto 
concorda com tal declaração e a partir de tal concordância entre as ideias, Sócrates apresenta 
a próxima questão: sabedoria difere do conhecimento? 
13 
 
A partir da indagação de Sócrates, Teeteto define o conhecimento como tudo aquilo 
que se aprende, desde a Geometria, Astronomia, as ciências, até a arte, como menciona 
Teeteto, dos sapateiros ou dos artesãos (PLATÃO, 1973, p.25). Sócrates justifica a resposta 
de Teeteto interpretando-a da seguinte maneira: Teeteto define o conhecimento como algo 
particular e o questiona, dizendo que a pergunta era mais precisa, não se referia a quantos 
conhecimentos existiam, retomando o exemplo da arte de ser sapateiro, mas muito mais 
profundo que isso, a pergunta referia-se ao que é o conhecimento em si mesmo (Teeteto, 
146e). Sócrates conduz o debate com Teeteto afim de auxiliar o jovem a aprender que o 
conhecimento não se refere aquilo que se faz ou o quanto se conhece, ou seja, tenta descontruir 
a ideia que Teeteto tem de o conhecimento ser algo somente subjetivo. 
A obra apresenta três diferentes concepções sobre o que se entende por conhecimento. 
A primeira concepção é a equivalente a tese de Protágoras, que define o homem como medida 
de todas as coisas (ZENI, 2016, p. 15), ou seja, o conhecimento como algo subjetivo, 
explorado na primeira parte da obra, o argumento se constrói a partir da seguinte afirmação: 
sendo o homem a medida de todas as coisas, pode-se entender que a verdade absoluta está no 
homem. 
A segunda concepção de conhecimento é inspirada na tese de Heráclito, que defende 
a mudança constante, sendo que o conhecimento mudaria de acordo com a experiência 
(PLATÃO, 1973, p.38). As duas teses são refutadas durante o diálogo. Sócrates e Teeteto 
chegam ao entendimento na terceira tese. Essa consiste na compreensão do conhecimento 
como a relação dos sentidos no mundo sensível, ou seja, o que se percebe é o que se conhece. 
Entretanto, o filósofo deve saber distinguir percepção e pensamento, pois estes podem 
confundir a realidade (PLATÃO, 1973, p. 76). Entretanto, nessa passagem do diálogo, 
Teeteto e Sócrates ainda não definem o que é de fato, conhecimento. Essa definição é 
encontrada no fim do diálogo, onde ambos concluem que a opinião é uma crença que pode ser 
justificada enquanto o conhecimento se define como uma explicação racional do mundo 
(PLATÃO, 1973, p. 112). 
O filósofo deixa claro que não é nas percepções que reside o conhecimento, mas sim 
no raciocínio a respeito do que se percebe; entende o raciocínio como o único caminho para 
atingir a verdade essencial das coisas (PLATÃO, 1973, p.80). 
Sócrates define dois tipos de opinião, as opiniões verdadeiras e as opiniões falsas 
(PLATÃO, 1973, p.81). O filósofo argumenta que com todas as coisas particulares a que 
temos percepções temos a alternativa de saber ou não saber. Quando apresentamos nossa 
opinião, evidenciamos nela o que sabemos ou não. Quando Sócrates refere-se a uma opinião 
14 
 
falsa, concerne que essa opinião surge das coisas que o indivíduo sabe, mas não pelas coisas 
que elas são em si, mas com embasamento em outras coisas que se sabe e que conhecendo 
ambas ignora as duas (PLATÃO, 1973, p.82). A opinião falsa pode ser assumida como a 
expressão do pensamento daquilo que não se sabe, mas que parece ser, formamos a opinião 
falsa a partir da confusão dos sentidos com o raciocínio. Uma opinião falsa deriva da 
afirmação de que o sentido é o pensamento (PLATÃO, 1973, p. 84) 
Mas se o que percebemos e confundimos com o raciocínio é uma opinião falsa, como 
Sócrates justifica a opinião verdadeira? Sócrates como um bom questionador, pergunta a 
Teeteto se o jovem acredita que haja juízos perfeitos capazes de tentar convencer alguém de 
que um boi é um cavalo (PLATÃO, 1973, p.86). Ao olhar de um pensador do século XXI esta 
parece ser uma pergunta delirante, entretanto no debate dos pensadores gregos, Sócrates 
utiliza essa indagação para conduzir Teeteto a compreender que o julgamento é um discurso 
para si, que é impossível falar desses objetos e imaginá-los, ou pensá-los como um sendo o 
outro e que quem pensa neles, jamais tomará um como o outro (PLATÃO, 1973, p.86). 
Para concluir a definição sobre o conceito, consideraremos que a opinião se definiu de 
diversas formas para os pensadores da filosofia antiga. Ela foi entendida como um saber para 
os sofistas, pois remete aquilo que está a nosso alcance, ou seja, sentimos, logo sabemos. E 
enquanto para os sofistas a opinião podia ser assim definida, para os filósofos ela não poderia 
se caracterizar como conhecimento, pois o conhecimento é pautado na racionalidade, 
sobrevive a refutações e expressa muito mais que meros sentimentos. 
Embora na Republica de Platão tudo que sabemos é errado, pois o mundo inteligível 
se difere em todos os aspectos do mundo sensível e somente o que é inteligível pode ser algo 
verdadeiro, a teoria do mundo das ideias passou a abranger somente o estudo da metafísica 
conforme a intelectualidade de Platão foi amadurecendo. Ou seja, no Teeteto podemos 
perceber uma flexibilidade do filósofo ao definir os conceitos, isso porque, nessa fase da sua 
vida, Platão já compreendia que a opinião se referia a questões imediatas do mundo sensível, 
não pertencendo a categoria da ciência por não usufruir de uma racionalidade que pudesse 
estabelecer um sentido imediato como conhecimento. 
O conhecimento pode ser definido como um saber que passa pelo crivo da razão e pode 
ser universalmente válido, nesse momento da história, vale ressaltar que a ciência ainda está 
ligada a concepção metafísica de Platão, ou seja, se refere aquilo que é absoluto e invariável. 
Por isso a opinião não pode ser um conhecimento, pois além de ser um juízo imediato acerca 
do sentido, ela está sujeita a mudanças por não expressar juízos racionalmente construídos e 
15 
 
quando uma opinião for capaz de expressar racionalidade, ela se converterá em ciência, 
deixando de ser uma mera opinião. 
 
1.1 A verdade e a opinião à luz de Kant 
 
 A história da filosofia é rica em reflexões acerca da origem e do processo do 
conhecimento. A filosofia de Platão é fundamental para uma compreensão do pensamento que 
lança as bases da filosofia ocidental a partir da antiguidade clássica. Kant ocupa posição 
semelhante na história do pensamento moderno. Quer seja para continuá-lo, quer seja para 
uma releitura crítica, a compreensão do pensamento kantiano no campo da teoria do 
conhecimento se mostra indispensável. 
 O filósofo Imannuel Kant apresenta sua teoria do conhecimento pautada na influência 
que a sensibilidade tem sobre a racionalidade ou vice-versa, isto é, para Kant não é possível o 
conhecimento sem a sensibilidade, mas também não é possível conhecer sem a razão e 
seguindo esse raciocínio podemos questionar: será que para Kant a opinião pode ser 
verdadeira? Será que a opinião pode ser classificada como um conhecimento, visto que a 
opinião não passa pelo crivo da razão quando construída? 
O pensamento lógico é entendido como uma faculdade da razão e é compreendido por 
Kant como um pensamento seguro, pois a lógica ocupa-se somente da razão e reconhece seus 
limites. A lógica é uma ciência perfeita, pois seus limites se encontram rigorosamente 
determinados; essa ciência demonstra as regras formais de todo o pensamento (KANT, 1994 
p.16) isso quer dizer que todo pensamento seguro deve possuir não só limites, mas também 
uma estrutura que o torne seguro e uma universalidade que o concretize, caracterizando esse 
pensamento como verdade. 
 
Se, porém, todo conhecimento se inicia com a experiência, isso não prova que todo 
ele derive da experiência. Pois bem poderia o nosso próprio conhecimento por 
experiência ser um composto do que recebemosatravés das impressões sensíveis e 
daquilo que nossa própria capacidade de conhecer (apenas posta em acção por 
impressões sensíveis) produz por si mesma, acréscimo esse que não distinguimos 
dessa matéria-prima, enquanto a nossa atenção não despertar por um longo exercício 
que nos torne aptos a separá-los. Há pois pelo menos, uma questão que carece de 
um estudo mais atento e que não se resolve à primeira vista; vem a ser esta: Se 
haverá um conhecimento assim, independente da experiência e de todas as 
impressões dos sentidos. Denomina-se a priori esse conhecimento e distingue-se do 
empírico, cuja origem é a posteriori, ou seja, na experiência. (KANT, 1994. p.37) 
 
 A noção de conhecimento do senso comum é, em geral, realista e dogmática. Na maior 
parte das vezes, sem muito questionar, acredita-se que nossa forma de conhecer permite uma 
16 
 
descrição das coisas tal como elas realmente são. Nossa história, no entanto, nos oferece 
situações e eventos que colocam em xeque uma crença dessa natureza. Uma simples ilusão de 
ótica pode ser tida como exemplo, podendo demonstrar esse fato. Seria possível refletir sobre 
o conhecimento sem um sujeito que fosse capaz de conhecer? Evidente que não e, por isso, 
pode-se dizer que o centro do processo de conhecimento é o sujeito e não o objeto. 
Entretanto, há a ideia de que não poderia haver conhecimento sem os dados fornecidos 
pela experiência, mas que é preciso um trabalho do sujeito para organizar esses dados, pois 
somente eles não são capazes de findar um conhecimento. Kant acredita que as formas da 
sensibilidade e do entendimento darão ao homem as possibilidades de experiência e 
determinarão, por conseguinte, o conhecimento. 
 
Embora todo o nosso conhecimento tenha início na experiência, não significa que 
todo ele provenha daí. Certamente que há conhecimentos hauridos na experiência, 
que se traduzem em juízos sintéticos, em que o predicado se acrescenta ao sujeito, 
enriquecendo-o, tendo como base desse enriquecimento e experiência; juízos 
válidos, portanto unicamente nos domínios desta e apenas particulares e 
contingentes. Ao lado destes, ao jeito tradicional, apresenta Kant os juízos 
analíticos, em que o predicado não é mais do que uma nota extraída por análise da 
própria noção do sujeito desse modo explicitada. Grande parte da atividade da nossa 
razão, consiste precisamente nesse trabalho de análise dos conceitos que já 
possuímos das coisas. Com estes juízos, explicita-se o já implicitamente sabido, mas 
não se criam conhecimentos novos. São, contudo, a priori. Mas um saber autêntico 
não se pode procurar neste tipo de juízos. O a priori que se busca diz respeito a 
estrutura do sujeito, a qual torna possível a experiência. Esta contribui para o 
conhecimento através dos sentidos, que nos fornecem impressões. Faltando estas, a 
faculdade de conhecer não tem matéria. Ordinariamente o conhecimento é assim 
constituído pela matéria e pela elaboração que esta sofre graças a estrutura do 
sujeito. (MORUJÂO, 1994, p XII) 
 
A filosofia crítica de Kant tem como objetivo maior criticar a própria razão, ou seja, 
averiguar como em um tribunal quais as exigências destas e eliminar as pretensões sem 
fundamento, ou no caso as opiniões, visto que essas fundamentações não passam de ideias 
não alicerçadas em referencias concretas a não ser no próprio sujeito. Mas como podemos 
afirmar que o sujeito não pode ser uma referência concreta se é este que vive, percebe e cria a 
concepção acerca da realidade? 
Ressalta-se que o objeto de estudo da Crítica da Razão Pura é a metafísica (embora 
não em sentido tradicional), e pensando por esse caminho, poderíamos afirmar que a opinião 
é um objeto metafísico? Para tal investigação Kant afirma que trata-se de encontrar e criticar 
como é possível o conhecimento, se ele depende somente da razão, do entendimento e quais 
os limites para se conhecer, buscando responder a pergunta sobre a possibilidade de um 
17 
 
conhecimento a priori, ou seja, um conhecimento que antecede a experiência (MORUJÃO, 
1994, p X). 
Para o filósofo a natureza não está dada ao homem como um livro que pode ser aberto 
para mostrar ao leitor as respostas que almejam, mas há um processo que torna possível 
interrogar a natureza e força-la à uma resposta, esse meio é o que determinará um caminho 
seguro para a ciência, logo para o conhecimento, pois é a partir daí que ele provém. Outro 
destaque que se tem frente ao processo do conhecimento é o rigor com que fazemos ciência. 
Esse rigor nos impede de conclusões precipitadas acerca dos fenômenos e é o que possibilita 
a interrogação da natureza proposta por Kant. 
Os conceitos que os homens criam diante da experiência, geralmente são tidos como 
verdades. Entretanto, quando estabelecemos uma verdade somente a partir da sensibilidade, 
não estamos forçando uma resposta acerca do que realmente podemos saber, mas adequando 
o saber ao intelecto, e por essa adequação encontramos uma das duas formas com que 
podemos definir o conceito de opinião para Kant. 
 
A verdade como adequequatio rei et intellectus põe em jogo dois sentidos de 
intellectus e, assim duas interpretações de adequatio: adequação da coisa ao 
intelecto, significando que a coisa há de conformar à ideia do intelecto divino; a 
coisa foi criada por Deus conforme a uma ideia. Pelo contrário, falar da adequação 
do intelecto à coisa supõe o intelecto humano segundo o plano divino da criação. 
Simplesmente, embora continue a manter-se esta definição de verdade, deixa de ter 
vigência a consideração do intelecto divino. (MORUJÃO, 1994, p.XI) 
 
A estrutura do sujeito é o que torna a experiência possível. Somos nós transcendentais 
por possuir a capacidade de entendimento e a partir disso elaborar métodos seguros que nos 
levam a verdade? Na investigação sobre a estética transcendental proposta por Kant, o sujeito 
é o objeto de estudo, pois ele se encontra numa conjuntura de espaço e tempo e é a partir da 
inserção do homem nesse contexto que é possível o conhecimento. 
Conhecer implica também em criar juízos acerca da realidade. A partir da 
possibilidade de criação de juízos é que podemos conhecer ou opinar sobre o que vivenciamos. 
Opinar sobre as vivências significa que temos a possibilidade de proferir nossas experiências 
diante do que conhecemos, sendo a criação da opinião uma porta de entrada para a busca do 
entendimento. 
Para Kant, a opinião também faz parte do saber, porém esse saber é insuficientemente 
justificado e o sujeito possui consciência de que esta crença não pode ser sustentada 
subjetivamente ou objetivamente. O primeiro esclarecimento que faremos acerca dos 
conceitos propostos por Kant, para compreender o papel da opinião no entendimento humano 
18 
 
é o da crença. Isso porquê, o filósofo define a crença como um fato do entendimento que pode 
repousar sobre princípios objetivos ou subjetivos do espirito que o julga (KANT, 1994, p. 
649). É importante definir o que é crença, pois é a partir daquilo que acreditamos ou não que 
formamos nossos juízos acerca da realidade e, para Kant, a crença é tudo aquilo que 
consideramos verdadeiro. Kant define que a crença, quando é válida para todos que são 
dotados de razão e é objetivamente suficiente, chama-se “convicção” e quando o princípio 
dessa crença é particular do sujeito, sua designação concerne a “persuasão”. E é na persuasão 
que reside a opinião. 
A convicção faz parte da ciência, pois ela é suficiente em todos os aspectos, ou seja, 
ela faz parte da ciência. A ciência para Kant é um saber que vale para todos os sujeitos pois é 
justificado racionalmente e está de acordo com todos os pensamentos que irá dialogar. O 
conhecimento é assim definido, pois passa intacto pelos processos de refutação e mantém sua 
validade universal diante da pluralidade dos julgamentos. 
 
Mas a verdade repousa na concordância com o objecto, e, por conseguinte, em 
relação a esse objeto,os juízos de todos os entendimentos devem encontrar-se de 
acordo (consentientia uni tertio, consentiunt inter se). A pedra de toque para decidir 
se a crença é convicção ou simples persuasão, será, portanto externamente, a 
possibilidade de a comunicar e de encontrar válida para razão de todo homem, 
porque então é pelo menos presumir que a concordância de todos os juízos, apesar 
da diversidade dos sujeitos, repousará sobre um princípio comum, a saber, o objeto 
com o qual, por conseguinte, todos os sujeitos concordarão e desse modo será 
demonstrada a verdade do juízo (KANT, 1994, p.649). 
 
 Enquanto a convicção diz respeito ao saber verdadeiro, a persuasão interessa a opinião, 
pois segundo Kant, um indivíduo quando persuadido não tem consciência de que sua crença 
pode ser sustentada por si mesma, sendo assim esse saber não passa de uma opinião. A opinião 
é uma crença que tem consciência de ser insuficiente tanto pela falta de justificação como pela 
falta de evidências que comprovem tal pensamento. 
 A relação entre a opinião e a persuasão encontrada na Terceira seção da Crítica da 
Razão Pura, é de que o sujeito acredita na sua opinião como um fenômeno verdadeiro, embora 
reconheça que esta ideia não é válida nem para si e nem para os outros ainda faz questão de 
proferir. Isto é, o indivíduo encontra-se persuadido na tentativa de validar suas próprias 
convicções em ideias vagas e sem fazer uso do seu entendimento. 
Segundo o filósofo, não posso afirmar, isto é, exprimir como juízo necessariamente 
válido para todos, senão o que gera a convicção. Posso manter-me na persuasão, se nela me 
sentir bem, mas não posso nem devo querer torna-la válida fora de mim (KANT, 1994, p. 
650). Nesse caso, o sujeito tem consciência de que sua crença é verdadeira somente para si e 
19 
 
é insuficiente em outros aspectos, porém tendo essa consciência o sujeito é capaz de 
reconhecer que seu pensamento não passa de uma mera opinião e sem essa consciência, fica 
fielmente imerso num estado de ignorância, 
Quando um sujeito possui consciência de que sua crença não é suficientemente 
fundamentada e nem pode ser aceita pela racionalidade, mas se justifica subjetivamente e vale 
somente para si, está tomado por um sentimento de fé. A fé é um conceito importante a ser 
abordado nesses escritos, pois nas linhas que seguem, fazer-se-á um elo entre opinião e fé no 
contexto de pós verdade. Por isso, o conceito de fé do qual nos apropriaremos é proposto por 
Kant, sendo a fé definida como uma crença subjetivamente suficiente e objetivamente 
insuficiente, pois uma pessoa de fé não tem consciência de que o seu saber é somente uma 
questão da crença em si mesmo e por isso, essas ideias não poderão ser válidas para ninguém 
a não ser para o próprio espirito. 
 
A crença ou a validade subjectiva do juízo, relativamente à convicção (que tem ao 
mesmo tempo uma validade objectiva) apresenta os três graus seguintes: opinião, fé 
e ciência. A opinião é uma crença, que tem consciência de ser insuficiente, tanto 
subjetiva quanto objetivamente. Se a crença é apenas subjetivamente suficiente e, 
ao mesmo tempo, é considerada objetivamente insuficiente, chama-se fé. Por último, 
a crença, tanto objetiva quanto subjectivamente suficiente, recebe o nome de saber. 
A suficiência subjectiva designa-se por convicção (para mim próprio); a suficiência 
objectiva, por certeza (para todos). Não me deterei a explicar conceitos tão claros 
(KANT, 1994, p. 650) 
 
 Na razão, não há um lugar para opinião, pois ela encontra-se baseada apenas nos 
sentidos que permitem um jogo de imaginação com o que se sabe ou saberá, portanto, a 
opinião é um saber problemático quando não consegue uma ligação com a verdade e não 
completa em si mesma. Mais do que isso, no entendimento de Kant, a opinião não deveria 
receber atenção pública, pois para ele o espaço público é o espaço da argumentação racional, 
das ideias fundamentadas etc, segundo o que ele defende na famosa Resposta à pergunta “o 
que é o esclarecimento? ”. 
Enquanto Platão define o conhecimento como um saber racional e universalmente 
reconhecido e a opinião como um juízo imediato dos sentidos, passível de mudanças e sem os 
critérios da razão, Kant justifica a opinião como uma crença que não pode ser justificada, nem 
sequer subjetivamente. A concepção de Kant diante deste conceito é muito próxima a de 
Platão, porque para o filósofo o conhecimento é aquilo que se justifica suficientemente tanto 
subjetiva quanto objetivamente, ou seja, o conhecimento finda-se em critérios racionais, sendo 
a opinião insuficiente em todos os aspectos. 
20 
 
 Tanto para Platão quanto para Kant, podemos notar vários aspectos em comum acerca 
do que se define como opinião, já que para ambos os filósofos a opinião faz parte de um juízo 
imediato que pode ser facilmente reestruturado a partir de novas experiências, não podendo 
pertencer a base do conhecimento, pois este é universalmente válido e necessário. A opinião 
também não faz parte da ignorância, pois ela é uma crença obtida a partir do contato com a 
sensibilidade, mas não faz parte do saber, pois é um juízo que não se pauta na racionalidade, 
não atendendo os critérios que definem o conhecimento. 
21 
 
3. PÓS-VERDADE E OPINIÃO 
 
O referente capítulo encontra-se organizado em dois tópicos, sendo o primeiro para 
contextualizar o cenário digital da pós-verdade a partir da leitura de artigos científicos e uso 
de imagens disponíveis na internet, buscando compreender o papel da opinião num mundo 
digital onde as ações são movidas pelas emoções, tornando o sentimento um critério 
necessário para o conhecimento. O segundo por sua vez, visa explanar a conexão da opinião 
com a identidade do sujeito, já que as emoções fazem parte da construção do eu, a partir do 
estudo das ideias do filósofo Byung-Chul Han. O segundo tópico, busca também compreender 
o papel das informações e opiniões na construção do conhecimento e investiga o uso desses 
saberes nas vivências do mundo digital. 
 
3.1 Opinião e pós-verdade 
 
A sociedade tem mudado cada vez mais e cada vez mais rápido. Estamos em um 
período de informações que é denominado de pós-verdade. Uma das características da pós-
verdade é a rapidez com que podemos acessar informações e adquirirmos nossos 
conhecimentos. A princípio, a democratização da informação parece um aspecto 
revolucionário e muito útil a sociedade. A era da informação parece vantajosa considerando 
que mais pessoas têm a possibilidade de contato com aquilo que acontece ou já aconteceu no 
mundo, mas por conta da universalização de dados surge a dificuldade de lidar com a 
desinformação. 
Em primeiro momento, parece uma ótima ideia que todos possamos ter acesso a 
qualquer tipo de informação de forma fácil e rápida. Embora saber o que está acontecendo no 
mundo ou como as coisas procedem nos mais variados contextos culturais, há um problema 
que atinge a maioria do que denominaremos aqui de: informados. 
Podemos definir a informação nesse contexto, como uma ideia sem precedentes, pois 
na pós-verdade, qualquer pessoa pode expor suas ideias e qualquer um pode consumi-las. A 
informação era um material exclusivo dos comunicadores, como jornalistas, repórteres e 
colunistas. Antes da relativização das informações, havia um processo que não só verificava 
a validade desses fatos, mas uma investigação que garantia que as situações estariam sendo 
contadas exatamente da forma como ocorriam. 
Porém na era digital, as informações passaram a ser produzidas por qualquer pessoa, 
com ou sem o conhecimento necessário para investigar a situação sugerida. E por isso, as 
informações ganharam tanto espaço nas redes sociais. Como existe a possibilidade de qualquer 
22 
 
amador disseminar uma percepção e denomina-la como informação, existe também a 
possibilidade da pessoa sentir-se uma produtora de conhecimento quando lida com a 
informação, tantona sua elaboração, quanto apenas com seu repasse. Por isso, as pessoas que 
consomem grande quantidade de informações acreditam saber a verdade sobre todas as 
situações propostas, mesmo sabendo que o processo da aquisição de informação não passa por 
critérios que garantam a validade da ideia que se propaga. 
A facilidade em adquirir conhecimentos e o grande fluxo de informações disponíveis 
não permite que o sujeito filtre todos os estímulos que recebe, então não permite que ele 
consiga definir o que de fato conhece e sobre o que está apenas informado e esses problemas 
são uma barreira para a possibilidade do desenvolvimento crítico-reflexivo do conhecimento; 
sendo essa barreira uma facilitadora da exposição de meras opiniões e a sua interpretação 
como verdade. 
O período é marcado pela relativização da verdade na medida em que os meios de 
comunicação presentes no processo de globalização da sociedade, permitem que cada um 
expresse sua opinião para uma grande quantidade de pessoas. O problema dessa 
democratização da informação é justamente o fato de que qualquer opinião é tida como válida, 
já que o argumento para fixar uma opinião nesse cenário é justamente o fato da opinião ser 
uma opinião. 
O problema da opinião no contexto da pós-verdade, é que ela é tida como 
conhecimento absoluto, porém vale lembrar que a opinião não pode ser um conhecimento, já 
que até o presente momento, compreendemos a partir de Kant e Platão que o conhecimento é 
um saber racional, absoluto, pautado em evidências que o tornam universalmente válidos e a 
opinião é um conhecimento insuficiente, pois é suscetível a mudanças e facilmente invalidado. 
A opinião não pode ser tida como verdade pois não sustenta a si mesma, tendo seu valor 
somente na subjetividade e a subjetividade não é um critério racional capaz de estabelecer 
uma verdade. 
23 
 
A charge representa a característica 
que marca o período da pós-verdade, ou 
seja, a relativização do conhecimento. Isto 
é, o conhecimento e as ideias são validados 
como verdade, não a partir de fatos que 
comprovem isso, mas através das emoções 
que permeiam as percepções. 
Ainda viajando pela história da 
filosofia, exploramos através da tirinha a 
concepção de conhecimento nesse período, 
pois se considerarmos as ideias de 
Descartes citado na charge, temos a 
capacidade de pensar como uma comprovação da existência, ou seja, sabemos que existimos, 
pois pensamos e o pensamento é o argumento que afirma o existir. 
Tomando a concepção de Kant, sobre a opinião que a define como um juízo 
sabidamente insuficiente oriundo da experiência, na era da pós-verdade, quando se fala em 
opinião se fala em um sinônimo de verdade, mesmo que essa não passe por critérios que assim 
a possam estabelecer. Firmando-se na definição de Kant, devemos ressaltar que na pós-
verdade não existe a consciência de que a opinião é um saber insuficiente, fazendo com que 
os proclamadores da opinião não tenham consciência de que esta crença é somente subjetiva, 
sendo assim, as pessoas encontram-se persuadidas em seus próprios pensamentos tornando 
sua opinião um produto da fé. 
Vale lembrar que o período de pós-verdade está ligado a um período de relações 
digitais, ou seja, os debates em espaços digitais onde existem muitas pessoas e pensamentos 
permitem que haja uma crítica, permitem indagações ao sujeito que expõe uma ideia. A 
questão de fé, se enquadra nesse contexto, pois muitos querem expor uma opinião, mas poucos 
são sábios o suficiente para reconhecer que a opinião é um saber insuficientemente objetivo e 
é valido somente para si. 
Devemos lembrar que para Kant não era um problema a existência de debates públicos 
já que a busca pela validação de um conhecimento consiste em pôr uma ideia a prova da 
racionalidade, sendo que se ela resistir as refutações a partir dos critérios da ciência pode se 
tornar um conhecimento e a resistência as críticas podem tornar esse saber universal. 
O problema é quando o sujeito expõe uma opinião reconhecendo a insuficiência desse 
saber, buscando a todo custo tornar sua subjetividade um conhecimento universal e essa ação 
Figura 1: Verdade versus Pós-verdade. Fonte: 
https://medium.com/pensatempos/o-que-%C3%A9-
p%C3%B3s-verdade-afinal-3974fd1d8c8a 
24 
 
é o que caracteriza a fé na própria opinião, fenômeno parido da pós-verdade. Para Kant, as 
pessoas apostam tudo o que tem na certeza de seus pensamentos, mas ainda podem reconhecer 
seu erro quando notarem que a aposta estará perdida, isso é, na busca pelo conhecimento existe 
a possibilidade do engano. 
 
A pedra de toque ordinária para reconhecer se o que alguém afirma é simplesmente 
persuasão, ou pelo menos convicção subjectiva, isto é, uma fé firme, é a aposta. 
Muitas vezes, as pessoas exprimem as suas proposições com uma teimosia tão 
segura e tão intratável, que parecem ter completamente todo receio de errar. Uma 
aposta fá-las reflectir. Por vezes mostram-se assaz e persuadidas para avaliar a sua 
persuasão num ducado, mas não em dez ducados. Efectivamente, arriscariam, com 
certeza, o primeiro ducado, mas perante a dez ducados começariam a perceber o que 
até ai não tinham observado, a saber, que seria bem possível terem-se enganados 
(KANT, 1994 p.652). 
 
Porém, no contexto de pós-verdade na era digital, uma pessoa que tem fé na própria 
opinião, tem medo de que seus pensamentos sejam colocados a prova da racionalidade, pois 
o errar na cultura digital não é permitido. As pessoas temem o erro pois buscam sentir-se 
seguras em sua própria fé que nesse caso é representada pela opinião. 
Enquanto o iluminismo deixava de lado as definições de verdade como sendo somente 
aquilo que se acreditava, buscando uma explicação lógica e concreta para as situações, afim 
de estabelecer critérios para alcançar certezas e determinar o conhecimento, a pós-verdade 
alicerça-se em uma fé das emoções e a opinião, nesse contexto, é regida pelos sentimentos, 
fazendo com que muitos acreditem que a opinião pode ser considerada verdade em qualquer 
circunstância. 
 
Se hace afirmaciones y no se ofrece pruebas. Se apela a la emoción del receptor y a 
reforzar sus prejuicios. No importa la evidencia, lo que cuenta es conectar con las 
obcecaciones. Se confunden los deseos con la realidad. Impera el pensamiento 
desiderativo. El receptor, asimismo, permanece sordo frente a opiniones que difieran 
de la suya e incluso, expuesto a evidencia en contrário, aumenta el grado de 
seguridad. Según la evidencia recogida por Wolff (2018), el propio Trump y su 
equipo nunca creyeron en la viabilidad de un triunfo, ni siquiera el mismo día una 
vez concluidas las elecciones y empezado el escrutinio que tiene en relación con sus 
propias creencias (a este sesgo cognitivo se le conoce como “efecto tiro por la 
culata” o lo que Nyhan y Reifler (2010) llaman “backfire effect”). Como de modo 
sintomático afirmó el parlamentario y entonces Ministro de Justicia británico, 
Michael Gove, durante la campaña en favor del Brexit: “ya hemos tenido más que 
suficiente por parte de expertos” (Sky News, 2016). Entiéndase: déjennos pensar 
que la realidad es como deseamos que sea, no importa qué digan los especialistas 
acerca de cómo son los hechos. Las creencias tienen que ajustarse a las emociones 
y a los deseos, no a la evidencia empírica, no al mundo exterior (SALDAÑA, 2017, 
p 18) 
 
As opiniões nesse contexto, são consideradas verdadeiras pois remetem as emoções e 
para os emocionados, tudo que sentimos é verdadeiro. Dado que as mídias permitem a 
25 
 
expressão de tudo que se pensa e se compreende, todos tem acesso a opinião alheia e todos 
podem comprar essa ideia, todos tornam-se senhorios da verdade, pois a verdade nesse 
contexto é somente aquilo que interessa ao sujeito, independente da racionalidade ou 
sentimentos envolvidos em determinada crença. 
 
3.2 Conhecimento e opinião na era digital 
 
Visto que a maioria das pessoaspossui acesso as mais diversas opiniões e na maioria 
das vezes interpreta-se uma simples opinião como verdade, isso porque se considera o número 
de pessoas com sentimentos parecidos que tomam essa ideia como verdade, poderíamos dizer 
que ainda é possível um sujeito que pense seus próprios pensamentos? Ainda é possível 
conhecer de fato, em um meio onde as emoções determinam a verdade? A emoção de estar 
informado, pode classificar esse conhecimento como verdade? 
A partir do que está dentro da nossa possiblidade de conhecimento é que criamos 
nossos paradigmas e certezas acerca de nossas percepções. O fato de termos certeza sobre nós 
mesmos torna o questionamento uma ferramenta que incomoda. E o mesmo acontece quando 
temos uma opinião questionada. Partindo do pressuposto que a opinião se forma a partir do 
que conhecemos e o que conhecemos influencia o que somos, questionar uma ideia é 
questionar o sujeito, é questionar as certezas que alguém tem sobre si e sobre como 
compreende o mundo. Na era da pós-verdade, somos constituídos por emoções, informações 
ou opiniões? 
Para explorar a ideia de como a opinião está ligada a identidade, será feita uma 
apropriação dos estudos do filósofo Byung-Chul Han que busca compreender como as mídias 
digitais moldam os sujeitos, transformando suas concepções, sensações, pensamentos e até 
mesmo a vida em conjunto, possibilitando criar um elo entre as consequências de uma vida 
digital e a fé na própria opinião. 
Vale lembrar que o conhecimento é validado a partir de critérios que o tornem um 
saber universal, conforme aprendemos com Kant e, antes ainda, com Platão, para isso é 
necessário que um saber passe por várias áreas do conhecimento, ou seja, passe por 
pluralidades racionais para que possa ser validado. Um dos problemas apresentados por Han 
nos sistemas digitais é justamente a aniquilação da alteridade. 
Essa aniquilação coloca em risco a capacidade de busca pela verdade, pois o 
conhecimento verdadeiro não é apenas aquilo com que todo mundo concorda, se assim fosse, 
26 
 
as emoções que permeiam as ideias, tornariam qualquer saber válido, e para ser validado o 
conhecimento necessita do diferente, pois a diferença é o que quebra dogmas. 
A dificuldade de ter conhecimento na era da informação é justamente a possibilidade 
de escolhermos perceber somente aquilo que nos convém e que nos agrada e, por isso, ficamos 
cegos diante de nossas opiniões. Somos produtores e receptores ao mesmo tempo e a função 
de manter o fluxo de informações a qualquer custo aniquila qualquer tipo de poder entre os 
sujeitos, desvalidando o conhecimento e o igualando a opinião. 
 
A conexão digital favorece a comunicação simétrica. Hoje em dia, aqueles que 
tomam parte na comunicação não consomem simplesmente informação 
passivamente, mas sim a geram eles mesmos ativamente. Nenhuma hierarquia clara 
separa o remetente do destinatário. Todos são simultaneamente remetentes e 
destinatários, consumidores e produtores. Tal simetria, porém é prejudicial ao poder. 
A comunicação do poder caminha em direção, a saber, de cima para baixo (HAN, 
2018, p. 16) 
 
Já deixamos claro que o conhecimento se forma a partir de uma razão universal e 
absoluta, que só pode ser fundido através da crítica e das provas racionais a que é submetido. 
Entretanto, para que haja conhecimento, deve haver também pessoas que tenham a capacidade 
de indagar determinadas ideias. 
Porém, com o avanço do convívio digital e o avanço da fé na própria opinião as 
comunidades de investigação e até mesmo as pessoas dispostas a se enganarem estão perdendo 
seu lugar nos espaços de exposição do pensamento, isso porquê nos meios em que é possível 
debater ideias e produzir conhecimentos encontramos apenas singularidades e essas 
singularidades estão persuadidas em si mesmas, para Han a alma é aglomerante e unificante, 
o enxame digital consiste em indivíduos singularizados (2018, p. 27). 
 O individualismo não permite a troca de ideias, não permite a chance do novo ou até 
mesmo do erro e por isso não permite também a construção do conhecimento, fortalecendo a 
ideia de que a opinião é a única verdade possível. Para Han, a sociedade da opinião e 
informação se apoia na comunicação desmediatizada, todos podem produzir e enviar, fazendo 
com que jornalistas ou sacerdotes da opinião sejam superficiais e anacrônicos (2018, p. 36). 
 Para obter conhecimento devemos estar dispostos ao enganar-nos, devemos estar 
dispostos a deixar de lado nossas crenças dogmáticas, afim de aproximar nossas ideias da 
verdade. Entretanto a flexibilização do pensamento pode ser um processo doloroso, visto que 
nos dias atuais, a negatividade não tem um espaço na vida das pessoas, especialmente nos 
meios digitais, questionar é um incomodo, repensar e enganar-se é errado, a negatividade é 
27 
 
extinta e então, o conhecimento que provém justamente da crítica e da destruição não é 
possível. 
 
O positivo que remove toda negatividade do outro, definha no “ser morto”. Apenas 
o espirito que eclode de sua “relação simples de si” tem experiências. Sem dor, sem 
negatividade do outro, no excesso de positividade nenhuma experiência é possível. 
Viaja-se para tudo quanto é lugar, sem chegar a uma experiência. Conta-se sem 
parar, sem poder narrar. Toma-se conhecimento das coisas [Kenntnis] sem se chegar 
a um reconhecimento [Erkenntnis]. A dor, esse sentimento ondulante em vista do 
outro, é o médium do espírito. O espírito é dor. A fenomenologia do espírito de 
Hagel descreve uma via dolorosa. A fenomenologia do digital, em contrapartida, é 
livre da dor dialética do espírito. Ela é uma fenomenologia do curtir (HAN, 2018, 
p.93). 
 
A comunicação digital está pautada somente nas opiniões, na medida em que tudo que 
é exposto remete a identidade de quem expõe. Essa exposição é um meio de afirmar a própria 
identidade a partir de um conhecimento insustentável que deve ser tomado pelo outro como 
verdade. O problema de uma fé na própria opinião é o cansaço de si e a impossibilidade da 
confiança (HAN, 2018, p 122). Não há mais em quem confiar e, por isso, acreditamos somente 
em nós mesmos e a consequência disso é uma relativização da verdade, como propunham os 
sofistas da Grécia antiga. 
O conhecimento perde seu valor, assim como o próprio sujeito, pois todo o conteúdo 
que se busca deve remeter ao igual, aquilo que não incomoda e não faz o sujeito sentir-se 
errado. Procurar aquilo que fortalece o narcisismo é procurar sustentar uma fé em si mesmo, 
logo em sua opinião e a oclusão do ser humano para a aquisição do conhecimento é uma 
consequência de um período em que as ações são regidas somente pelas emoções, excluindo 
toda racionalidade que poderia garantir verdades acerca dos conceitos fornecidos pela 
sensibilidade digital. 
Portanto, concluímos, neste capítulo, que a opinião neste tempo de pós-verdade faz 
parte da afirmação da identidade, enquanto sujeitos conhecedores que possuem um espaço de 
exposição para tais pensamentos. Entretanto, a opinião é sinônimo de verdade nesse contexto 
pois está relacionada a positividade de pensar. A opinião somente tem valor para o sujeito 
que opina e por isso ela é tão importante, pois não incomoda e não possibilita ao erro, além 
de afirmar as emoções de quem opina, aspecto tão marcante no contexto de pós-verdade. 
As informações tornam-se, então, o critério que caracteriza a impressão um 
conhecimento, embora as informações sejam produzidas por qualquer pessoa elas ainda são 
consideradas o critério de validade das nossas percepções no meio digital. Estar informado 
significa ser conhecedor. Embora as informações são o critério de verdade da sociedade 
digital, cabe ressaltar que essa sociedade não padece com a falta de verdade mas padece com 
28 
 
a falta de aparência (HAN, 2017, p.94). O estar informado é a aparência do conhecer e o 
excesso de informações que marca esse período servepara mascarar a falta da capacidade de 
produzir conhecimento no cenário digital, pois o trabalho para alcançar a verdade é incomodo. 
29 
 
 
4 CONCLUSÃO 
 
Com este trabalho pretendeu-se compreender o papel da opinião na sociedade digital 
e porquê o questionamento é tão incomodo, visto que ele é necessário para construção do 
conhecimento. Um dos objetivos era compreender porque a opinião é tão valorizada nos meios 
virtuais e a conclusão foi satisfatória na medida em que através de uma investigação histórico-
filosófica pode-se entender o que é a opinião e do que depende o conhecimento. 
O referente estudo deu conta de mostrar o quão atual são os problemas filosóficos que 
surgiram desde a Grécia Antiga, sendo que a opinião ainda é um objeto de estudo dos filósofos 
contemporâneos e entender as práticas do uso do conceito é crucial para compreender o 
comportamento das pessoas em seus respectivos momentos históricos. 
A opinião e o conhecimento mesmo que não façam parte da mesma base do 
entendimento humano, ainda dependem uma da outra, pois a partir da criação de um juízo é 
que se pode testa-lo por meio da racionalidade e transformar uma mera opinião em 
conhecimento, mesmo que as pessoas do século XXI e principalmente os internautas, tenham 
receio ao erro e mantém certa teimosia diante dos seus dogmas. 
Por isso o espaço para o conhecimento na era da pós-verdade é tão limitado, pois este, 
implica em abdicar das emoções para acontecer, e nem todas as pessoas estão dispostas a 
deixar de lado suas emoções, tornando a busca pela verdade algo desnecessário. 
Vale lembrar que a verdade garante um sentido para as ações, para o sentido da vida e 
para o que se sabe, vivemos em uma época onde a falta de verdade não incomoda o sujeito 
explicitamente, mas o incomoda sem que o perceba e por isso o vazio da verdade é preenchido 
com o excesso de informações. 
As informações são facilmente construídas e adquiridas, vemos somente as 
informações que nos agradam sobre os assuntos que nos convém e por isso estar informado é 
muito mais confortável do que saber a verdade diante de algumas temáticas. Talvez não 
tenhamos dado conta de responder todas as indagações que surgiram ao longo da investigação, 
mas a filosofia é mesmo assim, quanto mais se descobre menos se sabe. Ao menos, poderemos 
dormir com a certeza de que não estamos apenas informados, pois investigar e deixar que as 
dúvidas e inquietações permeiem nossas ideias, nos faz caminhar em direção a construção da 
verdade. 
 
 
30 
 
REFERÊNCIAS 
 
HAN, Byung-Chul. Sociedade da transparência. Trad. Enio Paulo Giachini. Petrópolis: 
Editora Vozes, 2017. 
HAN, Byung-Chul. No enxame: Perspectivas do digital. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: 
Editora Vozes, 2018. 
 
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Trad Enio Paulo Giachini. 2ª ed. Petrópolis: 
Editora Vozes, 2017. 
 
HOBBUS, João Francisco N. Introdução à história da filosofia Antiga. Pelotas: NPEFIL 
Online, 2014. 
KANT, Immanuel: Crítica da razão pura. Trad. Manuel Pinto dos Santos e Alexandre 
Fradeique Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian. 1994. 
MORUJÃO, Alexandre F. Prefácio da tradução portuguesa. In: KANT, Immanuel. 
Crítica da razão pura. Trad. Manuel Pinto dos Santos e Alexandre Fradeique Morujão. 
Lisboa: Fundação Calouste Gulbekian. 1994. p. VI- XXVI. 
PLATÃO, República. Tradução Maria Helena da Rocha Pereira. 9. ed. Lisboa: Fundação 
Calouste Gulbbenkian, 2001. 
PLATÃO. Teeteto e Crátilo. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: Editora universitária 
UFPA, 2001. 
 
SALDAÑA, David Villena. Era posverdad: Comunicación, política y filosofía: 
Vicerrectorado de Investigación y Posgrado de la UNMSM: Lima, 2017. 
ZENI, Eleandro L. Conhecimento e linguagem: um estudo do Teeteto. 2012. Dissertação 
(Mestrado) - Centro de Ciências Sociais e Humanas, Universidade de Santa Maria, RS, 
2012.

Continue navegando