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MATÉRIA ESTATUTÁRIA E INSTITUCIONAL Prof. Dalmo Azevedo ggconcursos.com.br 3 www.ggconcursos.com.br SERVIDORES PÚBLICOS 1 – EXIGÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO Concurso público é um procedimento administrativo instaurado pelo Poder Público com o condão de selecionar candidatos mais aptos a assumirem os cargos e empregos públicos da Administração Pública. Por envolver participação de particulares a doutrina costuma denominar o procedimento de externo, exigindo assim a concorrência como fator essencial de realização do certame. Assim, o concurso público deve ser marcado pela ampla acessibilidade, não sendo permitido que se criem barreiras ou impeditivos injustificáveis aos interessados em participar do procedimento seletivo. Na forma do texto constitucional, o concurso deverá atender ao princípio da impessoalidade quando de sua realização. Art. 37. I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; É inconstitucional toda e qualquer legislação que vise estabelecer restrições injustificadas ou vise afastar o caráter de ampla participação dos concursos quando tais ações se apresentam como forma de direcionamento da escolha das pessoas que exercerão a função estatal. Observe que não se trata de uma regra absoluta, visto que, caso justificado, o acesso poderá ser restringido. Temos como exemplo o próprio texto acima apontado, que em primeiro momento direciona os concursos aos brasileiros e, excepcionalmente, na forma da lei, permite a participação dos estrangeiros. Mesmo em relação aos brasileiros haverá uma distinção de acesso que importa estudarmos aqui. Primeiramente, cabe entendimento de que o acesso aos brasileiros será amplo, na forma de aceitação de participação dos brasileiros natos, naturalizados ou, mesmo, os brasileiros equiparados. Excepcionalmente, o texto constitucional determina que alguns cargos, em razão de sua importância e caráter estratégico na condução do Estado, somente poderão ser acessados por brasileiros natos. Art. 12. § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: I – de Presidente e Vice-Presidente da República; II – de Presidente da Câmara dos Deputados; III – de Presidente do Senado Federal; MATÉRIA ESTATUTÁRIA E INSTITUCIONAL 4 www.ggconcursos.com.br IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V – da carreira diplomática; VI – de oficial das Forças Armadas. VII – de Ministro de Estado da Defesa Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam: VII – seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução. Em relação aos estrangeiros, o texto constitucional limita acesso apenas àqueles cargos definidos pela lei. Por se tratar de uma norma de eficácia limitada, demanda a edição de uma lei para sua efetivação. No âmbito federal, a Lei 8.112/90 regulamentou o acesso dos estrangeiros a cargos públicos, seguindo regramento já previsto no texto constitucional. CF/88 Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. § 1º É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. § 2º O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica. Lei 8.112/90 Art. 5º. § 3o As universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica federais poderão prover seus cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros, de acordo com as normas e os procedimentos desta Lei. Na forma da lei, os requisitos para ingresso na Administração Pública deverão sempre respeitar ao princípio da razoabilidade, sendo compatível com a carreira a complexidade da prova. Por tal razão não se admite a realização de avaliação única de títulos como método de seleção de pessoal. O candidato deverá demonstrar aptidão para assunção do cargo, atendendo a todas as etapas do concurso, garantida a isonomia aos interessados. Como a exigência para entrada na atividade pública permanente é pela realização de concurso público competitivo, não se permitirá também ao servidor aprovado assumir outro cargo dentro da Administração Pública que não àquele para o qual foi devidamente avaliado. Por essa razão, a mudança de cargo ou função dentro da Administração, mesmo para aquele que já esteja na composição do ente público, sempre se dará por meio de avaliação realizada através de concurso público. No mesmo sentido, não se permite mais a realização dos concursos internos quando o intuito for permitir acesso dos servidores da instituição aos novos cargos do quadro criado por lei que não guardem uniformidade com a carreira na qual o servidor havia ingressado. A realização de concurso público é a regra, mas existem exceções quanto a esse procedimento. Somente por disposição constitucional tal condição poderá ser instituída, ou seja, somente normal constitucional pode afastar a necessidade de realização de concurso público prévio para assunção de determinado cargo. O entendimento é de que, como certos cargos ou funções não possuem o interesse público como objetivo, seria possível a contratação direta para esses casos. Listo agora as exceções constitucionais: 5 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br Art. 37. II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; Cargos em Comissão: Cargos criados com a função de exercer chefia, direção ou assessoramento, devem ser preenchidos com base em critérios de confiança pessoal. Assim, não há lógica na realização de um concurso prévio, determinando a lei seu preenchimento por livre nomeação. Art. 37. IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público; Cargos Temporários: Por se tratar de contratação que possui caráter excepcional, com fim de atender ao interesse público específico, considera-se que a realização de concurso público configuraria mais um obstáculo do que uma proteção legal. Veja, estamos diante de uma contratação temporária, transitória, excepcional, condições que não combinam com a complexidade e burocracia da realização do concurso público. Cargos Eletivos: Agentes eleitos para exercício da função de representação da sociedade, sua seleção se dará da forma mais democrática possível, qual seja, a realização de eleição. Lei 11.350/06 Art. 9º A contratação de Agentes Comunitários de Saúde e de Agentes de Combate às Endemias deverá ser precedida de processo seletivo público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade de suas atribuições e requisitos específicos para o exercício das atividades, que atenda aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate às Endemias: Por se tratar de situação excepcional, a legislação prevê a realização de um procedimento seletivo simplificado, que não se confunde com a realização do concurso público em si. CF/88 Art. 84. XIV – nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidentee os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; XV – nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União; Ministros dos Tribunais de Contas e Tribunais Superiores: Mesmo com a previsão, no caso do Poder Judiciário, de realização de concurso público para ingresso na carreira da magistratura, o acesso aos cargos superiores se dará sem concurso, mediante indicação. Art. 94. Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes. Quinto Constitucional: Mais uma regra que afasta a necessidade de concurso público, visto os cargos serem reservados para 6 www.ggconcursos.com.br aqueles que atendam requisitos técnicos específicos. Diretores das Empresas Estatais: Por se tratarem de cargos em comissão não há necessidade de realização de concurso público prévio. Profissionais Qualificados: Condição exclusiva das empresas estatais, poderá ser admitido um profissional qualificado em determinados ramos de atividade de interesse da entidade mediante contratação direta. Contratados da OAB: Conforme entendimento exarado pelo STF, a Ordem dos Advogados do Brasil não é uma entidade da Administração Pública e não se qualifica como os demais conselhos profissionais, visto possuir estatuto próprio de regência. 2 – EDITAL DO CONCURSO PÚBLICO O edital de concurso é considerado por muitos como a “lei do concurso público”, visto ser o instrumento responsável por determinar todas as regras a serem adotadas na realização daquele certame específico. Por conta disso, diversas informações importantes são extraídas de seu conteúdo. Taxa de Inscrição. A realização do concurso público provocará despesas para o órgão responsável por usa realização. Por isso, é comum a cobrança de taxa de inscrição como forme de recuperação dos gastos específicos do certame. Normalmente, o valor da inscrição é um valor módico, acessível para todos aqueles que se interessem em participar do certame, mas existem casos em que esse valor pode ser considerado caro para os candidatos de baixa renda. Visando resolver essa questão, em 2018 foi editada a Lei 13.656, com o intuito de determinar pessoas específicas que passam a deter o direito de isenção da taxa de inscrição dos concursos públicos. Lei 13.656/18 Art. 1º São isentos do pagamento de taxa de inscrição em concursos públicos para provimento de cargo efetivo ou emprego permanente em órgãos ou entidades da administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União: I – os candidatos que pertençam a família inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), do Governo Federal, cuja renda familiar mensal per capita seja inferior ou igual a meio salário-mínimo nacional; II – os candidatos doadores de medula óssea em entidades reconhecidas pelo Ministério da Saúde. A lei apresentada só tem eficácia nos concursos públicos realizados no âmbito da União, cabendo aos demais entes federados editar legislação própria prevendo tais direitos. CF/88 Art. 37. III – o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período; Validade do Concurso Público. Na forma da Constituição, um concurso público poderá ter validade inferior a 2 (dois) anos, mas nunca superior, salvo possibilidade de prorrogação, no interesse da Administração Pública com base em critérios de oportunidade e conveniência, por igual período, entendido como uma repetição do período de validade pré-prorrogação. O edital do concurso é um ato administrativo discricionário quanto às regras que serão aplicadas no certame específico. Claro que tais regras deverão guardar validade junto às leis e aos princípios constitucionais. Assim, após a publicação do edital, seus termos vincularão todos os participantes do evento, atendendo aos ditames do princípio da vinculação ao instrumento convocatório, nos 7 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br moldes do estudo que fizemos no capítulo sobre licitações. Portanto, a alteração das regras do concurso público após a publicação do edital é considerada como uma violação ao princípio da segurança jurídica, sendo tal alteração um ato excepcional possível apenas quando devidamente justificável através de alteração legislativa que modifique regime de cargos ou emprego a ser preenchido pelo certame. Controle Judicial. Por se tratar de um ato administrativo discricionário, o edital e o concurso público em si não poderão sofrer controle judicial amplo, cabendo apenas sua submissão ao controle judicial de regularidade do certame e adequação aos princípios constitucionais. Assim se pronunciou o STF ao afirmar que o Poder Judiciário nunca poderá fazer a vez de banca examinadora, responsável pelo certame público, definindo critérios de seleção e reavaliando forma de correção e notas, por se considerar uma ação de julgamento de mérito, violando assim a separação de poderes. No caso de identificação de irregularidades na realização do procedimento administrativo, deverá o concurso ser invalidado, resultando na invalidação das nomeações ou contratações efetivadas com base nele. Caso o concurso tenha resultado na divulgação de aprovados e classificação do certame, deverá ser aberto um procedimento administrativo com garantia de contraditório e ampla defesa para que a anulação seja válida e eficaz. Nesse momento, inclusive, precisamos observar a teoria do funcionário de fato ou teoria da aparência¸ que determina a manutenção dos direitos conquistados durante a atuação do agente público mesmo que seu acesso ao cargo tenha sido mediante fraude ou frustração do procedimento seletivo. A ideia é que, não havendo o pagamento devido ao agente público, mesmo que tenha acessado a administração de forma ilegal, o Estado estaria enriquecendo ilicitamente, pois se valeu do trabalho e da disponibilização do agente durante a vigência do vínculo. O mesmo vale para os empregados públicos, caso em que, inclusive, deve-se garantir acesso ao saldo do FGTS. Destaco que, por conta de todo o entendimento apresentado, o Direito Administrativo não adota a teoria do fato consumado. Assim, não há nenhuma violação a direitos o fato do nomeado ao cargo perder sua posição por anulação do concurso público. Por força da aplicação da teoria do funcionário de fato todos os atos praticados por esses agentes serão mantidos. Em relação ao prazo para que se possa rever o concurso público e seus atos, o Decreto 20.910/32 afirma em seu artigo 1º que “prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem”. A dúvida está em relação a qual o momento de início da contagem do prazo para ação. No nosso caso, o início se dará na data da homologação do concurso público. Para ficar claro, a homologação do concurso não ocorre na data da realização da prova nem mesmo na data de divulgação do edital. O início da contagem de prazo se dará no momento em que a banca examinadora realizar o último ato de divulgação essencial do certame, qual seja, a classificação final e definitiva. Assim, caberá a banca editar o documento de classificação nominal e o ato de homologação do concurso, efetivando-se após a publicação. Direito subjetivo à nomeação. A regra geral que prevalecia no passado em relação aos concursos públicos era a de que os aprovados apresentados ao final do certame teriam uma mera expectativa de convocação, independentemente do número de vagas oferecido no início do procedimento, pois a avaliação era tratada apenascomo uma forma de “registrar a existência de candidatos aptos ao cargo em uma ordem 8 www.ggconcursos.com.br válida de convocação”. Assim, era normal vermos concursos oferecerem milhares (sim, milhares) de vagas e, ao final da validade total do concurso, ter convocado menos de 10 classificados. Apesar da injustiça que se enxergava com esse critério de ação do Poder Público na realização de concursos, já há época se entendia que, no caso de convocação, a ordem de classificação deveria ser rigorosamente respeitada, sob pena de reconhecimento de preterição de candidato, o que geraria automática obrigação de convocação pelo ente público. Ex: Imagine a seguinte situação hipotética. Ao observar a lista de classificação final, você identifica que ficou em segundo lugar. Feliz com o resultado, passa a acompanhar as convocações do ente público, já que sua nomeação está muito próxima. Após convocar o primeiro colocado, sua chance está mais próxima ainda. Até que, um dia, ao verificar os atos do ente público, você descobre que o terceiro colocado foi convocado antes de você. Estamos diante da chamada preterição de candidato. Nessas condições, você terá o direito de nomeação reconhecido pelo Judiciário e pelas regras gerais pertinentes. Apesar da obrigação se constituir imediatamente para o ente público, a sua convocação poderá ocorrer a qualquer momento futuro, desde que dentro do prazo de validade do concurso. Foi em 2007 que tudo mudou. O STF proferiu uma decisão importante que afetou completamente o entendimento doutrinário e jurisprudencial do caso. Para o STF, o fato de o ente público indicar a existência de um número específico de vagas durante a realização do concurso público gera automaticamente a obrigação de, durante a validade, convocar todos aqueles que se classificarem dentro do número de vagas divulgado. Assim, se uma instituição faz concurso público e informa a existência de 10 vagas, terá que convocar os 10 primeiros classificados até o final da validade do concurso, incluindo eventual prorrogação. Foi decretado o fim da insegurança aos candidatos na realização dos certames públicos. Isso não significa que a Administração sempre fará a convocação dos candidatos classificados dentro do número de vagas seja qual for a situação real no momento. Não podemos esquecer que a Administração Pública deverá sempre agira pautada em decisões relacionadas ao interesse público e, por isso, detêm em suas mãos o poder de controle dos atos administrativos realizados na sua estrutura. Assim, caso seja possível demonstrar que a convocação do candidato aprovado, mesmo que dentro do número de vagas ofertado, afastará o interesse público, poderá a Administração deixar de convocar sem que isso configure um ato ilícito administrativo. Ainda sobre o direito subjetivo à nomeação, outra decisão importante a ser apontada proferida pelo Supremo estabeleceu a possibilidade de reconhecimento de tal direito subjetivo mesmo nos casos de edital sem previsão de número de vagas. O entendimento firmado foi de que, mesmo sem previsão de vagas, caso a Administração Pública convoque um candidato e esse desista ou não preencha os requisitos de efetivação de sua convocação, gera para os seguintes, na ordem de classificação, direito subjetivo à nomeação para as vagas não ocupadas por motivo de desistência ou desclassificação. O mesmo entendimento vale para quando a Administração Pública demonstra necessidade inequívoca de provimento de cargos. Esse reconhecimento de número de vagas a ser preenchido é entendido como um ato de confirmação de cargos vagos, devendo assim convocar o número de classificados necessário para ocupar aquele número de vagas. Realização de Novo Concurso Público. Aqui nos deparamos com um confronto de regras 9 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br que resultou da reforma administrativa de 1998. Até então, prevalecia o entendimento de que durante a validade de um concurso público a Administração estava proibida de realizar novo certame com o mesmo objeto de contratação. Após a emenda, passamos a ter uma previsão constitucional permissiva quanto a essa possibilidade. Observe os dispositivos. Lei 8.112/90 Art. 12. § 2o Não se abrirá novo concurso enquanto houver candidato aprovado em concurso anterior com prazo de validade não expirado. CF/88 Art. 37. IV – durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira; Nem preciso dizer que prevalece a regra estabelecida na Constituição Federal né? A questão gira em torno da necessidade de facilitar o procedimento para a Administração, até então extremamente engessado, já que era necessário esgotar toda a lista de classificados de um concurso para que se pudesse dar inicio aos preparatórios do novo concurso. Pense no seguinte: um concurso normalmente leva de 4 meses a 1 ano para finalizar e convocar o primeiro classificado para tomar posse. Esgotada a lista de classificados, qualquer nova vacância que ocorresse no órgão ou ente público se tornaria um problema, visto que essa vacância só seria suprida após a realização de um novo concurso plenamente realizado. Com a nova regra, mesmo havendo um concurso em período de validade a Administração poderá realizar um novo concurso, sempre convocando os aprovados no concurso anterior antes dos novos aprovados. Reserva de Vagas para Pessoas com Deficiência. Em respeito ao princípio da isonomia a Constituição Federal estabelece a necessidade de reserva de vagas para as pessoas com deficiência, na forma da lei específica. As vagas a serem reservadas serão relativas a cargos compatíveis com a deficiência do candidato, sendo que os critérios de admissão também deverão ser estabelecidos na legislação específica. CF/88 Art. 7º. XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; Art. 37. VIII – a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão; Lei 8.112/90 Art. 5º. § 2o Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso. Perceba que a lei não exclui as pessoas com deficiência da realização do concurso, mas reserva a eles percentual de vagas que serão disputadas somente por essas pessoas, na forma dos critérios definidos no edital. Não havendo nenhum aprovado ou não sendo preenchidas todas as vagas reservadas, serão revertidas para os não deficientes. Como o percentual máximo de reserva de vagas, na forma da Lei 8.112/92, ou seja, no âmbito federal, é de 20% (vinte por cento), no caso de a instituição oferecer número de vagas que extrapole o percentual máximo, ficará dispensada da reserva determinada na lei. 10 www.ggconcursos.com.br Ex: A autarquia federal I realiza concurso para contratação de agentes administrativos, prevendo em seu edital 4 vagas. Caso seja destinada uma vaga para pessoas com deficiência, estaremos diante de uma reserva de vagas de 25%, acima do previsto como limite legal. Assim, a autarquia poderá realizar o concurso sem prever a reserva dessas vagas. Vale a pena fazermos um rápido estudo sobre as regras previstas no Decreto 9.508/18, que regulamenta a Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Por ser um decreto presidencial, lembre, só terá aplicação em âmbito federal. A lei específica federal reservou um percentual máximo de 20% (vinte por cento) de vagaspara as pessoas com deficiência. Ocorre que essa previsão é insuficiente, pois estamos diante de uma previsão máxima sem um mínimo estabelecido. Assim, qualquer concurso que não oferecesse reserva de vagas para pessoas com deficiência estaria correto, pois não há uma previsão mínima de reserva. Esse problema foi resolvido com a edição do decreto em estudo, que passou a determinar a reserva mínima de 5% (cinco por cento) das vagas em face da classificação obtida. Se desse percentual resultar um número fracionado, a norma determina seu arredondamento para o primeiro número inteiro seguinte. No caso de empresas estatais, aplica-se o percentual previsto na legislação de previdência privada. Decreto 9.508/18 Art. 1º Fica assegurado à pessoa com deficiência o direito de se inscrever, no âmbito da administração pública federal direta e indireta e em igualdade de oportunidade com os demais candidatos, nas seguintes seleções: § 1º Ficam reservadas às pessoas com deficiência, no mínimo, cinco por cento das vagas oferecidas para o provimento de cargos efetivos e para a contratação por tempo determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público, no âmbito da administração pública federal direta e indireta. § 2º Ficam reservadas às pessoas com deficiência os percentuais de cargos de que trata o art. 93 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991 , às empresas públicas e às sociedades de economia mista. § 3º Na hipótese de o quantitativo a que se referem os § 1º e § 2º resultar em número fracionado, este será aumentado para o primeiro número inteiro subsequente. § 5º As vagas reservadas às pessoas com deficiência nos termos do disposto neste artigo poderão ser ocupadas por candidatos sem deficiência na hipótese de não haver inscrição ou aprovação de candidatos com deficiência no concurso público ou no processo seletivo de que trata a Lei nº 8.745, de 1993 . Reserva de Vagas para Negros e Pardos. A Lei 12.990/14 definiu uma reserva de vagas de concursos públicos da Administração Pública Federal de 20% (vinte por cento) para os candidatos negros e pardos, desde que o número de vagas previstos no edital seja de pelo menos três. No caso de Estado, DF e Municípios, o percentual específico deverá ser estabelecido em lei própria. Interessa observar que a legislação determinou um valor fixo de 20% (vinte por cento) das vagas, e não um valor de até 20% (vinte por cento) como acontece na reserva de vagas para pessoas com deficiência. Assim, não se prevê discricionariedade do administrador público quanto ao número de vagas realmente reservado no certame. Para ter direito a disputa dessas vagas reservadas, o candidato deverá se autodeclarar negro ou pardo no ato da inscrição do concurso, conforme a 11 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br determinação utilizada pelo IBGE para cor ou raça. A confirmação da qualidade autodeclarada será devidamente atestada em etapa específica do concurso, conforme previsão editalícia. Caso a declaração seja considerada falsa, será o candidato eliminado do concurso. Outra diferença em relação às regras previstas para reserva de vagas para pessoas com deficiência é que os candidatos autodeclarados negros ou pardos disputarão concomitante vagas reservadas e vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com sua classificação. Caso o candidato autodeclarado seja aprovado dentro do número de vagas destinada à ampla concorrência não serão considerados para efeito de preenchimento de vagas reservadas. Caso não haja número suficiente de candidatos aprovados para preencher as vagas reservadas, as remanescentes serão revestidas para serem preenchidas pelos demais candidatos aprovados, na ordem da classificação. A lei em análise tem vigência determinada, pois visa resolver uma discrepância específica quanto ao acesso aos cargos, sendo previsto fim de sua validade em 10 (dez) anos após sua vigência. Cláusula de Barreira. São critérios restritivos previstos no edital que limitam a passagem de aprovados de uma etapa a outra. Esse tipo de prática é comum quando o concurso prevê em seu edital um número máximo de classificados que irão para em uma próxima etapa, por exemplo, realizar um exame médico ou uma prova física. A cláusula de barreira funcionará em conjunto com os critérios de classificação previstos no edital, o que gerou muita discussão quanto a sua validade. Ex: Imagine um concurso em que o edital afirma que serão habilitados todos aqueles que acertarem 20%, no mínimo, de cada disciplina cobrada na prova, e que desse montante somente 300 serão classificados para a realização do teste de aptidão física. Perceba que até mesmo aquele candidato habilitado por ter atingido o número mínimo de acertos exigido no edital poderá ser desclassificado por não figurar na lista dos 300 primeiros, na ordem de classificação da nota final. Essa desclassificação configura a cláusula de barreira. Em 2014, o STF declarou a constitucionalidade de tal previsão em editais de concursos, colocando um ponto final na discussão sobre sua validade ou não. Desde então, a cláusula de barreira tem sido utilizada constantemente em concursos públicos de todo o Brasil. Idade Máxima. A Lei 8.112/90, em seu artigo 5º, prevê diversos requisitos para participação em concurso público. Dentre eles, está a idade mínima de 18 anos. A questão central é se é possível determinar uma idade máxima para acesso a determinado cargo público no Brasil. A resolução dessa dúvida passa pela avaliação de um outro requisito essencial: aptidão física e mental. Ora, se é possível eliminar candidato por não atender requisitos de qualidade física e mental, qual seria o impedimento para a eliminação de candidato com base na idade? A determinação de idade mínima ou qualificação física ou mental mínima para aprovação ou, até mesmo, inscrição em concurso público é possível desde que seja possível demonstrar (ônus da Administração Pública) a necessidade de tal limitação em relação a função a ser exercida no cargo público em disputa. Assim, situações excepcionais devidamente justificadas permitem a adoção desses critérios. CF/88 Art. 7º. XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de 12 www.ggconcursos.com.br critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; Art. 39. § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. Da interpretação da súmula do STF combinada com a leitura dos dispositivos constitucionais podemos afirmar que tal possibilidade poderá ser ampliada para além das questões de idade ou capacidade física ou mental, incluindo assim casos como restrição em relação ao sexo, altura mínima e outros. A determinação de requisitos específicos de restrição de acesso a cargos não poderá ser feita apenas no edital do concurso, sendo sempre necessário seu embasamento em lei. Em outras palavras, a simples previsão editalícia não será suficiente, devendo encontrar dispositivo legal válido como fundamentação da exigência. Com a edição da Lei 10.741/03, que introduziu o Estatuto do Idoso, a regra de justificativa da idade máxima ganhou ainda mais força. Lei 10.741/03 Att. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir. Exame Psicotécnico. Etapa muito criticada durante muito tempo a ser adotada em um concurso público pelo simples fato de carregar um componente subjetivo muito forte, a discussão sobre a viabilidade ou não de sua existência hoje está resolvida. Diversos dispositivos legaisforam editados para diversos cargos nas esferas administrativas permitindo a sua aplicação nos concursos públicos. Mesmo com a edição da lei, o entendimento pacificado é que a previsão do exame também deve ocorrer no edital do concurso, momento em que deverão ser apresentados os critérios objetivos de avaliação que serão adotados no certame. Qualquer critério que dependa de avaliação subjetiva adotado no concurso público será reconhecido como uma restrição ilícita. Além disso, deverá também ser oferecido ao candidato inabilitado no exame psicotécnico prazo para propositura de um recurso administrativo como forma de garantir contraditório e ampla defesa em face da decisão. Teste de Aptidão Física. Em alguns concursos, uma das provas que podemos ter que enfrentar para nossa aprovação é a prova de capacidade física, conhecida como TAF. Nos últimos anos, a jurisprudência em relação a essa prova tem aumentado consideravelmente, visto que diversas situações começaram a ser questionadas, assim como ocorreu na época do enfrentamento ao exame psicotécnico, exigindo uma resposta efetiva dos Tribunais Superiores. Uma primeira questão levantada foi a real possibilidade de exigência da realização do exame físico pelos candidatos em todo e qualquer concurso realizado no Brasil. Naquele momento, até mesmo concursos que nada guardavam relação com a necessidade de condicionamento físico específico apresentavam essa etapa em seu edital. Um concurso em especial foi responsável por conduzir o Superior Tribunal de Justiça a reafirmar posicionamento, em 2017, sobre essa possibilidade. O concurso era para o cargo de Segurança Institucional e Transportes. O entendimento firmado estabeleceu alguns requisitos para que tal etapa seja válida no concurso, sendo previsão legal, pertinência com as atividades desenvolvidas, avaliação 13 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br mediante critérios objetivos e possibilidade recursal prevista. A previsão de possibilidade recursal se insere como justificativa para uma segunda jurisprudência importante que destaco aqui. Existem situações imprevisíveis ou até mesmo irresponsabilidades cometidas pelos candidatos que podem fazer com que o interessado não compareça na data e hora prevista para realização do teste físico. Por conta disso, vários candidatos se sentiram lesados por não terem uma segunda chance de realização do exame. Assim, foram várias as propostas de ações judicias na tentativa de instituir um regime de “segunda chance” aos candidatos. O Supremo Tribunal Federal precisou então editar uma tese de repercussão geral, que estabeleceu como única possibilidade de realização de exame físico em uma “segunda chamada” quando o próprio edital estabelecer datas alternativas de realização. Sem tal previsão, não haverá direito a essa segunda tentativa. Mas essa questão da segunda chamada acabou levantando uma certa carga de injustiça em uma condição específica: candidata gestante. No caso, seria afastar completamente a isonomia que rege os concursos públicos impedir a realização do teste físico por candidata gestante em data diferente da prevista no edital. Trata-se de condição peculiar que exige necessidades especiais e que deve ser respeitada e acolhida por toda a coletividade. Assim, fixou-se o entendimento que candidata gestante poderá realizar o concurso em data posterior àquela prevista no edital do concurso. O direito de remarcação inclusive foi estendido para após a realização do concurso, quando a candidata gestante ou lactante ganhou o direito de remarcação do curso de formação. Alguns cargos no Brasil exigem uma etapa diferenciada após a realização do concurso e convocação para o cargo, sendo o curso de formação considerado etapa final para efetiva configuração do vínculo com o Estado. Aliás, alguns editais tem apontado o curso de formação como uma etapa do próprio concurso, quando no passado era considerada apenas uma etapa pós- concurso. Esse detalhe não fará nenhuma diferença par o entendimento apresentado, que se manterá válido. Exigência de Atividade Jurídica. A Constituição Federal prevê para determinados cargos da carreira pública a necessidade de demonstração de atividade jurídica como forma de comprovação de experiência necessária para a execução da atividade estatal específica. A Emenda Constitucional 45 de 2004 foi responsável pela chamada reforma judiciária, alterando diversos dispositivos referentes ao Poder Judiciário, inclusive instituindo a regra de atividade judiciária como requisito para acesso a determinados cargos. Tal previsão é encontrada no texto tanto para assunção do cargo da magistratura nacional quanto para ingresso na carreira do Ministério Público. CF/88 Art. 93. I – ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação; Art. 129. § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação. Por ser uma previsão registrada no próprio texto constitucional, acredito que não é necessário lembrar que não haverá exigência 14 www.ggconcursos.com.br de lei específica prevendo esse requisito. Mas essa observação só é válida no caso das carreiras da magistratura e do Ministério Público, conforme verificado no texto constitucional apresentado, cabendo a lei específica a adoção desse critério, quando justificável, para outros cargos das carreiras jurídicas. O termo atividade jurídica por si só constitui um termo jurídico indeterminado, demandando previsão legal estipulando os elementos necessários para reconhecimento do atendimento a esse regramento. Uma das primeiras definições advindas da avaliação dessa regra foi de que o bacharelado em Direito é ponto inicial de contagem da atividade judiciária, desprezando-se qualquer atividade de estágio acadêmico ou outra atividade anterior à obtenção do grau de bacharel em Direito. Inclusive, a comprovação da atividade jurídica poderá ser exigida já na data de inscrição efetiva do candidato, diferente dos outros requisitos legais (como idade, grau de escolaridade) que só poderá ser exigida a comprovação de atendimento no momento da efetiva posse do candidato nomeado. 3. ACUMULAÇÃO DE CARGOS Como regra, a Constituição Federal determina a impossibilidade de acumulação de cargos, empregos ou funções públicas. Essa regra é aplicada tanto para os entes da Administração Pública Direta quanto para os entes da Administração Pública Indireta, incluindo as subsidiárias desses entes. O fundamento dessa previsão é garantir que o agente público tenha uma atuação eficiente dentro de sua posição na Administração, atuação essa que ficaria prejudicada pela acumulação. Além disso, também afasta a intenção de acumulação de ganhos em detrimento da qualidade de execução das atividades públicas. Parte da doutrina defende que como o texto constitucional afirma ser vedada a acumulação remunerada, seria lícita a acumulação quando apenas uma das fontes de atuação execute o pagamento pelo trabalho. Essa questão não é considerada para fins de concurso, logo, não será nosso foco de avaliação aqui. Porém, como dito, a vedação de acumulação é regra, o que comporta exceção, exceção essa prevista no próprio texto constitucional através de um rol taxativo. Antes de avaliarmos cada uma dessas possibilidades, devemos atentar para o fato de a Constituição Federal definir uma regraessencial para qualquer avaliação de acumulação de cargo: compatibilidade de horários. Portanto, para que a acumulação seja lícita é essencial que a acumulação esteja prevista no texto constitucional e seja feita com compatibilidade de horários. Art. 37. XVI – é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: XVII – a proibição de acumular estende- se a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo Poder Público; Em relação a questão da compatibilidade, existe uma divergência que devemos explorar. Por um lado, diversas decisões apontam para a possibilidade de acumulação independentemente da quantidade de horas de trabalho na semana. Por outro lado, decisões estabelecendo uma carga horária semanal máxima de sessenta horas a ser respeitada. Recentemente, o STF se posicionou, dando repercussão geral à decisão, demonstrando entender não haver lógica a determinação de um limite de horário semanal para acumulação de cargo. A Emenda Constitucional 19/98 também trouxe para nosso ordenamento uma 15 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br nova regra quanto à acumulação de cargo: a acumulação das remunerações não poderá exceder o teto remuneratório (estudaremos melhor esse assunto mais a frente) estipulado na Constituição Federal. No caso de a acumulação de remuneração ultrapassar o teto, não estaremos diante de uma vedação ao direito de acumulação, mas da previsão de que nesse caso uma das remunerações deverá ser reduzida para que os recebimentos acumulados respeitem o teto. Outro detalhe interessante é quanto a possibilidade de acumulação dos proventos de aposentadoria com o vencimento de cargo, emprego ou função pública. A Constituição Federal aponta a vedação dessa possibilidade, exceto no caso de cargos acumuláveis legalmente. Art. 37. § 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrentes do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração. Art. 40. § 6º Ressalvadas as aposentadorias decorrentes dos cargos acumuláveis na forma desta Constituição, é vedada a percepção de mais de uma aposentadoria à conta de regime próprio de previdência social, aplicando-se outras vedações, regras e condições para a acumulação de benefícios previdenciários estabelecidas no Regime Geral de Previdência Social. § 11 – Aplica-se o limite fixado no art. 37, XI, à soma total dos proventos de inatividade, inclusive quando decorrentes da acumulação de cargos ou empregos públicos, bem como de outras atividades sujeitas a contribuição para o regime geral de previdência social, e ao montante resultante da adição de proventos de inatividade com remuneração de cargo acumulável na forma desta Constituição, cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, e de cargo eletivo. Da análise dos dispositivos apontados podemos extrair três situações de acumulação possíveis: provento de aposentadoria com remuneração de cargo em comissão, provento de aposentadoria com remuneração de qualquer cargo eletivo e provento de aposentadoria com remuneração de cargo acumulável durante a atividade. A acumulação remunerada de cargos poderá se dar mesmo no caso de acumulação em regimes distintos. Assim, poderá o detentor de um cargo público acumular comum emprego público, valendo o contrário também, além das situações clássicas de acumulação de dois cargos sob mesmo regime. Logicamente, a possibilidade de acumulação de cargos e vencimentos se dará no limite de duas fontes remuneratórias, não se permitindo acumulação de três ou mais cargos Assim, cabe apresentar as situações em que a Constituição permite a acumulação remunerada de cargos, aprofundando a análise em alguns casos que exigem um pouco mais de detalhamento: Art. 37. XVI – é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; O conceito de cargo técnico ou científico não foi devidamente apontado pela legislação constitucional e não possui uma previsão 16 www.ggconcursos.com.br legal específica que o delimite. Assim, aplica- se o entendimento prevalente nos Tribunais Superiores. Considera-se cargo técnico "aquele que requer conhecimento específico na área de atuação do profissional, com habilitação específica de grau universitário ou profissionalizante de 2º grau". Assim, não necessariamente se aponta para um cargo de nível superior, mas para qualquer cargo que exige da pessoa um conjunto de conhecimentos especializados de determinada área. Cargo científico "é o conjunto de atribuições cuja execução tem por finalidade a investigação coordenada e sistematizada de fatos, predominantemente de especulação, visando a ampliar o conhecimento humano." Não basta o cargo deter a denominação de técnico para que assim seja definido. Com esse entendimento, os Tribunais Superiores já afastaram diversas tentativas de reconhecimento de acumulação de cargo para detentores de cargo de técnico administrativo em Tribunais. O que importa não é o nome, mas o fato de a função exercida exigir uma atuação diferenciada das tradicionais ações burocráticas e rotineiras. c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas; Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam- se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando- se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: II – o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea "c", será transferido para a reserva, nos termos da lei; Considera-se profissionais de saúde com profissões regulamentadas profissionais que exercem atividade técnica diretamente ligada ao serviço de saúde, como médicos, enfermeiros e outros. Assim, não pode se estender a regra aos agentes públicos que atuam em órgãos de prestação de serviço de saúde ou afins. Com a alteração feita no artigo 142 da Constituição Federal através da Emenda Constitucional 2001/04, passou-se a prever a possibilidade de acumulação de cargos também para profissionais de saúde em carreiras militares. Sendo assim, um agente que exerce a atividade de médico militar terá direito a acumulação de seu cargo com outro cargo público de médico de outra carreira militar ou civil, sempre com a ressalva de serem compatíveis os horários. Além das situações previstas no inciso aqui apresentado, encontramos no texto constitucional outras condições permissivas de acumulação de cargos. Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: III – investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; Essa regra é válida especificamentepara acumulação do cargo ou emprego público com um cargo eletivo municipal de vereador, não sendo válida para os outros cargos eletivos disponíveis no ordenamento político 17 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br brasileiro. Observe novamente o requisito de acumulação de horários sendo o único impeditivo quanto a essa acumulação. Os demais casos que demandarão afastamento serão estudados em tópico específico ainda nesse capítulo. Art. 95. Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; Art. 128. §5º. § 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores- Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: II – as seguintes vedações: d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério; Dos dois dispositivos apresentados acima percebemos a possibilidade de acumulação de cargos tanto da magistratura quanto do Ministério Público com o cargo de professor. Porém, com receito de tal permissão acabar afetando a prestação da atividade pública pelo membro do Ministério Público, o Conselho Nacional do Ministério Público editou resolução limitando a possibilidade de acumulação. Resolução 73/2011 CNMP Art. 1º. Ao membro do Ministério Público da União e dos Estados, ainda que em disponibilidade, é defeso o exercício de outro cargo ou função pública, ressalvado o magistério, público ou particular. § 2º Haverá compatibilidade de horário quando do exercício da atividade docente não conflitar com o período em que o membro deverá estar disponível para o exercício de suas funções institucionais, especialmente perante o público e o Poder Judiciário. Art. 2º. Somente será permitido o exercício da docência ao membro, em qualquer hipótese, se houver compatibilidade de horário com o do exercício das funções ministeriais, e desde que o faça em sua comarca ou circunscrição de lotação, ou na mesma região metropolitana. 4. REMUNERAÇÃO Remuneração é o montante percebido pelo servidor público como contraprestação do exercício das atividades públicas formado pelo somatório de várias parcelas pecuniárias. Segundo a Lei 8.112/90, é a soma do vencimento do cargo com as vantagens permanentes percebidas em decorrência de sua situação funcional. Vencimento é a parcela fixa percebida por qualquer pessoa que possua o vínculo com o cargo específico da Administração. Vantagem é parcela variável, decorrente da peculiaridade de cada cargo ou da própria situação pessoal do servidor. Alguns estatutos utilizam o termo vencimentos para tratar da remuneração. Assim, vencimentos (plural) é sinônimo de remuneração e vencimento é parcela que forma a remuneração. Lei 8.112/90 Art. 41. Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. Art. 40. Vencimento é a retribuição pecuniária pelo exercício de cargo público, com valor fixado em lei. Art. 49. Além do vencimento, poderão ser pagas ao servidor as seguintes vantagens: I – indenizações; 18 www.ggconcursos.com.br II – gratificações; III – adicionais. Por se configurar como verba de caráter alimentar resultante da contraprestação do serviço, a remuneração do servidor não poderá sofrer arresto, sequestro ou penhora, visto sua restrição poder resultar em riscos incalculáveis para o servidor e seus dependentes. Assim, define Edmir Netto de Araújo que “a natureza jurídica do vencimento é considerada, hoje em dia, sob o duplo enfoque da contraprestação pelo serviço prestado e de seu caráter alimentar, que, desde as Ordenações Filipinas, vigentes até o império, encontra guarida no direito positivo brasileiro, como meio destinado à manutenção e subsistência do agente público e de sua família, sendo, por isso, impenhorável ou insuscetível de arresto, sequestro ou retenção pela Administração". Em relação ao vencimento, o fato que o gera é normalmente a prestação de uma atividade pelo servidor referente ao seu cargo, podendo também resultar em situações especiais em que o servidor não exerce atividade. Seria o caso das férias e eventual licença remunerada concedida ao servidor, por exemplo. No caso de a nomeação do servidor ser anulada, seja por invalidação do concurso seja por identificação de irregularidades em seu provimento, as parcelas ligadas ao vencimento se converterão em indenização pelo tempo trabalho, conforme estudamos na aplicação da teoria do funcionário de fato. A remuneração do servidor público deverá ser fixada em lei específica, sendo também utilizada a sistematização legislativa para eventual alteração ou revisão dos valores remuneratórios. A lei específica de fixação da remuneração dos servidores é de iniciativa de cada Poder, sendo determinado que no Poder Executivo tal incumbência é do Chefe do Poder Executivo, no Poder Judiciário são competentes o Superior Tribunal Federal, os Tribunais Superiores e os Tribunais de Justiça e no Poder Legislativo terão iniciativa para edição da lei à Câmara dos Deputados e o Senador Federal. Quanto aos membros do Ministério Público a iniciativa está reservada para o Procurador-Geral. Apesar da previsão constitucional ser a de necessidade de lei específica para fixação doa valores remuneratórios relacionados ao sistema administrativo, a própria Constituição Federal apresenta algumas exceções. Em relação a remuneração do Presidente da República e seu vice, Ministros de Estados, Deputados Federais e Senadores poderão ser estabelecidos por meio de decreto legislativo. Na fixação da remuneração dos vereadores, poderá a Câmara de Vereadores fixar com a edição de decreto legislativo. Importante destacar que após a reforma administrativa de 1998, a remuneração dos membros de Poder, dos detentores de cargo eletivo, dos Ministros de Estado e dos Secretários Estaduais e Municipais, dos membros do Ministério Público e da Defensoria Pública (incluindo Procuradorias Estaduais e do Distrito Federal) e dos servidores policias integrantes das policias de Segurança Pública passou a ser denominada subsídio, forma remuneratória diferenciada da remuneração comum por ser estabelecida em parcela única, não existindo aqui o acréscimo de valor referente a condições eventuais do agente público, como ocorre nas vantagens. Assim, subsídio é pago somente com a parcela do vencimento, não existindo parcela variável em seu pagamento. Apesar dessa previsão de parcela única parecer muito rígida, o mesmo texto constitucional estabelece a concessão de diversos direitos concedidos ao trabalhados da iniciativa privada que servem como um acréscimo pecuniário ao subsídio, excepcionalizada assim a regra inicial. CF/88 Art. 39. § 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto 19 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. § 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI. Cumpre destacar que, no que tange ao recebimento dos empregados públicos, por serem regidos pela CLT, aplica-se o regramento da iniciativa privada, adotando- se apenas algumas regras constitucionais cabíveis. Destacaremos cada caso no decorrer desse tópico. Entendida a parte geral sobre o assuntoremuneração, vamos agora destacar os principais dispositivos constitucionais sobre o tema. 5. TETO REMUNERATÓRIO Uma das grandes novidades introduzidas pela Constituição Federal de 1988 foi a definição de um limite máximo pra remuneração de agentes públicos dentro da organização administrativa, que ficou conhecido como o teto remuneratório. Assim, ficou definido como teto máximo de recebimento na Administração Pública Nacional a remuneração dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Cabe ressaltar que esse limite independente da espécie de vínculo entre estado e agente público, sendo aplicado aos temporários, comissionados, agentes políticos, servidores estatutários ou empregados celetistas. Art. 37. XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; Com a aprovação da Emenda Constitucional 41 no ano de 2003, o texto constitucional passou a prever a possibilidade de determinação de tetos específicos dentro da estrutura administrativa de cada ente federado. Esses subtetos ou tetos parciais ficaram assim determinados: → Estados e Distrito Federal: No caso do Poder Executivo, o teto remuneratório é o valor pago ao Governador; no caso do legislativo, o subsídio do Deputado Estadual e Distrital; já no Judiciário, ficou definido como teto o subsídio do Desembargador de Justiça. 20 www.ggconcursos.com.br → Municípios: Ficou estabelecido teto único, seja qual for o Poder ao qual o agente público está vinculado, sendo o subsídio do Prefeito. Com a edição da Emenda Constitucional 47 no ano de 2005, a Constituição passou a deter um dispositivo que permitiu aos Estados e ao Distrito Federal fixar, através de emenda às respectivas Constituição Estaduais e à Lei Orgânica Distrital, o subsídio mensal do Desembargador de Justiça como teto único. CF/88 Art. 37. § 12. Para os fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores. Conforme citado anteriormente, os valores que ultrapassarem do respectivo teto serão imediatamente reduzidos para que se possa respeitar teto remuneratório determinado. Ocorre que a doutrina e a jurisprudência vêm excluindo do teto remuneratório alguns valores específicos pagos aos agentes públicos baseando-se em diversos dispositivos legais. Por isso, temos como exceções ao teto remuneratório: • Verbas Indenizatórias: Pelo fato de não possuírem natureza de acréscimo patrimonial, mas de devolução ou reparação ao servidor. • Remunerações Decorrentes de Cargos Públicos Acumulados Com o Cargo de Magistério: Definido por orientação jurisprudencial e doutrinária, permite reconhecer a importância da disseminação de conhecimento dos agentes públicos mediante remuneração correspondente. • Benefícios Previdenciários. • Atuação na Justiça Eleitoral: A Justiça Eleitoral não possui estrutura própria, não existindo assim concurso na área da magistratura eleitoral. A composição da justiça eleitoral se dá através do “empréstimo” feito pelos outros órgãos judiciais. • Exercício Temporário de Função Cumulativa. 6. ESTÁGIO PROBATÓRIO, ESTABILIDADE E VITALICIEDADE O candidato aprovado em concurso público para assumir cargo público, após a efetivação de sua relação com a administração (resultante do efetivo exercício do cargo) passará a ser avaliado e observado em suas atribuições como forma de “medir a adequação” do servidor ao cargo. Devemos notar que, até aqui, o candidato foi aprovado em um concurso composto por diversas fases, e se mostrou apto intelectualmente, física e mentalmente, pelo menos. A questão agora é avaliarmos o último detalhe essencial de um agente público: sua adaptação ao cargo ocupado. Nem sempre o candidato aprovado se adequa ao trabalho que assumiu, talvez por não ter devidamente estudado o cargo que estava em disputa, talvez por ter acreditado ser “um sonho” assumir determinado cargo e descobrir que não era bem aquilo que imaginava. Há casos também em que, apesar da adaptação ao ambiente de trabalho e às atribuições relacionadas ao cargo assumido, o servidor não se mostra competente o suficiente para realmente possuir aquelas obrigações em suas mãos. 21 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br O devido cuidado com o interesse público e com a coisa pública é vertente determinante da atividade pública. Assim, um servidor que não consegue atender aos anseios e exigências do cargo não merece que o seu vínculo seja mantido intacto com o Estado. Por conta disso, foi criado o instituto do estágio probatório, que se apresente como uma nova etapa pós-concurso caracterizada por avaliar requisitos específicos do servidor. Compara-se com o contrato de experiência do direito privado, por servir como um instrumento de confirmação da adequação do servidor ao cargo ocupado. Dentro do estágio probatório serão analisados aspectos como aptidão, produtividade, capacidade de desempenho das atividades, responsabilidade e outras características essenciais para o devido exercício da atividade pública. Apesar de existir uma certa confusão criada por nossas leis que, ainda hoje, não se adequaram aos mandamentos constitucionais, o prazo legal para realização do estágio probatório em todas as esferas da Administração Pública é de 3 (três) anos. Observe como legislação federal vigente e Constituição Federal não “combinaram bem o discurso”. CF/88 Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. Lei 8.112/90 Art. 20. Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para cargo de provimento efetivo ficará sujeito a estágio probatório por período de 24 (vinte e quatro) meses, durante o qual a sua aptidão e capacidade serão objeto de avaliação para o desempenho do cargo, observados os seguinte fatores: Acontece que o prazo de 3 (três) anos hoje adotado no sistema administrativo brasileiro foi introduzido com a reforma administrativa de 1998. Até então, o prazo era de 2 (dois) anos, estando assim de acordo a legislação federal específica. Após a alteração do texto constitucional, não foi feita a devida correção no texto infraconstitucional, o que ainda gera certa dúvida sobre a validade ou não desse dispositivo. Claramente, prevalece o ditame constitucional, servindo a legislação infraconstitucional apenas como norma determinante do funcionamento do estágio probatório.Para parte da doutrina, não há porque se falar em conflito de normas porque, na realidade, os institutos tratam de disposições distintas, sendo a Constituição Federal responsável pela determinação do prazo para aquisição de estabilidade e a lei infraconstitucional definiria apenas o prazo do estágio probatório, não sendo então coincidentes. Essa discussão se arrastou por um longo período, até que em 2010 os Tribunais Superiores passaram a oferecer diversas decisões apontando para uma unicidade dos instrumentos, sendo o prazo de estabilidade e de estágio probatório os mesmos. Além da alteração do prazo de duração do estágio probatório, a reforma administrativa de 1998 também introduziu uma novidade no sistema administrativo: após completar o prazo previsto de estágio, o servidor ainda deve ser submetido a uma avaliação especial de desempenho para verificação de sua qualificação antes da concessão definitiva de sua estabilidade. Tal avaliação deverá ser realizada por uma comissão instituída para essa única finalidade, sendo sua decisão final quanto a concessão ou não da estabilidade ao servidor. Caso a Administração não constitua a comissão ou retarde a decisão para além do prazo de três anos determinado no texto constitucional, considera-se que o servidor recebeu o direito de estabilidade, dispensando a avaliação especial de desempenho ora exigida na Constituição Federal. 22 www.ggconcursos.com.br As regras de estágio probatório e estabilidade não alcançam os empregados públicos, já que esses são regidos pela CLT, que não prevê tais institutos, além do texto constitucional expressamente apontar apenas para servidor nomeado esse direito. Nomeação, conforme veremos mais à frente, é figura típica do regime estatutário. Também não se estenderá o direito de estabilidade aos detentores de cargos de livre nomeação e livre exoneração, por total incompatibilidade com a transitoriedade que caracteriza tais cargos. Estabilidade é uma garantia constitucional atribuída a detentores de cargos efetivos da Administração Pública, que não se deve confundir com uma garantia de permanência no cargo, que prevê condições específicas para dispensa do servidor público, garantindo assim uma proteção maior ao vínculo firmado com o Estado se comparado com vínculos trabalhistas regidos pela CLT, por exemplo. Vale destacar que, apesar de não ser garantido ao empregado público acesso à garantia de estabilidade no cargo, o entendimento prevalente no direito moderno é de que não poderá ser o empregado público dispensado do cargo sem a devida justificativa administrativa, pois trata-se de um ato administrativo que restringe direito e, na forma do princípio da motivação, exige tal justificativa. Esse entendimento se extrai de uma decisão do STF que tratou de um caso específico referente à dispensa de empregado público da ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), que tem servido como base para posteriores decisões sobre outros empregos públicos mantidos pela Administração Pública. Como citado, a estabilidade é uma garantia ao servidor que cria um sistema mais rígido de dispensa do servidor. Logo, são apenas em casos específicos que o servidor, após a aquisição da estabilidade, poderá perder o cargo. CF/88 Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. § 1º O servidor público estável só perderá o cargo: I – em virtude de sentença judicial transitada em julgado; II – mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa; III – mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa. Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. § 3º Para o cumprimento dos limites estabelecidos com base neste artigo, durante o prazo fixado na lei complementar referida no caput, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios adotarão as seguintes providências: I – redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e funções de confiança; II – exoneração dos servidores não estáveis. § 4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem suficientes para assegurar o cumprimento da determinação da lei complementar referida neste artigo, o servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato normativo motivado 23 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br de cada um dos Poderes especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal. Por fim, a vitaliciedade configura uma garantia de que os agentes públicos de determinadas carreiras, em razão de sua natureza e grau de responsabilidade inerente às atividades exercidas, somente perderão seus cargos por decisão judicial transitada em julgado. Assim, as outras hipóteses de perda de cargo dos servidores protegidos pela estabilidade não serão aplicáveis aos detentores da vitaliciedade. Na forma da Constituição Federal, a vitaliciedade será garantida para membros da carreira da magistratura, membros do Ministério Público e ministros e conselheiros dos Tribunais de Contas. CF/88 Art. 73. § 3° Os Ministros do Tribunal de Contas da União terão as mesmas garantias, prerrogativas, impedimentos, vencimentos e vantagens dos Ministros do Superior Tribunal de Justiça, aplicando-se-lhes, quanto à aposentadoria e pensão, as normas constantes do art. 40. Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado; Art. 128. §5º. I – as seguintes garantias: a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado; Em regra, a vitaliciedade nos cargos citados será conquistada após 2 (dois) anos de efetivo exercício no cargo. Excepcionalmente, no caso daqueles que ingressarem na carreira da magistratura mediante nomeação direta, como no caso do quinto constitucional, de nomeação de Ministro do STF ou dos ministros e conselheiros dos Tribunais de Contas, a vitaliciedade será concedida imediatamente no momento da posse. 7. REGIME DE PREVIDÊNCIA Regime previdenciário é o conjunto de normas constitucionais e infraconstitucionais que outorga benefícios ao trabalhador brasileiro, com o objetivo de lhe assegurar e à sua família uma retribuição pecuniária. A ideia central da previdência é de criar um mecanismo que seja responsável por garantir a manutenção da vida comum ao trabalhador no futuro, após seu desligamento total das atividades laborais. Assim, ao atender a requisitos específicos e conquistar o seu direito de aposentadoria, o trabalhador não ficará sem resguardo financeiro. O Sistema Previdenciário Nacional apresenta três regimes aplicáveis em situações específicas. A previdência social é dividida em regime público e regime privado. O regime público é de filiação obrigatória, abrangendo o Regime Geral (RGPS), administrado pelo INSS e pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, e o Regime Próprio (RPPS), destinado aos servidores públicos civis e aos servidores militares. Já o regime privado (Regime Complementar) é de filiação facultativa, subdividida em entidade aberta e entidade fechada. Em relação às características do regime de previdência complementar, iniciamos a avaliação do regime por entidade aberta. • Acessível a todos; • Finalidade lucrativa (geralmente oferecido por instituições bancárias); 24 www.ggconcursos.com.br • Regime financeirode capitalização; • Concessão de benefícios de aposentadoria e pensão por morte; • Segurador Pessoa Jurídica de Direito Privado e Segurado Pessoa Física, necessariamente; • Planos de benefícios individuais e coletivos; • Possibilidade de portabilidade. Já o regime complementar oferecido por entidade fechada tem por características: • Destinada a órgãos públicos; • Instituída e regulamentada por lei; • Destinado para empregados de empresas ou grupo de empresas, servidores públicos e associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial. O Regime Geral de Previdência Social é o regime aplicado aos empregados públicos, regido por legislação privada e previsto na Constituição Federal em título próprio. Não será foco de nosso estudo nessa obra. Apesar disso, vale destacar que a Constituição Federal determina a aplicação, de forma subsidiária, do regime geral de previdência em situações específicas. Esses detalhes serão estudados dentro do necessário em nosso trabalho. O Regime Próprio de Previdência Social é aquele aplicado aos servidores públicos, regido por normas de direito público, e será o foco de nosso estudo. A partir desse momento estudaremos, logicamente, as regras de aposentadoria encontradas na Constituição Federal, que tem como foco o servidor público. Aponto aqui que o regime previdenciário que estudaremos exige que o servidor seja regido por um documento estatutário e possua vínculo de efetividade com a Administração Pública. O RPPS (ou regime previdenciário especial) é regulamentado pela Lei 9.717/98, que estabelece regras básicas do regime e abrange servidores de todas os entes federados do Brasil. As entidades públicas não podem adotar mais de um regime previdenciário especial para servidores titulares de seus cargos, pois não poderá haver distinção entre categorias funcionais. Além disso, a Constituição impõe que exista apenas uma unidade gestora por entidade federativa, que receberá a atribuição de desempenhar a gestão dos variados componentes do regime, como arrecadação, contribuição, pagamento de benefícios, configurando o princípio da unicidade de regime e gestão previdenciária. CF/88 Art. 40. § 20. É vedada a existência de mais de um regime próprio de previdência social e de mais de um órgão ou entidade gestora desse regime em cada ente federativo, abrangidos todos os poderes, órgãos e entidades autárquicas e fundacionais, que serão responsáveis pelo seu financiamento, observados os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica definidos na lei complementar de que trata o § 22. Como vimos, a aplicação do regime especial de previdência demanda um vínculo efetivo entre servidores e Estado, não se aplicando tal regime no caso dos detentores de vínculo temporário ou precário com a Administração Pública, na forma do texto constitucional. Nesse caso, adota-se o Regime Geral de Previdência Social. CF/88 Art. 40. § 13. Aplica-se ao agente público ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego público, o Regime Geral de Previdência Social. 25 Matéria Estatutária e Institucional – Prof. Dalmo Azevedo www.ggconcursos.com.br Em resumo, as normas do Regime Próprio de Previdência Social não são aplicadas nos casos de servidores ocupantes de cargos em comissão, empregados públicos e servidores temporários, casos em que adotaremos o Regime Geral de Previdência Social. Um detalhe importante: observe que no texto constitucional o legislador apontou para o servidor que ocupe exclusivamente um cargo de comissão, entendendo que se trata de alguém que não ocupe cargo efetivo na Administração Pública. No caso de ser detentor de cargo comissionado mas possuir cargo efetivo, prevalecerá o cargo do quadro permanente para definição do regime previdenciário, aplicando-se assim as regras do RPPS. A previsão de regras previdenciárias no texto constitucional não afasta a possibilidade dos estatutos funcionais próprios de cada ente federado suplementarem tais regras, sem que afrontem as normas constitucionais vigentes. Ocorre que o texto constitucional é extenso e detalhado, deixando pouca margem de “inovação” para os legisladores infraconstitucionais. Definitivamente, uma das alterações mais impactantes no sistema de previdência nacional foi a de 2019, que trouxe diversas características inovadoras ao sistema até então vigente. Aproximação de Regimes. Uma das grandes críticas feitas ao sistema de previdência que prevalecia no Brasil apontava para uma diferenciação muito grande entre os regimes de direito público e privado, principalmente em relação aos proventos do benefício que tinham cálculos e regras diferenciadas. Servidores ocupantes de cargos efetivos, até então, gozavam de direitos como paridade e integralidade de seus benefícios previdenciários. Basicamente, o sistema garantia ao servidor que, após passar para a inatividade, continuaria recebendo o mesmo valor do último salário recebido em exercício e teria acesso aos reajustes subsequentes obtidos por seus pares no plano de carreira. Tais previsões não existiam no regime geral de previdência, que apresentava um teto de proventos aos trabalhadores regidos por seu sistema, criando um abismo gigante de direitos entre os trabalhadores. No atual quadro identificado pós reforma de 2019, decretou-se a eliminação quase completa da paridade e da integralidade aos servidores regidos pelo Regime Próprio (Especial) de previdência. CF/88 Art. 40. § 2º Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores ao valor mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores ao limite máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência Social, observado o disposto nos §§ 14 a 16. Desconstitucionalização. Com o novo texto do parágrafo apresentado acima, passou-se a adotar a aplicação do teto de proventos do Regime Geral de Previdência Social para os servidores do Regime Próprio de Previdência Social. Para que o servidor venha a ganhar mais do que o teto do Regime Geral, se tornou essencial o desenvolvimento do Regime Complementar de Previdência. Grande característica da reforma da previdência de 2019, diversos dispositivos que tratavam diretamente das regras de aposentadoria dentro do texto constitucional foram substituídos por uma reserva legal. Ou seja, a Constituição Federal deixou de apontar regras específicas do Regime de Previdência diretamente em seu texto e passou a prever a edição de legislação específica do respectivo ente federativo para regulamentar as regras. Regras de Transição. Por conta da desconstitucionalização que foi adotada pela reforma da previdência, muitas regras de aplicação do RPPS ficaram em aberto, por força de sua dependência de edição de lei específico, sendo assim identificadas como 26 www.ggconcursos.com.br normas de eficácia limitada. Para resolver esse “problema” que foi criado pela reforma, o próprio texto da Emenda Constitucional nº 103 trouxe diversas regras que devem ser adotadas até que a lei específica seja editada, criando assim as chamadas regras de transição. Seguindo o novo sistema de desconstitucionalização, a regra estampada na Constituição Federal aponta para a vedação de adoção de critérios diferenciados para aquisição de benefícios previdenciários, salvo em casos previstos em legislação específica. Ocorre que o próprio texto constitucional aponta para algumas situações em que a haverá adoção de regime diferenciado para aquisição de tais direitos. CF/88 Art. 40. § 4º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios em regime próprio de previdência social, ressalvado o disposto nos §§ 4º-A, 4º-B, 4º-C e 5º. No caso de servidores públicos com deficiência, na forma de lei complementar, após uma avaliação
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