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Sociologia geralSociologia geral AUTORIA Flávio Donizete Batista Bem vindo(a)! Olá, prezado e prezada, estudante. Com alegria convido você a realizar um interessante estudo de Sociologia, que ajudará a conhecer um pouco mais da sociedade em que vivemos. O objetivo é aproximar você das investigações, re�exões e teorias das Ciências Sociais, que nos ajudam a entender um pouco do dos elementos que constituem nosso cotidiano vivido em sociedade. Vamos abordar os antecedentes do estudo da sociedade, buscando conhecer um percurso histórico que preparou o surgimento da Sociologia no �nal do século XIX. Buscaremos conceituar a Sociologia, a partir daquilo que seus pensadores principais apontaram ser seu objeto especí�co de estudo. Trataremos de um importante tema que é a cultura, mostrando seu signi�cado e sua rica diversidade, mostrando a necessidade de aprendermos a valorizar a nossa cultura e a daqueles que são diferentes de nós. E, por �m, vamos estudar sobre a política e o poder, tão necessários para a manutenção desenvolvimento de nossa vida. Obviamente não será possível abordar todos os itens que envolvem a vida em sociedade e que são estudados pela Sociologia. Mas será uma importante oportunidade para iniciarmos nossos estudos sociológicos, e nos despertará para novas leituras e pesquisas, cientes de que sempre há ainda muito a aprender. Um excelente estudo a todos! Grande abraço. Sumário Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da unidade, assista ao vídeo de considerações �nais. Unidade 1 O pensamento sobre a sociedade: breve resgate histórico Unidade 2 O pensamento clássico e contemporâneo da sociologia Unidade 3 Cultura e sociedade Unidade 4 Política e poder O pensamento sobre a sociedade: breve resgate histórico AUTORIA Flávio Donizete Batista Sumário Introdução 1 - A Sociologia: antecedentes na história 2 - O Renascimento e as novas formas de pensar a sociedade 3 - O Iluminismo e o Liberalismo 4 - O positivismo de Auguste Comte e a Sociologia Considerações Finais Introdução Todos nós vivemos em sociedade, e até o mais remoto ermitão é um ser humano que já foi socializado e optou pelo isolamento da sociedade. Entretanto, isolamento individual não é isolamento da sociedade. O mero ato de pensar é um ato social; aprender a linguagem é uma ato social. Embora qualquer um de nós venha ao mundo com a capacidade de aprender línguas, só as aprendemos em contato com o mundo social. Essa constatação simples, “vivemos em sociedade”, deu origem a muitas re�exões sobre o lugar do indivíduo no mundo. Desde o �m do século XIX, essas re�exões têm sido sistematizadas em ciências, denominadas Ciências Sociais. A proposta nesta unidade é convidar você a conhecer alguns aspectos que antecederam na história essas ciências, nos ajudando a aumentar nossa compreensão sobre o que signi�ca conhecer a vida em sociedade. Plano de Estudo: 1. A sociologia: antecedentes na história 2. Os gregos e as origens do pensamento cientí�co 3. O Renascimento e as novas formas de pensar a sociedade 4. Maquiavel e a emergência da Ciência Política 5. O iluminismo e o liberalismo 6. O positivismo de Auguste Comte e a Sociologia Objetivos de Aprendizagem: 1. Conhecer os precursores do pensamento sobre a sociedade. 2. Compreender o processo de desenvolvimento histórico da ciência social. 3. Estabelecer relações entre os momentos históricos e a forma de pensar a sociedade. A Sociologia: antecedentes na história A Sociologia resultou de um movimento de ideias que teve início com os gregos antigos e foi retomado no Renascimento. Segundo Costa (2016), grandes mudanças na sociedade ocidental - desenvolvimento do capitalismo, do colonialismo, das ciências e da tecnologia - levaram os pensadores a se afastar da visão religiosa do mundo da época e a analisar crítica e objetivamente a vida social. Escreve a autora: Embora, desde os primórdios da humanidade, as forças sociais tenham agido sobre o comportamento humano, nem sempre tivemos consciência da maneira pelas quais elas se constituem e atuam sobre nós. Como nas demais ciências, as explicações sobre a sociedade e o modo como convivemos com ela foram regidas por crenças de base religiosa ou mítica. As ciências vão se constituindo à medida que as crenças adotadas se tornam incapazes de resolver nossos problemas (COSTA, 2016, p. 16). O fato de o homem relacionar as forças da natureza com as ideias religiosas e vê-las como deusas ou deuses não foi su�ciente para responder às perguntas importantes sobre a vida ou para resolver os problemas concretos que as sociedade enfrentavam no dia a dia. Diante de questões como essas, era preciso estudar a natureza e a vida de forma objetiva para obter respostas humanas sobre os problemas humanos. Assim se desenvolveu o pensamento cientí�co, que, ao longo dos séculos, tentou substituir as explicações religiosas. O mesmo ocorreu com as Ciências Humanas. As explicações puramente �losó�cas ou religiosas mostraram-se inadequadas para atender certas necessidades de ação sobre o homem e sobre a sociedade. Vimo-nos obrigados a, por meio de métodos mais adequados, desenvolver o pensamento cientí�co sobre a sociedade. Foi assim que surgiu a Sociologia - o pensamento cientí�co sobre como o “eu” e os “outros” interagem, interferindo em nossa maneira de pensar em nosso comportamento, permitindo diagnosticar situações, descrever tendências, prever atitudes e superar obstáculos. Os gregos e as origens do pensamento cientí�co. Os gregos antigos, habitantes de uma península que se abria para o Oriente, foram um povo original - comerciantes, navegadores e viajantes que aprenderam a conviver com diferentes povos e culturas, dos quais receberam inúmeras in�uências e conhecimentos. Além disso, desenvolveram o apreço pela re�exão, dedicando-se à Filoso�a. Tinham um estilo de vida urbano e um agudo apreço pela vida pública. Os gregos não formaram impérios como os egípcios e os mesopotâmios, mas desenvolveram uma cultura diversi�cada, cuja principal unidade eram as cidades- Estado. Cidades como Atenas, Esparta, Tebas e Corinto, entre outras, eram independentes entre si e cada qual criou suas leis, a sua organização sociopolítica e as suas tradições. Entretanto, compartilhavam a mesma língua, mitologia e tradições, denominada helenística. Essa cultura, posteriormente, foi apropriada pelo Império Romano, que a difundiu pela Europa e pelo Oriente. O crescimento econômico das cidades gregas, promovido pela expansão comercial e colonial, com base no trabalho escravo, permitiu o surgimento de uma elite livre das tarefas e do trabalho, com tempo e recursos para o exercício e a intensa prática da re�exão sobre a própria cultura e daquelas advindas dos povos com quem conviviam e comerciavam. Isso lhes permitiu desenvolver as artes, a Filoso�a e o pensamento racional. Foram capazes, então, de organizar sistematicamente diferentes áreas do conhecimento, como a Geometria, a Filoso�a e a Política. Deram grande importância ao espírito público e à participação política, sendo responsáveis pela criação de um regime político único, com base na participação de parte dos cidadãos na vida pública: a democracia. Costa (2016) acrescenta que o pensamento cientí�co não se desenvolveu entre os gregos antigos, como viria a se realizar na Europa, séculos mais tarde. Isso porque o conhecimento helênico e as teorias ainda tinham a in�uência de uma concepção metafísica da realidade. Entretanto, foi essa herança grega de um pensamento �losó�co capaz de conceber a vida pública e a importante ação do homem sobre a coletividade que, resgatado na Europa a partir do século XV, lançou as bases do que viria a ser o pensamento sociológico. O Renascimento e as novas formas de pensar a sociedade O Renascimento é o período da história da Europa que se inicia por volta do século XIV, quando, depois de quase mil anos de feudalismo - sociedademarcada pela propriedade rural, produção agrária e servidão, assim como pelo domínio da Igreja Católica -, desenvolve-se um novo modo de vida social com base no comércio, na vida urbana e no poder laico. Vale destacar o que escreve Costa: O controle das pestes que assolaram a Europa na Idade Média, a invenção do arado, entre outros instrumentos agrários, as Cruzadas e a descoberta de rotas comerciais como Oriente permitiram a ascensão da burguesia, uma nova classe social que se desloca do meio agrário e passa a se dedicar ao comércio. Aos poucos, essa atividade, inicialmente subsidiária, ganha impulso e, sediada nas cidades, promove o Renascimento comercial e urbano. As navegações marítimas se intensi�caram e o colonialismo se expande por outros continentes, formando-se os Estados Nacionais, como Portugal e Espanha. O comércio se expande e o lucro que ele possibilita se torna, cada vez mais, o principal objetivo das atividades econômicas (2016, p. 19). Essas condições são elementos de um sistema econômico renovado, o capitalismo, alicerçado na propriedade privada e no trabalho assalariado: inicialmente por meio do comércio, depois, por meio da indústria. Para que esse novo sistema tivesse pleno desenvolvimento, era preciso transformar a sociedade europeia, ainda presa aos princípios feudais, promovendo uma cultura voltada à prosperidade material, à felicidade terrena e à vida pública, princípios que regiam algumas sociedades da Antiguidade. Por isso, os pensadores renascentistas buscaram no passado as suas fontes de inspiração para a nova cultura, especialmente na cultura antiga e na herança greco-romana. Nesta cultura antiga, seriam encontrados elementos contrários à cultura medieval - calcada na religião e numa mentalidade conservadora do ponto de vista moral e social, a qual dividia os seres humanos em linhagens, regiões, dinastias e relações servis. Isso explica por que esse período foi chamado de renascimento pelos historiadores, pois promoveu o renascer do comércio e da vida na polis. Maquiavel e a emergência da Ciência Política O Renascimento revelou autores como Nicolau Maquiavel, que se destacou por sua obra O Príncipe, considerada pioneira no desenvolvimento do pensamento político. Em seu texto, Maquiavel analisa o exercício do poder, mostrando as condições sociais necessárias para que um governante conquiste, mantenha e governe seu reino, acreditando que das qualidades de liderança desse governante dependeria a felicidade de seus governados. Costa (2016) destaca que a obra de Maquiavel é considerada pelos especialistas o primeiro estudo sistemático da Ciência Política, ou de Filoso�a Moderna, mas por causa da crueza que demonstrou ao descrever as condições de exercício do poder, foi indevidamente considerado defensor da doutrina de que os “�ns justi�cam os meios”, ao aconselhar os poderosos a assassinar, mentir e bajular, quando necessário, para conquistar ou manter o poder. O seu livro é muito mais aprofundado do que tais classi�cações. Em razão desse pragmatismo em relação aos objetivos dos poderosos, passou-se a chamar de maquiavélico todo pensador ou governante que age, a qualquer custo, para a conquista e manutenção do poder. Maquiavelismo é o nome que recebeu a prática dessa visão pragmática e pouco ética da política. No entanto, Maquiavel não pensava em objetivos escusos, visava apenas assegurar a ordem social, a prosperidade e a governança dos reinos. Como cientista moderno, ele analisou a sociedade como objeto, de forma isenta de partidarismos e paixões. Assim, o Renascimento, impulsionado pelo despertar do desenvolvimento capitalista, lançou as bases de um pensamento laico voltado a analisar a sociedade em suas particularidades, por meio de uma atitude crescentemente objetiva, mas distanciada dos dogmas religiosos. @wikimedia Maquiavel pensava realisticamente as relações de poder. Ele procurava desvendar suas condições e variantes. Identi�cava nelas diferentes categorias sociais envolvidas - a nobreza, o clero, os ministros, os militares, o povo - e mostrava como o príncipe deveria se relacionar com cada um. Não deixou de mostrar que o governo também depende das ações nem sempre meritórias, como a manipulação, as barganhas e o uso oportuno e estratégico da violência. Em síntese, Maquiavel receitava doses bem medidas de persuasão, seja pelo convencimento e eventuais benfeitorias, seja pela força bruta das armas. Maquiavel expressava ideias pertinentes sobre a sociedade, o poder e as relações sociais. O Iluminismo e o Liberalismo À medida que o capitalismo se desenvolvia, estimulando o avanço da ciência, acentuava-se na sociedade ocidental a prevalência da racionalidade e do pensamento laico. Costa (2016) escreve que cada vez mais se acreditava na capacidade do pensamento racional poder desvendar a natureza do mundo em suas diferentes instâncias e aspectos. Paralelamente, as nações também se transformavam e, com elas, o nacionalismo, esse sentimento de pertencimento a um território governado por um poder que o administra. Os anseios por prosperidade, justiça e bem-estar se intensi�cavam e o Estado era conclamado a criar as condições necessárias para isso. Novas aspirações, novos valores e uma atitude diferente diante da sociedade e da realidade circundante provocaram o surgimento de um movimento �losó�co conhecido por Iluminismo. Esse movimento de ideias era impulsionado pelo crescimento das descobertas e avanços dos métodos e instrumentos cientí�cos de investigação da realidade, da vida urbana e também pelo colonialismo, que permitia aos europeus conviverem cada vez mais intimamente com culturas diferentes da sua, algumas vezes de forma tensa, outras vezes com maior capacidade de diálogo, embora sempre com uma tentativa, por parte das potências europeias, de estabelecer trocas assimétricas e lucrativas. E se por um lado havia o anseio por progresso, por outro também crescia a consciência de que a sociedade europeia apresentava problemas e injustiças de difícil solução. A Igreja Católica, em particular, era questionada, e já não se acreditava no poder da fé ou da religião na solução dos problemas sociais. A expansão do comércio e da manufatura capitalista, bem como do assalariamento do trabalhador, exigiam uma atitude mais contundente contra a monarquia absolutista e as relações servis, resquícios do período medieval. Esses anseios se traduziam por um desejo cada vez maior por liberdade, que se tornou um dos principais objetivos do Iluminismo. Não se defendia simplesmente a liberdade de decisão do cidadão na sua vida cotidiana, mas, principalmente, a liberdade da nação SAIBA MAIS Diversos pensadores se dedicaram ao estudo da sociedade, das relações políticas e econômicas, como Montesquieu (1689-1755), Voltaire (1694- 1778) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Este último, na obra Do Contrato Social, desenvolve a tese de que a vida política resultaria de uma decisão coletiva pela qual os membros de uma sociedade abrem mão de sua liberdade em prol do bem comum - seria a origem, assim, da organização do Estado tal como o pensador formulou. em relação aos poderes absolutos do rei; do trabalhador em relação aos laços de servidão; e do comércio em relação às restrições impostas ao livre funcionamento do mercado. Os �lósofos procuravam defender esses princípios compondo uma tendência �losó�ca e política a que se deu o nome de liberalismo. Rousseau, por exemplo, considerava a liberdade um dom natural, próprio da dignidade humana - à capacidade de cada um de nos de se autodeterminar em função de uma ideia, de um ideal ou do bem comum -, um princípio de liberdade humanista e que corresponde a um estado interior de autonomia e independência. É dessa liberdade que o homem só abriria mão, em parte, para a criação das instituições políticas que passaram a governar as nações em nome da coletividade. Esse era o contrato social que exigia um Estado livre e democrático. Adam Smith, considerado o pai da Economia Moderna, defendia um princípio de liberdade diferente dode Rousseau - uma liberdade que pertence à regulamentação natural das relações humanas, especialmente as econômicas. Dando origem ao liberalismo econômico, essa noção de liberdade justi�cava a defesa do livre funcionamento das leis de mercado, de oferta e procura, sem a intervenção de medidas econômicas reguladoras, como taxas ou impostos. Ao Estado caberia apenas defender a livre operação dessas leis e a adequada transação de mercadorias, fossem elas trabalho, matéria-prima, produtos ou moedas. O liberalismo econômico expressava os anseios dos capitalistas, cujos lucros passaram a advir principalmente da expansão comercial local e internacional, do aumento da produção manufatureira e do trabalho assalariado. O liberalismo política e a defesa da democracia também faziam parte desse ideário e foram tema de autores como Montesquieu. Embora fossem diferentes os princípios de liberdade que esses pensadores defendiam, as teorias desenvolvidas revelam a importância do tema no meio intelectual da época. ATENÇÃO Tendo essas ideias como foco, o Renascimento e o Iluminismo prepararam o terreno para que, no século XIX, a Sociologia se desenvolvesse como ciência social e campo do saber. O positivismo de Auguste Comte e a Sociologia Os avanços da ciência, os aumentos dos lucros e da produtividade �zeram com que o racionalismo e a con�ança no conhecimento objetivo fossem alçados no posto de princípios quase inquestionáveis. A doutrina da Igreja Católica perdia espaço na sociedade em transformação, pois não acompanhava a evolução da ciência nem era capaz de orientar a nova vida social, que se distanciava cada vez mais das velhas tradições e concepções da moral e virtude valorizadas pela Igreja. A ideia de que o conhecimento cientí�co era seguro e de que suas leis eram con�áveis deu origem a um movimento �losó�co que se tornou conhecido como positivismo. Inspirado pelo sucesso alcançado pelas Ciências Físicas e Biológicas, o positivismo dedicou-se a estudar o comportamento humano e a sociedade. Concebia o mundo social como um organismo vivo, constituído de partes integradas e em funcionamento. O adepto mais importante dessa tendência foi o francês Auguste Comte, o primeiro a propor a Sociologia como uma ciência. Foi ele também que, percebendo que o combate às crenças religiosas deixava a população desamparada e descrente, resolveu criar uma “religião cientí�ca”, na qual os cientistas ocupariam o lugar dos sacerdotes. Costa (2016) lembra que foi assim que, depois de séculos de re�exão �losó�ca e de um mundo convulsionado por intensas transformações, chegamos à formação de um campo de conhecimento que tem por objeto de estudo a vida em sociedade. Araújo (2013) escreve que o último século apresentou profundas e intensas transformações no modo de viver em sociedade. Fronteiras e alianças entre países se alteram, as grandes potências econômicas tentam manter sua posição dominante, @wikimedia Propondo-se a um estudo sistemático das relações humanas em coletividade, a Sociologia permite identi�car aquilo que, além das circunstâncias físicas e naturais, além do caráter ou da psiquê dos interagentes , in�uencia o comportamento dos seres humanos em sociedade. muitos povos e nações clamam por paz e justiça, avanços tecnológicos surpreendem, a quantidade e a variedade de informações aumentam, artistas buscam ser ouvidos, vistos ou lidos. As estruturas familiares se diversi�cam, instituições tradicionais da política ora ganham, ora perdem credibilidade, a economia se torna mundialmente interligada. Regimes políticos entram em colapso; mobilizações sociais convergem e divergem sobre os problemas e soluções para os problemas de seu tempo. Para completar, é neste contexto que as Ciências Sociais apresentam-se para analisar e tentar explicar que está acontecendo no âmbito político, econômico, cultural e social da realidade complexa que existe sob a aparência das mudanças sociais. As Ciências Sociais indagam constantemente sobre o que se altera e o que permanece, o que rompe com estruturas antigas e o que se constitui como novo na sociedade (ARAÚJO, 2013, p. 11). SAIBA MAIS A Sociologia se desenvolveu durante o período histórico que denominamos Modernidade, que se inicia no século XV, na Europa, com o renascimento urbano, comercial e cultural, e se estende até os últimos vinte e cinco anos do século XX. Diversos autores consideram que a Modernidade termina quando o �m da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (1991) possibilita a comunicação mais efetiva e relações mais estreitas entre os países, antes divididos pela oposição entre dois impérios - o estadunidense e o soviético. Uma nova realidade geopolítica e a chamada III Revolução Tecnológica (revolução informática), segundo esses autores, entre os quais o sociólogo Pierre Levy (1956-), teriam posto �m à modernidade, desencadeando um período histórico conhecido como Pós- Modernidade. A nova conjuntura têm obrigado os sociólogos a repensar as relações nacionais e internacionais e a rever conceitos e metodologias. Estudar as novas con�gurações sociais da sociedade globalizada e analisar as consequências do desenvolvimento tecnológico sem precedentes são os grandes desa�os da atualidade. REFLITA “O progresso não é mais do que o desenvolvimento da ordem.” (Augusto Comte) A expressão é o lema político do positivismo, forma abreviada do lema religioso positivista. Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite à �loso�a. São Paulo: Ática, 1994, p. 59. Livro Filme Web O pensamento clássico e contemporâneo da sociologia AUTORIA Flávio Donizete Batista Sumário Introdução 1 - O que é Sociologia e qual seu objeto? 2 - Émile Durkheim 3 - Karl Marx 4 - Max Weber 5 - Teorias sociológicas contemporâneas Considerações Finais Introdução O que é essa coisa chamada “o social” que os sociólogos estudam? Podemos dizer que o social é o ponto de partida. Muitas pessoas preferem ver a vida humana como algo biológico, individual, econômico ou religioso, mas para os sociólogos, o ponto de partida sempre está em tudo o que é ser social. Essa é uma ideia com vários signi�cados. E queremos em nosso estudo aprender como a Sociologia encara e relaciona esses mesmos signi�cados para, ao �nal, compreender como o homem vive em sociedade. As pessoas vivem juntas, ou seja, em sociedade. E os cientistas sociais são os interessados em entender como acontece essa vida em sociedade. Quais são as formas de convivência entre as pessoas? Que relações são fundamentais em uma sociedade? Como funciona uma sociedade? Por que as pessoas, em geral, fazem coisas muito parecidas? Como as sociedades mudam? Por que a vida em sociedade produz diferenças tão grandes entre seus membros? Quais os fatores diferenciam grupos ou sociedades? Por que algumas são tão exploradas, subjugadas e até mesmo escravizadas? Vejam quantas perguntas. Talvez não demos conta de todas nesse estudo. Mas é esta busca pela compreensão cada vez maior de nossa própria vida em sociedade que estamos dando continuidade na unidade que se inicia. E que busquemos sempre mais conhecimentos sobre nossa vida em sociedade. Tenhamos todos um bom estudo. Plano de Estudo: 1. O que é sociologia e qual seu objeto? 2. Émile Durkheim: fatos sociais, solidariedade mecânica e orgânica 3. Karl Marx 4. Max Weber 5. Teorias sociológicas contemporâneas Objetivos de Aprendizagem: 1. Compreender o conceito de Sociologia. 2. Conhecer qual seu objeto a partir de seus teóricos. 3. Conhecer o pensamento dos clássicos e dos contemporâneos da Sociologia. O que é Sociologia e qual seu objeto? Sociologia é a ciência que estuda as relações sociais, as instituições sociais e a sociedade. É, pois, uma ciência social que dispõe de um conjunto acumulado de conhecimentos e que se propõe a fornecer respostas acerca do ser humano. Gil (2011) acrescenta que a Sociologia não estuda a ação das pessoas isoladamente, mas trata das atitudes e dos comportamentos das pessoas como situações coletivas, que podem ser explicadas pelas relações que estabelecementre si. O interesse da Sociologia são as situações cujas causas não são buscadas nas personalidades individuais, mas sim na sociedade, nos grupos sociais ou nas relações que se estabelecem entres seus membros. Assim, o objeto da Sociologia - ou seja, aquilo que ela estuda - são as relações que as pessoas estabelecem entre si na sociedade: cooperação, competição, con�ito, interdependência. Os sociólogos não se interessam, portanto, pelo estudo das pessoas isoladamente, mas enquanto membros dos diferentes grupos, organizações ou comunidades que compõem a sociedade. Podemos, portanto, de�nir Sociologia como o estudo da sociedade. Esta de�nição, no entanto, mostra-se muito ampla já que não possibilita caracterizar com precisão o conceito de sociologia. Todo comportamento humano se dá em algum tipo de sociedade ou é in�uenciado por fatores sociais. Não é por ocorrer numa sociedade que um fato se torna objeto da investigação sociológica. Um fato é realmente entendido como sociológico quando se procura entendê-lo no que diz respeito às relações que se estabelecem entre os seres humanos e as circunstâncias sociais que os afetam. Mas não há consenso entre os principais autores quanto ao objeto da Sociologia. Para um autor como Émile Durkheim, este objeto é constituído pelos fatos sociais. Para Max Weber, é a ação social. Para os sociólogos que se apoiam nas ideias de Karl Marx, são as relações de produção. Quanto a essa di�culdade de se de�nir seu objeto, Gil escreve: Podemos admitir que a Sociologia, como qualquer ciência jovem, tem um problema relacionado à precisão conceitual. Assim torna-se razoável também admitir que não haja um consenso entre os diversos autores acerca de seu objeto. E que essas divergências entre os autores não são insuperáveis, já que podem ser explicadas em virtude de corresponderem a abordagens do mesmo objeto sob perspectivas diferentes (GIL, 2011, p. 27). A principal fonte de divergência entre os autores refere-se à objetividade do conhecimento sociológico. Para alguns autores, o conhecimento sociológico é objetivo, exterior aos indivíduos, cabendo ao sociólogo manter-se neutro na investigação dos fatos sociais. Estes autores tendem a privilegiar o papel das instituições sociais que obrigam os indivíduos a adotarem comportamentos que são exteriormente de�nidos. Para outros autores, a sociedade é uma construção social, que depende dos signi�cados atribuídos pelos indivíduos. Estes autores tendem a privilegiar o papel ativo dos indivíduos nas escolhas sociais. Para outros autores, por �m, o aspecto mais evidente da sociedade é a desigualdade e a dominação de alguns indivíduos por outros. Estes autores tendem a privilegiar o estudo dos con�itos que se veri�cam na sociedade. Esses três enfoques derivam principalmente da in�uência de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, que dá origem às principais vertentes teóricas da Sociologia. Émile Durkheim Para esse sociólogo a sociedade prevalece sobre o indivíduo. Ela deve ser entendida como um conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento que não existem apenas nas consciências individuais, mas que são construídas exteriormente. Gil (2011) lembra que, na vida em sociedade, os seres humanos se defrontam com regras de conduta que não foram diretamente criadas por eles, mas que existem e devem ser seguidas por todos, pois sem elas a sociedade não existiria. Fatos sociais Durkheim acredita que o objeto da Sociologia é o fato social, que ele de�ne como formas de agir, pensar e sentir que são externas ao indivíduo e a ele se impõem, mas que orientam seu comportamento, muitas vezes sem que ele perceba que está sendo in�uenciado. Falar o idioma de um país onde nascemos é, por exemplo, um fato social - não depende de nossa escolha nem de nossa vontade e impõe-se à nossa maneira de agir, com uma força externa a nós. Para explicar melhor, Costa (2016) escreve que aprender o idioma e nos expressarmos por intermédio dele, resulta do poder coercitivo dos fatos sociais sobre nosso comportamento e nossa forma de ser. Da mesma forma, os hábitos alimentares e a maneira de se vestir, em dada sociedade, impõem-se a nós, independentemente de nossa vontade. Já encontramos esses fatos formulados ao nascer e a ele nos adaptamos. Para compreender como as forças sociais atuam, o sociólogo precisa analisar as manifestações e as regularidades dos fatos sociais, pois, em si mesmos, eles são inapreensíveis. Daí a importância das estatísticas, que são uma forma de os fatos sociais se tornarem evidentes ao pesquisador. Durkheim distingue a consciência individual da consciência coletiva. Esta última resulta da união das consciências particulares que agem e reagem umas sobre as outras e dão origem a uma realidade nova, mais rica e desejável do que a condição individual de cada identidade particular. Assim, o social transcende o individual e propicia integração, equilíbrio e bem-estar. A consciência coletiva era entendida como o sistema de representações coletivas numa determinada sociedade. Exemplos dessas representações coletivas seriam a linguagem, as crenças religiosas ou um conjunto de práticas de trabalho encontradas em determinada sociedade. @ wikimedia Durkheim a�rma que os fatos sociais são uma força exterior ao indivíduo. Gil (2011) lembra que as maneiras de agir e sentir são exteriores às pessoas, pois constituem herança própria da sociedade, que são transmitidas de geração para geração e atuam sobre elas independentemente de sua adesão consciente. O exemplo acima do uso de um idioma também se refere a essa característica dos fatos sociais. A generalidade, bem como a coercitividade e a exterioridade, é outra característica dos fatos sociais. Trata-se da repetição dos fatos sociais em todos os indivíduos de uma sociedade ou grupo, pelo menos, na maioria deles. Em decorrência dessa generalidade, os fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum à sociedade ou grupo, como, por exemplo, os tipos de vestimenta, as formas de relacionamento, as crenças, os princípios morais. Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica Gil (2011) escreve que a de�nição da natureza dos fatos sociais constitui a maior contribuição de Durkheim à Sociologia. Mas ele dedicou-se também a estudos comparativos da sociedade procurando apreender seu desenvolvimento e as tendências de sua evolução. Buscava identi�car fases que mostrassem as transformações das sociedades ao longo do tempo ou das diversas fases históricas. Para ele, as principais forças da vida social estavam nas tradições e nos costumes que alicerçam os deveres de uns para com os outros, como membros de uma mesma comunidade. Três instituições colaboram para intensi�car essas integrações: a família, o Estado e as corporações pro�ssionais, assim como as leis, que costuram e legitimam direitos, deveres e reciprocidades. Nesse contexto, os indivíduos desenvolvem relações de solidariedade cuja função permite distinguir dois tipos de sociedade - as de solidariedade mecânica e as de solidariedade orgânica. A solidariedade mecânica é característica das sociedades pré-capitalistas e de alguns grupos sociais do meio rural. Nelas, os indivíduos se relacionam principalmente por meio da família, da religião e dos costumes. A divisão social do trabalho é simples ou quase inexistente e a consciência coletiva tem forte poder de coerção sobre os indivíduos. Fonte: https://pt.slideshare.net/98698999/mile-durkheim-54363064 Já a solidariedade orgânica é típica das sociedades capitalistas, do meio urbano e industrial, em que os indivíduos se tornam interdependentes, unidos pela intensa divisão social do trabalho e laços impessoais, que substituem a integração pessoal e familiar das sociedades agrárias. Nessas sociedades, a consciência coletiva é enfraquecida, pois, ao mesmo tempo que os indivíduos se tornam mutuamente dependentes, cada um se especializa em determinada atividade, e dessa forma tende a desenvolver maior autonomia pessoal. Ao contrário da solidariedade mecânica, a diferenciaçãoentre os indivíduos, e não a semelhança, é mais valorizada. Por �m, a in�uência de Durkheim sobre a Sociologia contemporânea é muito expressiva. Gil escreve: As correntes sociológicas conhecidas como estruturalista, funcionalista e estrutural-funcionalista fundamentam-se em suas ideias. Mas estas também têm sido objeto de muitas críticas por muitos sociólogos. A principal crítica refere-se ao caráter consensual e estático de suas teorias que contribuiria para a manutenção do status quo (GIL, 2011, p. 29). Karl Marx Cristina Costa (2016) lembra que Karl Marx não se dedicou explicitamente à disciplina de Sociologia. Inclusive nem esse nome aparece em suas obras. No entanto, está na base de todo o desenvolvimento dessa ciência nos anos que se seguiram. Para explicar a origem do capitalismo e a natureza da organização econômica, formulou uma teoria abrangente e universal que procura dar conta de toda e qualquer forma produtiva criada pelo ser humano em qualquer tempo e lugar. Os princípios dessa teoria é que dão origem ao que ele mesmo de�niu como materialismo histórico e que constitui o principal método de análise dos sociólogos de orientação marxista. Em sua obra A Ideologia Alemã, de 1845, escrita em parceria com Friedrich Engels, Marx sintetiza a dinâmica da vida em sociedade da seguinte forma: os homens produzem suas representações e suas ideias sobre as relações sociais em que vivem concretamente. Esse conjunto de relações de produção que os homens estabelecem para sobreviver é a base econômica da sociedade sobre a qual se assenta o aparato de relações de natureza política, jurídica, cientí�ca, religiosa, etc.. É o que Marx denomina modo de produção. Essa é uma realidade histórica e, portanto, mutável. A forma com que os homens produzem socialmente sua sobrevivência material se acha condicionada por determinado desenvolvimento das forças produtivas e pelas relações que a elas correspondem. Assim, o processo da história tem sido explicado como uma sucessão de diferentes modos de produção - o primitivo, o asiático, o escravista, o feudal, o capitalista -, cada qual com suas relações sociais. Marx dedicou-se ao estudo das transformações sociais e econômicas de cada período histórico. Analisou a Revolução Industrial e percebeu de que forma os artesãos, aos poucos, faliram, por causa da concorrência com a produção em massa, que barateava os produtos e contava com muitos recursos tecnológicos. Foram, então, obrigados a trabalhar nas manufaturas que dominaram a produção de bens, ganhando salários cujo valor era vinculado não à riqueza produzida pelo seu trabalho, mas ao tempo e à força de trabalho despendidos na produção. Karl Marx, escreve Araújo (2013), a partir da realidade estudada produz uma teoria da acumulação tomando as características das relações de produção na sociedade capitalista - entendida como relações entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. Basicamente, esta teoria explica como ocorre o crescimento do capital na sociedade capitalista. Na medida em que o trabalhador aluga a sua força de trabalho ao capital para produzir, ou seja, transforma os meios materiais de produção em mercadorias com o seu trabalho, não recebe o que lhe é devido. Esse “valor a mais” que ele produz é apropriado pelo capitalista. Assim, em contínuo movimento, cresce o capital, o conjunto dos meios de produção, não só em volume, mas também em nível técnico e tecnológico. As contradições perpetuavam-se porque os capitalistas também passaram a ocupar o governo, dominar as comunicações e pautar o desenvolvimento cientí�co para que ele pudesse contribuir cada vez mais com a economia. Todo esse processo colaborou para o que Marx chamou de alienação do trabalhador, entendida com a situação de desapropriação do trabalhador do fruto de seu trabalho e da consciência individual de ser o produtor da verdadeira fonte de riqueza no mundo. A Sociologia de inspiração marxista difere, portanto, da Sociologia fundamentada nas ideias de Durkheim. Enquanto este vê a sociedade como integrada, formando um todo coeso e mantido por regras de convivência, Marx acentua o con�ito e a luta de classes, colocando as relações de poder e de força como centrais para a explicação do funcionamento da sociedade. @wikimedia A história do homem, segundo Marx, é a história da luta de classes. Gil (2011) explica que entre as classes existe um permanente con�ito, decorrente da luta constante por objetivos opostos. Embora nem sempre esse con�ito se manifeste de forma declarada, as divergências, oposições e antagonismos são inerentes a todas a relações sociais que se manifestam nos mais diversos níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o surgimento da propriedade privada. Completa Gil: Para Marx, todos os con�itos na história têm sua origem na contradição entre as formas produtivas e as relações de produção. Dessa forma, a família, a religião, as formas de governo, as leis, as ideias políticas e os valores sociais, constituem apenas aspectos da sociedade, cuja explicação depende do desenvolvimento e do colapso dos modos de produção (GIL, 2011, p. 31). Max Weber Cristina Costa inicia sobre Weber escrevendo o seguinte: Com os olhos voltados para sociedades como a França e a Inglaterra, política e economicamente estabelecidas, Marx e Durkheim pensaram a sociedade a partir de suas estruturas. O primeiro, a partir das forças produtivas e o segundo, enfatizando as instituições como a família e o Estado. Max Weber, embora in�uenciado por ambos, não privilegiou essa visão macrossociológica assim como a ideia de um desenvolvimento histórico comum a todas as sociedades, fosse ele o materialismo histórico ou e evolucionismo positivista (COSTA, 2016, p. 47). Para entendermos como Weber desenvolveu suas análises da vida social é preciso dizer que, ao contrário de seus antecessores, ele não opõe indivíduo e sociedade, mas os integra em uma ação social, um dos conceitos teóricos mais importantes de sua obra. Para ele, uma ação social é uma ação orientada por um agente social (um ser humano), que lhe dá sentido, ou seja, uma motivação subjetivamente elaborada. Essa ação é orientada em função de alguém (outro ser humano) de que o agente espera resposta ou reciprocidade. A motivação da ação encontra sua causa tanto no contexto histórico em que se realiza como na subjetividade de que têm a iniciativa da ação. Como se percebe, o indivíduo, agente de uma ação, é categoria relevante da ação social. Buscar o motivo que guia a ação de uma pessoa é um dos principais objetivos da investigação. Por exemplo, explica Costa (2016), se uma pessoa se dirige a alguém na rua para pedir-lhe informação, põe em prática uma ação social, cujo sentido é dado pela sua motivação - obter orientação. Quando uma pessoa perguntada responde, oferecendo-lhe para ajudar aquele que busca informação ou, ao contrário, negando- se a orientá-lo, estabelece com ele uma relação social, ou seja, uma ação recíproca. Os sentidos das ações e das relações sociais dependem do contexto. Ou seja, a rua pode ser perigosa, fazendo com que o perguntado tenha medo de falar com estranhos. Em outras palavras, a ação social e a relação social dependem de fatores pessoas e externos, como a educação ou o medo de estranhos, além das circunstâncias históricas. Para Weber, há diferentes tipos de ação social, que podem ser classi�cadas, de acordo como o modo com que os indivíduos orientam suas ações, em: Ação tradicional: determinada por um hábito ou costume arraigado; Ação afetiva: determinada por afetos ou estados sentimentais; Ação racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade; Ação racional relativa a �ns: determinada pelas expectativas em relação ao comportamento tanto das pessoas como dos objetos. Nenhuma dessas ações envolve apenas o contexto social ou a subjetividade individual, mas acima de tudo os integra, e pode desvendar a natureza da personalidade do agente,assim como a dinâmica da vida social. Por outro lado, as diversas ações sociais promovem ações em cadeia, isto é, o motivo de uma ação leva à reação da pessoa, com quem o primeiro agente interage. O trabalho do sociólogo é desvendar essas conexões e reciprocidades. O contraste da abordagem de Weber com a de Marx �ca bem evidente em sua interpretação de classe social. Enquanto Marx vê as classes sociais como formações determinadas por fatores econômicos, sobretudo pela posse dos meios de produção, Weber admite que a noção de classe social refere-se não apenas aos aspectos objetivos relativos à produção, mas também às percepções subjetivas de poder, riqueza, propriedade e prestígio social. Dessa forma, numa pesquisa com o objetivo @wikimedia Gil (2011) lembra que, diferentemente de Durkheim, Weber encara os fatos sociais não como coisas, mas como acontecimentos que o cientista percebe e procura desvendar. Weber não analisa as regras e normas sociais como exteriores ao indivíduo, mas como um conjunto de ações individuais. Cabe ao cientista o objetivo de compreender o que dá sentido à ação social. O que implica admitir que as ideias coletivas, como Estado, as religiões e o mercado econômico, só existem porque muitos indivíduos orientam reciprocamente suas ações num determinado sentido e estabelecem relações sociais que são mantidas continuamente pelas atitudes individuais (GIL, 2011, p. 33). de veri�car a desigualdade entre grupos de classe alta e de classe média, conduzida sob o enfoque weberiano, os pesquisadores teriam não apenas que veri�car se as diferenças existem em virtude do poder e da riqueza, mas também como as pessoas em cada grupo sentem-se acerca do seu próprio poder e do poder dos outros. Teorias sociológicas contemporâneas Silvia Araújo (2013) escreve que, ancoradas ou não nos autores clássicos, novas teorias e abordagens das Ciências Sociais são concebidas no compasso das mudanças sociais. Veremos algumas características gerais do pensamento de alguns sociólogos mais representativos do século XX: o norte-americano Talcott Parsons (1902-1979), o francês Pierre Bourdieu e os autores alemães da chamada Teoria Crítica, denominada Escola de Frankfurt, na década de 1920. São representantes da Teoria Crítica, em diversos momentos do século XX: Theodor Adorno (1903-1969), Max Horkheimer (1895-1973), Walter Benjamin (1892-1940), Herbert Marcuse (1898-1979), Erich Fromm (1900-1980) e Jürgen Habermas (1929-). A Sociologia mais recentemente produzida pensa a sociedade pela ótica de sujeitos ativos em relações. Araújo (2013) lembra que, ao desenvolver, nos anos 1950, uma teoria geral dos sistemas sociais, Parsons está pensando na inter-relação entre as partes, numa ação humana que é individual e também coletiva. Quando a Teoria Crítica elege a razão e a sociedade contemporânea como objeto de estudo, tece críticas a uma concepção de mundo que não respeita a liberdade e a autodeterminação. Bourdieu, com sua teoria das práticas sociais, mostra como os atores sociais internalizam os valores, as normas e os princípios, na sociedade global. Fonte: alma prolixa Disponível aqui Tal qual a produção dos clássicos, a Sociologia contemporânea enfoca a questão da mudança social. Talcott Parsons pondera que um sistema social complexo não é totalmente estável nem muda como um todo. Esse pensamento compatível com a metodologia estrutural-funcional que ele desenvolve, ou seja, considera que o sistema social é mantido pelas forças institucionais e padrões culturais. Utilizando-se de conceitos como cultura, indústria cultural, Estado, legitimação, razão, pós-modernidade, autoridade, crise, transformação, os estudiosos da Teoria Crítica empregam a metodologia dialética que se vale da razão para resgatar o passado e compreender as limitações do presente. Nesse caso, toda mudança social é acompanhada de um saber histórico, concebido como lógica da contradição social. Conhecer é desenvolver o espírito crítico e também a crítica social. O estudo das Ciências Sociais nos revela os mecanismos de poder que nos fazem acreditar serem “naturais” muitos fenômenos que caracterizam a sociedade. Por essa razão, Pierre Bourdieu a�rma que o conhecimento exerce um efeito libertador (ARAÚJO, 2013). Por meio do conhecimento, a sociedade re�ete, volta a olhar sobre si mesma, e seus agentes sociais descobrem quem realmente são e o que fazem. Bourdieu embasa seu pensamento na ideia da reprodução social, como as transformações culturais que acontecem na educação e na sociedade de massa. É importante descobrir-se como sujeito portador de uma herança social e perceber que o indivíduo e sociedade são elementos que se in�uenciam mutuamente. Essa é uma das condições para os cientistas sociais produzirem ciência, o que implica desenvolverem um conjunto de conceitos capazes de interpretar a realidade e derivarem esse conhecimento de uma concepção de mudança que lhe é implícita. Com um corpo organizado de saberes, a Sociologia procura dar entendimento à condição de “estarmos no mundo”, e não prover certezas absolutas. Desse modo, o conhecimento sociológico tem um compromisso com o desenrolar das ações concretas, históricas, pelas quais o ser humano constrói a si e seu mundo social, político, econômico, cultural (ARAÚJO, 2013). REFLITA “Na sala de aula, o professor precisa ser um cidadão e um ser humano rebelde”. Florestan Fernandes, um dos mais in�uentes sociólogos brasileiros. Livro Filme Web Cultura e sociedade AUTORIA Flávio Donizete Batista Sumário Introdução 1 - Os sentidos da palavra cultura 2 - Cultura, Etnocentrismo e Relativismo cultural 3 - Diversidade Cultural 4 - Diversidade cultural na sociedade brasileira 5 - Mudanças culturais na sociedade global 6 - A sociedade do espetáculo: cultura de massa Considerações Finais Introdução Olá, prezado estudante. Olá, prezada estudante. Nesta unidade será apresentado o conceito de cultura como um conjunto de hábitos, valores, formas de ver o mundo e comportamentos que variam no tempo e no espaço, de acordo com a história e as condições existenciais de cada grupo social. Trataremos sobre a diversidade cultural na sociedade brasileira, e veremos como a identidade cultural envolve a experiência e a consciência de pertencer a um coletivo. Todos produzem cultura, e os grupos minoritários produzem culturas próprias, alternativas ou contra-hegemônicas. Desde que se �rmou a sociedade de massas, nossos hábitos culturais também passaram a ser in�uenciados pelos meios de comunicação de massa. Que nosso estudo nos ajude a compreender e a valorizar as diferentes manifestações culturais e tornar consciente a nossa própria identidade cultural. Um excelente estudo para todos. Plano de Estudo: 1. Os sentidos da palavra cultura. 2. Cultura, etnocentrismo e relativismo cultural. 3. Diversidade cultural. 4. Diversidade cultural na sociedade brasileira. 5. Mudanças culturais na sociedade. 6. A sociedade do espetáculo: cultura de massa Objetivos de Aprendizagem: 1. Conceituar cultura e perceber suas variações. 2. Entender a diversidade cultural como sinal de riqueza das sociedades. 3. Promover a prática do respeito diante das muitas diferenças culturais, superando todo preconceito e discriminação. Os sentidos da palavra cultura A palavra cultura vem do latim colere, que signi�ca o cultivo da terra, ou seja, a agricultura. Com o tempo, por força da capacidade metafórica da linguagem humana, isto é, da capacidade de desprender-se do que é concreto e material para se referir ao que é imaterial e abstrato, o termo cultura passou a designar aquilo que se cultiva mentalmente, não mais semeando apenas a terra, mas também o espírito. Assim, por exemplo, atividades de cunho religioso, como as preces, que se faziam para obter uma melhor colheita, também passaram a fazer parte da cultura (COSTA, 2016). Geralmente, quando falamos de cultura, a primeira ideia que nos vem à mente é algo relacionado ao teatro, à música, à literatura, à pintura, à esculturae a outras áreas das artes. Mas também são considerados como elementos culturais de grande relevância as festas tradicionais, as lendas, o folclore e os costumes de um povo. Seu signi�cado abrange ainda os meios de comunicação de massa, como a televisão, o rádio, a mídia impressa, a internet, o cinema, etc. cultura, portanto, não se resume só às manifestações artísticas, às tradições e aos hábitos de uma dada coletividade. Na Sociologia e na Antropologia, o conceito de cultura também está relacionado aos conhecimentos, às ideias e às crenças de uma sociedade e/ou das diversas sociedades. Silvia Araújo (2011) escreve que o termo cultura foi aplicado em português por bastante tempo como sinônimo de erudição, mas não existe diferença em termos de importância entre a chamada “alta cultura” e as expressões culturais populares, pois ambas (cada uma a seu modo) são criadas e cultivadas pela participação efetiva do ser humano na sociedade. Assim podemos conceber cultura como a totalidade de conhecimentos, crença e expressão emocional, à qual se somam as regras estabelecidas, os hábitos, comportamentos e habilidades adquiridas no convívio dos membros de uma sociedade. Os nossos gostos não são, por exemplo, determinados antes do nascimento; ao contrário, resultam das relações que estabelecemos com os outros indivíduos e com o meio em que vivemos. Eles são construídos culturalmente no conjunto do processo de interação social, o qual se dá pela comunicação e pela ação recíproca entre os indivíduos e os grupos sociais. Assim, aprendemos a gostar de rock, de �lmes de ação com os amigos e até de consumir certos tipos de alimentos em vez de outros. Alguns entendimentos são fundamentais para o estudo da cultura. Araújo (2011) refere-se a três importantes axiomas desta esfera da vida em sociedade: A cultura é uma característica do ser humano como ser social. A cultura é um nível particular da realidade social muito importante, pois suas dimensões objetiva e subjetiva não se contrapõem, ao contrário, elas se complementam e estão relacionadas numa organicidade vital. O fazer, o saber, o conviver dos seres humanos produzem padrões particulares de estar na sociedade; produzem cultura. Cultura, portanto, não se aplica a um grupo, ou a este ou àquele segmento social, mas está em nível global, dada a amplitude do campo da experiência existencial (ARAÚJO, 2013). A cultura é adquirida, um comportamento aprendido, como um patrimônio social. Por meio da cultura se estabelece uma parte da relação ser humano- sociedade-mundo. Cultura, Etnocentrismo e Relativismo cultural No �nal do século XIX, o antropólogo alemão Franz Boas construía uma crítica à ideia de civilização de teorias evolutivas muito fortes na época, que estabeleciam uma hierarquia entre os civilizados europeus (e norte-americanos) e as demais populações, que eram escalonadas entre mais e menos atrasadas (MACHADO, 2014). Para Boas, as diferentes populações que existem no mundo têm diferentes culturas e é praticamente impossível estabelecer entre elas qualquer tipo de hierarquia, uma vez que cada povo tem sua história particular, preenchidas por interesses tão diferentes, que qualquer comparação só seria possível se fosse utilizada uma medida de análise, que seria sempre arbitrária. Ou seja, a comparação para estabelecer uma hierarquia sempre deveria adotar algum critério, tomado de alguma população, e nesse processo a própria comparação seria injusta. Tendência inversa ao relativismo cultural é o etnocentrismo, quando se julga outra cultura segundo os próprios parâmetros culturais. Por exemplo, considerar uma população indígena atrasada porque lhe faltam determinadas tecnologias é etnocentrismo. Se adotarmos outros critérios, esse “atraso” pode ser questionado. Levando em conta a capacidade de se manter estável ao longo do tempo (o que chamamos de sustentabilidade), as sociedades que nos pareciam primitivas ganham um estatuto muito mais “civilizado”, já que o nosso modelos de vida, baseado no consumo intenso, não é sustentável a longo prazo (MACHADO, 2014). O etnocentrismo é o mecanismo principal das classi�cações evolucionistas, enquanto o relativismo cultural é o motor de um pensamento não preconceituoso e preocupado em romper com as classi�cações hierárquicas. O conceito antropológico CONCEITUANDO Igor Machado (2014) lembra que assim, Boas inaugurava o que mais tarde �cou conhecido como relativismo cultural: uma tomada de posição perante a diferença cultural, segundo a qual cada cultura deve ser avaliada apenas em seus próprios termos. Portanto, é uma forma de encarar a diversidade sem impor valores e normas alheios. Podemos considerar o relativismo uma inversão do evolucionismo: se este escalona as diferenças a partir de valores especí�cos das sociedades ocidentais, o relativismo evita qualquer tipo de escala, analisando as diferenças segundo os termos da própria sociedade da qual fazem parte. de cultura não pode existir sem o relativismo cultural e a crítica ao etnocentrismo. As Ciências Sociais, em especial a Antropologia, ao ampliar nosso conhecimento acerca de outras culturas e suas expressões, nos ajudam a relativizar nossa visão de mundo. Em outras palavras, fazem re�etir sobre as diferenças entre as diversas culturas e aprimoram a perspectiva por meio da qual percebemos e interpretamos a própria cultura. Esse processo também nos ensina que muitos comportamentos e visões de mundo que nos parecem “naturais” ou “biológicos” na verdade são produtos da cultura, já que variam em diferentes grupos e sociedades. Machado (2014) escreve que o reconhecimento da existência do outro, de culturas de diferentes grupos, povos e sociedades (a alteridade), implica a experiência do contato com outras culturas, a aceitação das diferenças. Essa é uma forma de desvendar alguns aspectos da nossa cultura que antes passavam despercebidos. Diversidade Cultural A diversidade cultural diz respeito às distintas maneiras segundo as quais sociedades e grupos sociais se organizam e se relacionam entre si e com a natureza. Vivências em outras sociedades, leituras variadas, viagens, �lmes retratando diferentes costumes podem constituir em instrumentos que nos permitem re�etir sobre o quanto somos diferentes ou iguais em relação a outros povos e culturas. Constatada a coexistência e a convivência de diferentes culturas, cabe às Ciências Sociais não apenas estudá-las e compará-las de maneira a evidenciar as diferenças nos modos de vida, mas favorecer a re�exão sobre a própria sociedade, seus valores e costumes (ARAÚJO, 2013). Tantas são as culturas quantos são os povos, os grupos sociais e as etnias existentes. Para além da diversidade de culturas, as relações entre as diferentes culturas são marcadas pela desigualdade. Os interesses e as visões de mundo são distintos, gerando tensões no âmbito das sociedades e certa hierarquização entre os povos e nações decorrentes de disputas de fundo político e econômico. Essa diferenciação social está explicitada, muitas vezes, na busca por emprego, nos diferentes locais de moradia, na necessidade de povos se deslocarem e/ou se abrigarem em acampamentos. Esses são apenas exemplos de con�itos de interesses que podem implicar a luta por espaço físico e cultural com os quais os grupos sociais se identi�cam culturalmente. Em decorrência de processos históricos de dominação e migração, entre outros, ocorrem também processos de interação social que implicam difusão e recon�guração da cultura, traços ou manifestações culturais especí�cos. É como se sociedades distintas convivessem no interior de um mesmo grande grupo social. Araújo (2013) lembra que a interação social gera novas formas de identidade cultural. A consciência de pertencer a determinado grupo social - seja por caracteres comuns de gênero ou de origem étnica, seja por interesses especí�cos, pro�ssão, atividades realizadas, crenças e costumes semelhantes - aproxima os indivíduos em determinada sociedade, levando à formação de agrupamentos de diversos tamanhos. Nessesentido, a identidade cultural é aquela marca característica de um grupo social que partilha um ideal, valores, costumes e comportamentos formados ao longo da sua história. No decorrer do colonialismo do século XIX, emergiram diversas “teorias” racistas que tomaram a forma de “teorias sociais”, uma vez que os países europeus precisavam do aval da ciência para justi�car suas ações imperialistas na África e na Ásia, bem como as ações pregressas, durante a colonização das Américas, quando os europeus subjugaram indígenas e negros, forçando-os ao trabalho escravo e na lavoura. Nestes casos, as teorias sociais desobrigavam os grupos dominantes europeus de tratarem como seres humanos os indígenas e negros escravizados, uma vez que não eram considerados “semelhantes”, e sim “inferiores”. Essas teorias hoje são totalmente rechaçadas e recusadas pelas Ciências Sociais, pois não têm validade cientí�ca alguma; declaravam-se teorias, mas sempre foram ideologias (ARAÚJO, 2013). @ freepik É a partir de nossa identidade cultural que construímos a ideia de “eu”, “nós” e “outros” . A forma como o fazemos muitas vezes constrói fronteiras sociais ligadas à classe socioeconômica, à raça, ao gênero, ou mesmo a outros fatores como o bairro onde moramos, os programas de TV de que gostamos, ou tipo de roupa que preferimos, etc. Por meio destes e de muitos outros elementos combinados, identi�camos “semelhantes” e “outros” nas pessoas com quem compartilhamos a vida social. Algumas dessas fronteiras sociais, aliadas a tendências etnocêntricas que reproduzimos até hoje - embora tenham sido mais populares antes do século XX -, formavam as chamadas “teorias” sociais racistas. Diversidade cultural na sociedade brasileira O Brasil é uma nação pluriétnica e multicultural, composta por diversas formas de organização social de diferentes grupos. Podemos observar essa diversidade e suas variações, por exemplo, entre os proprietários de terras, os dirigentes e os representantes políticos, os moradores das favelas nas grandes cidades, a população jovem que cursa o Ensino Médio em escolas públicas. Neste país com indivíduos tão diferentes entre si - pela cor da pele, pela classe social a que se integram, pela região onde moram, pela geração a que pertencem, etc. - existem um racismo difuso e uma discriminação velada, porém efetivos. Esses sentimentos perpassam as relações sociais, seja no trabalho, seja na escola, e se expressam na intolerância e na não aceitação da diferença, seja ela de cor de pele, de comportamento, de costumes e de aparência (ARAÚJO, 2013). Desconsiderar a diversidade cultural, muitas vezes, nos impede de perceber que a desigualdade social e a discriminação restringem o acesso aos bens materiais e culturais por amplos setores da população. Desencadeadas pelo preconceito e pela concentração de renda (e de poder), novas formas de exclusão social derivam hoje do desemprego, do trabalho precário, das exigências da tecnologia informacional, próprias do moderno processo de produção capitalista. Ainda que indivíduos e famílias pertencentes a grupos denominados minorias estejam conseguindo galgar posições valorizadas social e economicamente pela conquista de um emprego formal ou de melhores condições de vida, superando preconceitos, barreiras econômicas e culturais, os dados estatísticos brasileiros revelam a persistência da desigualdade social racial. Escreve Araújo: O racismo é uma construção histórica que resiste no campo simbólico, ou seja, nas ideias que as pessoas têm sobre “ser negro” e “ser branco”. Os estudos sobre esse tema sugerem que o combate ao preconceito precisa ser enfrentado pelo Estado por meio da educação e de políticas a�rmativas, com o objetivo de desenvolver a cidadania plena, isto é, com todos os direitos sociais e políticos assegurados (ARAÚJO, 2013, p. 135). Há, no mundo atual, intenso imbricamento cultural entre as realidades locais e a global. O diverso e o diferente se ampliam para além das questões étnico-raciais. As demais culturas estrangeiras, especialmente as europeias e a estadunidense, in�uenciam na constante transformação da cultura brasileira, seja pela presença do imigrante em nossa história, seja pelo desenvolvimento do mercado de consumo - moda, tecnologia, artes, conhecimentos variados - e dos meios de comunicação de massa. Mudanças culturais na sociedade global Como produtores e consumidores de cultura, os grupos socioculturais se diferenciam e podem reproduzir simbolicamente as relações de poder vigentes, e até contestar determinadas formas culturais no interior de sua comunidade e da sociedade. De que modo distinguimos uma comunidade de uma sociedade, ainda mais quando as relações entre as realidades locais e a global tendem a ser mais intensas e interin�uentes? O desenvolvimento da sociedade moderna mostrou que as relações sociais tendem a mesclar o que é comum (partilhado em pequenos grupos) com o que se apresenta na extensão da sociedade. Comunidade também pode se referir, genérica e idealmente, a um modelo de vida coletiva, não necessariamente delimitado no espaço geográ�co (caso das comunidades que não estão próximas, mas se apoiam), que apresentam interesses comuns e ligações afetivas (ARAÚJO, 2013). O processo de globalização, no que se refere às diversas culturas, apresenta uma ambivalência: por um lado, pode representar algum risco para as identidades culturais de variados grupos sociais locais quando em contato ou sob o domínio de uma outra cultura (certa tendência de homogeneização); por outro lado, a diversidade tende a se rea�rmar também, seja pela via da resistência, seja pelo uso de suas tecnologias (como a internet) para a difusão de suas manifestações. De fato, com a globalização emergiu o debate sobre “a cultura global”. Alguns autores consideram que a globalização levaria à homogeneização cultural. No entanto, as relações em sociedade são mais complexas. Não podemos a�rmar que há uma cultura global de modo de�nitivo nem que a globalização padronizou os povos culturalmente, já que estes se apropriam da “cultura global” de várias formas. Sobre a tentativa de homogeneização da cultura e os movimentos de resistência, Araújo escreveu: Na contramão das mudanças acarretadas pela globalização, alguns grupos sociais tendem a criar resistências à homogeneização da cultura. A questão da identidade desponta como um elemento-chave nesse processo de a�rmação. As minorias sociais alimentam a ideia de identidade para buscar reconhecimento e inserção social quando grandes transformações as atingem e menosprezam seus modos de vida ou suas “comunidades” (ARAÚJO, 2013, p. 139). As minorias sociais não são de�nidas pela questão numérica, mas pelas di�culdades impostas a esses grupos no acesso às instâncias de poder e pela situação discriminatória e excludente em que se encontram. Por exemplo, o número de indivíduos que se consideram negros e pardos no Brasil, segundo o IBGE, corresponde proporcionalmente à população que se diz branca. Entretanto, se comparados aos brancos, apresentam reduzida presença em funções socialmente mais valorizadas e com melhores salários. Colocadas em situações como essas, sobretudo por fatores históricos, tais minorias enfrentam di�culdades em manter ou melhorar sua condição socioeconômica e em expressar suas tradições culturais. CONCEITUANDO Muitas manifestações culturais alternativas são consideradas contra- hegemônicas, por serem reações à cultura dominante e à sua visão do mundo. Hegemonia cultural é o conceito utilizado pelo cientista político italiano Antonio Gramsci para designar a dominação de uma classe social sobre a outra fundada na ideologia e, portanto, no convencimento (e não na coerção) (ARAÚJO, 2013). A sociedade do espetáculo: cultura de massa O desenvolvimento dos meios de comunicação, como a fotogra�a, rádio, o cinema e a televisão, deu um impulso enorme à indústria cultural, que acabou por ganhar cada vez mais espaço na sociedade moderna, abalando a dominância da alta cultura na sociedade. Além de setornar um dos mais lucrativos setores da economia moderna, principalmente no século XX, a indústria cultural se mostrou capaz de produzir informação e reunir grupos de pessoas em torno de seus veículos de comunicação. E, à medida que essa produção foi ganhando espaço, melhores tecnologias de difusão de imagens, sons e textos desenvolveram-se, minimizando a experiência dos indivíduos com a realidade e o contato com o outro. Os veículos de comunicação passaram cada vez mais a dominar a produção cultural da sociedade e formam a principal referência para o público em geral (COSTA, 2016). Entretanto, apesar de seu sucesso, muitos autores viram com descon�ança o poder que os meios de comunicação e a indústria cultural conquistaram entre as pessoas e passaram a questionar sua legitimidade. Cientistas sociais alertaram para os malefícios de se deixar guiar pelo poder manipulador da cultura de massa. Costa escreve que um deles, “Guy Débord, em suas críticas à indústria cultural, chamou a sociedade contemporânea, na qual se dá sua máxima expansão, de sociedade do espetáculo” (2016, p.179). A sociedade contemporânea institui uma cultura do lazer padronizada pelos meios de comunicação de massa. Essa aproximação da cultura com o produto industrial estimula o público a esperar por próximos lançamentos - de músicas, �lmes, equipamentos de som e imagem - que se tornam bens rapidamente obsoletos. Logo, a cultura tem, na atualidade, sua face mais visível na forma de bens e serviços e, muitas vezes, nem percebemos sua dimensão de uma produção acumulada, transmitida e herdada socialmente (ARAÚJO, 2013). Araújo (2013) diz ser a cultura fruto do empenho acumulado de diversas gerações e de vários grupos sociais que dela participam de diferentes formas - produzem, compartilham e reproduzem cultura, em seus aspectos materiais e imateriais. A cultura é um trabalho de muitas gerações. @freepik Hoje, o rádio, a televisão, o cinema e, mais recentemente, a internet, absorvem a atenção de todos, e levam à decadência as famílias circenses tradicionais, superando um tempo em que o circo foi relevante diante do pouco entretenimento nas cidades mais distantes da capital e representava a grande possibilidade de consumo cultural. Esses meios de comunicação e outros mais são representativos da indústria cultural, um termo empregado pela primeira vez em 1947, pelos sociólogos alemães Max Horkheimer e Theodor Adorno, para dizer que a produção artística e cultural veiculada pelos meios de comunicação de massa insu�a o consumo por ser transformada em mercadoria. Os produtos culturais - publicações impressas, DVDs e �lmes, obras de arte, composições culturais, etc. - se assemelham assim, de certa forma, aos produtos industriais. REFLITA Assim falou Boas: “Como ser pensante, o resultado mais importante desta viagem, para mim, está no fortalecimento do meu ponto de vista de que a ideia de um indivíduo ‘culturado’ (culto) é simplesmente relativa: o valor de um pessoa deve ser atribuído pela ‘cultura do coração’. Esta qualidade está presente ou ausente entre os esquimós tanto quanto entre nós”. (MACHADO, Igor José de Renó. Sociologia Hoje. São Paulo: Ática, p. 49, 2014.). Livro Filme Web Política e poder AUTORIA Flávio Donizete Batista Sumário Introdução 1 - Política e poder 2 - Estado e sociedade 3 - Estado e governos 4 - Perspectivas teóricas acerca da política 5 - Poder e autoridade Considerações Finais Introdução Prezados estudantes: Nesta unidade estudaremos um campo especí�co da sociedade humana: o das relações de poder, por meio das quais somos capazes de interferir nos comportamentos e nos sentimentos dos membros de grupos, sejam eles os integrantes da família, os amigos ou a sociedade como um todo. Essa sobre discussão sobre política e poder teve início há muitos séculos e continua ainda hoje despertando em nós o interesse para conhecer como se dão essas relações e como toda a sociedade é in�uenciada pelos seus desdobramentos. Vamos ao estudo. Um bom trabalho para todos. Aproveitem. Plano de Estudo: 1. Política e poder 2. A liderança nos grupos humanos 3. O espaço público como uma construção grega 4. Sobre a liderança e o poder 5. Estado e sociedade 6. Concepções de Estado e sociedade civil moderna 7. O que é o Estado? 8. Estado e Governos 9. Partidos políticos e o quadro partidário no Brasil 10. Perspectivas teóricas acerca da política: funcionalista e do con�ito 11. Poder e autoridade Objetivos de Aprendizagem: 1. Conhecer as relações de poder existentes na sociedade. 2. Entender o que e o Estado moderno. 3. Estabelecer distinções entre Estado e Governo. 4. Compreender a importância do sistema democrático para nosso sistema político. Política e poder A liderança nos grupos humanos É possível que o poder que alguns seres humanos passaram a exercer sobre os membros de seu grupo tenha obedecido a critérios existentes entre quase todos os grupos de mamíferos, especialmente os primatas, nos quais o poder é exercido pelos mais velhos e mais fortes. Mas, à medida que o ser humano começou a diferenciar-se e a substituir o comportamento “natural” por normas ditadas pela cultura, outros aspectos passaram a ser importantes. Entre eles, destacamos o exercício das funções religiosas, uma vez que a crença na capacidade de que algumas pessoas pudessem estabelecer uma relação com as divindades e fazê-las intervir na realidade em momentos difíceis passou a ser importante (COSTA, 2016). Assim como a religião, o desenvolvimento da cultura passou a dar voz de comando a certos membros de um grupo. Os guerreiros mais hábeis, capazes de defender seu grupo de animais ou de inimigos, também devem ter adquirido algum poder de liderança. À medida que os grupos humanos cresceram, espalharam-se pelos continentes, desenvolveram estilos de vida peculiares, criaram novos idiomas e formas de viver -, é presumível que a coesão entre os membros tenha se tornado maior que as lideranças tenham passado a ser necessárias, perpetuando-se na defesa e da manutenção desses grupos. O crescente abandono da vida nômade e o avanço da agricultura também trouxeram novas necessidades de defesa de territórios e de organização do trabalho. Isso levou à divisão de tarefas, que foi facilitada com a instituição da vida coletiva e civil e a incumbência de estabelecer regras de liderança e poder na vida comum. A importância crescente das estruturas de poder, organizadas para a defesa dos territórios e de suas populações, além de gerir e desenvolver a economia, fez com elas se tornassem um tema importante para os �lósofos sociais, antecessores dos sociólogos. Desde a Antiguidade, na Grécia, os �lósofos buscaram entender como certas pessoas e grupos são capazes de fazer com que os outros se comportem de acordo com o desejo deles e aparentemente abandonem seus próprios desejos e interesses. O espaço público como uma construção grega Os gregos, ao dedicarem esforços para entender como deveria ser organizada a vida civil das suas cidades-estados, chamadas de pólis, acabaram por criar o termo politiké, campo da ação humana que se destinava a bem administrar, com justiça e legitimidade, as regras da vida pública (COSTA, 2016). Em cada uma de suas cidades-estados, os gregos tinham suas próprias divindades, leis e instituições. Essa independência assegurava a não existência de um poder central grego, e a autonomia das cidades representava, para seus habitantes, o espaço da identidade civil. Diferente de outros povos antigos, os gregos desenvolveram um estilo de vida participativo e �exível. A cidadania, condição de que gozavam os homens livres, era respeitada e apreciada, e a participação política ocupava espaço considerável na vida civil da Grécia, dando origem à democracia, que signi�cava, literalmente, poder do povo. A democracia grega, entretanto, não tinha ainda o signi�cado que o regime veio a ter na modernidade. Era um sistema no qual as decisões políticas eram tomadas pelo voto direto dos cidadãos, conjunto formadopor proprietários de terras, artí�ces, militares e comerciantes enriquecidos. Escravos, estrangeiros, camponeses e mulheres estavam excluídos da cidadania. Por esse conjunto corresponder, na realidade, a um pequeno número de pessoas (estima-se em cerca de 10% da população), a votação podia ser direta - cada cidadão expunha oralmente suas ideias e levantava a mão para votar nas assembleias populares. O pensador alemão Jürgen Habermas (COSTA, 2016) considera que o espaço público, com o signi�cado atual de espaço coletivo e compartilhado por todos, nasceu com a democracia grega. Tal espaço distingue-se do espaço doméstico, privado e íntimo, onde se dá o trabalho e a reprodução da vida. No espaço público, na Ágora, se dá a práxis ou ação sobre a vida coletiva, os acordos, a luta e a guerra. Sobre a liderança e o poder Iniciamos dizendo que o estabelecimento do homo sapiens implicou dois aspectos fundamentais: em primeiro lugar, o estabelecimento da vida coletiva e da sociabilidade, obrigando os nossos antepassados a conviver uns com os outros de forma próxima e estreita (COSTA, 2016). SAIBA MAIS A Ágora, parte central da cidade, era o centro da vida grega, o coração da cidade, com a qual os cidadãos se identi�cavam intimamente por representar um espaço de deliberação política. Em segundo lugar, o abandono do comportamento guiado apenas por instintos em favor de um tipo de ação baseado na cultura - espaço de articulação tanto das relações da vida coletiva como das formas de representação simbólica, que organiza e fundamenta essa sociabilidade. Nesse sentido, o poder, como a capacidade de in�uenciar o comportamento e as formas de interpretação simbólica (valores, ideias e sentimentos) dos membros de um grupo, deixou de se manifestar apenas como obediência ao princípio da força. Entre os humanos, o poder adquiriu formas mais so�sticadas de expressão e manifestação, criando espaços autônomos de relacionamento e vida coletiva: as instituições especialmente destinadas a estabelecer, legitimar e distribuir o poder. Os gregos criaram formas novas de pensar, viver e instituir as relações de poder, ao valorizar o espaço público como diferente do espaço da propriedade privada, como uma instância da sociedade a ser compartilhada, diferente e oposta à vida familiar. Nela, deveriam se dar, segundo determinadas regras, os embates e a disputa por supremacia e dominação. Esse espaço adquiriu crescente importância e se tornou independente da religião e da economia, embora continuasse a estabelecer relações como esses campos da vida social. Assim, criava-se a política como área do conhecimento e como forma de atuação na sociedade. Os membros que compartilhavam essa vida pública e civil, em vista dessa nova condição das relações sociais, foram considerados cidadãos e conclamados a disputar a possibilidades de intervir nos acontecimentos e nas decisões. Essa novidade não parou de crescer e constituiu uma das instâncias signi�cativas das sociedades moderna e contemporânea que, sucessivamente, revisitam o passado em busca de transparência, legitimidade e justiça social (COSTA, 2016). Estado e sociedade Desde a Idade Moderna, o exercício do poder político legítimo é considerado em nossa sociedade uma atividade própria do Estado. Um dos primeiros estudiosos a fornecer as bases para essa concepção foi o historiador e diplomata italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527). Dando conselhos ao governante para que fosse temido pelos governados, Maquiavel também adverte que ele não pode ser odiado. Vê-se então, desde essa época, a ideia de que, para aceitar a dominação, a sociedade precisa considerá-la legítima (ARAÚJO, 2013). Hoje, pode-se a�rmar que o Estado tem como função assegurar, por meio de políticas públicas, certas condições de vida que a sociedade considera necessárias à população. Não há, no entanto, unanimidade quanto ao papel dessa instituição social, tampouco quanto às interpretações teóricas a respeito dele. É fato que esse é um tema controverso. Concepções de Estado e sociedade civil na Idade Moderna A primeira de�nição de sociedade civil foi elaborada pelo �lósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679). Ele acreditava que, em seu estado natural, os homens lutavam uns contra os outros pelo poder e por riqueza. Por isso, os indivíduos abrem mão da liberdade e concebem regras de convivência a �m de garantir condições mínimas de estabilidade. Forma-se, assim, a sociedade civil - que, no pensamento de Hobbes, é sinônimo de Estado. Conforme a burguesia e o Estado moderno se consolidavam na Europa, a noção de sociedade civil foi se distanciando da sociedade política. Durante a Idade Média, tanto o poder como a propriedade eram hereditários. Na sociedade burguesa moderna, esses dois aspectos se desvinculam: embora, na sociedade civil, a propriedade continue sendo transmitida de pai para �lho, o poder político passa a obedecer a normas e leis próprias. Garante-se a democracia no âmbito da sociedade política, desde que esta não inter�ra na propriedade e na livre iniciativa econômica (ARAÚJO, 2013). Se Locke considerava a propriedade privada um direito natural, para o �lósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) ele era justamente a origem da desigualdade e da corrupção moral. A sociedade civil, instaurada com a invenção da propriedade, seria uma degeneração do estado de natureza, no qual os seres humanos eram bons, livres e felizes. Para Rousseau, os indivíduos só recuperariam as qualidades perdidas quando a sociedade civil se transformasse em sociedade política, na qual a vontade geral do povo seria soberana - ou seja, na qual as regras e leis a serem seguidas emanassem do próprio povo. En�m, o que é o Estado? Não há uma visão única sobre a resposta a essa pergunta. Na interpretação do �lósofo alemão Friderich Engels (1820-1895), o Estado é um produto da sociedade e seu papel é amortecer os con�itos sociais, evitar os choques entre as classes e, de certo modo, assegurar a reprodução do sistema social (ARAÚJO, 2013). @wikimedia Para o �lósofo inglês John Locke (1632-1704), a sociedade civil é mais um aprimoramento do estado natural do que uma solução para ele . O homem, livre e igual por natureza, precisa de um poder imparcial e legítimo para mediar con�itos, garantindo os direitos que já tinha no estado natural: direitos à vida, à liberdade, à saúde e à propriedade. Além da ideia de igualdade no nascimento, o respeito à propriedade como um direito natural do homem está em conformidade com os fundamentos liberais da burguesia em ascensão na Inglaterra do século XVII. Já o �lósofo político grego Nicos Poulantzas (1936-1979) pensa o Estado como uma relação de forças, uma relação de poder entre as classes sociais e no próprio interior delas. Para Louis Althusser (1918-1990), �lósofo francês, o Estado é composto por aparelhos ou instituições sociais (como é o caso do exército, da administração, do sistema judiciário e do aparato da polícia) e tem por função a repressão, ou seja, a manutenção da ordem social. Esta, por sua vez, é moldada por interesses da classe dominante, que faz com que o Estado esteja ao seu serviço (ARAÚJO, 2013). Na concepção do sociólogo Max Weber, o Estado só pode existir quando os seres humanos se submetem à autoridade de um grupo dominante. Nesse sentido, quando essa instituição se constitui, estabelece-se uma relação de “dominação do homem sobre o homem”, um “monopólio da violência legítima”. Em outras palavras, trata-se da obediência da população a um grupo dominante mediante uma violência reconhecida e amparada legalmente (ARAÚJO, 2013). Estado e governos Ao mesmo tempo em que o Estado se revela necessário na sociedade atual, é também foco de contradições e problemas de diversas ordens. Na contemporaneidade, podemos observar, por exemplo, as disputas pelo poder estatal entre as classes sociais e pelos grupos de diferentes partidos políticos (ARAÚJO, 2013). Além da centralização da administração da coisa pública, um dos aspectos do desenvolvimento do Estado moderno é seu vínculo
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