Buscar

APOSTILA - SOCIOLOGIA GERAL - FCV

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 84 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 84 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 84 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O Professor Flávio Donizete Batista possui graduação em Filosofia pela Univer-
sidade do Sagrado Coração (1999), graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário 
Internacional UNINTER (2017), e mestrado em Educação pela Universidade Estadual de 
Londrina (2003). 
Atualmente é Coordenador do Curso de Pedagogia da FATECIE - Faculdade de 
Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná e professor na área de Filosofia nos cursos de 
Pedagogia, Psicologia, Administração e Ciências Contábeis. 
Professor efetivo da Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná.
Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação e Filosofia, atuan-
do principalmente nos seguintes temas: educação, ética, docência, ensino-aprendizagem 
e relação pedagógica.
Endereço para acessar CV na Plataforma Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4266799322940706
AUTOR
http://lattes.cnpq.br/4266799322940706
Olá, prezado e prezada, estudante. 
Com alegria convido você a realizar um interessante estudo de Sociologia, que 
ajudará a conhecer um pouco mais da sociedade em que vivemos.
O objetivo é aproximar você das investigações, reflexões e teorias das Ciências 
Sociais, que nos ajudam a entender um pouco do dos elementos que constituem nosso 
cotidiano vivido em sociedade.
Vamos abordar os antecedentes do estudo da sociedade, buscando conhecer um 
percurso histórico que preparou o surgimento da Sociologia no final do século XIX.
Buscaremos conceituar a Sociologia, a partir daquilo que seus pensadores princi-
pais apontaram ser seu objeto específico de estudo.
Trataremos de um importante tema que é a cultura, mostrando seu significado e 
sua rica diversidade, mostrando a necessidade de aprendermos a valorizar a nossa cultura 
e a daqueles que são diferentes de nós.
E, por fim, vamos estudar sobre a política e o poder, tão necessários para a manu-
tenção desenvolvimento de nossa vida.
Obviamente não será possível abordar todos os itens que envolvem a vida em so-
ciedade e que são estudados pela Sociologia. Mas será uma importante oportunidade para 
iniciarmos nossos estudos sociológicos, e nos despertará para novas leituras e pesquisas, 
cientes de que sempre há ainda muito a aprender.
Um excelente estudo a todos. 
Grande abraço.
 
Prof. Me. Flávio Donizete Batista. 
 
APRESENTAÇÃO DO MATERIAL
SUMÁRIO
UNIDADE I ...................................................................................................... 5
O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
UNIDADE II ................................................................................................... 24
O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
UNIDADE III .................................................................................................. 44
Cultura e Sociedade
UNIDADE IV .................................................................................................. 62
Política e Poder
5
Plano de Estudo:
• A sociologia: antecedentes na história
• Os gregos e as origens do pensamento científico
• O Renascimento e as novas formas de pensar a sociedade
• Maquiavel e a emergência da Ciência Política
• O iluminismo e o liberalismo
•O positivismo de Auguste Comte e a Sociologia
Objetivos de Aprendizagem:
• Conhecer os precursores do pensamento sobre a sociedade.
• Compreender o processo de desenvolvimento histórico da ciência social.
• Estabelecer relações entre os momentos históricos e a forma de pensar a sociedade.
UNIDADE I
O Pensamento sobre a Sociedade: 
Breve Resgate Histórico
Professor Mestre Flávio Donizete Batista
6UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
INTRODUÇÃO
Todos nós vivemos em sociedade, e até o mais remoto ermitão é um ser humano 
que já foi socializado e optou pelo isolamento da sociedade. Entretanto, isolamento indi-
vidual não é isolamento da sociedade. O mero ato de pensar é um ato social; aprender a 
linguagem é um ato social. Embora qualquer um de nós venha ao mundo com a capacidade 
de aprender línguas, só as aprendemos em contato com o mundo social. Essa constatação 
simples, “vivemos em sociedade”, deu origem a muitas reflexões sobre o lugar do indivíduo 
no mundo. 
Desde o fim do século XIX, essas reflexões têm sido sistematizadas em ciências, 
denominadas Ciências Sociais. A proposta nesta unidade é convidar você a conhecer 
alguns aspectos que antecederam na história essas ciências, nos ajudando a aumentar 
nossa compreensão sobre o que significa conhecer a vida em sociedade.
7UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
A Sociologia: antecedentes na história
A Sociologia resultou de um movimento de ideias que teve início com os gregos 
antigos e foi retomado no Renascimento. Segundo Costa (2016), grandes mudanças na 
sociedade ocidental - desenvolvimento do capitalismo, do colonialismo, das ciências e da 
tecnologia - levaram os pensadores a se afastar da visão religiosa do mundo da época e a 
analisar crítica e objetivamente a vida social. Escreve a autora:
Embora, desde os primórdios da humanidade, as forças sociais tenham agido 
sobre o comportamento humano, nem sempre tivemos consciência da ma-
neira pelas quais elas se constituem e atuam sobre nós. Como nas demais 
ciências, as explicações sobre a sociedade e o modo como convivemos com 
ela foram regidas por crenças de base religiosa ou mítica. As ciências vão 
se constituindo à medida que as crenças adotadas se tornam incapazes de 
resolver nossos problemas (COSTA, 2016, p. 16).
 O fato de o homem relacionar as forças da natureza com as ideias religiosas e 
vê-las como deusas ou deuses não foi suficiente para responder às perguntas importantes 
sobre a vida ou para resolver os problemas concretos que as sociedade enfrentavam no 
dia a dia. Diante de questões como essas, era preciso estudar a natureza e a vida de forma 
objetiva para obter respostas humanas sobre os problemas humanos. Assim se desenvol-
veu o pensamento científico, que, ao longo dos séculos, tentou substituir as explicações 
religiosas.
O mesmo ocorreu com as Ciências Humanas. As explicações puramente filosóficas 
ou religiosas mostraram-se inadequadas para atender certas necessidades de ação sobre o 
8UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
homem e sobre a sociedade. Vimo-nos obrigados a, por meio de métodos mais adequados, 
desenvolver o pensamento científico sobre a sociedade. Foi assim que surgiu a Sociologia 
- o pensamento científico sobre como o “eu” e os “outros” interagem, interferindo em nossa 
maneira de pensar em nosso comportamento, permitindo diagnosticar situações, descrever 
tendências, prever atitudes e superar obstáculos.
Gisele Dos Santos
Pensamento científico e origem. Só iedade
9UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
Os gregos e as origens do pensamento científico.
Os gregos antigos, habitantes de uma península que se abria para o Oriente, foram 
um povo original - comerciantes, navegadores e viajantes que aprenderam a conviver com 
diferentes povos e culturas, dos quais receberam inúmeras influências e conhecimentos. 
Além disso, desenvolveram o apreço pela reflexão, dedicando-se à Filosofia. Tinham um 
estilo de vida urbano e um agudo apreço pela vida pública. Os gregos não formaram impé-
rios como os egípcios e os mesopotâmios, mas desenvolveram uma cultura diversificada, 
cuja principal unidade eram as cidades-Estado. Cidades como Atenas, Esparta, Tebas e 
Corinto, entre outras, eram independentes entre si e cada qual criou suas leis, a sua or-
ganização sociopolítica e as suas tradições. Entretanto, compartilhavam a mesma língua, 
mitologia e tradições, denominada helenística. Essa cultura, posteriormente, foi apropriada 
pelo Império Romano, que a difundiu pela Europa e pelo Oriente.
O crescimento econômico das cidades gregas, promovido pela expansão comer-
cial e colonial, com base no trabalho escravo, permitiu o surgimento de uma elitelivre 
das tarefas e do trabalho, com tempo e recursos para o exercício e a intensa prática da 
reflexão sobre a própria cultura e daquelas advindas dos povos com quem conviviam e 
comerciavam. Isso lhes permitiu desenvolver as artes, a Filosofia e o pensamento racional. 
Foram capazes, então, de organizar sistematicamente diferentes áreas do conhecimento, 
como a Geometria, a Filosofia e a Política. Deram grande importância ao espírito público e 
à participação política, sendo responsáveis pela criação de um regime político único, com 
10UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
base na participação de parte dos cidadãos na vida pública: a democracia.
Costa (2016) acrescenta que o pensamento científico não se desenvolveu entre 
os gregos antigos, como viria a se realizar na Europa, séculos mais tarde. Isso porque o 
conhecimento helênico e as teorias ainda tinham a influência de uma concepção metafísica 
da realidade. Entretanto, foi essa herança grega de um pensamento filosófico capaz de 
conceber a vida pública e a importante ação do homem sobre a coletividade que, resgatado 
na Europa a partir do século XV, lançou as bases do que viria a ser o pensamento socioló-
gico.
11UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
O Renascimento e as novas formas de pensar a sociedade
O Renascimento é o período da história da Europa que se inicia por volta do século 
XIV, quando, depois de quase mil anos de feudalismo - sociedade marcada pela proprie-
dade rural, produção agrária e servidão, assim como pelo domínio da Igreja Católica -, 
desenvolve-se um novo modo de vida social com base no comércio, na vida urbana e no 
poder laico. Vale destacar o que escreve Costa:
O controle das pestes que assolaram a Europa na Idade Média, a invenção 
do arado, entre outros instrumentos agrários, as Cruzadas e a descoberta 
de rotas comerciais como Oriente permitiram a ascensão da burguesia, uma 
nova classe social que se desloca do meio agrário e passa a se dedicar ao 
comércio. Aos poucos, essa atividade, inicialmente subsidiária, ganha impul-
so e, sediada nas cidades, promove o Renascimento comercial e urbano. 
As navegações marítimas se intensificaram e o colonialismo se expande por 
outros continentes, formando-se os Estados Nacionais, como Portugal e Es-
panha. O comércio se expande e o lucro que ele possibilita se torna, cada vez 
mais, o principal objetivo das atividades econômicas (2016, p. 19). 
Essas condições são elementos de um sistema econômico renovado, o capitalis-
mo, alicerçado na propriedade privada e no trabalho assalariado: inicialmente por meio do 
comércio, depois, por meio da indústria.
Para que esse novo sistema tivesse pleno desenvolvimento, era preciso transfor-
mar a sociedade europeia, ainda presa aos princípios feudais, promovendo uma cultura 
voltada à prosperidade material, à felicidade terrena e à vida pública, princípios que regiam 
algumas sociedades da Antiguidade. Por isso, os pensadores renascentistas buscaram no 
12UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
passado as suas fontes de inspiração para a nova cultura, especialmente na cultura antiga 
e na herança greco-romana. Nesta cultura antiga, seriam encontrados elementos contrários 
à cultura medieval - calcada na religião e numa mentalidade conservadora do ponto de vista 
moral e social, a qual dividia os seres humanos em linhagens, regiões, dinastias e relações 
servis. Isso explica por que esse período foi chamado de renascimento pelos historiadores, 
pois promoveu o renascer do comércio e da vida na polis.
13UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
Maquiavel e a emergência da Ciência Política
O Renascimento revelou autores como Nicolau Maquiavel, que se destacou por sua 
obra O Príncipe, considerada pioneira no desenvolvimento do pensamento político. Em seu 
texto, Maquiavel analisa o exercício do poder, mostrando as condições sociais necessárias 
para que um governante conquiste, mantenha e governe seu reino, acreditando que das 
qualidades de liderança desse governante dependeria a felicidade de seus governados.
Maquiavel pensava realisticamente as relações de poder. Ele procurava desvendar 
suas condições e variantes. Identificava nelas diferentes categorias sociais envolvidas - a 
nobreza, o clero, os ministros, os militares, o povo - e mostrava como o príncipe deveria se 
relacionar com cada um. Não deixou de mostrar que o governo também depende das ações 
nem sempre meritórias, como a manipulação, as barganhas e o uso oportuno e estratégico 
da violência. Em síntese, Maquiavel receitava doses bem medidas de persuasão, seja 
pelo convencimento e eventuais benfeitorias, seja pela força bruta das armas. Maquiavel 
expressava ideias pertinentes sobre a sociedade, o poder e as relações sociais.
Costa (2016) destaca que a obra de Maquiavel é considerada pelos especialistas 
o primeiro estudo sistemático da Ciência Política, ou de Filosofia Moderna, mas por causa 
da crueza que demonstrou ao descrever as condições de exercício do poder, foi indevida-
mente considerado defensor da doutrina de que os “fins justificam os meios”, ao aconselhar 
os poderosos a assassinar, mentir e bajular, quando necessário, para conquistar ou manter 
o poder. O seu livro é muito mais aprofundado do que tais classificações. Em razão desse 
14UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
pragmatismo em relação aos objetivos dos poderosos, passou-se a chamar de maquiavéli-
co todo pensador ou governante que age, a qualquer custo, para a conquista e manutenção 
do poder. Maquiavelismo é o nome que recebeu a prática dessa visão pragmática e pouco 
ética da política. No entanto, Maquiavel não pensava em objetivos escusos, visava apenas 
assegurar a ordem social, a prosperidade e a governança dos reinos. Como cientista mo-
derno, ele analisou a sociedade como objeto, de forma isenta de partidarismos e paixões.
Assim, o Renascimento, impulsionado pelo despertar do desenvolvimento capita-
lista, lançou as bases de um pensamento laico voltado a analisar a sociedade em suas 
particularidades, por meio de uma atitude crescentemente objetiva, mas distanciada dos 
dogmas religiosos.
15UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
O Iluminismo e o Liberalismo
A liberdade guiando o povo, de Eugéne Delacroix (1830)
Imagem: http://editoraunesp.com.br/blog/os-impactos-historicos-da-revolucao-francesa
À medida que o capitalismo se desenvolvia, estimulando o avanço da ciência, 
acentuava-se na sociedade ocidental a prevalência da racionalidade e do pensamento lai-
co. Costa (2016) escreve que cada vez mais se acreditava na capacidade do pensamento 
racional poder desvendar a natureza do mundo em suas diferentes instâncias e aspectos. 
Paralelamente, as nações também se transformavam e, com elas, o nacionalismo, esse 
sentimento de pertencimento a um território governado por um poder que o administra. Os 
16UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
anseios por prosperidade, justiça e bem-estar se intensificavam e o Estado era conclamado 
a criar as condições necessárias para isso. Novas aspirações, novos valores e uma atitude 
diferente diante da sociedade e da realidade circundante provocaram o surgimento de um 
movimento filosófico conhecido por Iluminismo.
Esse movimento de ideias era impulsionado pelo crescimento das descobertas 
e avanços dos métodos e instrumentos científicos de investigação da realidade, da vida 
urbana e também pelo colonialismo, que permitia aos europeus conviverem cada vez mais 
intimamente com culturas diferentes da sua, algumas vezes de forma tensa, outras vezes 
com maior capacidade de diálogo, embora sempre com uma tentativa, por parte das potên-
cias europeias, de estabelecer trocas assimétricas e lucrativas. E se por um lado havia o 
anseio por progresso, por outro também cresciaa consciência de que a sociedade europeia 
apresentava problemas e injustiças de difícil solução. A Igreja Católica, em particular, era 
questionada, e já não se acreditava no poder da fé ou da religião na solução dos problemas 
sociais.
Diversos pensadores se dedicaram ao estudo da sociedade, das relações políticas 
e econômicas, como Montesquieu (1689-1755), Voltaire (1694-1778) e Jean-Jacques Rous-
seau (1712-1778). Este último, na obra Do Contrato Social, desenvolve a tese de que a vida 
política resultaria de uma decisão coletiva pela qual os membros de uma sociedade abrem 
mão de sua liberdade em prol do bem comum - seria a origem, assim, da organização do 
Estado tal como o pensador formulou.
A expansão do comércio e da manufatura capitalista, bem como do assalariamento 
do trabalhador, exigiam uma atitude mais contundente contra a monarquia absolutista e as 
relações servis, resquícios do período medieval. Esses anseios se traduziam por um desejo 
cada vez maior por liberdade, que se tornou um dos principais objetivos do Iluminismo. Não 
se defendia simplesmente a liberdade de decisão do cidadão na sua vida cotidiana, mas, 
principalmente, a liberdade da nação em relação aos poderes absolutos do rei; do traba-
lhador em relação aos laços de servidão; e do comércio em relação às restrições impostas 
ao livre funcionamento do mercado. Os filósofos procuravam defender esses princípios 
compondo uma tendência filosófica e política a que se deu o nome de liberalismo.
Rousseau, por exemplo, considerava a liberdade um dom natural, próprio da dig-
nidade humana - à capacidade de cada um de nos de se autodeterminar em função de 
uma ideia, de um ideal ou do bem comum -, um princípio de liberdade humanista e que 
corresponde a um estado interior de autonomia e independência. É dessa liberdade que 
o homem só abriria mão, em parte, para a criação das instituições políticas que passaram 
a governar as nações em nome da coletividade. Esse era o contrato social que exigia um 
17UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
Estado livre e democrático.
Adam Smith, considerado o pai da Economia Moderna, defendia um princípio de 
liberdade diferente do de Rousseau - uma liberdade que pertence à regulamentação na-
tural das relações humanas, especialmente as econômicas. Dando origem ao liberalismo 
econômico, essa noção de liberdade justificava a defesa do livre funcionamento das leis 
de mercado, de oferta e procura, sem a intervenção de medidas econômicas reguladoras, 
como taxas ou impostos. Ao Estado caberia apenas defender a livre operação dessas leis 
e a adequada transação de mercadorias, fossem elas trabalho, matéria-prima, produtos 
ou moedas. O liberalismo econômico expressava os anseios dos capitalistas, cujos lucros 
passaram a advir principalmente da expansão comercial local e internacional, do aumento 
da produção manufatureira e do trabalho assalariado. O liberalismo política e a defesa da 
democracia também faziam parte desse ideário e foram tema de autores como Montesquieu. 
Embora fossem diferentes os princípios de liberdade que esses pensadores defendiam, as 
teorias desenvolvidas revelam a importância do tema no meio intelectual da época.
Tendo essas ideias como foco, o Renascimento e o Iluminismo prepararam o ter-
reno para que, no século XIX, a Sociologia se desenvolvesse como ciência social e campo 
do saber.
18UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
O positivismo de Auguste Comte e a Sociologia
Augusto Comte retratado em um selo impresso na România, em 1958
Os avanços da ciência, os aumentos dos lucros e da produtividade fizeram com 
que o racionalismo e a confiança no conhecimento objetivo fossem alçados no posto de 
princípios quase inquestionáveis.
A doutrina da Igreja Católica perdia espaço na sociedade em transformação, pois 
não acompanhava a evolução da ciência nem era capaz de orientar a nova vida social, 
que se distanciava cada vez mais das velhas tradições e concepções da moral e virtude 
valorizadas pela Igreja. A ideia de que o conhecimento científico era seguro e de que suas 
leis eram confiáveis deu origem a um movimento filosófico que se tornou conhecido como 
positivismo. Inspirado pelo sucesso alcançado pelas Ciências Físicas e Biológicas, o posi-
19UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
tivismo dedicou-se a estudar o comportamento humano e a sociedade. Concebia o mundo 
social como um organismo vivo, constituído de partes integradas e em funcionamento. O 
adepto mais importante dessa tendência foi o francês Auguste Comte, o primeiro a propor a 
Sociologia como uma ciência. Foi ele também que, percebendo que o combate às crenças 
religiosas deixava a população desamparada e descrente, resolveu criar uma “religião 
científica”, na qual os cientistas ocupariam o lugar dos sacerdotes.
Costa (2016) lembra que foi assim que, depois de séculos de reflexão filosófica e 
de um mundo convulsionado por intensas transformações, chegamos à formação de um 
campo de conhecimento que tem por objeto de estudo a vida em sociedade.
Propondo-se a um estudo sistemático das relações humanas em coletividade, a 
Sociologia permite identificar aquilo que, além das circunstâncias físicas e naturais, além 
do caráter ou da psiquê dos interagentes, influencia o comportamento dos seres humanos 
em sociedade.
Araújo (2013) escreve que o último século apresentou profundas e intensas trans-
formações no modo de viver em sociedade. Fronteiras e alianças entre países se alteram, 
as grandes potências econômicas tentam manter sua posição dominante, muitos povos 
e nações clamam por paz e justiça, avanços tecnológicos surpreendem, a quantidade e 
a variedade de informações aumentam, artistas buscam ser ouvidos, vistos ou lidos. As 
estruturas familiares se diversificam, instituições tradicionais da política ora ganham, ora 
perdem credibilidade, a economia se torna mundialmente interligada. Regimes políticos 
entram em colapso; mobilizações sociais convergem e divergem sobre os problemas e 
soluções para os problemas de seu tempo.
Para completar, é neste contexto que as Ciências Sociais
apresentam-se para analisar e tentar explicar que está acontecendo no âmbi-
to político, econômico, cultural e social da realidade complexa que existe sob 
a aparência das mudanças sociais. As Ciências Sociais indagam constante-
mente sobre o que se altera e o que permanece, o que rompe com estruturas 
antigas e o que se constitui como novo na sociedade (ARAÚJO, 2013, p. 11).
20UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
SAIBA MAIS
A Sociologia se desenvolveu durante o período histórico que denominamos 
Modernidade, que se inicia no século XV, na Europa, com o renascimento urbano, 
comercial e cultural, e se estende até os últimos vinte e cinco anos do século XX. 
Diversos autores consideram que a Modernidade termina quando o fim da União 
das Repúblicas Socialistas Soviéticas (1991) possibilita a comunicação mais efetiva 
e relações mais estreitas entre os países, antes divididos pela oposição entre dois 
impérios - o estadunidense e o soviético.
Uma nova realidade geopolítica e a chamada III Revolução Tecnológica 
(revolução informática), segundo esses autores, entre os quais o sociólogo Pierre 
Levy (1956-), teriam posto fim à modernidade, desencadeando um período histórico 
conhecido como Pós-Modernidade. 
A nova conjuntura têm obrigado os sociólogos a repensar as relações 
nacionais e internacionais e a rever conceitos e metodologias. Estudar as novas 
configurações sociais da sociedade globalizada e analisar as consequências do de-
senvolvimento tecnológico sem precedentes são os grandes desafios da atualidade.
 
REFLITA
“O progresso não é mais do que o desenvolvimento da ordem.” (Augusto Comte)
A expressão é o lema político do positivismo, forma abreviada do lema religioso 
positivista.
(CHAUÍ, Marilena. Conviteà filosofia. São Paulo: Ática, 1994, p. 59).
21UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois dessa unidade, na qual procuramos mostrar que a Sociologia resultou de 
uma conquista lenta, gradual e crescente, vamos dar continuidade ao nosso estudo espe-
rando que, com os conhecimentos que aqui apresentamos, você possa entender de outra 
forma a realidade que nos cerca.
Vimos que já há muito tempo o homem pensa sua vida em sociedade, mas com di-
ferentes perspectivas e instrumentos. A Ciência Social não surgiu do nada, mas é resultado 
de um longo processo histórico.
Que nosso estudo nos ajude a resgatar um esforço imenso desenvolvido por nos-
sos antepassados para entender a sociedade como uma instância diferente e específica da 
vida humana.
Leitura Complementar
Artigos e textos diferentes que tragam informações interessantes, atuais, dicas, 
casos reais ou aplicação de conceitos que o aluno está aprendendo tornam a leitura mais 
empolgante e auxiliam na fixação do que foi estudado.
22UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
Material Complementar
Sinopse: Trata-se de uma obra ficcional que mostra as tendências 
negativas da sociedade em que vivemos. Por meio desse texto, é 
possível pensar os problemas sociais e entender de que forma a 
literatura e a ficção podem contribuir para isso.
LIVRO (OBRIGATÓRIO)
Título: Fazenda-modelo
Autor: Chico Buarque de Holanda.
Editora: Civilização Brasileira, 1989.
Sinopse: O documentário mostra os relatos das crianças sobre 
a infância e as dificuldades de ser criança em variados grupos 
sociais
Link do vídeo: http://portacurtas.org.br/filme/?name=a_inven-
cao_da_infancia
FILME/VÍDEO (OBRIGATÓRIO)
Título: A invenção da infância, de Liliana Sulzbach
Ano: 2000.
WEB (OPCIONAL)
Apresentação do link: Sociedade Brasileira de Sociologia.
Fundada em 1937, primeiramente como uma sociedade estadual, Sociedade Pau-
lista de Sociologia, e rebatizada e transformada em sociedade científica atuante em escala 
nacional e internacional em 1950, como Sociedade Brasileira de Sociologia, a SBS é uma 
entidade jurídica sem fins lucrativos, de direito privado, que busca reunir institucionalmen-
te pesquisadores brasileiros atuantes nas áreas de Sociologia e Ciências Sociais afins. 
Desde 1987, mantém a regularidade bienal de seus Congressos Brasileiros de Sociologia. 
Somando-se a outros eventos, apoiados e realizados em co-parceria institucional, e a um 
leque de publicações editadas, a história da Sociedade Brasileira de Sociologia é marcada 
pelo constante debate e interação de sua pauta acadêmico-científica com os problemas e 
questões interpostos ao desenvolvimento do país.
• Link do site: http://www.sbsociologia.com.br/2017/index.php?formulario=asocie-
dade&metodo=0&id=1
http://portacurtas.org.br/filme/?name=a_invencao_da_infancia
http://portacurtas.org.br/filme/?name=a_invencao_da_infancia
http://www.sbsociologia.com.br/2017/index.php?formulario=asociedade&metodo=0&id=1
http://www.sbsociologia.com.br/2017/index.php?formulario=asociedade&metodo=0&id=1
23UNIDADE I O Pensamento sobre a Sociedade: Breve Resgate Histórico
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Maria Lenzi. Sociolo-
gia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto. Disponível em: http: <//fcv.bv4.digitalpages.com.
br>
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994, p. 59.
COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 5 ed. São Paulo:Mo-
derna, 2016.
http://fcv.bv3.digitalpages.com.br/
http://fcv.bv3.digitalpages.com.br/
24
Plano de Estudo:
● O que é sociologia e qual seu objeto?
● Émile Durkheim: fatos sociais, solidariedade mecânica e orgânica
● Karl Marx
● Max Weber
● Teorias sociológicas contemporâneas
Objetivos de Aprendizagem:
● Compreender o conceito de Sociologia.
● Conhecer qual seu objeto a partir de seus teóricos.
● Conhecer o pensamento dos clássicos e dos contemporâneos da Sociologia.
UNIDADE II
O Pensamento Clássico e 
Contemporâneo da Sociologia
Professor Mestre Flávio Donizete Batista
25UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
INTRODUÇÃO
O que é essa coisa chamada “o social” que os sociólogos estudam? Podemos dizer 
que o social é o ponto de partida. Muitas pessoas preferem ver a vida humana como algo 
biológico, individual, econômico ou religioso, mas para os sociólogos, o ponto de partida 
sempre está em tudo o que é ser social. Essa é uma ideia com vários significados. E 
queremos em nosso estudo aprender como a Sociologia encara e relaciona esses mesmos 
significados para, ao final, compreender como o homem vive em sociedade.
As pessoas vivem juntas, ou seja, em sociedade. E os cientistas sociais são os 
interessados em entender como acontece essa vida em sociedade. Quais são as formas de 
convivência entre as pessoas? Que relações são fundamentais em uma sociedade? Como 
funciona uma sociedade? Por que as pessoas, em geral, fazem coisas muito parecidas? 
Como as sociedades mudam? Por que a vida em sociedade produz diferenças tão grandes 
entre seus membros? Quais os fatores diferenciam grupos ou sociedades? Por que algu-
mas são tão exploradas, subjugadas e até mesmo escravizadas? 
Vejam quantas perguntas. Talvez não demos conta de todas nesse estudo. Mas 
é esta busca pela compreensão cada vez maior de nossa própria vida em sociedade que 
estamos dando continuidade na unidade que se inicia. E que busquemos sempre mais 
conhecimentos sobre nossa vida em sociedade. 
Tenhamos todos um bom estudo.
26UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
1. O que é Sociologia e qual seu objeto?
Sociologia é a ciência que estuda as relações sociais, as instituições sociais e a 
sociedade. É, pois, uma ciência social que dispõe de um conjunto acumulado de conheci-
mentos e que se propõe a fornecer respostas acerca do ser humano. Gil (2011) acrescenta 
que a Sociologia não estuda a ação das pessoas isoladamente, mas trata das atitudes e 
dos comportamentos das pessoas como situações coletivas, que podem ser explicadas 
pelas relações que estabelecem entre si.
O interesse da Sociologia são as situações cujas causas não são buscadas nas 
personalidades individuais, mas sim na sociedade, nos grupos sociais ou nas relações que 
se estabelecem entres seus membros. Assim, o objeto da Sociologia - ou seja, aquilo que 
ela estuda - são as relações que as pessoas estabelecem entre si na sociedade: coopera-
ção, competição, conflito, interdependência.
Os sociólogos não se interessam, portanto, pelo estudo das pessoas isoladamente, 
mas enquanto membros dos diferentes grupos, organizações ou comunidades que com-
põem a sociedade. Podemos, portanto, definir Sociologia como o estudo da sociedade. 
Esta definição, no entanto, mostra-se muito ampla já que não possibilita caracterizar com 
precisão o conceito de sociologia. Todo comportamento humano se dá em algum tipo de 
sociedade ou é influenciado por fatores sociais. Não é por ocorrer numa sociedade que um 
fato se torna objeto da investigação sociológica. Um fato é realmente entendido como so-
ciológico quando se procura entendê-lo no que diz respeito às relações que se estabelecem 
27UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
entre os seres humanos e as circunstâncias sociais que os afetam. Mas não há consenso 
entre os principais autores quanto ao objeto da Sociologia. Para um autor como Émile 
Durkheim, este objeto é constituído pelos fatos sociais. Para Max Weber, é a ação social. 
Para os sociólogos que se apoiam nas ideias de Karl Marx, são as relações de produção. 
Quanto a essa dificuldade de se definir seu objeto, Gil escreve:
Podemos admitir que a Sociologia, como qualquer ciência jovem, tem um 
problema relacionado à precisão conceitual. Assim torna-se razoável também 
admitir que não haja um consenso entre os diversos autores acerca de seu 
objeto. E que essasdivergências entre os autores não são insuperáveis, já 
que podem ser explicadas em virtude de corresponderem a abordagens do 
mesmo objeto sob perspectivas diferentes (GIL, 2011, p. 27).
A principal fonte de divergência entre os autores refere-se à objetividade do conhe-
cimento sociológico. Para alguns autores, o conhecimento sociológico é objetivo, exterior 
aos indivíduos, cabendo ao sociólogo manter-se neutro na investigação dos fatos sociais. 
Estes autores tendem a privilegiar o papel das instituições sociais que obrigam os indiví-
duos a adotarem comportamentos que são exteriormente definidos. Para outros autores, a 
sociedade é uma construção social, que depende dos significados atribuídos pelos indiví-
duos. Estes autores tendem a privilegiar o papel ativo dos indivíduos nas escolhas sociais. 
Para outros autores, por fim, o aspecto mais evidente da sociedade é a desigualdade e a 
dominação de alguns indivíduos por outros. Estes autores tendem a privilegiar o estudo 
dos conflitos que se verificam na sociedade. Esses três enfoques derivam principalmente 
da influência de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, que dá origem às principais 
vertentes teóricas da Sociologia.
28UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
2. Émile Durkheim
Para esse sociólogo a sociedade prevalece sobre o indivíduo. Ela deve ser enten-
dida como um conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento que não existem 
apenas nas consciências individuais, mas que são construídas exteriormente. Gil (2011) 
lembra que, na vida em sociedade, os seres humanos se defrontam com regras de conduta 
que não foram diretamente criadas por eles, mas que existem e devem ser seguidas por 
todos, pois sem elas a sociedade não existiria.
2.1 Fatos sociais
Imagem: https://cafecomsociologia.com/fato-social-durkheim/
https://cafecomsociologia.com/fato-social-durkheim/
29UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
Durkheim acredita que o objeto da Sociologia é o fato social, que ele define como 
formas de agir, pensar e sentir que são externas ao indivíduo e a ele se impõem, mas que 
orientam seu comportamento, muitas vezes sem que ele perceba que está sendo influen-
ciado. Falar o idioma de um país onde nascemos é, por exemplo, um fato social - não 
depende de nossa escolha nem de nossa vontade e impõe-se à nossa maneira de agir, 
com uma força externa a nós. 
Para explicar melhor, Costa (2016) escreve que aprender o idioma e nos expres-
sarmos por intermédio dele, resulta do poder coercitivo dos fatos sociais sobre nosso com-
portamento e nossa forma de ser. Da mesma forma, os hábitos alimentares e a maneira de 
se vestir, em dada sociedade, impõem-se a nós, independentemente de nossa vontade. Já 
encontramos esses fatos formulados ao nascer e a ele nos adaptamos. Para compreender 
como as forças sociais atuam, o sociólogo precisa analisar as manifestações e as regulari-
dades dos fatos sociais, pois, em si mesmos, eles são inapreensíveis. Daí a importância das 
estatísticas, que são uma forma de os fatos sociais se tornarem evidentes ao pesquisador.
Durkheim afirma que os fatos sociais são uma força exterior ao indivíduo. Gil (2011) 
lembra que as maneiras de agir e sentir são exteriores às pessoas, pois constituem herança 
própria da sociedade, que são transmitidas de geração para geração e atuam sobre elas 
independentemente de sua adesão consciente. O exemplo acima do uso de um idioma 
também se refere a essa característica dos fatos sociais.
A generalidade, bem como a coercitividade e a exterioridade, é outra característica 
dos fatos sociais. Trata-se da repetição dos fatos sociais em todos os indivíduos de uma 
sociedade ou grupo, pelo menos, na maioria deles. Em decorrência dessa generalidade, os 
fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum à sociedade ou grupo, 
como, por exemplo, os tipos de vestimenta, as formas de relacionamento, as crenças, os 
princípios morais.
Durkheim distingue a consciência individual da consciência coletiva. Esta última 
resulta da união das consciências particulares que agem e reagem umas sobre as outras 
e dão origem a uma realidade nova, mais rica e desejável do que a condição individual de 
cada identidade particular. Assim, o social transcende o individual e propicia integração, 
equilíbrio e bem-estar. A consciência coletiva era entendida como o sistema de represen-
tações coletivas numa determinada sociedade. Exemplos dessas representações coletivas 
seriam a linguagem, as crenças religiosas ou um conjunto de práticas de trabalho encontra-
das em determinada sociedade.
30UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
2.2 Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica
Imagem: https://pt.slideshare.net/98698999/mile-durkheim-54363064
Gil (2011) escreve que a definição da natureza dos fatos sociais constitui a maior 
contribuição de Durkheim à Sociologia. Mas ele dedicou-se também a estudos compara-
tivos da sociedade procurando apreender seu desenvolvimento e as tendências de sua 
evolução. Buscava identificar fases que mostrassem as transformações das sociedades ao 
longo do tempo ou das diversas fases históricas.
Para ele, as principais forças da vida social estavam nas tradições e nos costumes 
que alicerçam os deveres de uns para com os outros, como membros de uma mesma 
comunidade. Três instituições colaboram para intensificar essas integrações: a família, 
o Estado e as corporações profissionais, assim como as leis, que costuram e legitimam 
direitos, deveres e reciprocidades.
Nesse contexto, os indivíduos desenvolvem relações de solidariedade cuja função 
permite distinguir dois tipos de sociedade - as de solidariedade mecânica e as de solidarie-
dade orgânica.
A solidariedade mecânica é característica das sociedades pré-capitalistas e de 
alguns grupos sociais do meio rural. Nelas, os indivíduos se relacionam principalmente por 
meio da família, da religião e dos costumes. A divisão social do trabalho é simples ou quase 
inexistente e a consciência coletiva tem forte poder de coerção sobre os indivíduos.
Já a solidariedade orgânica é típica das sociedades capitalistas, do meio urbano e 
industrial, em que os indivíduos se tornam interdependentes, unidos pela intensa divisão 
social do trabalho e laços impessoais, que substituem a integração pessoal e familiar das 
sociedades agrárias. Nessas sociedades, a consciência coletiva é enfraquecida, pois, ao 
mesmo tempo que os indivíduos se tornam mutuamente dependentes, cada um se espe-
https://pt.slideshare.net/98698999/mile-durkheim-54363064
31UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
cializa em determinada atividade, e dessa forma tende a desenvolver maior autonomia 
pessoal. Ao contrário da solidariedade mecânica, a diferenciação entre os indivíduos, e não 
a semelhança, é mais valorizada.
Por fim, a influência de Durkheim sobre a Sociologia contemporânea é muito ex-
pressiva. Gil escreve:
As correntes sociológicas conhecidas como estruturalista, funcionalista e 
estrutural-funcionalista fundamentam-se em suas ideias. Mas estas também 
têm sido objeto de muitas críticas por muitos sociólogos. A principal crítica 
refere-se ao caráter consensual e estático de suas teorias que contribuiria 
para a manutenção do status quo (GIL, 2011, p. 29).
32UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
3. Karl Marx
Cristina Costa (2016) lembra que Karl Marx não se dedicou explicitamente à disci-
plina de Sociologia. Inclusive nem esse nome aparece em suas obras. No entanto, está na 
base de todo o desenvolvimento dessa ciência nos anos que se seguiram. Para explicar a 
origem do capitalismo e a natureza da organização econômica, formulou uma teoria abran-
gente e universal que procura dar conta de toda e qualquer forma produtiva criada pelo ser 
humano em qualquer tempo e lugar. Os princípios dessa teoria é que dão origem ao queele mesmo definiu como materialismo histórico e que constitui o principal método de análise 
dos sociólogos de orientação marxista.
Em sua obra A Ideologia Alemã, de 1845, escrita em parceria com Friedrich Engels, 
33UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
Marx sintetiza a dinâmica da vida em sociedade da seguinte forma: os homens produzem 
suas representações e suas ideias sobre as relações sociais em que vivem concretamente. 
Esse conjunto de relações de produção que os homens estabelecem para sobreviver é a 
base econômica da sociedade sobre a qual se assenta o aparato de relações de natureza 
política, jurídica, científica, religiosa, etc.. É o que Marx denomina modo de produção.
Essa é uma realidade histórica e, portanto, mutável. A forma com que os homens 
produzem socialmente sua sobrevivência material se acha condicionada por determinado 
desenvolvimento das forças produtivas e pelas relações que a elas correspondem. Assim, 
o processo da história tem sido explicado como uma sucessão de diferentes modos de 
produção - o primitivo, o asiático, o escravista, o feudal, o capitalista -, cada qual com suas 
relações sociais. Marx dedicou-se ao estudo das transformações sociais e econômicas 
de cada período histórico. Analisou a Revolução Industrial e percebeu de que forma os 
artesãos, aos poucos, faliram, por causa da concorrência com a produção em massa, que 
barateava os produtos e contava com muitos recursos tecnológicos. Foram, então, obriga-
dos a trabalhar nas manufaturas que dominaram a produção de bens, ganhando salários 
cujo valor era vinculado não à riqueza produzida pelo seu trabalho, mas ao tempo e à força 
de trabalho despendidos na produção. 
Karl Marx, escreve Araújo (2013), a partir da realidade estudada produz uma teo-
ria da acumulação tomando as características das relações de produção na sociedade 
capitalista - entendida como relações entre proprietários e não proprietários dos meios 
de produção. Basicamente, esta teoria explica como ocorre o crescimento do capital na 
sociedade capitalista. Na medida em que o trabalhador aluga a sua força de trabalho ao 
capital para produzir, ou seja, transforma os meios materiais de produção em mercadorias 
com o seu trabalho, não recebe o que lhe é devido. Esse “valor a mais” que ele produz é 
apropriado pelo capitalista. Assim, em contínuo movimento, cresce o capital, o conjunto dos 
meios de produção, não só em volume, mas também em nível técnico e tecnológico.
As contradições perpetuavam-se porque os capitalistas também passaram a ocu-
par o governo, dominar as comunicações e pautar o desenvolvimento científico para que 
ele pudesse contribuir cada vez mais com a economia. Todo esse processo colaborou para 
o que Marx chamou de alienação do trabalhador, entendida com a situação de desapropria-
ção do trabalhador do fruto de seu trabalho e da consciência individual de ser o produtor da 
verdadeira fonte de riqueza no mundo.
A história do homem, segundo Marx, é a história da luta de classes. Gil (2011) 
explica que entre as classes existe um permanente conflito, decorrente da luta constante 
por objetivos opostos. Embora nem sempre esse conflito se manifeste de forma declarada, 
34UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
as divergências, oposições e antagonismos são inerentes a todas a relações sociais que 
se manifestam nos mais diversos níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o surgi-
mento da propriedade privada. Completa Gil:
Para Marx, todos os conflitos na história têm sua origem na contradição entre 
as formas produtivas e as relações de produção. Dessa forma, a família, a 
religião, as formas de governo, as leis, as ideias políticas e os valores sociais, 
constituem apenas aspectos da sociedade, cuja explicação depende do de-
senvolvimento e do colapso dos modos de produção (GIL, 2011, p. 31).
A Sociologia de inspiração marxista difere, portanto, da Sociologia fundamentada 
nas ideias de Durkheim. Enquanto este vê a sociedade como integrada, formando um todo 
coeso e mantido por regras de convivência, Marx acentua o conflito e a luta de classes, co-
locando as relações de poder e de força como centrais para a explicação do funcionamento 
da sociedade.
35UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
4. Max Weber
Cristina Costa inicia sobre Weber escrevendo o seguinte:
Com os olhos voltados para sociedades como a França e a Inglaterra, política 
e economicamente estabelecidas, Marx e Durkheim pensaram a sociedade 
a partir de suas estruturas. O primeiro, a partir das forças produtivas e o 
segundo, enfatizando as instituições como a família e o Estado. Max Weber, 
embora influenciado por ambos, não privilegiou essa visão macrossociológi-
ca assim como a ideia de um desenvolvimento histórico comum a todas as 
sociedades, fosse ele o materialismo histórico ou e evolucionismo positivista 
(COSTA, 2016, p. 47).
Para entendermos como Weber desenvolveu suas análises da vida social é preciso 
dizer que, ao contrário de seus antecessores, ele não opõe indivíduo e sociedade, mas os 
36UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
integra em uma ação social, um dos conceitos teóricos mais importantes de sua obra. Para 
ele, uma ação social é uma ação orientada por um agente social (um ser humano), que lhe 
dá sentido, ou seja, uma motivação subjetivamente elaborada. Essa ação é orientada em 
função de alguém (outro ser humano) de que o agente espera resposta ou reciprocidade. A 
motivação da ação encontra sua causa tanto no contexto histórico em que se realiza como 
na subjetividade de que têm a iniciativa da ação. Como se percebe, o indivíduo, agente de 
uma ação, é categoria relevante da ação social. Buscar o motivo que guia a ação de uma 
pessoa é um dos principais objetivos da investigação.
Por exemplo, explica Costa (2016), se uma pessoa se dirige a alguém na rua para 
pedir-lhe informação, põe em prática uma ação social, cujo sentido é dado pela sua moti-
vação - obter orientação. Quando uma pessoa perguntada responde, oferecendo-lhe para 
ajudar aquele que busca informação ou, ao contrário, negando-se a orientá-lo, estabelece 
com ele uma relação social, ou seja, uma ação recíproca. Os sentidos das ações e das 
relações sociais dependem do contexto. Ou seja, a rua pode ser perigosa, fazendo com 
que o perguntado tenha medo de falar com estranhos. Em outras palavras, a ação social e 
a relação social dependem de fatores pessoas e externos, como a educação ou o medo de 
estranhos, além das circunstâncias históricas.
Para Weber, há diferentes tipos de ação social, que podem ser classificadas, de 
acordo como o modo com que os indivíduos orientam suas ações, em: 
Ação tradicional: determinada por um hábito ou costume arraigado;
Ação afetiva: determinada por afetos ou estados sentimentais;
Ação racional com relação a valores: determinada pela crença consciente num 
valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade;
Ação racional relativa a fins: determinada pelas expectativas em relação ao com-
portamento tanto das pessoas como dos objetos.
Nenhuma dessas ações envolve apenas o contexto social ou a subjetividade indi-
vidual, mas acima de tudo os integra, e pode desvendar a natureza da personalidade do 
agente, assim como a dinâmica da vida social. Por outro lado, as diversas ações sociais 
promovem ações em cadeia, isto é, o motivo de uma ação leva à reação da pessoa, com 
quem o primeiro agente interage. O trabalho do sociólogo é desvendar essas conexões e 
reciprocidades.
Gil (2011) lembra que, diferentemente de Durkheim, Weber encara os fatos sociais 
não como coisas, mas como acontecimentos que o cientista percebe e procura desvendar. 
Weber não analisa as regras e normas sociais como exteriores ao indivíduo, mas como um 
conjunto de ações individuais. Cabe ao cientista o objetivo de 
37UNIDADE II O PensamentoClássico e Contemporâneo da Sociologia
compreender o que dá sentido à ação social. O que implica admitir que as 
ideias coletivas, como Estado, as religiões e o mercado econômico, só exis-
tem porque muitos indivíduos orientam reciprocamente suas ações num de-
terminado sentido e estabelecem relações sociais que são mantidas conti-
nuamente pelas atitudes individuais (GIL, 2011, p. 33).
O contraste da abordagem de Weber com a de Marx fica bem evidente em sua 
interpretação de classe social. Enquanto Marx vê as classes sociais como formações de-
terminadas por fatores econômicos, sobretudo pela posse dos meios de produção, Weber 
admite que a noção de classe social refere-se não apenas aos aspectos objetivos relati-
vos à produção, mas também às percepções subjetivas de poder, riqueza, propriedade e 
prestígio social. Dessa forma, numa pesquisa com o objetivo de verificar a desigualdade 
entre grupos de classe alta e de classe média, conduzida sob o enfoque weberiano, os 
pesquisadores teriam não apenas que verificar se as diferenças existem em virtude do 
poder e da riqueza, mas também como as pessoas em cada grupo sentem-se acerca do 
seu próprio poder e do poder dos outros.
38UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
5. Teorias sociológicas contemporâneas
Imagem: http://almaprolixa.blogspot.com/2008/12/sociologia-contempornea-e-seu-esforo.html
Silvia Araújo (2013) escreve que, ancoradas ou não nos autores clássicos, novas 
teorias e abordagens das Ciências Sociais são concebidas no compasso das mudanças 
sociais. Veremos algumas características gerais do pensamento de alguns sociólogos mais 
representativos do século XX: o norte-americano Talcott Parsons (1902-1979), o francês 
Pierre Bourdieu e os autores alemães da chamada Teoria Crítica, denominada Escola 
de Frankfurt, na década de 1920. São representantes da Teoria Crítica, em diversos mo-
mentos do século XX: Theodor Adorno (1903-1969), Max Horkheimer (1895-1973), Walter 
Benjamin (1892-1940), Herbert Marcuse (1898-1979), Erich Fromm (1900-1980) e Jürgen 
Habermas (1929-).
A Sociologia mais recentemente produzida pensa a sociedade pela ótica de sujeitos 
ativos em relações. Araújo (2013) lembra que, ao desenvolver, nos anos 1950, uma teoria 
39UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
geral dos sistemas sociais, Parsons está pensando na inter-relação entre as partes, numa 
ação humana que é individual e também coletiva. Quando a Teoria Crítica elege a razão 
e a sociedade contemporânea como objeto de estudo, tece críticas a uma concepção de 
mundo que não respeita a liberdade e a autodeterminação. Bourdieu, com sua teoria das 
práticas sociais, mostra como os atores sociais internalizam os valores, as normas e os 
princípios, na sociedade global.
Tal qual a produção dos clássicos, a Sociologia contemporânea enfoca a questão 
da mudança social. Talcott Parsons pondera que um sistema social complexo não é total-
mente estável nem muda como um todo. Esse pensamento compatível com a metodologia 
estrutural-funcional que ele desenvolve, ou seja, considera que o sistema social é mantido 
pelas forças institucionais e padrões culturais.
Utilizando-se de conceitos como cultura, indústria cultural, Estado, legitimação, 
razão, pós-modernidade, autoridade, crise, transformação, os estudiosos da Teoria Crítica 
empregam a metodologia dialética que se vale da razão para resgatar o passado e com-
preender as limitações do presente. Nesse caso, toda mudança social é acompanhada de 
um saber histórico, concebido como lógica da contradição social.
Conhecer é desenvolver o espírito crítico e também a crítica social. O estudo das 
Ciências Sociais nos revela os mecanismos de poder que nos fazem acreditar serem “na-
turais” muitos fenômenos que caracterizam a sociedade. Por essa razão, Pierre Bourdieu 
afirma que o conhecimento exerce um efeito libertador (ARAÚJO, 2013). Por meio do 
conhecimento, a sociedade reflete, volta a olhar sobre si mesma, e seus agentes sociais 
descobrem quem realmente são e o que fazem. Bourdieu embasa seu pensamento na ideia 
da reprodução social, como as transformações culturais que acontecem na educação e na 
sociedade de massa.
É importante descobrir-se como sujeito portador de uma herança social e perceber 
que o indivíduo e sociedade são elementos que se influenciam mutuamente. Essa é uma 
das condições para os cientistas sociais produzirem ciência, o que implica desenvolverem 
um conjunto de conceitos capazes de interpretar a realidade e derivarem esse conhecimen-
to de uma concepção de mudança que lhe é implícita.
Com um corpo organizado de saberes, a Sociologia procura dar entendimento 
à condição de “estarmos no mundo”, e não prover certezas absolutas. Desse modo, o 
conhecimento sociológico tem um compromisso com o desenrolar das ações concretas, 
históricas, pelas quais o ser humano constrói a si e seu mundo social, político, econômico, 
cultural (ARAÚJO, 2013).
40UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
SAIBA MAIS
SOCIOLOGIA DO FUTURO
A primeira década do novo milênio apresentou desafios que refletiram situa-
ções, acontecimentos e rupturas que colocaram os sociólogos num estado de alerta, 
próprio de quem reconhece que seu objeto científico está sempre em movimento. 
Octavio Ianni, ao analisar esse período de transformação - ele viveria brevemente, 
pois faleceu em 2004 - apontou os seguintes aspectos essenciais para a construção 
de uma Sociologia do futuro;
Novo ciclo da revolução burguesa. O surgimento de uma sociedade global, 
que substitui as sociedades nacionais, provoca uma transformação das “forças pro-
dutivas”. Esta, por sua vez, desencadeia o desenvolvimento de um novo ciclo da 
revolução burguesa, também global.
Rupturas histórica e epistemológica. Elas colocam em xeque os conceitos 
básicos da Sociologia, entre eles os do indivíduo e sociedade, sociedade civil e es-
tado, comunidade e sociedade. Isso exige novas formas de analisar e entender as 
questões sociológicas.
Por fim, Ianni ressalta que a construção de uma visão de mundo, especial-
mente quando envolve o futuro, acaba levando à construção de uma utopia. Assim, a 
visão sistêmica suscita a ideia de que o futuro pode ser o presente aprimorado. Um 
futuro construído pelos indivíduos, pois a base de apoio é a existência de cada um. 
Assim, a perspectiva dialética da história, ao propor desvendar as contradições, leva 
a crer num futuro em que indivíduos e coletividades chegarão à emancipação.
Nas palavras de Ianni:
“[...] É possível dizer que no futuro se esconde a utopia. Pode ser a proje-
ção do presente, aprimorado ou purificado; mas também pode ser uma projeção do 
passado, idealizado. Há sempre algo de utopia ou nostalgia, quando se pensa o 
futuro, enquanto mundo possível, almejado. [...] Há futuros catastróficos, de par em 
par com futuros paradisíacos. Em todos os casos, o futuro guarda algo de histórico 
ou supra-histórico. Mesmo quando enraizado na previsão científica, o futuro que se 
desenha adquire algo de suspenso no espaço e no tempo, como fantasia ou alegoria. 
É por meio de fantasia e alegoria que se torna possível o reencantamento do mundo”.
(IANNI, Octavio. Futuros e utopias da modernidade. Revista de Comunica-
ções e Artes da ECA-USP, n. 22, 2001).
 
41UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
REFLITA
“Na sala de aula, o professor precisa ser um cidadão e um ser humano rebelde”.
Florestan Fernandes, um dos mais influentes sociólogos brasileiros.
(FERRARI, Marcio. Florestan Fernandes. Disponível em: http://educarparacrescer.
abril.com.br/aprendizagem/florestan-fernandes-307905.shtml)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procuramos mostrar nesta unidade as principais ideias dos autores clássicos da 
Sociologia. Estas ideias serviram de base para seus sucessores, que construíram as pró-
prias obras ao rever, reler e criticar esses autores.
São estes autores- Durkheim, Marx e Weber - que nos ajudam a iluminar o cami-
nho quando a realidade, sempre dinâmica e à frente das análises, nos coloca diante de 
situações novas. 
Que este estudo nos ajude cada vez mais a compreendê-los, para que suas contri-
buições sempre nos ajudem a melhor entender nossa sociedade. 
Leitura Complementar (Opcional)
Artigos e textos diferentes que tragam informações interessantes, atuais, dicas, 
casos reais ou aplicação de conceitos que o aluno está aprendendo tornam a leitura mais 
empolgante e auxiliam na fixação do que foi estudado.
42UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
Material Complementar
Sinopse: Gilberto Freyre procurou responder o que é ser brasilei-
ro, retratando as relações sociais a partir de documentos pessoais 
e públicos sobre o cotidiano do brasileiro.
LIVRO (OBRIGATÓRIO)
Título: Casa-Grande & Senzala.
Autor: Gilberto Freyre.
Editora: Global, 2006.
Sinopse: Inspirado na obra homônima de Dias Gomes (1922-
1999), romancista, dramaturgo e autor de telenovelas, o filme trata 
sobre o coronelismo por meio do protagonismo do prefeito Odorico 
Paraguaçu, cujo cenário são as estruturas da sociedade e da so-
ciabilidade brasileira, com o apoio político das irmãs Cajazeiras, 
ao mesmo tempo em que denuncia a hipocrisia que encobre a vida 
política.
FILME/VÍDEO (OBRIGATÓRIO)
Título: O Bem Amado, Guel Arraes
Ano: 2010.
WEB (OPCIONAL)
• Biblioteca Virtual CEBRAP. O site visa circular os conhecimentos de suas pes-
quisas, documentadas em livros, relatórios, projetos, periódicos e documentos sonoros e 
audiovisuais das correlatas das Ciências Humanas.
• Link do site: http://cebrap.org.br/bv
43UNIDADE II O Pensamento Clássico e Contemporâneo da Sociologia
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Silvia Maria de; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Maria Lenzi. Sociolo-
gia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto. Disponível em: http: <//fcv.bv4.digitalpages.com.
br>
COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 5 ed. São Paulo:Mo-
derna, 2016.
GIL, Antonio Carlos. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 2011
IANNI, Octavio. Futuros e utopias da modernidade. Revista de Comunicações e Artes da 
ECA-USP, n. 22, 2001.
http://fcv.bv3.digitalpages.com.br/
http://fcv.bv3.digitalpages.com.br/
44
Plano de Estudo:
● Os sentidos da palavra cultura. 
● Cultura, etnocentrismo e relativismo cultural.
● Diversidade cultural.
● Diversidade cultural na sociedade brasileira.
● Mudanças culturais na sociedade.
● A sociedade do espetáculo: cultura de massa
Objetivos de Aprendizagem:
● Conceituar cultura e perceber suas variações.
● Entender a diversidade cultural como sinal de riqueza das sociedades.
● Promover a prática do respeito diante das muitas diferenças culturais, superando todo 
preconceito e discriminação.
UNIDADE III
Cultura e Sociedade
Professor Mestre Flávio Donizete Batista
45UNIDADE III Cultura e Sociedade
INTRODUÇÃO
Olá, prezado estudante. Olá, prezada estudante. 
Nesta unidade será apresentado o conceito de cultura como um conjunto de hábi-
tos, valores, formas de ver o mundo e comportamentos que variam no tempo e no espaço, 
de acordo com a história e as condições existenciais de cada grupo social. Trataremos 
sobre a diversidade cultural na sociedade brasileira, e veremos como a identidade cultural 
envolve a experiência e a consciência de pertencer a um coletivo.
Todos produzem cultura, e os grupos minoritários produzem culturas próprias, 
alternativas ou contra-hegemônicas. Desde que se firmou a sociedade de massas, nossos 
hábitos culturais também passaram a ser influenciados pelos meios de comunicação de 
massa.
Que nosso estudo nos ajude a compreender e a valorizar as diferentes manifesta-
ções culturais e tornar consciente a nossa própria identidade cultural.
Um excelente estudo para todos.
46UNIDADE III Cultura e Sociedade
1. OS SENTIDOS DA PALAVRA CULTURA
A palavra cultura vem do latim colere, que significa o cultivo da terra, ou seja, a 
agricultura. Com o tempo, por força da capacidade metafórica da linguagem humana, isto 
é, da capacidade de desprender-se do que é concreto e material para se referir ao que é 
imaterial e abstrato, o termo cultura passou a designar aquilo que se cultiva mentalmente, 
não mais semeando apenas a terra, mas também o espírito. Assim, por exemplo, atividades 
de cunho religioso, como as preces, que se faziam para obter uma melhor colheita, também 
passaram a fazer parte da cultura (COSTA, 2016).
Geralmente, quando falamos de cultura, a primeira ideia que nos vem à mente é 
algo relacionado ao teatro, à música, à literatura, à pintura, à escultura e a outras áreas das 
artes. Mas também são considerados como elementos culturais de grande relevância as 
festas tradicionais, as lendas, o folclore e os costumes de um povo. Seu significado abrange 
ainda os meios de comunicação de massa, como a televisão, o rádio, a mídia impressa, 
a internet, o cinema, etc. cultura, portanto, não se resume só às manifestações artísticas, 
às tradições e aos hábitos de uma dada coletividade. Na Sociologia e na Antropologia, o 
conceito de cultura também está relacionado aos conhecimentos, às ideias e às crenças de 
uma sociedade e/ou das diversas sociedades.
Silvia Araújo (2011) escreve que o termo cultura foi aplicado em português por 
bastante tempo como sinônimo de erudição, mas não existe diferença em termos de im-
portância entre a chamada “alta cultura” e as expressões culturais populares, pois ambas 
(cada uma a seu modo) são criadas e cultivadas pela participação efetiva do ser humano na 
47UNIDADE III Cultura e Sociedade
sociedade. Assim podemos conceber cultura como a totalidade de conhecimentos, crença 
e expressão emocional, à qual se somam as regras estabelecidas, os hábitos, comporta-
mentos e habilidades adquiridas no convívio dos membros de uma sociedade.
Os nossos gostos não são, por exemplo, determinados antes do nascimento; ao 
contrário, resultam das relações que estabelecemos com os outros indivíduos e com o meio 
em que vivemos. Eles são construídos culturalmente no conjunto do processo de interação 
social, o qual se dá pela comunicação e pela ação recíproca entre os indivíduos e os grupos 
sociais. Assim, aprendemos a gostar de rock, de filmes de ação com os amigos e até de 
consumir certos tipos de alimentos em vez de outros.
Alguns entendimentos são fundamentais para o estudo da cultura. Araújo (2011) 
refere-se a três importantes axiomas desta esfera da vida em sociedade:
A cultura é uma característica do ser humano como ser social.
A cultura é adquirida, um comportamento aprendido, como um patrimônio social.
Por meio da cultura se estabelece uma parte da relação ser humano-sociedade-
-mundo.
A cultura é um nível particular da realidade social muito importante, pois suas di-
mensões objetiva e subjetiva não se contrapõem, ao contrário, elas se complementam e 
estão relacionadas numa organicidade vital. O fazer, o saber, o conviver dos seres humanos 
produzem padrões particulares de estar na sociedade; produzem cultura. Cultura, portanto, 
não se aplica a um grupo, ou a este ou àquele segmento social, mas está em nível global, 
dada a amplitude do campo da experiência existencial (ARAÚJO, 2013).
48UNIDADE III Cultura e Sociedade
2. Cultura, Etnocentrismo e Relativismo cultural 
No final do século XIX, o antropólogo alemão Franz Boas construía uma crítica 
à ideia de civilização de teorias evolutivas muito fortes na época, que estabeleciam uma 
hierarquia entre os civilizados europeus (e norte-americanos) e as demais populações, que 
eram escalonadas entre mais e menos atrasadas (MACHADO, 2014).
Para Boas, as diferentes populações que existem no mundo têm diferentes culturas 
e é praticamente impossível estabelecer entre elas qualquer tipo de hierarquia, uma vez 
que cada povo tem sua história particular, preenchidas por interesses tão diferentes, que 
qualquer comparação só seria possível sefosse utilizada uma medida de análise, que 
seria sempre arbitrária. Ou seja, a comparação para estabelecer uma hierarquia sempre 
deveria adotar algum critério, tomado de alguma população, e nesse processo a própria 
comparação seria injusta.
Igor Machado (2014) lembra que assim, Boas inaugurava o que mais tarde ficou 
conhecido como relativismo cultural: uma tomada de posição perante a diferença cultural, 
segundo a qual cada cultura deve ser avaliada apenas em seus próprios termos. Portanto, 
é uma forma de encarar a diversidade sem impor valores e normas alheios. Podemos 
considerar o relativismo uma inversão do evolucionismo: se este escalona as diferenças a 
partir de valores específicos das sociedades ocidentais, o relativismo evita qualquer tipo de 
escala, analisando as diferenças segundo os termos da própria sociedade da qual fazem 
parte.
Tendência inversa ao relativismo cultural é o etnocentrismo, quando se julga outra 
49UNIDADE III Cultura e Sociedade
cultura segundo os próprios parâmetros culturais. Por exemplo, considerar uma população 
indígena atrasada porque lhe faltam determinadas tecnologias é etnocentrismo. Se adotar-
mos outros critérios, esse “atraso” pode ser questionado. Levando em conta a capacidade 
de se manter estável ao longo do tempo (o que chamamos de sustentabilidade), as so-
ciedades que nos pareciam primitivas ganham um estatuto muito mais “civilizado”, já que 
o nosso modelos de vida, baseado no consumo intenso, não é sustentável a longo prazo 
(MACHADO, 2014).
O etnocentrismo é o mecanismo principal das classificações evolucionistas, en-
quanto o relativismo cultural é o motor de um pensamento não preconceituoso e preocupa-
do em romper com as classificações hierárquicas. O conceito antropológico de cultura não 
pode existir sem o relativismo cultural e a crítica ao etnocentrismo.
As Ciências Sociais, em especial a Antropologia, ao ampliar nosso conhecimento 
acerca de outras culturas e suas expressões, nos ajudam a relativizar nossa visão de 
mundo. Em outras palavras, fazem refletir sobre as diferenças entre as diversas culturas e 
aprimoram a perspectiva por meio da qual percebemos e interpretamos a própria cultura. 
Esse processo também nos ensina que muitos comportamentos e visões de mundo que 
nos parecem “naturais” ou “biológicos” na verdade são produtos da cultura, já que variam 
em diferentes grupos e sociedades. 
Machado (2014) escreve que o reconhecimento da existência do outro, de culturas 
de diferentes grupos, povos e sociedades (a alteridade), implica a experiência do contato 
com outras culturas, a aceitação das diferenças. Essa é uma forma de desvendar alguns 
aspectos da nossa cultura que antes passavam despercebidos.
 
50UNIDADE III Cultura e Sociedade
3. Diversidade Cultural
A diversidade cultural diz respeito às distintas maneiras segundo as quais socieda-
des e grupos sociais se organizam e se relacionam entre si e com a natureza. Vivências em 
outras sociedades, leituras variadas, viagens, filmes retratando diferentes costumes podem 
constituir em instrumentos que nos permitem refletir sobre o quanto somos diferentes ou 
iguais em relação a outros povos e culturas. Constatada a coexistência e a convivência 
de diferentes culturas, cabe às Ciências Sociais não apenas estudá-las e compará-las de 
maneira a evidenciar as diferenças nos modos de vida, mas favorecer a reflexão sobre a 
própria sociedade, seus valores e costumes (ARAÚJO, 2013).
Tantas são as culturas quantos são os povos, os grupos sociais e as etnias exis-
tentes. Para além da diversidade de culturas, as relações entre as diferentes culturas são 
marcadas pela desigualdade. Os interesses e as visões de mundo são distintos, gerando 
tensões no âmbito das sociedades e certa hierarquização entre os povos e nações decor-
rentes de disputas de fundo político e econômico. Essa diferenciação social está explicitada, 
muitas vezes, na busca por emprego, nos diferentes locais de moradia, na necessidade de 
povos se deslocarem e/ou se abrigarem em acampamentos. Esses são apenas exemplos 
de conflitos de interesses que podem implicar a luta por espaço físico e cultural com os 
quais os grupos sociais se identificam culturalmente.
Em decorrência de processos históricos de dominação e migração, entre outros, 
ocorrem também processos de interação social que implicam difusão e reconfiguração 
51UNIDADE III Cultura e Sociedade
da cultura, traços ou manifestações culturais específicos. É como se sociedades distintas 
convivessem no interior de um mesmo grande grupo social.
Araújo (2013) lembra que a interação social gera novas formas de identidade cultu-
ral. A consciência de pertencer a determinado grupo social - seja por caracteres comuns de 
gênero ou de origem étnica, seja por interesses específicos, profissão, atividades realiza-
das, crenças e costumes semelhantes - aproxima os indivíduos em determinada sociedade, 
levando à formação de agrupamentos de diversos tamanhos. Nesse sentido, a identidade 
cultural é aquela marca característica de um grupo social que partilha um ideal, valores, 
costumes e comportamentos formados ao longo da sua história.
É a partir de nossa identidade cultural que construímos a ideia de “eu”, “nós” e 
“outros”. A forma como o fazemos muitas vezes constrói fronteiras sociais ligadas à classe 
socioeconômica, à raça, ao gênero, ou mesmo a outros fatores como o bairro onde mora-
mos, os programas de TV de que gostamos, ou tipo de roupa que preferimos, etc. Por meio 
destes e de muitos outros elementos combinados, identificamos “semelhantes” e “outros” 
nas pessoas com quem compartilhamos a vida social. Algumas dessas fronteiras sociais, 
aliadas a tendências etnocêntricas que reproduzimos até hoje - embora tenham sido mais 
populares antes do século XX -, formavam as chamadas “teorias” sociais racistas.
No decorrer do colonialismo do século XIX, emergiram diversas “teorias” racistas 
que tomaram a forma de “teorias sociais”, uma vez que os países europeus precisavam do 
aval da ciência para justificar suas ações imperialistas na África e na Ásia, bem como as 
ações pregressas, durante a colonização das Américas, quando os europeus subjugaram 
indígenas e negros, forçando-os ao trabalho escravo e na lavoura. Nestes casos, as teorias 
sociais desobrigavam os grupos dominantes europeus de tratarem como seres humanos 
os indígenas e negros escravizados, uma vez que não eram considerados “semelhantes”, e 
sim “inferiores”. Essas teorias hoje são totalmente rechaçadas e recusadas pelas Ciências 
Sociais, pois não têm validade científica alguma; declaravam-se teorias, mas sempre foram 
ideologias (ARAÚJO, 2013).
52UNIDADE III Cultura e Sociedade
4. Diversidade cultural na sociedade brasileira
O Brasil é uma nação pluriétnica e multicultural, composta por diversas formas 
de organização social de diferentes grupos. Podemos observar essa diversidade e suas 
variações, por exemplo, entre os proprietários de terras, os dirigentes e os representantes 
políticos, os moradores das favelas nas grandes cidades, a população jovem que cursa o 
Ensino Médio em escolas públicas. Neste país com indivíduos tão diferentes entre si - pela 
cor da pele, pela classe social a que se integram, pela região onde moram, pela geração a 
que pertencem, etc. - existem um racismo difuso e uma discriminação velada, porém efeti-
vos. Esses sentimentos perpassam as relações sociais, seja no trabalho, seja na escola, e 
se expressam na intolerância e na não aceitação da diferença, seja ela de cor de pele, de 
comportamento, de costumes e de aparência (ARAÚJO, 2013).
Desconsiderar a diversidade cultural, muitas vezes, nos impede de perceber que a 
desigualdade social e a discriminação restringem o acesso aos bens materiais e culturais 
por amplos setores da população. Desencadeadas pelo preconceito e pela concentração 
de renda (e de poder), novas formas de exclusão social derivam hoje dodesemprego, do 
trabalho precário, das exigências da tecnologia informacional, próprias do moderno proces-
so de produção capitalista.
Ainda que indivíduos e famílias pertencentes a grupos denominados minorias este-
jam conseguindo galgar posições valorizadas social e economicamente pela conquista de 
um emprego formal ou de melhores condições de vida, superando preconceitos, barreiras 
econômicas e culturais, os dados estatísticos brasileiros revelam a persistência da desi-
53UNIDADE III Cultura e Sociedade
gualdade social racial. Escreve Araújo:
O racismo é uma construção histórica que resiste no campo simbólico, ou 
seja, nas ideias que as pessoas têm sobre �ser negro� e �ser branco�. Os 
estudos sobre esse tema sugerem que o combate ao preconceito precisa ser 
enfrentado pelo Estado por meio da educação e de políticas afirmativas, com 
o objetivo de desenvolver a cidadania plena, isto é, com todos os direitos 
sociais e políticos assegurados (ARAÚJO, 2013, p. 135).
Há, no mundo atual, intenso imbricamento cultural entre as realidades locais e 
a global. O diverso e o diferente se ampliam para além das questões étnico-raciais. As 
demais culturas estrangeiras, especialmente as europeias e a estadunidense, influenciam 
na constante transformação da cultura brasileira, seja pela presença do imigrante em nossa 
história, seja pelo desenvolvimento do mercado de consumo - moda, tecnologia, artes, 
conhecimentos variados - e dos meios de comunicação de massa.
54UNIDADE III Cultura e Sociedade
5. Mudanças culturais na sociedade global
Como produtores e consumidores de cultura, os grupos socioculturais se diferen-
ciam e podem reproduzir simbolicamente as relações de poder vigentes, e até contestar 
determinadas formas culturais no interior de sua comunidade e da sociedade. De que modo 
distinguimos uma comunidade de uma sociedade, ainda mais quando as relações entre as 
realidades locais e a global tendem a ser mais intensas e interinfluentes?
O desenvolvimento da sociedade moderna mostrou que as relações sociais tendem 
a mesclar o que é comum (partilhado em pequenos grupos) com o que se apresenta na 
extensão da sociedade. Comunidade também pode se referir, genérica e idealmente, a 
um modelo de vida coletiva, não necessariamente delimitado no espaço geográfico (caso 
das comunidades que não estão próximas, mas se apoiam), que apresentam interesses 
comuns e ligações afetivas (ARAÚJO, 2013).
O processo de globalização, no que se refere às diversas culturas, apresenta uma 
ambivalência: por um lado, pode representar algum risco para as identidades culturais de 
variados grupos sociais locais quando em contato ou sob o domínio de uma outra cultura 
(certa tendência de homogeneização); por outro lado, a diversidade tende a se reafirmar 
também, seja pela via da resistência, seja pelo uso de suas tecnologias (como a internet) 
para a difusão de suas manifestações.
De fato, com a globalização emergiu o debate sobre “a cultura global”. Alguns 
autores consideram que a globalização levaria à homogeneização cultural. No entanto, 
as relações em sociedade são mais complexas. Não podemos afirmar que há uma cultura 
55UNIDADE III Cultura e Sociedade
global de modo definitivo nem que a globalização padronizou os povos culturalmente, já 
que estes se apropriam da “cultura global” de várias formas. Sobre a tentativa de homoge-
neização da cultura e os movimentos de resistência, Araújo escreveu:
Na contramão das mudanças acarretadas pela globalização, alguns grupos 
sociais tendem a criar resistências à homogeneização da cultura. A questão 
da identidade desponta como um elemento-chave nesse processo de afirma-
ção. As minorias sociais alimentam a ideia de identidade para buscar reco-
nhecimento e inserção social quando grandes transformações as atingem e 
menosprezam seus modos de vida ou suas “comunidades” (ARAÚJO, 2013, 
p. 139).
As minorias sociais não são definidas pela questão numérica, mas pelas dificuldades 
impostas a esses grupos no acesso às instâncias de poder e pela situação discriminatória e 
excludente em que se encontram. Por exemplo, o número de indivíduos que se consideram 
negros e pardos no Brasil, segundo o IBGE, corresponde proporcionalmente à população 
que se diz branca. Entretanto, se comparados aos brancos, apresentam reduzida presença 
em funções socialmente mais valorizadas e com melhores salários. Colocadas em situa-
ções como essas, sobretudo por fatores históricos, tais minorias enfrentam dificuldades em 
manter ou melhorar sua condição socioeconômica e em expressar suas tradições culturais.
Muitas manifestações culturais alternativas são consideradas contra-hegemônicas, 
por serem reações à cultura dominante e à sua visão do mundo. Hegemonia cultural é o 
conceito utilizado pelo cientista político italiano Antonio Gramsci para designar a dominação 
de uma classe social sobre a outra fundada na ideologia e, portanto, no convencimento (e 
não na coerção) (ARAÚJO, 2013).
56UNIDADE III Cultura e Sociedade
6. A sociedade do espetáculo: cultura de massa.
 
O desenvolvimento dos meios de comunicação, como a fotografia, rádio, o cinema 
e a televisão, deu um impulso enorme à indústria cultural, que acabou por ganhar cada vez 
mais espaço na sociedade moderna, abalando a dominância da alta cultura na sociedade. 
Além de se tornar um dos mais lucrativos setores da economia moderna, principalmente no 
século XX, a indústria cultural se mostrou capaz de produzir informação e reunir grupos de 
pessoas em torno de seus veículos de comunicação. E, à medida que essa produção foi 
ganhando espaço, melhores tecnologias de difusão de imagens, sons e textos desenvolve-
ram-se, minimizando a experiência dos indivíduos com a realidade e o contato com o outro. 
Os veículos de comunicação passaram cada vez mais a dominar a produção cultural da 
sociedade e formam a principal referência para o público em geral (COSTA, 2016).
Entretanto, apesar de seu sucesso, muitos autores viram com desconfiança o 
poder que os meios de comunicação e a indústria cultural conquistaram entre as pessoas e 
passaram a questionar sua legitimidade. Cientistas sociais alertaram para os malefícios de 
se deixar guiar pelo poder manipulador da cultura de massa. Costa escreve que um deles, 
“Guy Débord, em suas críticas à indústria cultural, chamou a sociedade contemporânea, na 
qual se dá sua máxima expansão, de sociedade do espetáculo” (2016, p.179).
Hoje, o rádio, a televisão, o cinema e, mais recentemente, a internet, absorvem 
a atenção de todos, e levam à decadência as famílias circenses tradicionais, superando 
um tempo em que o circo foi relevante diante do pouco entretenimento nas cidades mais 
57UNIDADE III Cultura e Sociedade
distantes da capital e representava a grande possibilidade de consumo cultural.
Esses meios de comunicação e outros mais são representativos da indústria cul-
tural, um termo empregado pela primeira vez em 1947, pelos sociólogos alemães Max 
Horkheimer e Theodor Adorno, para dizer que a produção artística e cultural veiculada pelos 
meios de comunicação de massa insufla o consumo por ser transformada em mercadoria. 
Os produtos culturais - publicações impressas, DVDs e filmes, obras de arte, composições 
culturais, etc. - se assemelham assim, de certa forma, aos produtos industriais.
A sociedade contemporânea institui uma cultura do lazer padronizada pelos meios 
de comunicação de massa. Essa aproximação da cultura com o produto industrial estimula 
o público a esperar por próximos lançamentos - de músicas, filmes, equipamentos de som 
e imagem - que se tornam bens rapidamente obsoletos. Logo, a cultura tem, na atualidade, 
sua face mais visível na forma de bens e serviços e, muitas vezes, nem percebemos sua di-
mensão de uma produção acumulada, transmitida e herdada socialmente (ARAÚJO, 2013).
Araújo (2013) diz ser a cultura fruto do empenho acumulado de diversas gerações e 
de vários grupos sociais

Outros materiais