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A Daseinsanálise de Medard Boss EVANGELISTA, P. A Daseinsanalyse de Medard Boss. In: EVANGELISTA, P. (org.) Psicologia fenomenológico-existencial, pp. 139 – 158. Medard Boss (1903-1990) 1922 – melancolia esquizofrênica de Minkowski 1925 - Viena, análise com Freud 1928 - Médico por Zurique, assistente de Bleuler 1930 - Sonho e existência de Binswanger 1938/48 - Grupo de estudos com Jung II Guerra – Serve como médico ; o tédio 1940 – Doença corpórea como resultado de desequilíbrio mental 1947 – Carta para Heidegger 1949 – Primeira visita de Boss à Heidegger 1959/69 – Seminários deZollikon Heidegger e Boss Daseinsanalyse de Boss (...)a totalidade de uma disciplina possível, que se coloca como tarefa demonstrar os fenômenos existenciais comprováveis do Dasein social-histórico e individual relacionados no sentido de uma antropologia ôntica, de cunho daseinsanalítico (...) Esta Daseinsanalyse antropológica pode-se dividir, por sua vez, em a) uma antropologia normal e b) uma patologia daseinsanalítica a ela relacionada.” 3 1963 Heidegger e Boss Trechos de Seminários de Zollikon “Todas as representações encapsuladas objetivantes de uma psique, um sujeito, uma pessoa, um eu, uma consciência, usadas até hoje na Psicologia e na Psicopatologia, devem desaparecer na visão daseinsanalítica em favor de uma compreensão completamente diferente. A constituição fundamental do existir humano a ser considerada daqui em diante se chamará ‘Da-sein’ ou ‘ser-no-mundo’”. (p. 33) “O Dasein deve ser visto sempre como ser-no- mundo, como ocupar-se com coisas e cuidar de outros, como ser-com as pessoas que vem ao encontro, nunca como um sujeito existente para si”. (p. 182) “Dasein = ser absorvido por aquilo com o que me relaciono, ser absorvido em relação ao que está presente, ser absorvido naquilo que me diz respeito no momento. Um dedicar-se àquilo que me diz respeito”. (p. 183)4 Medard Boss Década de 1950 o O sonho e sua interpretação (1953) o Introdução à Medicina psicossomática (1954) o Psicanálise e Daseinsanalyse (1957) o Um Psiquiatra viaja para a Índia (1959) o 1973 – Funda Associação Brasileira de Análise e Terapia Existencial, que em 1985 torna-se Associação Brasileira de Daseinsanalyse 5 A medicina o 1940- Doença corpórea como resultado de desequilíbrio mental. • Debate com a psicossomática • “compreender o funcionamento de algo não significa compreender sua essência” • “compreender o sofrimento de alguém que adoece, não basta entender os mecanismos fisiológicos desse adoecimento” 6 “quebra de possibilidades existenciais” “fratura na possibilidade de trabalhar” “espacialidade restrita” “basta o osso fixar-se de volta para essas possibilidades serem retomadas?” Daseinsanalyse como medicina da existência Crítica à medicina científico-natural o Compreensão do sentido do adoecer humano o “patologia geral” (p.146) • Descrição da existência saudável e tematização do adoecer • Ser-no-mundo-com-os-outros • Ser-doente como possibilidade existencial 7 Adoecimento corpóreo X psicológico Corpo biológico X psiquismo Freud • 1910 – Conversão histérica “descarga excessiva no corpo de um processo mental catexizado emocionalmente” • Sintomas pulsionais Franz Alexander • Doenças “psicossomáticas” Sintomas como expressões substitutivas de emoções reprimidas Medard Boss • Quebra divisão corpo e psiquismo • “corpo é um existencial do Dasein, isto é, um de seus aspectos ontológicos, sendo portanto, modo de ser-no-mundo” 8 Boss e a psicanálise “compreensão do sentido do sofrimento humano para o processo de tratamento” o respeito ao paciente e importância da relação no processo de cura o Freud em 2: metapsicologia e técnica 1) Tentativa de encaixar as descobertas no modelo científico vigente: causa e efeito a) Invenção do inconsciente para explicar causa comportamental quando não há causa mecânica anterior b) Processo psicoterapêutico, empiricamente como processo de libertação; mas utiliza- se o inconsciente para explicar a relação terapeutica 9 Boss e a psicanálise “compreensão do sentido do sofrimento humano para o processo de tratamento” o respeito ao paciente e importância da relação no processo de cura o Freud em 2: metapsicologia e técnica 2) Encontro psicanalista-paciente a) Divã como quebra de padrões estereotipados de relação interpessoal b) Quebra do “falando por falar”; fala reveladora dos modos de ser-no-mundo c) Recuperar a liberdade de ser 10 “A psicoterapia é um processo de desocultação desse imperativos aprisionantes, que frequentemente impedem a apropriação de possibilidades existenciais” A culpa “sempre que deixamos de lado possibilidades existenciais, ficamos em dívida com nosso ser, sentido- nos culpados” Schuld (culpa/débito) o “O ser-aí que somos é necessário para o poder ser das possibilidades próprias e dos significados do mundo” o “A origem da nossa culpa é o nosso deixar-nos necessitar pelo mundo, e a divida que o ser humano tem e sempre terá como o mundo, até a sua morte, é a de deixar sua essência se realizar” o “Sente-se culpado, assim, aquele que não deixa possibilidades existenciais se darem. Sentimo-nos culpados por ter feito algo que, olhando para trás, gostaríamos de não ter feito” o Impedimento do futuro e fixação no passado Curto-circuito da culpa “(...) uma criança, mediante prematura lavagem cerebral, [pode] ser levada a crenças pseudomorais, considerando todas as potencialidades corpóreas e sensitivas intrinsecamente pecaminosas e rejeitáveis. Tal indivíduo irá cair em culpa por eximir-se da realização de modalidades essenciais de sua conduta. Tranca-se ao apelo de incontáveis fenômenos aos quais caberia o direito de manifestação na clareira de sua existência.” 11 “A superação da culpa se dá pelo apropriar-se da essência humana como possibilidade, isto é, assumindo o passado como já acontecido, sobre o qual o futuro se abre” (p.150) Técnicas e conceitos psicanalíticos Associação livre Possibilita ao processo de autodescobrimento psicoterapêutico chegar a um estar-aberto ao próprio ser e às possibilidades singulares Transferência Erro de interpretação Relação paciente-analista sendo o motor do processo de libertação, e não um mecanismo de defesa O divã Não é uma regra Descobrir junto ao paciente quais são e como são os modos de estar com ele 12 O objetivo do processo daseinsanalítico Que o existente assuma: “livremente seu estar-culpado diante das possibilidades vitais dadas a ele, se ele se decide, nesse sentido, a um ter-consciência e um deixar- se-usar adequado, então ele não mais experimenta o estar-culpado essencial da existência humana como uma carga e uma opressão de culpa. Carga e opressão serão superadas pela vontade que deixa feliz de estar à disposição, sem reservas, de todos os fenômenos, como seu guardião, como seu âmbito aclarador de aparecer e desfraldar. Ao estar-solicitado e ao estar-chamado por tudo aquilo que quer aparecer na luz da sua existência, abre-se também ao ser humano o inesgotável sentido de sua própria existência.” (BOSS) o “é, portanto, a libertação da existência para seu poder-ser fundamentado no encontro entre duas pessoas: paciente e daseinsanalista” (p.152) o Encontro como forma de cuidado, como solicitude libertadora, colocar-se na relação com o outro a fim de torna-lo transparente e livre para si mesmo. o Analista se colocar à disposição do paciente o Prevenção à “assistência intrometida” o “deve devolver-lhe sua preocupação” (...) para libertar-se em sua preocupação e para ela” 13 O sonho 14 “são reveladores das possibilidades existenciais que uma existência singular está incapaz de se apropriar em sua vida desperta” Que fenômenos da existência estão em aberto a ponto de penetrar nos sonhos E quais os fenômenos não são acessíveis à percepção no estado de sonhar; para entrada de que fenômenos a existência do sonhador ainda estáfechada Como se conduz em relação ao que é revelado no mundo onírico Aspectos “corporais” Aspectos “mentais” Patologia Geral daseinanalítica Ser-doente caracterizado por uma perturbação pronunciada da espacialidade e na temporalidade de seu ser- no-mundo Modos de ser-doente constituindo privações à essência da pessoa Ser-doente caracterizado por uma perturbação evidente da corporeidade do existir humano Modos de ser-doente constituindo privações importantes na realização do ser-aberto e da liberdade15 Compreender os modos de adoecer humanos como modificações da estrutura do ser-no-mundo Daseinsanalyse de Medard Boss “interessa conhecer os incidentes biográficos motivadores que levaram o ser-no-mundo a restringir suas possibilidades 16 “Assim, o processo psicoterapêutico é um processo de libertação, que tem como objetivo resgatar a liberdade essencial do dasein, que se encontra limitada. Funda-se sobre a compreensão da existência humana livre de pressupostos iniciada por Heidegger em Ser e tempo, permitindo uma compreensão mais clara dos fenômenos saudáveis e patológicos e abrindo perspectivas para novas possibilidades terapêuticas.” OBRIGADO!
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