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MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 2 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com CORPO DOCENTE Daniel Chiaretti (coordenador). Juiz Federal Substituto em Corumbá/MS (aprovado no XVII Concurso do TRF-4). Bacharel em Direito e Filosofia pela USP. Mestre e Doutorando em Ética e Filosofia Política pela USP. Ex-Defensor Público Federal. Coautor das obras “Comentários ao Estatuto dos Refugiados” (Ed. CEI - 2019) e “Roteiros de Prova Oral: magistratura federal” (Ed. Juspodivm). Professor de Formação Humanística. Leonardo Henrique Soares (coordenador). Juiz Federal Substituto em São Paulo/SP (aprovado no XVIII Concurso para o TRF-3). Foi Defensor Público Federal (2010-2017) e Analista do MP SP (2006-2010). Graduado em Direito pela Universidade de São Paulo (2005). Aprovado também para o cargo de Analista do TRE-SP. Professor de Prática de Sentença. Bruno Barbosa Stamm. Juiz Federal Substituto em São Paulo/SP (aprovado no XVIII Concurso para o TRF-3). Mestrando em Direito Constitucional e Processo Tributário pela PUC/SP. Professor de Direito Tributário e Financeiro. Caio Paiva. Defensor Público Federal em Campinas/SP (aprovado no IV Concurso para a DPU). Especialista em Ciências Criminais e autor dos livros “Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos” (em coautoria com Thimotie Heemann), “Audiência de Custódia e o Processo Penal Brasileiro”, “Prática Penal para Defensoria Pública”, “Comentários à Lei Nacional da Defensoria Pública” (em coautoria com Tiago Fensterseifer) e “Caderno de Jurisprudência – Direito da Criança e do Adolescente”. Professor de Direito Penal e Direito Processual Penal. Caio Souto Araújo. Juiz Federal Substituto em Serra/ES (aprovado no XV concurso do TRF-2). Foi Técnico Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo e Analista Judiciário da Justiça Federal em São Paulo e no Espírito Santo. Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Vitória (FDV), pós-graduado em Direito Administrativo pela Universidade Gama Filho (UGF) e Mestrando em Direito Processual (UFES). Professor de Direito Processual Civil. Carla Tomm Oliveira.Juíza Federal Substituta em Santo Angelo/RS (aprovada no XVI Concurso do TRF-4). Foi servidora do Ministério da Justiça (2007-2015). Bacharel em Direito pelo Instituto Superior de Santo ngelo – IESA (2004). Aprovada para o Cargo de Procurador Federal – AGU e analista judiciário do STJ, entre outros. Especialista em Direito e Jurisdição, Direito Processual e Direito Tributário. Coautora das obras “Mapeando o Edital: magistratura federal”, "Questões https://cursocei.com/ 3 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com discursivas: magistratura federal" e “Roteiros de Prova Oral: magistratura federal”, todas publicadas pela Editora JusPodivm. Professora de Direito Internacional e Prática de Sentença. Hayssa Medeiros. Procuradora da República em Guaíra/PR (aprovada no 28º concurso para o MPF). Graduada pela Universidade Federal da Paraíba. Foi Promotora de Justiça no MPRN no período de 2011 a 2016. Exerceu o cargo de Técnico Administrativo no MPU no período de 2005 a 2011. Aprovada em concursos para Analista do TRT-RN, Analista do MPU e Advogado da União (2012). Coautora das obras “Mapeando o Edital-Ministério Público Federal” (Ed. Juspodivm, 2ª ed, 2019) e “Preparando para Concursos-Questões Discursivas Comentadas- Ministério Público Federal” (Ed. Juspodivm, 2ª ed, 2020). Especialista em Direito Constitucional pela Universidade Estácio de Sá/RJ. Professora de Direito Administrativo. Joseano Maciel Cordeiro. Juiz Federal Substituto em Jaraguá do Sul/SC (2° colocado no XVI Concurso do TRF da 4ª Região). Foi Analista Judiciário da Justiça Federal (2014/2015), Técnico Judiciário da Justiça Federal (2008/2014) e Técnico Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (2007/2008). Aprovado também no concurso para Analista Processual do Ministério Público da União. Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Especialista em Direito Público pela PUC-Minas. Coautor da obra “Mapeando o Edital: magistratura federal” pela Editora JusPodivm. Professor de Direito Civil e Empresarial. Lucas Fernandes Calixto. Juiz Federal Substituto em Pelotas/RS (aprovado no XV concurso do TRF-2). Foi Analista Processual do Ministério Público da União, Técnico Judiciário do TRT-4 e Técnico Administrativo do MPF. Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Especialista em Direito Público pela Escola da Magistratura Federal do Rio Grande do Sul (UCS/ESMAFE-RS) e em Direito e Processo do Trabalho pelo IMED. Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Coautor das obras “Mapeando o Edital: magistratura federal” e “Roteiros de Prova Oral: magistratura federal”, ambos publicados pela Ed. JusPodivm. Professor de Direito Constitucional, Direito Econômico/Consumidor e Prática de Sentença. Mariana Camargo Contessa. Juíza Federal Substituta da 1ª Vara Federal de Cachoeira do Sul/ RS (aprovada no XV Concurso do TRF-2). Graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi advogada e assessora de Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Grande do Sul. Professora de Direito Ambiental. https://cursocei.com/ 4 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com Milenna Marjorie Fonseca da Cunha. Juíza Federal Substituta em Guarulhos/SP. (aprovada no XVIII Concurso para o TRF-3). Foi assessora no MPF e Promotora de Justiça Substituta no MP- GO. Também aprovada em concursos para os cargos de Defensora Pública (DPE-SP e DPE-RN) e Procuradora da República (MPF). Mestre em Direito Penal pela UERJ. Professora de Prática de Sentença. Rafael Vasconcellos Porto. Juiz Federal Titular em Poços de Caldas/MG (aprovado no XIII Concurso para o TRF-1). Foi Defensor Público Federal (2010/2011). Bacharel em Direito pela UFMG (2005), Mestre em Direito Previdenciário pela PUC-SP e doutorando em Direito Constitucional pela Universidade de Lisboa - Portugal. Aprovado também para os cargos de Procurador Federal – AGU (8º lugar) e Advogado da Caixa Econômica Federal (para lotação no Distrito Federal), dentre outros. Professor de Direito Previdenciário na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na PUC-MG e em diversos cursos preparatórios para concursos públicos. Autor de diversas obras jurídicas, como “Previdência do Trabalhador Rural” (2ª Ed., 2020), publicada pela Ed. Juruá, e “Manual de Direito Previdenciário” (2020), publicada pela Ed. CEI. Professor de Direito Previdenciário. https://cursocei.com/ 5 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com SUMÁRIO CORPO DOCENTE .................................................................................................................................. 2 APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................... 6 CRONOGRAMA ..................................................................................................................................... 7 QUESTÃO DISCURSIVA .......................................................................................................................... 8 DIREITO INTERNACIONAL ............................................................................................................... 8 SENTENÇA CRIMINAL ......................................................................................................................... 17 https://cursocei.com/ 6 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com APRESENTAÇÃO Prezadasalunas e alunos, Bem-vindos à nova edição curso do Curso CEI para a Magistratura Federal! Este curso será composto por 15 rodadas com questões objetivas, dissertativas e provas de sentença. Em cada rodada o aluno receberá 50 questões objetivas, uma questão dissertativa e uma simulação de sentença cível ou penal. Serão disponibilizados também espelhos de correção com os fundamentos das questões objetivas, dissertativas e das provas de sentença. O objetivo do curso é abordar os temas do edital base da Magistratura Federal nas questões objetivas, aprofundando temas específicos nas questões dissertativas e nas aulas em vídeo. Alguns professores abordarão o edital de forma linear, outros não. No entanto, independente da metodologia escolhida pelo professor, todos os itens do edital serão abordados no decorrer das provas objetivas. Esperamos, com isso, que os alunos construam e reforcem a base teórica e revisem temas que já estudaram no passado. As provas de sentença foram programadas como um módulo especial, focado no aprendizado progressivo das técnicas para elaboração de sentenças. Unindo aulas em vídeo, correções individualizadas, foco em temas relevantes e reuniões periódicas no Zoom para sanar dúvidas e tratar dos erros mais comuns, esperamos que os alunos terminem o curso com o pleno domínio das técnicas necessárias para o sucesso naquela que é considerada a fase mais difícil dos concursos para a Magistratura. Além disso, os professores estarão disponíveis para sanar as dúvidas por e-mail sempre que for necessário. Bom curso a todas e todos! Abraços, Equipe CEI Magistratura Federal https://cursocei.com/ 7 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com CRONOGRAMA Rodada Publicação Limite p/ resposta Limite para correção Publicação do espelho 1ª Rodada 20/01/2021 30/01/2021 09/02/2021 13/02/2021 2ª Rodada 29/01/2021 08/02/2021 18/02/2021 24/02/2021 3ª Rodada 09/02/2021 19/02/2021 01/03/2021 05/03/2021 4ª Rodada 19/02/2021 01/03/2021 11/03/2021 17/03/2021 5ª Rodada 01/03/2021 11/03/2021 21/03/2021 25/03/2021 6ª Rodada 11/03/2021 21/03/2021 31/03/2021 07/04/2021 7ª Rodada 23/03/2021 02/04/2021 12/04/2021 16/04/2021 8ª Rodada 02/04/2021 12/04/2021 22/04/2021 29/04/2021 9ª Rodada 13/04/2021 23/04/2021 03/05/2021 07/05/2021 10ª Rodada 23/04/2021 03/05/2021 13/05/2021 18/05/2021 11ª Rodada 04/05/2021 14/05/2021 24/05/2021 28/05/2021 12ª Rodada 14/05/2021 24/05/2021 03/06/2021 11/06/2021 13ª Rodada 25/05/2021 04/06/2021 14/06/2021 18/06/2021 14ª Rodada 04/06/2021 14/06/2021 24/06/2021 01/07/2021 15ª Rodada 15/06/2021 25/06/2021 05/07/2021 09/07/2021 https://cursocei.com/ 8 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com QUESTÃO DISCURSIVA PROFESSORA CARLA CRISTIANE TOMM E-mail: profcei.carlatomm@gmail.com 🏳 DIREITO INTERNACIONAL QUESTÃO 1. Um tribunal em Londres decidiu que o fundador do Wikileaks, Julian Assange, não pode ser extraditado para os Estados Unidos. A juíza responsável por analisar o caso bloqueou o pedido devido a preocupações com a saúde mental de Assange e o risco de suicídio nos EUA. A extradição de Assange, de 49 anos, foi requisitada pelo governo americano pela publicação de milhares de documentos oficiais secretos em 2010 e 2011. Os EUA, que vão recorrer da decisão, afirmam que os vazamentos infringiram a lei e colocaram vidas em risco. Assange apelou contra a extradição e disse que o caso tem motivação política. A juíza distrital Vanessa Baraitser decidiu que, embora os promotores dos EUA tenham cumprido as exigências para que Assange fosse extraditado para julgamento, o governo americano não seria capaz de impedi-lo de tentar tirar a própria vida. Ela mostrou evidências de sua automutilação e pensamentos suicidas e disse: “A impressão geral é de um homem deprimido e às vezes desesperado, temeroso por seu futuro.” E acrescentou: “Confrontada com as condições de isolamento quase total sem os fatores de proteção que limitaram seu risco no HMP Belmarsh (prisão de segurança máxima em Londres), estou convencida de que os procedimentos descritos pelos EUA não impedirão o Sr. Assange de encontrar uma maneira de cometer suicídio e por esta razão decidi que a extradição seria opressiva por motivo de dano mental e ordeno seu arquivamento.” Se condenado nos EUA, Assange pode ter que cumprir até 175 anos de prisão, disseram seus advogados. No entanto, o governo americano afirmou que a sentença provavelmente duraria entre quatro e seis anos. Assange enfrenta acusações de 18 crimes, entre eles conspirar para hackear bancos de dados militares dos EUA de modo a obter informações secretas confidenciais relacionadas às guerras https://cursocei.com/ mailto:profcei.carlatomm%40gmail.com?subject= 9 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com do Afeganistão e do Iraque, que foram publicadas no site Wikileaks. Ele alega que a informação expôs abusos cometidos pelos militares dos EUA. Mas os promotores americanos afirmam que o vazamento de material sigiloso colocou vidas em risco, e por isso os EUA buscaram sua extradição do Reino Unido, onde ele está atualmente sob custódia na prisão de Belmarsh. Assange foi preso por 50 semanas em maio de 2019 por violar suas condições de fiança depois de se esconder na embaixada do Equador em Londres. Ele se refugiou na embaixada por sete anos, de 2012 até ser preso, em abril de 2019. Na época em que fugiu para a embaixada, ele enfrentava extradição para a Suécia sob alegações de agressão sexual, o que ele negava. Esse caso foi posteriormente arquivado. Notícia veiculada no site BBC News, em 04/01/2020 (acessível em: https://www.bbc.com/portuguese/ internacional-55531281) A respeito do caso Julian Assange (Inglaterra v. EUA) e as previsões do ordenamento jurídico brasileiro acerca do instituto da extradição, disserte sobre: a) Conceito, natureza e modalidades de extradição; b) Qual a origem e o que se entende pela vedação constitucional de extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião encartada no art. 5º, LII, da CFRB; c) Tecnicamente, Julian Assenge permaneceu na embaixada do Equador sob qual fundamento? Explique detalhadamente. d) Se o fundador do Wikileaks poderia ser acolhido na embaixada brasileira em Londres em 2012. Indique o lastro jurídico e a evolução da legislação vigente. Utilize a folha de resposta padrão do Curso CEI, em que são disponibilizadas 30 (trinta) linhas para o desenvolvimento do texto dissertativo, e preferencialmente, a elabore em 1 (uma) hora, simulando o tempo real de prova (4 horas para responder 4 questões dissertativas). 💡 GABARITO COMENTADO Segue abaixo o espelho que desenvolvi com fins a nortear os alunos quanto aos principais pontos a serem considerados no desenvolvimento da questão de Direito Internacional Público veiculada na 1ª Rodada do curso CEI-Magistratura Federal | Intensivo Semestral 2021, valendo 10,0 pontos. A seguir esboço o espelho de cada uma das indagações da questão dissertativa, a fim de possibilitar o comparativo com a resposta https://cursocei.com/ https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55531281 https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55531281 10 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com entregue para fins de avaliação individualizada. a) Conceito, natureza e modalidades de extradição; O termo extradição deriva de expressão latina traditio extraterritorium que indica ex (=fora) e traditionis (=ação de remeter). O conceituado Professor Valério Mazzuoli1 denomina extradição o ato pelo qual um Estado entrega à justiça repressiva de outro, a pedido deste, indivíduo nesse último processado ou condenado criminalmente e lá refugiado, para que possa aí ser julgado ou cumprir a pena que jálhe foi imposta. A nova Lei de Migrações deslocou esse instituto corretamente para o Capítulo VIII � Das medidas de cooperação, enfatizando sua natureza jurídica de medida de cooperação internacional, consoante previsão do art. 81 da Lei 13.445/2017 que disciplina: A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso. A ação de extradição, por sua vez, é de natureza constitutiva e o ato extradicional é complexo, demandando prévia autorização do Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, g da CFRB/88), que não vincula o Presidente da República quanto ao seu deferimento, por lastrear-se em juízo discricionário de conveniência e oportunidade da medida. Duas são as modalidades, a saber: ativa, quando a República Federativa do Brasil solicita a cooperação de país estrangeiro para a extradição de criminoso foragido da justiça brasileira; e, a passiva, quando o país estrangeiro solicita ao governo brasileiro a extradição de indivíduo foragido que se encontra em nosso país. b) Qual a origem e o que se entende pela vedação constitucional de extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião encartada no art. 5º, LII, da CFRB; A vedação à extradição por delito político surgiu pela primeira vez em tratado de extradição entre a Bélgica e a França em 1834. Conceitos filosóficos gerados pela revolução francesa encorajaram a participação política e a mudança política e legitimaram a resistência ao domínio tirânico. A concessão de asilo aos infratores políticos foi, portanto, concebida como um dever em quase todos os casos. Um dos primeiros países a adotar uma legislação interna específica que isentava infratores políticos da extradição foi a Bélgica em 1833, consoante doutrina de Ivan Anthony Shearer2. O fortalecimento das liberdades individuais respaldou a previsão dessa garantia do asilo político na Declaração Universal dos Direitos Humanos pelas Nações Unidas em 1948. O art. 4º, X, da Constituição Federal eleva a princípio das relações internacionais da República Federativa do Brasil à concessão de asilo político, o qual independe de reciprocidade, face ao latente caráter humanitário. O Supremo Tribunal Federal tem albergado a doutrina subjetiva, entendendo necessário o dolo específico � especial fim de agir, consubstanciado no desiderato político para que se caracterize a infração política, incorporada ao ordenamento infraconstitucional com status de crime contra a segurança nacional, que exige para configuração a presença dos requisitos do art. 2º da Lei n. 7.170/82. (Ext 1578, Relator(a): 1 MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 9ª ed. Rev. Dos Tribunais: 2015, pg. 800. 2 SHEARER, Ivan Anthony. EXTRADITION IN INTERNATIONAL LAW, 16 edição, 1971. https://cursocei.com/ 11 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 06/08/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-037 DIVULG 19-02- 2020 PUBLIC 20-02-2020). c) Tecnicamente, Julian Assenge permaneceu na embaixada do Equador sob qual fundamento? Explique detalhadamente. A notícia veiculada refere ter estado Assenge como refugiado na embaixada do Equador. Entretanto, esse indivíduo não sofre fundado temor de perseguição generalizada por opiniões políticas em relação aos Estados Unidos, consoante exige o art. 1º da Lei 9474/97, que regulamenta o Estatuto dos Refugiados de 1951. Amolda-se, tecnicamente o caso, ao instituto do asilo diplomático. Universalmente a concessão do asilo tem como objetivo não só proteger uma pessoa à qual, por motivos políticos ou ideológicos, foi imputada a prática de um crime, mas também contribuir para a paz social do país de origem do asilado, segundo leciona Mazzuoli3. O asilo tem duas modalidades, o territorial e o diplomático. O primeiro é considerado um direito universal, insculpido na Convenção sobre Asilo Territorial, na Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. 14) e Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948 (art. 27), pelo qual concede-o o Estado ao estrangeiro que, tendo cruzado a fronteira e ingressado em seu território, aí requereu o benefício. O segundo, por sua vez, é fruto de costume regional latino-americano (Caso Haya de La Torre - Colômbia v. Peru), por meio do qual o Estado o concede a um indivíduo, de forma precária, fora do seu território, isto é, no território do próprio Estado em que o indivíduo é perseguido, normalmente em locais imunes à jurisdição desse Estado, como embaixadas, representações diplomáticas, navios de guerra, acampamentos e aeronaves militares. A constatação de ter o asilo diplomático aplicação regular apenas entre os países latino-americanos (decorrente de um costume local e de normas convencionais regionais, a exemplo da Convenção de Caracas de 1954, concluída entre Estados-partes da OEA) não autoriza um Estado europeu, v.g., invadir uma repartição diplomática de Estado latino-americano situada em seu território, a fim de capturar determinado indivíduo, ali asilado, acusado da prática de crime. Isso porque as repartições diplomáticas (ex: as embaixadas) são invioláveis nos termos da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 (art. 22, § 1°). Atentar contra essa inviolabilidade, sob o pretexto de as regras latino-americanas sobre asilo diplomático não se aplicarem a um Estado não latino, é quebrar ilicitamente a harmonia que o Direito Internacional geral impõe a todos os Estados à luz dos princípios da segurança coletiva e das relações pacíficas entre as nações. A Inglaterra pretendeu, em flagrante violação às regras do Direito Internacional geral, em especial à inviolabilidade das repartições diplomáticas, invadir (em agosto de 2012) a embaixada do Equador em Londres, a fim de capturar Julian Assange, em atendimento à solicitação de extradição da Suécia, que o acusava de crime sexual (por ter praticado sexo sem o uso de preservativo, fato tipificado como crime na Suécia), objetando persistentemente o costume latino-americano inexistente no continente europeu do asilo diplomático. A ameaça britânica, porém, depois de certo desgaste diplomático, acabou não se concretizando. E em maio de 2019, com a assunção de novo presidente no Equador, o asilo 3 Idem 1, pg. 820. https://cursocei.com/ 12 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com foi revogado e ao ter que deixar a embaixada, restou imediatamente preso pelas autoridades londrinas que deram prosseguimento aos procedimentos de extradição. Calha observar que perdurou o asilo diplomático em razão da não concessão de salvo conduto requerido pelo Equador aos ingleses para que Assenge pudesse se deslocar ao território equatoriano, por idêntico fundamento de não reconhecimento dessa modalidade de asilo. d) Se o fundador do Wikileaks poderia ser acolhido na embaixada brasileira em Londres em 2012. Indique o lastro jurídico e a evolução da legislação vigente. O Brasil, por ser signatário da Convenção de Caracas de 1954 (Decreto n. 41.628/1957) e reconhecer o costume latino-americano decorrente do Caso Haya de La Torre (Colômbia v. Peru), poderia em 2012 conceder o asilo diplomático a Julian Assange. O Estatuto dos Estrangeiros (Lei n. 6.815/80) não previa essa modalidade de asilo que foi recentemente disposta expressamente no art. 27 da Lei de Migração (Lei 13.445/2017). Abaixo segue a grade avaliativa, tendo sido utilizado como critérios a utilização de linguagem técnica, o grau de aprofundamento e a proximidade ao espelho acima, para fins de atribuição de nota a cada subitem. ESPELHO DE PONTUAÇÃO Apresentação, estrutura textual e domínio da modalidade escrita (2,0): Item a � Conceito (0,5), natureza (1,0) e modalidades deextradição (0,5). Item b - Qual a origem (0,5) e o que se entende pela vedação constitucional de extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião encartada no art. 5º, LII da CFRB. (1,5) Item c - Tecnicamente, Julian Assenge permaneceu na embaixada do Equador sob qual fundamento? Explique detalhadamente. (2,0) Item d - Se o fundador do Wikileaks poderia ser acolhido na embaixada brasileira em Londres em 2012. Indique o lastro jurídico (1,0) e a evolução da legislação vigente (1,0). TOTAL: 10,00 MÉDIA DAS NOTAS DAS 48 QUESTÕES REMETIDAS: 7,61 PRINCIPAIS DIFICULDADES: - Quanto a estruturação e correção ortográfica: verificou-se de forma recorrente o mero desenvolvimento dos parágrafos como respostas estanques a cada um dos subitens, sem conectivos ligando a elaboração dos parágrafos, sendo que se requer um texto dissertativo, a exigir início, meio e fim, de forma argumentativa, lógica, coerente e coesa. - Item a: o ideal é que se inicie o texto com uma frase de impacto ou se situe de forma introdutória o tema sobre o qual versará o texto, bem como se aborde todos os subitens desse ponto, com referência aos dispositivos legais/convencionais. Muitos esqueceram-se das modalidades ou as referiram de forma https://cursocei.com/ 13 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com equivocada (ao invés de extradição ativa/passiva, citaram extradição instrutória/executória). - Item b: a dificuldade maior apresentada foi de discorrer sobre a origem do instituto, por demandar conhecimentos doutrinários. Em relação à vedação da extradição por crime político ou de opinião, a imensa maioria teve um excelente desempenho, sendo destacado quem indicou a posição do Supremo Tribunal Federal sobre o assunto. - Item c: o desenvolvimento desse ponto exigia conhecimentos mais aprofundados do candidato sobre o instituto do asilo e suas duas modalidades, territorial e diplomática. É importante que o candidato refira os conceitos e distinções para bem demonstrar domínio sobre a matéria. Alguns candidatos equivocaram-se indicando o refúgio. Sugiro, nesse aspecto, aprofundamento doutrinário. - Item d: Observei que a primeira dificuldade foi o número de linhas, tendo vários alunos se empolgado nos demais tópicos e restando pouco espaço para o desenvolvimento desse ponto. Aos que estrategicamente bem distribuíram a elaboração dos quatro parágrafos, tiveram uma nota, em regra, mais alta. A segunda, tem a ver com a data em que Assenge obteve a concessão do asilo diplomático, dado em 2012, momento em que não vigorava a Lei 13.445/2017, que passou a prever expressamente na legislação brasileira esse instituto (art. 27). E por fim, a evolução legislativa da matéria, iniciada por costume latino-americano, avançando para a ratificação da Convenção de Caracas, de 1954, e então a previsão na recente Lei de Migração. Interessante que muitos pontuaram com propriedade a ausência de alusão ao asilo diplomático no Estatuto dos Estrangeiros, de 1980, e lastrearam, assim, na aludida Convenção a possibilidade da República Federativa do Brasil em conceder o asilo. O hábito desse estudo evolutivo dos institutos é de suma importância para o êxito, principalmente, na segunda fase e na prova oral do certame para a magistratura federal. ✋ MELHORES RESPOSTAS https://cursocei.com/ 14 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com https://cursocei.com/ 15 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com https://cursocei.com/ 16 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com SOPHIA CARVALHO https://cursocei.com/ 17 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com SENTENÇA CRIMINAL PROFESSOR LEONARDO HENRIQUE SOARES E-mail: profcei.leonardosoares@gmail.com Buscapé e Zé Pequeno foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) porque no dia 15 de maio de 2020, por volta das 16h, na Rua A, número 100, na cidade de São Paulo/SP, de maneira livre e consciente, e agindo com unidade de desígnio, subtraíram para si coisa alheia móvel, mediante grave ameaça exercida com simulação do emprego de arma de fogo. Nos termos da denúncia e conforme constou do auto de prisão em flagrante, na data dos fatos, os acusados se encontravam na esquina das Ruas A e B quando visualizaram um veículo estacionado defronte à residência de nº 100, com logomarca da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – EBCT e o carteiro João da Silva finalizando a entrega de uma encomenda. Ao perceber a aproximação dos agentes, João da Silva apressou-se na direção do veículo, mas foi surpreendido pela ação de um dos réus que, exibindo um objeto na cintura, afirmou à vítima “perdeu”. Ato contínuo, o outro acusado tomou a direção do automóvel e os réus se evadiram do local rapidamente. Logo após ingressarem na Rua B, os acusados cruzaram com uma viatura da polícia militar, que passou a persegui-los. Após percorrerem cerca de 50 (cinquenta) metros, os réus abandonaram o veículo na via pública e passaram a fugir a pé. Buscapé foi imediatamente capturado, enquanto que seu comparsa se embrenhou pelas casas da vizinhança e não foi encontrado. Na delegacia de polícia foi lavrado o auto de prisão em flagrante, registrando-se a apreensão das 25 (vinte e cinco) encomendas que se encontravam no porta-malas do veículo. Ouvido pela autoridade policial, João da Silva afirmou que o agente que anunciou o roubo usava capuz, era branco e tinha cerca de 1,90m de altura. Após analisar uma fotografia que lhe foi exibida pela autoridade policial de suspeito da prática de diversos crimes de roubo contra a EBCT na região, João da Silva reconheceu o acusado Zé Pequeno, meliante que respondia a diversos inquéritos e ações penais em curso pela prática de crimes da mesma espécie, como o agente que anunciou o roubo. Em seu interrogatório, Buscapé manteve- se em silêncio. Convertida a prisão em flagrante de Buscapé em preventiva, sobreveio a notícia da prisão em flagrante de Zé Pequeno, pela prática de outro delito de roubo. Recebida a denúncia e apresentada resposta à acusação, foi designada audiência de instrução. Os policiais militares ouvidos confirmaram os termos da denúncia no que concerne à perseguição e captura de Buscapé. Em relação ao indivíduo que fugiu, disseram que aparentava ter estatura alta. João da Silva também confirmou o relato da peça acusatória, afirmando ter realizado o reconhecimento de Zé Pequeno por fotografia. No interrogatório, Buscapé novamente se manteve em silêncio, enquanto Zé Pequeno negou participação no crime, afirmando que está preso pela prática de outro crime, também contra a EBCT. Nas alegações finais, o MPF requereu a condenação de ambos os acusados como incursos nas penas do artigo 157, §2º, II, do Código Penal. Em sede de alegações finais, a defesa do acusado Buscapé requereu o reconhecimento da modalidade tentada de crime, tendo https://cursocei.com/ mailto:profcei.leonardosoares%40gmail.com?subject= 18 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com em vista a recuperação da totalidade das encomendas subtraídas, aliada ao fato de ter sido imediatamente perseguido e preso em flagrante pela polícia, muito próximo ao local do roubo. A defesa de Zé Pequeno aduziu a nulidade do reconhecimento fotográfico realizado na fase de inquérito, pelo descumprimento do disposto no artigo 226, do Código de Processo Penal, e juntou aos autos a ficha de identificação civil do acusado, indicando que Zé Pequeno tem 1,55m de altura. É o relato do essencial. Com base nas informações constantes do enunciado, elabore a sentença penal correspondente, dispensado o relatório.🎓 ESPELHO DE CORREÇÃO Questões estruturais: organização do texto; respeito às margens; uso correto do vernáculo. Desconto de 0,25 pontos caso o exercício tenha sido feito no computador. 0,5 Rejeição das preliminares e fundamentação: acolhimento da preliminar de ilegalidade do reconhecimento fotográfico realizado na fase de inquérito, nos termos do entendimento firmado por ocasião do julgamento do Habeas Corpus 598.886/SC, em razão da inobservância das formalidades prescritas no artigo 226, CPP pela autoridade policial, que exibiu a foto de um único suspeito à vítima. Admitiu-se como válida a análise da questão exclusivamente no tópico da autoria do crime de roubo, atribuindo-se a mesma pontuação em ambos os casos (perda de 2,0 em caso de não acolhimento da alegação defensiva ou de omissão na análise da matéria). 2,0 Mérito e fundamentação: (1) condenação do acusado Buscapé como incurso nas penas do artigo 157, §2º, II, do Código Penal. Reconhecimento da modalidade consumada, consoante o entendimento sedimentado na Súmula 582, STJ. Reconhecimento da causa de aumento do concurso de pessoas; (2) absolvição do acusado Zé Pequeno da acusação da prática do crime de roubo, diante da ausência de prova de autoria, consoante o artigo 386, V, CPP, considerando a ilegitimidade do reconhecimento fotográfico realizado na fase de inquérito. (1,50 pontos pela condenação de Buscapé, segundo a fundamentação empregada; 0,25 pontos pelo afastamento da tentativa e pelo reconhecimento da causa de aumento de pena; perda de 0,25 pontos pelo reconhecimento da causa de aumento de pena do transporte de valores; perda de 2,0 pontos em caso de condenação de Zé Pequeno, e de 0,50 pontos em caso de reconhecimento de concurso formal de crimes, inexistente). 4,0 https://cursocei.com/ 19 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com Dosimetria da pena: (1) 1ª fase: impossibilidade de valoração negativa de quaisquer das circunstâncias judiciais. (2) 2ª fase: não há atenuantes ou agravantes; (3) 3ª fase: incidência da causa de aumento do §2º, II, do artigo 157, CP (concurso de pessoas), a despeito da absolvição de Zé Pequeno, CP; (4) pena de multa: (a) fixar quantidade de dias-multa em consonância com os parâmetros empregados para a fixação da pena privativa de liberdade; (b) fixação do valor do dia-multa no mínimo legal, ante a ausência de elementos no enunciado que autorizem conclusão diversa; (5) regime prisional semiaberto/fechado, de acordo com a quantidade total de pena fixada ao acusado Buscapé, ainda que aplicada a regra do artigo 387, §2º, CPP; (6) impossibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, em razão da quantidade de pena a ser aplicada, bem como por se tratar de crime praticado com violência ou grave ameaça; (7) impossibilidade de sursis, pelo mesmo fundamento; (8) manutenção da prisão preventiva do réu Buscapé, ou sua revogação, nos termos do artigo 387, §1º, CPP; (9) impossibilidade de condenação do réu ao pagamento da indenização mínima do artigo 387, IV, CPP, por ausência de pedido expresso do MPF no curso do feito; (perda de 0,25 pontos em razão do não atendimento de quaisquer dos parâmetros indicados; perda de 0,50 pontos em razão da existência de qualquer erro de cálculo das penas, especialmente privativa de liberdade). 3,0 Provimentos finais: Após a dosimetria, manifestar-se necessariamente sobre a (a) condenação do réu ao pagamento das custas, nos termos do artigo 804, CPP; (b) após o trânsito em julgado: (b.1) determinar o lançamento do nome do réu no rol dos culpados; (b.2) determinar a expedição da guia de recolhimento; (b.3) determinar a expedição de ofícios, notadamente aos órgãos de identificação, para registro do antecedente, em cumprimento do disposto no artigo 809, CPP; (b.4) bem como ao TRE, para os fins do artigo 15, III, CF/88; (b.5) determinação para que se publique e se registre a sentença, bem como para que se intimem as partes de seu conteúdo (PRIO); (b.6) local, data, juiz federal substituto. 0,5 💡 GABARITO COMENTADO O exercício proposto está baseado em narrativa fictícia, mas com elementos presentes em processos criminais que tramitam diariamente na Justiça Federal, tendo sido objeto da prova de sentença penal do XVI concurso promovido pelo TRF-3 (roubo à agência dos Correios). O resultado esperado era a condenação do acusado Buscapé, com o reconhecimento da modalidade consumada de crime e da causa de aumento de pena do concurso de agentes, e a absolvição do réu Zé Pequeno, diante da ausência de prova de autoria, considerando a ilegitimidade do reconhecimento fotográfico realizado pela autoridade policial. https://cursocei.com/ 20 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com Em relação à dosimetria da pena, deve ser reconhecida a causa de aumento de pena do concurso de pessoas, e ser afastada a causa de diminuição de pena pela tentativa. Registro, por fim, ser recomendável que a sentença seja redigida à mão, no tempo de duração das provas de sentença (geralmente 4h). OBS: para os alunos que estejam sentido dificuldade na elaboração da sentença, recomendo que as sentenças penais das próximas rodadas sejam realizadas em maior tempo, mas sempre respeitado o limite de 210 linhas (salvo determinação em sentido contrário no respectivo enunciado). QUESTÕES ESTRUTURAIS Nesse ponto, o aluno deverá organizar seu texto de forma clara e harmônica, cuidando para não ultrapassar as margens laterais e, especialmente, o limite de linhas, fazendo uso correto do vernáculo. É importante criar tópicos e enumerá-los no decorrer da elaboração da sentença, pois isso facilita bastante a análise de sua prova pelo examinador. Assim, enumere os elementos da sentença (1-Relatório, 2-Fundamentação, 3-Dispositivo) e crie tantos subitens quantos sejam necessários para enfrentar as matérias preliminares ou dividir a análise dos crimes se as imputações penais forem diversas (a não ser que eventual limitação do número de linhas obrigue à economia máxima de espaço para o efetivo conteúdo da prova). Exemplo: “1) Relatório (dispensado pelo enunciado). 2) Fundamentação 2.1) Preliminares (a) Nulidade do reconhecimento fotográfico 2.2) Mérito: Do crime do artigo 157, do Código Penal. (a) materialidade (b) autoria 3) Dispositivo.” MATÉRIAS PRELIMINARES No caso proposto, a defesa do acusado Zé Pequeno sustentou a ilegalidade do reconhecimento fotográfico realizado na fase de investigação, diante da ausência de observância das formalidades prescritas no artigo 226, CPP, a ensejar seu desentranhamento dos autos (artigo 157, CPP) e, assim, justificar a absolvição do réu em razão da ausência de provas de autoria. O artigo 226, CPP, trata das regras aplicáveis ao reconhecimento de pessoas e coisas. Basicamente, nos https://cursocei.com/ 21 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com termos da lei, a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida, enquanto que a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la. Há certa controvérsia na doutrina e, especialmente, na jurisprudência, a respeito da interpretação do inciso II do artigo 226, CPP, alguns sustentando que a pessoa a ser reconhecida será colocada ao lado de outras, se possível (em regra, será reconhecida sozinha), e outros defendendo que sempre deverá ser colocada ao lado de outras, se possível que com ela tenham alguma semelhança (ou seja, sempre deverá estar acompanhada de outras pessoas). No caso do reconhecimento pessoal, especialmente quando realizado em juízo, há enorme dificuldade prática em implementaressa medida no âmbito da audiência de instrução, ante a falta de voluntários para se perfilar ao lado do réu, o que explica o fato de que na maioria das vezes o acusado é colocado sozinho numa sala através da qual a vítima fará o reconhecimento, sem que seja vista (inciso III), mormente em razão da (aparente) ambiguidade da norma do inciso II. No que se refere ao reconhecimento fotográfico, entretanto, não há justificativa a que a foto do principal suspeito não seja colocada ao lado de outras fotografias, a fim de evitar qualquer tipo de interferência na manifestação de vontade da vítima, através da criação de falsas memórias ou de induzimento, como parece ter ocorrido no caso em apreço. Historicamente, a jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça se firmou no sentido da facultatividade da observância das formalidades prescritas no artigo 226, CPP pela autoridade policial ou pelo magistrado em audiência, entendendo-se pela admissibilidade do meio de prova. Confira-se: AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. INDEFERIMENTO LIMINAR. IMPETRAÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO RECURSO CABÍVEL. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO SISTEMA RECURSAL. ROUBO CIRCUNSTANCIADO E TRÁFICO DE DROGAS. INOBSERVÂNCIA DAS FORMALIDADES PREVISTAS NO ARTIGO 226 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. DISPOSITIVO QUE CONTÉM MERA RECOMENDAÇÃO LEGAL. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO CONFIRMADO EM JUÍZO E CORROBORADO POR OUTRAS PROVAS COLHIDAS NO CURSO DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. EIVA NÃO CARACTERIZADA. (...). 2. Na espécie, ainda que o reconhecimento na fase policial não tenha observado os ditames do artigo 226 da Lei Penal Adjetiva, o certo é que foi confirmado em juízo e contrastado com os demais elementos de convicção reunidos no curso da instrução criminal, os quais, segundo as instâncias de origem, são aptos a comprovar a autoria delitiva, o que afasta a ilegalidade suscitada na impetração. Precedentes. (...). 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no HC 539.979/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/11/2019, DJe 19/11/2019) PROCESSO https://cursocei.com/ 22 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. Destaquei. ROUBO MAJORADO PELO CONCURSO DE PESSOAS. TESE DE VIOLAÇÃO DO ART. 226 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. NÃO OCORRÊNCIA. DECISÃO HARMÔNICA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA SUPERIOR CORTE DE JUSTIÇA. 1. A jurisprudência sedimentada desta Corte é a de que “as disposições contidas no art. 226 do Código de Processo Penal configuram uma recomendação legal, e não uma exigência absoluta, não se cuidando, portanto, de nulidade quando praticado o ato processual (reconhecimento pessoal) de forma diversa da prevista em lei” (AgRg no AREsp n. 1.054.280/PE, relator Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 6/6/2017, DJe de 13/6/2017). 2. Além disso, a autoria ficou comprovada, em juízo, por meio de prova testemunhal, e não apenas no reconhecimento judicial do agravante. 3. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 1520565/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 10/09/2019, DJe 18/09/2019). Grifei. Ocorre que, recentemente, por ocasião do julgamento do HC Nº 598.886 – SC (de cujo inteiro teor recomendo fortemente a leitura), a 6ª Turma do STJ sinalizou a alteração dessa jurisprudência, reconhecendo a invalidade de reconhecimento fotográfico realizado na fase de inquérito, em decorrência da inobservância das formalidades prescritas no artigo 226, CPP: HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO DE PESSOA REALIZADO NA FASE DO INQUÉRITO POLICIAL. INOBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO PREVISTO NO ART. 226 DO CPP. PROVA INVÁLIDA COMO FUNDAMENTO PARA A CONDENAÇÃO. RIGOR PROBATÓRIO. NECESSIDADE PARA EVITAR ERROS JUDICIÁRIOS. PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. O reconhecimento de pessoa, presencialmente ou por fotografia, realizado na fase do inquérito policial, apenas é apto, para identificar o réu e fixar a autoria delitiva, quando observadas as formalidades previstas no art. 226 do Código de Processo Penal e quando corroborado por outras provas colhidas na fase judicial, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. 2. Segundo estudos da Psicologia moderna, são comuns as falhas e os equívocos que podem advir da memória humana e da capacidade de armazenamento de informações. Isso porque a memória pode, ao longo do tempo, se fragmentar e, por fim, se tornar inacessível para a reconstrução do fato. O valor probatório do reconhecimento, portanto, possui considerável grau de subjetivismo, a potencializar falhas e distorções do ato e, consequentemente, causar erros judiciários de efeitos deletérios e muitas vezes irreversíveis. 3. O reconhecimento de pessoas deve, portanto, observar o procedimento previsto no art. 226 do Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se vê na condição de suspeito da prática de um crime, não se tratando, como se tem https://cursocei.com/ 23 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com compreendido, de “mera recomendação” do legislador. Em verdade, a inobservância de tal procedimento enseja a nulidade da prova e, portanto, não pode servir de lastro para sua condenação, ainda que confirmado, em juízo, o ato realizado na fase inquisitorial, a menos que outras provas, por si mesmas, conduzam o magistrado a convencer-se acerca da autoria delitiva. Nada obsta, ressalve-se, que o juiz realize, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o devido procedimento probatório. 4. O reconhecimento de pessoa por meio fotográfico é ainda mais problemático, máxime quando se realiza por simples exibição reconhecedor de fotos do conjecturado suspeito extraídas de álbuns policiais ou de redes sociais, já previamente selecionadas pela autoridade policial. E, mesmo quando se procura seguir, com adaptações, o procedimento indicado no Código de Processo Penal para o reconhecimento presencial, não há como ignorar que o caráter estático, a qualidade da foto, a ausência de expressões e trejeitos corporais e a quase sempre visualização apenas do busto do suspeito podem comprometer a idoneidade e a confiabilidade do ato. 5. De todo urgente, portanto, que se adote um novo rumo na compreensão dos Tribunais acerca das consequências da atipicidade procedimental do ato de reconhecimento formal de pessoas; não se pode mais referendar a jurisprudência que afirma se tratar de mera recomendação do legislador, o que acaba por permitir a perpetuação desse foco de erros judiciários e, consequentemente, de graves injustiças. 6. É de se exigir que as polícias judiciárias (civis e federal) realizem sua função investigativa comprometidas com o absoluto respeito às formalidades desse meio de prova. E ao Ministério Público cumpre o papel de fiscalizar a correta aplicação da lei penal, por ser órgão de controle externo da atividade policial e por sua ínsita função de custos legis, que deflui do desenho constitucional de suas missões, com destaque para a “defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (art. 127, caput, da Constituição da República), bem assim da sua específica função de “zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos [inclusive, é claro, dos que ele próprio exerce] [...] promovendo as medidas necessárias a sua garantia” (art. 129, II). 7. Na espécie, o reconhecimento do primeiro paciente se deu por meio fotográfico e não seguiu minimamente o roteiro normativo previsto no Código de Processo Penal. Não houve prévia descrição da pessoa a ser reconhecida e não se exibiram outras fotografias de possíveis suspeitos; ao contrário, escolheu a autoridade policial fotos de um suspeito que já cometera outros crimes, mas que absolutamentenada indicava, até então, ter qualquer ligação com o roubo investigado. 8. Sob a égide de um processo penal comprometido com os direitos e os valores positivados na Constituição da República, busca- se uma verdade processual em que a reconstrução histórica dos fatos objeto do juízo se vincula a regras precisas, que assegurem às partes um maior controle sobre a atividade jurisdicional; uma verdade, portanto, obtida de modo “processualmente admissível e válido” https://cursocei.com/ 24 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com (Figueiredo Dias). 9. O primeiro paciente foi reconhecido por fotografia, sem nenhuma observância do procedimento legal, e não houve nenhuma outra prova produzida em seu desfavor. Ademais, as falhas e as inconsistências do suposto reconhecimento – sua altura é de 1,95 m e todos disseram que ele teria por volta de 1,70 m; estavam os assaltantes com o rosto parcialmente coberto; nada relacionado ao crime foi encontrado em seu poder e a autoridade policial nem sequer explicou como teria chegado à suspeita de que poderia ser ele um dos autores do roubo – ficam mais evidentes com as declarações de três das vítimas em juízo, ao negarem a possibilidade de reconhecimento do acusado. 10. Sob tais condições, o ato de reconhecimento do primeiro paciente deve ser declarado absolutamente nulo, com sua consequente absolvição, ante a inexistência, como se deflui da sentença, de qualquer outra prova independente e idônea a formar o convencimento judicial sobre a autoria do crime de roubo que lhe foi imputado. 11. Quanto ao segundo paciente, teria, quando muito – conforme reconheceu o Magistrado sentenciante – emprestado o veículo usado pelos assaltantes para chegarem ao restaurante e fugirem do local do delito na posse dos objetos roubados, conduta que não pode ser tida como determinante para a prática do delito, até porque não se logrou demonstrar se efetivamente houve tal empréstimo do automóvel com a prévia ciência de seu uso ilícito por parte da dupla que cometeu o roubo. É de se lhe reconhecer, assim, a causa geral de diminuição de pena prevista no art. 29, § 1º, do Código Penal (participação de menor importância). 12. Conclusões: 1) O reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento previsto no art. 226 do Código de Processo Penal, cujas formalidades constituem garantia mínima para quem se encontra na condição de suspeito da prática de um crime; 2) À vista dos efeitos e dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do procedimento descrito na referida norma processual torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo; 3) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de reconhecimento formal, desde que observado o devido procedimento probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com o ato viciado de reconhecimento; 4) O reconhecimento do suspeito por simples exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda que confirmado em juízo. 13. Ordem concedida, para: a) com fundamento no art. 386, VII, do CPP, absolver o paciente Vânio da Silva Gazola em relação à prática do delito objeto do Processo n. 0001199-22.2019.8.24.0075, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Tubarão – SC, ratificada a liminar anteriormente deferida, para determinar a imediata expedição de alvará de soltura em seu favor, se por outro motivo não estiver preso; b) reconhecer a causa geral de https://cursocei.com/ 25 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com diminuição relativa à participação de menor importância no tocante ao paciente Igor Tártari Felácio, aplicá-la no patamar de 1/6 e, por conseguinte, reduzir a sua reprimenda para 4 anos, 5 meses e 9 dias de reclusão e pagamento de 10 dias-multa. Dê-se ciência da decisão aos Presidentes dos Tribunais de Justiça dos Estados e aos Presidentes dos Tribunais Regionais Federais, bem como ao Ministro da Justiça e Segurança Pública e aos Governadores dos Estados e do Distrito Federal, encarecendo a estes últimos que façam conhecer da decisão os responsáveis por cada unidade policial de investigação. Assim, a despeito do cumprimento parcial das formalidades do artigo 226, CPP, consistente da descrição parcial, pela vítima, das características físicas da pessoa a ser reconhecida, há nulidade da prova porque a autoridade policial simplesmente exibiu uma única foto ao reconhecedor, de pessoa suspeita de cometer outros crimes de roubo contra a EBCT na região, violando o disposto no inciso II, do artigo 226, CPP. Outro problema desse procedimento, conforme mencionado no julgado, é que o caráter estático, a qualidade da foto, a ausência de expressões e trejeitos corporais e a quase sempre visualização apenas do busto do suspeito podem comprometer a idoneidade e a confiabilidade do ato. No caso, havia controvérsia concernente à altura do comparsa de Buscapé que, segundo os policiais militares, tinha estatura alta. No mesmo sentido, a vítima afirmou que o agente tinha 1,90m de altura. Entretanto, o acusado Zé Pequeno, conforme indicava sua ficha de identificação civil, tinha apenas 1,55m, a revelar a inidoneidade do meio de prova. A despeito dessa limitação material, contudo, havia vício formal que deveria ser acolhido consoante o novo entendimento expressado pelo STJ. MÉRITO Quanto ao mérito, o resultado esperado era a condenação do acusado Buscapé, preso em flagrante logo em seguida à prática delitiva, e a absolvição do réu Zé Pequeno já que, para além do reconhecimento fotográfico realizado na fase de inquérito, e cuja nulidade deveria ser reconhecida, não havia qualquer outro elemento de prova de autoria que respaldasse sua condenação. No que se refere ao acusado Buscapé, restou comprovado ao longo da persecução penal que no dia 15 de maio de 2020, por volta das 16h, na Rua A, número 100, na cidade de São Paulo/SP, de maneira livre e consciente, e agindo com unidade de desígnio com outro agente não identificado, subtraiu para si coisa alheia móvel, mediante grave ameaça exercida com simulação de emprego de arma de fogo. A materialidade do delito está demonstrada pelo auto de prisão em flagrante, no qual foi formalizada a apreensão de 25 (vinte e cinco) encomendas que se encontravam armazenadas no veículo da EBCT que se encontrava na posse da vítima João da Silva, subtraídas pelos agentes; bem como pelos depoimentos dos policiais militares e da vítima ouvidos em juízo, sob o crivo do contraditório. No que se refere à autoria delitiva, os depoimentos da vítima e dos policiais militares em juízo apontam que na data dos fatos o acusado Buscapé, na companhia de um comparsa não identificado, abordaram a vítima https://cursocei.com/ 26 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com logo após a entrega de uma encomenda. Ao se aproximarem de João da Silva, o agente não identificado exibiu um objeto que se encontrava em sua cintura e anunciou o assalto, valendo-se da expressão usual “perdeu”. Ato contínuo, Buscapé assumiu a direção do veículo e os agentes se evadiram do local rapidamente. Logo após ingressarem na Rua B, os autores do delito cruzaram com uma viatura da polícia militar, que passou a persegui-los. Após percorrerem cerca de 50 (cinquenta) metros, os meliantes abandonaram o veículo na via pública e passaram a fugir a pé. Enquanto o agente não identificado se embrenhou pelas casas da vizinhança e não foi encontrado, Buscapé foi imediatamente capturado, apreendendo-se osbens subtraídos, que se encontravam no veículo abandonado. Frise-se que os depoimentos de policiais que participaram da ocorrência e da vítima do crime são elementos válidos de prova para fundamentar a condenação do acusado Buscapé: HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. ROUBO COMETIDO COM EMPREGO DE ARMA DE FOGO, EM CONCURSO DE AGENTES E COM RESTRIÇÃO À LIBERDADE DAS VÍTIMAS. ABSOLVIÇÃO EM 1º GRAU. APELO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PROVIDO. CONDENAÇÃO. ALEGADA AFRONTA AO ART. 155 DO CPP. NÃO CONFIGURAÇÃO. PROVA DA AUTORIA COLHIDA EM JUÍZO. CONFISSÃO EXTRAJUDICIAL CORROBORADA PELA PROVA JUDICIALIZADA. VALIDADE PARA FUNDAMENTAR A CONDENAÇÃO. PALAVRA DE POLICIAIS. MEIO DE PROVA IDÔNEO. ILEGALIDADE NÃO CONFIGURADA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. (...). II - O eg. Tribunal de Justiça, ao modificar a sentença absolutória para condenar o paciente, se fundamentou na prova coligida em Juízo, consistente no depoimento das vítimas e testemunhas, dentre elas policiais que realizaram a prisão em flagrante, os quais corroboraram os elementos constantes do inquérito policial, notadamente a confissão extrajudicial dos agentes, não havendo ofensa ao art. 155 do CPP. (...). IV - O depoimento dos policiais prestado em Juízo constitui meio de prova idôneo a resultar na condenação do réu, notadamente quando ausente qualquer dúvida sobre a imparcialidade dos agentes, cabendo à defesa o ônus de demonstrar a imprestabilidade da prova, o que não ocorreu no presente caso. Precedentes. (...). (HC 471.082/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 23/10/2018, DJe 30/10/2018). Grifei. HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. NULIDADE NO ATO DE RECONHECIMENTO DO ACUSADO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. FRAGILIDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO. DECISÃO QUE ENCONTRA APOIO EM OUTROS ELEMENTOS COLHIDOS SOB O CRIVO DO CONTRADITÓRIO. DECISÃO FUNDAMENTADA. DEPOIMENTO DAS VÍTIMAS. CRIME COMETIDO NA CLANDESTINIDADE. MEIO DE PROVA IDÔNEO. PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO. ABSOLVIÇÃO. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO APROFUNDADO DE MATÉRIA FÁTICO- PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE NA VIA ESTREITA DO WRIT. (...). 4. Embora existam críticas acerca do valor das declarações prestadas pelo ofendido da ação criminosa, é certo que tal https://cursocei.com/ 27 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com elemento de prova é admitido para embasar o édito condenatório, mormente em casos nos quais a conduta delituosa é praticada na clandestinidade, desde que sopesada a credibilidade do depoimento, conforme se verifica ter ocorrido na hipótese. (...). HC 162.913/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/04/2011, DJe 04/05/2011). Grifei. Entretanto, verifiquei que muitos alunos deram ênfase quase que absoluta à prisão em flagrante do acusado, (o que era objeto do depoimento dos policiais), mas sem explicitar a contribuição do agente para a prática do crime (foi ele que tomou a direção do veículo logo após a abordagem da vítima pelo agente não identificado), o que era objeto do depoimento da vítima. Na prática, é muito raro que os policiais militares testemunhem a execução do crime (a rigor, o crime já estava consumado pela inversão da posse), apenas o que ocorre depois, geralmente a prisão em flagrante, em alguns casos com a recuperação parcial ou total da coisa roubada. Então, é muito importante que não se esqueça de invocar os testemunhos e articular sobre as ações que digam respeito à própria execução do crime, assim evidenciado a participação do réu nos fatos. Por outro lado, deveria ser afastada a tese defensiva de configuração da modalidade tentada de crime. Com efeito, consoante a Súmula 582, STJ, consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. Assim, a recuperação integral da coisa roubada e a prisão do réu nas imediações do local do crime, após perseguição quase que imediata pela polícia militar, não afastam a consumação do delito, que se deu no exato momento em que os agentes assumiram a direção do veículo e deixaram o local após intimidarem a vítima com a simulação do emprego de arma de fogo. No tocante à causa de aumento de pena, cabe salientar que a absolvição de Zé Pequeno não impede a configuração do concurso de agentes. Afinal, conquanto o réu tenha sido acusado indevidamente de participar do crime, houve atuação de um comparsa de Buscapé, conforme narraram as testemunhas, ainda que não identificado e, por conseguinte, não processado criminalmente. Por fim, muitos alunos reconheceram, indevidamente, a incidência da causa de aumento de pena do transporte de valores. Na jurisprudência, existe divergência quanto à incidência da majorante: PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. ROUBO MAJORADO. CORREIOS. RECEPTAÇÃO QUALIFICADA. MATERIALIDADE, AUTORIA E DOLO COMPROVADOS. DOSIMETRIA DAS PENAS. CAUSA DE AUMENTO DE PENA RELATIVA AO TRANSPORTE DE VALORES (CP, ART. 157, § 2º, III). AFASTAMENTO. (...). 3. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) não tem por função primordial o transporte de bens valiosos, mas a entrega de correspondências. Afastada a causa de aumento prevista no art. 157, § 2º, III, do Código Penal, porém sem alteração na fração para a majorante do inciso II, uma vez que foi fixada no mínimo legal. (...). (APELAÇÃO CRIMINAL - 0007722-20.2018.4.03.6181. TRF3 - DÉCIMA PRIMEIRA TURMA, https://cursocei.com/ 28 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com e-DJF3 Judicial 1 DATA:15/10/2020). Grifei. PENAL APELAÇÃO CRIMINAL. PRELIMNAR DE NULIDADE DA SENTENÇA AFASTADA. ART. 288. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. MANTIDA ABSOLVIÇÃO. ART. 157, §2º, II, III e V do CP. COMPROVADA MATERIALIDADE E AUTORIA DOS RÉUS. PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL CORRETAMENTE FIXADA. INCABÍVEL DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO. GRAVE AMEAÇA CONFIGURADA. PRESENÇA DA AGRAVANTE PREVISTA NO ART. 62, INC. I, DO CP. IMPOSSIBILIDADE DE AFASTAMENTO DAS CAUSAS DE AUMENTO PREVISTAS NOS INCISOS III E V DO 2º DO CP. FRAÇÃO PARA MAJORAR A PENA EM FUNÇÃO DE CAUSAS DE AUMENTO JUSTIFICADA. (...). 7. Impossibilidade de afastamento da causa de aumento prevista no inciso III, § 2º, do art. 157 do CP. É absolutamente notório que os Correios, a par de realizar entre de simples correspondências , efetua igualmente a entrega de bens de elevado valor, motivo pelo qual a expressão “transporte de valores” não se refere apenas a dinheiro, em espécie. Esse serviço é de conhecimento daqueles que praticam roubo e constitui, de fato, o principal motivo para ataques a viaturas transportando encomendas para a ECT. (...). (Ap - Apelação - Recursos - Processo Criminal 0510569-09.2015.4.02.5101, PAULO ESPIRITO SANTO, TRF2 - 1ª TURMA ESPECIALIZADA. ORGAO_JULGADOR:.). Grifei. A despeito disso, o fato é que a causa de aumento de pena não estava explicitamente descrita no enunciado, que não indicou a natureza e o valor das mercadorias nem trouxe maiores considerações sobre a abrangência do dolo dos acusados. A questão do dolo, no ponto, é de especial relevância. Pela redação do inciso III, do §2º, do artigo 157, CP, exige-se dolo direto (e o agente conhece tal circunstância) para incidência da majorante. O agente deve ter ciência de que a vítima está em serviço de transporte de valores e, ao mesmo tempo, deve almejar a subtração desses valores. O que aconteceria, no entanto, se os agentes, após a fuga, se livrassem das mercadorias, ou mesmo as mantivessem no porta-malas do carro e usassem o veículo para qualquer outra finalidade ilícita (como transportar drogas sem levantar maiores suspeitas)? E, ainda que isso não tenha efetivamente ocorrido, é possível afirmar que essa não pudesse ser a intenção deles desde o início?Sobre esse ponto em específico, gostaria de registrar que não desconheço o precedente do STJ mais recente em que se reconheceu a incidência da majorante (REsp 1309966/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 26/08/2014, DJe 02/09/2014). Contudo, para além dos fundamentos jurídicos então invocados, é certo que, ao se analisar o inteiro teor do acórdão, se verifica que o juiz de primeiro grau apontou elementos concretos para justificar a conclusão de que os agentes sabiam que o carteiro estava transportando mercadorias de seu interesse, especificamente produtos da Natura que seriam comercializados informalmente (destaquei): “Ora, do contexto fático-probatório, extrai-se a conclusão de que o agente conhecia tal https://cursocei.com/ 29 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com circunstância. Neste ponto, decerto que o Estatuto Repressivo protege aqueles que têm por ofício o transporte de valores, ou seja, aqueles representados por dinheiro, ou qualquer outro bem valioso que se costuma transportar. De igual sorte, das provas coligidas aos autos, deflui que os agentes detinham conhecimento acerca da existência dos produtos da NATURA. Inclusive, são recorrentes os roubos praticados contra carteiros e veículos de entrega da ECT, sendo que os referidos produtos do roubo são comercializados no mercado informal. Tanto que a Polícia Federal, para fins de rastrear os agentes envolvidos, montou um grupo de investigação que conta, até, com a participação de funcionários da ECT. Dentre os produtos mais procurados pelos bandidos, estão os distribuídos pela rede NATURA.No caso sob comento, inclusive, constata-se o dolo direto, dada a ciência pelo agente de que as vítimas estivessem em serviço de transporte de valores. Logo, deve haver a incidência da majorante (Precedente do STJ: HC n.º 101619, Relator FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJE Data 01.06.2009). Por sua vez, ainda que a ECT seja, precipuamente, uma empresa que se dedica ao transporte de correspondências, eventualmente está afeta ao transporte dos valores, sendo os depoimentos prestados nos autos uníssonos no sentido de que o acusado sabia da existência dos produtos da NATURA.” (fls. 379/380). Enfim, conforme alertei os alunos na correção individualizada, há que se ter bastante cautela com a aplicação da emendatio nesses casos, sobretudo quando o enunciado não é expresso a respeito de elementos imprescindíveis à incidência de causa de aumento de pena ou mesmo à reclassificação jurídica dos fatos. A prova de sentença, ao contrário de uma dissertação, não se presta a que o aluno demonstre todo o conhecimento jurídico que detém sobre determinada matéria, mas sim para testar esse conhecimento, de modo prático, a partir dos dados constantes expressamente do enunciado. DOSIMETRIA. No tocante à dosimetria da pena deve ser observada, inicialmente, a regra prevista nos artigos 68, do Código Penal, que estabelece que a pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento. O artigo 59, CP, por sua vez, prescreve que o juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. Por ocasião da fixação da pena base, portanto, é importante que o candidato faça expressa referência na https://cursocei.com/ 30 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com sentença à aplicação da referida regra. Normalmente, e à exceção das questões em que os Tribunais Superiores tenham jurisprudência firmada sobre o tema, a dosimetria da pena não se submete a um espelho fechado, sendo certo que, na prática, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça reconhece a existência de certo poder discricionário ao julgador no momento da fixação das penas. O que não se admite, contudo, é que o candidato se valha de alusões abstratas, elementos imaginários e de fundamentação genérica para a exasperação da pena base. Confira-se: EMENTA AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. IMPETRAÇÃO DENEGADA NO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA POR INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA. FIXAÇÃO DA PENA-BASE. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AFASTAMENTO DA MINORANTE DO ARTIGO 33, § 4º, DA LEI 11.343/2006. REEXAME DE FATOS E PROVAS. 2. A dosimetria da pena é matéria sujeita a certa discricionariedade judicial. O Código Penal não estabelece rígidos esquemas matemáticos ou regras absolutamente objetivas para a fixação da pena. Pertinente à dosimetria da pena, encontra-se a aplicação da causa de diminuição da pena objeto do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006. (RHC 140006 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 01/12/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-289 DIVULG 14-12-2017 PUBLIC 15-12-2017). Grifei. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. DOSIMETRIA. PENA-BASE. EXASPERAÇÃO. PARTE DA FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. PENA REDIMENSIONADA. REGIME PRISIONAL. EXPRESSIVA QUANTIDADE E NATUREZA ESPECIALMENTE DELETÉRIA DA DROGA APREENDIDA. VALORAÇÃO NEGATIVA NA PRIMEIRA FASE DA DOSIMETRIA DA PENA. CRITÉRIO SUFICIENTE PARA A FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL MAIS GRAVOSO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 2. A dosimetria da pena insere-se dentro de um juízo de discricionariedade do julgador, atrelado às particularidades fáticas do caso concreto e subjetivas do agente, somente passível de revisão por esta Corte no caso de inobservância dos parâmetros legais ou de flagrante desproporcionalidade. 3. Nesse contexto, elementos próprios do tipo penal, alusões à potencial consciência da ilicitude, à gravidade do delito, ao perigo da conduta, à busca do lucro fácil e outras generalizações sem suporte em dados concretos, não podem ser utilizados para aumentar a pena-base. (HC 431.163/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 06/03/2018, DJe 13/03/2018). Grifei. O mesmo se diga em relação à definição das frações de aumento de pena, notadamente nas duas primeiras fases da dosimetria da pena, em que o legislador não estabeleceu as frações a serem seguidas, ao contrário do que ocorre com as causas de aumento e de diminuição de pena. Confira-se: https://cursocei.com/ 31 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA. PENA- BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. GRANDE QUANTIDADE DE ENTORPECENTES. POSSIBILIDADE. DESPROPORCIONALIDADE. AUSÊNCIA. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 2. Não se demonstra excessiva, desarrazoada ou ilegal a exasperação da pena-base em 2 anos pela valoração da vetorial negativa da grande quantidade de drogas apreendidas, aplicada dentro do critério da discricionariedade vinculada do julgador. 3. Ademais, nos termos da jurisprudência desta Corte Superior, a exasperação da pena-base não se dá por critério objetivo ou matemático, uma vez que é admissível certa discricionariedade do órgão julgador, desde que vinculada aos elementos concretos dos autos (AgInt no HC 352.885/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 17/05/2016, DJe 09/06/2016), só podendoser alterado o quantum de aumento na pena-base quando flagrantemente desproporcional. (AgRg no HC 400.214/MS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 06/03/2018, DJe 14/03/2018). Grifei. HABEAS CORPUS. CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. DOSIMETRIA DA PENA. REPRIMENDA BÁSICA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. AFIRMAÇÕES CONCRETAS. AUMENTO DESPROPORCIONAL DIANTE DO RECONHECIMENTO DA AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. ART. 40, INCISO IV, DA LEI N. 11.343/2006. EMPREGO DE ARMA DE FOGO. ACRÉSCIMO NO PATAMAR DE 1/3 (UM TERÇO). MOTIVAÇÃO IDÔNEA. 1. Na esteira da orientação jurisprudencial desta Corte, por se tratar de questão afeta a certa discricionariedade do magistrado, a dosimetria da pena é passível de revisão em habeas corpus apenas em hipóteses excepcionais, quando ficar evidenciada flagrante ilegalidade, constatada de plano, sem a necessidade de maior aprofundamento no acervo fático-probatório. 4. O Código Penal não estabelece limites mínimo e máximo de aumento ou redução de pena em razão da incidência das agravantes e atenuantes genéricas. Diante disso, a doutrina e a jurisprudência pátrias anunciam que cabe ao magistrado sentenciante, nos termos do princípio do livre convencimento motivado, aplicar a fração adequada ao caso concreto, em obediência aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Precedentes. (HC 421.158/RJ, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 01/03/2018, DJe 12/03/2018). Grifei. Por outro lado, em relação à forma de cálculo da pena base, o Código Penal é silente a respeito (já que não houve prefixação da quantidade de aumento de pena na primeira fase da dosimetria, para cada circunstância judicial negativa), assim como não há critério fechado na jurisprudência que, repise-se, destaca o caráter discricionário dessa atividade jurisdicional. Assim, é admissível o emprego da fração de 1/8 (um oitavo), considerando o número de circunstâncias judiciais previstas no artigo 59, CP, ou de 1/6 (um sexto), que é a menor fração empregada pelo Código Penal quando trata das causas de aumento ou de diminuição de pena, sobre a pena mínima cominada ao delito. https://cursocei.com/ 32 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com Exemplo: reconhecida a existência de 1 circunstância judicial negativa, e adotando-se a fração de 1/6 ou 1/8 a incidir sobre a pena mínima do crime de roubo (4 anos), o resultado seria a fixação da pena base em 4 anos e 8 meses ou 4 anos e 6 meses, conforme o caso. Também costumam ser aceitos outros critérios de cálculo, como aquele que confere pesos diferentes para cada circunstância judicial a depender do delito em análise, inclusive com a fixação de um teto para a exasperação da pena base (termo médio). Exemplo: preceito primário do tipo penal de roubo prevê pena privativa de liberdade de 4 a 10 anos. Assim, para a obtenção do termo médio, deve-se tirar a média entre os limites máximos e mínimos da pena. No caso, 4+10 = 14/2 = 7. Sendo assim, na primeira fase da dosimetria da pena, a pena base não pode ser superior a 7 anos. Em seguida, procede-se à determinação da quantidade de pena atribuível a cada circunstância judicial. No caso, considerando-se que 3 anos (7-4=3) equivalem a 36 meses, e que são 8 as circunstâncias judiciais, cada uma dela corresponderia a 4 meses e 15 dias. Sendo reconhecida a presença de 1 circunstância judicial negativa, a pena base seria fixada em 4 anos, 4 meses e 15 dias. Vejam dois julgados abaixo do STJ em que os Ministros Relatores fazem referência a essa forma de cálculo, ainda que aceitem o método diferente aplicado pelo magistrado sentenciante na espécie: PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. LATROCÍNIO TENTADO. DOSIMETRIA DA PENA. DISCRICIONARIEDADE VINCULADA. FLAGRANTE ILEGALIDADE NÃO EVIDENCIADA. PROPORCIONALIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO. 4. No caso, a pena-base foi estabelecida acima do piso legal em razão do modus operandi e das consequências do crime. Considerando a fração ideal de 1/8 por circunstância judicial desfavorável, a incidir sobre o intervalo da condenação abstratamente previsto para o crime de latrocínio (120 meses), seria razoável o incremento da pena em 1 ano e 3 meses por vetorial desabonadora. Todavia, conquanto tenha reconhecido a presença das duas circunstâncias judiciais desfavoráveis, o Colegiado de origem estabeleceu a reprimenda-base em 20 anos e 6 meses de reclusão, ou seja, 6 meses acima do piso legal, o que se revela bastante favorável ao réu, não havendo se falar, assim, em manifesta ilegalidade a exigir a intervenção excepcional desta Corte Superior de Justiça. (HC 366.847/RJ, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 27/02/2018, DJe 05/03/2018). Grifei. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TESE DE VIOLAÇÃO DO ART. 59 DO CP. RAZÕES DE PEDIR DO RECURSO ESPECIAL QUE NÃO IMPUGNAM, DE MANEIRA ESPECÍFICA, AS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS ANALISADAS DE FORMA DESFAVORÁVEL. SÚMULA N. 284 DO STF. INOVAÇÃO RECURSAL INADMISSÍVEL EM AGRAVO REGIMENTAL. DOSIMETRIA DA PENA. PROPORCIONALIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE REVISÃO NA VIA ESPECIAL. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. Se, no recurso especial, a parte alega violação do art. 59 do CP, mas as https://cursocei.com/ 33 MAGISTRATURA F E D E R A L INTENSIVO SEMESTRAL 2021.1 ESPELHO DE CORREÇÃO DA RODADA 01 www.cursocei.com cursocei.com razões de pedir estão dissociadas do aresto estadual e deixam de impugnar, especificamente, as circunstâncias judiciais sopesadas de forma negativa pelo Tribunal a quo, fica caracterizada a deficiência do recurso que impossibilita seu conhecimento, por incidência da Súmula n. 284 do STF. 2. É inviável, em agravo regimental, discutir tese que nem sequer foi deduzida no recurso especial, por se tratar de indevida inovação recursal. 3. A exasperação relacionada a cada circunstância judicial poderá, entre outros critérios, ser calculada com base no termo médio entre o mínimo e o máximo da pena cominada em abstrato ao crime, dividido pelo número de circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. Na hipótese, ela foi manifestamente proporcional. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 785.834/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe 10/08/2017). Grifei. O mais importante nesse ponto é (i) indicar ao examinador qual o critério de cálculo escolhido, indicando expressamente a fração de aumento da pena; (ii) evitar fazer cálculos excessivos durante a prova; simplifique! Partindo para a análise do caso concreto, o enunciado não trouxe elementos que permitissem a valoração negativa de quaisquer das circunstâncias judiciais, bem como não havia circunstâncias agravantes ou atenuantes na segunda fase da dosimetria. Lembro que todas as circunstâncias judiciais do artigo 59, CP devem ser expressamente referidas e valoradas, ainda que de modo neutro. Já na terceira fase de dosimetria da pena, como se viu, cabe a incidência da causa de aumento do §2, II, do artigo 157, CP (concurso de agentes). Paralelamente à aplicação da pena privativa de liberdade, caberá ao candidato o cálculo da pena de multa. Nos termos do artigo 49, CP, a pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Por outro lado, nos termos do artigo 59, I e II, CP, o juiz estabelecerá as penas aplicáveis e a sua quantidade, dentro dos limites previstos, segundo a análise das circunstâncias judiciais. Em seguida, serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento, nos termos do artigo 68, CP, de modo que seja observada a necessária proporcionalidade entre as penas de multa e a pena privativa de liberdade (lembre-se que o caráter bifásico da pena de multa diz respeito apenas ao binômio “quantidade” e “valor” do
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