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Pacote Anticrime _As modificações no sistema de justiça criminal brasileira_

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AS MODIFICAÇÕES NO SISTEMA
DE JUSTIÇA CRIMINAL BRASILEIRO
PACOTE
ANTI
CRIME
ESTÁCIO LUIZ & PEDRO TENÓRIO
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Pedro Tenório Soares Vieira Tavares 
Estácio Luiz Gama de Lima Netto 
 
 
 
 
 
 
 
 
PACOTE ANTICRIME 
As modificações no sistema de justiça criminal brasileiro 
 
 
 
 
 
 
 
2020 
e s t ác i o L u i z & p e d r o te nó r i o 
2 
 
SOBRE OS AUTORES 
 Pedro Tenório Soares Vieira Tavares é alagoano de Maceió, bacharel em 
Direito pela Faculdade de Direito de Maceió (FADIMA), especialista em Direito 
e Processo Penal pela Universidade Tiradentes (UNIT). Membro do Ministério 
Público do Estado do Paraná, tendo em seu currículo aprovações para os cargos 
de Promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (2017) e 
Delegado de Polícia Civil do Estado de Pernambuco (2016). 
 Estácio Luiz Gama de Lima Netto é também alagoano de Maceió/AL, 
bacharel e mestre em Direito pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), 
especialista em Direito e Processo Penal pela Universidade Tiradentes (UNIT). 
Advogado criminalista e professor de direito penal e processo penal na 
graduação (Faculdade de Maceió – FAMA), pós-graduação (Universidade 
Tiradentes – UNIT) e de cursos preparatórios para concursos públicos no 
Estado de Alagoas (PHD Cursos). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
P A C O T E A N T I C R I M E – A S M O D I F IC AÇ ÕE S N O S I S TE M A D E J U S T IÇ A C R I M I N AL BR AS I L E IR O 
3 
 
BREVÍSSIMA APRESENTAÇÃO 
 O e-book que o leitor tem em mãos busca informar e preparar, de forma 
estratégica e na profundidade ideal, os candidatos para as mais diversas provas 
de concurso público sobre os temas novos e também as principais alterações 
que compõem a Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019, assim conhecida como 
Pacote Anticrime, daqui em diante mencionado como PAC. 
Apesar de ser considerada pelo Congresso Nacional e pelos mais 
distintos setores da política nacional como um presente de Natal à população, o 
PAC foi alvo de 25 vetos e várias sanções presidenciais inesperadas, como o juiz 
de garantias. Presente um tanto quanto controverso, pois. 
 Fato é que o PAC trouxe novos institutos penais e processuais penais, v.g, 
legítima defesa exercida por agente de segurança pública em caso de vítima 
refém, acordo de não-persecução penal, juiz de garantias, descontaminação do 
julgado no caso de declaração de prova ilícita, regulamentação da cadeia de 
custódia da prova (exame de corpo de delito), etc. 
Houve também modificações profundas em institutos penais e 
processuais já conhecidos, v.g, livramento condicional, inquérito policial 
(sistemática do prazo, arquivamento e comunicações à autoridade judiciária – 
juiz de garantias), prisões e medidas cautelares reais e pessoais diversas da 
prisão, etc. 
Isso sem contar com as modificações pontuais, porém cruciais, nas leis 
criminais extravagantes, algumas de extrema importância para a justiça 
criminal brasileira, v.g, estatuto do desarmamento, drogas, lavagem de capitais, 
organização criminosa, interceptação telefônica, etc. 
A missão não é fácil, pois o PAC é longo e complexo. Sem embargos, 
nossa tarefa é tornar o estudo sistemático e inteligível com o objetivo de deixá-
los prontos para enfrentar qualquer fase de concurso e promover a atualização 
necessária aos profissionais da área. Vamos juntos! 
 
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SUMÁRIO 
CAPÍTULO 1 DAS MODIFICAÇÕES NA PARTE GERAL DO CÓDIGO PENAL COMENTADAS ........................................... 5 
CAPÍTULO 2 DAS MODIFICAÇÕES NA PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO PENAL COMENTADAS ....................................23 
CAPÍTULO 3 DAS PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL COMENTADAS ...........................31 
CAPÍTULO 4 DAS MODIFICAÇÕES NA LEI DE EXECUÇÕES PENAIS (LEP) COMENTADAS ..................................... 150 
CAPÍTULO 5 DAS MODIFICAÇÕES NA LEI 8.072/90 (CRIMES HEDIONDOS) COMENTADAS ................................ 181 
CAPÍTULO 6 DAS MODIFICAÇÕES NA LEI 8.429/92 (LIA) COMENTADAS ......................................................... 193 
CAPÍTULO 7 DAS MODIFICAÇÕES NA LEI 9.296/96 (INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS) COMENTADAS ............. 200 
CAPÍTULO 8 DA MODIFICAÇÃO NA LEI 9.613/98 (LAVAGEM DE CAPITAIS) COMENTADA ................................. 207 
CAPÍTULO 9 DAS MODIFICAÇÕES NA LEI 10.826/03 (ESTATUTO DO DESARMAMENTO) COMENTADAS ............ 213 
CAPÍTULO 10 DA MUDANÇA NA LEI 11.343/06 (LEI DE DROGAS) COMENTADAS ............................................ 224 
CAPÍTULO 11 DAS MODIFICAÇÕES NA LEI 12.850/13 (CRIME ORGANIZADO) COMENTADAS ........................... 226 
NOTAS À GUISA DE CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 270 
 
 
 
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CAPÍTULO 1 DAS 
MODIFICAÇÕES NA 
PARTE GERAL DO 
CÓDIGO PENAL 
COMENTADAS 
 
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1 LEGÍTIMA DEFESA EXERCIDA POR AGENTES DE SEGURANÇA 
PÚBLICA EM FAVOR DE VÍTIMA REFÉM 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Art. 25. Entende-se em legítima defesa 
quem, usando moderadamente dos 
meios necessários, repele injusta 
agressão, atual ou iminente, a direito 
seu ou de outrem (Redação dada pela 
Lei nº 7.209, de 11.7.1984). 
Art. 25, parágrafo único. Observados 
os requisitos previstos no caput deste 
artigo, considera-se também em 
legítima defesa o agente de segurança 
pública que repele agressão ou risco 
de agressão a vítima mantida refém 
durante a prática de crimes. 
 
Na prática, a inovação legislativa não trouxe modificações substanciais, 
porquanto se limitou a descrever uma hipótese de legítima defesa de terceiro já 
amplamente aceita pela doutrina e pela jurisprudência. 
Nesse sentido, a própria redação dispõe que a incidência da hipótese de 
legítima defesa de terceiro envolvendo agentes de segurança pública deve 
obedecer aos requisitos anteriormente previstos. 
Parece evidente, neste ponto, que o PAC buscou tão somente um afago 
mais político do que dogmático, já que o agente de segurança que agia para 
repelir injusta agressão em favor de terceiro, estando este mantido refém ou 
não, incidiria em manifesta excludente de ilicitude, mesmo antes da nova lei. 
Importante mencionar que os termos “agressão” ou “risco de agressão” 
devem ser interpretados à luz conceito de agressão injusta atual ou iminente. 
Assim, a inovação figura como uma lei interpretativa, visando eliminar zonas 
cinzentas no processo hermenêutico quanto às situações envolvendo agentes de 
segurança pública no exercício de legítima defesa de terceiro. 
 
2 DA PENA DE MULTA E O JUÍZO COMPETENTE PARA EXECUÇÃO 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Art. 51. Transitada em julgado a 
sentença condenatória, a multa será 
considerada dívida de valor, 
aplicando-se-lhesas normas da 
legislação relativa à dívida ativa da 
Fazenda Pública, inclusive no que 
concerne às causas interruptivas e 
suspensivas da prescrição. (Redação 
dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) 
Art. 51. Transitada em julgado a 
sentença condenatória, a multa será 
executada perante o juiz da execução 
penal e será considerada dívida de 
valor, aplicáveis as normas relativas à 
dívida ativa da Fazenda Pública, 
inclusive no que concerne às causas 
interruptivas e suspensivas da 
prescrição. 
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 Perceba-seque, com o PAC, a dívida de valor constituída pela sentença 
penal transitada em julgado passou expressamente a ser executada no juízo da 
execução penal. A legislação anterior não previa qual era o juízo competente. 
Modificação importante e que é passível de cobrança em prova! 
Lembre-se ainda o que preceitua a Súmula 521, STJ: “A legitimidade 
para a execução fiscal de multa pendente de pagamento imposta em sentença 
condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública”. 
Todavia, a recentíssima jurisprudência do STF parece ter superado o 
entendimento sumulado pelo tribunal da cidadania nos seguintes termos: “O 
MP é legitimado a cobrar a multa penal transitada em julgado na Vara das 
Execuções Penais. Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias, após ser 
devidamente intimado, a Procuradoria da Fazenda Pública irá executar, na Vara 
de Execuções Fiscais, aplicando-se a Lei 6.830/80” (STF. ADI 3150/DF e AP 
470/MG, Pleno, Red. p/ ac. Min. Roberto Barroso, 13/12/2018 – Info 927). 
Ressalte-se que com a modificação trazida pelo PAC, a tendência é que a 
decisão do STF permaneça. Assim, a atribuição para execução da multa será do 
Ministério Público no juízo de execuções penais. Caso haja inércia por mais de 
90 (noventa) dias do Ministério Público, a Procuradoria da Fazenda Pública 
promoverá, subsidiariamente, a execução da multa, sendo que na Vara de 
Execuções Fiscais. Registre-se, por fim, que tal atuação será na Vara de 
Execuções Fiscais em razão de inadequação da atuação da Fazenda no âmbito 
da Vara de Execuções Penais. 
 
3 TEMPO MÁXIMO DE CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE 
LIBERDADE 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Art. 75. O tempo de cumprimento das 
penas privativas de liberdade não 
pode ser superior a 30 (trinta) anos. 
§1º. Quando o agente for condenado a 
penas privativas de liberdade cuja 
soma seja superior a 30 (trinta) anos, 
devem elas ser unificadas para 
atender ao limite máximo deste artigo 
(redação de 1984). 
Art. 75. O tempo de cumprimento das 
penas privativas de liberdade não 
pode ser superior a 40 (quarenta) 
anos. §1º. Quando o agente for 
condenado a penas privativas de 
liberdade cuja soma seja superior a 40 
(quarenta) anos, devem elas ser 
unificadas para atender ao limite 
máximo deste artigo. 
 
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A Constituição Federal, em seu art. 5º, XLVII, “b”, veda penas de caráter 
perpétuo. Como forma de obedecer a tal dispositivo, o legislador 
infraconstitucional limitou o tempo de cumprimento da pena privativa de 
liberdade de modo a fixar um lapso temporal compatível e proporcional com o 
tempo de vida do ser humano. Com o PAC, em caso de crimes, o tempo 
máximo de cumprimento das penas privativas de liberdade passa de 30 (trinta) 
para 40 (quarenta) anos. 
Perceba-se que o dispositivo não modificou o art. 10 da Lei de 
Contravenções Penais (LCP), que prevê o prazo máximo de 5 (cinco) anos para 
cumprimento da pena privativa de liberdade, que no caso só pode ser a pena de 
prisão simples. Nesse caso, a LCP figura como lei especial em relação ao Código 
Penal, prevalecendo em relação à modificação trazida pelo PAC. 
Com a nova mudança legal, a Súmula 715, STF, tende a ser revista, in 
verbis: “A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, 
determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a concessão 
de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável 
de execução”. 
Outro ponto importante é que a nova redação não sanou a divergência 
entre o entendimento do STF e do STJ quanto à duração da medida de 
segurança. Se a questão mencionar que houve a fixação legal do prazo máximo 
da medida de segurança, automaticamente deverá ser apontada como errada. 
Por enquanto, quanto à medida de segurança, vigora a divergência entre 
o disposto na Súmula 527, STJ, que limita a medida de segurança à pena 
máxima abstratamente cominada ao delito praticado, e o entendimento do STF 
que, por analogia, aplica às medidas de segurança o tempo máximo de 
cumprimento da pena privativa de liberdade, antes 30, agora 40 anos. 
Não será um espanto se uma ADI for apresentada perante o STF 
alegando afronta justamente ao direito fundamental individual previsto no art. 
5º, XLVII, “b”. Cenas dos próximos capítulos, porém. Aguardemos. 
 
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4 DO LIVRAMENTO CONDICIONAL 
4.1 ACRÉSCIMO DO REQUISITO RELATIVO A AUSÊNCIA DE FALTA 
GRAVE NOS ÚLTIMOS 12 (DOZE) MESES 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Art. 83. O juiz poderá conceder 
livramento condicional ao condenado a 
pena privativa de liberdade igual ou 
superior a 2 (dois) anos, desde que: 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
I – cumprida mais de um terço da pena se 
o condenado não for reincidente em crime 
doloso e tiver bons antecedentes; 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
II – cumprida mais da metade se o 
condenado for reincidente em crime 
doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, 
de 11.7.1984) 
III – comprovado comportamento 
satisfatório durante a execução da pena, 
bom desempenho no trabalho que lhe foi 
atribuído e aptidão para prover à própria 
subsistência mediante trabalho honesto; 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
IV – tenha reparado, salvo efetiva 
impossibilidade de fazê-lo, o dano 
causado pela infração; (Redação dada 
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
V – cumpridos mais de dois terços da 
pena, nos casos de condenação por crime 
hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito 
de entorpecentes e drogas afins, tráfico de 
pessoas e terrorismo, se o apenado não 
for reincidente específico em crimes dessa 
natureza. (Incluído pela Lei nº 
13.344, de 2016) (Vigência) 
Parágrafo único. Para o condenado por 
crime doloso, cometido com violência ou 
grave ameaça à pessoa, a concessão do 
livramento ficará também subordinada à 
constatação de condições pessoais que 
façam presumir que o liberado não 
voltará a delinquir. (Redação dada pela 
Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 
Art. 83. O juiz poderá conceder 
livramento condicional ao condenado a 
pena privativa de liberdade igual ou 
superior a 2 (dois) anos, desde que 
(mantido): 
I – cumprida mais de um terço da pena se 
o condenado não for reincidente em crime 
doloso e tiver bons antecedentes 
(mantido); 
II – cumprida mais da metade se o 
condenado for reincidente em crime 
doloso (mantido); 
III– comprovado (modificado): 
a) bom comportamento durante a 
execução da pena; 
b) não cometimento de falta grave nos 
últimos 12 (doze) meses; 
c) bom desempenho no trabalho que lhe 
foi atribuído; e 
d) aptidão para prover a própria 
subsistência mediante trabalho honesto; 
tenha reparado, salvo efetiva 
impossibilidade de fazê-lo, o dano 
causado pela infração; 
IV – tenha reparado, salvo efetiva 
impossibilidade de fazê-lo, o dano 
causado pela infração (mantido); 
V – cumpridos mais de dois terços da 
pena, nos casos de condenação por crime 
hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito 
de entorpecentes e drogas afins, tráfico de 
pessoas e terrorismo, se o apenado não 
for reincidente específico em crimes dessa 
natureza (mantido). 
Parágrafo único. Para o condenado por 
crime doloso, cometido com violência ou 
grave ameaça à pessoa, a concessão do 
livramento ficará também subordinada à 
constatação de condições pessoais que 
façam presumir que o liberado não 
voltará a delinquir (mantido). 
 
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Como se percebe, o PAC apenas modificou o inciso III do art. 83. A nova 
redação adicionou o seguinte requisito: O condenado não pode ter cometido 
falta grave nos últimos 12 (doze) meses. Perceba que os demais requisitos do 
livramento condicional foram preservados. 
Numa primeira análise, parece que mesmo com a nova legislação a 
práticade falta grave não interrompe o prazo para concessão do livramento 
condicional, estando o PAC de acordo com a jurisprudência pacífica dos 
tribunais superiores (Súmula 441, STJ: “A falta grave não interrompe o prazo 
para obtenção do livramento condicional”). 
Isso porque o impedimento da concessão do benefício não se confunde 
com a interrupção do prazo para aquisição do direito. Pelo menos, numa 
primeira análise, é como sentimento, porém, aguardemos as repercussões 
jurisprudenciais. 
Algo que não pode deixar de ser percebido é que a nova lei não 
modificou o caput do art. 83, nem a redação dos incisos I, II, IV, V e do 
parágrafo único para adequar às inovações relativas à progressão regime, que a 
partir de agora tem o requisito objetivo computado em percentuais e não mais 
em frações, conforme será visto em capítulo específico. 
 
4.2 NOVAS VEDAÇÕES AO LIVRAMENTO CONDICIONAL 
ADICIONADAS À LEP 
O PAC trouxe novas hipóteses de vedação para concessão do livramento 
condicional: 
TIPO DE CONDENADO CIRCUNSTÂNCIA DO CRIME 
Primário Condenado por crime hediondo ou 
equiparado com resultado morte (art. 
112, inciso VI, “a”, da LEP – 
modificação do pacote anticrime) 
Primário Condenado por integrar organização 
criminosa ou por crime praticado por 
meio de organização criminosa, se 
houver elementos probatórios que 
indiquem a manutenção do vínculo 
associativo (art. 2º, §9º, da Lei 
12.850/13 – modificação do pacote 
anticrime) 
Reincidente Em crime hediondo ou equiparado 
com resultado morte (art. 112, inciso 
VIII, da LEP – modificação do pacote 
anticrime) 
 
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Ao lado dessas três hipóteses legais novas de vedação, a concessão do 
livramento condicional é também vedada nos termos do inciso V do art. 83 do 
Código Penal, que foi mantido, se o sujeito for reincidente específico em crime 
hediondo ou equiparado a hediondo (tráfico, tortura e terrorismo), mesmo sem 
resultado morte, e/ou em tráfico de pessoas. Perceba-se que o art. 83, V, vedou 
o livramento condicional em relação ao reincidente específico nesses crimes 
mesmo sem o resultado morte. 
Contudo, possivelmente haverá discussão quanto à hipótese revogação 
tácita do art. 83, inciso V, do Código Penal. Isso porque as modificações 
promovidas pelo PAC no art. 112 da LEP mencionaram expressamente as 
hipóteses de vedação da concessão do livramento condicional (art. 112, incisos 
VI e VIII). Sendo assim, através de interpretação sistemática dos dispositivos, 
duas teses aparecem como possíveis a partir da nova legislação (PAC): 
NÃO HOUVE REVOGAÇÃO 
TÁCITA DO ART. 83, V, CP 
HOUVE REVOGAÇÃO TÁCITA 
DO ART. 83, V, CP 
A vedação do art. 83, inciso V, do CP, 
convive com o disposto no art. 112, 
VII, da LEP, já que a norma do CP 
trata especificamente do livramento 
condicional enquanto o art. 112 da 
LEP trata da progressão de regime 
com reflexos difusos no livramento 
condicional 
Houve revogação tácita do art. 83, 
inciso V, do CP, porquanto o PAC ao 
alterar a LEP em relação às vedações 
ao livramento condicional o fez com 
pretensão de exaustão, sem contar que 
prescreveu expressamente as 
hipóteses mais graves de vedação (art. 
112, incisos VI e VIII) e não o fez no 
inciso VII (hipótese mais leve) 
 
5 CONFISCO ALARGADO DE BENS: NOVA HIPÓTESE DE 
PERDIMENTO DE BENS COMO EFEITO DA SENTENÇA PENAL 
CONDENATÓRIA 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Não havia esse dispositivo. Trata-se, 
portanto de inovação legislativa! 
Art. 91-A. Na hipótese de condenação 
por infrações às quais a lei comine 
pena máxima superior a 6 (seis) anos 
de reclusão, poderá ser decretada a 
perda, como produto ou proveito do 
crime, dos bens correspondentes à 
diferença entre o valor do patrimônio 
do condenado e aquele que seja 
compatível com o seu rendimento 
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lícito. 
§1º. Para efeito da perda prevista no 
caput deste artigo, entende-se por 
patrimônio do condenado todos os 
bens: 
I – de sua titularidade, ou em relação 
aos quais ele tenha o domínio e o 
benefício direto ou indireto, na data 
da infração penal ou recebidos 
posteriormente; e 
II – transferidos a terceiros a título 
gratuito ou mediante contraprestação 
irrisória, a partir do início da 
atividade criminal. 
§2º. O condenado poderá demonstrar 
a inexistência da incompatibilidade ou 
a procedência lícita do patrimônio. 
§3º. A perda prevista neste artigo 
deverá ser requerida expressamente 
pelo Ministério Público, por ocasião 
do oferecimento da denúncia, com 
indicação da diferença apurada. 
§4º. Na sentença condenatória, o juiz 
deve declarar o valor da diferença 
apurada e especificar os bens cuja 
perda for decretada. 
§5º. Os instrumentos utilizados para a 
prática de crimes por organizações 
criminosas e milícias deverão ser 
declarados perdidos em favor da 
União ou do Estado, dependendo da 
Justiça onde tramita a ação penal, 
ainda que não ponham em perigo a 
segurança das pessoas, a moral ou a 
ordem pública, nem ofereçam sério 
risco de ser utilizados para o 
cometimento de novos crimes. 
 
5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Antes do PAC, o perdimento de instrumentos utilizados na prática do 
crime e dos bens alcançados através da atividade delitiva tinha regramento 
único com caráter de efeito extrapenal genérico da condenação. Ou seja, era 
efeito automático da condenação não necessitando de fundamentação judicial. É 
dizer, toda condenação produz tais efeitos. 
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Eram estes os casos: 1) Perda em favor da União dos instrumentos do 
crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou 
detenção constitua fato ilícito (art. 91, II, “a”, CP); 2) Perda do produto do crime 
ou qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a 
prática do fato criminoso (art. 91, II, “b”, CP); 3) Perda do produto ou proveito 
do crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no 
exterior (art. 91, §1º, CP). 
O art. 91-A introduziu no sistema criminal brasileiro a figura do confisco 
alargado de bens do criminoso, já adotado em países como Portugal, Alemanha 
e Espanha. Como se percebe, com o advento da criminalidade moderna, que 
deixou para trás o Direito Penal urbano (crimes de rua), a atividade delitiva não 
raro ultrapassa os limites territoriais de um país, tem seu modus operandi mais 
complexo e sofisticado. 
Dentro desse contexto, surgiram também as organizações criminosas 
nacionais e transnacionais, centros de poder ilícito que acabam acumulando 
grande patrimônio decorrente direta ou indiretamente de suas atividades 
criminosas. 
No cenário brasileiro, não se pode esquecer que essas organizações estão 
não raras vezes incrustadas no seio da própria estrutura burocrática do Estado, 
o que dificulta ainda mais o combate e superação dessa forma de criminalidade. 
Sendo assim, o grande desafio no combate à criminalidade moderna, 
organizada ou não, reside, portanto, em desmantelar sua estrutura através da 
identificação e isolamento das lideranças bem como o atingimento dos valores e 
bens acumulados ilicitamente, porquanto esses bens servem para perpetuar as 
práticas delitivas e reestruturar o prejuízo calculado causado pelas instituições 
estatais no combate diário ao crime. 
O confisco patrimonial dos bens acumulados com a prática delitiva 
revela-se um forte instrumento no combate a essa espécie de criminalidade. 
 
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14 
 
5.2 CONCEITOS IMPORTANTES 
A) CONFISCO ALARGADO 
O confisco alargado consiste no perdimento de bens cujos valores sejam 
o resultado da diferença entre o patrimônio comprovadamente lícito ou 
oriundo de fontes legítimas do agente e o patrimôniototal do condenado, 
estejam os bens ou valores registrados em seu nome ou nome de terceiro. 
 
B) PATRIMÔNIO ALVO DO CONFISCO 
O §1º do art. 91-A traz uma norma explicativa definindo o conceito de 
patrimônio para fins de aplicação do efeito da condenação ora estudado. Nesse 
sentido, entende-se por patrimônio do condenado todos os bens: 
a) de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o 
benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos 
posteriormente; e b) transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante 
contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. 
O conceito de patrimônio abrange os bens de titularidade do agente 
criminoso, ou seja, aqueles que estão “em seu nome”, bem como aqueles sobre 
os quais o agente detém o domínio e o benefício direto ou indireto, em ambos 
os casos na data da infração penal ou recebidos posteriormente. 
Exemplos: a) A casa registrada em seu nome (titularidade); b) Imóvel 
que, apesar de não estar em seu nome (está em nome de laranja), é utilizado de 
forma recorrente como casa de campo, figurando o agente como titular de fato e 
não de Direito, já que o imóvel foi dado como forma de pagamento de propina. 
Outrossim, o dispositivo legal abrange aqueles transferidos a terceiros 
(laranjas) a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do 
início da atividade criminal. Nesses casos, tem-se a simulação fraudulenta de 
negócios jurídicos (doação, compra e venda, etc.) com a finalidade de dificultar 
a persecução patrimonial. 
Exemplos: a) O agente delitivo compra um carro importado com o 
proveito do crime e, logo após, simula um contrato de compra e venda, 
entregando o veículo por valor irrisório; b) O agente delitivo transfere, por meio 
de doação, recursos para institutos, ONGs, cuja finalidade é, unicamente, lavar 
dinheiro. 
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15 
 
5.3 NATUREZA JURÍDICA 
Trata-se de um efeito extrapenal específico da sentença condenatória 
criminal, logo é efeito não automático, incidindo apenas em algumas infrações. 
Necessita de fundamentação expressa na decisão condenatória, e o mais 
importante, de pedido expresso por parte do Órgão do Ministério Público na 
denúncia. 
A natureza jurídica de efeito extrapenal específico parece ser evidente na 
novel redação. Nesse sentido, o caput restringe a sua incidência às infrações 
penais cujas penas máximas cominadas sejam superiores a 06 (seis) anos de 
reclusão. Nesse ponto, o legislador fez duas exigências: a) Pena máxima 
cominada (abstratamente prevista!) superior a 06 (seis) anos; b) Pena seja de 
reclusão. Ou seja, perceba-se a especificidade do efeito, cuja incidência somente 
se dá em infrações penais eleitas pela legislação. 
 É preciso muita atenção, pois o que importa é a pena máxima abstrata, e 
não a pena concretamente aplicada na condenação. Ou seja, se o crime alvo do 
processo tem pena máxima em abstrato superior a 6 (seis) anos, o confisco 
alargado poderá incidir, mesmo que a pena in concreto aplicada pelo magistrado 
seja inferior a 6 (seis) anos. 
Note-se, uma vez mais, que o confisco alargado não pode ser decretado 
exofficio pelo magistrado, estando submetido a requerimento expresso do 
Ministério Público quando do oferecimento da denúncia. Além disso, o órgão 
ministerial deve indicar, já na denúncia, a diferença apurada entre o valor 
patrimônio do condenado e o valor do patrimônio que seria compatível com os 
seus rendimentos lícitos. Ainda assim, o magistrado, na decisão condenatória, 
deverá declarar o valor da diferença apurada e especificar os bens cuja perda 
for decretada. 
Deve-se atentar para o fato de que o confisco alargado não exige que os 
bens atingidos sejam, necessariamente, instrumentos do crime; produto do 
crime; bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática 
do fato criminoso. Na verdade, o novo instituto cria uma presunção relativa de 
que a diferença patrimonial é produto ou proveito do crime. Porém, o 
condenado poderá comprovar a inexistência da incompatibilidade ou a 
procedência lícita da diferença patrimonial. 
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16 
 
Interessante notar que parcela da doutrina se posiciona pela 
inconstitucionalidade do confisco alargado em razão da ofensa ao direito 
fundamental à presunção da inocência, sem contar com o fato de que a 
constrição patrimonial seria baseada em meras presunções1. 
 Não parece ser esta a melhor interpretação do dispositivo, pois a nova lei 
traz uma série de requisitos baseados em indícios sérios e fundados de que o 
patrimônio do condenado é proveniente do crime. 
Note-se que há o dever de declarar os rendimentos, bens, valores, etc., 
para fins de pagamento do imposto de renda. Se o patrimônio do condenado 
não é condizente com essa declaração, provado sua autoria ou participação em 
crimes com pena máxima superior a 6 (seis) anos, com demonstração expressa e 
pedido também expresso do MP, para o confisco, não parece prudente entender 
esse efeito da extrapenal da condenação como mera presunção apto a violar o 
estado de inocência. 
Neste ponto, muito ao contrário do que se alardeia, parece coerente e 
muito acautelada a novel legislação na medida em que exige para incidência do 
confisco alargado a comprovação de crime grave (pena superior a 6 anos), 
comprovação da diferença entre o patrimônio real e o patrimônio produto do 
crime e requerimento expresso do MP com a respectiva fundamentação na 
decisão judicial. Vê-se, por conseguinte, uma estruturação firme dos requisitos e 
um dever expresso de contenção do poder discricionário judicial. 
 
5.4 PERDIMENTO DE BENS EM FAVOR DO ESTADO 
A) ATIVIDADE DESENVOLVIDA POR ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E 
MILÍCIA 
A inovação legislativa prevê, ainda, que os instrumentos utilizados para 
a prática de crimes por organizações criminosas e milícias deverão ser 
declarados perdidos em favor da União ou do Estado ainda que não ponham 
 
1 MAGLIARELLI, Filipe. Precisamos discutir o confisco alargado. Disponível em: 
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,precisamos-discutir-o-confisco-
alargado. 
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17 
 
em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam 
sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes. 
A previsão de perdimento de bens em favor do Estado mesmo sem 
demonstração de perigo à segurança das pessoas, etc., deixa claro o 
alinhamento à necessidade do combate efetivo à criminalidade organizada, 
diminuindo os entraves para realização da persecução patrimonial dessas 
organizações, afastando, expressamente, requisitos comumente levantados em 
teses defensivas. 
 
B) DESTINAÇÃO DOS BENS UTILIZADOS POR ORCRIM E MILÍCIA 
PRIVADA: UNIÃO OU ESTADO? 
Quanto à destinação dos instrumentos utilizados pelas organizações 
criminosas e milícia, o critério utilizado é a Justiça na qual tramita a ação penal. 
Se for, por exemplo, crime cometido por organização criminosa contra bens da 
União, os seus instrumentos serão destinados à União. Caso se trate de 
organização criminosa que atua em tráfico de drogas local, os bens serão 
destinados ao respectivo estado-membro que é sede da Justiça estadual. 
Registre-se que tal critério de destinação, conforme a justiça processante, já é 
adotado pela Lei de Lavagem de capitais, no art. 7º, inciso I. 
 
QUADRO-RESUMO DO CONFISCO ALARGADO 
Conceito O confisco alargado consiste no perdimento de bens 
cujos valores sejam o resultado da diferença entre o 
patrimônio comprovadamente lícito ou oriundo de 
fontes legítimas do agente e o patrimônio total do 
condenado, estejam os bens ou valores registradosem 
seu nome ou nome de terceiro. 
Natureza Jurídica Trata-se de um efeito extrapenal específico da sentença 
condenatória criminal, logo é efeito não automático, 
incidindo apenas em algumas infrações. Necessita de 
fundamentação expressa na decisão condenatória, e o 
mais importante, de pedido expresso por parte do 
Órgão do Ministério Público na denúncia. 
Requisitos a) Pena cominada superior a 6 anos; b) Pedido expresso 
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18 
 
do MP na denúncia (especificando a diferença 
patrimonial); c) Fundamentação expressa na sentença: 
individualizando a diferença e os bens atingidos. 
Conceito de 
patrimônio 
Entende-se por patrimônio do condenado todos os 
bens: 
I – de sua titularidade, ou em relação aos quais ele 
tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na 
data da infração penal ou recebidos posteriormente; e 
II – transferidos a terceiros a título gratuito ou 
mediante contraprestação irrisória, a partir do início da 
atividade criminal. 
Destinação dos bens 
em caso de 
organizações 
criminosas e milícias 
privadas 
Quanto à destinação dos instrumentos utilizados pelas 
organizações criminosas e milícia, o critério utilizado é 
a Justiça na qual tramita a ação penal. 
 
6 DAS CAUSAS IMPEDITIVAS (SUSPENSIVAS) DO FLUXO DO PRAZO 
PRESCRICIONAL 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Art. 116. Antes de passar em julgado a 
sentença final, a prescrição não corre: 
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 
11.7.1984) 
I - enquanto não resolvida, em outro 
processo, questão de que dependa o 
reconhecimento da existência do 
crime; 
II - enquanto o agente cumpre pena 
no estrangeiro. 
Parágrafo único. Depois de passada 
em julgado a sentença condenatória, a 
prescrição não corre durante o tempo 
em que o condenado está preso por 
outro motivo. 
Art. 116. Antes de passar em julgado a 
sentença final, a prescrição não corre 
(mantido): 
I - enquanto não resolvida, em outro 
processo, questão de que dependa o 
reconhecimento da existência do 
crime (mantido); 
II - enquanto o agente cumpre pena 
no exterior; 
III - na pendência de embargos de 
declaração ou de recursos aos 
Tribunais Superiores, quando 
inadmissíveis; e 
IV - enquanto não cumprido ou não 
rescindido o acordo de não 
persecução penal. 
Parágrafo único. Depois de passada 
em julgado a sentença condenatória, a 
prescrição não corre durante o tempo 
em que o condenado está preso por 
outro motivo (mantido). 
 
 
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19 
 
6.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE PRESCRIÇÃO 
A prescrição é a perda da pretensão punitiva estatal em razão de inércia, 
ou seja, por não ter exercido dentro do prazo legal o seu legítimo e justo direito 
de punir aquele que comprovadamente cometeu uma infração penal. As razões 
fundamentadoras de política criminal da prescrição são, dentre outras: 
a) Em razão da inércia estatal e decurso do tempo, a sociedade perde o 
interesse na punição, ou seja, os efeitos da punição desproporcionalmente 
tardia já não atenderiam aos fins da pena segundo as teorias justificadoras; 
b) Em vista da desídia estatal, a punição do criminoso se mostra um 
excesso do poder político estatal, situação vedada pelo constitucionalismo 
moderno sob a concretização do princípio da proibição do excesso, vetor do 
princípio da proporcionalidade. 
Ressalte-se ainda que, no âmbito criminal, diferencia-se a prescrição da 
decadência na medida em que a decadência atinge o próprio direito de ação 
penal, estando voltada à ação penal privada ou a ação penal pública 
condicionada à representação, pois ambas precisam da manifestação temporal 
da vontade de acionar o agente delitivo criminalmente. 
Por outro lado, a prescrição atinge o direito material de punir, ou seja, 
nada tem a ver diretamente com o direito de ação penal, mas sim com o direito 
efetivo de exercer o jus puniendi. 
Assim, prescrito o crime, o órgão do ministério público poderá até 
exercer seu direito de ação penal, porém, restando a punibilidade extinta, a 
denúncia será imediatamente rejeitada, nos termos do art. 395, II, CPP, ou, uma 
vez recebida a denúncia já estando a pretensão prescrita, o juiz absolverá 
sumariamente o réu, nos termos do art. 397, IV, CPP. 
 
6.2 NATUREZA JURÍDICA 
 A prescrição é causa de extinção da punibilidade expressamente prevista 
no art. 109, do CP. Como é instituto de direito penal o prazo não se submete ao 
regramento processual penal devendo ser contado nos termos do art. 10, do CP. 
Logo, inclui-se o dia de início do prazo e exclui-se o dia do seu final. 
 
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20 
 
6.3 CRIMES IMPRESCRITÍVEIS 
 Para atender aos ditames do princípio da proporcionalidade em seu viés 
da proibição da proteção deficiente, o sistema constitucional prescreve duas 
espécies de infração penal imprescritíveis: a) racismo e b) ação de grupos 
armados civis e militares contra a ordem constitucional e o estado democrático 
(art. 5º, XLII e XLIV, CF). 
 Contudo, em recentes decisões, STJ e STF têm ampliado esse rol para 
abarcar como imprescritíveis os crimes de injúria racial (STJ. AgRg no 
AREsp734.236/DF, 6ª T., Rel. Min. Nefi Cordeiro, 27/02/2018; STJ. AgRg no 
AREsp 686.965/DF, 6ª T., Rel. Min. Ericson Maranho (Des. Conv. TJ/SP), 
18/08/2015) e racismo social contra a comunidade LGTB, nos termos da lei 
7.716/89 (STF. ADO 26/DF, Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, J. 13/06/2019). 
Esses precedentes tornaram viva a discussão acirrada na doutrina acerca 
da possibilidade de alargamento do rol de crimes imprescritíveis além daqueles 
expressamente previstos pelo poder constituinte originário. 
Parte da doutrina, levemente majoritária, entende haver o direito 
fundamental à prescritibilidade dos crimes, tendo a Constituição previsto de 
forma exaustiva as hipóteses em que o Estado mesmo desidioso e inerte poderá 
punir alguém embora tenha passado vários anos do cometimento do crime. 
De outro lado, parcela da doutrina crescente levanta a tese de que a 
determinação constitucional dos crimes imprescritíveis é meramente 
exemplificativa, podendo haver, por emenda constitucional ou mesmo por lei 
ordinária, ampliação desse rol. 
A tese desses doutrinadores fixa-se no posicionamento da própria Corte 
Suprema que entendeu não haver barreiras formais ou materiais para que o 
legislador constituído fixasse outras hipóteses de imprescritibilidade (STF. RE 
460971/RS, Pleno, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 13/02/2007). 
Nesse mesmo sentido, o STF já decidiu que a classificação de uma norma 
constitucional como cláusula pétrea não significa a intangibilidade literal de seu 
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21 
 
texto, mas sim a proteção ao seu núcleo essencial (STF. ADI 2420/DF, Pleno, 
Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 03/05/2007). 
 
6.4 CIRCUNSTÂNCIAS QUE INFLUEM NO CURSO DO PRAZO 
PRESCRICIONAL 
 Como se sabe, há duas espécies de causas que influem no curso do prazo 
prescricional, umas de ordem impeditiva (suspensiva) e outras de ordem 
interruptiva. 
Ambas estão presentes nos art. 116 e 117 do Código de Processo Penal, 
respectivamente. As de ordem suspensiva fazem com que o prazo apenas pare 
de correr pelo tempo que durar a causa, voltando a correr de onde parou; os de 
ordem interruptiva fazem o prazo zerar de vez, iniciando novamente. 
 
6.5 CRIAÇÃO DE DUAS NOVAS HIPÓTESES DE CAUSAS IMPEDITIVAS 
(SUSPENSIVAS) DA PRESCRIÇÃO: NECESSIDADE DE RESPOSTA À 
IMPUNIDADE 
Como se percebe, o PAC criou duas novas hipóteses de causas 
impeditivas (suspensivas) do fluxo do prazo prescricional ao adicionar os 
incisos III e IV ao art. 116, CPP. Ressalte-se que o inciso III do mesmo artigo não 
teve mudado o seu conteúdo, mas apenas a expressão “no estrangeiro” para 
“no exterior”.Para enfrentar a impunidade, talvez o maior vilão interno do sistema 
criminal brasileiro2, o PAC prevê que ficará suspenso o prazo prescricional 
enquanto estiver pendente embargos de declaração ou recursos aos Tribunais 
Superiores, quando inadmissíveis (art. 116, inciso IV, CP). Não são raros os 
casos que se perdem nos Tribunais de apelação e mais frequentemente nos 
tribunais superiores. 
Aqui é preciso notar que a nova regra condiciona a suspensão do prazo 
prescricional à inadmissibilidade do recurso. Assim, quando o recurso for 
 
2 Para aprofundamento ver: DIP, Ricardo; JR., Volney Corrêa Leite de Moraes. Crime e Castigo: 
Reflexões politicamente incorretas. São Paulo: Editorial Lepanto, 2018. PESSI, Diego; SOUZA, 
Leonardo Giardin de. Bandidolatria e Democídio: Ensaios sobre garantismo penal e a 
criminalidade no Brasil. São Luís: Livraria Resistência Cultural Editora, 2017. 
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22 
 
admissível, não haverá que se falar em suspensão do prazo prescricional. Esse 
detalhe normativo busca evitar declaração de inconstitucionalidade por 
violação ao direito fundamental individual à ampla defesa. 
Por outro lado, numa construção lógica e com intuito de adequar a 
legislação penal à novel legislação processual, previu também o PAC que o 
prazo prescricional ficará suspenso enquanto não cumprido ou não rescindido 
o acordo de não persecução penal (art. 116, inciso V, CP). 
É preciso lembrar ainda que não são essas as únicas hipóteses de 
suspensão do curso do prazo prescricional, havendo as seguintes possibilidades 
expressamente previstas na Constituição e na legislação especial: 
a) Decisão da Casa Legislativa para sustar (suspender) o andamento da 
ação penal recebida contra parlamentar pelo STF, nos termos do art. 53, §3º, 
CF; 
b) Réu citado por edital que não comparece ao processo, nos termos do 
art. 366, CPP. Neste caso, o STJ tem entendimento sumulado de que “o período 
de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena 
cominada” (súmula 415, STJ). Logo, a suspensão não pode se dar eternamente; 
c) Durante o cumprimento de carta rogatória nos processos em que o 
acusado se encontra em local conhecido, nos termos do art. 368, CPP; 
d) Durante o prazo de cumprimentos das condições impostas na 
suspensão condicional do processo, nos termos do art. 89, §6º, lei 9.099/95; 
e) Durante o cumprimento do regime de parcelamento nos crimes 
contra a ordem tributária previstos na lei 8.137/90, e também nos arts. 168-A e 
337-A do CP. 
 
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23 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 2 DAS 
MODIFICAÇÕES NA 
PARTE ESPECIAL DO 
CÓDIGO PENAL 
COMENTADAS 
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6-
39
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24 
 
1 CRIME DE ROUBO 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Trata-se de inovação legislativa! Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, 
para si ou para outrem, mediante 
grave ameaça ou violência a pessoa, 
ou depois de havê-la, por qualquer 
meio, reduzido à impossibilidade de 
resistência: 
Pena. Reclusão, de 4 (quatro) a 10 
(dez) anos, e multa. 
§2º. A pena aumenta-se de 1/3 até a 
metade: 
[...] VII – se a violência ou grave 
ameaça é exercida com emprego de 
arma branca. §2º-B. Se a violência ou 
grave ameaça é exercida com emprego 
de arma de fogo de uso restrito ou 
proibido, aplica-se em dobro a pena 
prevista no caput deste artigo. 
 
O PAC introduziu, no §2º, inciso VII, uma causa de aumento de pena 
referente ao emprego de arma branca. Isto é, caso o agente pratique a violência 
ou a grave ameaça com a utilização de este instrumento, a pena será aumentada 
de 1/3 até metade. 
Por outro lado, deu tratamento mais gravoso, ao determinar a aplicação 
em dobro da pena prevista no caput nos casos em que há a utilização de arma 
de fogo de uso restrito ou proibido (§2º-B). 
Registre-se que a majorante relativa ao uso de arma branca no roubo já 
estava presente na redação originária do art. 157, no §2º, inciso I. Contudo, a 
recente Lei n. 13.654/2018 suprimiu, agora parece ter ficado claro que por 
atecnia legislativa, a majorante da arma branca, eis que passou a prever o 
aumento da pena somente em caso de utilização de arma de fogo (art. 2-A, 
inciso I). 
Agora, o PAC reintroduziu a majorante da arma branca, bem como 
inovou ao dar tratamento mais grave às situações em que há a utilização de 
arma de fogo de uso restrito ou proibido. Logo, em se tratando de emprego de 
arma, temos três situações distintas no art. 157 do CP: 
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25 
 
TIPO DE ARMA TRATAMENTO 
Arma Branca (novidade do PAC) Aumento de 1/3 a metade (art. 157, 
§2º, VII) 
Arma de Fogo de uso permitido Aumento de 2/3 (art. 157, §2º-A, I) 
Arma de Fogo de uso restrito ou 
proibido (novidade do PAC) 
Pena em dobro (art. 157, §2º-B) 
 
 De plano, percebe-se que todas as modificações operadas se traduzem 
em lei penal mais gravosa (lex gravior), já que ao introduzirem as majorantes 
conferiram tratamento mais rigoroso à conduta de roubo praticado mediante a 
utilização de arma branca e com o uso de arma de fogo de uso restrito ou 
proibido. 
Desse modo, por força do princípio da irretroatividade da lei penal 
maléfica (art. 5º, XL, da CF/88), os seus efeitos não poderão retroagir para 
prejudicar o investigado/acusado/condenado, incidindo somente nos casos 
posteriores a sua entrada em vigor. 
As hipóteses trazidas pela lei nova revelam-se como causas de aumento 
especiais, porquanto preveem a majoração em quantia variável (1/3 a metade) 
no caso de arma branca e em quantia fixa (dobro) no caso de arma de uso 
restrito ou proibido a incidir na terceira fase da dosimetria da pena, podendo 
esta ultrapassar os limites abstratos máximos previstos. 
Por fim, registre-se os seguintes entendimentos dos tribunais superiores 
acerca da majorante de arma de fogo3: 
a) Não é preciso apreensão da arma de fogo para incidência da 
majorante, quando há outros elementos provando a sua utilização (STF. HC 
108034/SC, 1ª T., Rel. Min. Rosa Weber, 05/06/2012; STJ. REsp 1213467/RS, 
5ªT., Rel. Min. Marilza Maynard (Des. Conv. TJ/SE), 07/05/2013); 
b) Se arma é apreendida, e a perícia constata a sua inaptidão para fazer 
disparos, não incide a majorante, mas serve para configurar a grave ameaça 
(STJ. HC 247.669/SP, 6ª T., Rel. Min. Sebastião Reis Jr., 04/12/2012); 
 
3 Dizer o Direito. Site: dizerodirieto.com.br. 
e s t ác i o L u i z & p e d r o te nó r i o 
26 
 
c) Utilização de arma de brinquedo não faz incidir a majorante, mas 
serve para configurar a grave ameaça, logo tipifica o crime de roubo e não o 
crime de furto (Súmula 174, STJ, que assinalava a possibilidade, foi cancelada); 
d) Cabe ao réu demonstrar que a arma utilizada era de brinquedo, inapta 
ou defeituosa, e não à acusação, logo tem-se inversão do ônus da prova (STJ. 
EREsp 961863/RS, 3ª Seção, Rel. Min. Celso Limongi (Des. Conv. TJ/SP), Red. 
p/ ac. Min. Gilson Dipp, 13/12/2010); 
e) Arma desmuniciada não faz incidir a majorante por ausência de 
potencialidade lesiva (STJ. AgRg no REsp 1536939/SC, 6ª T., Rel. Min. 
Sebastião Reis Jr., 15/10/2015). Arma desmuniciada faz incidir a majorante, pois 
é irrelevante se estava desmuniciada ou não, bastando sua utilização como 
instrumento apto a exercer a grave ameaça (STF. RHC 115077/MG, 2ª T., Rel. 
Min. Gilmar Mendes, 06/08/2013); 
f) A incidência da majorante absorve o crime de porte ilegal de arma de 
fogo? Depende! Se há nexo de dependência ou subordinação entre as duas 
condutas e que os delitos foram praticados em um mesmo contexto fático, 
incide o princípio daconsunção. Se não há, não incide, respondendo o agente 
pelo dois fatos (STJ. HC 199031/RJ, 5ª T, Rel. Min. Jorge Mussi, 21/06/2011; 
STF. RHC 106067/MG, 1ª T., Rel. Min. Rosa Weber, 26/06/2012). 
 
2 MODIFICAÇÕES RELATIVAS AO CRIME DE ESTELIONATO 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Trata-se de inovação legislativa! Art. 171. Obter, para si ou para 
outrem, vantagem ilícita, em prejuízo 
alheio, induzindo ou mantendo 
alguém em erro, mediante artifício, 
ardil, ou qualquer outro meio 
fraudulento: 
Pena - reclusão, de 1 a 5 anos, e multa, 
de 500 mil réis a 10 contos de réis. 
§5º. Somente se procede mediante 
representação, salvo se a vítima for: 
I – a Administração Pública, direta ou 
indireta; 
II – criança ou adolescente; 
III – pessoa com deficiência mental; 
ou 
IV – maior de 70 (setenta) anos de 
idade ou incapaz. 
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27 
 
2.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
O PAC promoveu a mudança da natureza da ação penal no tocante ao 
crime de estelionato. Antes da inovação legal, a ação penal era sempre pública 
incondicionada, não exigindo representação nem para o início das investigações 
(abertura do IP) nem para proposição da ação penal. 
Agora, em regra, a ação penal será pública condicionada à representação, 
salvo nos casos em que a vítima se encaixar nas hipóteses dos incisos de I a IV 
do §5º, em que a ação continua a ser pública incondicionada. 
Ressalta-se que a modificação da natureza da ação penal serve não só 
para o art. 171, caput, mas para todas aquelas que estão previstas nos 
dispositivos seguintes (figuras equiparadas ao estelionato). 
Portanto, tem-se a seguinte sistematização: 
CRIME DE ESTELIONATO NATUREZA DA AÇÃO PENAL 
Regra Pública condicionada à representação 
Estelionato cometido contra: a) a 
administração pública, direta ou 
indireta; b) Criança ou adolescente; c) 
Pessoa com deficiência mental; d) 
Maior de 70 (setenta) anos de idade ou 
incapaz. 
Pública incondicionada 
 
2.2 RAZÕES DA MODIFICAÇÃO TRAZIDA PELO PAC 
Importante notar que a opção legislativa baseou-se na qualidade das 
vítimas para definir a incondicionalidade da ação penal. Sendo vítimas 
especificamente ocupantes de uma posição jurídica especial, o legislador optou 
pela incondicionalidade da ação penal, caso contrário a ação penal passou a ser 
pública condicionada dado que o crime atinge o patrimônio sem ocorrência de 
violência ou grave ameaça. 
 
A) ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO SUJEITO PASSIVO 
Em relação à Administração Pública, pautou-se na indisponibilidade do 
interesse público. Sabe-se que a prática reiterada de fraudes em prejuízo aos 
cofres públicos pode onerar e prejudicar a prestação serviços públicos e outras 
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28 
 
ações estatais em prol da coletividade, a exemplo do que ocorre nas fraudes 
previdenciárias. 
Por fim, entendemos que o exercício do direito de representação é 
incompatível com a própria natureza da Administração Pública, que é regida 
pelos princípios da supremacia do interesse público sobre o privado e a 
indisponibilidade do interesse público. 
 
B) VÍTIMAS VULNERÁVEIS COMO SUJEITO PASSIVO 
No tocante às demais vítimas, o motivo determinante para se optar pela 
ação penal pública incondicionada foi a vulnerabilidade, pois estas, em tese, 
estão mais suscetíveis às fraudes. Outrossim, o exercício de representação pela 
condição que ostentam é mais difícil. Alguns pontos que se deve prestar 
atenção: 
a) A pessoa deve ter deficiência mental. Ou seja, não se abarca outros 
tipos de deficiência. Em verdade, a deficiência mental tende a tornar a pessoa 
mais suscetível à vitimização de fraudes, já que é mais difícil de compreender a 
malícia do criminoso, ou mesmo a complexidade do golpe; 
b) A lei nova não utiliza a expressão “idoso”, conceito disposto no 
Estatuto do Idoso o qual define como pessoa com idade igual ou superior a 60 
(sessenta) anos. A inovação do pacote anticrime refere-se à pessoa maior de 70 
(setenta) anos. Portanto, nos casos em que a vítima tiver idade igual ou menor 
que 70 (setenta anos), a ação penal no crime de estelionato será pública 
condicionada à representação. 
 
2.3 APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO 
Por se tratar de norma híbrida, com conteúdo de direito processual e 
também penal material, pois ao mesmo tempo que trata da natureza da ação 
penal influencia na punibilidade do indivíduo, a sua aplicação deve alcançar 
fatos pretéritos, retroagindo nos termos do art. 5º, XL, CF. 
Acerca desse ponto, exsurge questionamento interessante: em relação aos 
processos em andamento, iniciados através de ação penal pública 
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29 
 
incondicionada, há necessidade do exercício do direito de representação pelas 
vítimas que não se encaixam no rol do §5º? 
A doutrina distingue as condições de procedibilidade das condições de 
prosseguibilidade. A primeira é condição inicial para o exercício da ação penal, 
a segunda é condição para o prosseguimento da ação penal já iniciada. In casu, 
dois posicionamentos são possível: 
1) Em se tratando de processos em andamento, as vítimas deverão ser 
chamadas para que exerçam, se quiserem, no prazo decadencial de 06 (seis) 
meses, o direito de representação. Contudo, em tal hipótese, a representação 
figurará como uma condição de prosseguibilidade, na medida em o processo já 
foi iniciado Situação parecida ocorreu nos casos de lesão corporal leve, com o 
advento do art. 88 da Lei 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais) e a alteração 
da natureza da ação penal, as vítimas tiveram que manifestar interesse quanto 
ao exercício do direito de representação; 
2) A ação penal nos processo em andamento não sofrem modificação 
alguma, permanecendo a natureza da ação pública incondicionada, já que as 
disposições processuais da nova lei não retroagem. Ademais, como o PAC não 
mencionou expressamente a regra da condição de prosseguibilidade, assim 
como fez com a ação penal nos crimes de lesão corporal leve (art. 88, Lei 
9.099/95). Essa é a posição de Rogério Sanches. 
 
3 MODIFICAÇÕES RELATIVAS AO CRIME DE CONCUSSÃO 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Art. 316. Exigir, para si ou para 
outrem, direta ou indiretamente, 
ainda que fora da função ou antes de 
assumi-la, mas em razão dela, 
vantagem indevida: 
Pena: Reclusão, de 2 a 8 anos, e multa. 
Art. 316. Exigir, para si ou para 
outrem, direta ou indiretamente, 
ainda que fora da função ou antes de 
assumi-la, mas em razão dela, 
vantagem indevida: 
Pena: Reclusão, de 2 a 12 anos, e 
multa. 
 
Antes do PAC, o sujeito que exigisse, para si ou para outrem, direta ou 
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão 
dela, vantagem indevida poderia ser a condenado a uma pena de 02 (dois) a 08 
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30 
 
(oito) anos. A nova lei apenas alterou a pena máxima comina do crime para o 
patamar de 12 (doze) anos. 
Nota-se uma vez o espírito da novel legislação, qual seja o de punir com 
maior rigor os crimes praticados por agentes públicos valendo-se do cargo que 
ocupam. Haverá parcela da doutrina que acusará o legislador de praticar o tão 
alardeado direito penal simbólico, populismo penal e outros chavões. 
Contudo, o que parece claro é a atual leniência (laxismo) penal com os 
crimes praticados por agentes poderosos, não raros ocupantes de cargos ou 
funções públicas de destaque. O PAC veio para tentar, juntamente com outras 
políticas de Estado, frear esse ímpeto, que no Brasil grassa há muito. 
 
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31 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO 3 DAS 
PRINCIPAIS 
MODIFICAÇÕES NO 
CÓDIGODE PROCESSO 
PENAL COMENTADAS 
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32 
 
1 DA ESTRUTURA ACUSATÓRIA DO PROCESSO PENAL BRASILEIRO 
1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Trata-se de inovação legislativa! Art. 3º-A. O processo penal terá 
estrutura acusatória, vedadas a 
iniciativa do juiz na fase de 
investigação e a substituição da 
atuação probatória do órgão de 
acusação. 
 
O PAC previu no art. 3º-A que o processo penal terá estrutura acusatória, 
vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação 
probatória do órgão de acusação. 
Quanto ao sistema processual penal adotado no Brasil, a doutrina 
diverge. Enquanto alguns autores entendem que houve a adoção do sistema 
acusatório, outros defendem o posicionamento de que o nosso sistema 
processual penal é misto. 
Isoladamente, autores como Aury Lopes Jr. entendem que o sistema 
brasileiro é neoinquisitório, eis que a fase preliminar é inquisitória, e a fase 
processual, a despeito da normatividade constitucional, possui ainda traços 
inquisitórios, como a figura do juiz como ator da produção probatória, etc. 
O que define, essencialmente, o sistema processual é a divisão expressa e 
clara das funções exercidas pelos atores processuais, ou seja, a limitação das 
funções de julgar, acusar e defender, incluindo a análise da gestão da prova 
pelo juiz. 
Segundo James Goldschmidt, a gestão da produção da prova é o fiel da 
balança. Argumenta-se, quanto menos participação na gestão da prova tiver o 
juiz criminal, mais acusatório e democrático será o processo penal. 
 
1.2 O SISTEMA PROCESSUAL BRASILEIRO: MODIFICAÇÃO OU 
PREVISÃO EXPRESSA NA LEI? 
O sistema brasileiro possui a fase de investigação preliminar, de caráter 
inquisitória, contudo sendo, desde antes do PAC, supervisionada pelo 
magistrado e, em última análise, pelo próprio Ministério Público no exercício de 
sua atribuição constitucional de fiscalização externa da atividade-fim policial. 
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33 
 
A segunda fase da persecução penal é estruturada no processo penal, 
onde estão nitidamente divididas as tarefas de julgar, acusar e defender, não 
havendo mistura ou concentração de poderes nas mãos do magistrado. 
Apesar da divisão expressa de tarefas, o Código de Processo Penal 
permite ao juiz, em alguns momentos e sob determinadas condições específicas, 
a iniciativa probatória de ofício, conforme se observa no art. 156, incisos I e II, 
nos casos produção antecipada de provas e determinação de diligências para 
dirimir dúvidas cruciais sobre ponto relevante para o deslinde da causa. 
Além do mais, no sistema brasileiro, o juiz participa da produção de 
provas de maneira residual, como se dá, por exemplo, na inquirição das 
testemunhas, quando realiza perguntas após as partes nos termos do art. 212, 
parágrafo único. 
Mesmo com essas previsões, em nossa mirada, não se pode dizer que o 
sistema processual criminal é inquisitório, neoinquisitório ou até, como 
preferem alguns, antidemocrático, pois apesar de dar prerrogativas probatórias 
ao juiz, limita-as aos casos legais específicos e condiciona essa atividade à 
análise das instâncias superiores e até mesmo à análise da Suprema Corte em 
sede de habeas corpus ou dos recurso de caráter extraordinário (REsp e RExt). 
Por outro lado, não se pode esquecer que, na contemporaneidade, em 
lugar nenhum do mundo o juiz é cristalizado, estático, inerte, quiçá omisso. 
Não é, pois, um convidado de pedra diante do baile processual penal, como 
outrora o era na França de Napoleão Bonaparte em que vigorava o positivismo 
legalista exegético. 
O povo conferiu à magistratura, através da Constituição Federal, o dever 
de decidir de acordo com as normas da própria Carta de direitos, das leis e do 
caso concreto, devendo fundamentar suas decisões explícita e coerentemente 
(art. 93, IX, CF), sob pena de inexistência ou nulidade do ato, a depender da 
extensão da violação. 
Sendo assim, não se pode conferir tal responsabilidade à magistratura e 
ao mesmo tempo bradar pela sua inercia completa, numa postura que nos casos 
concretos beira até mesmo a desídia. 
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34 
 
O que se deve buscar, isso sim, é o equilíbrio processual, com atuações 
assertivas, corajosas e técnicas tanto por parte da defesa, que exerce papel 
essencial à justiça (art. 133, CF), quanto por parte do Ministério Público (art. 
129, CF). 
Jamais jogar sob os ombros únicos da magistratura o dever de omissão 
diante de situações específicas e limitadas, como é o caso das provas 
antecipadas, essas inclusive com exercício do contraditório, determinação de 
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante e realizar perguntas 
complementares (atividade subsidiária) sobre pontos não esclarecidos na 
atividade probatória de caráter principal das partes. 
Diante disso, apesar do art. 3º-A dispor acerca da adoção do sistema 
acusatório, em nosso entendimento, o sistema processual penal brasileiro, 
sobretudo após a Constituição de 1988, sempre o foi, porém, dividido em duas 
fases, a investigação preliminar (de caráter inquisitório) e o processo penal (de 
caráter acusatório). 
Diz-se isso, pois, mesmo com a fase inquisitória tomando muita 
importância na persecução criminal, os elementos nela colhidos não integram o 
processo de forma plena necessitando de renovação sob o crivo do 
contraditório. Destarte, nota-se o afastamento da atividade central do processo 
penal da sistemática inquisitória. Isso parece evidente. 
Contudo, é preciso cuidado nas provas objetivas. Se for cobrada a 
literalidade da lei o candidato agora pode sentir-se mais seguro para afirmar 
que o sistema adotado é o acusatório puro, não mais se preocupando com as 
designações doutrinárias acerca dos sistemas acusatório mitigado ou do sistema 
misto. 
Em questões subjetivas tanto escritas quanto orais, porém, o ideal é 
demonstrar os diversos posicionamentos e expressar a visão pessoal, tanto mais 
alinhada com o cargo quanto possível, caso seja exigido. 
 
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35 
 
1.3 CONCEITO DE JUIZ DE GARANTIAS 
A introdução da figura do juiz das garantias provoca modificações 
substanciais na organização da justiça criminal brasileira, bem como na atuação 
do magistrado, do órgão ministerial e da própria polícia judiciária. 
O juiz das Garantias já era objeto do Capítulo II do PL 8045/2010 (Novo 
Projeto de Código de Processo Penal), sendo que foi introduzido no PAC pelo 
Congresso Nacional através de emenda parlamentar do Deputado Federal 
Marcelo Freixo; isto é, não foi inicialmente pensado pelo Ministro da Justiça em 
exercício, Sérgio Mouro. 
O juiz de garantias pode ser conceituado como o magistrado cuja atuação 
se dá, exclusivamente, na fase preliminar da persecução penal, com a finalidade 
de exercer o controle de sua legalidade bem como salvaguardar os direitos e 
garantias do investigado (art. 3º-B). 
Nota-se, de pronto, que o PAC estabeleceu, na mesma persecução 
criminal, duas figuras com competência judicial: o juiz de garantias e o juiz de 
instrução e julgamento (art. 3º-C, §1º), sendo que este último atua apenas após o 
recebimento da denúncia ou da queixa-crime pelo juiz de garantias, ficando 
responsável por conduzir a instrução processual e realizar o julgamento da 
causa. 
 
1.4 DEBATE DOUTRINÁRIO ACIRRADO ACERCA DA LEGITIMIDADE E 
CONSTITUCIONALIDADE DO JUIZ DE GARANTIAS 
A implementação do juiz de garantias após a aprovação do PAC sem 
veto presidencial já resultouem amplos debates doutrinários e políticos. 
Fiquemos apenas com os doutrinários, embora não seja possível deixar de lado, 
de todo, a análise política da lei. 
 
1.4.1 BREVÍSSIMA ANÁLISE POLÍTICA 
Vestindo as lentes políticas, é de se estranhar a aprovação sem veto 
presidencial de uma figura de tamanha importância para a estrutura de justiça 
criminal brasileira. 
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36 
 
A sanção presidencial de uma emenda trazida por Deputado da base do 
PSOL (Marcelo Freixo), que além de ser de partido da oposição, é, sem dúvida, 
um dos principais antagonistas da figura do Presidente da República chama a 
atenção do observador e do estudioso atento. 
Seja do ponto de vista das mudanças na organização judiciária, o que 
muitos já alertam para a impossibilidade prática de efetivação dessa figura, seja 
do ponto de vista das consequências dogmáticas da atuação de dois juízes no 
mesmo processo, o que muitos já alertam para a tempestade de nulidades, a 
chancela do juiz de garantias pelo Presidente, muito embora tenha sido 
aconselhado o veto pelo Ministro da Justiça idealizador do PAC. 
 
1.4.2 ARGUMENTOS FAVORÁVEIS 
Parcela da doutrina levanta os seguintes argumentos favoráveis à 
implementação do juiz de garantias: 
1) Trata-se instituto de maior afeição ao sistema acusatório, adotado pela 
Constituição Federal. Nesse sentido, a sua adoção serve para compatibilizar a 
estrutura do Código de Processo Penal, cujo projeto teria raízes fascistas, aos 
dispositivos constitucionais, reforçando a divisão de tarefas no sistema 
acusatório (acusar, defender e julgar) e limitando a gestão da prova e a 
iniciativa do magistrado no âmbito da investigação preliminar; 
2) As funções do juiz de garantias são importantes para assegurar o 
controle da legalidade da investigação preliminar, bem como para assegurar os 
direitos e garantias do sujeito investigado, especialmente naqueles cuja restrição 
se submetem à reserva de jurisdição, sem comprometer a imparcialidade da 
jurisdição, evitando assim aquilo que a doutrina especializada chama de quadro 
mental paranoico (síndrome de Dom Casmurro), em que o juiz por se envolver 
demais na fase investigatória acaba por confundir o seu papel de julgador, 
passando a atuar como acusador, em prejuízo da equidistância e 
imparcialidade; 
3) A restrição da atividade jurisdicional do juiz de garantias à fase de 
investigação preliminar conferiria uma maior celeridade no andamento dos 
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37 
 
instrumentos investigatórios (inquérito, PIC, etc.), sobretudo no que diz 
respeito às decisões tomadas para restringir direitos e garantias do investigado. 
 
1.4.3 ARGUMENTOS DESFAVORÁVEIS 
Outra parcela da doutrina trabalha com a tese de que a implementação 
do juiz de garantias seria em primeiro lugar inconstitucional, mas para além 
disso, seria ilegítima, pois traria maiores dificuldades para punição dos 
criminosos culpados. São, em resumo, os argumentos: 
1) Como se trata da criação de uma figura jurisdicional com atribuição 
nitidamente voltada à atividade da magistratura nacional, parte da doutrina 
entende que o PAC violou regra constitucional de iniciativa legislativa, pois 
para dispor sobre a implementação do juiz de garantias seria necessário 
exercício da iniciativa por parte do Supremo Tribunal Federal. Com a emenda, 
o Congresso Nacional criou futuras despesas e onerou o Poder Judiciário, sem 
previsão orçamentária; 
2) O Juiz de Garantias é um instituto incompatível com a realidade 
brasileira, bem como dispensável. Nesse sentido, a sua implementação desafia a 
insuficiência de pessoal (magistrados), principalmente nas comarcas mais 
isoladas de estados-membros, cujos recursos financeiros são limitados. Desse 
modo, de forma similar à Defensor Pública, a execução de tal projeto deve 
respeito à realidade do sistema de justiça criminal brasileiro, o qual não pode 
ser visceralmente modificado à caneta; 
3) A tentativa de implementação do juiz de garantias, sem que houvesse 
capacidade financeira e material humano suficientes, seria um tiro que sai pela 
culatra, pois traria morosidade tanto na fase inquisitorial quanto na fase 
judicial, eis que a prática de qualquer ato, no âmbito da investigação preliminar, 
torna o juiz impedido para atuar na instrução processual. Teremos menos juízes 
para julgar processos justamente em vista da “contaminação” do juiz de 
garantias. Cria-se, na prática uma nova instância, sem que haja pessoal novo. 
Assim, a tendência é que a morosidade crônica do Poder Judiciário, problema já 
vivenciado hoje, venha a piorar com o juiz de garantias, gerando mais casos de 
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38 
 
prescrição, impunidade e justiça tardia. Tudo aquilo que o PAC não se propõe. 
Muito ao contrário, se vende como solução para o problema da criminalidade, 
sobretudo a de colarinho branco!; 
4) O argumento da quebra da equidistância e da imparcialidade do juiz é 
ingênuo, pois o magistrado, na prática, não está decidido a fazer injustiças ou 
mesmo apresenta tamanha fragilidade para entrar em confusões mentais 
(quadros paranoicos) ao ponto de confundir o seu papel dentro do sistema 
processual, mormente porque suas decisões podem ser revisadas, por meio das 
ações autônomas de impugnação e, também, dos recursos previstos na 
legislação. As decisões do juiz, por força constitucional, devem ser sempre 
fundamentadas, de modo que o conteúdo decisório é passível de controle pelas 
instâncias superiores. Por fim, a prática de infrações penais, ilícitos cíveis e 
administrativos cometidos por juízes, promotores e até advogados possuem 
meios de repressão nas instâncias judiciais e administrativas; 
5) Quanto ao controle da legalidade e a salvaguarda dos direitos e 
garantias do investigado na fase preliminar, é preciso mencionar que o 
Ministério Público, na vigência do atual cenário constitucional, figura como 
uma instituição de dupla função dentro da persecução penal, pois ao mesmo 
tempo que figura como titular da ação penal pública também exerce o controle 
da legalidade e da constitucionalidade da punição, seja na fase preliminar ou na 
fase judicial. Inclusive, exerce o controle externo da atividade policial. Nesse 
contexto, o Ministério Público não é, essencialmente, um órgão de acusação, 
uma vez que sua atuação se destina a preservar os direitos e garantias dos 
investigados, sejam culpados ou não. Por outro lado, possui a possibilidade de 
pedir a absolvição, promover o arquivamento do procedimento investigatório, 
por diversas razões, até mesmo impetrar habeas corpus em favor de investigado, 
processado ou réu preso quando o juiz decidir contrariamente ao 
posicionamento ministerial. Portanto, a figura do juiz de garantias, diante da 
presença do Ministério Público, não é necessária. 
 
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1.4.4 DA SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DA EFICÁCIA DA MAIORIA DAS 
NORMAS RELATIVAS AO JUIZ DE GARANTIAS: DECISÃO CAUTELAR 
EM ADI PELO STF 
 Na tarde do dia 15/01/2020, o Min. Dias Tofolli deferiu 
monocraticamente e ad referendum do plenário do STF medida cautelar nas 
ADIs 6298, 6299 e 6300, determinando a suspensão da eficácia dos dispositivos 
previstos nos arts. arts. 3º-B, 3º-C, 3º-D, caput, 3º-E e 3º-F do CPP, até a 
efetiva implementação do juiz das garantias pelos tribunais, o que deverá 
ocorrer no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias contados a partir da 
publicação. 
 O dispositivo situado no art. 3º-D, parágrafo único, do PAC, que trata 
da obrigação dos Poderes Judiciários dos entes federativos criarem um sistema 
de rodízio nas comarcas em que funcionar apenas um juiz, teve a sua eficáciasuspensa até o julgamento final das ADIs, pois o Ministro enxergou grave 
risco de inconstitucionalidade formal. 
Deve-se entender que esta decisão cautelar deu-se, segundo o Presidente 
do Supremo Tribunal Federal, em razão das grandes mudanças propostas pelo 
PAC em nível de reorganização da estrutura judiciária. Ponto importante, 
porém, é que não houce qualquer manifestação contrária à constitucionalidade 
da figura do juiz de garantias. 
Muito ao contrário, na decisão, o Ministro discorreu demoradamente 
sobre a constitucionalidade e o avanço da previsão do juiz de garantias na 
legislação processual brasileira. Segundo ele, trata-se de um reforço, necessário 
e bem-vindo, ao sistema acusatório adotado pela Constituição de 1988. 
Para tanto, fez uma análise comparada a partir da sistemática já adotada 
em países europeus, como Portugal e Itália, e em países sulamericanos, como 
Chile e Argentina; todos adotam o juízo das garantias, com as peculiaridades 
atinentes a cada contexto histórico e cultural desses países. 
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40 
 
Sendo assim, a decisão deixa claro a constitucionalidade do juiz de 
garantias, pronunciando-se apenas e tão somente acerca de seu prazo de 
eficácia, tendo em vista a previsão inicial de 30 dias de vacatio legis ser 
insuficiente para implementação das mudanças. 
 Em relação ao juiz de garantias, outro ponto importantíssimo da decisão 
foi a manifestação acerca da interpretação conforme a Constituição dada aos 
preceitos normativos que criam o juízo de garantias. 
 O Min. Toffoli decidiu, ad referendum do Plenário, que as normas do juiz 
de garantias não se aplicam às seguintes situações: (a) processos de 
competência originária dos tribunais, os quais são regidos pela Lei nº 
8.038/1990; (b) processos de competência do Tribunal do Júri; (c) casos de 
violência doméstica e familiar; e (d) processos criminais de competência da 
Justiça Eleitoral. 
 Por fim, ainda estabeleceu um regime de transição, importantíssimo para 
evitar alegações infundadas de nulidade, vejamos: 
a) No tocante às ações penais que já tiverem sido instauradas no 
momento da efetiva implementação do juiz das garantias pelos tribunais (ou 
quando esgotado o prazo máximo de 180 dias), a eficácia da lei não acarretará 
qualquer modificação do juízo competente. O fato de o juiz da causa ter 
atuado na fase investigativa não implicará seu automático impedimento; 
b) Quanto às investigações que estiverem em curso no momento da 
efetiva implementação do juiz das garantias pelos tribunais (ou quando 
esgotado o prazo máximo de 180 dias), o juiz da investigação tornar-se-á o 
juiz das garantias do caso específico. Nessa hipótese, cessada a competência do 
juiz das garantias, com o recebimento da denúncia ou queixa, o processo será 
enviado ao juiz competente para a instrução e o julgamento da causa. 
 
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1.5 COMPETÊNCIA DO JUIZ DE GARANTIAS 
COMO ERA COMO FICOU COM O PAC 
Trata-se de inovação legislativa! Art. 3º-B. O juiz das garantias é 
responsável pelo controle da 
legalidade da investigação criminal e 
pela salvaguarda dos direitos 
individuais cuja franquia tenha sido 
reservada à autorização prévia do 
Poder Judiciário, competindo-lhe 
especialmente: 
I – receber a comunicação imediata da 
prisão, nos termos do inciso LXII do 
caput do art. 5º da Constituição 
Federal; 
II – receber o auto da prisão em 
flagrante para o controle da legalidade 
da prisão, observado o disposto no 
art. 310 deste Código; 
III – zelar pela observância dos 
direitos do preso, podendo 
determinar que este seja conduzido à 
sua presença, a qualquer tempo; 
IV – ser informado sobre a 
instauração de qualquer investigação 
criminal; 
V – decidir sobre o requerimento de 
prisão provisória ou outra medida 
cautelar, observado o disposto no §1º 
deste artigo; 
VI – prorrogar a prisão provisória ou 
outra medida cautelar, bem como 
substituí-las ou revogá-las, 
assegurado, no primeiro caso, o 
exercício do contraditório em 
audiência pública e oral, na forma do 
disposto neste Código ou em 
legislação especial pertinente; 
VII – decidir sobre o requerimento de 
produção antecipada de provas 
consideradas urgentes e não 
repetíveis, assegurados o 
contraditório e a ampla defesa em 
audiência pública e oral; 
VIII – prorrogar o prazo de duração 
do inquérito, estando o investigado 
preso, em vista das razões 
e s t ác i o L u i z & p e d r o te nó r i o 
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apresentadas pela autoridade policial 
e observado o disposto no §2º deste 
artigo; 
IX – determinar o trancamento do 
inquérito policial quando não houver 
fundamento razoável para sua 
instauração ou prosseguimento; 
X – requisitar documentos, laudos e 
informações ao delegado de polícia 
sobre o andamento da investigação; 
XI – decidir sobre os requerimentos 
de: 
a) interceptação telefônica, do fluxo de 
comunicações em sistemas de 
informática e telemática ou de outras 
formas de comunicação; 
b) afastamento dos sigilos fiscal, 
bancário, de dados e telefônico; 
c) busca e apreensão domiciliar; 
d) acesso a informações sigilosas; 
e) outros meios de obtenção da prova 
que restrinjam direitos fundamentais 
do investigado; 
XII – julgar o habeas corpus impetrado 
antes do oferecimento da denúncia; 
XIII – determinar a instauração de 
incidente de insanidade mental; 
XIV – decidir sobre o recebimento da 
denúncia ou queixa, nos termos do 
art. 399 deste Código; 
XV – assegurar prontamente, quando 
se fizer necessário, o direito outorgado 
ao investigado e ao seu defensor de 
acesso a todos os elementos 
informativos e provas produzidos no 
âmbito da investigação criminal, salvo 
no que concerne, estritamente, às 
diligências em andamento; 
XVI – deferir pedido de admissão de 
assistente técnico para acompanhar a 
produção da perícia; 
XVII – decidir sobre a homologação 
de acordo de não persecução penal ou 
os de colaboração premiada, quando 
formalizados durante a investigação; 
XVIII – outras matérias inerentes às 
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atribuições definidas no caput deste 
artigo. 
Art. 3º-C. A competência do juiz das 
garantias abrange todas as infrações 
penais, exceto as de menor potencial 
ofensivo, e cessa com o recebimento 
da denúncia ou queixa na forma do 
art. 399 deste Código. 
§1º. Recebida a denúncia ou queixa, 
as questões pendentes serão decididas 
pelo juiz da instrução e julgamento. 
§2º. As decisões proferidas pelo juiz 
das garantias não vinculam o juiz da 
instrução e julgamento, que, após o 
recebimento da denúncia ou queixa, 
deverá reexaminar a necessidade das 
medidas cautelares em curso, no 
prazo máximo de 10 (dez) dias. 
§3º. Os autos que compõem as 
matérias de competência do juiz das 
garantias ficarão acautelados na 
secretaria desse juízo, à disposição do 
Ministério Público e da defesa, e não 
serão apensados aos autos do 
processo enviados ao juiz da instrução 
e julgamento, ressalvados os 
documentos relativos às provas 
irrepetíveis, medidas de obtenção de 
provas ou de antecipação de provas, 
que deverão ser remetidos para 
apensamento em apartado. 
§4º. Fica assegurado às partes o amplo 
acesso aos autos acautelados na 
secretaria do juízo das garantias. 
 
Inicialmente, é necessário deixar claro que, para fins de provas objetivas, 
é imprescindível a leitura da lei seca para sistematizar as novas competências 
atribuídas ao juiz de garantias. 
Note-se que, numa interpretação sistemática e lógica, o juiz de garantias 
ficou responsável pela atuação na fase preliminar, sobretudo nos pontos em que 
há cláusula de reserva de jurisdição. Importante notar ainda que sua atuação se 
dá com a prisão em flagrante (notitia criminis de cognição coercitiva) ou com a 
e s

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