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ESTUDOS DE CASO EM HISTÓRIA ARTE E CULTURA Apresentação da Disciplina Estudos de Caso em História Arte e Cultura - 5EEHA Ao pensarmos sobre as relações entre História, Arte e Cultura devemos ter em mente que estas três áreas de conhecimento só podem ser compreendidas a partir do entendimento de nossa condição humana. Como grandes e extensos domínios da produção material e ideológica dos sujeitos ao longo dos tempos, estes elementos nos levam a refletir e a questionar sobre a existência dos conflitos, das grandes ideias, das inovações e técnicas criadas pelos homens no devir histórico. Nesse sentido, a disciplina “História, Arte e Cultura” apresenta grande responsabilidade quanto à dinâmica de compreender e sistematizar temas, personagens e teorias que foram desenvolvidas pela cultura ocidental. Assim, a proposta de ementa que trazemos a vocês, escolheu trilhar os caminhos da práxis historiográfica, estabelecendo laços de proximidade e contradições com as veias artísticas e culturais das ciências. Ao longo das unidades, acreditamos que alguns pontos ficarão claros acerca da polissemia dos conceitos de história, arte e cultura, haja vista que os mesmos, na mentalidade latina, tendem a não separar radicalmente os fatos e seus protagonistas. Para que possamos melhor debater os conteúdos e pensamentos selecionados, organizamos o curso considerando as características específicas de cada área, quais sejam: BLOCO TEMÁTICO HISTÓRIA Com o objetivo de proporcionar um conhecimento mais próximo do campo histórico (dimensões, abordagens e domínios), os assuntos selecionados contemplam os diálogos entre História e Ciência, perpassando pelos principais aspectos que definem este embate: a polissemia do próprio conceito de história, as relações de poder entre conhecimento, verdade e o ofício do historiador, ademais das correntes historiográficas mais presentes na contemporaneidade, fruto da herança Moderna e das diacronias entre métodos e interpretações. Nesse contexto, discutiremos paradigmas criados pelas representações dos discursos e da própria construção histórica da sociedade brasileira, considerando, por exemplo, os seguintes elementos: A natureza do histórico – a relação entre o acontecer e o comportamento da natureza; As contínuas crises ou revisões no crescimento das sociedades e finalmente, a consciência que o homem tem do seu passado. O MÓDULO REFERENTE AOS ESTUDOS DA ARTE Nos apresenta as contribuições que a relação dialógica da expressão história da arte/arte na história provocou na linha do tempo. Além disso, os discursos sobre estética irão proporcionar conflitos e argumentos de caráter filosófico e epistemológico, da cosmovisão até os princípios artísticos da Modernidade, sobretudo quando pensamos a construção da arte no Brasil, com destaque para os vestígios europeus e a originalidade brasileira. O TERCEIRO E ÚLTIMO MÓDULO COM O TEMA CULTURA Desenvolve, de certa forma, uma sistematização das relações entre as produções artísticas e históricas, culminado no imaginário cultural presente nas diversidades, nas adversidades e nas relações sociais. Do completo conceito plural de cultura até os debates promovidos pela Indústria Cultural (cultura de massa, erudita e popular), este momento final pretende abordar como os processos civilizatório, os movimentos sociais e ideológicos construíram categorias, verdades e formas de ver o mundo, da Modernidade à sociedade globalizada. Esperamos assim contribuir para que vocês, alunos, formem conhecimentos e ideias próprias acerca das temáticas e problemas apresentados, na ação de estabelecer continuidades e rupturas, uma vez que acreditamos que a consciência do presente por seus antecedentes temporais possibilita aos sujeitos elementos de juízo para o exercício da liberdade. Boa leitura! Introdução à aula Estudos de Caso em História Arte e Cultura - 5EEHA Conceitos de história e seu objeto: o fato histórico e sua relação com a verdade científica Escrever sobre o passado implica o reconhecimento de que como sujeitos de nossa história temos a função primordial de desvelar novos horizontes, conquistar espaços e recolher uma atmosfera temporária contínua de atuação, de sentidos e de significados da historicidade na vida do tempo presente. Tal afirmação nos leva a lembrar o sempre oportuno comentário do historiador Eric Hobsbawm, um historiador de seu tempo: “A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX”. (HOBSBAWM, 1995, p.8). Vista desde o século XXI, percebemos que tal observação reflete uma preocupação constante das discussões historiográficas atuais e que ao mesmo tempo ganha assustadoramente lugar no imaginário social. A preservação da memória histórica se constitui como um dos principais objetivos e trabalho árduo não somente dos profissionais da área de História, mas daqueles que prestam atendimento especial à educação e às demandas sociais.Serão apresentados e discutidos os conceitos e características da gestão empreendedora que poderão ser usadas na sua trajetória profissional; o papel e a importância do comportamento empreendedor nas organizações; os processos grupais e coletivos, processos de autoconhecimento, autodesenvolvimento, motivação, criatividade, comunicação e liderança; e, a iniciativa, negociação e tomada de decisão. A história do tempo presente deve ser entendida como uma tentativa de estabelecer as continuidades e as rupturas nas relações temporárias e espaciais, principalmente quando consideramos o difícil devir interdisciplinar que vivemos. Significa afirmar que o historiador se aproxima de uma História na “qual o historiador pesquisa um tempo que é seu próprio tempo com testemunhas vivas e com uma memória que pode ser sua”. Mais do que uma preocupação, o historiador ao se propor a realizar um trabalho de pesquisa histórica, necessita reconhecer os conflitos relativos às conexões entre ciência e história. Portanto, o historiador deve legitimar o papel do compromisso como elemento relevante para o desenvolvimento da ciência, ao introduzir novos objetos, temáticas, analogias, aproximando- as, no que vem a ser, então, a interdisciplinaridade. Em outras palavras, defendemos aqui a abordagem do compromisso defendido por Hobsbawm quando afirma que historiadores engajados com alguma causa desenvolvem a capacidade de promover novos debates, novas redes de interligações, novas abordagens e ainda novos objetos que não eram contemplados por conveniência ideológica da vertente dominante ou ainda pela negligência da comunidade científica. Diante de tal prerrogativa, é válido afirmar que a escrita da história não se constitui tarefa fácil e também não é formada por definições singulares. Caminhar pelos desafios da investigação e assumir os erros e equívocos iniciais de um profissional em formação significa questionar-se sobre as tendências da historiografia contemporânea e seus principais obstáculos, sejam eles metodológicos ou teóricos, ou ainda as dificuldades presentes nos embates entre diferentes correntes de pensamento e suas ideologias. De certo, optar pela escritura da história obriga o historiador a dialogar com algumas perspectivas que orientam os rumos da prática investigadora durante algumas décadas: é reconhecer o giro cultural (cultural turn) e linguístico que circula desde os anos 70 e 80, cuja ideia estrutural se assenta na crítica à ideia de que por meio da investigação sistemática se obtém um saber objetivo; ou ainda no nascimento da valorização das representações, cultura e linguagens, com destaque para a micro história e suas vertentes, no Ocidente com a “história vista de baixo” e no Oriente com os “subaltern studies” (estudos subalternos). Assim, a eleição pelo campo daHistória exige do pesquisador um cuidado fundamental com a organização do recorte temporária e espacial que o leva a definir quais especialidades deverá selecionar para sistematizar suas ideias e fontes. Tal alternativa não deverá, no entanto, seguir modismos ou ser realizada só pela disponibilidade de fontes (condição essencial ao trabalho historiográfico), senão, sobretudo, debulhar o caminho orientado pelo objeto de estudo, elemento básico para qualquer trabalho de investigação. Estudos de Caso em História, Arte e Cultura Mas, afinal de contas, o que é História? O que é Cultura? Primeiras reflexões...1 O historiador mexicano Enrique Florescano crê que a função da História é proporcionar a qualquer grupo social, uma identidade gerada pela própria diversidade de sujeitos/atores, sejam pertencentes a uma nação, pátria ou tribo. A temática desse bloco de aulas procura atender, de certa forma, ao mergulho que a História, seus objetos culturais e o ofício da mesma impõem àqueles que escolhem esse itinerário, o exercício do “reconhecimento do outro e, nesse sentido, fazer-nos partícipes de experiências não vividas, mas com as quais nos identificamos e formamos nossa concepção da pluralidade de aventura humana”. (FLORESCANO, 1997, p.65). Isto quer dizer que a mudança histórica sucede, não porque uma base determinada deva dar lugar à superestrutura correspondente, senão porque as mudanças nas relações de produção Isto quer dizer que a mudança histórica sucede, não porque uma base determinada deva dar lugar à superestrutura correspondente, senão porque as mudanças nas relações de produção se experimentam na vida social e cultural, se refratam nas ideias dos homens e em seus valores e são questionados em suas ações, suas eleições e suas crenças se experimentam na vida social e cultural, se refratam nas ideias dos homens e em seus valores e são questionados em suas ações, suas eleições e suas crenças. (THOMPSON, E.P., 2001, p.101). Neste sentido, os historiadores Ciro Flamarion Cardoso e Ronaldo Vainfas defendem a ideia de que “a pressuposição essencial das metodologias propostas para a análise de textos em investigação histórica é que um documento é sempre portador de um discurso que, assim considerado, não pode ser visto como algo transparente”. (CARDOSO; VAINFAS, 1997, p.37). Trataremos portanto, nesta aula, a relação entre os conceitos de História e Cultura. Definir conceitualmente História e Cultura é importante por nos permitir compreender como o ser humano construiu e constrói seu mundo, seus diversos sentidos onde a esperança, os medos, as necessidades e os sonhos de um povo inteiro se entrecruzam numa busca contínua por sentido e pertencimento. Cultura e História perfazem um binômio que se completam e emprestam significados mútuos. Então, o que é História? O que é Cultura? Antes que possamos definir conceitualmente o que é História, vamos definir o que é Cultura. Esse passo será importante para podermos alinhar esses conceitos numa interdependência essencial que ajuda a explicar, ao mesmo tempo, ambos. Segundo Kalina Silva - no seu Dicionário de Conceitos Históricos, seguindo a definição célebre de Edward Tylor - cultura pode ser entendida como aquilo que “abrange todas as realizações materiais e os aspectos espirituais de um povo”. Ou seja, em outras palavras, cultura é tudo aquilo produzido pela humanidade, seja no plano concreto ou no plano imaterial, desde artefatos e objetos até ideais e crenças. Cultura é todo complexo de conhecimentos e toda habilidade humana empregada socialmente. “Além disso, é também todo comportamento aprendido, de modo independente da questão biológica”. Como a Cultura está atrelada à produção humana, parece natural alinharmos esse conceito ao de História. Então, como é possível definir História? Uma das mais conhecidas e respeitadas definições vem de Jacques Le Goff na sua obra “História e Memória”. Para Le Goff, a História é um conjunto de conceitos: é a procura das ações realizadas pelos homens formando a ciência histórica; é busca pelas realizações dos homens, os acontecimentos passados narrados, tornando-se, assim, um conjunto de narrativas – quer verdadeiros ou falsos – sobre a realidade histórica – real ou fictícia – o que é evitado na língua inglesa que distingue entre History (a primeira) e story (a segunda). A etimologia da palavra é reveladora: História deriva de vocábulo grego que significa “conhecimento que surge a partir da investigação”. Trata-se do estudo do homem no tempo e no espaço, suas ações, conquistas e derrotas, compondo um quadro narrativo – que desemboca na cientificidade histórica – que se vale de relatos, documentos ou resquícios arqueológicos, elaborando uma análise crítica e profunda dos mesmos, permitindo uma visão abrangente do passado humano. Como apresenta a historiadora espanhola Adelaida Sagarra Gamazo: Podemos conceituar a História como um processo humano, ou melhor, como resultado do conhecimento humano e do ajuste do processo civilizatório…ademais, a História, como ciência social, pode ser definida como um conjunto de todos os tempos e desempenhos da liberdade humana… (GAMAZO, 1996, p.1). Assim, a História pode ser: A École des Annales (conhecida como Escola dos Annales no Brasil) defendia uma revisão técnica e metodológica de pesquisa, preocupando-se com uma interpretação fundamentada em trabalho conjunto coma as demais ciências humanas (filosofia, sociologia, antropologia, etc.) aumentando assim, as oportunidades de ampliar e conhecer novos campos a serem estudados, diversificando o objeto de estudo que poderia estimular o surgimento de uma consciência histórica, negando a historiografia positivista. • narrativa - vale-se das narrativas coletadas para compor um quadro geral do passado, onde o historiador se utiliza destes para compor sua escrita; • pragmática - o historiador possui função didática, pois o conteúdo de sua análise também pretende corrigir ações para o futuro; • científica - o historiador busca a verdade dos fatos históricos, valendo-se de método científico, análise crítica dos acontecimentos e dos documentos, e • dos Annales - o historiador se volta para os fatos cotidianos e que compõem a vida privada. Outro elemento que compõe a definição de História é a Historicidade. José Horta Nunes, no artigo Leitura de Arquivo, afirma que “o termo historicidade funciona de modo a caracterizar a posição do analista do discurso em relação à do historiador”. O deslocamento história/historicidade marca uma diferença entre as concepções de história, de um lado como conteúdo, e de outro como efeito de sentido. Aos historiadores ligados à análise do discurso cabe questionar a transparência da linguagem, levando-se em conta a tessitura da língua. Há alguns teóricos que fazem a distinção entre historiologia e historiografia. Historiologia seria o estudo das estruturas, leis e condições da realidade histórica. Historiografia, por seu turno, seria um relato da História, modo de escrever a História. Aos analistas de discurso, a história passou a ser vista não como um pano de fundo, um exterior independente, mas como constitutiva da produção de sentidos. Trabalhar a historicidade implica em observar os processos de constituição dos sentidos e com isso desconstruir as ilusões de clareza e de certitude. Há alguns teóricos que fazem a distinção entre historiologia e historiografia. Historiologia seria o estudo das estruturas, leis e condições da realidade histórica. Historiografia, por seu turno, seria um relato da História, modo de escrever a História. Figura 1.Heródoto, o pai da História. Ao mesmo tempo, trabalhar a historicidade na leitura de arquivos leva a realizar percursos inusitados, seguindo- se as pistas linguísticas, traçando percursos que desfazem cronologias estabelecidas, que explicitam a repetição demecanismos ideológicos em diferentes momentos históricos, que localizam deslocamentos e rupturas. Desse modo, o arquivo, por exemplo, não é visto como um conjunto de "dados" objetivos dos quais estaria excluída a espessura histórica, mas como uma materialidade discursiva que traz as marcas da constituição dos sentidos. Figura 2. Karl Marx elaborou uma abordagem dialética da História centrada na dinâmica econômica e na Luta de Classes. O material de arquivo está sujeito à interpretação e, mais do que isso, à confrontação entre diferentes formas de interpretação e, portanto, não corresponde a um espaço de "comprovação", onde se suporia uma interpretação unívoca”. Trata-se, então, de um processo científico ainda mais crítico e profundo que auxilia a elaboração da narrativa histórica. Outro conceito que nos auxilia a entender o que é História é o conceito de fato histórico que abordaremos mais a frente. De forma breve, apresentamos aqui o fato histórico como sendo toda ação humana que, devido ao seu poder e alcance, sua importância e relevância no âmbito individual e coletivo, entra para a História. Assim, o historiador se mune de dados para compor sua visão de passado e explicar as gêneses de determinado tempo e suas consequências. Essa ação do historiador – ação de narrar e escrever os acontecimentos do passado – se denomina de historiografia. Trata-se da própria ciência da História. Há alguns teóricos que fazem a distinção entre historiologia e historiografia. Historiologia seria o estudo das estruturas, leis e condições da realidade histórica. Historiografia, por seu turno, seria um relato da História, modo de escrever a História. Seja como for, há um processo de coletar dados, analisar as informações obtidas, construir um contexto, procurar entender as relações causais e, por fim, elaborar um texto que explique determinado tempo de nosso passado. A história do tempo presente deve ser entendida como uma tentativa de estabelecer as continuidades e as rupturas nas relações temporárias e espaciais, principalmente quando consideramos o difícil devir interdisciplinar que vivemos. Significa afirmar que o historiador se aproxima de uma História na “qual o historiador pesquisa um tempo que é seu próprio tempo com testemunhas vivas e com uma memória que pode ser sua”. Os acontecimentos históricos possuem relevância por terem um espectro que sai da mera esfera particular em sentido estrito. Isso não significa, entretanto, que o historiador – o profissional que estuda a História – não se dedique à vida privada das nações. No entanto, o historiador o faz pensando no seu alcance mais universal e coletivo, extraindo de ações privadas um sentido social coletivo. Isso se torna claro quando entendemos que os fatos históricos podem ser eventos que pertencem ao passado mais próximo ou distante, de caráter material ou mental, que destaquem mudanças ou permanências ocorridas na vida coletiva. A história do tempo presente deve ser entendida como uma tentativa de estabelecer as continuidades e as rupturas nas relações temporárias e espaciais, principalmente quando consideramos o difícil devir interdisciplinar que vivemos. Significa afirmar que o historiador se aproxima de uma História na “qual o historiador pesquisa um tempo que é seu próprio tempo com testemunhas vivas e com uma memória que pode ser sua”. Para quem se pergunta sobre a importância da História, há um exercício bem simples que pode auxiliar na resposta. Imagine que alguém peça que você se defina. A questão é: quem é você? Ora, antes de tudo temos que saber quem nós somos. O conhecimento de si mesmo é a base para toda e qualquer ação – seja ela no presente ou voltada para o futuro. Diante dessa questão, você muito provavelmente irá responder partindo do princípio: indicar onde você nasceu, a data, o local, como era sua família, como foi sua infância, o que lhe influenciou até agora, etc. Compondo uma história de si mesmo, você será capaz de entender melhor quem você é agora no presente, ou seja, compreender quais são seus sonhos, seus anseios, seus medos, etc. Tudo isso possui uma estrutura e esta se encontra enraizada na sua formação histórica: sua família, seu bairro, seu país, sua cultura, seu tempo histórico. Sendo assim, parece muito natural que entendamos a importância da História quando queremos compreender a nossa sociedade. Queremos saber quais são as bases estruturais que a formaram e, assim, vislumbrar os erros e acertos do passado. Outro bom exemplo e se pensarmos na nossa Constituição federal que foi promulgada em 1988. Ora, o Brasil saiu da Ditadura Militar em 1985, ou seja, apenas três anos antes de nossa Constituição. Numa busca por um país democrático, seria natural que nossa Constituição garantisse todos os direitos que foram usurpados durante a Ditadura. Isso nos permite enxergar com muita clareza o todo do processo. A História, então, se torna ciência fundamental quando queremos entender a nossa Cultura, seus meandros, suas estruturas e possibilidades. Estudos de Caso em História, Arte e Cultura História e seus vários significados. O que é um fato histórico? E o que dizer do processo histórico?2 A palavra “história” tem muitos usos, e a usamos cotidianamente ao falar. Mas quando nos referimos a seu estudo – o do colégio, por exemplo -, nos concentramos no significado da História como Ciência que estuda o passado das sociedades humanas. Deste modo podemos dizer que a história procura conhecer e estudar as ações (individuais e coletivas) que os homens e as sociedades realizaram no passado. Quando falamos do passado, referimo-nos ao tempo todo que decorreu até a atualidade (o presente). Olhando o passado das sociedades humanas, podemos remontar-nos muito atrás (muitos milhões de anos atrás) até a origem do homem, o começo da vida na terra ou a origem do universo. Os fatos históricos não são acontecimentos isolados nem sucedem entre si. Todo fato histórico se relaciona com muitos outros fatos históricos, anteriores e posteriores. Isto é, relacionam-se entre si, numa complexa rede de causas e consequências múltiplas e são ademais o que levam à reflexão de qualquer conflito, acontecimento ou momento da história que se converta em transcendental. Esta característica da história, de estender-se num passado tão profundo que nos custa tomar dimensão dele, com frequência dificulta seu estudo e sua aprendizagem. Quando falamos de quantidades de tempo tão grandes, falamos de “tempo longo” que nos leva a outro conceito: o de longa duração. Em geral, os estudos históricos clássicos se debruçaram sob períodos de extensa temporalidade, pois assim é possível estabelecer interpretações, conexões e questionamentos dos elementos que caminham nas permanências e que não continuam com as rupturas. O que é a História? Uma ciência organizada de uma maneira muito distinta das ciências experimentais. A finalidade destas é descobrir os traços constantes ou recorrentes em todos os acontecimentos de certa classe. A finalidade da História consiste, ao contrário, na compreensão das trocas e para tanto deve situar os acontecimentos, diferentes em cada época, no contexto também transformador que caracteriza essa época. (Saturnino Sánches Prieto, 1995, p.10). É muito comum as pessoas confundirem o conceito de fato histórico com a definição de processo histórico. Da mesma forma, não é raro encontrar estudantes que não sabem diferenciar os fatos como históricos, sociais e políticos. Chamamos fato histórico, a um acontecimento do passado que o historiador considera relevante. Podemos dizer que são ações, acontecimentos, acontecimentos. Os fatos históricos se caracterizam por ser de curta duração (horas, dias, semanas). Alguns exemplos de fatos históricos: a tomada da Bastilha (o 14 de julho de 1789), a queda da bolsa de Wall Street em 1929 ou atentado às Torres Gêmeas em 2001.Segundo suas características, podemos classificar um fato histórico como político, militar, econômico, cultural, etc. Os fatos históricos não são acontecimentos isolados nem sucedem entre si. Todo fato histórico se relaciona com muitos outros fatos históricos, anteriores e posteriores. Isto é, relacionam-se entre si, numa complexa rede de causas e consequências múltiplas e são ademais o que levam à reflexão de qualquer conflito, acontecimento ou momento da história que se converta em transcendental. Os historiadores procuram os fatos históricos relacionados entre si (culturais, econômicos, políticos, sociais, etc.), e os integram num processo histórico, conseguindo assim um entendimento mais completo da sociedade que estudam. A partir da análise que fizemos sobre o fato histórico podemos derivar à definição de processo histórico que será um conjunto de fatos históricos relacionados entre si que decorrem através do tempo. Se pensamos em qualquer dos exemplos de fato histórico que vimos antes, poderemos ver que é uma consequência de outros fatos anteriores, e também é a causa de outros fatos posteriores. Os fatos históricos não são acontecimentos isolados nem sucedem entre si. Todo fato histórico se relaciona com muitos outros fatos históricos, anteriores e posteriores. Isto é, relacionam-se entre si, numa complexa rede de causas e consequências múltiplas e são ademais o que levam à reflexão de qualquer conflito, acontecimento ou momento da história que se converta em transcendental. Por exemplo, a tomada da Bastilha se integra em um processo histórico particular como participante da Revolução Francesa. Cada processo histórico é um período de tempo durante o qual uma sociedade se organiza de uma maneira determinada, e depois vai se transformando até ingressar num novo período histórico. A diferença entre o fato histórico (que é de curta duração) e os processos históricos (que são mais longos), é que estes últimos podem durar anos, décadas e até séculos. Estudos de Caso em História, Arte e Cultura Historiografia e os elementos ideológicos do fazer histórico: é possível uma definição cientifica da História?3 Teorizar é um dos imperativos básicos da História entendida como disciplina científica. Ao tentar reconstruir desde o presente dimensões da memória histórica contemporânea, precisamos propor hipóteses históricas baseadas em dúvidas epistemológicas mais ou menos sustentáveis, em “fatos históricos” potencialmente documentáveis, sustentados em processos de investigação empíricos perfeitamente definidos, e orientadas a obter teorias explicativas deste fato histórico objeto de nosso interesse e preocupação. E estas teorias interpretativas devem basear-se em instrumentos conceituais, em categorias de interpretação fundamentadas que deem à opinião pública, à instituição acadêmica e ao próprio processo histórico-cientista novas visões sobre os fenômenos históricos que presidiram nossos últimos séculos. Frente às visões ideológicas e os juízos morais que deformam o entendimento retrospectivo, a ciência histórica tem o imperativo axiológico de mostrar os fatos tal como os esboçaram seus protagonistas, não como a sonhamos ou a “precisamos” como historiadores atuais, tanto os dados empíricos como a mitologia interpretativa. Desta necessidade surge a historiografia ou linguagem histórica. Tomando como referência o dicionário de Bescherelle (1845), a “arte de escrever a história”, podemos pensar a historiografia como o registo escrito da História através de uma metodologia concreta, de categorias temporárias determinadas, de conceitos próprios e de uma linguagem destinada a explicar o tempo histórico; ou em seu sentido mais concreto, poderia ser a maneira e o sentido em que a História se escreveu e se escreve. A historiografia constitui o conjunto de técnicas e métodos de investigação e interpretação propostos para descrever os fatos históricos acontecidos. A historiografia se faz concreta, pois, o método científico da História se dá através de um procedimento composto por três grandes elementos: A ciência histórica aparece, pois, como uma das maneiras empíricas de estudar a evolução social e cultural da atividade ser humano com respeito ao mundo material e espiritual que lhe rodeia. E como toda ciência pretende conhecer seu objeto de atendimento mediante uma série de instrumentos e uma série de leis mediante as quais seleciona, ordena, armazena e expõe os “fatos históricos”. Frente às visões ideológicas e os juízos morais que deformam o entendimento retrospectivo, a ciência histórica tem o imperativo axiológico de mostrar os fatos tal como os esboçaram seus protagonistas, não como a sonhamos ou a “precisamos” como historiadores atuais, tanto os dados empíricos como a mitologia interpretativa. Assim, a História procura respostas no passado a perguntas que se propõe, previamente, no presente sobre um “fato histórico” que, em teoria, lhe é desconhecido. Esta é, pois, sua dúvida epistemológica de partida do historiador. Frente às visões ideológicas e os juízos morais que deformam o entendimento retrospectivo, a ciência histórica tem o imperativo axiológico de mostrar os fatos tal como os esboçaram seus protagonistas, não como a sonhamos ou a “precisamos” como historiadores atuais, tanto os dados empíricos como a mitologia interpretativa. 1. Heurística (tese) ou recopilação das fontes necessárias para documentar um modelo prévio de investigação (uma hipótese), determinado por interesses do presente (individuais ou coletivos, científicos ou ideológicos, etc.). 2. Crítica (antítese) ou análise avaliativo do conteúdo das fontes, avaliando a veracidade, realidade e interpretações das mesmas. 3. Hermenêutica (síntese) ou interpretação em que se relacionam os dados e as informações dentro do marco geral do que partiu a investigação, tentando descrever as causas e as consequências dos fatos históricos analisados. E o método para resolvê-las começa com a série de perguntas propostas, obrigatoriamente geradas desde o presente, e submetidas, por isso, ao critério subjetivo da pessoa e do tempo. Assim a história aparece como o meio no qual uma sociedade, uma cultura, responde a seu passado imediato ou remoto. Sobre estes critérios podemos identificar uma definição geral, e por isso submetida a revisões de todo tipo, sobre a História como ciência. Há que advertir, ademais, que o conceito de História que aqui perseguimos evoluiu em decorrência do tempo e é tão plural como os autores que se dedicaram a defini-lo: J. Huizinga integrava sua realidade como ciência num “espírito” cultural mais amplo, J.A. Maravall [1911-1986] a definia como “uma ciência que tem, como qualquer outra, seus princípios próprios, e segundo eles, se nos mostra dentro de um sistema determinado de relações, válida numa esfera de fatos da experiência humana”; para Henri Irene Marrou [1904-1977] aparecia como “o conhecimento do passado humano” além de sua evolução biológica; Wilhelm Bauer situava à História como “a ciência que trata de descrever, explicar e compreender os fenômenos da vida, quanto se trata das mudanças que leva consigo a situação dos homens nos diferentes conjuntos sociais”; e inclusive Paul Veyne [1930-] negava a mesma realidade científica da História ao considerá- la simples “relato”. O objetivo confesso de todos os historiadores consistiu em recompilar, registrar e tentar analisar fatos do passado do homem (de maneira parcial ou total) e, em ocasiões, descobrir acontecimentos ocultos na memória ou nos restos documentários materiais. Mas o fim inconfessável dos profissionais da ciência histórica se situou, sempre, em controlar e definir a variável do tempo; não do tempo cronológico, mensurável em termos físico-matemáticos, senão do “tempo histórico” propriamente humano, que conecta as experiências que se deram no passadoe as possibilidades que se apresentaram no presente. Por isso, podemos assinalar os quatro grandes campos temáticos onde se desenvolveu a ciência histórica; campos genéricos, que em muitas investigações aparecem inter- relacionados, e que contam com o apoio do instrumental das ciências auxiliares específicas para a História: 1. A política: estudo das instituições e conflitos em períodos determinados, bem explicadas sincronicamente ou bem analisados de maneira diacrónica, contando com as instruções teóricas da Ciência política, da Geografia política ou do Direito político. 2. A cultura: análise das ideias e crenças dos povos, em especial do papel da religião, das ideologias e as mitologias culturais, com a ajuda da antropologia, a filologia, a filosofia ou a mesma teologia. 3. A Economia: investigação sobre as condições materiais da existência humana, entendidas bem quantitativa bem qualitativamente, com o recurso à Economia política, a Demografia, ou a Cliometria. 4. A Sociedade: estudo das estruturas, movimentos e relações das diversas organizações sociais, através da sociologia, da pedagogia ou da Política Social. Esta é a chave que distingue à “ciência histórica”, e que se estabelece em algumas questões: 1. O tempo outorga, pois, uma essência gnosiológica e uma especificidade metodológica à ciência histórica. Esta se constrói sobre documentos e depoimentos, ruínas e vestígios, monumentos e obras culturais “pretensamente objetivas”; umas relíquias criadas pelo “gênio” de cada geração e modeladas pelo sistema de crenças vigente na mesma. 2. Mas estas relíquias não apresentam uma realidade “ontológica”; não existem mais do que pelo reconhecimento material do historiador de seu significado pretérito e de sua consistência presente. 3. O historiador realiza, a modo de abstração, uma “ressurreição vital” das mesmas, de seu signo e de sua função, mas sempre sob as coordenadas culturais do espaço e do tempo próprios do historiador, e inclusive desde a previsão do futuro que costuma associar-se, comumente, à tarefa historiográfica. Um dos aspectos mais importantes a se considerar quando reflexionamos sobre que é a história - como todo conhecimento científico - é a construção. A que nos referimos com isto? Ao fato de que não podemos conhecer o passado exatamente como ocorreu. Isto é, reconhecer que quando lemos um texto sobre história não estamos ante a “realidade” desse “passado”, senão que é uma reconstrução elaborada desde o presente. Reconstrução realizada com base em uma “verdadeira” informação que nos chegou desde esse passado (sempre incompleta e parcial, em maior ou menor medida), que é selecionada, interpretada, relacionada e ponderada por um historiador ou uma equipe de historiadores. Para poder conhecer o passado, os historiadores contam com diferentes elementos que lhes brindam informação sobre um determinado momento de uma sociedade: as fontes históricas. Praticamente qualquer elemento que se apresente como prova de uma sociedade do passado pode contribuir com informação útil para conhecê-la, se for estudada corretamente. Entre as diferentes fontes históricas, podemos destacar algumas: Fontes e domínios da História: como os historiadores organizam o campo histórico? Estudos de Caso em História Arte e Cultura 4 A singularidade da ciência histórica se demonstra, com as fontes como testemunha, com a integração do método científico e a problematização filosófica, das possibilidades na tarefa do historiador e nas possibilidades abertas pelos depoimentos de seus antepassados. • Fontes escritas: documentos oficiais (fatos por governos) ou privados (cartas, memórias), jornais, obras literárias. • Fontes gráficas: obras de arte, fotografia, filmes, etc. • Fontes monumentais: monumentos, edifícios, restos arqueológicos de povoados, etc.· • Fontes orais: relatos dos protagonistas, lendas transmitidas oralmente, entrevistas e depoimentos coletados a partir da História Oral. • Fontes naturais: restos humanos, restos de animais ou plantas domésticas, evidências de mudanças climáticas. Podemos ainda nos referir à natureza do documento histórico que pode ser: jurídico (lei, relatório, decreto ou constituição), literário (romance ou poema), político (discurso, memória, relato de viagem, entrevista), artigo de imprensa ou anúncio publicitário. Ou o texto pode ser destinado a uso pessoal ou privado: Se for, devemos perguntar de qual tipo é (diário pessoal, carta, relatório secreto ou outro tipo de documento familiar). Além disso, os historiadores, para facilitar e deixar mais claro suas atuações na área da pesquisa, organizaram o campo da história em 3 perspectivas: as dimensões, as abordagens e os domínios da história. Fonte: BARROS, José D'Assunção. O Campo da História (nona edição). 9. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2013. Uma fonte histórica, portanto, é todo objeto, documento ou evidência material que contém ou implica informação útil para a análise histórica, e que devem ser tratadas com o respeito a sua origem através de sua “citação fiel” (referência exata). Mas estas fontes nos remetem, sempre, ao sujeito, elemento central da História. Dele dizia Ortega e Passer que é, antes de mais nada, “um ser histórico”, já que o recordar é a interpretação de nossa vida, do que fomos, e a influência decisiva de nosso “agora”. Quando falamos da organização do campo da História, devemos estar atentos à explicação do professor e pesquisador em história, José D’Assunção Barros: O ‘Quadro 1’ foi elaborado com o intuito de organizar estes critérios – distribuindo-os em ‘dimensões’, ‘abordagens’ e ‘domínios’ da História – e buscando esclarecer as várias divisões que estes critérios podem gerar. De certo modo, as três ordens de critérios correspondem a divisões da História respectivamente relacionadas a “enfoques”, “métodos” e “temas”. Uma dimensão implica em um tipo de enfoque ou em um ‘modo de ver’ (ou em algo que se pretende ver em primeiro plano na observação de uma sociedade historicamente localizada); uma abordagem implica em um ‘modo de fazer a história’ a partir dos materiais com os quais deve trabalhar o historiador (determinadas fontes, determinados métodos, e determinados campos de observação); um domínio corresponde a uma escolha mais específica, orientada em relação a determinados sujeitos ou objetos para os quais será dirigida a atenção do historiador (campos temáticos como o da ‘história das mulheres’ ou da ‘história do Direito’). (BARROS, 2013, p.45). As fontes nos informam, assim, sobre a forma de pensar e de atuar das pessoas, individual e coletivamente, e nos introduzem no significado das eleições dos protagonistas do “fato histórico”, bem como dos historiadores que se ocupam dos mesmos. Por isso, as fontes históricas podem se classificar em primeiro lugar, e em função de sua origem, bem como fontes primárias ou diretas, fontes secundárias ou indiretas, ou fontes terciárias: As fontes secundárias são os estudos realizados por historiadores posteriores ao fato histórico estudado, e procedentes de diversas fontes primárias ou de similares estudos indiretos (aqui encontramos livros de história, biografias, e inclusive a novela histórica). Mas a análise das fontes deve enfrentar uma questão central: documentação histórica ou produção historiográfica? Temos aqui uma questão epistemológica que remete à pluralidade de visões presentes nos protagonistas diretos do fato histórico, e aos pontos de partida do historiador; isto é, à dialética presente em toda reconstrução historiográfica: objetividade (pretensão a uma neutralidade axiológica no conhecimento dos fatos históricos) e subjetividade (reconhecimento dos interesses, ideologias e limitações deste). A seleção e tratamento das fontes documentários e materiais, bem como a produção histórica paralela, correm o mesmo caminho: a inter-relação entre as exigências de “objetividadecientífica” à hora de eleger e narrar os depoimentos necessários para a reconstrução historiográfica (e que determina seu método e sua teorização); e a necessidade de reconhecer a “subjetividade cultural” presente em diversas possibilidades que fizeram de uma maneira, e não de outra, os fatos históricos (fundadas em múltiplos interesses, crenças e valores). Assim, a singularidade da ciência histórica se demonstra, com as fontes como testemunha, com a integração do método científico e a problematização filosófica, das possibilidades na tarefa do historiador e nas possibilidades abertas pelos depoimentos de seus antepassados. A História ampliou seu campo de trabalho e análise ao aceitar a associação com outras ciências, como é ocaso da Antropologia e Sociologia presente em temáticas relacionadas ao dia a dia das pessoas. De acordo com José de Souza Martins o interesse da Sociologia pelos estudos do cotidiano é oriundo de um movimento contrário e sucessivo dos sentimentos que estão presentes na vida dos homens e de seu dia a dia, a exemplo da justiça, liberdade e igualdade. Depois de do âmbito de auto renovação do sistema capitalista e consequentemente das decepções relacionadas com este modelo socioeconômico, a vida cotidiana assume um dos lugares no quadro de prioridades no campo do sociólogo. Souza crê que, depois da crítica ao modelo positivista e a revisão pós-moderna, “... estamos ante um fascinante processo de reinvenção da sociedade”. Se a sociedade sofre um processo de reflexão sobre suas ações e pensamentos, a história e a sociologia também acompanham essas mudanças. As grandes certezas terminaram. É que com elas entraram em crise as grandes estruturas da riqueza e do poder (e também os grandes esquemas teóricos). Daí decorrem os desafios deste nosso tempo (...) O novo herói da vida é o homem comum imerso no cotidiano. (MARTINS, 2000, p.34). Pierre Nora em entrevista ao Magazine Littéraire (1981) discorre sobre o novo papel do acontecimento e do historiador do tempo presente. Segundo ele, a historiografia contemporânea realizou um projeto que tinha como pretensão “minimizar” o acontecimento, ou melhor, como comparou Fernand Braudel no Mediterrâneo: o acontecimento seria a ponta de um iceberg, priorizando o processo histórico e a longa duração. A dimensão da História e suas interfaces com a Cultura: o papel da História Cultural na pesquisa social. Estudos de Caso em História Arte e Cultura 5 Atualmente, as pessoas têm uma noção maior do tempo e dos acontecimentos “históricos”; e qualquer acontecimento seja ele de menor ou maior destaque, é aclamado pela memória e história, sendo o presente o grande referencial para tal questão. Atualmente, as pessoas têm uma noção maior do tempo e dos acontecimentos “históricos”; e qualquer acontecimento seja ele de menor ou maior destaque, é aclamado pela memória e história, sendo o presente o grande referencial para tal questão. Contrariando o passado, o presente se faz o contexto das transformações ocorridas em sociedade. Acontecimentos e historiadores trocam de lugar: o segundo cede o privilégio de eleição ao primeiro. Agora, mais do que nunca, é “o acontecimento que faz o historiador”. Com isso, ainda conforme Nora, as pessoas sentem uma imensa e urgente precisão de compreender o que está ocorrendo em sua volta e por seguinte, que tenha em mãos os meios que facilitem uma leitura imediata. A partir dessa análise é possível constatar que a preocupação em reinventar a posição diante as discussões e reflexões sobre o papel da História e da Sociologia é compartilhada pelas duas ciências, cada uma a seu modo. Ao invés do que se pode pensar a respeito da afirmação de Nora, na qual os acontecimentos os constroem os historiadores, o homem, conforme Souza, tem sua postura reafirmada no fazer de sua história individual, apesar de que tenham atitudes e desejos dirigidos e muitas oportunidades determinados pela herança do passado. É possível afirmar que as ideias que circulam ao redor da História Cultural, uma das dimensões historiográficas para os estudos históricos, estão vinculadas à tese de que este ainda se configura como campo absolutamente “recente” e muito jovem na atmosfera das investigações em geral, e, portanto, um verdadeiro campo ainda em construção no que se refere à definição de suas diversas zonas problemáticas e diferentes linhas que compreende, bem como a elaboração mais fina e pontual de seus principais conceitos, paradigmas metodológicos, modelos explicativos e hipóteses articuladas. Há que considerar também que o nascimento da História Cultural foi precedido pela História Social a partir da segunda metade do século XIX com o marxismo: a história das massas e dos grandes grupos coletivos. A terceira ideia é caracterizada pela tese de que a “cultura” não é algo unitário ou homogêneo (e não somente dominante), senão um campo de forças dividido e contraditório. Além dessas questões, o problema da escala que define a Macro História e a Micro História está localizado na ideia da cultura como fenômeno ou dimensão que caminhou para um novo modelo de História Crítica com o objetivo de examinar as culturas subalternas. O contexto da Micro História, depois da Revolução Cultural Mundial de 1968, trouxe questionamentos estruturados pelos seguintes elementos: 1. Problemas a respeito dos conjuntos das estruturas culturais das sociedades modernas de todo o planeta; 2. Debate a respeito dos principais elementos que sustentam os “códigos principais” dos grupos subalternos; 3. Discussão sobre o procedimento microhistórico para a dimensão cultural do mundo humano social; 4. Finalmente, a contestação do modelo de história francês: não há, em realidade, consenso sobre a teoria das Mentalidades. Para este debate, dois historiadores trazem uma análise que destaca a omissão do conflito social como elemento central das contradições metodológicas: Jacques Le Goff e Robert Mandrou. Le Goff aborda a questão da divisão das sociedades em classes sociais e a ignorância (a falta de conhecimento por parte destas) presente nos envolvimentos fundamentais que apresentam o âmbito cultural, enquanto Mandrou aponta a incapacidade do modelo francês de distinguir a cultura “imposta” às classes populares pelas classes dominantes da cultura produzida diretamente por essas mesmas classes subalternas, como fruto de sua própria atividade e experiências sociais. Ademais, a História das Mentalidades sofreu outras fortes acusações: até a década de 70, tal dimensão historiográfica trabalhava com a ideia conceitual de cultura como fenômeno unilateral e descendente; a dupla função positiva pós anos 70 defendia ações dirigidas à denúncia das limitações da mais tradicional e elitista História das Ideias que até então estruturava suas perspectivas pelo aspecto “passivo” das classes populares, aspecto definido pelas contradições entre o “imitado/assimilado” e o “aprendido/reproduzido”. A segunda função positiva trouxe ânimo e popularização para os diversos elementos da moderna História Cultural, já que até os anos 70 a História das Ideias não considerava sequer a existência de uma cultura popular, vista até então como folclore, crenças e visões primitivas. A segunda função positiva trouxe ânimo e popularização para os diversos elementos da moderna História Cultural, já que até os anos 70 a História das Ideias não considerava sequer a existência de uma cultura popular, vista até então como folclore, crenças e visões primitivas. É Carlo Ginzburg que trará uma nova mirada para os estudos culturais: o conceito de “circularidade cultural” vinculado ao processo de legitimação social iniciou o pensamento de que as classes subalternas somente se aculturam parcialmente e de forma móvel, resistindo à imposição de cultura hegemônica, salvaguardando elementos de sua própria cultura, trazendo novas funções, sentidos, significações paraessa mesma ideologia. Em paralelo, Michel Foucault assinalou outra questão: o reconhecimento da “inacessibilidade total”. Foucault argumentou que, apesar dos teóricos que reconheçam a existência e importância da cultura popular, durante séculos a imensa maioria das classes populares não sabe ler e escrever, e em tal contexto a cultura de referida população só chega por meio do depoimento das próprias classes dominantes. Num debate acadêmico que infelizmente é raro encontrar atualmente nas academias, Ginzburg reagiu às provocações de Foucault e fez questão de reconhecer a grande dificuldade que implica na reconstrução dessa cultura das classes subalternas, mas não para aceitar que é simplesmente inacessível, senão também para recolher os modos oblíquos , as formas de interpretação que estão na contramão, as estratégias de leitura intensiva e voluntária e os modos de aplicação do “paradigma indiciário”, ou em que outras tenhamos, o deciframento de seus códigos e estruturas principais. Daí que destacamos alguns aspectos em comum das obras destes dois grandes historiadores para nossa breve reflexão: a discriminação das diversas temporalidades históricas e a reconstrução e superposição da projeção dos níveis culturais, ciclos conjunturais, conflitos em torno dos poderes institucionais que resultam na síntese complexa dos diversos extratos culturais construídos em cima do jogo de ideias entre sagrada e sobrenatural (que possa temporária), das diferentes durações históricas, dimensões, da cosmovisão holística e do próprio materialismo da cultura. Finalmente, apoiamo-nos sobre a lógica geral da História Cultural desenhada pelos sentimentos populares que sempre fazem questão de perguntar diante de objetos de estudo: o que é tolerável? O que é aceitável? O que é moralmente legítimo e moralmente condenável? A Verdade, como parte dos grandes conceitos, não é algo fácil de se definir. Compreender o que é a própria verdade solicita perguntarmos “o quê”, “como” e “por quê”. Primeiro, diferenciar a Verdade do próprio conhecimento é fundamental. A busca pelo conhecimento e pela verdade está separada por uma linha muito tênue. São caminhos diferentes que comportam-se da mesma maneira, o que permite uma confusão, que só se resolve quando percebe- se a natureza paralela dessa caminhada. Ainda que o comportamento seja o mesmo, são objetivos diferentes, como observa Foucault: Pois, ainda nos poetas gregos do século VI, o discurso verdadeiro – no sentido forte e valorizado da palavra [...], era o discurso pronunciado por quem de direito e segundo o ritual requerido. Era o discurso que dizia a justiça e atribuía a cada um a sua parte; [...] Ora, um século mais tarde, a maior das verdades já não estava naquilo que o discurso era ou naquilo que fazia, mas sim naquilo que o discurso dizia. (FOUCAULT, 1970, p.03.) A verdade deixou de ser alojada no todo do próprio discurso, em seus efeitos e resultados, para que fosse alojada basicamente nas suas palavras, no que se dizia e não no que era, conforme destaca o autor. Essa transição do protagonismo do “ser” para o “enunciado” foi evidenciada na maneira como os gregos tratavam do próprio conhecimento e do papel exercido pelos sofistas. Um conhecimento transformado em objeto de valor econômico, dado em troca de um retorno financeiro, fez com que as participações nas práticas políticas ganhassem outros méritos que não a própria vocação, a participação no poder e na produção do conhecimento e da verdade ganhava agora outros critérios que não somente o ritualístico. História e Verdade: da consciência metódica à consciência do discurso. Estudos de Caso em História Arte e Cultura 6 Passado é aquilo que foi, é o tempo que já não é. A passagem de tudo aquilo que se acumulou num tempo presente, mas que já não é esse tempo. E daí que os grandes pensadores formulam suas posições quanto a relação entre o saber e a verdade, ao proporem que o alcance de um saber verdadeiro é também o caminho pelo qual se produz um sujeito de conhecimento que possa revelar a Verdade. Mas enquanto essa Verdade absoluta não é alcançada, o conhecimento inicia sua trajetória. A busca pelo conhecimento faz com que os sujeitos de conhecimento se modifiquem conforme encontram novas barreiras e novas formas de construir o conhecimento. A história do conhecimento, da verdade, dos sujeitos – a História como um todo – acaba com sua relação apresentando formas múltiplas de sujeitos de conhecimento que, assumindo um comportamento próximo ao do próprio conhecimento, se modificam ao entrar em contato com ele. O conhecimento é como um clarão, como uma luz que se irradia mas que é produzido por mecanismos ou realidades que são de natureza totalmente diversa. O conhecimento é o efeito dos instintos, é como um lance de sorte, ou como o resultado de um longo compromisso. (FOUCAULT, 1973, P. 16-17). O que demonstra que o conhecimento é uma construção do homem, é o resultado do emprego de suas vontades, instintos e da aplicação de sua prática como sujeito do conhecimento em relacionar-se com o objeto a ser conhecido. Essa relação, que carrega sua própria violência, altera não somente o objeto que se está conhecendo mas o próprio sujeito. A verdade, conforme resultado desse mesmo processo, alcança então o estatuto de produção humana, sujeita a um tempo e ao espaço. Essa qualidade de produto significa que a própria verdade também está sujeita a um processo produtivo, portanto, pode ser encaixada num método que vai ser distinguível conforme a disciplina que a tente validar. Em outras palavras, a verdade vai ser produzida conforme diferentes caminhos, e no contexto da escrita da História, a busca é: Quais os métodos empregados pela História na produção dessas verdades? A primeira ferramenta diz respeito a uma compreensão histórica, ou seja, quanto a maneira como a verdade é interpretada frente a História, e assim temos duas formas. Uma diz respeito a posição temporal do historiador, que sempre terá maior liberdade de compreender o objeto que está posicionado no passado, conforme a construção de consciência sobre o objeto que é posto em questão. E em relação a uma interpretação do sentido da verdade nessa compreensão histórica, essa também será fruto de um discurso que veio antes do próprio historiador, ou seja, aquele que ponha-se a olhar à história perante suas formas e métodos, estará sujeito a um diálogo anterior a si próprio. Não que exista uma posição melhor ou maior, mas toda época gera por consequência uma compreensão diferente de passado, ou seja, toda época tem por consequência um passado diferente com um significado diferente. Passado é aquilo que foi, é o tempo que já não é. A passagem de tudo aquilo que se acumulou num tempo presente, mas que já não é esse tempo. A verdade, frente a história, também depende de um certo método, por vez definido apenas como o método histórico, que faz com que os procedimentos sejam aplicados com cautela e com base numa fidelidade quanto a sua funcionalidade e objetivos. Revela a consciência de que é necessário trilhar um conhecimento que parta do senso comum a uma prática coerente e responsável desse relacionamento entre verdade e história. A verdade aparece então, como objeto do conhecimento histórico, sendo externo ao sujeito-observador, seu outro extremo nessa relação de conhecimento. Ainda que externamente, faz parte desse sujeito-observador e compõe sua própria trajetória, do próprio sujeito e de sua composição como um todo. A tradição emerge nessa interação, já que valores compreendidos nesse passado adquirem uma qualidade de reconhecimento entre o sujeito e o objeto, de tal forma que se busca modificar o movimento do próprio tempo para que seja perpetuado esse valor contido nesse ponto temporal específico, alcançando o conceito de realidade histórica. A verdade alcançada por meio do contato sujeito-objetoé uma realidade que não pode fugir da substancialidade, da existência, o que é fruto dessa construção dialógica que é estabelecida entre os polos da relação. A realidade histórica é, portanto, transpassada por passado, tradição e memória. A memória, por sua vez, é a captura do tempo e a injeção de valor dentro dessas formas temporais. A própria memória é É da própria natureza do conhecimento uma certa violência no contato entre o sujeito e o objeto a ser conhecido, uma vez que o conhecer é forma de alterar o que é conhecido e também quem conhece. uma forma falha de fundar a verdade, já que o que estrutura a verdade é o método e não a lembrança, o que parece consolidar um ciclo e retoma a necessidade do método e dos processos descritos anteriormente. Mas para que todas essas relações sejam estabelecidas é necessário que exista, perante a construção histórica da verdade, uma fundamentação. É necessário então que essa atitude teórica do historiador seja feita com base na participação da construção de um conhecimento. Já que o conhecimento é o resultado da relação estabelecida entre ele (enquanto sujeito-observador) e a verdade (enquanto objeto posicionado historicamente), esse contato tende a derrubar barreiras e adentrar limites de um e/ou de outro. É da própria natureza do conhecimento uma certa violência no contato entre o sujeito e o objeto a ser conhecido, uma vez que o conhecer é forma de alterar o que é conhecido e também quem conhece. E como falamos sobre história, não é possível tratar dessa sua relação com a verdade sem preocupar-se com o próprio tempo. Ao buscar uma posição histórica da verdade, metodicamente, é necessário na escrita da história uma linearidade temporal, uma cadeia de causas e efeitos, que fundamentem a possibilidade de explicação sobre esse objeto. Não que seja posto somente como uma questão causal, mas como um emaranhado de temporalidades, ou seja, eventos provisórios quanto ao seu tempo. Esse tempo permite que certas noções possam servir como base para sua análise: “a do acontecimento, a de série, a de regularidade e a de condição de possibilidade” (FOUCAULT, 1970), de tal forma que o discurso histórico seja posto em cheque na busca pela própria verdade. De maneira geral, posto a um conjunto de métodos trabalhados frente a história, é preciso verificar que o discurso histórico produz suas verdades, assim como outras formas de saber e de construções metodológicas também são capazes desse resultado. A verdade, como construção subjetiva das vontades humanas retorna as proposições iniciais que tratam de um “desejo de verdade”, construído fora do discurso filosófico, mas que é possível de identificar quando precedido de métodos, como é o caso do método histórico apresentado para alcance da verdade. Estudo de Caso 01: A Revolução Industrial 1. Introdução A Revolução Industrial se refere a um conjunto de mudanças tecnológicas que afetaram em definitivo o modelo de produção econômica do início do século XX. O final do século XIX já indicava o surgimento e consolidação das grandes cidades em todos os cantos do mundo. O comércio se tornava ainda maior e todos os países se voltavam para a produção mercantil. Entretanto, a tecnologia iria surgir como a base de estruturação de novas possibilidades para a exploração econômica e para a própria esfera comercial. As máquinas começaram a tomar o lugar do trabalho braçal humano. A tecnologia desenvolvia a máquina a vapor que logo teria seus princípios mecânicos e tecnológicos usadas como base de fomentação de novas criações: barcos a vapor, locomotivas, carros, máquinas de tecelagem, etc. Houve, então, uma explosão de produção em todos os setores da economia. Mas o que significa, então, que a Revolução Industrial causou tal “explosão”? Como explica o historiador Eric Hobsbawm (2007, p. 50): “O que significa a frase ‘a revolução industrial explodiu’? Significa que a certa altura da década de 1780, e pela primeira vez na história da humanidade, foram retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas, que daí em diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante, e até o presente ilimitada, de homens, mercadorias e serviços. Este fato é hoje tecnicamente conhecido pelos economistas como a ‘partida para o crescimento autossustentável’. Nenhuma sociedade anterior tinha sido capaz de transpor o teto que a estrutura social pré-industrial, uma tecnologia e uma ciência deficientes, e consequentemente o colapso, a fome e a morte periódicas, impunham à produção. A ‘partida’ não foi logicamente um desses fenômenos que, como os terremotos e os cometas, assaltam o mundo não-técnico de surpresa. Sua pré-história na Europa pode ser traçada, dependendo do gosto do historiador e do seu particular interesse, até do ano 1000 de nossa era, se não antes, e tentativas anteriores de alçar voo, desajeitadas como as primeiras experiências dos patinhos, foram exaltadas com o nome de ‘revolução industrial’ – no século XIII, no XVI e nas últimas décadas do XVII. 1 Objetivos de aprendizagem: Permitir, aos discentes, dar a devida importância ao autoconhecimento e a informação profissional, aprimorando suas competências de forma a ampliar as suas oportunidades no mercado de trabalho. 2. Panorama e Cenários Em que cenário se deu, então, a Revolução Industrial? A Europa passava de uma sociedade feudal para uma sociedade mercantilista onde o comércio se intensificara a partir das Descobertas – o Novo Mundo. A tecnologia vai intensificando novas descobertas e novos maquinários ajudam o ser humano na exploração da natureza, encurta distância e acelera a produção. Nasce, assim, um novo modelo econômico: o Capitalismo. Como explica Fernando Miranda: “É certo que a Revolução Industrial desenvolveu- se primeiramente na Grã-Bretanha, onde foram desenvolvidas as primeiras máquinas a vapor e, consequentemente, as primeiras fábricas que iniciaram a produção em massa de bens de consumo. Desta forma, o capitalismo e a produção industrial em massa foram implementados e desenvolvidos na Grã-Bretanha e, logo depois, em alguns outros países europeus e nos Estados Unidos da América, de uma forma avassaladora. Com o desenvolvimento do capitalismo, o conceito de riqueza também é modificado; antes, o nível de riqueza de uma nação era medido pela acumulação de metais preciosos ligados ao comércio exterior; após, prosperam as teses de Adam Smith, que ligam a riqueza a objetos úteis que podem ser produzidos por uma determinada sociedade, referindo-se a qualidades físicas ou concretas dos objetos, tornando-os necessários as atividades humanas, sendo que para a teoria econômica clássica, a forma de obtenção da riqueza dá-se pelo trabalho, ou seja, pelo esforço humano para obter tais objetos”. A partir da metade do século XVIII, o processo de acumulação de velocidade para partida é tão nítido que historiadores mais velhos tenderam a datar a revolução industrial de 1760. Mas uma investigação cuidadosa levou a maioria dos estudiosos a localizar como decisiva a década de 1780 e não a de 1760, pois foi então que, até onde se pode distinguir, todos os índices estatísticos relevantes deram uma guinada repentina, brusca e quase vertical para a ‘partida’. A economia, por assim dizer, voava”. 3. Situação Atual O Capitalismo, então, cresceu a partir dos EUA: Nos EUA, no século XIX, vemos gênios empreendedores como Morgan, Edison, Rockfeller, Carnegie e Ford reinventarem o Capitalismo e inserirem o país num novo modelo: eletricidade, estradas de ferro, indústria, exploração do petróleo, indústria automobilística e mercado de capitais tornou-se a tônica dos norte-americanos. 4. Apresentação do Problema 1. Exemplifique como o Capitalismo sofreu influência direta das conquistas tecnológicas do final do século XIX e início do século XX. 2. Identifique, na nossa sociedade contemporânea, três situações que estão diretamente relacionadascom as mudanças ocorridas no inicio da Revolução Industrial. 3. Faça uma pesquisa na internet e identifique como Karl Marx analisou as lutas de classes ocorridas a partir da formação do Capitalismo. 4. Onde você identifica em seu comportamento traços de uma construção cultural derivada dos modos de produção econômica capitalista? REFERÊNCIAS HOBSBAWN, Eric J. A Era das revoluções: Europa 1789-1848. 21. ed. Tradução Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007. MIRANDA, Fernando. A Mudança do Paradigma Econômico, a Revolução Industrial e a Positivação do Direito do Trabalho. Artigo digital. Disponível em: http://www.direitobrasil.adv.br/arquivospdf/ revista/revistav61/artigos/fer.pdf. Visitado em 01/12/2014. Tanta riqueza – que só foi possível a partir do domínio de novas tecnologias e sua devida aplicação – logo é seguida pelos países da Europa e, inclusive, pelo Brasil. Essa construção social afetou os modos de relação: há o surgimento do telégrafo, do telefone, do rádio, da televisão, por exemplo, que remodelam as pessoas. Além do mais, a arte, a partir do início do século XX, se inspira numa sociedade em contínua mudança e os mais diversos movimentos artísticos traduzem as contradições e os aspectos positivos dessa nova organização social capitalista. Estudo de Caso 02: Estudos de Caso em História Arte e Cultura Objetivos de aprendizagem: Os alunos poderão conhecer o empreendedorismo, sua evolução histórica, cenários e tendências, bem como refletir sobre o polissêmico mundo do trabalho, reconhecendo as exigências e possíveis interferências do contexto social, econômico e cultural na vida do trabalhador. Estudo de caso 2: A Modernidade. 2 A Modernidade se refere a um modo de compreender e se relacionar com o mundo e com a sociedade que surge no século XVII através do impacto que as obras de René Descartes causaram. Em suas obras fundamentais – Discurso do Método e Meditações – Descartes se vale da razão para explicar o mundo e o ser humano, dividindo a realidade em realidade do pensamento (res cogitans) e realidade extensa ou material (res extensa). Descartes rompeu com os dogmas do pensamento medieval, a Escolástica. A compreensão teológica dá lugar a uma compreensão racional, o cartesianismo. Esse impacto iria permitir a busca por uma ciência exata, o que culminaria com a Física de Isaac Newton e a Revolução Industrial, ou seja, culmina com o advento de um novo modelo econômico, o Capitalismo. Mas o que é a Modernidade? Eia a explicação de Anthony Giddens na sua obra As Consequências da Modernidade(1991, p. 8): “O que é modernidade? Como uma primeira aproximação, digamos simplesmente o seguinte: "modernidade" refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência. Isto associa a modernidade a um período de tempo e a uma localização geográfica inicial, mas por enquanto deixa suas características principais guardadas em segurança numa caixa preta”. Esse estilo de vida criou modelos de organização social que redimensionou a arte (a arte moderna e seus diversos estilos) e a cultura (cultura hedonista, do consumo e da tecnologia). 1. Introdução Os pensadores atuais afirmam que estamos vivendo a Pós-Modernidade, ou seja, um período que se seguiu à Modernidade e que refez seus antigos valores. Contudo, para entendermos a Pós-Modernidade, faz-se necessário compreender a Modernidade. Eis como Paulo Fagúndez (2000, p. 2) trata a compreensão atual da Modernidade: “A ideologia da modernidade está alicerçada na ideia de que, com a fragmentação, é possível compreender a vida. Afirma que há um corpo, que como uma máquina, é composto de peças. Cadáveres são dissecados nas universidades. O mal pode ser arrancado por um simples procedimento cirúrgico e invasivo. Os remédios são suficientes para controlar as moléstias infectocontagiosas e degenerativas. A sociedade moderna é a sociedade da razão. O teológico não interessa, sendo a arte uma manifestação de segunda categoria, porquanto diz respeito à sensibilidade. A sociedade moderna prioriza o positivo, em detrimento do negativo. Sabe-se fazer bem clara a divisão o bem e o mal, entre o terreno reservado ao império de Deus e do Diabo. A rigor, todo o bem deve prosperar. O mal deve ser eliminado. Busca-se a pureza. Os médicos vestem branco. Criminosos deverão ser encarcerados. Bactérias e vírus deverão ser eliminados”. 2. Panorama e cenários Como explica Giddens (Idem. pp.10-11): “Os modos de vida produzidos pela modernidade nos desvencilharam de todos os tipos tradicionais de ordem social, de uma maneira que não têm precedentes. Tanto em sua extensionalidade quanto em sua intensionalidade, as transformações envolvidas na modernidade são mais profundas que a maioria dos tipos de mudança característicos dos períodos precedentes. Sobre o plano extensional, elas serviram para estabelecer formas de interconexão social que cobrem o globo; em termos intensionais, elas vieram a alterar algumas das mais íntimas e pessoais características de nossa existência cotidiana. Existem, obviamente, continuidades entre o tradicional e o moderno, e nem um nem outro formam um todo à parte; é bem sabido o quão equívoco pode ser contrastar a ambos de maneira grosseira. Mas as mudanças ocorridas durante os últimos três ou quatro séculos — um diminuto período de tempo histórico — foram tão dramáticas e tão abrangentes em seu impacto que dispomos apenas de ajuda limitada de nosso conhecimento de períodos precedentes de transição na tentativa de interpretá-las”. 3. Situação atual Onde, então, podemos nos reconhecer a partir das conquistas da Modernidade? Ou de seus fracassos? Como explica Tourraine (1994, p. 18): “A ideia de modernidade substitui Deus no centro da sociedade pela ciência, deixando as crenças religiosas para a vida privada. Não basta que estejam presentes as aplicações tecnológicas da ciência para que se fale de sociedade moderna. É preciso, além disso, que a atividade intelectual seja protegida das propagandas políticas ou das crenças religiosas, que impersonalidade das leis proteja contra o nepotismo, o clientelismo e a corrupção, que as administrações públicas e privadas não sejam instrumentos de um poder pessoal, que vida pública e vida privada sejam separadas, assim como devem ser as fortunas privadas do orçamento do Estado ou das empresas”. A crise se dá quando a ciência não resolveu todos os nossos problemas. Quando a política ainda não se mostrou racional. Quando a irracionalidade demonstrou que também está sempre presente. Quando, por fim, os ideias da Modernidade se mostraram como ideais de controle, de produção exacerbada e consumismo desenfreado. Exemplifique como a Modernidade se apresenta, em nosso país, nos dias atuais. Procure dar exemplos, identificando as principais características de cada situação analisada. Identifique, na nossa sociedade contemporânea, três situações que são claras indicações de que se pautam pela visão de mundo da Modernidade. Faça uma pesquisa na internet e identifique as críticas que Zygmunt Bauman elaborou sobre os ideais da Modernidade. Onde você identifica, em seu comportamento, traços de uma construção cultural derivada das conquistas da Modernidade? 4. Apresentação do problema REFERÊNCIAS FAGÚNDEZ, Paulo. O significado da modernidade. Artigo eletrônico. 2000. In: http://tjsc25.tjsc.jus.br/academia/arquivos/significado_modernidade_ paulo_fagundez.pdf. Visitado em: 12/12/2014. GIDDENS, Anthony. As Consequências da Modernidade. Edição eletrônica.1991. In: http://www.culturaegenero.com.br/download/ consequenciasmodernidade.pdf . Visitado em : 12/12/2014. TOURAINE, Alain. Crítica da modernidade. Edel. Petrópolis: Vozes, 1994. Estudos de Caso em História, Arte e Cultura É possível verificar que o homemtem apresentado diferentes comportamentos durante a história, e ainda que para muitos a história pareça como cíclica, sua realidade é linear. O homem tem apresentado comportamentos que se repetem, mas isso não acontece com a História, que é como um rio e não pode voltar seu curso. Durante a Antiguidade presenciamos o crescimento das sociedades sedentárias, principalmente em áreas de abundância natural, próximas a regiões onde o recurso hídrico é abundante, por exemplo. Esta situação aconteceu no Egito, Mesopotâmia e Grécia, que são consideradas como as principais civilizações antigas. A linha do tempo histórico: um olhar panorâmico sobre o percurso que começa na Antiguidade Clássica e culmina na Modernidade. 1 No Egito, formado principalmente graças ao Rio Nilo, as construções hídricas faziam concorrência com o forte fervor religioso que tanto fez parte da história egípcia. Os faraós que encarnavam as qualidades humanas e divinas eram os soberanos que lutavam contra fortes insurgências dos povos que buscavam liberdade e autonomia. Com pulso firme e buscando sempre embasamento em uma vontade divina, os faraós egípcios fizeram surgir grandes construções e trabalharam o próprio curso da natureza em alguma de suas construções hídricas, que demonstravam o avançado domínio de técnicas e conhecimentos. A Mesopotâmia, por sua vez, foi uma área marcada por inúmeros conflitos, palco de uma diversidade de nações que deu origem as primeiras grandes cidades, fortificadas e alimentadas em grande parte pelos rios Eufrates e Tigre, que permitiam a esta região condições de fertilidade muito atrativa para diferentes povos, como foi o caso dos acádios, assírios e os babilônios. Estes povos se desenvolveram com base nas grandes batalhas e numa prática comercial considerável. Os gregos surgiam em uma região mais afastada, na península balcânica, num solo difícil para agricultura. Com uma geografia que facilitava a navegação, o comércio marítimo foi de grande influência no desenvolvimento grego. Organizados nas pólis, os gregos eram extremamente ligados a suas condições políticas. Duas cidades destacam-se na história grega devido a suas similaridades e antagonismos. É o caso de Atenas e Esparta. Esparta era a residência dos mais esforçados guerreiros da Grécia, homens treinados e educados para a guerra, e uma sociedade baseada num regime de governo estruturado sobre a honra. Atenas por sua vez era terra de grandes pensadores, e era uma forte combatente marítima. Preocupada com as questões políticas, Atenas foi o berço da Filosofia, ainda que os vanguardistas não fossem cidadãos, foi na cidade de Atenas que grandes nomes da filosofia viveram e construíram suas obras, como é o caso de Sócrates, Platão e Aristóteles, todos preocupados com as questões políticas e a democracia que fazia parte da vida ateniense. SUGESTÃO DE FILME: 300. Direção: Zack Snyder. Produção: Deborah Snyder, Frank Miller e Graig J. Flores. Roteiro: Zack Snyder, Kurt Johnstad e Michael B. Gordon. Intérpretes: Gerard Butler, Lena Headey, Rodrigo Santoro, Dominic West, David Wenham, Vincent Regan e outros [Warner Home Video], 2006. DVD duplo (108 min.) Com o crescimento de Alexandre, o Grande – filho de Felipe e de Olímpia - vindo da Macedônia, o mundo mudou de configuração. Alexandre conquistou parte do mundo conhecido e até mesmo um pedaço do mundo “desconhecido” até então. Com um comportamento de invasor, Alexandre demonstrou domínio prático dos conhecimentos estratégicos que lhe foram ensinados, estruturando o que seria por muito tempo o maior império da terra. Alexandre morreu aos 33 anos em uma batalha. Ainda que tivesse conquistado uma vasta extensão em territórios, após sua morte o Império Macedônio ruiu, já que os seus generais não conseguiram manter a unidade de suas conquistas. O que restou de seu legado foram algumas cidades, entre elas a cidade de Alexandria, famosa por suas confluências artística, científica, cultural e econômica, além de sua biblioteca. Enquanto a Macedônia crescia forte, um outro grande Estado se preparava para erguer: Roma. Localizada na península itálica, possuía solo fértil e poucos recortes no litoral. Roma foi um grande império, que passou pelas fases de monarquia, república e império, todos a seu modo e é responsável por grande parte da cultura ocidental, já que conquistou uma enorme extensão de territórios e as principais cidades, estando sempre em confronto com o Império Persa. Foi o império romano quem apresentou ao mundo ocidental grande parte de sua estrutura jurídica, organização urbana e pensamento filosófico e científico, por meio das obras que subsistiram a sua passagem. Os romanos acabaram por se desestruturar, fazendo surgir então dois impérios, a decadente Roma ocidental e a Roma oriental, conhecida também como império bizantino. O lado ocidental, invadido por povos até então denominados bárbaros, foi o berço da conhecida Europa. O império ocidental tem em suas origens relacionada ao poderio de Carlos Magno, rei dos francos, construído por meio de relações religiosas com o cristianismo e o papa. Destacamos aqui o povo franco que, posteriormente, graças às disputas entre familiares, daria origem aos diversos territórios e reinados presentes na Europa, em especial aos que originariam mais futuramente a França e Inglaterra. Contudo, o período estabelecido na Europa era um pouco preocupante, as diferentes tribos, comunidades e reinos passaram a se organizar de maneira a conseguir proteção um dos outros e garantir suas subsistências e fortalecimento. Os feudos começaram a surgir. O regime feudal, que tinha como principal resultado os senhores feudais e seus servos, criou na Europa um momento de longa esterilidade. Ainda que as diferentes adequações desses regimes feudais significassem determinadas mudanças, e que algumas alianças começassem a serem desenvolvidas, alguns fatores possibilitaram que grandes mudanças fossem fortemente evitadas. O controle predominante da igreja era um deles. A igreja foi a grande responsável pelo momento que é classificado como “Idade das Trevas”, devido a sua forte repressão e controle quase absoluto das diferentes formas de manifestações artísticas, culturais e até mesmo política, até as principais cidades (ou principalmente elas) estavam sob forte influência do pensamento religioso dominante. É nesse período que, percebendo a estagnação dos feudos, alguns senhores feudais reúnem-se com alguns reis e partem num momento de “purificação” do mundo não-ocidental. Dá-se aí o início das cruzadas. Os cruzados iniciam então estratégias e buscas em buscas de portas de entrada para suas ações, a exemplo da esquecida Constantinopla, principal cidade do Império Bizantino – fruto do rompimento de Roma – e começam as grandes expedições europeias contra o oriente, que em sua maioria não tiveram grande sucesso. Porém, como é notório da guerra, houve grande circulação de bens e criação de novas rotas econômicas, o que inclusive trouxe resultados culturais e científicos para o ocidente. É provável que nesse período os europeus tenham tido contato com os textos dos autores gregos clássicos, e por meio disso a sociedade europeia mudaria novamente. Com a chegada de um momento de grande estagnação e desigualdade absoluta, com uma sociedade baseada fortemente na exploração de um homem sobre outro, começa a surgir um movimento que buscava renascimento das ideais humanistas dos pensadores clássicos. Conhecido como Renascimento, o movimento científico-filosófico que se desencadeou nesse momento criava questionamentos que posicionavam o poder religioso em grande perigo. A igreja, como grande instituição e detentora de poder não se sentiu satisfeita com isso. Ainda que diversos pensadores começassem a posicionar o homem como centro de suas construções cientificas e filosóficas, passaram também a sofrer grande perseguição
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