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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LÍNGUISTICA APLICADA AO ENSINO DE 
LÍNGUA MATERNA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4 
2 FUNDAMENTAÇÃO EPISTEMOLÓGICA ................................................................ 7 
2.1 Competência e desempenho ............................................................................. 8 
2.2 Desempenho ..................................................................................................... 8 
3 HISTÓRICO DA DISCIPLINA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO CURRÍCULO ....... 9 
ESCOLAR .................................................................................................................... 9 
4 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DO ENSINO OPERACIONAL E REFLEXIVO DA 
LINGUAGEM: A LINGUAGEM COMO INTERAÇÃO, O TEXTO COMO ENUNCIADO, 
 ................................................................................................................................... 11 
OS GÊNEROS DO DISCURSO ................................................................................. 11 
4.1 A Linguagem como Interação .......................................................................... 13 
4.2 O Texto como Enunciado ................................................................................ 14 
4.3 Gêneros do discurso ....................................................................................... 15 
5 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS ................................................................................ 16 
5.1 Norma .............................................................................................................. 16 
5.2 Norma Culta .................................................................................................... 17 
5.3 Dialeto subdialeto, idioleto e outros letos ........................................................ 17 
6 LINGUÍSTICA TEXTUAL FRASE, TEXTO E CONTEXTO ..................................... 19 
6.1 Conceitos Ferdinand de Saussure (1916) ....................................................... 21 
6.2 Concepções de Linguagem ............................................................................. 22 
6.3 História Dos Estudos Da Linguagem ............................................................... 25 
6.4 Evolução Das Ciências Da Linguagem ........................................................... 27 
6.5 O que é gerativismo? ...................................................................................... 29 
7 A HIPÓTESE DA GRAMÁTICA UNIVERSAL ........................................................ 35 
 
 
7.1 A gramática universal ...................................................................................... 35 
8 A TEORIA DE PRINCÍPIOS E PARÂMETROS ..................................................... 36 
9 PROBLEMA DA AQUISIÇÃO DA SEGUNDA LÍNGUA ......................................... 40 
10 A QUeSTÃO DO ACESSO À GRAMÁTICA UNIVERSAL..................................... 42 
11 TEORIAS DA LEITURA ........................................................................................ 44 
12 PRODUÇÃO TEXTUAL ........................................................................................ 45 
13 LETRAMENTO ...................................................................................................... 46 
14 AS DIFERENÇAS ENTRE OS PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DE L1 E L2 ........ 48 
15 OS PRINCIPAIS PROBLEMAS DA TEORIA ........................................................ 50 
16 ARQUITETURA DE LINGUAGEM EM DIFERENTES MODELOS ................. 56 
GERATIVISTAS ......................................................................................................... 56 
17 O MODELO GERATIVISTA .................................................................................. 58 
18 O FENÔMENO DA AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM MATERNA; FASES DA ....... 60 
AQUISIÇÃO ............................................................................................................... 60 
18.1 Propriedades da Aquisição de Linguagem ..................................................... 60 
18.2 Aquisição dos Sistemas Lexical, fonológico, morfossintático e semântico-
pragmático: ............................................................................................................. 61 
18.3 Dez meses...................................................................................................... 64 
18.4 Um ano ........................................................................................................... 65 
18.5 2 anos e meio e 3 anos .................................................................................. 67 
18.6 4 e 5 anos de idade ........................................................................................ 67 
19 FONÓLOGICO E PRAGMÁTICO ......................................................................... 78 
19.1 Desenvolvimento Fonológico (dos 0 aos 5/6 anos) ........................................ 78 
19.2 Percurso de aquisição e desenvolvimento linguístico infantil: Pragmático ..... 81 
20 ABORDAGENS E TEORIAS SOBRE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM: AS .......... 84 
HIPOTESES INATISTAS E INTERACIONISTAS ...................................................... 84 
21 VYGOSTSKY: UMA BREVE HISTÓRIA ............................................................... 85 
22 AS ABORDAGNES TEÓRICAS EM AQUISIÇÃO DA LINGUAGGEM ................. 87 
 
 
23 O SOCIOINTERACIONISMO DE VYGOSTSKY ................................................... 88 
24 DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO DA LINGUAGEM .............................. 91 
24.1 Inatismo e Aquisição da linguagem ................................................................ 94 
25 O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NO BRASIL .................................................... 99 
25.1 Texto 1 ......................................................................................................... 100 
25.2 Texto 2 ......................................................................................................... 101 
25.3 Texto 3 ......................................................................................................... 101 
25.4 “A língua é um dialeto com exército e marinha”, Max Weinreich .................. 103 
25.5 Breve histórico linguístico da América Latina ............................................... 104 
25.6 Falar errado? Para quem?............................................................................ 105 
25.7 Luta contra o preconceito linguístico ............................................................ 107 
25.8 Preconceito que cala, língua que discrimina ................................................ 115 
26 EDUCAÇÃO, PRECONCEITO E IDEOLOGIA .................................................... 121 
27 O PRECONCEITO LINGUÍSTICO NA CULTURA ESCOLAR ............................ 124 
28 PRÁTICA DE ANÁLISE: ESTUDO DAS ELABORAÇÕES DIDÁTICAS DE 
LEITURA, PRODUÇÃO TEXTUAL E ANÁLISE LINGUÍSTICA ............................... 129 
29 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 136 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Fonte: thoughtco.com 
Sempre que começamos a estudar uma disciplina ou teoria particular, 
buscamos apreender os conceitos básicos que a definem e a diferenciam de outras 
teorias e disciplinas. Às vezes esses conceitos básicos são completamente 
desconhecidos e exigem muito cuidados para que possamos compreendê-los com 
certa profundidade. Outras vezes, trata-se de conhecimentos que já possuímos, ou de 
noções sobre as quais já estudamos e que parecem ser de fácil apreensão. No 
entanto, no decorrer de nossos estudos, percebemos que o que jásabíamos era 
incompleto, superficial e, em certos casos, até mesmo inadequado. 
A linguística é uma ciência que trabalha com o segundo tipo de conhecimento. 
As noções que compõem essa ciência são, inúmeras vezes, conhecidas por qualquer 
pessoa. Ora, qual é o falante que não sabe sua língua, ou que não conhece os 
aspectos principais da comunicação verbal? Ao estudarmos a linguística, discutiremos 
dois grupos de conceitos e noções básicas: um que recupera os conhecimentos 
gerais, não técnicos sobre a linguagem humana e a língua em particular; outro que 
apresenta uma visão técnica e especializada sobre estes mesmos aspectos. Não raro 
veremos que o conhecimento técnico da linguística se assemelha a algumas noções 
 
5 
 
que já possuímos, como é o caso de certas normas sociais da fala, a diferença entre 
nossa língua e outros sistemas de comunicação, entre outros. Algumas vezes, porém, 
perceberemos que a ciência da linguagem – exatamente porque se trata de uma 
ciência – sistematiza o conhecimento da área em conceitos que são muito profundos 
e que exigem uma aproximação mais técnica para sua compreensão e exploração. 
Nosso objetivo nesse capítulo é abordar de maneira especializada os conceitos e 
definições básicas da Linguística, correlacionando-os, sempre que possível, com as 
noções que fazem parte dos conhecimentos mais gerais dos falantes. 
Assim, vamos ao que interessa. Um primeiro conceito a ser descoberto é o de 
linguagem. Será que esse conceito não é suficientemente óbvio para ser explicado? 
O falante comum, não-técnico, costuma pensar no conceito de linguagem humana 
como se opondo à linguagem de sinais, gestual, corporal, linguagem da propaganda, 
da computação, etc. As diferenças entre essas noções são, no entanto, o bastante 
para se formular uma definição? O conhecimento técnico de linguagem exige que, 
paralelamente, estudemos também a noção de língua, uma vez que ambas são 
realidades muito próximas para se estudar o fenômeno linguístico. Algumas línguas 
usam apenas um termo para se referir às noções de língua e linguagem (por exemplo, 
o termo do inglês language), tão próximos são os dois conceitos. Convencionou-se 
atribuir o termo linguagem à capacidade geral que temos, enquanto seres humanos, 
de utilizar sinais com vistas à comunicação. Assim, essa capacidade chega a nós 
como resultado de um processo evolutivo. Todos os homens e mulheres, 
independente de falarem uma língua natural (como português), ou de utilizarem 
línguas de sinais na comunicação entre surdos, ou de serem acometidos de patologias 
que prejudicam a comunicação verbal, são portadores dessa capacidade, ou seja, têm 
linguagem. 
A língua, por sua vez, é uma noção que sugere que a capacidade de linguagem 
se atualiza em um material concreto, disponível culturalmente, uma língua natural. Nos 
próximos capítulos nos deteremos em outras acepções das noções de língua e 
linguagem. Por enquanto, é suficiente que fique claro que todo ser humano nasce 
dotado de uma capacidade geral chamada linguagem, ou faculdade da linguagem, e 
que essa capacidade se atualiza, se concretiza em uma língua específica, um conjunto 
de signos e normas que permitem a comunicação em uma comunidade particular. 
Dificilmente seríamos o que somos hoje, em termos de conhecimento, acesso a 
 
6 
 
informações, desenvolvimento tecnológico e relações interpessoais, sem uma 
linguagem e sem uma língua. Todas as nossas atividades cotidianas exigem que, 
direta ou indiretamente, usemos a capacidade linguística, seja para nos comunicar 
com outras pessoas, seja para contar histórias aos nossos filhos, seja para negociar 
com o gerente de nosso banco, seja para contar uma piada, uma mentira, fazer uma 
fofoca, etc. 
A língua/linguagem é atividade constitutiva e incontornável de nossa natureza 
humana, por isso, possivelmente, qualquer falante tem a habilidade de definir sua 
língua em oposição a uma língua estrangeira, reconhecer outro falante como usuário 
de sua própria língua, distinguir uma língua natural de um conjunto de sons ou letras 
sem sentido. A linguística, porém, como o estudo científico da língua/linguagem 
humanas, se ocupa com questões que provavelmente não incomodariam o usuário 
comum. Poucos falantes, por exemplo, se preocuparam em estudar a evolução da 
língua, tanto do ponto de vista de como as formas do latim, por exemplo, evoluíram 
até chegar ao que constitui hoje a estrutura das línguas românicas, como o português, 
o francês, o romeno, etc.; quanto do ponto de vista de como a capacidade da 
linguagem evoluiu na espécie humana ao longo dos milhares de anos que separam o 
homem moderno dos primeiros primatas. 
A linguística, além de questões como a tratada acima, estuda o modo como a 
língua se estrutura genericamente, através de propriedades de associação e 
distribuição, o que corresponde, parcialmente, às tradicionais análises 
morfossintáticas que fazíamos na escola. Outra preocupação da linguística é 
investigar como um falante sai de um estado em que virtualmente não conhece sua 
língua materna (porque é bebê, por exemplo) e passa ao estado em que domina as 
estruturas de sua língua, ou seja, adquire e desenvolve conhecimentos linguísticos. 
Muitas outras são as questões discutidas pela linguística, as quais serão apresentadas 
e aprofundadas nas próximas páginas deste capítulo. Apresentaremos agora algumas 
definições e conceitos elaborados por linguistas de renome, que indicam a variedade 
de abordagens que esses fenômenos recebem no campo da ciência linguística. 
 
 
 
 
7 
 
2 FUNDAMENTAÇÃO EPISTEMOLÓGICA 
 
Fonte:anacuder.com 
Segundo essa gramática, a linguagem é considerada um conjunto (finito ou 
infinito) de sentenças, construídas a partir de um conjunto finito de regras. De acordo 
com Peter (2004, p 14), essa perspectiva abrange muito mais do que as línguas 
naturais, mas, conforme seu autor (Chomsky), todas as línguas naturais são, seja na 
forma falada, seja na escrita, linguagens, no sentido de sua definição visto que: - toda 
língua natural possui um número infinito de sons (e um número infinito de sinais 
gráficos que os representam, se for escrita); - mesmo que as sentenças distintas da 
língua sejam em número infinito, cada sentença só pode ser representada como uma 
sequência finita desses sons (ou letras) (PETER, 2004, p. 15). 
Assim, é de alçada do linguista determinar quais dessas sequências finitas de 
elementos podem ser consideradas sentenças ou não. “A análise das línguas naturais 
deve permitir determinar as propriedades estruturais que distinguem a língua natural 
de outras linguagens” (PETER, 2004, p. 15). Essas propriedades são tão abstratas, 
complexas e específicas, segundo a visão chomskiana, que as crianças não as 
poderiam aprender do nada em sua fase de aquisição da linguagem. Desse modo, 
para o pai da Gramática Gerativa, a linguagem é uma capacidade inata do ser 
humano, ou seja, é transmitida geneticamente e própria de nossa espécie. Assim 
 
8 
 
sendo, a linguagem teria propriedades universais. Do mesmo modo que Saussure 
distingue a língua da fala, Chomsky distingue a competência do desempenho 
2.1 Competência e desempenho 
Na nomenclatura chomskyana, competência é definida como o sistema de 
regras que é interiorizado pelos falantes, vindo a se constituir o seu saber linguístico. 
É graças a esse saber linguístico que o indivíduo é capaz de emitir ou de compreender 
um infinito número de frases inéditas. “É um conjunto de regras que o falante construiu 
em sua mente pela aplicação de sua capacidade inata para a aquisição da linguagem” 
(PETER, 2004, p. 15). A competência possibilita ao falante: - construir, identificar e 
compreender as frases gramaticais; - interpretar frases ambíguas; - produzir frases 
inéditas; - explicar a intuição do falante nativo, ou seja, seu juízo de gramaticalidade e 
aceitabilidadesobre os enunciados realizados. Há dois tipos de competência: 
competência universal - constituída de regras comuns a todas as línguas. Exemplos: 
a negativa, a interrogativa, etc.; competência particular - constituída de regras 
específicas de cada língua. 
Exemplos: a negativa - em português, utilizamos o advérbio de negação não; 
em francês, utiliza-se a expressão ne pas com o verbo intercalado; em inglês 
utilizamos o not para o verbo auxiliar to be e usamos o not mais o auxiliar to do para 
os outros verbos. 
2.2 Desempenho 
Quando o falante se utiliza da competência nos seus variados atos de fala, 
atendendo às diversas situações comunicativas, dizemos que essa manifestação é 
seu desempenho, “performance” ou atuação. Segundo Dubois (1978, p. 463-464), as 
performances (ou desempenhos) linguísticas do falante são dependentes de alguns 
fatores, tais como: - competência do sujeito psicológico; - situação comunicativa; - 
memória e atenção; - contexto social; - relações psicossociais entre falante e 
interlocutor; - afetividade entre os participantes da comunicação. Segundo Peter 
(2004, p. 15), “o desempenho pressupõe a competência, ao passo que a competência 
não pressupõe o desempenho. A tarefa do linguista é descrever a competência, que 
é puramente linguística, subjacente ao desempenho” 
 
9 
 
3 HISTÓRICO DA DISCIPLINA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO CURRÍCULO 
ESCOLAR 
Os problemas relativos ao ensino de Língua Portuguesa no Brasil vêm de longe. 
O conhecimento e a formulação dos conteúdos da disciplina só começaram a ser 
construídos praticamente a partir de meados do século XIX. É verdade que, nos 
tempos coloniais, os mais privilegiados aprendiam a ler e escrever em português com 
os jesuítas. Mas, segundo a pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e 
Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Magda Soares, isso ocorria 
sem qualquer componente curricular. Tratava-se apenas de um processo de 
alfabetização, e, uma vez alfabetizado, o aluno passava direto para a aprendizagem 
da gramática em latim, a partir de livros escritos na Roma Antiga. O português, aliás, 
sequer era a língua dominante da colônia. No dia a dia e nos intercâmbios sociais, a 
comunicação era feita por meio da língua geral, de base tupi. O português era 
aprendido na escola não como componente curricular, mas como instrumento para a 
alfabetização. Desta passava-se direto ao latim, que fundamentava as práticas, no 
ensino secundário e superior, para o estudo da gramática latina e da retórica (com 
base em autores latinos e em Aristóteles). 
Até o século XVII, apesar da produção de gramáticas e dicionários, o português 
ainda não se constituíra em área de conhecimento em condições de gerar uma 
disciplina curricular, o que também decorria de seu pouco uso no intercurso verbal e 
de seu pouco valor como bem cultural. Na segunda metade do século XVIII, as 
reformas pombalinas, com o objetivo de garantir o poder sobre as colônias, intervêm 
nas condições de constituição da disciplina, ao tornar obrigatório o uso da língua 
portuguesa no Brasil e proibir o uso de outras línguas. Porém, tal como concebido pela 
reforma, o objetivo de saber ler e escrever em português, bem como de conhecer sua 
gramática, tinha ainda caráter instrumental, isto é, tornar possível o aprendizado da 
gramática latina. 
A partir dos anos 1950, começou a ocorrer real modificação no conteúdo da 
disciplina língua portuguesa, em função da progressiva transformação nas condições 
sociais e culturais e das possibilidades de acesso à escola, o que exigiu reformulação 
das funções e objetivos dessa instituição. Teria se iniciado, a partir de então, a 
 
10 
 
modificação das características do alunado, em razão da democratização do acesso 
à escola. A ampliação da oferta de escolarização teria promovido aumento da 
demanda por professores – nessa época, já formados em faculdades de filosofia –, o 
que teria implicado menor seletividade na contratação desses profissionais, e, em 
consequência, prejuízo para a qualidade de ensino. Desse modo, num processo que 
se inicia nos anos 1950 e se consolida na década de 1960, a fusão de gramática e 
livro de textos faz-se de forma progressiva, e os manuais passam a apresentar 
exercícios de vocabulário, de interpretação, de redação e de gramática. Estuda-se 
gramática a partir do texto e vice-versa, com primazia conferida àquela. Nesse 
momento, em que começa a ser transferida ao livro didático (ao seu autor) a tarefa de 
preparar aulas e exercícios, teria se intensificado, segundo a autora, o processo de 
depreciação da função docente. 
Como visto, a democratização do acesso à escola, que se iniciou na década de 
1950, produziu a necessidade de contratação de maior número de professores. A esse 
fator associam-se a necessidade de formação de professores em grande número para 
atender à demanda produzida; a implementação ainda recente dos cursos de letras 
nas faculdades de Filosofia; as mudanças no caráter interno da disciplina língua 
portuguesa, com a gramática adquirindo primazia em relação aos demais conteúdo da 
disciplina; e a dependência cada vez maior do professor em relação ao autor do livro 
didático. Essas condições são amplificadas na década de 1970, quando, pela lei n. 
5.692/71, o oferecimento de oito anos de escolarização passa a ser obrigatório. 
Segundo Soares (idem), quando a ditadura militar intervém, nas décadas de 
1960 e 1970, algumas mudanças importantes teriam sido operadas em relação ao 
ensino, em geral e ao ensino de língua portuguesa em particular. Assim, no período, 
segundo a autora, a educação foi colocada a serviço do que se nomeou 
desenvolvimento. O ensino teria assumido caráter pragmático e utilitarista, e seu 
objetivo seria o desenvolvimento do uso da língua, o que se conseguiria com 
alterações na disciplina, que se fundamentaria a partir de então em elementos da 
teoria da comunicação. Nesse novo contexto, o aluno seria visto como um emissor 
receptor de códigos os mais diversos, e não mais apenas do verbal. Ainda segundo a 
autora, a concepção de língua como sistema (ensino de gramática) e a concepção de 
língua como expressão estética (ensino da retórica e poética, e, posteriormente, 
estudo de textos) foram substituídas pela concepção de língua como comunicação. 
 
11 
 
Na década de 1960, a expansão do acesso à educação trouxe novos tipos de 
desafios aos professores de Língua Portuguesa, já que, segundo Nícia de Andrade 
Verdini Clare, o perfil dos alunos das escolas públicas mudou rapidamente: já não 
eram mais os filhos das elites letradas que nelas estudavam, mas os filhos da massa 
analfabeta do país. "O que fazer diante da nova realidade? Nivelar por baixo ou 
reprovar os alunos de forma maciça"? Ainda conforme Nícia, a expansão do ensino 
também aumentou a demanda por novos professores, e o governo militar, então 
instalado, autorizou a proliferação de faculdades particulares, “sem planejamento ou 
fiscalização” e sem preocupação com a “qualificação docente”. 
Com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases de 1971, o ensino de Língua 
Portuguesa, da 1ª à 4ª série, foi transformado em Comunicação e Expressão. Da 5ª à 
8ª série, em Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa. Como consequência 
de tais diretrizes, os exercícios de expressão oral passaram a integrar boa parte dos 
livros didáticos e os textos literários mais elaborados foram substituídos por crônicas 
de linguagem coloquial. No currículo escolar, as disciplinas de Língua Portuguesa e 
de Literatura Brasileira, só mesmo no 2º grau. 
No século XXI, a concepção de língua com diversos usos e como instrumento 
de enunciação, discurso e intercomunicação começou a ganhar corpo. Nessa visão, 
o papel desempenhado pelo aluno passou a ser pensado de maneira diferente: como 
agente ativo, autônomo e construtor de suas próprias habilidades e conhecimentos,de forma que os processos de leitura e de escrita passaram a ser vistos como o 
resultado da interação entre autor, texto e leitor. 
4 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DO ENSINO OPERACIONAL E REFLEXIVO DA 
LINGUAGEM: A LINGUAGEM COMO INTERAÇÃO, O TEXTO COMO 
ENUNCIADO, OS GÊNEROS DO DISCURSO 
A correspondência que se costuma estabelecer entre os termos língua e fala da 
linguística estrutural e competência e desempenho do gerativismo é, na verdade, uma 
correspondência parcial, pois a questão não se resume apenas à terminologia, mas 
também à definição. A língua – sistema linguístico socializado – de Saussure aproxima 
 
12 
 
a Linguística da Sociologia ou da Psicologia Social; a competência – conhecimento 
linguístico internalizado – aproxima a Linguística da Psicologia Cognitiva ou da 
Biologia (PETER, 2004, p.15). 
 
 
Fonte: cognikids.com 
 
Para melhor esclarecimento, observe o trecho abaixo, no qual incluímos, além 
da relação acima mencionada, a correspondência entre outros conceitos: 
 
SAUSSURE Língua: sistema de signos/signos organizados. Fala: ato individual de 
vontade e inteligência/maneira particular de usar a língua. A criatividade localiza-se na 
fala, pois esta apresenta um aspecto criador e livre. Permite o armazenamento dos 
signos da língua. Está no domínio da fala, é uma criação livre. 
 
CHOMSKY Competência: sistema de regras. Desempenho: maneira pessoal do 
locutor utilizar as regras, ou a competência. Há dois tipos de criatividade. O primeiro 
tipo refere-se à competência, pois é governado por regras. O segundo tipo consiste 
nos variados desvios individuais; liga-se ao desempenho. Um dos fatores que 
condiciona o bom funcionamento da performance. Está no domínio da competência. 
 
 
13 
 
SOCIOLINGUÍSTICA embora o conceito que vem a seguir não tenha sido 
desenvolvido especificamente dentro da Sociolinguística, foi amplamente utilizado por 
essa área do saber. 
4.1 A Linguagem como Interação 
A linguagem é, antes de tudo, social. Portanto, sua função inicial é a 
comunicação, expressão e compreensão. É por meio das relações sociais que o ser 
humano aprende e ensina, constrói e desconstrói conhecimento. A constante 
interação entre o sujeito e o mundo exterior é o processo pelo qual se dá o 
desenvolvimento intelectual humano (PIAGET, 1978, p. 59). Assim sendo, a 
concepção de linguagem mais aceita atualmente compreende a língua como uma 
atividade coletiva, realizadora de ações através da interação social e cognitiva. A 
linguagem é uma ação interativa que, se bem desempenhada, pode ter efeitos 
decisivos na vida do indivíduo e na vida das pessoas ao seu redor. É no contexto 
social que percebemos e tomamos noção do poder que nossas palavras exercem e 
se através delas estamos alimentando relações de qualidade ou não. 
A comunicação é permeada de um caráter problematizador que gera 
consciência crítica e permite a busca do compromisso de transformação da realidade. 
Interação e linguagem são elementos que se complementam. A vida social do 
ser humano se constitui a partir de sua capacidade de interagir com seus semelhantes 
por meio da linguagem. Desta forma, cada indivíduo, ao utilizar a língua, não apenas 
diz o que pensa, mas também age sobre as pessoas, visando influenciar determinadas 
atitudes ou comportamentos. Esse contato entre o sujeito e o grupo acaba por resultar 
na construção de conhecimentos e em uma aprendizagem significativa para todos. 
Dentro deste contexto, educação e interação se entrelaçam, sendo que a 
comunicação entre professor e aluno acontece por intercâmbio da linguagem, e, desta 
forma, promove-se a interação. Cabe a cada um de nós nos utilizarmos da maneira 
mais sábia possível desta poderosa fusão que é a interação através da linguagem. 
 
14 
 
4.2 O Texto como Enunciado 
De maneira geral, os enunciados podem ser considerados como sendo 
acontecimentos discursivos, isto é, são as unidades de comunicação/interação entre 
os sujeitos. 
Para que possamos refletir a respeito do enunciado, é preciso, primeiramente, 
discutirmos a respeito da Linguística da Enunciação, área da filosofia da linguagem 
que trata do estudo dos enunciados, dos discursos e suas condições de produção. 
Essa área de estudos da linguagem ganhou destaque com a publicação da obra 
Marxismo e Filosofia da Linguagem (1929), quando Mikhail Bakhtin lançou as bases 
de um novo arcabouço teórico-metodológico para análise dos fenômenos de 
linguagem, cujo objeto é a enunciação, isto é, a interação verbal. 
Bakhtin enfatiza a relevância de se considerar o trabalho com a linguagem a 
partir das condições reais de uso, e não a partir da classificação e da análise de 
categorias fixas e classificatórias das palavras e do funcionamento das línguas. Isso 
porque, para o filósofo russo, todo enunciado tem caráter fundamentalmente dialógico, 
ou seja, os enunciados geram efeitos de sentido que só podem ser analisados no 
contexto de enunciação e estão sempre relacionados a outros enunciados anteriores 
e àqueles que ainda estão por vir. 
É no enunciado que se encontram as mais variadas formas de expressividade 
linguística, estando essas formas de expressão em estado de incompletude ou 
inacabamento, prontas para responder aos enunciados já proferidos ou àqueles que 
ainda serão realizados, isto é, estão em função das formas das enunciações, 
realizadas nos momentos de interação. 
Para analisarmos um enunciado, é preciso observá-lo a partir de sua relação 
dialógica, ou seja, como cada enunciado é um elo na corrente de outros enunciados. 
Essa corrente só pode ser vista na sua atuação e materialização linguística, a exemplo 
dos textos verbais, orais ou escritos. Isso significa que encontramos nos textos 
(verbais ou não) um exemplo de enunciado concreto. O enunciado e o texto são 
compreendidos como sendo um só fenômeno concreto, como unidades de intercâmbio 
verbal. 
 
15 
 
4.3 Gêneros do discurso 
É vivendo a vida com os textos, isto é, atuando e nos comunicando nos 
diferentes campos/ esferas de atividade pelas quais circulamos em nosso cotidiano – 
em casa, no trabalho, estudando, informando-nos por meio do jornalismo, 
consumindo, apreciando e fruindo obras de arte, divertindo-nos – que enunciamos e 
materializamos nossos textos orais, escritos e multimodais. Os gêneros de discurso 
nos servem nesses momentos, pois são as formas de dizer mais ou menos estáveis 
em nossa sociedade. Todos os cidadãos sabem o que são e reconhecem notícias, 
anúncios, bulas de remédio, cheques, livros didáticos, bilhetes etc. 
A estrutura de determinado tipo de texto pode ser mais flexível ou menos, aos 
mais flexíveis chamamos informais, pode ser uma carta para a mãe, um bilhete que 
escrevemos escondido durante uma aula chata, um bate papo na internet, ou a fala 
corriqueira entre as pessoas. Já aos textos menos flexíveis, que são mais rigorosos 
na sua estrutura, chamamos textos formais, são os ofícios (declaração, solicitação, 
contrato, etc.), os textos literários, os científicos, os jornalísticos, etc. Em suma, estes 
últimos são os textos que não aceitam, ou aceitam pouco, as mudanças nas regras de 
sua construção. Alguns textos formais, dependendo do seu contexto, podem ficar 
informais, como é o caso do texto literário, que se situaria no campo da formalidade, 
porém se lêssemos as narrativas modernas, perceberíamos a tentativa de fugir do 
padrão principalmente depois dos modernistas. 
Além dos textos formais e informais, temos os tipos de textos verbais e não 
verbais. Os primeiros são aqueles predominantemente escritos. Com a palavra como 
meio de compreensão. São os tipos de textos mais aceitos como textos. Porém 
também há os textos não-verbais que se caracterizam ou pela oralidade, pelo som, ou 
pela visão. Um exemplo de texto oral é a música, que podemos chamar de textos, pois 
tem um autor que a direciona ao leitor,ou ouvinte; as músicas são produzidas 
geralmente com um sentido; têm um contexto e tem uma estrutura material. Mesmo 
as músicas que não tem letra foram produzidas seguindo rigorosas regras, produzindo 
uma sensação, produzindo um sentido. Quem compõe música sabe disso, não é 
possível produzir uma sem seguir as regras deste tipo de texto. 
Dependendo do meu papel na sociedade, ou dos meus interesses eu vou me 
manifestando com tantos tipos de textos que eu precisar, por isso torna-se tão 
 
16 
 
importante conhecermos e compreendermos cada característica de tipos de texto 
diversos. A minha vida e as atividades humanas das quais eu participo vão determinar 
a minha fluência ou não para cada texto. Texto e contexto se desenrolam com a nossa 
vida. Uma existe para a outra assim como a palavra para o escritor, ou o traçado para 
o pintor, ou o som para o compositor. Texto e contexto transformam nossa vida através 
dos tipos relativamente estáveis de texto, em suma, através dos gêneros do discurso. 
5 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS 
A língua portuguesa encontra-se em constante alteração, evolução e 
atualização, não sendo um sistema estático e fechado. O uso faz a regra e os falantes 
usam a língua de modo a suprir suas necessidades comunicativas, adaptando-a 
conforme suas intenções e necessidades. Sendo uma sociedade complexa, formada 
por diferentes grupos sociais, com diferentes hábitos linguísticos e diferentes graus de 
escolarização, ocorrem variações na língua, principalmente de caráter local, temporal 
e social. 
Nem todas as variações linguísticas usufruem do mesmo prestígio, sendo 
algumas consideradas menos cultas. Contudo, todas as variações devem ser 
encaradas como fator de enriquecimento e cultura e não como erros ou desvios. 
5.1 Norma 
Este termo foi introduzido por Eugênio Coseriu (1980), um funcionalista da 
linguagem. Ele considera a norma um elemento intermediário entre língua e fala, e 
ainda como um conjunto de realizações linguísticas constantes e repetidas, tendo um 
caráter social. Assim, norma é tudo o que é comum e corrente numa comunidade de 
fala. Se considerarmos a língua abstrata e coletiva e a fala real e individual, então a 
norma será real e coletiva. Mesmo tendo a fala um caráter individual, todo falante 
segue a norma de sua região ou grupo social. Exemplos: A forma fazido, do verbo 
fazer, pode ser norma na linguagem das crianças e na linguagem de pessoas sem 
escolarização. A norma de pessoas adultas e escolarizadas é feito; Entre os sulistas: 
 
17 
 
semáforo; entre os nordestinos: sinal; A variante antão, para alguns caipiras, então 
para a norma da cidade grande, etc. 
5.2 Norma Culta 
“Conjunto de hábitos linguísticos vigentes no lugar ou na classe social mais 
prestigiosa do país” (CÂMARA JUNIOR, 1998, p.177). Verifica-se que, segundo a 
Gramática Normativa, norma é um conjunto de regras impostas à comunidade 
linguística. Veja que essas regras impõem um padrão do bem falar/escrever, pois 
determina os conceitos de “certo” e “errado” no uso da língua. Já para a 
Sociolinguística, teríamos tantas normas quanto os diferentes falares ou as variedades 
de uma língua. Essa visão unificada e homogênea da língua é bastante criticada pela 
Sociolinguística. Para ela, a língua é heterogênea e se manifesta em variedades que 
dependem de vários fatores: grau de escolaridade, região dos falantes, sexo, faixa 
etária etc. 
5.3 Dialeto subdialeto, idioleto e outros letos 
Esses conceitos se justificam pelo fato de as línguas não serem apenas 
estruturas (na visão de Saussure ou estruturalista a língua seria apenas uma 
estrutura). Sabemos que as estruturas de uma língua não apareceram por 8 acaso; 
são condicionadas histórica e geograficamente e estão inseridas em um contexto 
social. Desse modo, pode-se investigar a realidade linguística, considerando-se as 
diferentes abordagens da língua. Se a estudarmos como estrutura ou sistema, 
deveremos nos orientar pelas propostas do Estruturalismo; se seguirmos as 
orientações da Sociolinguística, estudaremos a língua através de seus dialetos. Há 
certa variação, quanto à definição de dialeto. 
No dizer de Monteiro (2000, p. 46): 
 
“As variações de uma língua são decorrentes do fato de a linguagem ser uma 
forma de atividade cultural praticada por vários grupos sociais. Essas variações podem-se 
manifestar de indivíduo para indivíduo e de grupo para grupo”. 
Cada dialeto pode-se dividir em subdialetos, já que os dialetos não oferecem 
uma unidade absoluta em todo território por onde se estende. Desse modo, os 
 
18 
 
subdialetos irão apresentar traços linguísticos secundários entre zonas desse 
território. Os traços linguísticos que servem de parâmetros para a classificação em 
dialetos e subdialetos de uma língua, geralmente, são os fonológicos e os 
morfológicos, pois estes traços são mais estáveis nas línguas. Castim (1994, p. 48), 
ao otimizar algumas ideias sobre o dialeto, apresenta os seguintes tópicos: - todo 
dialeto é um sistema de signos e de regras combinatórias da mesma origem do 
sistema considerado como língua; - nos países que possuem uma língua oficial, o 
dialeto é excluído das relações oficiais e das escolas. Exemplo: o caso do francês e 
do champanhês; - o dialeto mantém com a língua de que se origina traços linguísticos 
fundamentais e o sentimento de comunidade entre os seus usuários. Exemplo: o 
português do Brasil e de Portugal; - o termo dialeto caracteriza também um sistema 
de signos e de regras de um determinado grupo social, comumente conhecido por 
jargão (jargão de médicos, de engenheiros, de advogados, de militares). 
Dentro deste quadro geral de dialetos, subdialetos, vamos encontrar o idioleto, 
que é definido como o conjunto de enunciados realizados por uma só pessoa; por isso 
é considerado a menor limitação de um dialeto. Isso porque numa comunidade não 
vamos encontrar duas pessoas que falem do mesmo jeito. “A noção de idioleto parte 
do princípio de que cada pessoa tem sua maneira própria de usar a língua, dependente 
que é de condições psicofisiológicas, ambientais e sociais” (Ibidem). 
Há, dentro desta área, outros termos como – o socioleto, o tecnoleto, o 
biodialeto, o interleto. O primeiro termo, também chamado dialeto social, corresponde 
ao uso linguístico próprio de uma classe social. Citando Monteiro (2000, p. 50), “é o 
conjunto de traços linguísticos empregados preferencialmente por um determinado 
estrato social”. O tecnoleto, o próprio nome já ajuda, é uma variedade linguística 
própria de um domínio profissional, exemplos: o economês, o pedagogês. O biodioleto 
refere -se ao uso linguístico influenciado pelas fases da vida (criança, adolescente, 
idoso) ou de aspectos biológicos do falante; pode-se classificar em etnoleto – faixa 
etária, ou sexoleto - diferenças no falar atribuídas ao fator sexo. Já o interleto 
acontece, principalmente, quando os falantes moram em zona fronteiriça entre duas 
línguas. Assim, eles falam com influência das duas línguas, ou uma língua franca. Os 
conceitos advindos da Sociolinguística são inúmeros, por enquanto vamos ficar com 
esses. 
 
 
19 
 
6 LINGUÍSTICA TEXTUAL FRASE, TEXTO E CONTEXTO 
 
Fonte: www.theodysseyonline.com 
Por um bom período, a Linguística cuidou apenas das palavras; com o 
desenvolvimento dos estudos linguísticos, voltou-se para a frase e depois para o texto. 
Atualmente a Linguística volta-se mais para o discurso, um campo de análise bastante 
procurado por pesquisadores. 
 
Frase 
Em relação à frase, vamos resumir três visões: 
 
Por exemplo: 
Este livro aborda assuntos de Linguística para os alunos de Educação a Distância. 
 
Os primeiros constituintes desta frase: I - Este livro II - aborda assuntos de 
linguística para os alunos de Educação a Distância. Depois poderíamos subdividir 
cada constituinte: I - 1 – Este 2 – livro II - 1- aborda assunto de linguística 2 - para 
alunos de Educação a Distância. No item II, as partes 1 e 2 poderiam ainda ser 
subdivididas em constituintes de ordem inferior sucessivamente. Durante muito tempo, 
a frase era vista como “uma reunião de vocábulos com sentido completo” (visão da 
 
20 
 
gramática tradicional). Contudo, modernamente, a gramática prefere dizer de que se 
constitui a frase e não simplesmente defini-la. Por essa visão, uma frase é um 
enunciado cujos constituintes assumem uma função (Gramática ou Linguística 
Funcional). De acordo com a Gramática Gerativa, a frase se define como um conjunto 
hierarquizado de constituintes: os de ordem superior e os de ordem inferior. Cada 
constituinte de ordem inferior faz parte de um constituinte de ordem superior. 
 
Texto 
Um dos primeiros aspectos a serem considerados na definição de texto é que 
ele não tem existência fora de sua produção e de sua recepção (FÁVERO; KOCH, 
1998, p.22). Outro ponto a acrescentar vem com o posicionamento de Marcuschi 
(1996, p. 9): “O texto se acha em permanente elaboração e reelaboração ao longo de 
sua história e ao longo das diversas recepções pelos diversos leitores”. Vamos 
encontrar mais adiante em Fávero e Koch (1998, p. 25), a seguinte definição de texto: 
“(...) consiste em qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo 
significativo, independentemente de sua extensão”. Logo, uma obra completa de um 
autor é um texto, um capítulo, um parágrafo, uma frase, tudo pode ser considerado 
texto, desde que forme um todo significativo. 
 
Contexto O contexto é o ambiente linguístico ou extralinguístico em que se 
encontra o texto ou qualquer um dos seus constituintes. Por ambiente ou contexto 
linguístico, compreende-se tudo aquilo que, dito antes ou depois, complementa o 
sentido de um signo. Por ambiente ou contexto extralinguístico, compreende-se tudo 
o que forma um conjunto de circunstâncias do mundo extraverbal que influencia na 
compreensão do texto (mundo verbal); na atualidade, prefere-se o uso de cotexto em 
substituição ao contexto linguístico. Segundo Levinson (1989), o contexto tem a 
função de identificar naquele evento de fala os participantes, os parâmetros temporal 
e espacial, as crenças, o conhecimento e a intenção dos participantes. Exemplos: 
“Pára de servir salgadinho, porque senão ninguém entra na festa. ” José Possi Neto, 
organizador do Oscar do cinema brasileiro, orientando os assistentes para suspender 
o coquetel no salão do Hotel Quitandinha, em Petrópolis. (Veja - 23/02/2000) 
No exemplo acima, o texto apresenta, nitidamente, duas partes; a 8 primeira 
parte (que marcamos com aspas) traz a fala de um personagem; já a segunda, (com 
 
21 
 
aspas simples) traz, por escrito, a recuperação da situação em que foi dita essa fala. 
Observe que só através do contexto extraverbal, recuperado no texto pela revista (já 
que não estávamos no momento da enunciação) é que temos condições de identificar: 
o locutor (José Possi Neto), os interlocutores (assistentes de José Possi), o parâmetro 
espacial (salão do hotel Quitandinha) e o temporal (por ocasião da entrega do Oscar 
do cinema brasileiro, em fevereiro). 
É claro que, nesse exemplo, o papel do contexto extraverbal é um pouco 
complicado, pois ele vem por escrito. “Aqui no Rio de Janeiro nem malandro está livre 
de rasteira”. Bezerra da Silva, sambista, para quem a Riotur prometeu pagar RS 12 
mil pelo show que ele fará no carnaval, mas agora avisou que pagará somente RS 1 
mil. (ISTOÉ - 01/03/2000). Analisamos, no exemplo acima, o papel do contexto 
extraverbal; vamos analisar, no segundo exemplo, o contexto verbal. Observe que o 
signo linguístico “aqui” é recuperado no próprio mundo verbal, como sendo o “Rio de 
Janeiro”. Os exemplos acima fazem parte da tese de doutoramento da autora 
(PEDROSA, 2005) que, na ocasião, defendeu esses exemplos em seu conjunto (fala 
do locutor e fala do editor) como sendo um só texto. Por enquanto, eles servem para 
o propósito, explicar contextos e co-textos. 
6.1 Conceitos Ferdinand de Saussure (1916) 
A língua não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, 
essencial dela. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e 
um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o 
exercício dessa faculdade nos indivíduos. A linguagem é multiforme e heteróclita; a 
língua, ao contrário, é um todo por si e um princípio de classificação. Ela é a parte 
social da linguagem, exterior ao indivíduo. Mikhail Bakhtin (1929) A verdadeira 
substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas 
nem pela enunciação monológica e isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua 
produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal. A língua vive e evolui 
historicamente na comunicação verbal concreta, não no sistema linguístico abstrato 
das formas da língua nem no psiquismo individual dos falantes. Edward Sapir (1929) 
A linguagem é um método puramente humano e não instintivo de se comunicarem 
 
22 
 
ideias, emoções e desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos. 218 
Noam Chomsky (1957). 
A linguagem é um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em 
seu comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos. Noam 
Chomsky (2000) A linguagem é um componente da mente/cérebro humanos 
especificamente dedicada ao conhecimento e uso da língua. A faculdade da 
linguagem é o órgão da linguagem. A língua é então um estado dessa faculdade. 
Carlos Franchi (1977) A língua é atividade constitutiva. Pela diversidade dos 
posicionamentos apresentados acerca da definição de língua/linguagem, percebemos 
que a linguística é marcada pela constante discussão e retomada do seu objeto de 
estudo. Essas posições sinalizam, além do marco teórico defendido por seus autores, 
uma postura filosófica sobre o papel da linguagem na vida dos seres humanos. 
 
Do conjunto de definições, percebemos que a língua ora se apresenta como um 
sistema de representação da realidade, ora como um instrumento de comunicação, 
ora como uma forma de ação social. Essas concepções orientam a escolha de uma 
definição teórica de linguagem. 
6.2 Concepções de Linguagem 
• Linguagem como representação do pensamento e do conhecimento. 
• Linguagem como um código para a comunicação. 
• Linguagem como uma forma de ação interativa. 
 
O conceito de língua adotado pelo linguista suíço Saussure instaura, no século 
XX, a autonomia da Linguística como ciência. Saussure define língua por oposição à 
linguagem e à fala. O conceito de ciência nesse período era marcado pela busca de 
teorias capazes de explicar qualquer fenômeno de modo universal. A linguagem não 
serviria como bom objeto para a nova ciência porque era “multiforme e heteróclita”, 
isto é, o conhecimento da linguagem envolveria a investigação de sua natureza 
mental, abstrata, psicofisiológica, o que extrapolaria os limites da linguística. Por outro 
lado, a fala, como fenômeno individualizado não se prestaria à elaboração de uma 
teoria capaz de explicar todas as línguas. Surge, então, o conceito de língua, como 
 
23 
 
um recorte feito pelo autor, para explicar o caráter concreto, homogêneo e objetivo do 
fenômeno linguístico. 
A noção adotada por Saussure aponta para língua como um sistema, ou seja, 
uma estrutura formal passível de classificação em elementos mínimos que compõem 
um todo. Esses elementos se organizam por princípios de distribuição e associação, 
verificáveis em todas as línguas naturais. Mikhail Bakhtin, filósofo e linguista russo, 
concebe o fenômeno linguístico de modo bastante diferente de Saussure. Para este 
autor, a discussão sobre o caráter abstrato ou individualista da linguagem é 
simplesmente inadequada. O que constitui a língua é sua natureza socioideológica,isto é, o complexo de relações existentes entre língua e sociedade. Essas relações se 
materializam no discurso, perceptível nos enunciados proferidos pelos falantes, em 
situações comunicativas concretas. Bakhtin destaca o papel das relações 
intersubjetivas entre o falante e o ‘outro’ como instaurador de uma concepção 
adequada de linguagem, privilegiando a ação dialógica no curso da história, em uma 
sociedade. Para o antropólogo-linguista estadunidense, de origem alemã, Edward 
Sapir, o conceito de linguagem perpassa a representação que uma determinada 
comunidade faz de sua cultura, através dos símbolos que utiliza. 
A língua é, portanto, uma categorização simbólica organizada. Juntamente com 
seu associado, Benjamin Whorf, Sapir defende a hipótese de que nós recortamos a 
natureza, a organizamos em conceitos e atribuindo-lhes significações porque 
convencionamos culturalmente organizá-la dessa forma. Essa convenção faz parte de 
um contrato que se mantém através de nossa comunidade linguística e está codificado 
nos padrões de nossa língua. Sapir e Whorf defendem que nosso universo mental é 
determinado pelas estruturas da língua que falamos, e estas estruturas são um recorte 
arbitrário da realidade. “A lógica natural diz-nos que a fala é apenas uma manifestação 
acessória, que diz estritamente respeito à comunicação e não à formulação das ideias. 
Supõe-se que a fala, ou o emprego da língua exprime apenas o que, em princípio, já 
está formulado não verbalmente. A formulação é um processo independente, 
denominado pensamento e considerado muito escassamente tributário do caráter 
particular das diferentes línguas. O relativismo linguístico modifica o veredicto do 
Senhor Senso Comum. Em vez de dizer ‘as frases são diferentes porque evocam fatos 
diferentes’, passa a dizer ‘os fatos são diferentes’ para os locutores cujo pano de fundo 
linguístico atribui a esses fatos uma formulação diferente” (WHORF, 1956, p. 117; 
 
24 
 
160). Para o linguista Avram Noam Chomsky, a linguagem humana baseia-se em uma 
propriedade elementar biologicamente isolada na espécie humana: a infinitude 
discreta. Esta propriedade é comparável àquela dos números naturais, ou seja, 
elementos discretos (símbolos oponíveis entre si) combinam-se produzindo todas as 
possibilidades de números existentes. No que se refere à teoria linguística, o autor 
reproduz o pensamento de Humboldt (séc. XVII) de que a língua possui meios finitos 
para produzir uma sequência infinita de enunciados. Esse conhecimento é, portanto, 
parte de um fenômeno natural, biológico, que nos alcançou através da evolução da 
espécie. Chomsky acredita que o conhecimento da linguagem é individual e interno à 
mente e ao cérebro humano. 
A faculdade da linguagem, para essa teoria, é uma propriedade da espécie 
humana que varia muito pouco entre os indivíduos e que não tem análogo significativo 
em outras espécies. A linguagem humana é, portanto, um objeto biológico e deve ser 
analisada segundo a metodologia das ciências naturais. Assim, um estudo adequado 
da língua precisa tratar de seu construto mental, uma entidade teórica a que Chomsky 
se refere como Língua-I, uma propriedade interna do indivíduo. Segundo o autor, todas 
as propriedades essenciais da língua são construídas desde o início. A criança não 
precisa aprender as propriedades da língua a que está exposta, apenas seleciona 
opções específicas de um conjunto pré-determinado. O órgão da linguagem 
(faculdade) de uma criança está em estado L (linguagem internalizada). A teoria da 
linguagem dessa criança é a gramática de sua língua. 
A língua determina uma gama infinita de expressões (som + significado), ou 
seja, a língua gera expressões na linguagem. Esta teoria de linguagem é chamada de 
gramática gerativa. No Brasil, o linguista Carlos Franchi, da UNICAMP, nos apresenta 
noção de linguagem que extrapola os limites estruturais, comunicativos e cognitivos 
dentro dos quais a língua havia sido pensada. Para Luiz Antônio Marcuschi (2003, p. 
46), eminente linguista que comunga com o pensamento de Franchi, “A língua é muito 
mais do que uma simples mediadora do conhecimento e muito mais do que um 
instrumento de comunicação ou um modo de interação humana. 
 A língua é constitutiva de nosso conhecimento”. Bem repetindo Humboldt, a 
linguagem é um processo cuja forma é persistente, mas cujo escopo e modalidades 
do produto são completamente indeterminados; em outros termos, a linguagem em 
um de seus aspectos fundamentais é um meio de revisão de categorias e criação de 
 
25 
 
novas estruturas. Nesse sentido a linguagem não é somente um processo de 
representação, de que se podem servir os discursos demonstrativos e conceituais, 
mas ainda uma prática imaginativa que não se dá em um universo fechado e restrito, 
mas permite passar, no pensamento e no tempo, a diferentes universos mais amplos, 
atuais, possíveis, imaginários (FRANCHI, 1977, p. 32). 
Como atividade constitutiva, a linguagem é incontornável e imprescindível das 
relações e ações humanas, fazendo parte de nossa natureza e ativamente modelando 
nossa comunicação, nosso pensamento, nossa interação. “A rigor, para que existiria 
linguagem? Certamente não para gerar sequências arbitrárias de símbolos nem para 
disponibilizar repertórios de unidades sistemáticas. Na verdade, a linguagem existe 
para que as pessoas possam relatar a estória de suas vidas, eventualmente mentir 
sobre elas, expressar seus desejos e temores, tentar resolver problemas, avaliar 
situações, influenciar seus interlocutores, predizer o futuro, planejar ações” 
(SALOMÃO, 1999, p. 65). REFLEXÃO: Após a leitura dos conceitos apresentados 
pelos diversos autores, procure associar cada conceito a uma das três Concepções 
de Linguagem, que orientam o posicionamento teórico sobre linguagem. 
6.3 História Dos Estudos Da Linguagem 
 
 
Fonte: www.spiegel.de 
 
 
26 
 
A existência de uma ciência da linguagem não é, em si, o ponto de partida para 
os estudos sobre a relação entre a linguagem e o ser humano. Antes de a Linguística 
se constituir como ciência, seu objeto, a língua, mantinha relacionamento estreito com 
muitas disciplinas, tanto do conhecimento científico, quanto do conhecimento popular. 
Se considerarmos que desde a mais remota era, o homem já buscava formas de se 
comunicar por meio de trocas simbólicas que possivelmente deram origem à 
linguagem, tal como ela é hoje, poderíamos pressupor que desde então já havia um 
interesse latente pelo estudo da linguagem. Este interesse pela compreensão do 
fenômeno linguístico pode ser encontrado no mundo antigo por meio de mitos, lendas 
e ritos que são comuns a várias culturas (como a origem do homem, a Torre de Babel, 
etc.), e que fazem parte do conhecimento popular sobre o fenômeno linguístico, como 
sua origem (várias culturas acreditam que a língua é um dom divino ou que todas as 
línguas se originam língua falada entre um deus e o primeiro homem); seu poder de 
fazer coisas acontecerem (a história da criação do mundo em várias culturas está 
relacionada ao poder da palavra: “faça-se a luz!”); e a natureza mística das palavras 
de atraírem o bem e o mal. 
Os estudos sobre a linguagem podem ser reconstituídos à aproximadamente 
quatro ou cinco séculos antes da nossa era. Por razões religiosas, os Hindus foram, 
aparentemente, os primeiros a empreender a tarefa linguística de preservar os escritos 
sagrados do Vedas contra a falsificação. Entre os Hindus, o gramático Panini fez 
descrição minuciosa da língua falada entre seu povo, que veio a ser descoberta nos 
fins do século XVIII, popularizando entre os linguistas e filólogos o estudo do Sânscrito. 
Entre os gregos, os estudos da linguagem debruçavam-se sobre as relações desta 
com os conceitos. Investigava-se se a nomeação de um conceito por meio da língua 
era tarefa puramente convencional, ou se havia entrepalavras e conceitos uma 
relação natural. O diálogo O Crátilo, de Platão, investiga essas duas correntes para 
explicar como a língua refere-se ao mundo, denominando-as de naturalismo e 
convencionalismo. O diálogo sintetiza estas posições através da fala de suas 
personagens: Crátilo, naturalista, acredita que os nomes refletiam o mundo, e 
Hermógenes, convencionalista, defendia que os nomes das coisas lhes são atribuídos 
por convenção. Outra personagem, Sócrates, através de quem o próprio Platão 
expressa sua opinião, oferece a seguinte explicação para o debate: 
 
 
27 
 
• Tanto as coisas quanto a linguagem estão em constante movimento; 
• No início, os nomes poderiam ter exprimido o sentido das coisas, mas 
com o movimento, a expressão degenerou-se e as convenções fizeram-
se necessárias; 
• Os nomes são imitações imperfeitas das coisas; 
• A linguagem não pode nos ensinar a realidade, mas nos impede de ver 
a essência das coisas. 
 
Outro filósofo grego, Aristóteles, acreditava que a função da linguagem seria 
traduzir o mundo, representá-lo. As estruturas da linguagem, classificadas segundo 
sua natureza lógica de nomear, qualificar, predicar, etc. refletem as estruturas 
encontradas no mundo e nos permitem conhecer este. Aristóteles defendia que a 
lógica pré-existente ao mundo organizado era regente da lógica da língua. Assim, a 
linguagem teria um caráter secundário em relação à lógica natural. Nesse 
empreendimento, a estrutura da língua, do discurso e das categorias gramaticais, 
descrição pioneira de Aristóteles, era apenas um meio de se chegar ao conhecimento 
das estruturas e da lógica da realidade. Entre os romanos, que primavam por 
recuperar a herança helênica, Varrão se propôs a formular a noção de gramática, já 
presente entre hindus e gregos, como ciência e como arte. Sua obra sobre a língua 
latina se constitui um compêndio de teorias sobre etimologia, flexão, e rudimentos de 
sintaxe, nos moldes de uma gramática atual. 
6.4 Evolução Das Ciências Da Linguagem 
Após a tradição hindu, grega e latina, os estudos da linguagem assumiram 
diversas orientações que indicavam, de certo modo, a contextualização histórica 
ideológica vigente em um dado período e em um dado lugar. Assim, costuma-se 
pensar que a evolução das ciências da linguagem passou por, pelo menos, três 
períodos em que as ideias linguísticas refletiam a predominância de certas formas de 
pensar. A linguística, no século XX, retoma o caráter científico dos estudos da 
linguagem, determinando como seu objeto a língua. Antes disso, porém, língua e 
linguagem foram objetos de estudo de inúmeras ciências (como a filosofia, a lógica, a 
filologia, por exemplo). Parte das investigações sobre a linguagem, nessas ciências, 
 
28 
 
tentava responder à questão sobre o que nos diferencia, enquanto humanos, de outros 
animais: a língua era sempre apontada com a resposta a essa pergunta. Na idade 
média, por exemplo, o foco dos estudos sobre a linguagem, derivados da noção de 
que a língua tem origem divina, era conceber as estruturas linguísticas como 
universais, o que tornava as regras gramaticais um sistema lógico autônomo e 
independente das línguas naturais. Da atitude teológico-cristã, característica desse 
período, derivam alguns movimentos que contribuíram para os estudos da linguagem: 
 
• A invenção da imprensa por Johann Gutenberg dá início ao movimento 
de estudos fonéticos; 
• A religiosidade da reforma protestante faz com que se iniciem as 
traduções da Bíblia para diversas línguas diferentes do latim; 
• Os estudos de tradução dão origem às gramáticas das línguas 
chamadas de vulgares; 
• As línguas do novo mundo (Américas) passam a ser descritas pelos 
missionários e viajantes do século XVI; 
• São elaborados os primeiros dicionários poliglotas (Ambroise Calepino); 
• Os estudos de fonética progridem, gerando a descrição de centenas de 
línguas; 
• Da semelhança entre as línguas descritas, surge a hipótese de que todas 
derivam de uma mesma origem, o Hebraico. 
 
Ao final desse período, o interesse pela linguagem como dom divino cedeu lugar 
aos estudos sobre a lógica e a razão. O movimento chamado de iluminista e, 
posteriormente, o renascimento deslocaram o interesse dos estudos científico 
filosóficos da divindade para o homem. Nos estudos linguísticos, um ícone desse 
movimento é a Gramática de Port-Royal, que concebe a linguagem como fundada na 
razão e no pensamento do homem, sendo, portanto, universal e modelo para as 
gramáticas de outras línguas. O século XIX incorpora as diretrizes racionalistas da 
Gramática de Port-Royal e inaugura um interesse pelo estudo das línguas vivas na 
comparação com outras línguas. Este movimento, denominado histórico-comparativo, 
dá origem ao método histórico das gramáticas comparadas e à linguística histórica. O 
que desencadeia esse programa de investigações é a descoberta do Sânscrito (entre 
 
29 
 
1786 e 1816), que demonstra as evidências de parentesco entre latim, grego, línguas 
germânicas, eslavas e célticas com o sânscrito. 
Essas descobertas indicam que à linguagem pode-se aplicar um modelo 
biológico de evolução: as línguas são organismos vivos que nascem, crescem e 
morrem, encontrando um tempo breve de perfeição. A linguística histórica surge da 
possibilidade de desenvolvimentos de métodos e princípios da gramática comparada. 
A comparação entre as línguas facilitava a 224 demonstração do parentesco e da 
evolução histórica de uma língua. O estudo da passagem da língua de um estado para 
o seguinte se dada mediante a análise das leis que determinavam essa evolução, 
encontradas particularmente nos textos escritos. Assim, a gramática comparada era, 
efetivamente, o estudo da evolução contínua das línguas, o que a confundia com a 
própria linguística histórica. Nesse movimento, a escola neogramática acreditava que 
a quase totalidade das transformações linguísticas poderia ser explicada no domínio 
da fonética. 
6.5 O que é gerativismo? 
A teoria linguística chamada Gramática Gerativa tem sido desenvolvida por 
Noam Chomsky e muitos outros pesquisadores desde 1957. Trata-se de uma teoria 
que se ocupa das línguas e da linguagem. Há, entretanto, várias maneiras de se 
estudar as línguas e a linguagem. O que existe, na verdade, são homens que falam, 
numa sociedade que se organiza através da linguagem. Vamos chamar isto de mundo 
das aparências, das coisas que existem concretamente. 
Para tornar inteligível este mundo das aparências, o espírito humano constrói 
modelos abstratos, teorias, que levam em conta normalmente apenas partes desse 
mundo. Quero dizer que cada modelo abstrato, cada teoria, escolhe um aspecto da 
linguagem para estudar e que não existe um modelo bem-sucedido que contemple 
todo o fenômeno da linguagem. Esta observação é válida em outras áreas do 
conhecimento, como na física, por exemplo. O que se faz, então, é privilegiar um 
aspecto da linguagem, o dos sons, por exemplo, o significado destes sons, as 
modificações da língua, geograficamente ou historicamente. Pode-se também estudar 
a conversação, o texto, etc. Ao tomar um desses aspectos da linguagem como tema 
de pesquisa já se faz um primeiro trabalho de abstração. Ora, a linguagem tem lugar 
 
30 
 
de maneira global, inteira. E é no interior do fragmento da linguagem escolhido que o 
pesquisador vai elaborar seu objeto de estudo. A Gramática Gerativa vai se ocupar, 
privilegiadamente, da sintaxe das línguas, mas não é a sintaxe das línguas seu objeto 
de estudo. A sintaxe das línguas é apenas um meio para se descrever uma entidade 
teórica chamada de Gramática Universal. 
Este é o objeto de estudo da Gramática Gerativa. A Gramática Universal pode 
ser definida, inicialmente, como os aspectos sintáticos que são comuns a todas as 
línguas do mundo. Supõe-se então que, apesar da variação que existe entreas 
línguas, isto é, apesar das línguas serem diferentes (por exemplo, o fato de o objeto 
direto Abordagens e teorias sobre a aquisição da linguagem: as hipóteses inatistas e 
interacionista; aparecer antes do verbo em japonês e depois do verbo em português) 
existiria uma gramática subjacente a todas elas. Esta gramática seria composta de: 
 
1) Mecanismos que permitiriam colocar em relação termos da língua, 
formando níveis de representação associados com a interpretação do 
significado dos sons 
2) Um conjunto de princípios que restringiriam as possibilidades de 
combinação desses. 
 
Esta gramática conteria também certos parâmetros que determinariam as 
dimensões de variação das gramáticas das línguas. Esta gramática só permitiria 
também a ocorrência de frases bem-formadas de uma língua. A dicotomia frase bem 
formada/malformada não se confunde com a oposição frase correta/incorreta da 
gramática tradicional: a frase incorreta pode ser uma frase bem-formada. Embora a 
gramática só permita a ocorrência de frases bem-formadas, o linguista lida também 
com frases malformadas. O linguista trabalha, na verdade, no limite entre as frases 
bem-formadas e as malformadas. É, neste limite, para usar uma metáfora, entre o 
mundo da gramaticalidade e o mundo da agramaticalidade, que se podem identificar 
os princípios da Gramática Universal. Nesse sentido, vale a brincadeira segundo a 
qual o gerativista não gosta da língua. A análise da língua, que é extensa, é só um 
pretexto para se estabelecer a Gramática Universal. Essas ideias redefiniram a 
natureza da linguagem e da teoria linguística. 
 
31 
 
Diferentemente do estruturalismo que edifica sua teoria a partir de uma 
pergunta sobre a gênese da significação, a gramática gerativa propõe que o que é 
essencial à linguagem é a sua recursividade, isto é, o fato de com elementos finitos 
ser possível gerar frases infinitamente. Frases em número infinito, mas não todo tipo 
de frase. A questão que se coloca é saber o que faz com que uma frase seja uma 
frase de uma língua. Conclui-se, assim, que existem princípios que filtram as frases 
mal formadas. Como a ideia da existência da Gramática Universal pôde ser 
considerada plausível? Ora, é uma ideia estranha: no mundo das aparências as 
línguas variam; existe até o mito bíblico da torre de Babel. Para justificar a hipótese da 
Gramática Universal, há uma crença e dois tipos de evidências que podem ser 
chamadas de empíricas. A crença, que é a mesma que permitiu o aparecimento da 
física clássica no século XVII, é a de que existe uma ordem oculta no universo, ou 
seja, subjacente ao caos do mundo das aparências, existe um mundo perfeito 
composto de leis que o cientista deve descobrir ou estabelecer. 
A hipótese da Gramática Universal pode ser vista como uma transposição 
dessa crença para o domínio da linguagem. Assim como existem as leis que pré-
determinam o universo, há os princípios que pré-estabelecem as possibilidades de 
variação entre as línguas. O gerativista, que é um iluminista (mas não iluminado), 
espera: o que não damos conta hoje, podemos dar conta amanhã. 
O primeiro tipo de evidência que sustenta a hipótese da gramática universal é 
o trabalho empírico de análise de línguas. O que se faz é um trabalho de sintaxe 
comparativa no qual se procura estabelecer regularidades entre as línguas e, a partir 
dessas regularidades, princípios que as expliquem. Se encontrarmos, por exemplo, 
comportamento sintático espetacularmente similar entre o português do Brasil e o 
chinês, como em VITRAL (1992), não há a possibilidade de se explicar isto através de 
contato entre as línguas, empréstimo, etc. Parece necessário supor que há algo em 
comum, num nível abstrato, entre essas línguas. O outro tipo de evidência que 
sustenta a hipótese da gramática universal diz respeito à aquisição da linguagem pela 
criança. As características da aquisição da linguagem desfavorecem a ideia de que a 
aquisição da linguagem se dá pela transmissão de estruturas linguísticas externas 
(que o adulto domina) para a criança que as intrometa. As coisas não se passam 
assim. Há evidências que mostram que o ambiente linguístico da criança apenas ativa 
estruturas que já são de posse da mesma. Além disso, a aquisição da linguagem é 
 
32 
 
homogênea, isto é, independe de classe social, grau de estimulação e tem lugar entre 
1 e 4 anos; a aquisição também é completa, ou seja, a criança aprende todo o sistema 
linguístico. 
Não há casos de aprendizagem parcial: seria uma hipótese absurda a criança 
aprender as frases interrogativas, mas não saber estruturar nem interpretar as frases 
relativas porque a mãe trabalha fora e não tem tempo de ensinar. Supondo então que 
a hipótese da gramática universal seja plausível, como explicar por outro lado, o fato 
de ela ser universal? Ou seja, por que ela é comum a todas as línguas? Chomsky 
propõe que a gramática universal deve ter uma base biológica, isto é, o que se chama 
de Gramática Universal é uma teoria sobre aparecer antes do verbo em japonês e 
depois do verbo em português) existiria uma gramática subjacente a todas elas. Esta 
gramática seria composta de: 
 
1) Mecanismos que permitiriam colocar em relação termos da língua, 
formando níveis de representação associados com a interpretação do 
significado dos sons 
2) Um conjunto de princípios que restringiriam as possibilidades de 
combinação desses. Esta gramática conteria também certos parâmetros 
que determinariam as dimensões de variação das gramáticas das línguas. 
 
Esta gramática só permitiria também a ocorrência de frases bem-formadas de 
uma língua. A dicotomia frase bem-formada/malformada não se confunde com a 
oposição frase correta/incorreta da gramática tradicional: a frase incorreta pode ser 
uma frase bem-formada. Embora a gramática só permita a ocorrência de frases bem 
formadas, o linguista lida também com frases malformadas. O linguista trabalha, na 
verdade, no limite entre as frases bem-formadas e as malformadas. É, neste limite, 
para usar uma metáfora, entre o mundo da gramaticalidade e o mundo da 
agramaticalidade, que se podem identificar os princípios da Gramática Universal. 
Nesse sentido, vale a brincadeira segundo a qual o gerativista não gosta da língua. A 
análise da língua, que é extensa, é só um pretexto para se estabelecer a Gramática 
Universal. Essas ideias redefiniram a natureza da linguagem e da teoria linguística. 
Diferentemente do estruturalismo que edifica sua teoria a partir de uma pergunta sobre 
a gênese da significação, a gramática gerativa propõe que o que é essencial à 
 
33 
 
linguagem é a sua recursividade, isto é, o fato de com elementos finitos ser possível 
gerar frases infinitamente. 
Frases em número infinito, mas não todo tipo de frase. A questão que se coloca 
é saber o que faz com que uma frase seja uma frase de uma língua. Conclui-se, assim, 
que existem princípios que filtram as frases mal formadas. Como a ideia da existência 
da Gramática Universal pôde ser considerada plausível? Ora, é uma ideia estranha: 
no mundo das aparências as línguas variam; existe até o mito bíblico da torre de Babel. 
Para justificar a hipótese da Gramática Universal, há uma crença e dois tipos de 
evidências que podem ser chamadas de empíricas. A crença, que é a mesma que 
permitiu o aparecimento da física clássica no século XVII, é a de que existe uma ordem 
oculta no universo, ou seja, subjacente ao caos do mundo das aparências, existe um 
mundo perfeito composto de leis que o cientista deve descobrir ou estabelecer. 
A hipótese da Gramática Universal pode ser vista como uma transposição 
dessa crença para o domínio da linguagem. Assim como existem as leis que pré-
determinam o universo, há os princípios que pré-estabelecem as possibilidades de 
variação entre as línguas. O gerativista, que é um iluminista (mas não iluminado), 
espera:o que não damos conta hoje, podemos dar conta amanhã. 
O primeiro tipo de evidência que sustenta a hipótese da gramática universal é 
o trabalho empírico de análise de línguas. O que se faz é um trabalho de sintaxe 
comparativa no qual se procura estabelecer regularidades entre as línguas e, a partir 
dessas regularidades, princípios que as expliquem. Se encontrarmos, por exemplo, 
comportamento sintático espetacularmente similar entre o português do Brasil e o 
chinês, como em VITRAL (1992), não há a possibilidade de se explicar isto através de 
contato entre as línguas, empréstimo, etc. 
Parece necessário supor que há algo em comum, num nível abstrato, entre 
essas línguas. O outro tipo de evidência que sustenta a hipótese da gramática 
universal diz respeito à aquisição da linguagem pela criança. As características da 
aquisição da linguagem desfavorecem a ideia de que a aquisição da linguagem se dá 
pela transmissão de estruturas linguísticas externas (que o adulto domina) para a 
criança que as intrometa. As coisas não se passam assim. Há evidências que mostram 
que o ambiente linguístico da criança apenas ativa estruturas que já são de posse da 
mesma. Além disso, a aquisição da linguagem é homogênea, isto é, independe de 
classe social, grau de estimulação e tem lugar entre 1 e 4 anos; a aquisição também 
 
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é completa, ou seja, a criança aprende todo o sistema linguístico. Não há casos de 
aprendizagem parcial: seria uma hipótese absurda a criança aprender as frases 
interrogativas, mas não saber estruturar nem interpretar as frases relativas porque a 
mãe trabalha fora e não tem tempo de ensinar. 
Supondo então que a hipótese da gramática universal seja plausível, como 
explicar por outro lado, o fato de ela ser universal? Ou seja, por que ela é comum a 
todas as línguas? Chomsky propõe que a gramática universal deve ter uma base 
biológica, isto é, o que se chama de Gramática Universal é uma teoria sobre 
mecanismos inatos, uma matriz biológica que fornece uma estrutura dentro da qual se 
dá o desenvolvimento da linguagem. A gramática universal é, pois, transmitida 
geneticamente. Esta hipótese de que bases do pensamento ou da linguagem possam 
ter correspondentes biológicos ou anatômicos encontrou muita resistência esses anos 
todos. 
Estamos prontos para aceitar isto com relação a características cognitivas. O 
fato é que Chomsky acredita que devemos pressupor uma matriz biológica, com 
características que possam ser especificadas e que determinem o resultado de 
qualquer processo ao qual o organismo seja submetido, embora estejamos muito 
longe de conseguir estabelecer correspondências entre entidades biológicas e 
entidades linguísticas. Referência Bibliográfica VITRAL, L. Structure de la proposition 
et syntaxe du mouvement en portuguais brésilien. Tese de doutorado, Universidade 
de Paris VIII, 1992. 
 
35 
 
7 A HIPÓTESE DA GRAMÁTICA UNIVERSAL 
 
Fonte: www.usnews.com 
 
7.1 A gramática universal 
Na visão inatista de Chomsky é proposto que a criança “...possui uma 
Gramática Universal incorporada à própria estrutura de sua mente”, isto é a criança já 
nasce biologicamente (geneticamente) equipada com uma gramática onde se 
encontrem todas as regras possíveis da todas as línguas, um enorme conteúdo de 
informações, isto é, uma gramática universal. Essa abordagem postula que a criança 
realiza operações mentais que transforma a gramática universal na gramática da 
língua a que está exposta, da seguinte forma: a gramática universal constitui-se de um 
conjunto de regras, das quais a criança irá selecionar as que serão empregadas para 
que possa efetivamente adquirir a linguagem que está submetida e excluir todas as 
demais. Chomsky pauta seus argumentos para validar a teoria da gramática universal 
desta forma: 
 
“...a criança, que é exposta normalmente a uma fala precária, fragmentada, 
cheia de frases truncadas ou incompletas, é capaz de dominar um conjunto 
complexo de regras ou princípios básicos que constituem a gramática 
internalizada do falante. (...). Um mecanismo ou dispositivo inato de aquisição 
da linguagem (...), que elabore hipóteses linguísticas sobre dados linguísticos 
 
36 
 
primários (isto é, a língua a que a criança está exposta), gera uma gramática 
específica, que é a gramática da língua nativa da criança, de maneira 
relativamente fácil e com um certo grau de espontaneidade. Isto é, esse 
mecanismo inato faz “desabrochar “o que “já está lá”, através da projeção, 
nos dados do ambiente, de um conhecimento linguístico prévio, sintático por 
natureza”. 
 
Assim, a linguagem é atrelada a características inerentes a espécie humana, o 
que reafirma seu caráter universal, tomando a linguagem como um fator biológico e 
cognitivo. Ao assumir essa postura admite-se que o ser humano por natureza é 
detentor de uma gramática universal que possui princípios universais que fazem parte 
da faculdade da linguagem e parâmetro que serão definidos pela influência do meio 
e/ou da língua nativa. 
 
8 A TEORIA DE PRINCÍPIOS E PARÂMETROS 
Elaborada por Chomsky, em 1984, a Teoria de princípios e parâmetros 
significou uma adequação dos conceitos da gramática universal face aos 
questionamentos surgidos em torno da mesma, bem como diante das novas 
descobertas na área da aquisição da linguagem. Nessa releitura “...postula-se que a 
criança nasce pré-programada com princípios (universais) e um conjunto de 
parâmetros que deverão ser fixados ou marcados de acordo com os dados da língua 
a que a criança está exposta. A criança não escolhe mais as regras, nesta versão da 
teoria de princípios e parâmetros, mas valores, paramétricos”. 
Em outras palavras podemos dizer que se passou a acreditar que a gramática 
universal é disposta por princípios ou “leis” que são constantes e que são usadas 
igualmente em todas as línguas; contendo também parâmetros ou “leis” que tem 
representações definidas pela língua que se encontre, ocasionando as divergências 
entre as línguas e as transformações dentro de uma mesma língua. Nessa teoria a 
função da criança é analisar todas as partes e depois processá-lo a fim de atribuir o 
valor que cada parâmetro deve possuir. 
Para um melhor esclarecimento, vamos exemplificar do seguinte modo: 
 
37 
 
Partindo da concepção de que todas as frases, indistintamente da língua, requerem 
um sujeito, contudo esse sujeito não necessariamente tem que estar explicito, sendo 
esse parâmetro ou valor que deve ser fixado. A criança, dependendo do sistema 
linguístico em que se encontra, decidirá se o sujeito deve ou não constar 
obrigatoriamente na frase realizada. 
Entretanto, muitas perguntas sobre a problemática dos parâmetros ainda 
esperam por uma explicação, tais como: ”...quantos são os valores dos parâmetros? 
No estado inicial da GU, um dado parâmetro já tem uma marcação especifica ou não 
tem marcação alguma? É possível haver reparametrização? O que desencadearia a 
parametrização?...” 
Buscando desvendar como se dá à atribuição dos valores aos parâmetros 
temos três hipóteses que se propõem da conta de tal questão. A primeira afirma que 
no começo do processo os parâmetros não estão completamente presentes e só com 
o prosseguimento da aquisição da linguagem é que esses surgem, crendo também 
que os mesmos são organizados geneticamente, de modo a ocorrerem em 
determinadas etapas do amadurecimento do indivíduo, cujos fatores motivadores de 
tal processo são responsáveis pela transcrição da gramática universal para a 
gramática da língua nativa. 
A segunda hipótese divide-se em duas perspectivas, a da competência 
plena/total o entendimento que se teve é que todos os princípios estão presentes no 
começo do processo, caso não ocorra à delimitação logo, o motivo pode ser um 
problema de memória, por exemplo, na referida delimitação. Já a hipótese de 
aprendizagem lexical explica,

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