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ANA PAULA DE FARIAS GABRIEL CAETANO GONTIJO DE SOUSA GABRIELA MOREIRA LOPES YAN BRANCHES COELHO ANTUNES PROJETO DE AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL Goiânia 2020 PROJETO DE AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL Trabalho apresentado à disciplina de Introdução à Economia (ECO 1090). Prof. Leandro Bianchini de Castro Goiânia 2020 O QUE É O BACEN? Bacen, BCB e BC são siglas para Banco Central do Brasil, ou apenas Banco Central. O Banco Central do Brasil foi criado pela Lei 4.595, de 31 de dezembro de 1964. É o principal executor das orientações do Conselho Monetário Nacional e responsável por garantir o poder de compra da moeda nacional, tendo por objetivos zelar pela adequada liquidez da economia; manter as reservas internacionais em nível adequado; estimular a formação de poupança; zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro. Trata-se de uma autarquia, ou seja, possui autonomia nas suas funções e não é subordinado a outro órgão público. É responsável por garantir que a economia brasileira fique estável, regulando o sistema financeiro e mantendo o poder de compra da moeda do país, o Real. Banco Central em Brasília (DF) O Banco Central é quem autoriza as instituições financeiras a funcionar, tendo a função de fiscalizá-las. Caso não existisse ou não fosse uma entidade com essa força, poderia haver excessos por parte dos bancos, por exemplo. Os bancos comerciais, como os que estamos acostumados a frequentar e abrir contas, devem obedecer a algumas regras, mesmo tendo liberdade para colocar condições de preço e oferta de produtos. Se o Banco Central não impusesse regras que asseguram os direitos dos cidadãos, poderia haver concorrência injustas e até mesmo abusivas entre essas instituições. É também o Bacen que estabelece os serviços que devem ser gratuitos aos correntistas, como compensação de cheques e fornecimento de cartões. As instituições especializadas em investimentos, como bancos de investimentos e corretoras de valores também necessitam da autorização do Banco Central e são fiscalizadas igualmente. Desta forma, o Bacen ajuda a garantir, juntamente com outros órgãos (como a CVM) que os investidores tenham seus direitos preservados e garante segurança nos investimentos. Banco Central existe apenas no Brasil? O Banco Central não é uma entidade que existe apenas em solo brasileiro. O conceito por trás da instituição é ter uma entidade que consiga trazer estabilidade no sistema financeiro para que não haja maiores riscos à economia de uma nação. Um Banco Central pode ter um caráter de maior independência, ou seja, não sofrer interferência direta do governo. A independência dos bancos centrais ao redor do mundo, depende da dinâmica de cada país dentro do cenário global, como a realidade da sua moeda e do objetivo final de cada instituição. Os principais países do mundo adotam o modelo do Banco Central em seu sistema de governo. Os Estados Unidos, por exemplo, possuem o Federal Reserve (Fed), considerado o Banco Central mais poderoso do mundo. A Inglaterra tem o BC mais antigo do mundo, o BoE (Bank of England); a União Europeia (UE) criou em 1998 o Banco Central Europeu (BCE) e outras diversas nações também possuem essa instituição para monitorar o sistema financeiro. Principais funções do Banco Central Os principais papeis que o Bacen exerce são: manter a inflação brasileira dentro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional através e supervisionar as instituições financeiras em atividade. E isso impacta diretamente o bolso da população. Por isso, é importante entender de forma mais detalhada as principais funções do BC: • Controlar a inflação O principal instrumento do BC é arbitrar sobre a taxa básica de juros da economia, ou seja, a SELIC. Através dela, a autoridade monetária tem a capacidade de afetar a quantidade de moeda em circulação no país. Numa linha de raciocínio simples, quando existe a expectativa do mercado (auferido pelo Boletim FOCUS do próprio BC) de uma elevação da inflação em um horizonte relevante, a SELIC pode ser elevada para que haja retirada de “dinheiro” na economia e consequentemente reduzir a demanda por bens e serviços por empresas e famílias. O mesmo raciocínio é utilizado em direção contrária sempre visa a meta de inflação do ano estipulado pela CMN. • Depósitos de operações internacionais É o responsável pela reserva nacional de moedas estrangeiras no país. Atualmente, o Brasil tem uma das maiores reservas internacionais do mundo em dólares. Este montante fica sob a tutela do BC e funciona como uma espécie de “seguro” em momentos especulação cambial e sinaliza o poder que o país detém frentes adversidades no mercado internacional. • Supervisionar o sistema financeiro Outro papel importante é fiscalizar o sistema financeiro, garantindo que todas as instituições que nele atuam estejam de acordo com as normas e regras estipuladas pelo BC. Assim, o Banco Central garante a estabilidade, capacidade, desenvolvimento e equilíbrio do sistema financeiro, elaborando as normas de funcionamento e fortalecendo seu bom funcionamento. • Atuar no mercado de câmbio Desde 1999, o câmbio no Brasil é flutuante e o BC não determina as taxas entre a nossa moeda, o Real, contra moedas de outros países. Entretanto, o BC pode atuar a qualquer momento utilizando suas reservas internacionais para comprar/vender dólares no mercado à vista ou a prazo para combater alguma especulação ou choque sobre a nossa moeda. Essa atuação sempre visa conter as oscilações que possam ter efeitos sobre o IPCA, ou seja, sobre a inflação • Emitir a moeda nacional Outro papel importante do BCB é emitir papel-moeda e moeda metálica – o dinheiro que usamos no dia a dia. É a única instituição autorizada a emitir a moeda nacional, ou seja, as notas e moedas do Real. A produção/fabricação do dinheiro em si é feita na Casa da Moeda do Brasil. Mas a emissão e quem determina o quanto de moeda será produzido é o BC. Outras atribuições Dentre suas atribuições estão executar os serviços do meio circulante; receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras e bancárias; realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras; regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis; efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais; exercer o controle de crédito; autorizar o funcionamento das instituições financeiras; estabelecer as condições para o exercício de quaisquer cargos de direção nas instituições financeiras; vigiar a interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de capitais e controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país. Serviços oferecidos O Banco Central também oferece alguns serviços que podem ser bastante úteis. Ele pode ser uma boa fonte de informação sobre assuntos diretamente ligados às nossas finanças, como a cotação do dólar ou a taxa de juros dos bancos. Como: • Cotação de outras moedas: é possível ver os valores de outras moedas em relação ao Real. • Boletins informativos sobre moedas do mundo inteiro. • O valor de taxas prefixadas relativas a operações de compra e venda de bens e veículos, cartão de crédito, crédito pessoal e outros serviços bancários. • Dados importantes sobre tarifas bancárias, comparando as tarifas de diferentes bancos. • Simular a rentabilidade da poupança. • Planejamento do cartão de crédito, para quando você quer saber qual melhor jeito de quitaruma dívida do cartão. Estrutura: áreas e órgãos que têm ligação com o BC O Banco Central é dividido em algumas unidades centrais, regionais e especiais que estão espalhadas pelo território nacional. Todas as unidades estão sob a responsabilidade do presidente do Bacen e diretores da instituição. A indicação ao nome que vai presidir o Bacen é feita pelo presidente da república e votada no Senado. Para administrar as unidades do Bacen, a instituição conta com o apoio da Secretaria Executiva da Diretoria (SECRE), que é formada pela Secretaria para Assuntos Administrativos, Secretaria para assuntos da Diretoria e do Conselho Monetário Nacional, Secretaria para Assuntos Parlamentares e Secretaria de Relações Institucionais. Todas elas juntas têm a função de apoiar o BC no bom funcionamento do sistema financeiro, fiscalizando as unidades e facilitando a troca de informação entre elas. PLC – PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR QUE DEFENDE A AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL O Senado aprovou no dia 3 de novembro o projeto de lei que prevê autonomia do Banco Central. A proposta segue para a Câmara dos Deputados e estabelece mandatos de quatro anos para os diretores da instituição. O texto tem o objetivo de assegurar a autonomia do Banco Central e blindá-lo de pressões político-partidárias. No primeiro momento da sessão, os senadores aprovaram o chamado texto- base, por 56 votos a 12. Depois, analisaram e rejeitaram um destaque, que visava modificar a redação do projeto. A autonomia do Banco Central vem sendo debatida no Congresso há décadas e é defendida pela atual equipe econômica do governo. O plano de governo apresentado por Jair Bolsonaro nas Eleições 2018 falava em "independência formal do Banco Central". "O que a autonomia formal faz é conceder uma importante blindagem institucional ao BC, retirando-o das pressões e das disputas políticas de curto prazo e isso gera benefícios notáveis para os países que adotaram esse modelo. A razão é muito simples: a credibilidade do BC junto aos agentes sobe exponencialmente quando se sabe que seu compromisso básico é inarredável, é com o controle da inflação e que ele está livre das injunções e disputas políticas para atingir tal objetivo”, disse o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). O projeto diz que o objetivo fundamental do Banco Central é assegurar a estabilidade de preços. Atualmente, cabe ao BC garantir o poder de compra da moeda nacional, zelar pela liquidez da economia, manter as reservas internacionais em nível adequado, estimular a formação de poupança, zelar pela estabilidade e promover o aperfeiçoamento do sistema financeiro. A proposta aprovada diz ainda que, sem prejuízo da meta principal, o BC tem também terá os objetivos de “zelar pela estabilidade e pela eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”. Políticos favoráveis à proposta dizem que a medida pode aumentar a confiança de investidores no país e é uma boa sinalização ao mercado em um momento de crise econômica. O atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi empossado pelo presidente Jair Bolsonaro em fevereiro de 2019. O site oficial do BC define, como função da instituição, "assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente". Rumo à Câmara dos Deputados A proposta, porém, ainda tem um longo caminho a percorrer. Se aprovada pelos senadores, ainda terá que passar pela avaliação da Câmara, onde será apensada ao texto apresentado pelo Executivo, que está sob a relatoria do deputado Celso Maldaner (MDB-SC). Atualmente a Câmara está com as votações suspensas devido à disputa pela presidência da Casa. A PROPOSTA Defesa do mandato simples e da estabilidade econômica Os projetos e propostas de autonomia do BC normalmente enfatizam a importância da estabilidade da economia para o crescimento. Um dos fatores que pode causar instabilidade é a troca de governo, que deixa incerto qual será a condução da política econômica. Um governo com poderes de eleger e demitir a diretoria quando convier deslegitima as promessas do Banco Central de manter a condução das políticas econômicas como elas vêm se desenvolvendo. E elas se desenvolvem, atualmente, em prol do mandato simples, ou seja, do controle da inflação. O controle da inflação seria a peça chave para manter a estabilidade econômica. Os períodos da história brasileira de grave descontrole inflacionário são relembrados para colocar o quão importante é conter a escalada de preços. Uma inflação descontrolada impossibilita a realização de investimentos, impedindo, por consequência, o crescimento econômico. Ao atuar sobre o controle da inflação, o Estado estaria, portanto, cumprindo o seu principal papel. Atuações para além disso teriam como consequência não só o descontrole inflacionário, mas a estagnação econômica. “Cumprindo bem sua função, de controle da inflação, o BC acaba permitindo que se tenha um crescimento sustentável. Impor ao BC uma obrigatoriedade de ter um ‘olho no peixe e outro no gato’ pode enfraquecer o controle da inflação, que é a tarefa precípua dos bancos centrais.” ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola para o Estadão. Organização Interna O Banco Central tem nove diretores, sendo um deles o presidente da instituição. Após serem indicados pelo presidente da República, os aspirantes ao cargo passam por sabatina e votação no Senado. O projeto aprovado pelo Senado nesta terça não altera a composição dessa diretoria colegiada do Banco Central, mas estabelece mandato de quatro anos para o presidente do BC e os demais diretores. Todos eles podem ser reconduzidos ao cargo, uma única vez, por igual período. O texto também prevê que o mandato da presidência do BC não coincidirá com o da presidência da República. De acordo com o texto, o presidente do Banco Central assume o cargo no primeiro dia do terceiro ano do mandato do presidente da República. “A simples disposição legal de que há autonomia formal, com a não coincidência de mandatos com o Presidente da República, evita até mesmo interpretações muitas vezes equivocadas de que o Banco Central do Brasil deixou de aumentar a taxa básica de juros para conter a inflação por causa de pressões político-partidárias ou eleitorais”, afirmou o relator Telmário Mota (PROS-RR). O texto também estabelece a substituição de forma escalonada dos demais membros da diretoria. A cada ano, um diretor é substituído, de forma a garantir uma "rotatividade" no colegiado. Para o relator da proposta, o mandato fixo e a estabilidade do cargo darão aos membros da diretoria do Banco Central segurança necessária para implementar a política monetária que considerarem mais adequada. Pela proposta, o presidente do Banco Central deverá apresentar a cada seis meses, em sabatina no Senado, relatório de inflação e de estabilidade financeira, explicando as decisões tomadas no semestre anterior. Atualmente, o Banco Central é vinculado – mas não subordinado – ao Ministério da Economia. Se a proposta virar lei, o Banco Central passará a ser classificado como uma autarquia de natureza especial caracterizada pela “ausência de vinculação a Ministério, de tutela ou de subordinação hierárquica”. O projeto também diz que o BC se caracterizará pela “autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira”. Autor do projeto, Plínio Valério (PSDB-AM) disse que assegurar autonomia ao BC não significa torná-lo independente. “O meu projeto não torna o Banco Central independente. É autonomia para que ele [o presidente do BC] não seja demitido da noite prodia e possa executar o que foi traçado em comum acordo com o governo”, afirmou. Perda de mandato O projeto também estabelece as situações que levam à perda de mandato dos membros da diretoria do Banco Central: a) a pedido do próprio diretor; b) em caso de doença que o incapacite para o cargo; c) quando sofrer condenação, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, por improbidade administrativa ou em crime cuja pena leve à proibição de acesso a cargos públicos; ou d) em caso de “comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil”. Nesta hipótese, o Conselho Monetário Nacional (CMN), deve submeter ao presidente da República a proposta de exoneração, que estará condicionada à prévia aprovação por maioria absoluta do Senado. Transição e quarentena O texto aprovado prevê um cronograma de transição para o novo modelo de diretoria. Em até 90 dias após a lei ser sancionada, o governo terá de nomear os nove diretores do Banco Central. Aqueles que já ocupam os cargos não terão de passar por nova sabatina no Senado. A duração dos mandatos, para essa primeira composição, deverá obedecer ao cronograma abaixo: presidente e dois diretores com mandatos até 31 de dezembro de 2024; dois diretores com mandatos até 31 de dezembro de 2023; dois diretores com mandatos até 28 de fevereiro de 2023; dois diretores com mandatos até 31 de dezembro de 2021. O texto também prevê quarentena para os diretores do Banco Central que deixarem a instituição. Nos seis meses seguintes ao desligamento, eles ficam proibidos de prestar serviços a pessoas e empresas com quem tenham “relacionamento relevante” em razão do cargo que ocupavam. Ainda será analisado um destaque proposto pelo PT (Partido dos Trabalhadores) que prevê aumento de seis para 12 meses do tempo de quarentena. Após isso, o projeto de lei segue para votação na Câmara dos Deputados. Depósitos voluntários Os senadores também aprovaram, na sessão desta terça, um projeto que autoriza o BC a acolher depósitos voluntários à vista ou a prazo das instituições financeiras. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), aprovada em 2000, proibiu o BC de emitir títulos públicos. Com isso, essa responsabilidade é exclusiva do Tesouro Nacional. Os títulos públicos são emitidos pelo governo com o objetivo de captar recursos para o financiamento da dívida pública e das atividades em diversas áreas, como, por exemplo, saúde e educação. Esses títulos são vendidos aos bancos com o compromisso de que o Tesouro os comprará, posteriormente, em contextos de crises financeiras, para reduzir perdas de investidores. A "recompra", pelo Tesouro, aumenta a dívida pública. Atualmente, o BC precisa recorrer ao Tesouro, único que pode emitir esse tipo de título, para poder manter a taxa básica de juros fixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic. O projeto aprovado pelos senadores dá ao BC maior controle sobre o dinheiro em circulação sem que haja emissão de títulos, e, consequentemente, aumento significativo da dívida pública. "Vale lembrar que este instrumento [depósitos voluntários] já é utilizado por diversos países, inclusive pelo Banco Central americano (FED). Tal inovação permitirá parcialmente a redução gradual do volume de títulos do Tesouro na carteira do Banco Central. Com isso, haveria forte impacto potencial na redução da dívida bruta", disse o autor da proposta, Rogério Carvalho (PT-SE). 10 Anos na Presidência Atualmente, os diretores da instituição podem ser nomeados e demitidos livremente pelo presidente da República. Por conta das incertezas sobre o ritmo desse trâmite, o senador Plínio Valério apresentou, no dia 30/10, mais uma emenda ao parecer de Telmário Mota. A ideia é que a atual diretoria do BC possa ser reconduzida aos cargos, sem passar por nova sabatina no Senado, nos 90 dias seguintes à vigência da lei. Caso o projeto seja aprovado neste ano e o atual presidente Roberto Campos Neto seja indicado em 2021 para permanecer no cargo, ele poderá ficar, ao todo, quase uma década à frente do BC. Objetivo do BC O projeto manteve como objetivo primordial do Banco Central a estabilidade de preços e o controle da inflação dentro das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas adicionou objetivos secundários, como o fomento ao pleno emprego. Essa subordinação é importante, pois deixa claro que a autoridade monetária não pode abandonar, nem mesmo temporariamente, o foco na inflação para priorizar outros indicadores. Até pouco tempo alguns senadores pressionavam por um “duplo mandato” envolvendo controle da inflação e incentivo ao emprego, mas a solução foi rejeitada pelo atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, para quem uma atuação eficaz ao segurar a inflação ajuda o país a crescer e, consequentemente, já colabora com a geração de empregos. Além disso, colocar as duas prioridades em pé de igualdade traria dificuldades ao BC em momentos de inflação maior, que exigissem aumento nos juros, medida que afetaria negativamente o mercado de trabalho. PRÓS E CONTRAS DA AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL O debate acerca da autonomia do Banco Central da República do Brasil é pauta na política brasileira, haja vista a importância de avaliar a atividade econômica, a estabilidade e eficiência do sistema financeiro. Sendo assim, considerando que segundo o inciso XIV, art. 84 da Constituição Federal, cabe ao Presidente da República nomear, após aprovação do Senado Federal em consonância com os demais Órgãos Competentes, nomear o presidente e os diretores do banco central e outros servidores. Isto é, em tese o Banco Central é dotado de autonomia, contudo, no ponto de vista econômico, há uma limitação desta, onde as forças político-partidárias aparentam interferir, como citou o relator do senado Telmário Mota quando debateu a PLP 19/2019 – favorável à autonomia formal, que antes não havia -, na taxa básica de juros. Prós • A blindagem formal era necessária não apenas por acompanhar a tendência de vários outros países que também adotam o regime de metas de inflação, mas porque a história recente do Brasil recomendava a adoção da autonomia sacramentada em lei. Ainda que os dois últimos governos tenham mantido distância segura das ações do Banco Central, a taxa de juros foi alvo de pressão governamental nos anos em que Dilma Rousseff esteve no Planalto e Alexandre Tombini conduzia o BC. A irresponsável “nova matriz econômica” incluiu um ciclo de redução voluntarista da taxa básica de juros entre 2011 e 2013, mas que logo se mostrou insustentável. O resultado foi uma série de aumentos que duraram até o início da campanha eleitoral de 2014, quando a Selic ficou parada em 11% ao ano – um represamento que se espalhou pela economia, como no caso do preço dos combustíveis, causando enormes prejuízos à Petrobras. Na época, Dilma acusara seus adversários de “plantar inflação para colher juros”, mas era ela quem se adaptava perfeitamente à descrição: bastou ser reeleita para o Copom voltar a subir os juros, e menos de um ano depois a Selic chegava a 14,25%. • A autonomia do banco possui, para tanto, o fito de oferecer segurança jurídica mediante a estabilidade da moeda, que embora seja o objetivo desde os primórdios, precisaria ser reafirmada. Ademais, configura como um meio teoricamente eficaz de livrar o banco das amarras e ditames de um governo que venha a ser eleito, e, por conseguinte, tenha uma administração autônoma. Contras • No que tange a liberdade que, hodiernamente, assume o presidente do banco central – indicado ainda pelo Presidente da República -, há grandes divergências quanto à blindagem da moeda em relaçãoà política. Nesse sentido, visando as dificuldades e tamanha influência política, uma maior autonomia do banco central faria crescer a interferência do mercado financeiro, onde, de maneira geral, diverge dos interesses das classes de baixa renda. OPINIÕES A FAVOR E CONTRA De um lado, defensores acreditam que o Banco Central deve ter maior autonomia em relação ao poder Executivo, porque seu trabalho precisa ser afastado de pressões políticas. De outro lado, críticos argumentam que o Banco Central não pode ser “independente” do governo federal, porque deve cumprir a agenda econômica que foi eleita nas urnas. “Não adianta em quem a população brasileira votar para presidente ou qual o programa econômico que se eleja nas urnas. O Banco Central pode virar praticamente um Estado dentro do Estado”, analisa, Doutor em Políticas Públicas e professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Roberto Santana Santos. “Sempre defendi, e depois de ver as engrenagens em Brasília, sou ainda mais favorável. Quanto menos ingerência política, tanto melhor”, disse Abraham Weintraub “Evita-se interferências políticas, aumentando a credibilidade do Banco Central e garantindo menores juros e inflação para o brasileiro”, escreveu Amoêdo no Twitter. Do outro lado, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) questionou: “Banco Central independente dos interesses nacionais?”. A petista compartilhou um tweet da presidente de sua legenda, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), que disse que a autonomia do Banco Central permitirá que a política econômica do governo seja “facilmente capturada pelos desejos do mercado”. Ciro Gomes (PDT) compartilhou um abaixo-assinado contra a aprovação do projeto e publicou um vídeo de protesto. Para o candidato a presidente em 2018, a pauta passou no Senado sem a devida discussão com a população. “Essa é a pior facada nas costas que a população brasileira já tomou em toda a sua história moderna”, disse o pedetista. “O presidente eleito não terá controle sobre a taxa de juros, sobre o endividamento do setor público, sobre o valor da moeda brasileira em relação ao dólar.” REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DADOS ABERTOS (BCB). Disponível em: <https://dadosabertos.bcb.gov.br/organization/about/banco- central#:~:text=%C3%89%20o%20principal%20executor%20das,poupan%C3%A7a% 3B%20%2D%20zelar%20pela%20estabilidade%20e>. Acesso em: 15 nov. 2020. YOUTUBE BRASIL. Economia: autonomia do Banco Central, vantagens e desvantagens. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_hk7DCx_GAs>. Acesso em: 15 nov. 2020. G1. Senado aprova texto-base de projeto que prevê autonomia do Banco Central. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/11/03/senado-aprova-texto- base-de-projeto-que-preve-autonomia-do-banco-central.ghtml>. Acesso em: 16 nov. 2020. POLITIZE. Autonomia do Banco Central. Disponível em: <https://www.politize.com.br/autonomia-do-banco-central/>. Acesso em: 16 nov. 2020. CNN Brasil. Senado aprova projeto que garante autonomia do Banco Central. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/11/03/senado-aprova- projeto-que-garante-autonomia-do-banco-central>. Acesso em: 16 nov. 2020. XP Investimentos. Relatórios: Bacen. Disponível em: <https://conteudos.xpi.com.br/aprenda-a-investir/relatorios/bacen/>. Acesso em: 16 nov. 2020. ANDRÉ BONA. O que é e o que faz o Banco Central do Brasil. Disponível em: <https://andrebona.com.br/bacen-o-que-e-e-o-que-faz-o-banco-central-do-brasil/>. Acesso em: 16 nov. 2020. Isto É. Senado aprova projeto de autonomia do Banco Central. Disponível em: <https://istoe.com.br/senado-aprova-projeto-de-autonomia-do-banco-central/>. Acesso em: 16 nov. 2020. MONEY TIMES. Ao vivo: Senado vota autonomia do Banco Central. Disponível em: <https://www.moneytimes.com.br/ao-vivo-senado-vota-autonomia-do-banco-central/>. Acesso em: 16 nov. 2020. JOVEM PAN. Autonomia não distancia Banco Central do regime de metas, diz Campos Neto. Disponível em: <https://jovempan.com.br/programas/jornal-da- manha/autonomia-nao-distancia-banco-central-do-regime-de-metas-diz-campos- neto.html>. Acesso em: 16 nov. 2020. GAZETA DO POVO. Autonomia do Banco Central aprovada. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/autonomia-banco-central- aprovada/>. Acesso em: 16 nov. 2020. CARTA CAPITAL. Senado aprova projeto que dá autonomia ao Banco Central. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/economia/senado-aprova-projeto-que- da-autonomia-ao-banco-central/>. Acesso em: 16 nov. 2020. UOL. Autonomia do BC pode ser alterada na Câmara. Disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/11/06/autonomia-do-bc- pode-ser-alterada-na-camara.htm>. Acesso em: 16 nov. 2020. PODER 360. Entenda o projeto que dá autonomia ao Banco Central. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/economia/entenda-o-projeto-que-da-autonomia-ao- banco-central/>. Acesso em: 16 nov. 2020. PROJETO DE AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL PROJETO DE AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL
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