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ÍNDICE CAPÍTULO I: ............................................................................................................................ 1 Tema: O Papel da Liga dos Direitos Humanos .......................................................................... 1 1.1. Introdução.................................................................................................................... 1 1.2. Contextualização ......................................................................................................... 2 1.3. Problematização .......................................................................................................... 3 1.4. Objectivos do Trabalho ............................................................................................... 5 1.4.1. Objectivo Geral .................................................................................................... 5 1.4.2. Objectivos Específicos ......................................................................................... 5 CAPÍTULO II: ........................................................................................................................... 6 2.1. Metodologia .................................................................................................................... 6 2.2. Classificação da Pesquisa ................................................................................................ 6 CAPÍTULO III: .......................................................................................................................... 7 3.1. Quadro Conceptual e Teórico ......................................................................................... 7 3.1.1. Direitos Humanos ..................................................................................................... 7 3.1.2. O Nascimento dos Direitos Humanos no Mundo ..................................................... 8 3.1.3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 ......................................... 8 3.1.4. A Questão da Liga dos Direitos Humanos no Contexto Moçambicano ................. 10 3.1.5. Objectivos da Liga dos Direitos Humanos em Moçambique ................................. 11 3.1.6. Consolidações dos Objectivos de Moçambique no Sistema da ONU de Direitos Humanos ........................................................................................................................... 12 3.1.7. Os Obstáculos Sociais, Económicos e Culturais ao Acesso à Justiça .................... 12 Conclusão ................................................................................................................................. 14 Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 15 1 CAPÍTULO I: Por: Basílio Abacar Basílio Tema: O Papel da Liga dos Direitos Humanos 1.1. Introdução O presente trabalho irá versar conteúdos inerentes ao papel da liga dos direitos humanos, onde especificamente, abordar-se-á teores relacionados com o contexto histórico do nascimento dos direitos humanos no mundo, a trajectória que o processo teve para que fosse definitivamente aceite pelas nações, os pactos realizados que de certa forma, culminou com o nascimento da declaração universal dos direitos humanos. Outrossim, será abordado o assunto dos direitos humanos olhando para o contexto moçambicano, salientando a questão da liga moçambicana dos direitos humanos, dos seus objectivos, da consolidação dos mesmos objectivos no sistema da Organização das Nações Unidas de direitos humanos e dos seus devidos obstáculos sociais, económicos e culturais ao acesso à justiça. Portanto, o trabalho irá centrar-se na clarificação dos assuntos inerentes ao papel da liga dos direitos humanos, particularmente para o caso de Moçambique, de modo que, haja melhor percepção dos conteúdos. 2 1.2. Contextualização O século XX foi marcado pelas trágicas consequências para a humanidade, advindas da eclosão de grandes conflitos mundiais, sendo correto afirmar que, numa violação de direitos humanos sem precedentes, a segunda guerra tornou-se um marco de afronta à dignidade da pessoa humana. Foi então no pós-guerra que os direitos da pessoa humana ganharam extrema relevância, consagrando-se internacionalmente, surgindo como resposta às atrocidades cometidas durante a 2ª Guerra Mundial, especialmente aos horrores praticados nos campos de concentração da Alemanha nazista. A Segunda Guerra havia deixado um rastro incomensurável de destruição e afronta aos valores mais essenciais do ser humano, onde a pessoa humana era relegada sempre a um plano inferior. Entretanto, só se verificou no pós-guerra que o foco da atenção passa para os estudos dos direitos humanos, onde “a análise da dignidade humana ganha relevo no âmbito internacional, consolidando a ideia de limitação da soberania nacional e reconhecendo que os indivíduos possuem direitos inerentes à sua existência que devem ser protegidos” (Guerra, 2006). Na mesma senda, o autor salienta que, após 2ª Grande Guerra Mundial, uma profunda alteração se deu, em razão dos Direitos Humanos terem sido internacionalizados, a começar pela criação da ONU. No entender de Guerra (2006), “a Organização das Nações Unidas se estabeleceu com a finalidade de preservar as futuras gerações do flagelo da guerra, devendo, portanto, estar envolvida em todas as grandes crises existentes no âmbito da sociedade internacional”. De fato, “as Nações Unidas, tem sua actuação voltada para a manutenção da paz e para a segurança internacional como também, para a valorização e a protecção da pessoa humana” (Idem). No entanto, foi criada em 1946, a Comissão de Direitos Humanos (CDH), tendo como pano de fundo o segundo pós-guerra, concebeu uma estratégia de actuação da ONU na área de direitos humanos sob o conceito de Carta Internacional dos Direitos Humanos, que compreendia a elaboração de uma Declaração Universal, de uma Convenção de Direitos Humanos e o estabelecimento de medidas de implementação (Lafer, 1994: 176-177). 3 Um dos principais problemas com que a Liga se debate desde a sua existência tem sido a violência perpetrada pelas autoridades estatais no processo de administração da justiça. Um pouco por todo o país são relatados casos de abusos dos agentes da autoridade sobre os cidadãos que em geral estão associados à impunidade e proteccionismos no seio destes órgãos. É neste âmbito que demanda a necessidade de fazer uma análise exaustiva em relação ao papel que a Liga dos Direitos Humanos desempenham tanto para o seio internacional, assim como para o seio mais restrito, que é o caso de Moçambique. 1.3. Problematização Gabriela Pagnan e Márcia Andrea Bühring (2018:5, citando Norberto Bobbio,1992 1 ), salientam que: Os direitos humanos nascem como direitos naturais universais, desenvolvem-se como direitos positivos particulares (quando cada Constituição incorpora Declaração de Direitos) para finalmente encontrar a plena realização como direitos positivos universais. Acrescenta ainda que o maior problema dos direitos humanos hoje “não é mais de fundamentá-los, e sim o de protegê-los”. Para que tais direitos alcançassem um parâmetro mundial, foi necessária a criação de um “discurso internacional dos direitos humanos com o objectivo de assegurar a todos o direito de ter direitos. Nesta senda, a Carta das Nações Unidas de 1945 e a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 são hoje consideradas referências neste aspecto” (Idem). Os direitos humanos imponderam os indivíduos, bem como as comunidades de modo a procurarem a transformação da sociedade rumo à completa implementação de todos os direitos humanos.“Os conflitos têm de ser solucionados através de meios pacíficos, fundamentados no primado do Direito e no âmbito do sistema de direitos humanos” (Dias, 2012) De acordo com a Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (2004: 6), a questão dos Direitos Humanos presta-se a vários debates. “Um dos debates mais acesos tem sido a discussão 1 BOBBIO, Norberto. (1992). A Era dos Direitos. 16ª ed. Editora Campus Lda,: Rio de Janeiro. 4 separando os que defendem os Direitos Humanos como valores universais e os que os vêem como direitos relativos, tomando em atenção aos aspectos particulares de natureza cultural, social e económica de cada país ou região”. Para os primeiros, os Direitos Humanos são universais, pois o seu critério fundamental é a dignidade humana. Uma vez que a espécie humana é una, então essa dignidade deve ser baseada nos mesmos princípios para todos que estão contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Já os relativistas sustentam que esta Declaração não tinha a ver com todas as culturas do mundo nem respeitava o desenvolvimento social e económico diferenciado no mundo uma vez que os países subdesenvolvidos não participaram na sua elaboração. Se bem que essa variabilidade do conceito deve ser tida em conta na avaliação da capacidade e do défice do Estado para respeitar, proteger, realizar (promover/facilitar) e garantir os direitos humanos, para a Liga o que deve estar sempre em causa é a protecção dos direitos mais sagrados dos cidadãos. Para tanto, o Estado deve cumprir com as obrigações que lhe cabem e respeitar os compromissos assumidos no sentido de realizar os direitos humanos dos cidadãos que adquire estes direitos pelo simples acto de nascimento e não precisa da sua consagração pelo Estado para os exercer. É por isso que se defende, e bem, que ninguém concebe a privação do seu direito à vida, à liberdade, à integridade física, à alimentação, à saúde, entre outros, pela simples razão de que essa violação respeita a sua diversidade cultural ou a sua fraqueza económica (LMDH 2 , 2004: 6-7). Em Moçambique, particularmente, questões de violação dos direitos humanos têm, há vários anos, sido objecto de denúncia nomeadamente à Procuradoria Geral da República quer pela Liga, quer pelos cidadãos. Os seus protagonistas têm sido os elementos das forças da Lei e ordem e os contextos são em geral variados, nomeadamente podendo dar-se no momento da detenção dos suspeitos ou após essa detenção com a retirada ilícita dos detidos do cárcere. Pretende-se ao longo do trabalho expor assuntos atinentes aos direitos humanos, assim como do órgão que vela pela garantia dos mesmos direitos. E com base nestes pressupostos, urge a seguinte questão: Qual é o papel da Liga dos Direitos Humanos, particularmente para o caso de Moçambique? 2 Liga Moçambicana dos Direitos Humanos. (2004). 5 1.4. Objectivos do Trabalho 1.4.1. Objectivo Geral Compreender o papel da Liga dos Direitos Humanos 1.4.2. Objectivos Específicos Conceituar em várias perspectivas, a noção de direitos humanos; Descrever pressupostos históricos que originaram a liga dos direitos humanos; e Analisar o papel da liga moçambicana dos direitos humanos. 6 CAPÍTULO II: 2.1. Metodologia “A metodologia é o conjunto detalhado e sequencial de métodos e técnicas científicas a serem recorridos no andamento de um trabalho” (Barreto & Barreto, 1998: 15). 2.2. Classificação da Pesquisa Para Marconi e Lakatos (2010: 44), “A pesquisa pode ser compreendida como procedimento rígido com método de pensamento comunicativo que requer um procedimento científico e se cria no caminho para se adoptar a realidade ou para mostrar uma veracidade tendenciosas”. Portanto, esta pesquisa quanto a natureza será básica; quanto aos objectivos será exploratória; quanto a forma de abordagem será qualitativa e quanto aos procedimentos técnicos será bibliográfica. Na visão de Prodanov e Freitas (2013:51), “a pesquisa básica objectiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais”. Pesquisa exploratória é aquela que “quando a pesquisa se encontra na fase preliminar, tem como finalidade proporcionar mais informações sobre o assunto que vamos investigar, possibilitando sua definição e seu delineamento, isto é, facilitar a delimitação do tema da pesquisa […]” (Prodanov e Freitas, 2013:51). Outrossim, usar-se-á a pesquisa qualitativa, pois, “não há uma preocupação com medidas, quantificações ou técnicas estatísticas de qualquer natureza. Busca-se compreender, com base em dados qualificáveis, a realidade de determinados fenómenos, a partir da percepção dos diversos atores sociais” (Cervo & Bervian, 1989). Relactivamente aos procedimentos, recorrer-se-á a pesquisa bibliográfica, que no entender de Gil (2002:44), “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Assim sendo, o presente trabalho irá recorrer- se a essa pesquisa, pois, permitirá que se arrecade diversas informações disponíveis sobre o tema. 7 CAPÍTULO III: 3.1. Quadro Conceptual e Teórico 3.1.1. Direitos Humanos Mello (1997), entende que “direitos humanos são padrões básicos sem os quais os seres humanos não poderiam viver dignamente. Para o mesmo autor estes se caracterizam por serem inerentes a cada indivíduo, são universais, são inalienáveis e são indivisíveis”. Por sua vez, “direitos humanos é um conjunto de direitos inerentes à essência do ser humano e que tem por primeiro e ultimo fim garantir a este, entre outros direitos, a vida, liberdade, igualdade, a integridade sendo sempre de respeito e aplicação universal” (Relatório Anual LDH, 2007:12) Na mesma senda, (Dias, 2012) salienta que, A base do conceito de direitos humanos assenta no conceito da inerente dignidade humana de todos os membros da família humana, consagrado na Carta das Nações Unidas (CNU), na DUDH e nos Pactos de 1966, que também reconheceram o ideal de seres humanos livres no exercício da sua liberdade de viver sem medo e sem privações e enquanto titulares de direitos iguais e inalienáveis. Em concordância, os direitos humanos são universais e inalienáveis, o que significa que se aplicam em todo o lado e não podem ser retirados à pessoa humana, ainda que com o seu consentimento. Enquanto os direitos humanos são os direitos de todas as pessoas, quer detenham ou não a cidadania de um determinado país, os direitos dos cidadãos são direitos fundamentais que são exclusivamente garantidos aos nacionais de um determinado país, como o direito de voto, o direito de ser eleito ou o direito de acesso a serviços públicos de um determinado país. Os direitos humanos também são indivisíveis e interdependentes, podendo ser distinguidas em diferentes categorias ou dimensões de direitos humanos: “ direitos civis e políticos, como a liberdade de expressão, e direitos económicos, sociais e culturais, como o direito humano à segurança social, que deverão ser realizados progressivamente, devido ao facto de implicarem obrigações financeiras para os Estados” (Dias, 2012). 8 3.1.2. O Nascimento dos Direitos Humanos no Mundo A Segunda Guerra Mundial foi o fato histórico impulsionador decisivo do surgimento e da consolidação dos Direitos Humanos. Na perspectiva de Piovesan (2015), “a internacionalização dos direitos humanos constitui, assim, um movimento extremamente recente na história, que surgiu a partir do pós-guerra, como resposta às atrocidades e aos temores cometidos durante o nazismo” Todavia, não bastou apenas o fim da Segunda Guerra Mundial para consolidar o surgimentodos Direitos Humanos, sendo esta sua matriz histórica. Os direitos humanos passam mesmo a ser importantes na agenda internacional com o advento da Carta das Nações Unidas, em 1945, bem como com a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, pelas quais os direitos humanos passaram a ter atenção central na pauta internacional. Entendeu-se com o fim da Segunda Guerra Mundial que, se houvesse um efectivo sistema de protecção internacional dos direitos humanos, capaz de responsabilizar os Estados pelas violações por eles cometidas, ou ocorridas em seus territórios, talvez o mundo não tivesse tido que vivenciar os horrores perpetrados pelos nazistas, ao menos em tão grande escala (Hidaka, 2002). Pinheiro (2001), assevera que, “o movimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos é baseado na concepção de que toda nação tem a obrigação de respeitar os direitos humanos de seus cidadãos”. E de que, “todas as nações e a comunidade internacional têm o direito e a responsabilidade de protestar, se um Estado não cumprir suas obrigações” (Idem). 3.1.3. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 “Indicar expressamente o sentido dos direitos humanos referidos na Carta das Nações Unidas foi o passo seguinte. Assim, o Conselho Económico e Social da ONU, logo em 1946, criou a Comissão de Direitos Humanos com o objectivo primeiro de elaborar uma Carta Internacional de Direitos Humanos” (Trindade, 1996). Na mesma senda, o autor argumenta que, a ideia inicial era organizar um documento integrado por uma declaração de direitos, por uma ou mais convenções que vinculassem os Estados-partes e por um conjunto de dispositivos de implementação e controle do cumprimento das obrigações assumidas. 9 Segundo Alves (1997), “a Declaração Universal dos Direitos Humanos compõe-se de um preâmbulo, no qual se afirma a dignidade da pessoa humana como matriz axiológica fundamental, e de 30 (trinta) artigos, cujos direitos, inalienáveis e irrenunciáveis”, e estão assim organizados: Primeiro: Os direitos pessoais (à igualdade, à vida, à liberdade, à segurança) contidos nos artigos 3 ao 11; Segundo: Os direitos referentes à pessoa humana em suas relações com os grupos sociais nos quais ela participa (direito à privacidade da vida familiar; direito ao casamento; direito à liberdade de movimento no âmbito nacional ou fora dele; direito à nacionalidade; direito ao asilo; direito de propriedade) contidos nos artigos 12 ao 17; Terceiro: Os direitos referentes às liberdades civis e aos direitos políticos, exercidos no sentido de contribuir para a formação de processos decisórios políticos e institucionais (liberdade de consciência, pensamento e expressão; liberdade de associação, reunião e assembleia; direito de votar e ser votado; direito de acesso ao governo e à administração pública) – artigos 18 a 21; Quarto: Os direitos económicos, sociais e culturais (direito às condições dignas de trabalho; direito à assistência social; direito à educação; direito à saúde; direito à sindicalização; direito de participar livremente da vida cultural e científica da comunidade) – artigos 22 a 27; Quinto: Direito à uma comunidade internacional em que os direitos humanos possam ser material e plenamente concretizados – artigos 28 e 29. No plano técnico-normativo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos constitui-se numa recomendação, expressa por Resolução, que a Assembleia Geral da ONU fez (e ainda faz) aos Estados-membros, não sendo, pois, um tratado, nem um acordo internacional, razão pela qual há resistências em reconhecer-lhe força jurídica vinculante. Portanto, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, fundada nos princípio da liberdade, da igualdade e da fraternidade, além de enunciar a todos os povos e nações a primazia da dignidade da pessoa humana, como centro e fonte de todos os valores, consolidou-se, efectivamente, desde então, como o mais importante documento, matriz inspiradora, dos direitos humanos. 10 3.1.4. A Questão da Liga dos Direitos Humanos no Contexto Moçambicano No entender de Santos e Trindade (2003), a Liga dos Direitos Humanos é uma organização não-governamental que se propõe cumprir algumas tarefas que o Estado realiza de forma deficitária, quer porque enfrenta algumas dificuldades de mobilização de recursos matérias e humanos para o efeito, quer porque talvez não façam parte da sua agenda política. O mesmo acrescenta que, esta tem sido uma crítica mais forte feita ao Estado e ao Governo pelo incumprimento das suas obrigações na área da justiça. A LDH é uma instituição da sociedade civil criada com objectivo de prestar assistência jurídica aos cidadãos mais carenciados e de protagonizar e promover a luta pela defesa dos direitos humanos, e de salientar que, esta foi a primeira instituição da sociedade civil criada com este objectivo. A Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH) segue uma trajectória reconhecida internacionalmente de incondicional vigilância e defesa dos direitos fundamentais da pessoa. Entende que um país não se desenvolve sem que o Estado atenda e respeite as necessidades básicas de seu povo, valorizando e promovendo a cidadania e o bem-estar de todos – sem ressalvas quanto a género, religião, raça ou corrente político-partidária. De acordo com Santos e Trindade (2003) argumentam que: A criação da liga em Moçambique enquadra-se no contexto de associativismo preconizado pela Constituição de 1990 especificamente pela lei n o 8/91 de 18 de Julho, que estabelecia o direito de associação. O grupo que criou a LDH, composto na sua maioria por estudantes da faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, tinha como objectivo a criação de uma associação de mulheres de carreira jurídica que prestaria serviços especificamente, a mulheres desfavorecidas, vítimas de violência doméstica. Em 1992 no seminário realizado em Viena pelas UN fez despertar a necessidade de desenvolver um trabalho com um objectivo mais amplo que correspondesse igualmente a um universo mais vasto de beneficiários. O processo de consolidação passou pela organização em 10 de Novembro de 1993 que contou com participação de alguns membros de governo. Mas só mais tarde essa associação foi reconhecida no dia 15 de Maio de 1995 pelo ministério de Justiça. 11 Após a consolidação não tardou o apoio da impressa sobre tudo de jornalistas que na mesma altura lançaram bases de criação de jornais privados que dirigia severas críticas as políticas de governação vigente tendo um papel fundamental junto a sociedade civil, na projecção do trabalho desenvolvido pela Liga na denúncia de casos de violação de direitos humanos. 3.1.5. Objectivos da Liga dos Direitos Humanos em Moçambique Segundo o Decreto nº 31/95 de 31 de Maio, no seu artigo 5, a Liga dos Direitos Humanos em Moçambique tem os seguintes objectivos: Promover, defender e denunciar os direitos e liberdades fundamentais do homem, cujos princípios são consagrados na Constituição da República de Moçambique, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, na Convenção Internacional da Luta Contra Todas as Formas de Discriminação, sob qualquer forma que se apresentem, na Carta Africana dos Direitos do Homem e dos povos, em todas as demais convenções relativas aos direitos humanos. Conjugado com o artigo sexto, no que concerne ao âmbito de actividade, a LDH , fixa como suas principais actividades: a) Estudos e pesquisas no domínio dos direitos e liberdades fundamentais do Homem; b) Divulgação de textos e leis fundamentais em matéria dos direitos do homem; c) Concertação com as autoridades e poderes públicos nacionais sobre as questões respeitantes aos direitos do Homem; d) Consciencialização e sensibilização da opinião pública nacional e internacional sobre os direitos do homem; e) Realização de seminários, simpósios, jornais,reuniões e manifestações; f) Denúncia de todos os atentados contra os direitos e liberdades fundamentais da pessoa Humana. Participação em reuniões internacionais em matéria dos direitos humanos. 12 3.1.6. Consolidações dos Objectivos de Moçambique no Sistema da ONU de Direitos Humanos No que concerne aos objectivos que a LDH se propôs alcançar, faz-se uma análise a participação do Estado Moçambicano no Sistema da ONU de Direitos Humanos. Portanto, a abordagem não se limita a observar a participação do Governo de Moçambique, inclui-se a análise ao acompanhamento que as ONGs têm feito a interacção do governo com os órgãos de direitos humanos da ONU. De acordo com Giles Cistac (2004: 55), Dentro da lógica de abordagem analisa-se, primeiro, a participação no sistema extra convencional (1), e posteriormente analisar-se-á a participação no sistema convencional (2). Pela adesão a Carta de ONU, em Setembro de 1975, Moçambique tornou-se sujeito de deveres e direitos nas ONU, incluindo no Sistema Extra Convencional de Direitos Humanos. Deste modo, tornou-se susceptível a fiscalização dos órgãos previstos pela Carta, no que tange ao cumprimento dos propósitos da Carta em matéria aos direitos humanos, bem como, pode através dos mecanismos instituídos na organização manifestarem suas posições no Sistema Extra Convencional de Direitos Humanos (Idem). Argumenta ainda que, a análise da participação do país no sistema Extra convencional, será limitada a análise a participação do país na extinta Comissão de Direitos Humanos e a interacção com os Procedimentos Especiais. Esta restrição no âmbito de abordagem deriva, por um lado, do facto da extinta Comissão, ter sido entre 1946 a 2006 o principal órgão de direitos humanos da ONU. Por outro lado, resulta do facto de que, o país nunca ter sido membro do Conselho de Segurança e do Conselho de Direitos Humanos, e do facto de não ter ainda sido submetido à avaliação destes órgãos no que tange a suas práticas em direitos humanos. 3.1.7. Os Obstáculos Sociais, Económicos e Culturais ao Acesso à Justiça O relatório anual da LDH (2004:54), refere que a maioria dos Estados do primeiro mundo deparou-se com o problema da incapacidade dos tribunais responderem a demanda social de justiça, deu-se com o fenómeno da explosão da letigiosidade que derivou da expansão dos 13 direitos sociais na fase do Estado providenciar a integração da classe trabalhadora, e notou-se um aumento do conhecimento dos direitos pelos cidadãos. Uma vez que a capacidade dos tribunais tem a ver com a capacidade do Estado de responder a demanda de justiça social, o aumento de litígios judiciais viria a causar a recessão económica um bloqueio no acesso a justiça nos tribunais e sem a capacidade financeira o Estado e os tribunais não puderam responder com satisfação a crescente demanda social de justiça. No caso de Moçambique, “a incapacidade do Estado de garantir o acesso a justiça tem sido explicada pelo desajuste do legado colonial tanto instrumental como simbólico em relação as lógicas da moçambicanidade, bem como a fraca capacidade económica do Estado para estender a rede de justiça” (Cistac, 2004). A falta de recursos humanos, a dificuldade dos principais actores profissionais assumirem a dimensão social da sua actividade, são problemas colocados a demanda à justiça no País, os tribunais são caracterizados por uma marca essencialmente ocidental na prática, na linguagem utilizada e no direito a aplicar. Este facto leva o povo a preferir as chamadas justiças alternativas: Tribunais comunitários, Igrejas, Centros de arbitragem e conciliação de litígios, ONG‟s etc. Os obstáculos económicos afectam especialmente aos pobres e podem manifestar-se de diferentes formas, onde se verifica que, nos países orientados pela economia de mercado os custos de litigação são elevados e que o valor da causa e o custo de sua litigação aumenta a medida que baixa o valor da causa, o que significa que as causas de valor mais baixo são mais caras que as do valor elevado. 14 Conclusão Em jeito de conclusão, importa aludir que a investigação serviu de bússola na obtenção do conhecimento mais aprofundado inerente ao tema, o papel da liga dos direitos humanos. Com a realização do trabalho, foi possível ter a noção que, devido às monstruosas violações de direitos humanos, a Segunda Guerra Mundial foi o principal evento histórico que chamou a atenção internacional para a questão dos direitos humanos. A partir deste momento, lentamente, começaram a surgir inúmeros tratados a fim de sistematizar os direitos humanos que deveriam ser respeitados pelos Estados-partes. Além do plano interno, os indivíduos possuem, também, protecção em nível internacional. Desta forma, demonstrou-se que os direitos humanos e os direitos fundamentais atuam cada um em sua ordem (interna ou internacional), mas buscando objectivos em comum. De fato, a dignidade da pessoa humana passa a ser considerada como núcleo fundamentador dos Direitos Humanos, entendido como o conjunto de normas que estabelecem os direitos que os seres humanos possuem para o desempenho de sua personalidade e estabelecem mecanismos de protecção a tais direitos. Portanto, os Estados têm o dever de respeitar, proteger e implementar os direitos humanos. Em muitos casos, a implementação significa que o Estado e as suas autoridades têm de respeitar os direitos aceites, isto é, respeitar o direito à privacidade e o direito de expressão. Isto é particularmente relevante para os direitos civis e políticos, ao passo que os direitos económicos, sociais e culturais implicam obrigações positivas de implementação, por parte do Estado. Ou seja, neste último caso, o Estado terá de garantir ou fornecer certos serviços, tais como a educação e a saúde e assegurar certos padrões mínimos. 15 Referências Bibliográficas Alves, José Augusto Lindgren.(1997). A arquitectura internacional dos direitos humanos. FTD: São Paulo. Barreto & Barreto. (1998). Fundamentos de Metodologia Científica. Pearson Prentice Hall: São Paulo. Cervo, A. L. e Bervin, P. A. (1989). Metodologia Científica. 4ª Ed. Pearson Prentice Hall: São Paulo. Cistac, Gilles. (2004). A questão do Direito Internacional no ordenamento jurídico da República de Moçambique. Vol. VI. Revista Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane: Maputo. Dias, Reinaldo. (2012). Introdução aos Direitos Humanos. Campinas: Alínea. São Paulo. Gil, António Carlos. (2002). Como Elaborar Projecto de Pesquisa. 4ª Ed. Atlas: São Paulo. Guerra, Sidney.(2006). Temas emergentes de direitos humanos. FDC: Rio de Janeiro Hidaka, Leonardo Jun Ferreira. (2002). Introdução ao Direito Internacional dos Direitos Humanos. Edições Loyola: São Paulo. Lafer, Celso. (1994). A Reconstrução dos Direitos Humanos: Um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. Editora: Fondo de Cultura Económica: México. Lakatos, Eva Maria & Marconi, Marina de Andrade. (2010). Metodologia do Trabalho Científico. 7ª Edição: São Paulo. Mello, Celso Albuquerque. (1997). Curso de direito internacional público. 11ª. Ed. Forense: Rio de Janeiro. Pagnan, Gabriela e Bhring, Marcia Andrea. (2018). A Hierarquia dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Disponivel em: https://www.pucrs.br/direito/wp-content/uploads/sites/11/2018/09/gabriela_pagnan.pdf. Consultado em 27 de Janeiro de 2021. https://www.pucrs.br/direito/wp-content/uploads/sites/11/2018/09/gabriela_pagnan.pdf 16 Pinheiro, Carla. (2001). Direito internacional e direitos fundamentais. Atlas: São Paulo. Piovesan, Flávia. (2015). Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 15ª. Ed. Saraiva: São Paulo. Prodanov, C. Cristiano e Freitas, E. Cesar. (2013). Metodologia do Trabalho Científico:Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Académico. 2ª Ed. Editora Feevale: Rio Grande do Sul. Liga Moçambicana dos Direitos Humanos. (2004). As torturas, tratamentos degradantes e execuções sumárias. Maputo. Liga Moçambicana dos Direitos Humanos. (2007). Relatório Anual Sobre os Direitos Humanos 2005-2006. Maputo. Santos, B. de S.; Santos, B. S. e Trindade, J. C.(2003). Conflito e Transformação Social: Uma Paisagem das Justiças em Moçambique. Vol. I. Afrontamento: Porto. Trindade, António Augusto Cançado.(1996). Tratado de direito internacional dos direitos humanos. 1ª. Ed. Porto Alegre. Legislação Boletim da República (1995). - Decreto n.º 31/1995, de 31 de Maio. Publicação Oficial da República de Moçambique: Maputo.
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