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Porém, antes que o pensamento possa tomar qualquer experiência como seu objeto, ocorre já um certo ?colocar-se? em relação à situação, que envolve aspectos para além da consciência simbólica. Este experienciar compreende então um envolvimento mais abrangente do homem com o mundo em que se incluem percepções e estados afetivos, anteriores às simbolizações do pensamento. Parafraseando Merleau-Ponty, podemos dizer que o mundo não é só o que pensamos, mas o que vivemos. Porque a dimensão vivida, anterior à simbolização, não se esgota jamais no pensamento. Há sempre uma região que permanece fora do alcance do pensamento e da linguagem. Estética e Educação COMPREENDER A MANIFESTAÇÃO DA SENSIBILIZAÇÃO ARTÍSTICA NA PRODUÇÃO DE PENSAMENTOS, VALORES E CONHECIMENTOS. AUTOR(A): PROF. SUELEN DE PONTES ALEXANDRE Os seres humanos produzem pensamentos, conhecimentos, valores, artes (literatura em prosa e em poesia, artes plásticas diversas, artes cênicas, música), mitos, ritos, rituais, festas, etc. Quando nos deparamos com as produções artísticas nos colocamos a questão do porquê de tal produção e percebemos que somos seres que se sensibilizam com muitos aspectos do real e que manifestam esta sensibilização de várias formas. Uma das formas é a das artes. A área da Filosofia que se dedica a pensar reflexivamente e criticamente a sensibilidade humana e suas manifestações, especialmente as manifestações artísticas é a Estética. Esta é uma palavra de origem grega que significa sensibilidade. Tornou-se uma palavra, como dito acima, para indicar estudos ou considerações relativas à sensibilidade humana e às formas de manifestação desta sensibilidade. Duarte Júnior em Fundamentos estéticos da educação (1988) diz da importância do conhecimento, mas alerta para o fato de que há algo "antes" do conhecimento: é o sentimento (o sentir, a sensibilidade). Somos, diz ele, seres sensíveis e é, por meio da sensibilidade que nos colocamos primeiramente em contato com a realidade, captando-a de alguma forma. Esse contato é anterior à elaboração do pensamento que produzirá conhecimentos. Diz ele: Esta região é o sentimento humano. Por sentimento, entenda-se, assim, a apreensão da situação em que nos encontramos que precede qualquer significação que os símbolos dão. O sentir é anterior ao pensar, e compreende aspectos perceptivos (internos e externos) e aspectos emocionais. Por isso pode-se afirmar que, antes de ser razão, o homem é emoção. DUARTE JR, 1988, P. 15 Contudo, não há linguagem que explicite e aclare totalmente os sentimentos humanos. Não se pode, nunca, descrever com palavras como é a dor de dente ou como é a ternura que estamos sentindo. O conhecimento dos sentimentos e a sua expressão só podem se dar pela utilização de símbolos outros que não os linguísticos; só podem se dar através de uma consciência distinta da que se põe no pensamento racional. Uma ponte que nos leva a conhecer e a expressar os sentimentos é, então, a arte, e a forma de nossa consciência apreendê-los é através da experiência estética. Na arte busca-se concretizar os sentimentos numa forma, que a consciência capta de maneira mais global e abrangente do que no pensamento rotineiro. Na arte são-nos apresentados aspectos e maneiras de nos sentirmos no mundo, que a linguagem não pode conceituar. DUARTE JR, 1988, P. 16 Aqui vale registrar e chamar a atenção para as duas últimas frases da citação: "o sentir é anterior ao pensar" e "antes de ser razão, o homem é emoção". Isso precisa ser levado em conta na educação, pois, especialmente crianças e jovens são movidos intensamente por suas emoções. Aliás, a palavra emoção é derivada do latim e quer dizer força que nos move para alguma direção. Moção quer dizer movimento e o "e" significa "para" ou "em direção a". Através de nossa sensibilidade captamos aspectos do real e, se eles nos afetam de forma intensa, respondemos a eles de alguma maneira. Isso que sentimos nos leva a nos expressarmos ou através de gestos, ou através de expressões faciais, ou através de certas expressões com palavras e também através de produções artísticas. Por que, na maior parte das vezes, nossa linguagem falada ou escrita não consegue exprimir o que sentimos? Duarte Júnior diz o seguinte em relação a isso: O ser humano não vive só de racionalidade e de instrumentos; gasta-se, dá-se, entrega-se nas danças, transes, mitos, magias, ritos; crê nas virtudes do sacrifício; vive o suficiente para preparar a sua outra vida, além da morte... As atividades do jogo, de festa, de rito, não são simples distrações para se recuperar com vistas à vida prática ou do trabalho; as crenças em deuses e nas ideias não podem ser redu- zidas a ilusões ou superstições: têm raízes que mergulham nas profundezas humanas. Há relação manifesta ou subterrânea entre o psiquismo, a afetividade, a magia, o imaginário, o mito, a religião, o jogo, a despesa, a estética, a poesia; é o paradoxo da riqueza, Legenda: ESTéTICA E CULTURA CLáSSICA A arte, ou as diversas artes como as referidas acima, são importantes canais de expressão daquilo que afeta nossa sensibilidade e elas traduzem este entendimento da realidade que nos é dado através do que sentimos. Mas, não só: as obras de arte também nos afetam, isto é, provocam nossa sensibilidade e nos ajudam na compreensão da realidade e de nós mesmos por um caminho diverso e, ao mesmo tempo complementar ao papel das outras formas de conhecimento. Sabemos melhor de nós e do mundo, muitas vezes, através de um romance, ou através de uma peça teatral ou de um filme, ou de uma pintura ou de uma escultura, ou de uma música. O acesso às obras de arte pode provocar em nós um gozo, melhor dizer, uma fruição, diverso da fruição de algum conhecimento como o das ciências ou da filosofia. É isso o que diz o autor a seguir: Legenda: "OPERáRIOS" DE TARSILA DO AMARAL da prodigalidade, da infelicidade, da felicidade do homo sapiens-demens. Através da trilogia do espírito, da afetividade, do anel que liga e opõe racionalidade, afetividade, imaginário, mito, estética, lúdico, des-pesa, o ser humano vive sua vida de alternância de prosa e de poesia, em que a privação de poesia é tão fatal quanto a privação de pão. MORIN, 2003, P. 141 Todo educador precisa entender isso: a arte é fundamental para o ser humano. É fundamental que cada criança, cada jovem possa manifestar-se através da arte: tanto da arte que ela cria, como seus desenhos, suas poesias, suas músicas, a representação teatral (a arte cênica), etc. como ela deve poder consumir arte. Melhor do que consumir é preciso dizer fruir. Fruir é buscar saciar-se destas produções humanas que são as artes. Elas são necessárias tanto quanto o alimento. Arte é alimento da vida humana. Arte humaniza. Os Titãs, na música "Comida" de autoria de Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer, cantavam o seguinte: "A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte". Tal como diz Morin: "...a privação de poesia (de das artes em geral) é tão fatal quanto a privação de pão". Pois, como diz Severino: "Na complexidade existencial humana, a subjetividade resulta da atuação simultânea de fatores de ordem biológica, psicológica, epistêmica e afetivo- emocional". (2001, p. 97). Legenda: ANALISE REFLEXIVA DAS OBRAS DE ARTE ATIVIDADE FINAL Qual é a área da Filosofia que se dedica a pensar reflexivamente e criticamente a sensibilidade humana e suas manifestações, especialmente as manifestações artísticas ? A. Ética B. Moral C. Estética D. Antropologia Por que pode-se afirmar que as artes é tão importante aos seres humanos? A. Porque os indivíduos precisam se distrair. B. Por estímular a sensibilidade e a criatividade. C. Por contribuir com a transmissão de conhecimento D. Porque as artes faz parte da disciplina escolar. REFERÊNCIA DUARTE JR,João Francisco. Fundamentos estéticos da educação. Campinas: Papirus, 1988. JIMENEZ, Marc. O que é estética? São Leopoldo: Editora Unisinos, 1999. MORIN, Edgar. O Método 5. A humanidade da humanidade: a identidade humana. Porto Alegre: Editora Sulina, 2ª. Ed. 2003. SEVERINO, Antonio Joaquim. Educação, sujeito e história. São Paulo: Olho d'água, 2001. VÁZQUEZ, Adolfo SÁNCHEZ. Convite á Estética. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1999.
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