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Indaial – 2020 Práticas de Processos de Natureza MecâNica Prof.ª Vanessa Moura de Souza 2a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.ª Vanessa Moura de Souza Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: S729p Souza, Vanessa Moura de Práticas de processos de natureza mecânica. / Vanessa Moura de Souza. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 174 p.; il. ISBN 978-65-5663-197-4 ISBN Digital 978-65-5663-198-1 1. Conformação mecânica. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 671.3 aPreseNtação Olá, acadêmico! É com grande satisfação que elaboramos o Livro Didático Práticas de Processos de Natureza Mecânica! Desejamos que você se aproxime desta disciplina e perceba quanto o seu estudo é indispensável na otimização de produtos, na implementação de novas tecnologias, na prevenção de falhas e melhorias de processos já existentes. Na Unidade 1, estudaremos os parâmetros fundamentais da conformação mecânica, lei da constância e volume, seus cálculos básicos e os principais processos: trefilação, laminação, forjamento e extrusão. Esses temas são importantes, pois são os principais processos de fabricação de peças nas grandes indústrias. Logo, provavelmente, você trabalhará ou pesquisará algum desses temas dentro da sua jornada acadêmica ou profissional. A Unidade 2 abrangerá os processos de fabricação com remoção de cavaco, ou seja, processos de usinagem. Também serão abordados os seguintes temas: máquinas de comando numérico, CNCs e máquinas de corte a laser e fabricação de chapas. Com a evolução industrial, as máquinas convencionais foram atualizadas para máquinas de comando numérico computadorizadas. Já a Unidade 3, por sua vez, contempla o conteúdo relacionado aos processos tecnológicos, como metalurgia do pó, fundição, estampagem e principais inovações da área. As empresas necessitam de profissionais com múltiplos conhecimentos, por isso, aprender a respeito dos processos inovadores pode trazer uma nova perspectiva e opções para processos já existentes, e você, como engenheiro, deve ser capaz de realizar essas análises. Todos os cálculos, assim como o entendimento de cada um desses processos, serão importantes nos projetos de engenharia, nos trabalhos acadêmicos e nos seminários interdisciplinares. Bons estudos! Profª. M.Sc. Vanessa Moura de Souza Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE suMário UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA ............................................ 1 TÓPICO 1 — PARÂMETROS FUNDAMENTAIS ........................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 TENSÃO E DEFORMAÇÃO ............................................................................................................ 3 3 LEI DA CONSTÂNCIA E VOLUME E VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO......................... 7 4 CONDIÇÕES DE ESCOAMENTO .................................................................................................. 9 5 ATIVIDADE PRÁTICA – CURVAS DE ESCOAMENTO ......................................................... 12 5.1 ATIVIDADE PRÁTICA ................................................................................................................ 14 5.2 REFLEXÕES DA PRÁTICA ......................................................................................................... 14 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO ............................................................................... 19 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19 2 TREFILAÇÃO ..................................................................................................................................... 20 3 FORÇA DE TREFILAÇÃO ............................................................................................................... 25 4 LUBRIFICAÇÃO ................................................................................................................................ 32 5 ATIVIDADE PRÁTICA – TREFILAÇÃO ...................................................................................... 38 5.1 REFLEXÕES DA PRÁTICA ......................................................................................................... 38 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 39 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 40 TÓPICO 3 — FORJAMENTO E EXTRUSÃO ................................................................................. 41 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 41 2 LAMINAÇÃO ..................................................................................................................................... 41 3 FORJAMENTO ................................................................................................................................... 46 4 ATIVIDADE PRÁTICA – ENSAIO DO ANEL ............................................................................ 52 4.1 REFLEXÕES DA PRÁTICA .........................................................................................................53 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 55 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 61 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 62 UNIDADE 2 — USINAGEM .............................................................................................................. 63 TÓPICO 1 — MÁQUINAS CONVENCIONAIS ............................................................................ 65 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 65 2 TORNEAMENTO .............................................................................................................................. 66 2.1 VELOCIDADE DE CORTE ......................................................................................................... 71 3 FRESAGEM ......................................................................................................................................... 75 4 ATIVIDADE PRÁTICA – USINAGEM DE PEÇA CILÍNDRICA ............................................ 82 4.1 REFLEXÕES DA PRÁTICA ......................................................................................................... 83 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 85 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 86 TÓPICO 2 — MÁQUINAS DE COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO (CNC) .... 87 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 87 2 COMANDO NUMÉRICO COMPUTADORIZADO .................................................................. 87 3 PROGRAMAÇÃO DE CNC ............................................................................................................ 90 4 ATIVIDADE PRÁTICA – PROGRAMAÇÃO E USINAGEM POR CNC ............................ 102 4.1 REFLEXÃO DA PRÁTICA ........................................................................................................ 103 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 105 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 106 TÓPICO 3 — MÁQUINAS DE CORTE ......................................................................................... 107 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 107 2 CORTE DE CHAPAS ....................................................................................................................... 107 3 MÁQUINA A LASER ...................................................................................................................... 110 4 ATIVIDADE PRÁTICA – CORTE A LASER .............................................................................. 111 4.1 REFLEXÕES DA PRÁTICA ....................................................................................................... 112 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 113 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 115 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 116 UNIDADE 3 — OUTROS PROCESSOS ........................................................................................ 117 TÓPICO 1 — METALURGIA DO PÓ ............................................................................................. 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119 2 METALURGIA DO PÓ ................................................................................................................... 120 3 TENDÊNCIAS DE FABRICAÇÃO ............................................................................................... 127 3.1 FILTROS DE ADESÃO .............................................................................................................. 127 3.2 ROTORES E ESTATORES DE MINIMOTOR ......................................................................... 128 3.3 TUBEIRA DE FOGUETE ........................................................................................................... 130 4 ATIVIDADE PRÁTICA – METALURGIA DO PÓ ................................................................... 131 4.1 REFLEXÕES DA PRÁTICA ....................................................................................................... 132 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 134 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 135 TÓPICO 2 — FUNDIÇÃO ................................................................................................................ 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 137 2 FUNDIÇÃO ....................................................................................................................................... 137 3 TEMPO DE SOLIDIFICAÇÃO ..................................................................................................... 147 4 ATIVIDADE PRÁTICA – PROJETO DE FUNDIÇÃO ............................................................. 150 4.1 REFLEXÕES DA PRÁTICA ....................................................................................................... 152 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 153 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 154 TÓPICO 3 — ESTAMPAGEM .......................................................................................................... 155 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 155 2 ESTAMPAGEM PROFUNDA ....................................................................................................... 155 3 PROCESSOS ESPECIAIS .............................................................................................................. 159 4 ATIVIDADE PRÁTICA – ESTAMPAGEM DE PEÇA METÁLICA ....................................... 160 4.1 REFLEXÕES DA PRÁTICA ....................................................................................................... 161 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 162 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 166 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 167 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 169 1 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOSA partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender e calcular os parâmetros fundamentais; • conhecer os principais processos de conformação mecânica; • estudar os processos de trefilação e laminação; • realizar práticas interativas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PARÂMETROS FUNDAMENTAIS TÓPICO 2 – TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO TÓPICO 3 – FORJAMENTO E EXTRUSÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 PARÂMETROS FUNDAMENTAIS 1 INTRODUÇÃO Os diferentes métodos de fabricação de peças metálicas podem ocorrer conforme o tipo de esforço que provoca a deformação no material. Estes podem ser classificados em: separação que ocorre na usinagem; junção por solda; fundição; ou por conformação mecânica. Nesta unidade, estudaremos a conformação mecânica. A definição do conceito de conformabilidade é, em geral, a capacidade de um material de não fraturar enquanto é conformado plasticamente. Quando a tensão aplicada é removida, o fenômeno é conhecido como recuperação elástica. Os processos de conformação plástica permitem a fabricação de peças, no estado sólido, com características controladas. De uma forma resumida, o objetivo é a obtenção de produtos finais com especificação de: a) dimensão e forma; b) propriedades mecânicas; c) condições superficiais, conciliando a qualidade com elevadas velocidades de produção e baixos custos de fabricação (BRESCIANI FILHO et al., 2011, p. 12). É a relação entre sua resposta ou sua deformação a uma carga ou força aplicada que representa o comportamento mecânico de um material. Devem ser considerados fatores como a natureza da carga aplicada e sua magnitude, sendo importante determinar as tensões e suas distribuições em membros que estão sujeitos a cargas bem definidas (SCHAEFFER, 2009). Neste tópico, estudaremos os conceitos de tensão, deformação, condições de escoamento e a lei da constância e volume, que rege os processos de conformação mecânica. 2 TENSÃO E DEFORMAÇÃO Durante a conformação de metais, é aplicada uma carga que, quando alterada, pode mudar sua forma e o seu tamanho, especificada pelo conceito da deformação normal e por cisalhamento. De modo geral, as mudanças não são uniformes em todo o seu volume, gerando uma variação ao longo do seu comprimento, pois elas dependem da orientação do ponto analisado. UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA 4 Um corpo, quando submetido a um carregamento externo, tem sua forma modificada, e essas forças podem provocar deformações elásticas ou plásticas. Na conformação plástica de metais, as deformações impostas, as quais são permanentes em decorrência da atuação de esforços, são grandes, e pode-se considerar que o volume permanece constante durante o processo de fabricação. A maioria dos projetos de engenharia envolve aplicações para as quais são permitidas somente pequenas deformações. Avaliando que estas ocorram no interior de um corpo e sejam quase infinitesimais, para fins de cálculo, considera- se a análise de pequenas deformações. Nos ensaios de tração e compressão, pode-se calcular os valores de tensão e deformação do material, gerando um diagrama que pode ser descrito numa curva real ou de engenharia. No gráfico convencional, é o quociente (divisão) da carga aplicada e a área original da secção transversal do corpo de prova, considera-se que a tensão é constante em todos os pontos. Matematicamente, na Equação 1, obtém-se a tensão convencional, ou de engenharia, expressa em Pascal (N/m²), por meio da razão entre a força da carga P (N) e a seção transversal inicial A0 (m²). Da mesma maneira, considerando a deformação constante em todos os pontos do corpo de prova, a equação de ε, deformação, apresenta essa relação de forma adimensional, cuja deformação de engenharia é encontrada se dividindo o alongamento total da barra (δ), que é a variação do comprimento de referência (L -L0), pelo comprimento inicial (L0). Para obter a tensão e a deformação real, respectivamente, utilizam-se as equações a seguir, nas quais o valor real de tensão é calculado dividindo-se a força da carga P (N) pela área instantânea da seção transversal durante o teste A (m²). A deformação verdadeira é feita pelo logaritmo natural do quociente da largura final (L) pela largura inicial (L0). A deformação de metais, durante os ensaios, ocorre em duas fases diferentes: inicialmente, a deformação homogênea, até chegar a uma força máxima, e, depois, a deformação não homogênea, que é localizada no ponto de estricção (SCHAEFFER, 2009). TÓPICO 1 — PARÂMETROS FUNDAMENTAIS 5 O gráfico de tensão-deformação é uma ferramenta importante na engenharia, pois dele extraem-se dados, como resistência à tração ou compressão. O eixo das abscissas demonstra o limite de deformação, enquanto, na ordenada, têm-se os valores que apontam para o limite de tensão; a partir da plotagem desses pontos, obtém-se a curva característica. Os mesmos materiais não apresentarão diagramas iguais, em razão dos fatores que influenciam os resultados, como composição química, imperfeições microscópicas, fabricação, taxa de carga e temperatura utilizada no teste (SPIM; GARCIA; SANTOS, 2012). Os diagramas real e convencional podem ser considerados coincidentes quando a modificação for pequena, pois as diferenças aparecem na faixa do endurecimento. Na maioria dos projetos de engenharia, considera-se a faixa elástica do material, na qual a distorção não é severa. Tensão e deformação reais do material são definidas ao se considerarem as medidas da área de secção transversal e do comprimento do corpo de prova no instante em que a carga é medida (CETLIN, 2006). Uma das razões do uso de diagramas tensão-deformação convencionais, comparados aos valores reais, é que a deformação nos materiais rígidos permanecerá pequena até o limite de elasticidade, associando um erro pequeno de utilização de engenharia. Os valores da curva relativa são usados para o dimensionamento de componentes para máquina, mas não para a avaliação do comportamento de materiais em processo de conformação mecânica (SPIM, 2012). Segundo Hibbeler (2010), as características de uma curva tensão- deformação convencional para um aço podem ser descritas por quatro momentos distintos: região elástica, escoamento, endurecimento e estricção, conforme descrito a seguir: • Região de comportamento elástico: corresponde à primeira região de deformação do corpo de prova. Nessa área, observa-se o fenômeno do efeito elástico, em que, ao cessar a aplicação da carga, o corpo retorna para sua condição original, anterior à deformação. • Região de deslizamento de discordâncias (escoamento): corresponde ao início da deformação plástica do material, na qual a tensão pode sofrer oscilações que dependerão da acomodação das discordâncias no interior da rede cristalina do material. A tensão de escoamento é o valor que marca a passagem da zona elástica para a plástica. Quando esse valor não é bem definido, traça-se uma linha paralela à região linear da curva, deslocando-a 0,2% para a direita (valor convencionado para aços), sendo aceita a tensão de escoamento do material como o ponto de interseção entre a linha deslocada e a curva obtida no ensaio. • Região de encruamento uniforme (endurecimento): corresponde ao encruamento propriamente dito, pois, à medida que os planos cristalinos escorregam entre si, eles são gradativamente travados pelas discordâncias que atingem os contornos de grão,exigindo cada vez mais tensão para que a deformação continue atuando. UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA 6 • Região de encruamento não uniforme (estricção): é a última região de deformação, por meio da qual passa a existir o processo de ruptura do corpo de prova. O limite de resistência é a tensão máxima que o material suporta, situado na região de declividade nula do diagrama. Para um material de alta capacidade de deformação permanente, o diâmetro do corpo começa a decrescer, rapidamente, ao ultrapassar essa tensão máxima. Assim, a carga necessária para continuar a deformação diminui até a ruptura total. Em 1676, Robert Hooke descobriu que o aumento da tensão eleva, proporcionalmente, a deformação de materiais elásticos. Essa relação linear entre tensão e deformação pode ser expressa por Thomas Young, em 1807, como: Na Equação 5, a constante de proporcionalidade (E) é o módulo de elasticidade ou módulo de Young. Esse coeficiente angular da parte linear do diagrama tensão-deformação (σ x ε) representa a inclinação da reta. Cada material apresenta valor diferente, dependendo da sua composição; para aços, em geral, considera-se convenção um valor de E = 200 GPa (HIBBELER, 2010). Tendo em vista que apenas os materiais com comportamento elástico apresentam o módulo de elasticidade, importante propriedade mecânica que representa a sua rigidez, no diagrama tensão-deformação, verifica-se que, onde ocorre a zona elástica, os materiais de engenharia mostram uma relação linear entre tensão e deformação. O grau ao qual uma estrutura se deforma ou se esforça depende da magnitude da carga imposta. Para a maioria dos metais que são submetidos a uma tração em níveis relativamente baixos, a tensão e a deformação são proporcionais entre si, de acordo com a Lei de Hooke. Quando o comportamento do material é linear, a tensão é proporcional à deformação da região elástica, caso em que se aplica a Lei de Hooke. Pode-se expressar a densidade de energia, em termos da tensão uniaxial, como módulo de resiliência, para representar sua capacidade de absorver energia sem sofrer qualquer dano permanente. TÓPICO 1 — PARÂMETROS FUNDAMENTAIS 7 FIGURA 1 – TENSÃO-DEFORMAÇÃO FONTE: Hibbeler (2010, p. 59) O módulo de tenacidade indica a densidade de energia de deformação do material antes da ruptura, característica relevante para o projeto de elementos estruturais que podem ser sobrecarregados acidentalmente. Os materiais com alto módulo de tenacidade sofrerão grande distorção, enquanto os com baixo valor podem sofrer ruptura repentina. As ligas metálicas podem mudar a resiliência e a tenacidade do material, alterando o diagrama tensão-deformação quando o teor de carbono na liga é modificado (HIBBELER, 2010). 3 LEI DA CONSTÂNCIA E VOLUME E VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO Considera-se a deformação em um corpo (Figura 2), sendo os volumes inicial e final de um corpo dados por: UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA 8 FIGURA 2 – VARIAÇÃO DAS DIMENSÕES FONTE: Schaeffer (2009, p. 5) Isso significa que o volume permanece constante durante todo o processo de conformação, independentemente de mudar sua forma, isto é, a fabricação da peça altera o seu formato, porém, mantém o volume inicial. As deformações em largura, comprimento e altura são consideradas os três tipos principais, correspondendo a um sistema de eixos cartesianos (eixos x, y e z). Conhecendo as três deformações principais, é possível calcular a deformação equivalente utilizando equação a seguir: Segundo a Lei de Constância de Volume, o volume inicial do corpo equivale ao volume final, ou seja, durante a deformação do material, o volume não se altera. Portanto, quando a altura da peça é diminuída, tanto o comprimento quanto a largura são aumentados, e o somatório das três deformações principais é igual a zero: A velocidade de deformação (𝜑) pode ser definida como a relação entre a velocidade da ferramenta (vf) e a altura instantânea (h): � � � �eq b l h� � � � 2 3 2 2 2( ) � � �b l h� � � 0 � . [ ]b fv h s� �1 TÓPICO 1 — PARÂMETROS FUNDAMENTAIS 9 A velocidade de deformação é utilizada para calcular a tensão de escoamento durante os processos de conformação, uma vez que há uma relação direta, ou seja, o aumento da velocidade de deformação provoca o aumento da tensão de escoamento. Normalmente, prensas mecânicas usam maiores velocidades da ferramenta, alcançando, consequentemente, maiores velocidades de deformação. Por outro lado, prensas hidráulicas usam baixas velocidades da ferramenta, atingindo velocidades de deformação consideravelmente baixas. 4 CONDIÇÕES DE ESCOAMENTO A tensão de escoamento é um dos principais parâmetros, e o seu conhecimento é indispensável para poder calcular força, trabalho/energia, prever o preenchimento das cavidades da matriz e os desgastes apresentados nas ferramentas etc. A resistência ao escoamento é uma grandeza muito importante na conformação mecânica, sendo influenciada por material, microestrutura, temperatura, deformação e velocidade de modificação. Esse conhecimento é fundamental tanto para o cálculo de força e trabalho como para o dimensionamento de matrizes e o cálculo de parâmetros internos nos materiais conformados. Grande parte das estruturas é construída para assegurar que ocorrerá deformação elástica apenas com a aplicação de uma tensão. Assim, é interessante conhecer onde a deformação plástica ou o fenômeno do escoamento tem início. O ponto de escoamento de metais, que experimentam essa transição elastoplástica gradual, pode ser definido no local em que há afastamento inicial da linearidade na curva tensão-deformação, também chamado de limite de proporcionalidade Young; é o maior valor de tensão para o qual ainda é válida a Lei de Hooke (TARDIN; MATTEDI, 2008). A prática usual consiste em definir a tensão-limite de escoamento como a carga necessária para produzir uma determinada quantidade de deformação. A transição ocorre de maneira abrupta e, normalmente, é bem definida para materiais dúcteis. Define-se tensão de escoamento como o valor necessário para iniciar a deformação plástica em um material, o qual pode endurecer até que os limites de escoamento e de resistência à tração sejam iguais e que não haja mais ductilidade. No ponto final da curva tensão-deformação, quando o metal não pode mais ser alterado plasticamente, ocorre a fratura. O valor máximo da tensão, antes de romper, é denominado resistência à ruptura do material, calculada pela divisão da carga máxima que suporta, antes da ruptura, pela área da seção transversal inicial do corpo de prova: UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA 10 Os materiais dúcteis são os mais utilizados em projetos em decorrência de sua capacidade de absorver choque ou energia. Normalmente, apresentam grande deformação antes de falhar, quando submetidos a cargas. A ductilidade de um material pode ser calculada por meio da deformação de ruptura do corpo de prova, expressa em percentual de alongamento ou da redução da área no instante de ruptura, dentro da região de estricção. Um metal com boa ductibilidade, quando rompido por tração, apresenta as características principais da fratura dúctil: zona fi brosa no centro do corpo de prova (“taça”), zona radial adjacente e zona de cisalhamento nas bordas (“cone”). De acordo com a Figura 3 (letra c), quanto menos dúctil for o metal, menor será o tamanho da zona fi brosa, até se tornar macroscopicamente nula, sendo a fratura considerada de caráter dúctil. FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO DE FRATURAS: (A) FRÁGIL; (B) MUITO DÚCTIL; (C) DÚCTIL FONTE: Souza (1986, p. 85) O formato da curva tensão verdadeira e deformação na região plástica pode ser expresso pela equação de Hollomon, que descreve um comportamento elastoplásticocom encruamento: Em que C é o coefi ciente de resistência ou a constante plástica; quando se considera a deformação (φ) igual a 1, C é igual à tensão (kf), e o grau de encruamento (n) é obtido pela inclinação da reta. As equações relacionam a tensão verdadeira kf (MPa), sendo a força F(N) a área instantânea A (mm²) e a deformação verdadeira (φ) obtida pelo logaritmo natural da deformação real (ε) somado a 1, conforme equações a seguir: TÓPICO 1 — PARÂMETROS FUNDAMENTAIS 11 Com a definição matemática, considera-se que a deformação é igual ao grau de encruamento no ponto de início da estricção, valor de carga máxima. Em função da microestrutura, que é sensível ao tamanho do grão e da quantidade de impurezas contidas no material, esse valor pode ser influenciado. Entretanto, quanto maior o grau de homogeneização, melhor o material distribuirá as deformações ao longo do seu volume. Essas equações descrevem o comportamento do material quando acima do limite de escoamento e são fundamentais para o cálculo da força, do trabalho de conformação e do dimensionamento de matrizes. São usualmente obtidas por meio de ensaios com estado de tensões uniaxial, como compressão. A equação de Hollomon indica, também, que o coeficiente n é uma medida da ductilidade, uma vez que indica a deformação verdadeira para a qual se inicia a estricção do metal. A equação da reta para a conformação a frio pode ser expressa como: Quando ocorre uma deformação plástica, o material sofre um endurecimento decorrente da modificação permanente na rede cristalina, o encruamento. Ao transpor a curva de tensão verdadeira e deformação verdadeira na escala logarítmica, em que a maioria dos materiais é bem definida, obtém-se uma reta, cuja inclinação dá o grau de encruamento obtido por Souza (1986): FIGURA 4 – GRAU DE ENCRUAMENTO FONTE: ASM International (2002, p. 10) A maioria dos metais apresenta valores de n entre 0,10 e 0,50, considerando- se que, se n = 0, o sólido é perfeitamente plástico e, se n = 1, o sólido é elástico. Os valores propostos pela ASM International (2002), para o coeficiente de encruamento (n) e tensão verdadeira (K), são expostos a seguir: UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA 12 Metais Condição n K (Mpa) Aço carbono 0,05% Recozido 0,26 530 Aço SAE 4340 Recozido 0,15 641 Aço carbono 0,6% Temperado e revenido a 540 °C 0,10 1572 Aço carbono 0,6% Temperado e revenido a 705 °C 0,19 1227 Cobre Recozido 0,54 320 Latão 70/30 Recozido 0,49 896 TABELA 1 – VALORES DE N E K À TEMPERATURA AMBIENTE FONTE: ASM International (2002, p. 10) 5 ATIVIDADE PRÁTICA – CURVAS DE ESCOAMENTO A curva de escoamento descreve o comportamento do material durante o regime plástico (acima do limite de escoamento). O levantamento da curva de escoamento do material é fundamental para o cálculo de força e trabalho de conformação, assim como o dimensionamento de matrizes e parâmetros internos nos materiais conformados. É usualmente obtida por ensaios com estado de tensões uniaxial, mas é aplicada para qualquer estado de tensões. A tensão de escoamento de um metal é influenciada por (SCHAEFFER, 2009): • Fatores explicitamente relacionados com o processo de deformação, como temperatura do material, deformação e velocidade de deformação. • Fatores não relacionados com o processo, como composição química, estrutura metalúrgica, fases, tamanho do grão, segregação e histórico dos tratamentos térmicos anteriores, ou seja, pela microestrutura do material. Alguns modelos matemáticos: • Deformação a frio – Hollomon: TÓPICO 1 — PARÂMETROS FUNDAMENTAIS 13 Uma boa lubrificação é necessária para manter um estado de tensões uniaxial, evitando o embarrilhamento. FONTE: A autora FIGURA 5 – MATRIZ E AMOSTRA ANTES DO PROCESSO DE DEFORMAÇÃO Você sabe o que é uma matriz? É uma ferramenta de modelagem da matéria, ou seja, tem o formato da peça que se deseja fabricar. Existem vários formatos de dimensões e materiais, variando conforme a necessidade do cliente. NOTA UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA 14 5.1 ATIVIDADE PRÁTICA • Objetivo: construir a curva de escoamento de um determinado material ensaiado e obter a equação que descreve a resistência ao escoamento ( kf ) como função da deformação verdadeira no processo de deformação a frio. • Dados do ensaio: ᵒ Material: AISI 1045. ᵒ Dimensões do tarugo: Diâmetro inicial (d0): 10 mm. Altura inicial (h0): 15 mm. ᵒ Temperatura: ambiente (25 °C). ᵒ Lubrificante: óleo. • Equipamentos: ᵒ Prensa hidráulica EMIC de 60 tonf. ᵒ Célula de carga de 60 tonf. ᵒ Paquímetro. • Procedimentos: ᵒ Medir a altura inicial (h0) e o diâmetro inicial (d0) em dois pontos diferentes. ᵒ Limpar as matrizes e o tarugo. ᵒ Realizar a lubrificação. ᵒ Centrar o corpo de prova na prensa. ᵒ Efetuar a compressão, registrando os valores de carga e deslocamento. ᵒ Medir altura e diâmetro finais em dois pontos diferentes. 5.2 REFLEXÕES DA PRÁTICA 1 Determine a equação da resistência ao escoamento. 2 Utilizando a Lei de Constância de Volume, pode ser determinada a área instantânea do corpo de prova e, por meio desses dados, obtêm-se a tensão de escoamento verdadeira e a deformação verdadeira do material. TÓPICO 1 — PARÂMETROS FUNDAMENTAIS 15 FONTE: A autora GRÁFICO 1 – TENSÃO VERDADEIRA x DEFORMAÇÃO VERDADEIRA 16 Neste tópico, você aprendeu que: • A deformação é definida como a quantidade geométrica medida por experimentos que determinam a tensão no corpo pelas relações entre as propriedades dos materiais. • Um corpo, quando submetido a um carregamento externo, tem sua forma modificada; essas forças podem provocar deformações elásticas ou plásticas. • O gráfico de tensão-deformação é uma ferramenta importante na engenharia, pois permite extrair dados, como a resistência à tração ou à compressão. • O módulo de tenacidade indica a densidade de energia de deformação do material antes da ruptura, característica relevante para o projeto de elementos estruturais que podem ser sobrecarregados acidentalmente. • Segundo a Lei de Constância de Volume, o volume inicial do corpo equivale ao volume final, ou seja, durante a deformação do material, o volume não se altera. • Define-se tensão de escoamento como o valor necessário para iniciar a deformação plástica em um material, o qual pode endurecer até que os limites de escoamento e de resistência à tração sejam iguais e que não haja mais ductilidade. • A tensão de escoamento é um dos principais parâmetros e o seu conhecimento é indispensável para poder calcular força, trabalho/energia, prever o preenchimento das cavidades da matriz e os desgastes. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 Para o ensaio de compressão, calcule a deformação verdadeira (ϕz = ϕh) e a deformação relativa (εz), sendo h0 = 20 mm e h1 = 10 mm, com um diâmetro inicial igual a 15 mm (d0 = 15 mm). Calcule, também, a deformação nas outras duas direções principais e a deformação equivalente. 2 Para o ensaio de compressão de um corpo cilíndrico, calcule a velocidade no início e no final do ensaio, e a velocidade de deformação média do ensaio realizado. A velocidade de deformação média é dada por |ϕh| / t. AUTOATIVIDADE 3 Um corpo de forma geométrica cilíndrica, com dimensões h0 = 30 mm e d0 = 20 mm, é submetido a uma compressão sem atrito. O diagrama mostra um registro da força x deslocamento. a) Qual é o valor da tensão de escoamento inicial após o término do teste? b) Qual é o valor da deformação equivalente de acordo com Tresca e com von Mises? 19 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 1 INTRODUÇÃO A história do arame é tão antiga quanto a história da civilização e dos desenvolvimentos artesanal e industrial do mundo. Arames já eram usados pelos egípcios há 5.000 anos, para bordar mantos com fios de ouroe para iniciar o processo de fabricação de copos de vidro. A trefilação é um processo de fabricação que acontece por meio do alongamento de um material e consequente redução em área de seção transversal, com obtenção pela passagem forçada do material através de uma fieira, também chamada matriz cônica, mediante a aplicação de uma força de tração na ponta do material. A deformação ocorre à medida que o material atravessa a fieira, tendo seu diâmetro reduzido. Esse processo é amplamente utilizado na indústria metalmecânica, na fabricação de barras, arames e tubos para a construção de eixos automotivos, componentes mecânicos, cabos de aço para a indústria pesqueira, trilhos de trem, pregos, parafusos etc. Pode ser considerado o principal processo de conformação mecânica para gerar grandes quantidades de produtos de pequeno diâmetro e com excelente controle dimensional (SOUZA et al., 2015). Um parâmetro muito importante a ser considerado é o atrito entre o material trefilado e a fieira, ferramenta responsável pela redução do diâmetro do material. O atrito influencia a maioria dos processos de fabricação e surge nas interfaces onde existe movimento relativo entre o material e a ferramenta. É um fenômeno indesejável, na maioria das vezes, por exigir, com seu aumento, maior potência para efetuar a operação, afetando, também, o acabamento superficial da peça, e influencia na deformação do material, alterando valores de força e a vida em desgaste das ferramentas. Além disso, é preciso que as propriedades mecânicas do material, como acabamento superficial, limite de resistência e limite de ruptura, sejam controladas e melhoradas de modo a obter um produto de melhor qualidade. Outro parâmetro fundamental em um processo de trefilação é a força necessária para o material atravessar a fieira, que tem uma estreita relação com a porcentagem de redução do material; quanto maior é a redução, maior a força necessária. Neste tópico, estudaremos todos esses aspectos. 20 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA 2 TREFILAÇÃO Como vimos, a trefilação é um processo de fabricação de fios, arames ou barras metálicas, realizado pelo alongamento de um material e consequente redução da área de seção transversal. Isso é obtido pela passagem forçada do material através de uma fieira, também chamada matriz cônica, mediante a aplicação de uma força de tração na ponta do material. A deformação ocorre conforme o material atravessa a fieira, o que gera diâmetro reduzido. Assim, obtém-se um produto de área de seção transversal menor e comprimento maior. As principais características do processo de trefilação incluem boas qualidades superficial e dimensional e melhoria das propriedades mecânicas. Para visualizar melhor o processo de trefilação, assista ao seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=apZsju2pjZ8. DICAS Esse processo pode ser feito com várias formas de seção de fieiras, como redondas, sextavadas, perfil T, quadradas etc. As fieiras de trefilação são construídas de material de elevada dureza, usualmente, o carboneto de tungstênio (WC), em virtude da sua grande durabilidade. São caracterizadas por seu diâmetro de entrada/saída e ângulo de trefilação, também chamado de ângulo do cone. A região da entrada é construída com um ângulo maior do que o ângulo de trefilação, para facilitar a lubrificação. Na saída, é necessária uma região cilíndrica por razões de design, manutenção da matriz e para diminuir a velocidade do desgaste do diâmetro da saída da fieira. Além disso, caso ocorra uma parada brusca no processo, isso evitará tanto o retorno elástico do material quanto que a fieira grude. A seguir, será apresentada a vista lateral de uma fieira. TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 21 FIGURA 6 – VISÃO LATERAL DE UMA FIEIRA COM NÚCLEO E CARCAÇA FONTE: Cetlin (2006, p. 62) O objetivo do núcleo é resistir, ao máximo, ao desgaste provocado pela passagem do arame. O desgaste da fieira aumenta o diâmetro de saída, produzindo barras e arames com bitola fora da especificação e péssimo acabamento superficial. Durante a trefilação, a passagem do material desenvolve forças resistivas no furo do núcleo, tendendo a aumentar o diâmetro da ferramenta. Por ser muito duro, o núcleo pode quebrar durante o processo. FIGURA 7 – ESQUEMATIZAÇÃO DO DESGASTE QUE OCORRE NA FIEIRA FONTE: Cetlin (2006, p. 63) Para evitar a quebra do núcleo, deve-se envolvê-lo com uma carcaça de aço comum, o que o ajuda a suportar a pressão interna do material. O núcleo entra prensado no furo da carcaça. Para aumentar, ainda mais, a compressão da carcaça sobre o núcleo, às vezes, aquece-se a carcaça antes de prensar o núcleo, que está frio. Quando a carcaça esfria, ela contrai e aperta o núcleo, que fica ainda mais protegido contra a quebra. 22 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA A maior dureza que um aço trefi lado pode ter é cerca de 600 a 700 Vickers (HV). O núcleo de carboneto de tungstênio é muito mais duro, porém, quando se deseja uma resistência muito grande ao desgaste, utilizam-se núcleos de diamante. Os núcleos mais comuns são os de diamante policristalino, fabricados a partir de pequenos grãos de diamante sintético (diâmetro de 0,004 mm a 0,025 mm) e misturados com cobalto, que podem ser utilizados para materiais com diâmetro de até 20 mm. Quando os grãos de diamante são grandes, a resistência ao desgaste é alta, mas o material é difícil de polir e o arame fi ca com acabamento ruim. Quando os grãos de diamante são pequenos, o desgaste do núcleo é maior, mas o acabamento do arame fi ca melhor. Para arames fi nos (entre 0,5 mm e 1,0 mm), podem ser usados núcleos de diamante formados por um só grão, o diamante monocristalino, que pode ser sintético ou natural. Existem quatro regiões de importância na fi eira: o raio de entrada, o cone de trabalho, o cone de calibração e o cone de saída (Figuras 8 e 9). FIGURA 8 – REGIÕES DE UMA FIEIRA FONTE: Cetlin (2006, p. 65) FIGURA 9 – FIEIRA DE TREFILAÇÃO E AS QUATRO REGIÕES DISTINTAS FONTE: Nunes (2008, p. 16) TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 23 O raio localizado na região de entrada da fieira não necessita de polimento, e sua principal função é a eliminação dos cantos vivos. Já a região de entrada tem, como função, auxiliar a entrada do lubrificante na região do trabalho. A região do trabalho é onde ocorre a redução do diâmetro, assim, deve ser bem polida para diminuir o atrito entre a fieira e o material. Além disso, o comprimento do cone deve ser o dobro do comprimento de contato entre a fieira e o material, para evitar o desgaste e a lubrificação ineficiente. FIGURA 10 – REGIÃO DE ENTRADA FONTE: Cetlin (2006, p. 65) • Região de entrada (1): região da fieira com um ângulo um pouco maior do que o ângulo de trefilação, o que facilita a lubrificação do processo e o guiamento da barra. • Região de trabalho (2): região onde se situa o ângulo de trefilação, no qual ocorre a reação da fieira à força trativa, que impulsiona o metal a atravessar a fieira. Essa reação promove o escoamento plástico do material. Local onde se define o semiângulo (α), além da redução da fieira e, por consequência, do diâmetro final do material em trabalho. • Região de calibração (3): região cilíndrica de comprimento Hc , com ângulo zero, relacionada à estabilização dos parâmetros do material que foram modificados durante o processo de trefilação. Apesar de não causar redução de diâmetro, relaciona-se com a qualidade do produto final, removendo danos na superfície causados durante o escoamento plástico do material. • Região de saída (4): região com ângulo de saída (γ) oposto ao ângulo de trefilação e de entrada. Essa região facilita a saída do produto final e permite o retorno elástico do material antes da saída completada fieira, além de minimizar a possibilidade de abrasão, caso a trefilação pare ou a fieira esteja desalinhada. 24 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA O objetivo da região de calibração é diminuir o desgaste da saída da fieira, além de manter, por mais tempo, a bitola correta da saída do material. Essa região está relacionada à estabilização das propriedades mecânicas, que foram alteradas na região do trabalho. O exposto a seguir mostrará que a região da calibração deve ter geometria cilíndrica, para evitar o desgaste prematuro. FIGURA 11 – REGIÃO DE CALIBRAÇÃO FONTE: Cetlin (2006, p. 65) Já a região da saída é essencial para proteger a calibração contra quebras. Se não existir a região da saída, qualquer desalinhamento do material poderá causar quebras na região da calibração, que ficará mais curta ou desaparecerá na região da quebra. Os maiores danos ocorrem na região onde o material toca primeiro na fieira. Na região, são arrancados grãos de carboneto de tungstênio, que, geralmente, aderem em outros lugares da região do trabalho e começam a arranhar o material. Forma-se, assim, uma região de danos na fieira em formato de anel. Depois de certo grau de formação do anel, é necessário retirar o material dessa região, utilizando uma retífica da fieira. Se uma fieira deve ser retificada por causa da formação dos anéis, ela será cortada de forma a manter o ângulo do cone de trabalho. Caso o corte para a retirada do anel seja muito profundo, o comprimento do paralelo pode ficar muito curto, então, a fieira só poderá ser usada se seu diâmetro de saída for aumentado, de modo que seu paralelo fique, outra vez, do tamanho adequado. O processo de trefilação exige a existência de um equipamento que seja capaz de puxar o arame através das fieiras. Na trefilação de arames, essas máquinas são classificadas em função do número de passes, os blocos. Estes podem ser classificados em: • tipo simples ou monoblocos: utilizados para a fabricação de arames com grandes bitolas (grandes diâmetros) que passam por um único passe; • tipo duplos: para arames médios que utilizam dois passes; TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 25 • tipo múltiplos: para arames médios a finos que utilizam mais de dois passes. Para equipamentos com mais de um passe, também são classificados em função da sua forma de atuação: máquinas cumulativas, que utilizam blocos; máquinas não cumulativas, ou seja, que são diretas com braço de controle (compensador); e máquinas Double-Deck, que são cumulativas com deslizamento. FIGURA 12 – ETAPAS DO PROCESSO DE TREFILAÇÃO COMBINADA FONTE: Nunes (2011, p. 16) 3 FORÇA DE TREFILAÇÃO Quando se executa uma trefilação, é necessário fazer uma força (Ftref), para que o material seja trefilado, o que depende das seguintes variáveis: • Redução da área no passe (R). • Bitola de saída do material (df). • Limite de resistência à tração inicial do material (antes do passe – σti). • Lubrificação entre o material e a fieira. • Semiângulo da fieira (α). • Comprimento do paralelo. FIGURA 13 – FORÇA PARA TREFILAR FONTE: Cetlin (2006, p. 66) 26 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA Os primeiros modelos teóricos para o cálculo da força surgiram no início do século XX, com Lewis, em 1915. Em busca de formulações que fornecessem valores mais precisos para a força de trefilação, diversos modelos teóricos foram desenvolvidos em seguida. Sachs apresentou o seu modelo em 1927, com base na teoria elementar da plasticidade. Já Siebel, também após 1927, em diversos trabalhos científicos, propôs seu modelo a partir do trabalho de trefilação realizado. Mais tarde, na década de 1940, Geleji desenvolveu novas formulações fundamentadas nas equações de Sachs e Siebel. Se a bitola da saída do material (df) é dada em mm, e o limite de resistência à tração inicial do material (antes do passe – σti) é dado em kgf/mm2, a força para trefilar (Ftref) em kgf é obtida pela a equação a seguir, em que k depende da redução da área no passe: Se a bitola da saída do material (df) é dada em mm, e o limite de resistência à tração inicial do material é dado em Mpa, a força para trefilar (Ftref) em N é dada pela mesma equação em N, para σti em MPa. A redução da seção da barra a ser trefilada é limitada por diversos fatores durante o processo, como a resistência do material ao escoamento (kf), o desgaste da fieira e a potência do equipamento. Para a determinação desses fatores, é necessário o conhecimento da força de trefilação para conformação, o que servirá como base de validação para simulações computacionais. Diversos modelos teóricos foram desenvolvidos durante o século passado, como os de Sachs, Siebel e Geleji. Todos os modelos criados fornecem valores aproximados para a força de trefilação, partindo de diferentes premissas. Entretanto, todos estão baseados nas mesmas variáveis, tendo importâncias relativas diferentes. Essas variáveis, fundamentais parâmetros de trefilação, são: o semiângulo de entrada (α), o coeficiente de atrito entre a barra e a fieira (µ), a redução (representada pelas áreas inicial e final) e o valor da tensão de escoamento médio do material (kfm). De modo geral, o exposto a seguir apresentará os esforços envolvidos durante o processo de trefilação, utilizando um diagrama de corpo livre. A soma das forças ao longo do eixo y deve ser zero e está representada por: • Tensão longitudinal (σy). • Pressão da fieira (p), ou seja, a pressão normal à superfície da ferramenta. • O componente devido ao atrito (µp) presente na região de contato entre a fieira e a barra. TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 27 FIGURA 14 – ESFORÇOS ENVOLVIDOS DURANTE A TREFILAÇÃO FONTE: Nunes (2011, p. 17) O modelo de Siebel teve, como base, o trabalho necessário para a trefi lação, partindo de um elemento cilíndrico no interior da fi eira. O trabalho total para a trefi lação (T) será a soma de três parcelas, a do trabalho útil (Tu), a do trabalho devido ao atrito (Ta), e a do trabalho interno de cisalhamento (Tc – também chamado de atrito interno). É causado pela mudança de orientação do material dentro da fi eira. Dessa maneira, a força de trefi lação será defi nida como: Já o modelo de Sachs foi desenvolvido a partir da teoria elementar da plasticidade. O modelo considera um elemento de tamanho dy e se aplica à condição de equilíbrio de forças no sentido axial. A equação resultante é: Em que A1 é a área da barra após a trefi lação (mm2); Ao, a área da barra antes da trefi lação (mm2); kfm, a tensão de escoamento média (Mpa); φA, a deformação em área ou longitudinal; µ, o coefi ciente de atrito de Coulomb; e α, o semiângulo da fi eira expresso em radianos. Os aços com carbono mais alto apresentam um limite de resistência maior, portanto, exigirão maior força para trefi lar. À medida que sua redução de área total (RT) cresce, o limite de resistência aumenta, de acordo com o tipo de aço. Por isso, a força para trefi lar deve aumentar quando a RT é elevada, porém, a bitola F A kA fm A � � � � � � � � �1 1 2 3 � � � � � 28 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA do arame diminui conforme o aumento de RT. Como a bitola afeta mais a força para trefilar do que o limite de resistência, normalmente, a força para trefilar diminui para sucessivos passes de trefilação. GRÁFICO 2 – LIMITE DE RESISTÊNCIA x REDUÇÃO TOTAL DA ÁREA FONTE: Schaeffer (1999, p. 15) Para executar a trefilação, o equipamento utilizado deve ser capaz de aplicar a força necessária para trefilar (Ftref). Além disso, seu motor deve ter potência para trefilar (Utref), que permita executar a operação na velocidade final (Vf) desejada. Quando a força de trefilação (Ftref) for dada em kgf e a velocidade final (Vf) em m/s, a potência necessária para trefilar (Utref), em kgf.m/s, écalculada pela fórmula: Em caso de potência (Utref) em HP (Horse-Power ou cavalos), divide-se o resultado da fórmula anterior por 75. Se a força de trefilação (Ftref) for dada em Newton (N) e a velocidade final (Vf) em m/s, a potência (Utref) será dada em Watt (W). Para encontrar a potência (Utref) em quilowatt (kW), basta dividir a potência calculada em Watt (W) por 1.000. Para cada percentual de redução de área, haverá um ângulo de fieira pelo qual a força trativa necessária para que a barra atravesse a fieira será mínima (VEGA; HANDDLE; IMAD, 2009). TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 29 É importante encontrar o ângulo de fieira que minimize a força de trefilação, denominado semiângulo ótimo (αótimo), o que permite reduzir os gastos com energia, os valores das tensões envolvidas e o risco de rompimentos da barra. Para isso, deriva-se a Equação de Siebel em função do ângulo ótimo e se iguala a zero, o que indicará, matematicamente, o ponto em que os trabalhos realizados pela força de atrito e pela força de trabalho redundante são iguais, chegando-se a: Durante o processo de trefilação, ocorre aquecimento do material, o qual é diretamente proporcional à redução da área da seção transversal no passe e ao limite de resistência do material antes do passe e/ou à taxa de deformação. Em uma máquina de trefilação, para as mesmas bitolas de entrada e de saída, ou seja, a mesma redução da área total na máquina, o aquecimento será maior quando se usar um menor número de passes, com maiores reduções de área por passe, e se trefilar aço com carbono mais alto (porque ele tem maiores limites de resistência). O exposto a seguir mostrará um caso em que se obteve a mesma redução da área total (80%) desde o fio-máquina até o arame final. Foram trefilados dois tipos de aço, e a trefilação foi feita de três maneiras: pequena redução de área por passe (primeiro passe livre e depois 10% por passe – pouco aquecimento), redução de área média por passe (primeiro passe livre e depois 20% por passe – aquecimento médio) e redução de área alta por passe (primeiro passe livre e depois 30% – alto aquecimento). 30 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA Redução de área por passe Número de passes Limite de Resistência do Aço Aço com 0,67% de carbono (C) Aço com 0,15% C 10% por passe 16 passes 155 kgf/mm² 96 kgf/mm² 20% por passe 8 passes 167 kgf/mm² 97 kgf/mm² 30% por passe 5 passes 190 kgf/mm² 98 kgf/mm² FONTE: Gentile et al. (2002, p. 45) QUADRO 1 – REDUÇÃO DA ÁREA TOTAL DO FIO-MÁQUINA ATÉ O PRODUTO: 80% Podemos notar que o limite de resistência dos aços com teor de carbono mais baixo (0,15% de carbono) quase não depende do aquecimento na trefilação. No caso do aço de carbono mais alto (0,67% de carbono), quanto maior o aquecimento, maior é o limite de resistência do produto – o que inicia a partir de cerca de 0,35% de carbono. Quando se aumenta a velocidade de trefilação, o aquecimento é maior e o mesmo efeito é observado para materiais de carbono mais alto. Na prática, há grande variação das características das curvas tensão- deformação para diferentes tipos de materiais. FONTE: Garcia; Spim; Santos (1999, p. 35) FIGURA 15 – TENSÃO x DEFORMAÇÃO Quando a amostra de um material solicitado por uma força sofre uma deformação e, após a retirada da força aplicada, recupera suas dimensões originais, essa deformação é definida como deformação elástica. Esse comportamento é descrito, matematicamente, pela equação da elasticidade de uma mola, dada por: P = k . x (Equação 22) TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 31 Em que k é constante de proporcionalidade (constante da mola) e x, o deslocamento. A seguir, poderemos visualizar a relação entre a deformação e a inclinação da região de trabalho. FONTE: Nunes (2011, p. 25) FIGURA 16 – REGIÕES DE DEFORMAÇÃO HETEROGÊNEA A deformação elástica de um corpo de prova é dada pela lei de Hooke e descreve uma relação linear entre tensão e deformação: E é o módulo de elasticidade, módulo Young, que fornece uma indicação de rigidez do material, e seu comportamento é inversamente proporcional à temperatura, conforme a Equação 5: σ = E . ε As principais tensões definidas na região elástica são: • σa – limite de elasticidade: máxima tensão que o material pode suportar sem apresentar deformação permanente após a retirada da carga; • σp – limite de proporcionalidade: máxima tensão acima da qual o material não mais obedece à lei de Hooke, isto é, perde-se a linearidade entre a relação tensão-deformação, na prática, σa = σp. Quanto maior o módulo de elasticidade, menor a deformação elástica resultante da aplicação de uma determinada carga. As forças de ligação entre os átomos e o módulo de elasticidade são maiores para metais com temperaturas de fusão mais elevadas. 32 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA 4 LUBRIFICAÇÃO A trefilação é considerada um processo de conformação a frio, porque o material não é aquecido antes de ser trefilado. Isso confere uma maior precisão dimensional e melhores propriedades mecânicas em comparação a processos de conformação a quente. Entretanto, como há um forte atrito entre o material e a fieira, e o material sofre uma grande deformação, este pode atingir altas temperaturas se não forem tomados cuidados específicos em relação à lubrificação e à refrigeração. A trefilação é praticamente impossível de ser exercida sem a lubrificação, por conta do grande atrito entre a fieira e o material. Atrito é a resistência ao movimento das superfícies de dois corpos em contato, durante o deslizamento de um sobre o outro. O atrito influencia, significativamente, a deformação do material, alterando os valores de forças e a vida em desgaste das ferramentas (ROCHA et al., 2011). A intensidade da força de atrito depende dos tipos de materiais em contato, da lubrificação entre os dois materiais e da pressão apertando um material contra o outro. Quanto maior a pressão, maior o atrito (SOUZA et al., 2018). As formulações existentes para descrever o atrito entre corpos sólidos são relativamente simples. A mais conhecida é a de Coulomb, criada em torno de 1875. Em termos gerais, as leis podem ser expressas da seguinte forma: • O atrito estático deve ser maior do que o atrito dinâmico. • O atrito é independente da velocidade de deslizamento. • A força de atrito é proporcional à carga aplicada. • A força de atrito é independente da área de contato. Normalmente, o atrito é representado pelo coeficiente de atrito μ e pode ser definido pela razão entre a força de atrito (Fa) e a carga normal (N): Na trefilação, o material se movimenta em relação à fieira e há uma grande pressão entre eles, gerando, assim, uma força de atrito sobre o material, que se opõe ao seu movimento. A força para trefilar, exercida pelo motor do bloco, tem que vencer essa força de atrito. Muitas vezes, isso a torna superior aos limites de ruptura do material, provocando sua quebra. Ainda que o material não se rompa, o atrito entre a fieira e o material causa um grande aquecimento, que pode afetar profundamente as características mecânicas do material. Além disso, o material sai muito arranhado e as fieiras se desgastam rapidamente. Portanto, a trefilação com grandes reduções é praticamente impossível caso não sejam utilizadas técnicas para diminuir o atrito entre o material e as fieiras. � � � � � F N a N TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 33 FONTE: Cetlin (2006, p. 68) FIGURA 17 – FORÇA DE ATRITO NO PROCESSO DE TREFILAÇÃO Lubrificação é a interposição entre duas superfícies em contato de uma camada de material com resistência ao cisalhamento mais baixa. Existem três tipos básicos de lubrificação: lubrificação seca, líquida e limite (SOUZA et al., 2018). O objetivo da lubrificação na trefilação é formar uma camada de lubrificante entre o materiale a fieira, para: • diminuir a força necessária para trefilar e, assim, conseguir trefilar o arame sem romper; • trefilar o arame sem riscar sua superfície; • diminuir o desgaste da fieira, aumentando o tempo que ela dura sem precisar trocar; • deixar uma camada de lubrificante grossa ou fina no arame produzido; • deixar o material mais fosco ou mais brilhante. Na Figura 18, é possível visualizar como ocorre a lubrificação seca, que se caracteriza por uma camada de lubrificante sólido entre as superfícies deslizantes. É depositada uma camada prévia sobre a superfície do lubrificante, para que ele, que é mais macio do que o aço, auxilie na lubrificação entre o metal e a fieira. Durante o processo de trefilação, a lubrificação, em geral, ocorre pela inserção do lubrificante em uma caixa na entrada da fieira, que irá se posicionar entre ela e o material trefilado, formando uma camada lubrificante entre suas superfícies e, consequentemente, diminuindo o atrito (SOUZA et al., 2018). 34 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA FONTE: Cetlin (2006, p. 70) FIGURA 18 – FORÇA DE ATRITO NO PROCESSO DE TREFILAÇÃO COM LUBRIFICANTE Os lubrificantes sólidos ou sabões são usados na trefilação de arames de aço em máquinas cumulativas e não cumulativas. Com o aquecimento, propiciado pela trefilação, o sabão em pó se torna pastoso na região de entrada do material na fieira e na camada entre a fieira e o material (Figura 19). Para que os lubrificantes sólidos sejam arrastados pelo material, é necessário que o arame apresente uma boa rugosidade. TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 35 FONTE: Cetlin (2006, p. 73) FIGURA 19 – LUBRIFICANTE NO PROCESSO DE TREFILAÇÃO Uma característica importante do sabão em pó é sua granulometria. Quando a granulometria é fina, a rugosidade da superfície do material arrasta o sabão com mais facilidade. Por outro lado, os sabões com grãos pequenos têm que ser mais agitados para manter a qualidade da lubrificação. A viscosidade (η) do lubrificante indica se ele é mais líquido ou mais pastoso. Quanto maior a viscosidade, mais pastoso é o lubrificante e, consequentemente, forma uma boa camada entre a fieira e o material, melhorando, assim, a lubrificação na trefilação, pois maior será a tensão de cisalhamento. 36 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA Para aumentar a viscosidade do lubrificante, comumente, adicionam-se agentes espessantes ao sabão, em geral, entre 50 e 60% de cal, o que aumenta a viscosidade em até cinco vezes. Quando a temperatura aumenta, a viscosidade dos lubrificantes diminui, eles ficam mais “ralos” e a lubrificação na trefilação piora, pois, ao mesmo tempo, diminuem a camada de lubrificante e a tensão de cisalhamento. Quanto maior a redução da área nos passes (R), o limite de resistência do material antes dos passes (σti) e a velocidade de trefilação, maior o aquecimento na trefilação. Já na redução de barras, a trefilação é feita com pequenas reduções e baixa velocidade. O aquecimento é pequeno, e os sabões não chegam a ficar pastosos. Nesse caso, o melhor lubrificante é o óleo mineral. Quando há grande aquecimento na trefilação, a viscosidade dos lubrificantes cai muito, e é necessário usar sabão de cálcio no lugar do sabão de sódio. Isso significa que, se o sistema de refrigeração da máquina não funcionar direito, a lubrificação também irá piorar, porque o sabão vai esquentar mais. Observa-se, também, que o arraste do lubrificante aumenta quando: • aumenta o comprimento do canal de trabalho (LCT); • diminui a altura do canal de trabalho (HCT); • aumenta a velocidade de trefilação. O arame se movendo aplica, no lubrificante, uma tensão de arraste que tenta levar o lubrificante com o arame (Figura 20). Algumas variáveis que controlam a tensão de arraste do lubrificante são: • Viscosidade do lubrificante (η). • Velocidade do material (V). • Espessura da camada do lubrificante (h). TÓPICO 2 — TREFILAÇÃO E LAMINAÇÃO 37 FONTE: Cetlin (2006, p. 75) FIGURA 20 – TENSÃO DE ARRASTE DO LUBRIFICANTE São aspectos essenciais para obter uma alta pressão no lubrificante e, portanto, uma boa lubrificação: • O lubrificante deve ter alta viscosidade (η). • O material deve ser trefilado à alta velocidade (V). • Em uma fieira simples, o ângulo da fieira (α/2) deve ser baixo. Alguns fatores são de grande importância na seleção preliminar de um lubrificante para a trefilação: • Diâmetro do material e tipo de equipamento. • Temperatura atingida na trefilação. • Material sendo trefilado (teor de carbono). • Preparação inicial da superfície do material. • Camada residual de lubrificante e brilho desejado. 38 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA 5 ATIVIDADE PRÁTICA – TREFILAÇÃO • Processo de trefilação: tracionamento do produto (arame/barra/fio-máquina) por meio de uma matriz (fieira) que confira geometria, dimensões especificadas e propriedades metalúrgicas. • Objetivo: executar operação de trefila de arame com diferentes reduções e diferentes lubrificantes, além de executar os cálculos de força de trefilação. • Dados do ensaio: ᵒ Material: arame (fio-máquina) AISI SAE 1015, diâmetro de 4 mm. ᵒ Fieira de diamante industrial. ᵒ Lubrificante: AGEMIX OIL 668 ou DECHELUB MD 210. • Equipamentos: ᵒ Aquisição de força: célula de carga 200 kN (20 tf). ᵒ Aquisição de dados: Spider 8 – software: Catman. ᵒ Máquina de Ensaios Universal Kratos (10 tf). • Procedimentos: ᵒ Instalar célula de carga no equipamento. ᵒ Apontar o fio-máquina. ᵒ Inserir fio-máquina na fieira com o lubrificante. ᵒ Aplicar a força de tracionamento até a obtenção do diâmetro final de 3,4 mm. 5.1 REFLEXÕES DA PRÁTICA 1 Quantas reduções foram realizadas para chegar ao diâmetro final desejado? 2 Qual é a importância do uso do lubrificante? Você sabe o que é um software de aquisição? O software para aquisição de dados permite visualização, análise e gravação dos dados durante a medição e posterior geração de relatórios. Nessa prática, utilizamos o software Catman. Você pode acessar um vídeo explicativo do uso da ferramenta em: https://www. youtube.com/watch?v=qJdowVuOe4o. DICAS https://www.youtube.com/watch?v=qJdowVuOe4o https://www.youtube.com/watch?v=qJdowVuOe4o 39 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A trefilação é um processo de fabricação de fios, arames ou barras metálicas por meio do alongamento de um material e consequente redução da área de seção transversal. • A redução da seção da barra a ser trefilada é limitada por diversos fatores durante o processo, como a resistência do material ao escoamento (kf), o desgaste da fieira e a potência do equipamento. • A ferramenta utilizada no processo de trefilação é uma matriz chamada de fieira, que apresenta várias formas de seção: redondas, sextavadas, perfil T, quadradas etc. • As fieiras de trefilação são construídas de material de elevada dureza, usualmente, carboneto de tungstênio (WC) ou diamante industrial, em decorrência da grande durabilidade. • Existem quatro regiões de importância na fieira: o raio de entrada, o cone de trabalho, o cone de calibração e o cone de saída. • Quando se executa uma trefilação, é necessário fazer uma força, chamada de força de trefilação. • Na trefilação, o material se movimenta em relação à fieira, e há uma grande pressão entre eles, gerando uma força de atrito sobre o material, que se opõe ao seu movimento, necessitando, assim, de uma camada de lubrificante entre o material e a fieira. 40 1 Para trefilar um arame com diâmetro inicial de 7 mm até o diâmetro final de 6 mm, determine o número mínimo de passes necessários para executar o processo. Por simplificação, considere as reduções sempre iguais em cada passe. Dados: • Diâmetro da bobinadeira de 400 mm. • Rotação da bobinadeira fixa em 300 RPM. • Material do arame: CK 10 (DIN) – 216,0740 ϕ⋅=fke MPak f 2600 = 260MPa. • Coeficiente de atrito (µ) na interface fieira/material igual a 0,06. • Semiângulo (α) da fieira na região de trabalho igual a 9°. a) Calcule a força de trefilação e a potência em cada passe utilizando a formulação de Siebel. AUTOATIVIDADE b) Calcule o grau de esforço em cada passe e diga se é possível realizar as reduções. 2 Trefilação é um processo de conformação para a fabricação de fios, eixos, tubos etc. Pode ser realizada pela passagem da matéria-prima através de uma fieira, reduzindo, assim, seu diâmetro e aumentando o seu comprimento. Para que isso ocorra sem danos à superfície do material e à ferramenta, é necessária a lubrificação. Defina o que é essa etapa e seus principais objetivos. 41 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 FORJAMENTO E EXTRUSÃO 1 INTRODUÇÃO Em função do metal utilizado, a conformação pode ser classificada quanto ao tipo de esforço predominante e à temperatura de trabalho, e cada um fornecerá características especiais à peça obtida. Os processos podem ocorrer por métodos de compressão indireta, trefilação e extrusão; por compressão direta, laminação e forjamento; por tração, estiramento de chapas e cisalhamento ou corte. A temperatura na qual o material da peça é conformado também é um aspecto importante, pois gera mudanças metalúrgicas que tornam o material mais dúctil. Com relação ao trabalho mecânico a frio, a deformação plástica provoca aumento da resistência mecânica no metal e, na temperatura quente, o encruamento é eliminado pela recristalização do material. Neste tópico, estudaremos as principais características do processo de conformação direta, ou seja, os processos de laminação e forjamento. 2 LAMINAÇÃO Laminação é um processo de conformação mecânica, responsável pela redução da seção da matéria-prima (tarugo, placa, lingote), realizada pela passagem por dois cilindros que giram em sentidos opostos. Esse processo também segue a Lei de Constância de Volume, no sentido de que modela a matéria-prima, mantendo o seu volume. Assim, o metal é forçado a passar por dois cilindros, girando em sentidos opostos, com a mesma velocidade superficial, a uma distância menor do que o valor da espessura da peça a ser conformada. 42 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA FONTE: Cetlin (2006, p. 80) FIGURA 21 – PROCESSO DE LAMINAÇÃO Para um fluxograma de produção na laminação a quente, consulte o site da Usiminas, acessando Usina e, depois, Fluxo de Produção: https://www.usiminas.com/mercado/usiminas-retoma-operacoes-do-alto-forno-1-em- ipatinga-2/. DICAS FONTE: A autora FIGURA 22 – MATÉRIA-PRIMA E PROCESSO DE LAMINAÇÃO O processo de laminação pode ser classificado, basicamente, em processos de laminação a quente e a frio. A matéria-prima são tarugos, placas e blocos provenientes de aciaria. TÓPICO 3 — FORJAMENTO E EXTRUSÃO 43 • Processo de laminação a quente: o material é laminado a altas temperaturas, normalmente, entre 1.000 e 1.200 °C. As matérias-primas usuais são lingotes, tarugos, placas ou materiais previamente conformados. Os aços longos laminados (vergalhões, barras, fio-máquina) sempre são obtidos por laminação a quente. • Processo de laminação a frio: o material é laminado em temperatura ambiente, normalmente, utilizado para a produção de chapas finas, cuja matéria-prima são chapas mais grossas, previamente laminadas a quente. Os produtos obtidos pelo processo de laminação se chamam produtos longos e planos. Produtos longos são aqueles de seção transversal constante, que constituem figuras geométricas simples, como barras, vergalhões, fio-máquina, perfis, trilhos e acessórios, tubos sem costura e arames trefilados. Produtos planos são aqueles de seção transversal retangular constante, com largura nominal maior que duas vezes a espessura, como bobinas, chapas grossas e finas e folhas-de- flandres. FONTE: Cetlin (2006, p. 80) FIGURA 23 – PRODUTOS LONGOS A principal ferramenta utilizada no processo de laminação são os laminadores, formados por gaiolas, as quais comportam os cilindros. Conforme apresentado na imagem a seguir, os tipos de gaiolas podem ser: • Gaiolas duo (a): compostas de dois cilindros paralelos horizontais. • Gaiolas duo reversível (b): compostas de dois cilindros paralelos com movimentos possíveis em ambos os sentidos. • Gaiolas trio (c): compostas de três cilindros paralelos horizontais, com sentidos alternados em cada par. • Gaiolas universais: compostas de um par de cilindros na horizontal e outro na vertical. 44 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA FONTE: Cetlin (2006, p. 81) FIGURA 24 – GAIOLAS LAMINADORAS Um dispositivo importante nas gaiolas é a guia de laminação, que é montada com a entrada e a saída do material nos canais, e destina-se a guiar e a manter a peça na posição necessária. FONTE: A autora FIGURA 25 – GUIA DE LAMINAÇÃO As gaiolas de laminação podem ser organizadas em: • Trem aberto: realizam-se passes sucessivos, normalmente, em gaiolas duo ou trio reversíveis. Utilizam-se mesas basculantes ou manipuladores. • Trem contínuo: o tarugo passa apenas uma vez por cada gaiola, em vez dos passes sucessivos nas gaiolas reversíveis. Consegue-se, assim, um grande aumento de produtividade, uma vez que os tarugos permanecem menos tempo na mesma gaiola. Entretanto, o espaço necessário para esse equipamento é grande, pois ele deve estar todo em linha. Isso, muitas vezes, inviabiliza o investimento nesse equipamento. TÓPICO 3 — FORJAMENTO E EXTRUSÃO 45 Outro item importante é o formador de laço ou formador de espiras, normalmente instalado do tipo vertical (up-looper) para manter a barra laminada sem tração entre dois passes sucessivos. Esse equipamento também pode ser localizado após a zona de resfriamento, e tem a função de formar as espiras na laminação do fio-máquina. FONTE: A autora FIGURA 26 – FORMADOR DE LAÇO Já o Stelmor é uma esteira localizada após o formador de espiras, responsável pelo resfriamento e tratamento térmico do fio-máquina. Podem existir ventiladores e/ou tampas de abafamento para fazer o resfriamento controlado do material e, assim, conseguir diferentes características mecânicas. Após o último passe de laminação (acabador), a barra é dividida em comprimentos mais próximos possíveis de múltiplos do comprimento comercial desejado. Essas barras são, então, transportadas e descarregadas no leito do resfriamento. FONTE: A autora FIGURA 27 – LEITO DE LAMINAÇÃO 46 UNIDADE 1 — PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA Após o leito ou o endireitamento, o material é embalado, normalmente, em feixes, de modo manual ou automatizado. Depois, é identificado por etiquetas, com informações do produto, bitola, qualidade, peso etc. Um resíduo decorrente desse processo é a carepa, que ocorre quando o aço é exposto a atmosferas oxidantes e a altas temperaturas. A formação é influenciada por: • Composição química do aço. • Atmosfera do forno. • Tempo e temperatura de reaquecimento. • Condicionamento superficial do tarugo. Na laminação a quente, são formados três tipos de carepa: • Primária: processo de reaquecimento. • Secundária: processo de laminação. • Terciária: passes finais e leito de resfriamento. 3 FORJAMENTO Forjamento é um processo de conformação mecânica que permite a alteração da geometria de um material metálico, por meio de deformação plástica, mudando sua estrutura metalúrgica de maneira que sejam modificadas suas propriedades mecânicas, por meio da aplicação de uma força compressiva, embora mantendo constantes sua massa e seu volume. As primeiras referências à tecnologia da deformação plástica se encontram no Oriente Médio, no final da Idade da Pedra, e se referem à fabricação por martelamento de objetos forjados em ouro, prata e cobre, destinados a fins artísticos e religiosos,
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