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Gestão Ambiental em foco ii 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br GESTÃO AMBIENTAL EM FOCO II UNIASSELVI 2015 Organização Maquiel Duarte Vidal Autoria Louise Cristine Franzoi Renata Joaquim Ferraz Bianco Joseane Gabriele Kryzozun Ribeiro Rubin Maquiel Duarte Vidal Claudia Sabrine Brandt Reitor da Uniasselvi Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora de Ensino de Graduação a Distância Prof.ª Francieli Stano Torres Pró-Reitor Operacional de Graduação a Distância Prof. Hermínio Kloch Editor-Chefe Prof. Evandro André de Souza Editoração e Diagramação Djenifer Luana Kloehn Capa Djenifer Luana Kloehn Revisão Final Andressa Ehlert Harry Wiese Publicação Online Propriedade do Centro Universitário Leonardo da Vinci Gestão Ambiental em foco ii 3 Ficha catalográfica Elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri – UNIASSELVI – Indaial. 363.73 G393g Vidal, Maquiel Duarte Gestão Ambiental em foco II [livro eletrônico] /Maquiel Duarte Vidal (Org.). Indaial : UNIASSELVI, 2015. 106 p. : il. ISBN 978-85-7830-914-5 1. Proteção ambiental – desenvolvimento sustentável. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Gestão Ambiental em foco ii 4 GESTÃO AMBIENTAL EM FOCO II Caro leitor, você está prestes a iniciar a leitura do livro Gestão Ambiental em Foco II, que apresentamos a você com grande satisfação. O presente livro envolve novos assuntos todos vinculados à área de atuação do gestor ambiental. O objetivo é explorar temas que permitam instigá-lo sobre os diversos assuntos aqui tratados, fazendo conexões pertinentes ao contexto socioambiental permitindo lapidar um perfil ainda mais aprimorado de um profissional ético e comprometido com a sociedade. Muito se tem falado, ouvido e sentido sobre as mudanças climáticas, problemas ambientais, consumo exagerado de recursos naturais, entre outros. Por isso iniciamos nosso livro explanando sobre educação ambiental e as possibilidades de mudança de rumo. Sim, mudança de rumo! Pois é possível através da implementação de programas que promovam a importância da educação ambiental e a importância da adoção de boas práticas que visem sustentabilidade e a diminuição dos impactos de nossas atividades sobre o ecossistema que nos circunda e nos mantém. Quando um grupo de pessoas se dispõe a compreender as questões ambientais, primando por sustentabilidade, pode-se observar que as ações são mais efetivas, o que permite verificar mudanças de hábitos e costumes, modificando ações totalmente individualistas àquelas que se preocupam com o próximo. Como exemplo podem-se citar as novas ações de desenvolvimento e propostas para tecnologias com energias renováveis, bem como as ações de recuperação ambiental. Pelo fato de se estar inserindo essas propostas ainda na educação básica, com certeza teremos cidadãos comprometidos com a utilização sustentável dos recursos naturais do planeta. PREFÁCIO Gestão Ambiental em foco ii 5 As ações sobre o ambiente geram impactos sobre a vida de todos os seres vivos por fazer mau uso de recursos naturais. A avaliação e controle de impactos ambientais contribuem para prevenção e controle ambiental possibilitando que o desenvolvimento econômico caminhe junto com a proteção ao meio ambiente, para que tenhamos um crescimento com sustentabilidade. E é justamente para isso que foram criados os estudos para Licenciamento Ambiental, que é um instrumento de avaliação prévia de projetos ou atividades, que, com sua instalação, operação ou mesmo ampliação possam vir a causar algum dano ao meio ambiente. Esperamos que você faça uma ótima leitura! Maquiel Duarte Vidal Bióloga, Doutora em Agronomia Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental Gestão Ambiental em foco ii 6 SUMÁRIO EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL ................................................................... 10 APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 10 1: O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE E A EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL ...................................................................................... 11 2: A EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NO MUNDO .................................... 15 3: A EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NO BRASIL ..................................... 18 4: A EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NAS EMPRESAS 20 4.1 UM OLHAR CRÍTICO SOBRE A “PREOCUPAÇÃO” DAS EMPRESAS FRENTE ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS .................................................. 20 4.2 A EDUCAÇÃO SOCIAMBIENTAL E O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ............................................................................................. 22 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 28 TECNOLOGIAS APLICADAS NA PRODUÇÃO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS .......................................................................................... 30 APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 30 1: BIOMASSA COMO FONTE DE ENERGIA .............................................. 30 1.1 CONVERSÃO DA BIOMASSA ........................................................... 31 1.2 ÁLCOOIS ........................................................................................... 33 2: PLANTAÇÃO DE ENERGIA DE BIOMASSA ........................................... 35 Gestão Ambiental em foco ii 7 3: ENERGIA GEOTÉRMICA ........................................................................ 37 3.1 ORIGEM DA ENERGIA GEOTÉRMICA ............................................. 38 3.2 SISTEMAS HIDROTÉRMICOS DE VAPOR ÚMIDO ......................... 40 3.3 EXPLORAÇÃO DE RECURSOS GEOTÉRMICOS ........................... 44 3.4 RECURSOS GEOTÉRMICOS DE BAIXA TEMPERATURA .............. 47 4: IMPACTOS AMBIENTAIS ......................................................................... 47 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 49 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ............................................... 50 APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 50 1: DEFINIÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ................................................ 51 1.1 DEGRADAÇÃO E RECUPERAÇÃO .................................................. 51 1.2 MODELOS DE RECUPERAÇÃO ....................................................... 55 1.3 TIPOS DE SOLOS ............................................................................. 63 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 71 LICENCIAMENTO AMBIENTAL ...................................................................... 73 APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 73 1: LICENCIAMENTO AMBIENTAL ATRAVÉS DA HISTÓRIA ...................... 74 2: LICENCIAMENTO AMBIENTAL ............................................................... 76 3: PROCEDIMENTO PARA OBTENÇÃO DE LICENÇA AMBIENTAL ......... 79 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 83 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 85 Gestão Ambiental em foco ii 8 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS .................................................... 86 APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 86 1: A AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL NO BRASIL ........................... 87 1.1 O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL 83 1.1.1 Apresentação da proposta ........................................................ 89 1.1.2.Triagem..................................................................................... 89 1.1.3. Determinação do escopo do estudo de impacto ambiental ..... 90 1.2 ELABORAÇÃO DOS ESTUDOS AMBIENTAIS 91 1.2.1 Análise técnica do estudo de impacto ambiental ...................... 95 1.2.2 Consulta pública ........................................................................ 96 1.2.3 Decisão ..................................................................................... 96 1.2.4 Monitoramento e Gestão Ambiental .......................................... 97 1.2.5 Acompanhamento ..................................................................... 97 1.2.6 Documentação .......................................................................... 97 1.3 O CASO DA USINA HIDRELÉTRICA DE BARRA GRANDE (UHE BARRA GRANDE): UM EXEMPLO DA PROBLEMÁTICA DA CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS NO BRASIL ....................................................................... 100 REFERÊNCIAS ..........................................................................................104 Gestão Ambiental em foco ii 10 EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL Louise Cristine Franzoi --------------- [ APRESENTAÇÃO ] --------------- Na atualidade observa-se o agravamento da degradação ambiental ocasionada pelas atividades antrópicas. Com isso, tem-se questionado o modelo de desenvolvimento das sociedades modernas. Será que este modelo proporciona a todos os indivíduos do planeta as mesmas oportunidades? E os recursos ambientais (água, solo, florestas) estão sendo utilizados na mesma proporção em que os ecossistemas conseguem renová-los? Estas e outras questões são extremamente pertinentes para serem abordadas neste capítulo, sob o viés da ESA. A ESA é extremamente importante, pois possibilita a construção de uma visão consciente e crítica acerca dos problemas socioambientais enfrentados, tanto em âmbito global (aumento nos níveis dos oceanos, aquecimento global, diminuição da biodiversidade), quanto em nível local (poluição de rios, ausência de água tratada, trânsito caótico nas cidades). Dentro destas questões deve-se questionar o papel das empresas frente aos problemas ambientais e como, por meio de programas de ESA, podem contribuir para a mitigação dos impactos ambientais negativos, além da melhoria na qualidade de vida de seus funcionários e da comunidade em geral. Por isso, por meio da leitura desse capítulo, você poderá identificar: • Conceito de sustentabilidade e a ESA • A ESA no mundo • A ESA no Brasil • A ESA nas empresas --------------- [ Gestão Ambiental em foco ii 11 1: O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE E A EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL Ao pensarmos sobre o conceito de sustentabilidade é comum que nos venha à mente o famoso tripé que denota suas três dimensões (pilares): social, ambiental e econômica. É importante destacar que os três elementos do tripé devem interagir, sendo esta interação demostrada na figura a seguir, pela intersecção entre as três vertentes. Resumindo: sem esta interação, a sustentabilidade é deficitária e não consegue se sustentar (LASSU, 2015). FIGURA 1 – TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE ] ------------------------------ [ FONTE: Disponível em: <wiki.sj.ifsc.edu.br>. Acesso em: 4 maio 2015. Cabe aqui a definição das três dimensões da sustentabilidade, a saber (adaptado de LASSU, 2015): • Social: representada pelo capital humano. Este pode pertencer a uma empresa, comunidade e da sociedade em geral. Além do respeito aos direitos humanos e à legislação trabalhista, deve-se atentar também ao bem-estar dos funcionários (saúde, qualidade de vida). Este pilar também compreende a questão de como a atividade econômica afeta as comunidades que se encontram ao seu redor. Gestão Ambiental em foco ii 12 • Econômico: este pilar refere-se aos aspectos ligados à produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Cabe salientar que este pilar deve respeitar os preceitos sociais e ambientais já elencados no tripé da sustentabilidade. • Ambiental: trata-se do capital natural. É importante verificar que toda atividade econômica exerce impacto sobre o ambiente, seja positivo ou negativo. Dada esta questão, a sociedade deve encontrar meios para mitigar os impactos negativos. Pode-se citar como exemplo uma empresa que, em suas atividades lança na atmosfera uma elevada quantidade de dióxido de carbono (CO2). Sendo assim, esta organização deverá utilizar de meios para controlar/reduzir suas emissões, de modo a diminuir seus impactos negativos sobre o meio ambiente. Você pode se perguntar: qual é a relação entre o conceito de sustentabilidade e a Educação Socioambiental (ESA)? Pode-se dizer que se trata de uma relação complexa. Primeiramente, em virtude de ser uma ferramenta fundamental para que uma sociedade se torne sustentável, além de apresentar um papel ímpar na construção de cidadãos críticos e atuantes, corresponsáveis pelo meio que os cerca. Numa segunda análise podem ser tecidos comentários fundamentais acerca da ESA e a sustentabilidade. Dentro desta temática, Ferrari (1996) traz uma reflexão crítica sobre a questão da ESA, em sua resenha acerca do livro “Educação ou adestramento ambiental?”, da autora Paula Brügger. O livro traz o conceito de educação-adestramento, introduzido de maneira a adequar os indivíduos ao sistema social vigente. Esta forma de educação é tida como perniciosa quando leva à perpetuação de uma estrutura social injusta/desigual. Ora, mas o conceito mais disseminado de desenvolvimento sustentável não é o de garantir as necessidades das gerações do presente sem comprometer às gerações futuras de suprir as suas necessidades? Gestão Ambiental em foco ii 13 Este conceito foi reconhecido no ano 1972, durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia. Inclusive, é durante esta conferência, que a comunidade internacional adota a ideia de que o “desenvolvimento” socioeconômico e o meio ambiente podem ser gerenciados de modo mutuamente benéfico (O ECO, 2015). A partir do exposto, faz-se outro questionamento: será que as necessidades das gerações presentes estão sendo satisfeitas? Todos os indivíduos têm acesso aos benefícios e vantagens trazidos pela modernidade? Atualmente, a mídia nos bombardeia com uma vasta gama de informações sobre sustentabilidade, mas que não levam a uma reflexão profunda e abrangente sobre esta temática. Muito pelo contrário, as informações disponibilizadas levam à construção de um conhecimento “raso”, pouco reflexivo, carente de uma análise crítica acerca do verdadeiro significado da expressão “desenvolvimento sustentável”. Por isso, quando compreendemos a verdadeira natureza da sustentabilidade nos deparamos com uma realidade drástica (figura a seguir), pois notamos que o viés econômico do tripé da sustentabilidade se sobrepõe de forma predatória sobre os demais pilares (social e ambiental). Conforme Ferrari (1996), “Uma sociedade ambiental se caracteriza pelo bem-estar da maioria da população”. Ao empregarmos como exemplo a realidade brasileira, notamos que a maioria da população não conta com seus direitos básicos atendidos (saúde, educação, saneamento básico), direitos que são abarcados pelo conceito de bem- estar. Gestão Ambiental em foco ii 14 FIGURA 2 – SUSTENTABILIDADE? FONTE: Disponível em: <www.pensamentoverde.com.br>. Acesso em: 5 maio 2015. Por isso, Ferrari (1996), em sua resenha, ressalta o aspecto tratado por Brügger, que em seu livro aborda a questão do adestramento, pois este é um processo que leva “[...] à reprodução de habilidades técnicas, enquanto a educação privilegia o aspecto de integração do conhecimento para a formação de uma visão crítica e criativa da realidade”. A partir do exposto, é importante destacar que, ao debatermos o tema ESA, devemos primeiramente, questionar o modelo socioeconômico de que nossa sociedade faz parte. Somente desta forma teremos uma ESAvoltada à formação crítica do cidadão e que vise à construção de uma sociedade em desenvolvimento sustentável. Portanto, utilizaremos os termos Educação Ambiental (EA) e Educação Socioambiental (ESA) enquanto sinônimos, pois é impossível dissociar os termos Educação, Sociedade e Meio Ambiente. Diante do que foi tratado nos parágrafos anteriores, passemos à explanação dos próximos itens que envolvem a ESA, onde inicialmente, trataremos a respeito da ESA no mundo. Vamos lá? Gestão Ambiental em foco ii 15 --------------- [ 2: A EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NO MUNDO ] --------------- A história da ESA no planeta é relativamente recente. A expressão Educação Ambiental (Environmental Education) foi empregada pela primeira vez na Inglaterra, no ano de 1965. Deste modo, foi indicada nos estabelecimentos de ensino como componente da grade curricular e atribuição de todas as disciplinas a ela relacionadas. Este foi um marco importante, pois, a partir dele, a EA deixa de se constituir enquanto conteúdo específico dos professores de Ciências e Biologia, para tornar-se uma área do conhecimento mais abrangente, sendo considerada a partir de sua multiplicidade de aplicações nas mais diversas linhas do conhecimento, pois a mesma compreende um aspecto que integra as vertentes econômica, social e ambiental (CARVALHO, 2004). No decorrer da década de 60, no ano de 1968, durante a Conferência de Educação ocorrida na Grã-Bretanha, é criada a Sociedade para a Educação Ambiental. Já na década de 70, nos Estados unidos, é instituída a Lei sobre Educação Ambiental. Ainda durante a década de 70, em 1972, foi realizada a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que foi tida como marco histórico do ambientalismo, por se tratar da primeira iniciativa no estabelecimento de um acordo internacional referente aos problemas ambientais. Na ocasião, a poluição foi tida como prioridade primária. Em consequência da Conferência de Estocolmo, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) promoveu em Belgrado (Iugoslávia), um Encontro Internacional em EA, criando assim, o Programa Internacional de EA – PIEA, que estabeleceu alguns princípios norteadores: a EA deve acontecer de forma continuada, multidisciplinar, integrada às diversidades regionais e direcionada aos interesses da nação (PORTAL MEC, 2015). Gestão Ambiental em foco ii 16 Já no ano de 1977, em Tilibisi (Geórgia), foi realizada a I Conferência Intergovernamental sobre EA. O evento foi organizado pela UNESCO/Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Deste modo é estabelecida a primeira fase do Programa Internacional de EA, acordado em 1975. Dentro deste programa, é postulada também, a permanência, a multidisciplinaridade e a integração dos conteúdos às questões locais. Esta Conferência remarca o caráter interdisciplinar, crítico e transformador da EA (DALMORA, 2011; AMBIENTE SP, 2015). Na década de 80, em Budapeste (Hungria), a UNESCO organiza o Seminário Internacional sobre o Caráter Interdisciplinar da EA no ensino de Primeiro e Segundo Graus. Neste evento foi demonstrado que, em termos de EA, não existem fronteiras entre a educação formal e não formal, pois os ambientes escolares estão inseridos dentro de um contexto maior, o social. Um evento bastante importante para a EA foi a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Denominada também de Rio-92 ou Eco-92 (figura a seguir). Esta reunião ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, em 1992, 20 anos após a Conferência de Estocolmo. De forma paralela a Rio-92, as organizações não governamentais reunidas no Fórum Internacional das ONGS e dos Movimentos Sociais, aprovaram o Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (AMBIENTE SP, 2015). FIGURA 3 – RIO 92 FONTE: Disponível em: <www.brasilescola.com>. Acesso em: 11 maio 2015. Gestão Ambiental em foco ii 17 Reparem que, o movimento em que se construiu e se desenvolveu a EA no mundo acompanhou o histórico das discussões frente às questões e problemas ambientais ocorridas durante as décadas de 60, 70, 80 e 90, além de se estender para os dias atuais. Inclusive, no ano de 2012, acontece no Rio de Janeiro, a Rio+20 (figura a seguir). Esta não resultou em muitos avanços em relação às diversas problemáticas (uma delas, a questão da redução nas emissões de gases do efeito estufa). Contudo, constitui um novo marco, pois se tratou de uma nova reunião, que envolveu líderes dos 193 países que compõem a ONU (Organização das Nações Unidas), em torno de um objetivo em comum: os problemas ambientais mundiais (RIO+20, 2015). FIGURA 4 – LOGO: RIO + 20 FONTE: Disponível em: <http://www.rio20.gov.br>. Acesso em: 11 maio 2015. Especificamente, em relação à EAS, paralelamente à Rio+20, foi elaborado o Plano de Ação do Tratado de EA para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que engloba a constituição de uma Rede Planetária de Educação Ambiental. No decorrer desta jornada, foi apontado como desafio, o fortalecimento da relação entre a sociedade civil, o estado e as empresas. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2015). Em relação a este breve histórico sobre o ambientalismo, mais especificamente, a respeito da EAS a nível internacional, cabe salientar que, diversos aspectos foram discutidos quando da realização das diferentes conferências ambientais no final do século XX e neste início do século XXI. Contudo, a tríade, ambiente, economia e sociedade, ainda apresenta sérios problemas a serem resolvidos, inclusive sobre o próprio papel da EAS como ferramenta de mudanças mais profundas, dentre elas, a diminuição da desigualdade social. Gestão Ambiental em foco ii 18 --------------- [ 3: A EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NO BRASIL ] --------------- O Brasil, seguindo a tendência dos movimentos ambientalistas mundiais, na década de 70, o Ministério da Educação lançou uma proposta de ensino de 1º e 2º graus. Entretanto, este documento foi questionado em virtude de seus objetivos, pois simplificava a problemática ambiental além de conter incoerências em relação às diretrizes internacionais, que preconizam o rompimento da visão reducionista de conhecimento, presentes nas disciplinas escolares. (DIAS, 2010; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2015). Um importante marco ocorre na década de 80 no Brasil quando, em 1981, é sancionada a Lei no 6.938/81, a chamada Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Este dispositivo legal foi e ainda é um instrumento importantíssimo para a “preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana [...]”. Dentro de todos estes objetivos, a Educação Ambiental é ferramenta-chave no intuito de fomentar uma reavaliação das práticas socioambientais realizadas e de possibilitar que ocorram mudanças significativas no cotidiano dos indivíduos nas mais diversas esferas. Inclusive, em seu Artigo 2º, que trata dos princípios da PNMA, menciona que a EAS deve permear “[...] todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente”. Na década de 80, também houve a promulgação da Constituição Brasileira de 1988, que em seu Artigo 225 (Capítulo VI) trata especificamente sobre o meio ambiente, onde, no inciso VI, é expressa a necessidade de se “promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2015). Gestão Ambiental em foco ii 19 Nos anos 90, é promulgada em 1999, a Lei no 9.795 que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, que define a EA enquanto “[...] processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competênciasvoltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”. É importante que sejam expostos os princípios da EA que estão elencados nesta Lei, visto que nortearão as ações dedicadas a fomentar todas as inciativas de EA a serem efetuadas: Art. 4o São princípios básicos da educação ambiental: I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. (Lei nº 9.795). Note que é difícil desvincular os aspectos referentes à EAS das questões relativas à Legislação Ambiental, pois ambas envolvem tanto a esfera particular quanto a pública, cabendo a todos os atores sociais direitos e deveres no que tange todos os setores englobados pelo o meio ambiente. Gestão Ambiental em foco ii 20 --------------- [ 4: A EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NAS EMPRESAS ] --------------- A partir do que foi explanado dos parágrafos anteriores, entende-se que a finalidade da EAS é de oficiar os pilares do desenvolvimento sustentável (social, ambiental e econômico), que envolvem a colaboração e interação das esferas sociais de modo a incorporar a dimensão ambiental nas suas atividades de produção e de consumo, nos sistemas jurídicos que consolidam normas e condutas e no sistema político-cultural que consolida os espaços democráticos e de EA. (DALMORA, 2011). 4.1 UM OLHAR CRÍTICO SOBRE A “PREOCUPAÇÃO” DAS EMPRESAS FRENTE ÀS QUESTÕES AMBIENTAIS Quando tratamos sobre a EAS e as empresas deve-se atentar que estas também apresentam responsabilidade neste contexto, pois, não cabe somente ao governo implementar ações de EAS. Já, a competência do Governo Federal é de articular atividades educativas para proteger, recuperar e potencializar a educação, de modo a promover mudanças culturais e sociais. A EAS no que diz respeito à esfera privada, até meados da década de 80, predominou no discurso empresarial uma resistência a qualquer iniciativa de minimizar os impactos ambientais resultantes das atividades produtivas. Até então, os administradores empresariais alegavam que, os custos adicionais para as empresas, oriundos dos gastos em controle da poluição, comprometeriam a lucratividade, a competitividade e a oferta de empregos, gerando assim, prejuízos às partes interessadas, ou seja, trabalhadores, acionistas e consumidores (DEMAJOROVIC, 2003). UNI: Será que a preocupação das empresas realmente era com os trabalhadores? Repense esta questão. Você também pode pesquisar a respeito dos acidentes ambientais ocorridos ao longo da história e as ações das corporações responsáveis frente a estes acontecimentos. Gestão Ambiental em foco ii 21 Deste modo, a estratégia das organizações era a de exteriorizar os custos ambientais, ou seja, transferi-los para a sociedade, eximindo a responsabilidade do causador em arcar com qualquer ônus resultante de suas ações. Contudo, a partir de meados da década de 80, o discurso dos empresários, que engrandecia o papel exclusivo das organizações como provedoras da riqueza, encontrou cada vez menos notoriedade frente à sociedade (DEMAJOROVIC, 2003). Sendo assim, a emergência das questões e dos problemas ambientais do planeta, pareceram inicialmente ao empresariado global, como uma ameaça. Os mesmos temiam que as consequências negativas do crescimento industrial (p. ex. desertificação, perda da biodiversidade, aquecimento global), pudessem ser motivo de argumentações para reduzir o crescimento econômico. Mais eminente, era o perigo de que regulamentações “ambientais” correlatas pudessem frear as atividades do livre mercado (FINGER e KILCOYNE, 1996). Deste modo, ao analisarmos o “interesse” das empresas (especialmente as grandes corporações), nos temas envolvendo a área socioambiental é necessário que se efetue uma análise crítica dentro de um contexto histórico sobre os reais motivos que subitamente fomentaram esta “motivação”. UNI: Para fomentar demais reflexões sobre as grandes corporações multinacionais e sua postura frente às variáveis socioambientais, recomendamos que você assista ao documentário, “A Corporação”. Este material pode ser acessado por meio do link, <https://www.youtube.com/watch?v=SV_MoR-o7C4>. Gestão Ambiental em foco ii 22 FIGURA 5 – LOGO DO DOCUMENTÁRIO, “A CORPORAÇÃO” FONTE: Disponível em: <http://www.rio20.gov.br>. Acesso em: 11 maio 2015. 4.2 A EDUCAÇÃO SOCIAMBIENTAL E O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL Com a publicação da série de normas ISO 14000, em 1997, muitas organizações apresentaram maior interesse frente aos aspectos ambientais. A partir daí, iniciaram a implementação de ações objetivando o desenvolvimento de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), de modo a se qualificar para obter a Certificação ISO 14000 (atual ISO 14001) (ADAMS, 2005). Sabe-se que, para implementar um SGA é preciso que haja um remodelamento na estrutura organizacional da empresa, que abarca todo o processo produtivo (fornecedores, clientes, funcionários, resíduos), de modo a contemplar todos os setores da organização (recursos humanos, financeiro, almoxarifado). Para tanto, a conscientização de todos os envolvidos é fundamental, pois todos os colaboradores da organização são importantes para que a implantação e manutenção do SGA obtenha sucesso (JUNIOR, 1998). Contudo, que ações podem ser realizadas para sensibilizar os funcionários acerca da importância de um SGA, não somente para a empresa, mas transpondo esta preocupação para as suas atividades rotineiras? Gestão Ambiental em foco ii 23 A norma ISO 14001, apresenta uma metodologia de aplicação, chamada de PDCA (Plan – Do – Check – Act), ou seja, Planejar, Executar, Verificar e Agir. Na etapa Executar existe um item denominado competência, treinamento e conscientização. Sendo assim, a organização deve assegurar que qualquer pessoa que, para ela ou em seu nome, realize tarefas que tenham o potencial de causar impacto(s) ambiental(is) significativo(s) identificados pela organização, seja competente com base em formação apropriada, treinamento ou experiência, devendo reter os registros associados. (ABNT ISO 14001, 2005, p. 16). Mas é preciso que a empresa identifique as demandas de treinamento ligadas aos aspectos ambientais e seu SGA. Para tal deve fornecer treinamento ou realizar ações de forma a compreender estas necessidades, com o devido registro de todas as iniciativas efetuadas. (ABNT ISO 14001). Partindo desta consideração fica evidente a necessidade do investimento em ações socioeducativas, diretamente ligadas às pessoas. Estas ações devem possibilitar o desenvolvimento de uma consciência ambiental (ADAMS, 2005). Para tanto, entra em cena a Pedagogia Empresarial. Esta é uma das mais contemporâneas habilitações do curso de Pedagogia. Cabe ao pedagogo empresarial mediar todas as iniciativas relativas à ESA, provendo suporte teórico- prático à realização de diagnósticos institucionais, construção e aplicação de projetos assistenciais, redação de manuais e apostilas de treinamento, além de efetuar programas de capacitação e formação continuada (ADAMS, 2005). Por isso, é importante salientar que, os aspectos didático-pedagógicos que envolvem a EAS devem receber a devida atenção, de modo que as iniciativas educativas realizadas na esfera empresarial obtenham sucesso. Por meio doexposto, inserimos a seguir, na forma de leitura complementar, um estudo de caso sobre o Programa de Educação Ambiental da empresa Floram Engenharia e Meio Ambiente (CORDEIRO, 2015), localizada no município de Eunápolis – BA, visando à implementação do sistema de gestão ambiental ISO 14001. A Floram realiza diversas atividades ligadas à área ambiental tais Gestão Ambiental em foco ii 24 como, serviços ambientais aplicados ao licenciamento, elaboração e execução de estudos ambientais, elaboração de projetos de engenharia, planejamento ambiental, entre outros. (PERSALAGOAS, 2015). As siglas RD e TDMA que são apresentadas no texto significam Representante da Direção e Treinamento Diário em Meio Ambiente, respectivamente. A partir da análise do escopo técnico da empresa e do macrofluxo de processos foi desenvolvida uma série de ações e atividades dentro do programa de educação ambiental estratégica que facilitou o processo de implementação do sistema e mostrou a eficácia da ferramenta de trabalho para a real incorporação dos conceitos da norma e do sistema de gestão ambiental. O programa de educação ambiental estratégica na Floram implementou um diagnóstico por grupos de trabalho usando diversas técnicas de sondagem aliadas à discussão dos resultados com a alta administração. Após a identificação das demandas do grupo foi criado o programa de palestras anuais focado na realidade da empresa. Palestras de nivelamento foram realizadas para a coleta de dados e para a introdução dos conceitos- chave, como meio ambiente, teoria dos sistemas com foco na interdependência entre os elementos ambientais, poluição e impactos ambientais, meio ambiente e qualidade de vida, gestão de resíduos, dentre outras demandas específicas do ramo de negócio com destaque para as normas e critérios para licenciamento, estudos ambientais segundo as suas diversas tipologias e legislação ambiental. Todo o processo de reorganização das atividades foi construído nos setores ouvindo os pares. Nesta fase, observou-se que os instrumentos metodológicos utilizados para a certificação podem ser aperfeiçoados e utilizados para a implementação de um bom programa de Educação Ambiental e estes instrumentos sistematizados num programa, facilitam o desenvolvimento do produto nesse ramo de negócio, haja vista que os programas não serão criados apenas pela demanda dos colaboradores (ausência de habilidades na área de meio ambiente), mas sim de todas as partes interessadas. Esse processo de construção coletiva permite a identificação das demandas reais Gestão Ambiental em foco ii 25 e reconhecimento da prática profissional de cada grupo, possibilitando a incorporação no programa de competências necessárias ao ato laboral e muitas delas com extensão à sua vida fora do ambiente de trabalho. Procedeu-se junto com o diagnóstico ambiental a sondagem para os treinamentos em educação ambiental bem como o planejamento da ação de EA. Entrevistas com a alta Administração, líderes de setor e com alguns colaboradores foram utilizadas. Os treinamentos seguiam um cronograma coletivamente construído e ao longo de um ano foram realizados 36 treinamentos em caráter de oficina e nos meses de janeiro a julho de 2009 encontros diários foram sistematizados para compartilhamento das ações, totalizando 118 encontros diários. Nos treinamentos destacaram-se os de conceitos ambientais, aspectos e impactos, prevenção e combate a incêndios, primeiros socorros, gestão de resíduos, vivências ambientais (aqui foram aplicadas várias dinâmicas ludopedagógicas inter e transdisciplinares), fiscalização ambiental, percepção ambiental e legislação ambiental. Pós-treinamento eram feitas vivências em grupo através de encontros e quando exigido, simulações práticas dos temas apreendidos. Os encontros diários permitiram o diálogo entre os pares, maximizando algumas ações de alguns projetos em desenvolvimento tais como mobilização, desmobilização, confecção de relatórios nas diversas tipologias que utilizam os conceitos estruturantes de ambiente e outros temas ligados à temática socioambiental. Na fase 2, intercalou-se às palestras o TDMA - treinamento diário em meio ambiente. Esta metodologia consta de 15 minutos (pode ser ampliado de acordo com a demanda) de debates previamente determinados em calendário onde o grupo trabalha os temas-chave em ambiente e as demandas devidamente levantadas pelo RD nos setores. Nestes encontros, os colaboradores participavam de uma atividade prática na área de meio ambiente com posterior discussão. Essas atividades em muitos casos poderiam ser gerais ou levantadas a partir das questões problema encontradas no cotidiano dos projetos e estudos. A partir da discussão, passou-se a pensar melhor os mecanismos de resolução de tais problemas, aprenderem pela prática, socializar experiências e manter o nível de comunicação atualizado. Nos vinte ou trinta dias subsequentes Gestão Ambiental em foco ii 26 após cada evento era feita a autoavaliação da ação com posterior replanejamento e melhoramento das ações, quando necessário. Simultaneamente à mobilização/sensibilização partiu-se para a inserção de métodos de EA (educação ambiental) nos processos da empresa. Nesta fase, além dos TDMAs e palestras, cada setor passou a criar dentro do programa, ações estratégicas para transmissão dos conceitos apreendidos inicialmente entre os setores e posteriormente aos fornecedores e demais partes interessadas. Os objetivos, metas e programas do sistema de gestão foram criados coletivamente nesta fase e cada setor poderia criar o seu subprograma. O RD utilizou como ferramenta de trabalho a observação participante junto com os líderes dos setores para levantar a atitude da equipe frente ao cotidiano da empresa no quesito ambiental, as metas ambientais, indicadores, ações corretivas e preventivas. No pós-levantamento discutiram-se os pontos positivos e/ou negativos nos TDMAs de forma retroalimentar o processo. Reuniões estratégicas eram feitas pelo RD com os líderes de setor para autoavaliar as ações e a seguir prosseguia-se análise crítica pela Alta Administração. Sempre que possível a Alta Administração também participava das reuniões e do TDMA trazendo à equipe sentimento de valorização e de respeito ao trabalho. Vivências ambientais foram criadas pelo RD de acordo com o grupo e às vezes por setor, e, muitas delas partiram de diálogos, simulações, construção conjunta de alguma ação não entendida e assim sucessivamente foi havendo incorporação da política ambiental. Os colaboradores demonstraram que através da vivência e da construção coletiva cotidiana com discussões dialógicas o SGA avançava de forma desafiante e não assombrosa como é comum em processos de implantação de qualquer certificação. A análise crítica demonstrou que a presença do RD no dia a dia dos setores foi um fator facilitador do processo de assimilação dos novos conhecimentos trazidos pelo SGI – Sistema de Gestão Integrado, bem como a Gestão Ambiental em foco ii 27 incorporação da visão sistêmica pelos colaboradores, fato que muito contribuiu para a produção técnica da empresa, bem como da relação interpessoal entre todas as partes interessadas. FONTE: Disponível em: <http://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2010/I-001.pdf>. Acesso em: 19 ago. 2015. Por meio da análise do estudo de caso da empresa Floram – Engenharia e Meio Ambiente, nota-se que, para que um programa de ESA obtenha êxito é fundamental a participação e o comprometimento de todos os colaboradores da organização. A modificação de comportamento por parte dos funcionários em prol do SGA deu-se inclusive, pelo aumento no nível de satisfação dos clientes, aspecto extremamente importante, pois denota uma transposição do SGA para nichos que vão além do espaço organizacional. A participação ativa dos funcionários da Floram nos programas ambientais foi essencial para o cumprimento dos objetivos estabelecidos. Sendo assim,fica demonstrado que um programa de ESA implementado de maneira estratégica desde os primórdios do processo de certificação ambiental (ISO 14001), garante seu melhor desempenho com desdobramentos importantes na gestão de pessoas, aspecto que também compõe o tripé da sustentabilidade! Gestão Ambiental em foco ii 28 REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISO 14001: Sistemas de Gestão Ambiental – Requisitos com orientação para uso, 2005. Disponível em: <http://www.labogef.iesa.ufg.br/labogef/arquivos/downloads/nbr- iso-14001-2004_70357.pdf>. Acesso em: 13 maio 2015. ADAMS, G. A. Um olhar pedagógico sobre a educação ambiental nas empresas. 2005. Monografia (Curso de Pedagogia) – Instituto de Ciências Humanas Letras e Artes. Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, 2005. AMBIENTE SP. Oficina de educação ambiental para gestão. Disponível em: <http://www.ambiente.sp.gov.br/cea/files/2012/02/Apostila_EA.pdf>. Acesso em: 11 maio 2015. BRÜGGER, P. Educação ou adestramento ambiental. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1994. Resenha de: FERRARI, N. Educação ou adestramento ambiental. Biotemas, v. 9, n. 2, p. 71-73, 1996. CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: pesquisa e desafios. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008. CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004. CORDEIRO, C. M. A importância da educação ambiental estratégica para a implementação da ISO 14001 em empresas de consultoria ambiental: o caso da FLORAM Engenharia e Meio Ambiente LTDA – Eunápolis-BA. 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Gestão Ambiental em foco ii 30 --------------- [ 1: BIOMASSA COMO FONTE DE ENERGIA ] --------------- TECNOLOGIAS APLICADAS NA PRODUÇÃO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS Renata Joaquim Ferraz Bianco --------------- [ APRESENTAÇÃO ] --------------- Como já esperávamos eventualmente ficar sem os combustíveis convencionais, como o petróleo e o gás natural, alternativas que forneçam utilidade, flexibilidade, limpeza e economia desses recursos vêm sendo procuradas há muitos anos. Uma dessas alternativas está tão próxima da lixeira da cozinha quanto das plantas do lado de fora. É a “biomassa”: uma fonte de energia tão antiga quanto a humanidade e tão nova quanto o jornal de hoje. Vamos ver mais sobre este assunto? Fontes de biomassa estão apresentando um forte desenvolvimento atualmente como combustíveis alternativos para transporte, especialmente por causa dos altos preços do petróleo e dos novos padrões aceitos de poluição atmosférica (HINRICHS, 2013). Energia de Biomassa é aquela derivada de matéria viva como os grãos (milho, trigo), as árvores e as plantas aquáticas; esta matéria viva também é encontrada nos resíduos agrícolas e florestais (incluindo os restos de colheita e os estrumes) e nos resíduos sólidos municipais. A biomassa pode ser utilizada como combustível em três formas: combustíveis sólidos, como as lascas de madeira; combustíveis líquidos produzidos a partir da ação química ou biológica Gestão Ambiental em foco ii 31 sobre a biomassa sólida e/ou da conversão de açúcares vegetais em etanol ou metanol; e combustíveis gasosos produzidos por meio do processamento com alta temperatura e alta pressão (HINRICHS, 2013). Os recursos de biomassa ocupam uma grande área de terra. Eles têm a possibilidade de fornecer, em qualquer lugar, de 4% a 25% da energia necessária nos Estados Unidos. A biomassa atualmente abastece 3% das necessidades energéticas norte-americanas e pode fornecer várias vezes mais energia que a esperada de fontes eólicas e fotovoltaicas. Além disso, este recurso é de particular utilidade para nações do mundo em desenvolvimento, onde os altos preços do petróleo desaceleram o crescimento econômico. Como uma forma armazenada de energia solar, a biomassa tem a vantagem de os custos com coletores serem menores e o armazenamento de energia já estar incluído. A biomassa pode ser convertida em combustíveis líquidos e gasosos em diversas etapas, enquanto a combustão direta para produção de vapor ou eletricidade também é bastante popular. (HINRICHS, 2013). 1.1 CONVERSÃO DA BIOMASSA Os processos para a conversão de biomassa em outras formas de energia são numerosos, mas podem ser classificados em três tipos: 1. Processos bioquímicos: decomposição de resíduos orgânicos em uma atmosfera deficiente em oxigênio – com a produção de gás metano (digestão anaeróbica) ou fermentação controlada para a produção dos álcoois etanol e metanol. 2. Combustão direta: queima de biomassa para produzir calor para o aquecimento de ambientes ou para a produção de eletricidade através de uma turbina de vapor. Qualquer coisa – de resíduos sólidos e sobras de colheitas de madeira – pode servir como combustível para este processo. 3. Pirólise: decomposição térmica de resíduos em um gás ou líquido (com um relativamente baixo valor de aquecimento) sob altas temperaturas (500ºC a 900ºC) em uma atmosfera pobre em oxigênio (HINRICHS, 2013). Gestão Ambiental em foco ii 32 FIGURA 6 – PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS A PARTIR DA CONVERSÃO DE BIOMASSA FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/img/revistas/qn/v32n3/a04fig05.jpg>. Acesso em: 27 abr. 2015. Gestão Ambiental em foco ii 33 1.2 ÁLCOOIS Os álcoois são produtos da conversão de biomassa que têm recebido considerável atenção nos últimos anos como substitutos para os líquidos derivados do petróleo. A fermentação de materiais vegetais para a conversão de seus açúcares em álcool data de mais de 4 mil anos: os egípcios faziam cerveja com grãos e uvas. Mais de 100 anos atrás, Louis Pasteur identificou as leveduras como catalisadoras do processo de fermentação. Os dois álcoois de maior importância são etanol e o metanol. O etanol é um líquido transparente com ponto de ebulição de 78ºC e também é chamado de álcool de grãos ou álcool etílico. Ele pode ser feito de uma série de matérias-primas, porém, as mais comuns são a cana-de-açúcar, o milho e a madeira. Os Estados Unidos usam principalmente o milho; o Brasil usa cana- de-açúcar; a França, trigo e beterraba; e a Alemanha, centeio. O etanol produzido com grãos demanda grandes quantidades de energia para plantio, fertilizaçãoe colheita. Ele pode melhorar o desempenho dos veículos e produz menos emissões que os veículos a gasolina. O etanol feito de madeira pode reduzir as emissões de gases estufa, pois as plantas absorvem CO2 enquanto crescem. Sem saber, muitos carros nos Estados Unidos já utilizam etanol – uma mistura (gasohol) com 10% de etanol e 90% de gasolina comum, conhecido como E10. Minnesota exigia E10 em todos os seus veículos e aumentou para E20 em 2005. Muitos postos de combustível no meio-oeste americano fornecem combustíveis E85. Carros flex- fueled (com flexibilidade para uso de combustíveis) usam este combustível. Seus motores são aptos a funcionar com diferentes misturas de combustíveis, desde a gasolina comum até E85 e M85, apenas ajustando eletronicamente o tempo de ignição e as relações ar/combustível. A maioria das grandes montadoras fabrica esses carros; há, atualmente, nos Estados Unidos, aproximadamente, quatro milhões de carros flex-fueled. Preços menores tornam esses carros especialmente atrativos hoje, embora apresentem maior consumo, com 10% a 15% a menos de mpg. Contudo, o etanol feito de milho não reduz as emissões de gases estufa por causa do petróleo usado para o cultivo e os fertilizantes (HINRICHS, 2013). Confira na figura a seguir, um simples fluxograma para a produção de álcool etílico ou bioetanol, a partir do milho, de uma empresa brasileira que iniciou este processo em 2013. Gestão Ambiental em foco ii 34 FIGURA 7 – FLUXOGRAMA PARA PRODUÇÃO DE ÁLCOOL ETÍLICO OU BIOETANOL A PARTIR DO MILHO FONTE: Disponível em: <http://brasilfront.xpg.uol.com.br/wp-content/uploads/pro-alcool-historico-3. jpg>. Acesso em: 27 abr. 2015. O metanol é um líquido incolor, com ponto de ebulição de 65ºC, também denominado álcool de madeira ou álcool metílico. Pode ser produzido virtualmente como qualquer material que contenha carbono, mas originalmente era produzido nos Estados Unidos como um subproduto da destilação de madeira. Além da biomassa, carvão ou gás natural podem ser utilizados como matéria-prima. A Alemanha fez uso extensivo de metanol (de carvão) durante a Segunda Guerra Mundial para abastecer submarinos e aviões. O metanol é um combustível superior para motores de combustão interna, e é utilizado hoje como combustível para carros de corrida. Metanol derivado do gás natural é a forma mais barata, custando não muito mais que a gasolina normal. Ele pode ser até duas vezes mais caro se for derivado de madeira ou carvão. Utilizar metanol pode reduzir as emissões, especialmente de Mox, e resultaria em quase a mesma emissão de gases estufa que a da gasolina comum, se derivado do gás natural. Metanol misturado com gasolina pode ser usado em um veículo sem maiores modificações. Outras fontes potenciais de combustível líquido a partir da biomassa são o sabugo de milho, o pé de milho, o switchgrass (um tipo de capim da pradaria americana), feijões de soja, e outros produtos que normalmente poderiam ser descartados. Um relatório recente do Laboratório Nacional de Oak Ridge concluiu que um bilhão de toneladas secas de biomassa poderiam fornecer 30% da energia consumida no país. A biomassa atualmente supre 3% da energia consumida na nação (HINRICHS, p. 632, 2013). Gestão Ambiental em foco ii 35 --------------- [ 2: PLANTAÇÃO DE ENERGIA DE BIOMASSA ] --------------- É uma fazenda dedicada a converter a luz solar em energia. Uma fazenda- padrão já faz isto, uma vez que rotineiramente converte a luz do sol em alimentos e uma área de produção florestal atinge os mesmos resultados ao cultivar árvores que serão consumidas como lenha. Existem muitas outras plantas que podem ser cultivadas com o propósito de converter a luz solar em energia. Isto normalmente é realizado pela conversão da biomassa em um combustível líquido ou gasoso. Plantas marinhas e grãos têm demostrado muito potencial como fontes de metano e etanol. Fatores importantes que devem ser considerados na avaliação das plantações de energia são a produtividade (em toneladas por acre por ano), o conteúdo de energia por unidade de peso, a facilidade de colheita e as demandas da cultura em questão (clima, água, condições do solo). A energia química obtida a partir de uma fonte de biomassa pode ser maior que a energia gasta no cultivo e obtenção deste recurso. Como existem diferentes tipos de combustíveis disponíveis, a biomassa oferece uma importante alternativa aos combustíveis líquidos de base fóssil, especialmente para o setor de transportes. A soja (uma plantação que hoje está com baixo preço em virtude da superprodução) pode ser uma fonte principal de óleo para combustível. O óleo, com a goma e a glicerina removidas, tem propriedades equivalentes ao óleo diesel. A soja pode ser processada para também produzir diversos produtos comerciais, como polímeros, com qualidades iguais àqueles produzidos do petróleo. Além disso, este biocombustível não é tóxico, é biodegradável e praticamente livre de enxofre. O balanço energético da produção da soja é o mais alto de todos os combustíveis – mais que três unidades de energia são ganhas para cada unidade de combustível fóssil utilizada no processo. Como o diesel, também requer aditivos para ter bom desempenho nos climas frios, mas queima mais limpo. É o único combustível que passou no teste de Requisitos de Testes nos Efeitos na Saúde (Health Effects Testing Requirements) do Clean Air Act. Substituindo “cultivando por perfurando”, reduzimos nossa dependência do petróleo externo. Outros combustíveis alternativos empregados no setor de transportes também são estudados, como por exemplo, o hidrogênio combustível, que é um combustível de queima limpo, que pode ser feito a partir de gás natural (metano + vapor CO2 + H2), carvão ou eletrólise da água. No momento, o método mais barato é o que utiliza gás natural. O uso de células solares para fornecer eletricidade para a eletrólise da água é uma forma ideal de armazenar a energia solar e reduzir as emissões de gases estufa (HINRICHS, 2013). Gestão Ambiental em foco ii 36 O hidrogênio pode ser usado em um motor a gasolina convencional, mas é muito mais eficiente em um modificado. Ele pode ser armazenado como um gás sob alta pressão, como hidrogênio líquido (-253°C), ou dentro de um hidreto metálico, para ser liberado com a adição de calor. Ele também pode ser usado em uma célula a combustível. Células a combustível são duas vezes mais eficientes que os motores de combustão interna padrão e fornecem diretamente energia elétrica ao combinar hidrogênio e oxigênio. No momento, as células a combustível ainda são muito pesadas, o que faz a maior parte da sua utilização se dar em ônibus, apesar dos novos avanços feitos em células mais leves para carros. Células combustíveis quase não emitem poluição. Veículos elétricos movidos a bateria (VEs) são mais desenvolvidos que as células a combustível. Contudo, os altos custos, as baixas autonomias, os longos tempos de recarga e os custos de substituição da bateria continuam a ser desvantagens cruciais dos VEs. Por isso, estão se tornando populares os veículos híbridos – carros que utilizam um motor de combustão interna e motor elétrico com uma bateria simples. Nesses veículos, desempenhos de 70 milhas por galão são comuns. Gás natural comprimido (GNC) é o combustível alternativo de custo mais baixo e tem um abastecimento bastante estável. Motores a gasolina convencionais requerem apenas mínimas modificações para funcionar exclusivamente com gás natural. O combustível é armazenado em cilindros pressurizados no veículo. A maior parte dos veículos a GNC em uso funciona com os dois combustíveis e são veículos convencionais convertidos utilizando-se kits de conversão, que incluem um tanque de armazenamento, um regulador de pressão, um equipamento de mistura e diversas válvulas e tubulações de combustível. Algumas concessionárias de serviços públicos de eletricidade têm passado a atuar no setor de transportes vendendo GNC aospostos de combustíveis. (HINRICHS, 2013). Gestão Ambiental em foco ii 37 --------------- [ 3: ENERGIA GEOTÉRMICA ] --------------- A energia geotérmica é produzida a partir do calor originado no interior da Terra. Vulcões, gêiseres, fontes de água e lama quentes são evidências visíveis dos grandes reservatórios de calor que existem dentro e abaixo da crosta terrestre. Apesar de a quantidade de energia térmica dentro da Terra ser muito grande, a energia geotérmica está limitada a determinados lugares. Esses recursos não são infinitos e podem ser esgotados em um determinado local sob exploração intensiva. Não obstante, a energia geotérmica é um recurso que pode ser bem desenvolvido em locações favoráveis. Atualmente, 4% da eletricidade gerada nos Estados Unidos pelas fontes renováveis vêm da energia geotérmica (isto é, quase duas vezes a contribuição das energias eólica e solar. A capacidade instalada eólica nesse país é três vezes maior que a geotérmica). Enquanto o crescimento no total de energia utilizada originária de recursos geotérmicos nos Estados Unidos tem apresentado um pequeno crescimento nos últimos dez anos, globalmente a energia geotérmica tem crescido constantemente a taxa de 3,5% ano (HINRICHS, 2013). Confira na figura a seguir um esquema da obtenção da energia geotérmica. FIGURA 8 – ESQUEMA DA ENERGIA GEOTÉRMICA FONTE: Disponível em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/banco_objetos_ crv/%7B64D5D32C-3CFE-4242-94B8-935201A6BEC1%7D_image022.gif>. Acesso em: 29 abr. 2015. Gestão Ambiental em foco ii 38 Em 1094, na Itália, pela primeira vez foi produzida eletricidade a partir de vapor natural. Hoje em dia, muitas usinas geotérmicas estão em operação ao redor do planeta. A capacidade total mundial é de cerca de 8.700Mwe. Os gêiseres do norte da Califórnia, a maior instalação desse tipo no mundo, têm uma capacidade total instalada da ordem de 1.00 Mwe – suficiente para abastecer uma cidade do tamanho de São Francisco, localizada 90 milhas ao sul; isso representa 7% das demandas energéticas da Califórnia. A ilha de Hawai obtém 25% da sua eletricidade a partir de recursos geotérmicos. Filipinas, Indonésia e México apresentaram um rápido crescimento nas suas capacidades geradoras durante a década passada. El Salvador gera a maior parte de sua eletricidade com vapor originário de recursos geotérmicos. Aplicações não elétricas da energia geotérmica têm sido desenvolvidas de maneira extensiva em alguns países. Água quente de fontes subterrâneas fornece aquecimento direto para a maioria das casas da capital da Islândia, Reykjavik, o que já ocorre há seis décadas. Budapeste, Hungria, vem sendo parcialmente aquecida por vapores geotérmicos desde os tempos do Império Romano. Estufas aquecidas produzem vegetais e flores durante todo o ano. O aquecimento de ambientes via energia geotérmica nos Estados Unidos ainda se dá em pequena escala. (HINRICHS, 2013). 3.1 ORIGEM DA ENERGIA GEOTÉRMICA A energia geotérmica tem sua origem no núcleo derretido da Terra, onde as temperaturas atingem 4.000ºC (7.200°F). É o próprio aquecedor da Mãe Natureza. Essa energia termal é primariamente produzida pela decomposição de materiais radioativos dentro do planeta, o que leva algumas pessoas a se referirem à energia geotérmica como uma forma de “energia fóssil nuclear”. O interior da Terra parece consistir em um núcleo central derretido envolvido por uma região de material semifluido denominada manto, coberta pela crosta, que tem uma espessura que varia de 30 km a 90 km. A temperatura na crosta aumenta proporcionalmente com a profundidade a uma taxa de cerca de 30ºC/km. A temperatura na base da crosta (o topo do manto) chega a valores próximos aos 1.000ºC e, então, aumenta lentamente até o centro do planeta. Se tais condições médias da temperatura da crosta fossem tudo o que tivéssemos para trabalhar, poderíamos nos considerar Gestão Ambiental em foco ii 39 sem sorte, já que a energia calorífica da Terra que poderia ser efetivamente utilizada estaria localizada muito profundamente para ser canalizada de alguma forma. Mas existem regiões nas quais o material rochoso incandescente do manto (chamado magma) é empurrado para cima por meio das falhas e rachaduras próximas à superfície, criando “pontos quentes” localizados entre 2km e 3km da superfície (HINRICHS, 2013). Veja na figura a seguir, o corte transversal da Terra, mostrando suas camadas. FIGURA 9 – CORTE TRANSVERSAL TERRESTRE FONTE: Disponível em: <http://www.apolo11.com/imagens/2010/terra_corte_transversal.jpg>. Acesso em: 29 abr. 2015. Observamos as evidências de tais atividades nas erupções vulcânicas, nos gêiseres e nos fossos de lama borbulhantes. De fato, a zona de provável ocorrência desses locais geotérmicos corresponde, grosso modo, à região dos terremotos e de atividade vulcânica. Essas regiões se localizam nas junções das placas tectônicas que compõem a crosta terrestre. Tais placas se encontram em um estado de constante movimentação relativa (as taxas de alguns centímetros por ano). Onde elas colidem ou se trituram, existem forças de altas magnitudes que Gestão Ambiental em foco ii 40 podem construir montanhas ou provocar terremotos ou tsunamis. É próximo a essas junções das placas que o calor viaja mais rapidamente, do interior do planeta, via magma, para os vulcões superficiais. A maior parte dos atuais locais geotérmicos mundiais localiza-se próximo às extremidades da placa do Pacífico, no chamado “anel de fogo”. A energia geotérmica é mais facilmente extraída, tecnológica e economicamente falando, desses pontos quentes. Nos tipos mais comuns de reservatórios geotérmicos, chamados sistemas hidrotermais, a energia termal do magma é armazenada em água ou vapor que preenche os poros e fraturas da rocha. Esses reservatórios podem ser classificados em sistemas de vapor úmido (ou água quente) e de vapor seco. Apesar de os sistemas de vapor úmido serem de dez a vinte vezes mais abundantes, os sistemas de vapor seco têm sido usados mais frequentemente para a geração de eletricidade por causa da conveniência que oferecem. Um exemplo são os gêiseres (The Geysers) na Califórnia. Existem outros tipos de recursos de energia geotérmica que têm o mesmo ou até mais potencial, mas eles vão ter de esperar o desenvolvimento de novas tecnologias de extração antes de poderem ser explorados (HINRICHS, 2013). 3.2 SISTEMAS HIDROTÉRMICOS DE VAPOR ÚMIDO Quando a água é aprisionada em um reservatório subterrâneo e é aquecida pelas rochas ao redor, ela é submetida a altas pressões e pode atingir temperaturas tão altas quanto 370ºC (700F) sem entrar em ebulição. Se essa água quente for liberada na superfície, ela vai “vaporizar” à medida que a pressão externa cair para valores abaixo do necessário para mantê-la líquida. Lugares onde o vapor escapa através de rachaduras na superfície são chamados fumarolas. Em alguns reservatórios geotérmicos, a água quente vaza para a superfície, formando fontes quentes ou gêiseres. Poços geotérmicos capturam esses mananciais de vapor úmido. Quando a água quente sobe pelo poço, ela se pulveriza em uma mistura de cerca de uma parte de vapor e quatro partes de água quente. O vapor é separado da água e utilizado para fazer funcionar turbinas para gerar eletricidade (HINRICHS, 2013). Gestão Ambiental em foco ii 41 Note a figura a seguir, um modelo de sistema de água quente geotérmica de alta temperatura. A água dentro da rocha porosa é aquecida por condução do magma. A água quente escapa para a superfície pelas fissuras, entrando em ebulição, próximo ao topo. Um poço para coletar o vapor dentro de uma fissura também é mostrado. FIGURA 10 – SISTEMA DE ÁGUA QUENTE GEOTÉRMICA DE ALTA TEMPERATURA FONTE: Disponível em: <http://image.slidesharecdn.com/energiageotermica-140131052940- phpapp01/95/energia-geotermica-5-638.jpg?cb=1391167841>. Acesso em: 30 abr. 2015. Gestão Ambiental em foco ii 42 A pressão sobre a águalocalizada no fundo do reservatório é maior que a pressão atmosférica por causa da coluna de água sobre ela, e, dessa forma, a temperatura na base pode ultrapassar 100ºC sem que ocorra ebulição, já que a água é aquecida pelas rochas ao redor. Como a temperatura da água continua a aumentar, o ponto de ebulição nessa pressão é atingido. O início da ebulição libera a pressão na base rapidamente, aumentando a taxa de ebulição e fazendo com que a água esguiche para fora do solo – produzindo um gêiser. Água mais fria da superfície substitui a quente que esguichou. O intervalo entre as erupções será igual ao tempo necessário para que a água no reservatório se aqueça até atingir a temperatura de ebulição naquela pressão. Uma cafeteira funciona com base nesse mesmo princípio (HINRICHS, 2013). Confira na figura a seguir o modelo de um gêiser. A água no fundo está sob grande pressão e não vai entrar em ebulição até que temperaturas acima de 100ºC sejam atingidas. Quando a ebulição começa, a pressão é liberada, fazendo com que a água ferva muito rapidamente. A água é impulsionada pelo vapor pela abertura e é pulverizada no ar sob a forma de vapor. Gestão Ambiental em foco ii 43 FIGURA 11 – MODELO DE UM GÊISER FONTE: Disponível em: <http://files.professoralexeinowatzki.webnode.com.br/200000298-3df553fe9e/ geiser%20e%20fontes%20quentes.JPG>. Acesso em: 30 abr. 2015. Gestão Ambiental em foco ii 44 3.3 EXPLORAÇÃO DE RECURSOS GEOTÉRMICOS A extensão de recursos geotérmicos é estimada por alguns como muito grande. A U.S Geological Survey (USGS) define recurso geotérmico como todo conteúdo de calor da crosta terrestre acima de 15ºC a uma profundidade de 10 km. Com essa definição, a USGS estima que mais de 2x 1022 Btu de energia termal exista dentro da crosta. Isso é equivalente a 900 trilhões de toneladas de carvão, o suficiente para atender as nossas demandas energéticas a taxas atuais por 350 mil anos! Contudo, devemos tomar cuidado com esses números. Energia geotérmica é de qualidade bastante baixa porque a temperatura do vapor ou da água quente utilizados frequentemente está entre 150ºC e 250ºC (a 100 psi). Isso deve ser comparado com o vapor em uma usina convencional movida a combustíveis fósseis, que se encontra a 550ºC e 1.000 psi. A Terra atua como um grande motor de calor para a geração de eletricidade, já que fornece água quente e/ou vapor a temperaturas de 150ºC a 250ºC. Entretanto, essas temperaturas relativamente baixas significam eficiências menores. Os pontos quentes geotérmicos estão distribuídos de forma esparsa e normalmente encontram-se a alguma distância dos mercados que precisam de energia. A temperatura de vapor mínima necessária para a produção econômica de eletricidade é de cerca de 110ºC. Em consequência, muitos reservatórios de água quente podem ser utilizados apenas para o aquecimento de ambientes (como na Islândia) (HINRICHS, 2013). Como a energia termal não pode ser transportada eficientemente a longas distâncias, o ponto de utilização precisa ser próximo à fonte. Algumas das evidências. Algumas vezes, o petróleo vai vazar para a superfície a partir de reservatórios subterrâneos e por caminhos estranhos; assim, perfurar ao redor de tais afloramentos nem sempre será produtivo. O atual método de comprovação da viabilidade comercial de um recurso geotérmico é perfurar buracos profundos e realizar testes de fluxo de longo prazo. Deve-se, também, estudar o ambiente geológico local, inclusive os tipos e as propriedades das formações rochosas. Outras técnicas exploratórias utilizam observações aéreas e de superfície para procurar falhas e atividade vulcânica, métodos sísmicos para procurar reservatórios subterrâneos, métodos geoquímicos, como a análise da água das fontes, e mensurações elétricas para indicar a presença de água profunda com temperaturas altas e conteúdo salino. O uso de fotografia aérea infravermelha para procurar gradientes de temperatura não tem sido muito bem-sucedido por Gestão Ambiental em foco ii 45 causa da interferência do terreno local. Além dos hidrotermais, existem dois outros tipos de recursos geotérmicos: reservatórios geopressurizados e rochas secas quentes. Reservatórios geopressurizados consistem em água salobra quente localizada em áreas grandes (não em pontos quentes pequenos e localizados, próximos à superfície) profundas (3.000 m a 6.000 m) e normalmente submetidas a pressões de até 10.000 psi. A energia contida nessas zonas geopressurizadas não é apenas termal, mas também mecânica (hidráulica) e química (como resultado do metano dissolvido). Acredita-se que, nos Estados Unidos, tais reservatórios se localizem primariamente ao longo da Costa do Golfo. A energia potencialmente recuperável desses reservatórios é imensa, porém a tecnologia para explorá-la ainda precisa ser desenvolvida. Poços experimentais já foram escavados no Texas e em Louisiana. Rochas secas quentes localizam-se no subsolo, mas faltam os aquíferos ou fraturas (fendas) para trazer fluido para a superfície, como no caso dos reservatórios hidrotermais. Essa fonte pode ser explorada por meio da circulação de água através das fendas para extrair a energia calorífica. Reservatórios artificiais podem ser construídos pela fratura hidráulica dessas rochas e, então, circular a água por meio das fendas. Atualmente, alguns reservatórios fraturados a profundidades de 3.000 m a 4.000 m (10 mil pés a 13 mil pés) estão sendo testados no Novo México. Rochas secas quentes são muito mais comuns que reservatórios hidrotermais e mais acessíveis, o que faz seu potencial ser bastante alto. A eletricidade é extraída dos sistemas de rochas secas quentes utilizando-se um ciclo de fluido secundário ou binário. Nesse ciclo, a água quente é passada por um radiador a fim de transferir calor para um líquido com um ponto de ebulição baixo, como um refrigerante CFC ou isobutano, cujos vapores são, então, utilizados para fazer funcionar a turbina (HINRICHS, 2013). Confira o funcionamento de um ciclo de turbina a vapor na figura a seguir. A água resfriada é reinjetada no solo, o vapor se expande em direção à turbina e, então, é condensado de volta à forma líquida no condensador refrigerado a água. Gestão Ambiental em foco ii 46 FIGURA 12 – CICLO DE TURBINA A VAPOR FONTE: Disponível em: <http://www.cogenportugal.com/general_content/showInformation. aspx?mt=1&ml=34&type=2>. Acesso em: 30 abr. 2015. Nessa técnica, não é necessário usar vapor de alta pressão de um reservatório hidrotermal convencional para fazer funcionar a turbina. Vapor de baixa temperatura pode ser utilizado. Uma usina de fluido binário em Nevado produz eletricidade economicamente viável a partir de fluido geotérmico a 103ºC (218ºF). O potencial para energia a partir de rochas secas quentes poderia ser muito maior que esse se a tecnologia avançasse e os custos diminuíssem. Devemos observar que, historicamente, para qualquer recurso relativamente novo, as projeções de seu potencial tendem a ser altas. A verdadeira capacidade em 1985 nos Estados Unidos foi de cerca de 1.300Mwe. Gestão Ambiental em foco ii 47 3.4 RECURSOS GEOTÉRMICOS DE BAIXA TEMPERATURA Os reservatórios geotérmicos de temperaturas baixas a moderadas (20ºC a 150ºC) podem ser usados para fornecer aquecimento direto para utilizações residenciais e industriais. Esses reservatórios normalmente são de água quente subterrânea sob pressão. Para ser utilizada, a água quente é trazida para a superfície, onde um sistema de troca de calor transfere a energia termal para outro fluido. Fluido geotérmico resfriado é então bombeado através de um poço de injeção de volta ao solo. As utilizações primárias desse fluido aquecido estão no aquecimento de ambientes (algumas vezes de estruturas individuais), estufas e aquicultura (fazenda de peixes). Recentes pesquisas têm identificado um grande potencial para novos usos diretos das aplicações geotérmicas no oeste dos Estados Unidos.Mais de 9 mil poços e fontes termais estão atualmente em utilização. Tais aplicações estão economizando a energia equivalente a quase 2 milhões de barris de petróleo por ano (HINRICHS, 2013). --------------- [ 4: IMPACTOS AMBIENTAIS ] --------------- O uso expandido da energia geotérmica tem enfrentado alguma oposição de grupos ambientalistas que afirmam que tais usinas são perigosas, sujas, barulhentas e feias. Um dos problemas de uma usina geotérmica é a emissão de gases nocivos, como o sulfeto de hidrogênio (H2S), que tem cheiro de ovos podres. Dióxido de carbono também é emitido nos processos geotérmicos, apesar de em quantidades significativamente menores que as emitidas por qualquer outra movida a combustíveis fósseis com a mesma produção. O vapor dos campos de vapor seco contém minerais que, após o vapor condensar, podem contaminar o lençol freático e envenenar peixes e outras formas de vida aquática. Nos campos de vapor úmido, o conteúdo de minerais e sal da água quente (muitas vezes chamada de salobra) pode ser da ordem de 20% a 30% de sólidos dissolvidos. As lâminas das turbinas podem sofrer danos por corrosão e as tubulações podem ficar entupidas. Existem problemas adicionais relacionados com a disposição dos resíduos líquidos. Têm sido desenvolvidos alguns procedimentos nos quais a água quente, após sua utilização, é evaporada e os minerais da sua composição podem Gestão Ambiental em foco ii 48 ser extraídos. Outro problema em algumas regiões geotérmicas é que a remoção do vapor dos reservatórios pode causar subsidência (assentamento ou deslizamento) dos terrenos acima deles. Uma das usinas de vapor do México relatou uma subsistência de 13cm. Este problema pode ser remediado pela reinjeção da água residual dos campos na área via poços de injeção. Nos processos que envolvem rochas quentes secas, o fluido do reservatório quente é reinjetado no solo, tornando este processo mais atraente do ponto de vista ambiental (HINRICHS, 2013). Confira na figura a seguir, a emissão de gases nocivos de uma usina geotérmica. FIGURA 13 – USINA GEOTÉRMICA E A EMISSÃO DE GASES NOCIVOS AO MEIO AMBIENTE FONTE: Disponível em: <http://planetasustentavel.abril.com.br/imagem/fwa/1308582781476_133. jpg>. Acesso em: 7 maio 2015. Gestão Ambiental em foco ii 49 REFERÊNCIAS HINRICHS, Roger A. Energia e meio ambiente / Roger A. Hinrichs, Merlin Kleinbach, Lineu Belico dos Reis, Fávio Maron Vichi, Leonardo Freire de Mello. São Paulo: Cengage Learning, 2013. Gestão Ambiental em foco ii 50 RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS Joseane Gabriele Kryzozun Ribeiro Rubin --------------- [ APRESENTAÇÃO] --------------- As áreas degradadas são sempre fonte de estudo, pois a necessidade de recuperar estas áreas é cada dia mais crescente, pois o homem utiliza os recursos do planeta sem se importar com as consequências que seus atos acarretarão para as gerações futuras. “O desenvolvimento sustentável já preconiza que devemos usar os recursos sem prejudicar o uso para as gerações futuras”. Portanto, a recuperação das áreas que foram danificadas por algum tipo de atividade antrópica, é de suma importância para a manutenção da vida no planeta. Sendo assim, através deste material você poderá identificar: Definição de áreas degradadas. Formas de degradação. Tipos de recuperação de áreas degradadas. Tipos de solos brasileiros. Gestão Ambiental em foco ii 51 --------------- [ 1: DEFINIÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ] --------------- 1.1 DEGRADAÇÃO E RECUPERAÇÃO É definida como área degradada aquela que sofreu, em algum grau, danos ou perturbações a sua integridade (figuras a seguir), podendo ser elas de natureza física, química ou biológica. Área degradada, segundo Carpanezzi et al. (1990), é aquela que após distúrbios, teve eliminados, juntamente com a cobertura florestal nativa, os seus meios bióticos de regeneração, como o banco de sementes e de plântulas. Por exemplo, em locais onde a degradação foi muito severa e afetou a estrutura do solo serão necessários tratamentos especiais. FIGURA 14 – AMBIENTES DEGRADADOS (VOÇOROCA) FONTE: Disponível em: <http://www.acrissul.com.br/noticias/ver/4542/projeto-facilita-a-recuperacao- de-areas-degradadas>. Acesso em: 8 jun. 2015. Gestão Ambiental em foco ii 52 FIGURA 15 – RETIRADA DE MATA CILIAR FONTE: Disponível em: <http://muralvirtual-educaoambiental.blogspot.com/2012/03/tecnologia-de- recuperacao-de-areas.html>. Acesso em: 8 jun. 2015 FIGURA 16 – ÁREAS DE MINERAÇÃO FONTE: Disponível em: <http://tecnicoemineracao.com.br/projeto-de-recuperacao-de-areas- degradadas/>. Acesso em: 8 jun. 2015. Gestão Ambiental em foco ii 53 A recuperação de áreas degradadas está intimamente ligada à ciência da restauração ecológica. Restauração ecológica é o processo de auxílio ao restabelecimento de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído. Um ecossistema é considerado recuperado – e restaurado – quando contém recursos bióticos e abióticos suficientes para continuar seu desenvolvimento sem auxílio ou subsídios adicionais. A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, em seu art. 2º, distingue, para seus fins, um ecossistema “recuperado” de um “restaurado”, da seguinte forma: Art. 2° Para os fins previstos nesta Lei entende-se por: [...] XIII - recuperação: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original; XIV - restauração: restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada o mais próximo possível da sua condição original; A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) definiu como recuperação sendo o conjunto de procedimentos através dos quais é feita a recomposição da área degradada para o estabelecimento da função original do ecossistema. Essa norma ainda define a restauração como o conjunto de procedimentos através dos quais é feita a reposição das exatas condições ecológicas da área degradada pela mineração, de acordo com o planejamento estabelecido (RUBIN, 2012). A Lei nº 9.985, de 18/7/2000, que regulamenta o art. 225 e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, no seu artigo 2º, estipula que a recuperação é a restituição de um ecossistema ou de uma população silvestre degradada a uma condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original. Já para a legislação federal brasileira o objetivo da recuperação é “o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente” (Decreto Federal nº 97.632/89). Gestão Ambiental em foco ii 54 Sendo assim, podemos conceituar a recuperação de áreas degradadas como sendo um conjunto de ações cujo objetivo é proporcionar o restabelecimento de condições de equilíbrio paisagístico e de sustentabilidade (RODRIGUES; GANDOLFI, 2000). Assim, tem-se a recuperação como o ato de reverter as áreas de diferentes graus e tipos de degradação para a condição não degradada (RODRIGUES; GANDOLFI, 2000). A seguir alguns termos que podem definir a recuperação de áreas degradadas: Recuperação: Recuperação, por sua vez, é a reversão de uma condição degradada para uma condição não degradada, independentemente de seu estado original e de sua destinação futura (RODRIGUES; GANDOLFI, 2001). A recuperação de uma dada área degradada deve ter como objetivos recuperar sua integridade física, química e biológica (estrutura), e, ao mesmo tempo, recuperar sua capacidade produtiva (função), seja na produção de alimentos e matérias-primas ou na prestação de serviços ambientais. Nesse sentido, de acordo com a natureza e a severidade da degradação, bem como do esforço necessário para a reversão deste estado, podem ser considerados os seguintes casos, de acordo com Rodrigues e Gandolfi (2001): Restauração: Restauração é definido como o retorno completo da área degradada às condições existentes
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