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1 Processos físico-químicos (coagulação/floculação/flotação) no tratamento terciário das indústrias de papel e celulose ALVES, A. V. S.; FERNANDES, J. R.; SOUZA, J. S.; OLIVEIRA, M. R. P.; MAMEDE, M. R. Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, Centro Universitário Padre Anchieta 1. INTRODUÇÃO A cadeia produtiva de papel e celulose é constituída por um conjunto de indústrias que inclui a fabricação de celulose, papel e artefatos de papéis, além das florestas, editoração, setor gráfico e distribuidores, explicando assim o fato de que tanto a produção de papel quanto a de celulose são abordadas em conjunto, sendo que a celulose é um dos elementos principais que compõem o papel (MONTEBELLO e BACHA, 2011). Além disso, são de grande representatividade para a economia nacional e internacional, principalmente nos valores gerados da receita, impactos e altos investimentos, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP, 2016). A manufaturação de papel envolve os papéis para escrever e imprimir, as embalagens, os sanitários, papéis de imprensa e de cartão, papelão ondulado e etc. conforme o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (DEPEC, 2019) afirma. A celulose, que é a base para a existência do papel, também é aplicada em tecidos, fraldas descartáveis, papel higiênico, absorventes, estabilizantes para alimentos industrializados e assim por diante (LEGNAIOLI, 2015). É válido destacar que há dois tipos de celulose no mercado: as de fibra curta, que correspondem a 85% da produção brasileira (papel para escrita, impressão, higiene, etc.) originárias do eucalipto e as de fibra longa (embalagens), que são mais resistentes e fazem parte dos 15% da fabricação nacional, provenientes do pinus (DEPEC, 2019). A celulose é um produto cuja fabricação é altamente competitiva, possuindo alto nível de desenvolvimento tecnológico, elevada escala produtiva e entre outros benefícios. Porém, por depender de um único produto na sua grande maioria (celulose de eucalipto), pelos seus mercados consumidores estarem muito distantes (Europa, América do Norte e Ásia), elevados custos para a implantação de uma unidade industrial (R$ 8 bilhões a 10 bilhões), o longo prazo para a maturidade dos 2 investimentos, a necessidade de grande extensão de área para o plantio das árvores que abastecerão a indústria, as condições climáticas e entre outros fatores, acabam por revelar as fraquezas desse setor (MONTEBELLO e BACHA, 2011; HORA, 2017). O Brasil é o segundo maior produtor de celulose do mundo (18800 mil toneladas em 2016), pois utiliza o eucalipto, em sua maior parte, para a fabricação da celulose, graças ao clima favorável, ao tempo médio de crescimento (sete anos), ao uso da biotecnologia e de engenharia genética, aos baixos custos para produção (US$ 235/tonelada) e de venda (US$ 463,10/tonelada) e a excelente logística e florestas próximas das fábricas (FIEP, 2016; DEPEC, 2019). O papel corresponde apenas 20% da produção global (10300 mil toneladas em 2016) pois possui maior demanda regional e, nesse sentido, o Brasil ocupa o oitavo lugar na classificação dos principais produtores mundiais. Isso se deve às diversas causas: fraca infraestrutura logística, empresas de médio a baixo porte, custos elevados de energia e produtos químicos, competição pelo uso da celulose e entre outras. O Sudeste é a região de maior mercado consumidor porque a maioria da população com poder aquisitivo está concentrada lá (CABRAL, 2016; HORA, 2017; DEPEC, 2019). Para melhor análise do setor de celulose e papéis, são considerados os valores de produção e vendas, emprego e renda e comércio exterior (FIEP, 2016): Produção e vendas: existem mais de 4000 empresas atuando na área, cuja produção bruta, em 2014, foi de R$ 68,5 bilhões e a receita líquida de vendas foi de R$ 70,2 bilhões. O Valor de Transformação Industrial (VTI) foi de R$ 32,6 bilhões. Emprego e renda: o setor possibilitou que, em 2015, 177323 pessoas fossem empregadas, sendo que 55% delas possuíam até o ensino médio completo e 12% tinham a graduação concluída, além de a grande parte ser constituída por homens (77%). No mesmo ano de 2015, a massa salarial foi de R$ 6,2 bilhões e o rendimento médio mensal se deu em R$ 2915,00. Comércio exterior: para as exportações, em 2015, foram aplicados US$ 7,6 bilhões e para as importações, US$ 1,3 bilhão. O saldo de balança comercial foi de US$ 6,3 bilhões. Da quantia investida na exportação, 69,8% se referem aos principais compradores (China, EUA, Holanda, Itália e Argentina). 3 A indústria de papel e celulose gasta cerca de 12000 litros por tonelada em seus processos, sendo uma grande consumidora de água. Etapas como cozimento da madeira e branqueamento utilizam, por exemplo, soda cáustica, cloro e enxofre, que liberam resíduos com alta concentração de fibras e cargas minerais, justificando assim a necessidade do tratamento terciário nessa área industrial (LEGNAIOLI, 2015; CABRAL, 2016; DEPEC, 2019). Portanto, o objetivo da pesquisa é conhecer o tratamento terciário de uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) da indústria de papel e celulose, que envolve seus custos (fixos/variáveis), características hidráulicas, alternativas de tratamento e suas vantagens e desvantagens. Para isso, serão abordadas questões como as operações unitárias, as características do efluente e o funcionamento geral da ETE. 2. METODOLOGIA Na pesquisa científica, a análise sobre diversas situações possibilita um conjunto de descobertas que, por sua vez, podem gerar soluções. Dessa forma, o método qualitativo foi aplicado, ou seja, envolveu a compreensão de um assunto por meio da interpretação dos fatos através do levantamento bibliográfico (SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009). Os materiais usados na pesquisa foram selecionados dentro de fontes confiáveis e referentes ao tema, como o Google Acadêmico, Scielo e banco de teses, envolvendo monografias, revistas acadêmicas, trabalhos de conclusão de curso, dissertações e etc., além dos livros referentes ao assunto a fim de conhecer mais sobre a indústria de papel e celulose, principalmente sobre o tratamento terciário convencional, suas características e métodos alternativos. 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Operações unitárias Para a fabricação de papel e celulose, a madeira passa por diversas etapas, desde a colheita até as transformações para a comercialização e distribuição para o consumidor final (figura 1). O processo mais empregado para a geração de papel e celulose é o Kraft, pois é o mais eficiente, sendo responsável por mais de 90% da produção brasileira de celulose (MIELI, 2007). 4 Figura 1: Cadeia de produção da celulose e do papel Fonte: Silveira (2010) Silveira (2010) detalha como funciona a indústria de papel e celulose: - Colheita: quando os eucaliptos atingem o período de maturidade, por volta dos sete anos, são colhidos, cortados e descascados. Porém, partes como galhos e cascas não possuem utilidade industrial, sendo deixados no solo como matéria orgânica. - Cavacos: ocorre a padronização do dimensionamento das toras de eucalipto para simplificar a próxima etapa. Os cavacos são armazenados em silos para o cozimento. - Cozimento: acontece a dissociação da lignina por meio da adição de soda cáustica, sulfato de sódio e vapor de água em digestor contínuo numa temperatura de 150ºC. O processo leva em média 4 horas e o resultado é a celulose não branqueada, isto é, uma pasta marrom gerada a partir dos cavacos. - Deslignificação: remoção da lignina dissolvida no cozimento por meio de uma lavagem alcalina. COLHEITA PRODUÇÃO CAVACOS COZIMENTO DESLIGNIFICAÇÃO/ BRANQUEAMENTO SECAGEMEMBALAGEMTRANSPORTEMERCADOS PRODUTOS FINAIS 5 - Branqueamento: a celulose recebe um tratamento químico ou enzimático, sendoainda peneirada e refinada. No final deste processo, a celulose está com sua cor natural e com propriedades mais requintadas. - Tratamento da celulose branqueada: inclusão de aditivos químicos minerais para melhorar as propriedades visuais e resistivas. - Pré-secagem: as folhas formadas no processo anterior são prensadas, havendo sucção da umidade restante e remoção de água por processos mecânicos. - Secagem e embalagem: a polpa de celulose contém suas impurezas removidas em depuradores pressurizados. Depois é prensada e seca em túneis secadores com ar quente soprado. As folhas de celulose são cortadas e empilhadas. - Rolo jumbo: as folhas são colocadas em rolos do tipo jumbo formando longas bobinas que são dispostas em depósitos, sendo protegidas da luz e umidade, ou direcionadas a clientes para transformação. - Transformação: corte das folhas das bobinas em tamanhos como offset, A3 e A4 para então o produto final ser embalado e expedido para os distribuidores e consumidores finais. 3.2 Características dos efluentes Os efluentes líquidos são gerados em diversos pontos do processo de produção da celulose e do papel. Diariamente, são originados mais de 62 milhões de metros cúbicos de efluentes, o que corresponde ao consumo doméstico de água de 200 milhões de pessoas, aproximadamente. Os mais conhecidos são aqueles provenientes da preparação e do cozimento da madeira, bem como do branqueamento, da lavagem da polpa e da prensagem e secagem do papel (MATIAS, 2010; CABRAL, 2016). Na transformação da madeira em cavacos, isto é, em pedaços com cortes padronizados, a água é utilizada para lavá-la, gerando efluentes com fibras, sólidos suspensos, sujeiras, DBO, areia e etc. (CABRAL, 2016). 6 No cozimento, há separação entre as fibras celulósicas de outros componentes da madeira, como a lignina, cujo processo se dá pela mistura do cavaco com o licor branco (NaOH + NaS) em altas pressões e temperaturas nos digestores, resultando na celulose não-branqueada. O resíduo gerado deste procedimento é denominado licor residual, também conhecido como licor negro, pois é rico em matéria orgânica. É enviado para a recuperação em circuito fechado para a produção de energia e restauração de NaS e NaOH. Porém, os efluentes gerados contêm alta demanda bioquímica de oxigênio (DBO), cor, turbidez, sólidos suspensos e baixas concentrações de oxigênio dissolvido (MIELI, 2007; MATIAS, 2010; SILVEIRA, 2010). O processo de branqueamento é caracterizado pelo uso de substâncias químicas oxidantes em etapas para diminuir a coloração da polpa. Nos estágios ácidos, usa-se o dióxido de cloro e, nos alcalinos, hidróxido de sódio com ou sem oxigênio ou peróxido de hidrogênio. Entre estes estágios, ocorre a lavagem da polpa, gerando efluentes fortemente coloridos e com alta carga orgânica, como lignina, carboidratos e entre outros, totalizando mais de 300 compostos desta natureza, principalmente os fenóis clorados, elementos resistentes à degradação e tóxicos para seres aquáticos. (MATIAS, 2010; SILVEIRA, 2010; CABRAL, 2016). É válido ressaltar que o branqueamento é uma etapa que não visa à mudança da qualidade do produto e sim a cor dele, pois o consumidor tem grande preferência estética em utilizar o papel branco e, portanto, o branqueamento é feito para que o papel seja comercializado, mas é um processo dispensável (SILVEIRA, 2010). Cabral (2016) também menciona que há efluentes gerados durante a prensagem e secagem da folha, que é a “água branca”, assim denominada porque apresentam resíduos de cola, fibras da celulose, cetona, corantes, agentes branqueadores, amido e matéria orgânica, dando aspecto esbranquiçado ao efluente, sendo avaliado por meio da turbidez, cor aparente, temperatura e entre outros aspectos. Sendo assim, o efluente final é a somatória de todos os procedimentos presentes para a fabricação do papel e celulose, indústria que é considerada uma grande poluidora em potencial através da geração de efluentes ricos em material orgânico, sólidos suspensos, cor e compostos organoclorados. Por isso, a redução do consumo de água durante os processos é o foco ambiental principal desta espécie de empresa (MIELI, 2007; CABRAL, 2016). 7 3.3 Tratamento de efluentes (ETE) Nas indústrias de papel e celulose, a estação de tratamento de efluentes (ETE) é um processo segmentado por quatro etapas distintas e com diferentes objetivos (MIELI, 2007; DEZOTTI, 2008; MATIAS, 2010; SILVEIRA, 2010; CABRAL, 2016): - Tratamento preliminar: consiste na remoção de sólidos grosseiros, flutuantes e sedimentos por meio de grades, uso de caixas retentoras de gordura e de caixas de areia. No setor de papel e celulose, é utilizado o processo kraft, em que são adotados dois tipos de tratamento: resfriamento dos efluentes, que é geralmente requerido devido ao fato de chegarem à estação com temperatura superior a 45ºC, sendo que a temperatura ideal para o tratamento biológico secundário é de 35ºC; e remoção dos sólidos grosseiros, no qual é realizado por meio do sistema de gradeamento, cujo objetivo é proteger os equipamentos mecânicos, como os conjuntos motobombas. Há opções de diversos tipos de gradeamento no mercado, mas o material deve ser selecionado de acordo com o diâmetro de sólidos que se deseja remover, além de priorizar critérios como facilidade na limpeza e na operação. Apesar de não ser comum a retirada de areia através de caixas de areia em fábricas de papel e celulose, ela pode ser utilizada ocasionalmente para tratamento de efluente setorial em pátios de madeira, visto que, as madeiras provenientes de outras áreas podem conter muita areia. - Tratamento primário: nesta etapa do tratamento é realizada a remoção de matéria orgânica em suspensão e de redução parcial da DBO. A sedimentação (decantação primária ou simples) reduz os sólidos em mais de 80%. O processo de flotação é capaz de separar partículas sólidas ou líquidas de uma fase líquida após a inserção de pequenas bolhas de gás, sendo que estas se unem à superfície das partículas, aumentando o empuxo e provocando o movimento ascendente dessas partículas em direção à superfície da fase líquida que serão coletadas em uma operação de raspagem superficial. A neutralização é utilizada para correção do pH dos efluentes. O processo da coagulação é o de agrupar as impurezas que estão em suspensões finas e, por vezes, dissolvidas, que não foram removidas através de decantação ou filtração, resultante de fenômenos químicos (reações do coagulante com a água e à formação de espécies hidrolisadas com carga positiva) e físicos (deslocamento das espécies hidrolisadas para realizar o contato com as impurezas existentes na água). Na floculação, etapa posterior a 8 coagulação, ocorre a aglomeração dos coloides descarregados até a formação de flocos que sedimentam a uma velocidade específica, na qual sucede uma agitação suave, facilitando o contato dos coágulos uns com os outros e impede que os flocos formados se quebrem. Ao sair da câmara de floculação, a água passa para os decantadores, onde a velocidade de escoamento é diminuída, fazendo com que os flocos se sedimentem. - Tratamento secundário: visa a remoção de matéria orgânica biodegradável e de toxicidade por meio de um processo biológico. Existem diversos sistemas que se utilizam desse processo, sendo eles de natureza aeróbia e anaeróbia. Os mais comuns são as lagoas aeradas e o processo de lodos ativados. As lagoas aeradas são sistemas de fácil operação e consistem em lagoas com profundidade que variam de 2,0 a 3,0 m equipadas com sistemas de aeração que pode ser feitas por aeradores superficiais mecânicos ou difusores e compressores de ar. Normalmente, as lagoas aeradas são seguidas de lagoas de decantação ou polimento que auxiliam na remoção de sólidos em suspensão, também são utilizadas para remoçãode DBO e toxicidade. Os sistemas de lodos ativados são formados por reatores biológicos equipados com sistema de aeração e decantadores secundários, visando a remoção de sólidos biológicos, que são parcialmente reciclados para o tanque de aeração. O lodo biológico permite preservar altas concentrações de microrganismos no tanque de aeração. Estes tanques de aeração possuem uma profundidade de 4-5 m e são mais complexos pois demanda um controle mais intenso das condições do reator biológico. - Tratamento terciário: objetiva a remoção de cor e polimento do tratamento secundário. O processo terciário visa a remoção de impurezas presentes no efluente que o tratamento secundário não conseguiu, objetivando obter um efluente com menor impacto ambiental, como por exemplo, por meio da adsorção de carvão ativo, osmose inversa, eletrodiálise, troca iônica, filtro de membrana, etc. Nessa etapa há várias tecnologias que podem ser utilizadas, como o processo de separação através de membranas semipermeáveis, a fim de diminuir os sólidos em suspensão, carga residual orgânica, cor, micropoluentes, sais minerais, turbidez, metais tóxicos, nutrientes, dentre outros. - Tratamento do lodo: os lodos gerados dos procedimentos anteriores são misturados e adensados por meio de filtros prensas, sendo estocados em silos. O lodo final é 9 destinado para outras empresas, por onde são realizados diversos processos para se transformar em substrato para solos, servindo para comercialização. 3.4 Tratamento terciário na indústria de papel e celulose O tratamento terciário tem por objetivo remover os poluentes ainda presentes no efluente, remanescentes dos tratamentos anteriores. Os tratamentos convencionais (preliminar, primário e secundário), citados anteriormente, não são eficazes para a remoção de cor dos efluentes, o que faz com que estes, mesmo atendendo aos padrões legais para o lançamento (Resolução CONAMA nº 430/2011), apresentem aspecto de coloração forte proveniente dos processos de produção e quando lançados no corpo receptor são facilmente percebidos, por análise visual, influenciando diretamente a opinião pública e a imagem da empresa na sociedade (ARAÚJO, 2013). No mercado, há diversas opções para tratar os efluentes provindos da indústria de papel e celulose, como as resinas de troca iônica, os procedimentos físico-químicos, filtração, adsorção em carvão ativado e os processos oxidativos avançados (POA) (ARAÚJO, 2013). Como as possibilidades são as mais diversas, para averiguar qual tipo melhor trata o efluente em questão, foram selecionadas duas alternativas: os processos físico-químicos, que abrangem a coagulação, a floculação e a flotação; e os processos oxidativos avançados (POA), em comparação com o procedimento anterior para avaliar qual tipo de tratamento terciário melhor reduz a cor e a DQO presentes nos efluentes de uma fábrica de papel e celulose. A floculação funciona de acordo com as cargas das partículas coloidais, ou seja, este processo desordena estas partículas de modo a promover a adesão entre as bolhas formadas. Após a desestabilização química da suspensão coloidal, isto é, a coagulação, ocorre o crescimento dos flocos, elevando a eficiência dos mecanismos de colisão entre bolhas e flocos, sendo que quanto menores forem as partículas, mais satisfatório irá ser o processo, devido a maior superfície de contato (ARAÚJO, 2013). A flotação é o processo que envolve as fases sólidas, líquidas e gasosas, na qual a interação entre as bolhas e o material suspenso resulta em agregados com menor densidade que sobrenadam a superfície (figura 1), provocando o surgimento de lodo ou 10 espuma, que pode ser retirado por raspagem (TOREM e CASQUEIRA, 2003; TESSELE, et al., 2004; ARAÚJO, 2013). Figura 1: Processo de flotação Fonte: Tessele, et al. (2004) Em certos casos, um agitador mecânico ou gerador de microbolhas pode ser adicionado ao procedimento físico-químico (figura 2), auxiliando na flotação dos sólidos suspensos e também favorecendo maior ação dos agentes coagulantes e floculantes (ARAÚJO, 2013; TECITEC, 2019). Figura 2: Parte hidráulica do processo físico-químico (coagulação/floculação/flotação) Fonte: Tecitec (2019) O agitador mecânico possui um rotor no qual o líquido é induzido até a entrada do ar e o dispersor nele presente quebra-o em pequenas bolhas que entram em contato 11 com os flocos para a realização do processo. O gerador de microbolhas é constituído por pás rotativas que formam as bolhas do líquido para ajudar na flotação (ARAÚJO, 2013; TECITEC, 2019). Diversos fatores interferem na floculação e na coagulação, como pH do meio, tempo e intensidade da agitação de mistura, concentração dos coagulantes usados, tipo de coagulante, dentre outros menos importantes. O pH está diretamente relacionado à eficiência da coagulação, seja referente à química dos coagulantes, reações na água e espécies hidrolisadas principais, quanto à variação na carga superficial de coloides presentes no efluente, que dependente da concentração de prótons (ARAÚJO, 2013). Os floculantes mais aplicados são o sulfato de alumínio (Al2(SO4)3), o cloreto de polialumínio (PAC) e o cloreto férrico (FeCl3), pois são mais eficazes em menor quantidade, de tal forma a reduzir significativamente a cor, o DQO, a turbidez e a concentração de metais pesados, já que a indústria de papel e celulose é uma das atividades antrópicas que mais gera poluentes dessa natureza, com grandes concentrações de cromo, cobre, mercúrio, chumbo, níquel e zinco, oriundos das operações unitárias (TOREM e CASQUEIRA, 2003; ARAÚJO, 2013). Os tratamentos oxidativos escolhidos para a realização de comparações com os processos físico-químicos são aqueles que utilizam o ozônio (O3) e dióxido de cloro (ClO2). A ozonização é aplicada no tratamento terciário para a transformação de elementos tóxicos, melhoria da biodegradabilidade do efluente (aumento de DBO) e da remoção de cor e de turbidez. O sistema consiste em aplicar o ozônio para realizar a oxidação com maior intensidade, isto é, levar a formação de diversos produtos por meio de reações geradas pelas mais variadas cinéticas, havendo a decomposição do O3 em contato com a água. A substância pode ser produzida no próprio local, pois é um gás instável, sendo altamente tóxico e corrosivo. Porém, o puro uso do ozônio não é recomendado porque não é economicamente viável, sendo mais ideal combiná-lo com outros processos (ARAÚJO, 2013). O dióxido de cloro (ClO2) possui alto poder oxidante, pois é um composto neutro e não sofre hidrólise na água, sendo que sua reatividade independe do pH, uma vez que permanece como gás dissolvido. Também deve ser produzido no local por causa da sua característica explosiva quando está sob pressão e em concentração superior a 10%. Em solução aquosa, o ClO2 é reduzido em ClO2 - (clorito), sendo capaz de oxidar elementos 12 através do mecanismo de transferência de um único elétron, sendo formados outros subprodutos além do clorito, como o clorato (ClO3 - ) e o cloreto (Cl - ), por exemplo. Assim, o ClO2 é capaz de reduzir a cor e DQO com efetividade (ARAÚJO, 2013). Para verificar qual tipo de tratamento é o mais adequado, foram considerados os seguintes parâmetros: pH, DQO, DBO, cor real e sólidos suspensos totais (SST). Assim, as características físico-químicas do efluente da indústria de papel e celulose, em alta e baixa carga (médias aritméticas e desvio padrão – dp) são analisadas por Araújo (2013), conforme demonstrado na tabela 1: Tabela 1: Características médias das amostras coletadas Fonte: Araújo (2013) A dosagem ótima, isto é, para considerar o tratamento eficiente, foi estabelecido em uma remoção de DQO maior que 50% e de cor, superior a 80%. Depois de diversos experimentos envolvendoos processos físico-químicos (coagulação/floculação/flotação – ensaio jar test) e os oxidativos (O3 e ClO2), Araújo (2013) expõe os resultados do teste sobre o desempenho técnico e econômico dos tratamentos em questão de modo a compará-los (tabela 2). Tabela 2: Eficiência técnica e econômica dos tratamentos terciários da indústria de papel e celulose Fonte: Araújo (2013) 13 Analisando os resultados obtidos e descritos na tabela 2 e considerando as condições para a dosagem ótima, ambos os métodos (físico-químicos e oxidativos) tiveram porcentagens acima do esperado para a remoção de cor (> 80%), com exceção do O3, devido à alta carga de efluentes, principalmente lignina, que confere cor ao efluente, podendo ter sido mais eficiente se fosse utilizado juntamente com outro processo. Em relação ao DQO, os procedimentos oxidativos se mostraram completamente insatisfatórios, isso porque este tipo de tratamento ajuda no aumento da biodegradabilidade (relação DBO/DQO), principalmente o O3, além da alta complexidade dos compostos orgânicos, elevando o teor de SST. Uma desvantagem que os processos físico-químicos (Al2(SO4)3, PAC e FeCl3) possuem é a geração de lodo, assim como mostra a figura 2, por causa do funcionamento do mecanismo de bolhas e flocos, cujos sedimentos se depositam e precisam ser retirados por raspagem, algo que não ocorre com os processos oxidativos. Contudo, tanto para a remoção de cor ou DQO, os tratamentos físico-químicos são menos custosos, considerando também as etapas de extração, desaguamento, transporte e disposição do lodo em aterro industrial externo. Isto ocorre porque os compostos aplicados no tratamento oxidativo, no geral, são gerados para plantas de branqueamento, mas se forem feitos no próprio local, o custo pode ser mais competitivo. 4. CONCLUSÃO A indústria de papel e celulose é uma das atividades humanas mais poluidoras, pois se usam substâncias químicas para praticamente todas as operações unitárias, especialmente no branqueamento, etapa completamente dispensável ao produto final, mas que mesmo assim é efetuado para fins comerciais; além do alto uso de água, cujo objetivo principal das empresas é o de reduzir seu consumo nos processos. Como o efluente contém alta carga orgânica, cor, sólidos suspensos e etc., o mercado contém várias opções disponíveis, entre elas, os processos físico-químicos e os processos oxidativos. Mediante as análises realizadas, foram consideradas as eficiências de redução de DQO e cor, geração de lodo e custos em US$/Kg. 14 Por fim, os tratamentos físico-químicos se mostraram mais viáveis tecnicamente e economicamente, apesar da geração de lodo. Os tratamentos oxidativos, de forma geral, tiveram desempenho inferior na remoção de DQO e de cor, devido à alta carga de efluentes, além de serem mais onerosos para implantação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, J. E. Processos de tratamento terciário para redução da DQO e cor dos efluentes de uma fábrica integrada de celulose kraft branqueada e papel. 2013. Dissertação (Mestrado em Tecnologia de Celulose e Papel) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2013. CABRAL, B. M. Tratamento de água branca de indústria de papel por microfiltração e ultrafiltração. 2016. 62f. Dissertação (Mestrado em Manejo Sustentável de Recursos Florestais) - Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Irati, 2016. DEPEC - DEPARTAMENTO DE PESQUISAS E ESTUDOS ECONÔMICOS. Papel e Celulose. 2019. Disponível em: https://www.economiaemdia.com.br/EconomiaEmDia/pdf/infset_papel_e_celulose.pdf. Acesso em: 21 set. 2019. DEZOTTI, M. 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Dissertação (Mestrado em Agroquímica) - Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2010. MIELI, J. C. de A. Sistemas de Avaliação Ambiental da Indústria de Celulose e Papel. 2007. 111f. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2007. MONTEBELLO, A. E. S.; BACHA, C. J. C. O setor de celulose e papel na economia brasileira. O Papel, v. 72, n. 4, p. 47 –50, abr.2011. SILVEIRA, D. T.; CÓRDOVA, F. P. Unidade 2 – a pesquisa científica. In: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (Orgs.). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: UFRGS, 2009. p.31-42. SILVEIRA, G. E. Sistemas de Tratamento de Efluentes Industriais. 2010. 34f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Química) – Departamento de Engenharia Química (DEQUI), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2010. TECITEC. Teoria para tratamento de óleo solúvel ou emulsionado. 2019. Disponível em: http://www.tecitec.com.br/noticias.asp?noticia=1&detalhe=sim. Acesso em: 17 out. 2019. TESSELE, F; ROSA J. J; RUBIO, J. Os avanços da flotação no tratamento de águas, esgotos e efluentes. Parte I: Fundamentos e mecanismos. Saneamento Ambiental, n.102, Jan/fev 2004. TOREM, M. L.; CASQUEIRA, R. G. Flotação aplicada à remoção de metais pesados. Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2003. 75p. (Série Tecnologia Mineral, 28).
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