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Aula 5 - Teoria da Contabilidade - A evolução Histórica do Pensamento Contábil Da idade contemporânea aos dias atuais

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A evolução Histórica do Pensamento Contábil – Da idade 
contemporânea aos dias atuais 
 
 A história revela, que através de milênios, o ser humano se 
preocupa com a melhor maneira de informar sobre o uso da riqueza, 
mas somente na fase pré-científica e depois na científica é que 
identificaram como objetivo de estudo, essenciais, essa mesma riqueza 
que antes só despertara a necessidade primeira e que era a de ser 
evidenciada. 
 Neste sentido a Escola Alemã foi uma das mais fecundas 
em termos doutrinários. Uma corrente de pensamento reditualista, muito 
forte, desenvolveu-se principalmente na Alemanha, embora não se pode 
negar sua forte influência em outros países. No intuito de alcançar o 
verdadeiro objeto de estudo da contabilidade, os reditualistas tiveram 
como princípio de sua teoria admitir que o lucro ou resultado é o que 
mais preocupa como objeto de estudo, sendo o fenômeno básico a ser 
observado. 
 A escola alemã contribuiu significativamente no 
desenvolvimento da contabilidade de custos. Eugen Schmalenbach 
(1873-1955), que escreveu cerca de 220 trabalhos, entre livros e artigos 
em especial, destacou-se no desenvolvimento da disciplina ao elaborar 
conceitos como o de centros de custos, custos fixos e variáveis, etc. 
 Por outro lado, a contabilidade francesa que se destacou 
com a teoria das cinco contas gerais de Degranges no final do século 
XVIII, voltou a ter papel de realce no cenário mundial no início do século 
XX, com as manifestações da escola neocontista, surgida como um 
movimento contrário ao personalismo das contas e defendendo o valor 
das contas. Essa corrente de pensamento iniciou-se com o professor 
francês Jean Dumarchey (1874-1946), que foi considerado o mais 
importante teórico da França na primeira metade do século XX. Os 
 
DISCIPLINA 
Teoria da Contabilidade 
PROFESSOR 
Ms. Cristiano de S. Corrêa 
 
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neocontistas também interpretavam a dinâmica do balanço baseado em 
fatos modificativos e permutativos. O objetivo de estudo da 
contabilidade, na visão dos neocontistas, é a própria revelação 
patrimonial. 
 
A Escola Patrimonialista 
 
 O homem, desde os primórdios de sua existência, já havia 
percebido sobre a necessidade de controlar e memorizar os seus bens, 
mesmo que de forma rudimentar, pois percebeu que a sua riqueza, ou 
seja, o seu patrimônio sofre modificações ao longo do tempo. 
 No entanto, nos alicerces, quer do empirismo, quer do 
período pré-científico ou do período científico, vamos encontrar como 
matéria de desenvolvimento de nossos estudiosos, sempre, o 
“patrimônio”, e a construção de uma teoria científica a esse respeito é 
chamada de “patrimonialismo”. 
 O professor italiano Vincenzo Masi (1893-1977), intelectual 
responsável pela construção de uma teoria científica do patrimônio, 
também conhecida de teoria masiana, surge a primeira sobre o 
patrimonialismo científico, feita em um artigo divulgado em junho de 
1926, na Revista Italiana de Contabilidade, sob o título “La Ragioneria 
come scienza Del patrimônio” (A Contabilidade como ciência do 
patrimônio), que em 1927 editou com o mesmo título sua obra que 
conseguiria muitas edições. 
 Para os patrimonialistas, o objeto de estudo da 
contabilidade é o patrimônio das entidades. A contabilidade é 
considerada uma ciência com um objeto bem determinado: o patrimônio. 
 No Brasil, a primeira metade do século XX revelou 
patrimonialistas de grande convicção e valor como o brasileiro Francisco 
D’Auria (1884-1958), sendo na opinião de muitos estudiosos, uns dos 
mais sérios e ilustres escritores da ciência contábil que o Brasil já 
possuiu. 
 O patrimonialismo masiano, no Brasil, vitorioso em todas as 
suas principais frentes, teve em Hilário Franco (1921-2000) um de seus 
mais legítimos e qualificados representantes, ou seja, soube ele penetrar 
na essência da doutrina, sem mesclá-la, nem a tornar híbrida. 
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 Muito embora, alguns autores brasileiros não tivessem uma 
definição concreta sobre a questão doutrinária e outros tivessem 
preferido seguir a linha pragmática, mais voltada a uma informação que 
ao estudo que ela representa, a maioria dos expressivos intelectuais 
brasileiros da área de contabilidade acabaram por consagrar o 
patrimonialismo como a corrente de pensamento contábil predominante 
no Brasil. 
 
A Escola Norte-Americana ou Anglo-Saxônica 
 O surgimento e crescimento das grandes corporações nos 
Estados Unidos, no início do século XX, tiveram como consequência um 
extraordinário desenvolvimento da economia norte-americana, 
principalmente com o crescimento do mercado de capitais. Tudo isso 
proporcionou um campo fértil para o avanço das teorias e práticas 
contábeis norte-americanas, proporcionando o aparecimento de uma 
nova corrente de pensamento contábil dando origem ao que alguns 
chamam de Escola Contábil Norte-americana. 
 O início da escola norte-americana caracteriza-se pelo seu 
aspecto prático no tratamento dos problemas econômico-administrativos 
e com limitadas construções teóricas das quais tiveram origem em 
entidades ligadas a profissionais da área contábil. 
 As grandes questões enfrentadas no século XX pela escola 
norte-americana foram um dos elementos responsáveis por transformá-
la em uma das escolas mais importantes no cenário contábil mundial 
moderno, ditando regras no tratamento de questões ligadas à 
contabilidade de custos, controladoria, análise de demonstrações 
contábeis, gestão financeira e controle orçamentário, além de outros 
ramos de conhecimento na área contábil, estando esta escola, na 
vanguarda da contabilidade mundial. 
 Nos textos norte-americanos, a contabilidade é sempre 
utilizada e apresentada como uma ferramenta útil para a tomada de 
decisões, predominando assim, uma grande preocupação com o usuário 
da informação contábil. 
 A escola norte-americana desdobrou-se por dois caminhos, 
devido ao interesse pelos norte-americanos pela qualidade da 
informação contábil, o que, por sua vez, acabou desenvolvendo duas 
grandes áreas de atuação contábil. 
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 De um lado, todo o progresso doutrinário da contabilidade 
financeira e dos relatórios contábeis, com grande participação das 
associações profissionais no desenvolvimento prático e teórico do tema, 
e de outro a grande expansão da contabilidade gerencial, com especial 
atenção à qualidade da informação contábil interna das empresas. 
 Faz-se importante destacar o papel da auditoria como 
prática sistematizada nos Estados Unidos, herdada da Inglaterra, 
(praticada desde o século XIV) em consequência do crescimento das 
empresas no final do século XIX, do aumento de sua complexidade, do 
interesse da economia popular nos grandes empreendimentos e parar 
resguardar a confiança do mercado de capitais. 
 Especialmente a partir da década de 30, os profissionais da 
área contábil, procuraram criar normas gerais para a prática contábil. Os 
esforços nesse sentido desencadearam estudos sobre os Princípios de 
Contabilidade Geralmente Aceitos (USGAAP), conduzidos sobretudo 
pelas associações profissionais. 
 As duas principais associações profissionais norte-
americanas relacionadas com a contabilidade financeira são: a American 
Accounting Association (AAA) e o American Institute of Certified 
Accountants (AICPA). 
 
A Escola Norte-Americana e Européia 
 
 A escola norte-americana foi marcada por uma tendência à 
praticidade, deixando de lado as construções teóricas. O principal 
objetivo não é a contabilidade como o foco principal de estudo, mas sim 
o que ela pode proporcionar aos grupos de interesses como benefício. 
 Para esta escola a contabilidade é observada como uma 
ferramenta útil que está a serviço dos usuários, onde o produto final é a 
informação com qualidade, o que bem difere da corrente europeia 
(principalmente a italiana) que observa a contabilidade como um produto 
de argumentações demasiadamenteteóricas. 
 O quadro a seguir, apresenta alguns motivos que levaram à 
mudança do cenário internacional da Contabilidade, ao compararem 
essas duas correntes de pensamento contábil: 
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Algumas razões da Queda da 
Escola Européia 
(especificamente italiana) 
Algumas razões da Ascensão da 
Escola Norte-Americana 
1 - Excessivo Culto à 
Personalidade: 
Grandes mestres e 
pensadores da Contabilidade ganharam 
tanta notoriedade que passaram a ser 
vistos como "oráculos" da verdade 
Contábil. 
1 - Ênfase ao Usuário da 
Informação Contábil: 
A contabilidade é apresentada 
como algo útil para a tomada de decisões, 
evitando-se endeusar demasiadamente a 
contabilidade; atender o usuário é o 
grande objetivo. 
2 - Ênfase a uma Contabilidade 
Teórica 
as mentes privilegiadas 
produziam trabalhos excessivamente 
teóricos, apenas pelo gosto de serem 
teóricos, difundindo-se ideias com 
pouca aplicação prática. 
2 - Ênfase a Contabilidade 
Aplicada 
Principalmente à Contabilidade 
Gerencial. Ao contrário dos europeus, não 
havia uma preocupação com a teoria das 
contas, ou querer provar que a 
Contabilidade é uma ciência. 
3 - Pouca Importância à 
Auditoria 
Principalmente na legislação 
italiana, o grau de confiabilidade e a 
importância da auditagem não eram 
enfatizados. 
3 - Bastante Importância à 
Auditoria 
Como herança dos ingleses e 
transparência para os investidores das 
Sociedades anônimas (e outros 
usuários) nos relatórios contábeis, a 
auditoria é muito enfatizada. 
4 - Queda do nível das 
principais faculdades 
Principalmente as faculdades 
italianas, superpovoadas de alunos. 
4 - Universidades em busca de 
qualidade 
Grandes quantias para as 
pesquisas no campo contábil, o 
professor em dedicação exclusiva, o 
aluno em período integral valorizaram o 
ensino nos Estados Unidos. 
Fonte: IUDÍCIBUS, Sérgio de. Introdução à teoria da contabilidade para o 
nível de graduação. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.15. 
 Iudícibus observa que esse conjunto de fatores 
desfavoráveis (apresentados no quadro anterior) foi acentuando-se a 
partir de 1920, com a ascensão econômica e cultural norte-americana, 
sendo que, atualmente na Itália, nas faculdades do norte do país, muitos 
textos apresentam influência norte americana e as principais empresas 
contratam na base da experiência contábil da inspiração norte-
americana. Complementa que nos últimos anos, como consequência 
das necessidades informativas de uma economia global, existe um 
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grande esforço de harmonização contábil internacional, que está 
aproximando as várias “escolas” e que temos ainda muito a evoluir. 
 As diferenças de pensamentos, em todos os ramos de 
conhecimento, provocam discussões acadêmicas produtivas, e 
proporcionam um crescimento saudável e construtivo direcionado para a 
busca da perfeição. Cada indivíduo observa de acordo com sua ótica, 
influenciado pelo seu meio de convivência, desenvolvendo assim o seu 
“ponto de vista”. 
 
Conclusão 
 Observa-se que a Contabilidade passa do conhecimento 
empírico para uma fase de desenvolvimento científico na Idade Média, 
seguindo ao longo do tempo até se tornar na era Contemporânea uma 
Ciência de reconhecido valor. 
 Ao terminar a leitura dessa unidade o a terá uma visão do 
desenvolvimento do pensamento contábil, desde a sua origem remota 
até a definição das principais correntes científicas . 
A observação das manifestações contábeis das antigas 
civilizações, da sistematização do processo de escrituração, da 
literatura, das escolas e doutrinas e das correntes científicas é fator 
fundamental para compreender a evolução histórica da contabilidade. 
 Após mais de 500 anos que Pacioli escreveu sua obra, a 
contabilidade propriamente dita tem permanecido virtualmente 
constante. Pacioli, com certeza, se sentiria muito confortável com os 
sistemas contábeis que encontramos atualmente. 
 Não há dúvida, de que vários instrumentos financeiros o 
surpreenderiam, mas uma vez que lhe fosse explicado que 
simplesmente representam novas formas de créditos a serem lançados 
do lado direito do balanço, ele não teria nenhuma dificuldade em 
compreender.

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