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1 A evolução Histórica do Pensamento Contábil – Da idade contemporânea aos dias atuais A história revela, que através de milênios, o ser humano se preocupa com a melhor maneira de informar sobre o uso da riqueza, mas somente na fase pré-científica e depois na científica é que identificaram como objetivo de estudo, essenciais, essa mesma riqueza que antes só despertara a necessidade primeira e que era a de ser evidenciada. Neste sentido a Escola Alemã foi uma das mais fecundas em termos doutrinários. Uma corrente de pensamento reditualista, muito forte, desenvolveu-se principalmente na Alemanha, embora não se pode negar sua forte influência em outros países. No intuito de alcançar o verdadeiro objeto de estudo da contabilidade, os reditualistas tiveram como princípio de sua teoria admitir que o lucro ou resultado é o que mais preocupa como objeto de estudo, sendo o fenômeno básico a ser observado. A escola alemã contribuiu significativamente no desenvolvimento da contabilidade de custos. Eugen Schmalenbach (1873-1955), que escreveu cerca de 220 trabalhos, entre livros e artigos em especial, destacou-se no desenvolvimento da disciplina ao elaborar conceitos como o de centros de custos, custos fixos e variáveis, etc. Por outro lado, a contabilidade francesa que se destacou com a teoria das cinco contas gerais de Degranges no final do século XVIII, voltou a ter papel de realce no cenário mundial no início do século XX, com as manifestações da escola neocontista, surgida como um movimento contrário ao personalismo das contas e defendendo o valor das contas. Essa corrente de pensamento iniciou-se com o professor francês Jean Dumarchey (1874-1946), que foi considerado o mais importante teórico da França na primeira metade do século XX. Os DISCIPLINA Teoria da Contabilidade PROFESSOR Ms. Cristiano de S. Corrêa 2 neocontistas também interpretavam a dinâmica do balanço baseado em fatos modificativos e permutativos. O objetivo de estudo da contabilidade, na visão dos neocontistas, é a própria revelação patrimonial. A Escola Patrimonialista O homem, desde os primórdios de sua existência, já havia percebido sobre a necessidade de controlar e memorizar os seus bens, mesmo que de forma rudimentar, pois percebeu que a sua riqueza, ou seja, o seu patrimônio sofre modificações ao longo do tempo. No entanto, nos alicerces, quer do empirismo, quer do período pré-científico ou do período científico, vamos encontrar como matéria de desenvolvimento de nossos estudiosos, sempre, o “patrimônio”, e a construção de uma teoria científica a esse respeito é chamada de “patrimonialismo”. O professor italiano Vincenzo Masi (1893-1977), intelectual responsável pela construção de uma teoria científica do patrimônio, também conhecida de teoria masiana, surge a primeira sobre o patrimonialismo científico, feita em um artigo divulgado em junho de 1926, na Revista Italiana de Contabilidade, sob o título “La Ragioneria come scienza Del patrimônio” (A Contabilidade como ciência do patrimônio), que em 1927 editou com o mesmo título sua obra que conseguiria muitas edições. Para os patrimonialistas, o objeto de estudo da contabilidade é o patrimônio das entidades. A contabilidade é considerada uma ciência com um objeto bem determinado: o patrimônio. No Brasil, a primeira metade do século XX revelou patrimonialistas de grande convicção e valor como o brasileiro Francisco D’Auria (1884-1958), sendo na opinião de muitos estudiosos, uns dos mais sérios e ilustres escritores da ciência contábil que o Brasil já possuiu. O patrimonialismo masiano, no Brasil, vitorioso em todas as suas principais frentes, teve em Hilário Franco (1921-2000) um de seus mais legítimos e qualificados representantes, ou seja, soube ele penetrar na essência da doutrina, sem mesclá-la, nem a tornar híbrida. 3 Muito embora, alguns autores brasileiros não tivessem uma definição concreta sobre a questão doutrinária e outros tivessem preferido seguir a linha pragmática, mais voltada a uma informação que ao estudo que ela representa, a maioria dos expressivos intelectuais brasileiros da área de contabilidade acabaram por consagrar o patrimonialismo como a corrente de pensamento contábil predominante no Brasil. A Escola Norte-Americana ou Anglo-Saxônica O surgimento e crescimento das grandes corporações nos Estados Unidos, no início do século XX, tiveram como consequência um extraordinário desenvolvimento da economia norte-americana, principalmente com o crescimento do mercado de capitais. Tudo isso proporcionou um campo fértil para o avanço das teorias e práticas contábeis norte-americanas, proporcionando o aparecimento de uma nova corrente de pensamento contábil dando origem ao que alguns chamam de Escola Contábil Norte-americana. O início da escola norte-americana caracteriza-se pelo seu aspecto prático no tratamento dos problemas econômico-administrativos e com limitadas construções teóricas das quais tiveram origem em entidades ligadas a profissionais da área contábil. As grandes questões enfrentadas no século XX pela escola norte-americana foram um dos elementos responsáveis por transformá- la em uma das escolas mais importantes no cenário contábil mundial moderno, ditando regras no tratamento de questões ligadas à contabilidade de custos, controladoria, análise de demonstrações contábeis, gestão financeira e controle orçamentário, além de outros ramos de conhecimento na área contábil, estando esta escola, na vanguarda da contabilidade mundial. Nos textos norte-americanos, a contabilidade é sempre utilizada e apresentada como uma ferramenta útil para a tomada de decisões, predominando assim, uma grande preocupação com o usuário da informação contábil. A escola norte-americana desdobrou-se por dois caminhos, devido ao interesse pelos norte-americanos pela qualidade da informação contábil, o que, por sua vez, acabou desenvolvendo duas grandes áreas de atuação contábil. 4 De um lado, todo o progresso doutrinário da contabilidade financeira e dos relatórios contábeis, com grande participação das associações profissionais no desenvolvimento prático e teórico do tema, e de outro a grande expansão da contabilidade gerencial, com especial atenção à qualidade da informação contábil interna das empresas. Faz-se importante destacar o papel da auditoria como prática sistematizada nos Estados Unidos, herdada da Inglaterra, (praticada desde o século XIV) em consequência do crescimento das empresas no final do século XIX, do aumento de sua complexidade, do interesse da economia popular nos grandes empreendimentos e parar resguardar a confiança do mercado de capitais. Especialmente a partir da década de 30, os profissionais da área contábil, procuraram criar normas gerais para a prática contábil. Os esforços nesse sentido desencadearam estudos sobre os Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos (USGAAP), conduzidos sobretudo pelas associações profissionais. As duas principais associações profissionais norte- americanas relacionadas com a contabilidade financeira são: a American Accounting Association (AAA) e o American Institute of Certified Accountants (AICPA). A Escola Norte-Americana e Européia A escola norte-americana foi marcada por uma tendência à praticidade, deixando de lado as construções teóricas. O principal objetivo não é a contabilidade como o foco principal de estudo, mas sim o que ela pode proporcionar aos grupos de interesses como benefício. Para esta escola a contabilidade é observada como uma ferramenta útil que está a serviço dos usuários, onde o produto final é a informação com qualidade, o que bem difere da corrente europeia (principalmente a italiana) que observa a contabilidade como um produto de argumentações demasiadamenteteóricas. O quadro a seguir, apresenta alguns motivos que levaram à mudança do cenário internacional da Contabilidade, ao compararem essas duas correntes de pensamento contábil: 5 Algumas razões da Queda da Escola Européia (especificamente italiana) Algumas razões da Ascensão da Escola Norte-Americana 1 - Excessivo Culto à Personalidade: Grandes mestres e pensadores da Contabilidade ganharam tanta notoriedade que passaram a ser vistos como "oráculos" da verdade Contábil. 1 - Ênfase ao Usuário da Informação Contábil: A contabilidade é apresentada como algo útil para a tomada de decisões, evitando-se endeusar demasiadamente a contabilidade; atender o usuário é o grande objetivo. 2 - Ênfase a uma Contabilidade Teórica as mentes privilegiadas produziam trabalhos excessivamente teóricos, apenas pelo gosto de serem teóricos, difundindo-se ideias com pouca aplicação prática. 2 - Ênfase a Contabilidade Aplicada Principalmente à Contabilidade Gerencial. Ao contrário dos europeus, não havia uma preocupação com a teoria das contas, ou querer provar que a Contabilidade é uma ciência. 3 - Pouca Importância à Auditoria Principalmente na legislação italiana, o grau de confiabilidade e a importância da auditagem não eram enfatizados. 3 - Bastante Importância à Auditoria Como herança dos ingleses e transparência para os investidores das Sociedades anônimas (e outros usuários) nos relatórios contábeis, a auditoria é muito enfatizada. 4 - Queda do nível das principais faculdades Principalmente as faculdades italianas, superpovoadas de alunos. 4 - Universidades em busca de qualidade Grandes quantias para as pesquisas no campo contábil, o professor em dedicação exclusiva, o aluno em período integral valorizaram o ensino nos Estados Unidos. Fonte: IUDÍCIBUS, Sérgio de. Introdução à teoria da contabilidade para o nível de graduação. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p.15. Iudícibus observa que esse conjunto de fatores desfavoráveis (apresentados no quadro anterior) foi acentuando-se a partir de 1920, com a ascensão econômica e cultural norte-americana, sendo que, atualmente na Itália, nas faculdades do norte do país, muitos textos apresentam influência norte americana e as principais empresas contratam na base da experiência contábil da inspiração norte- americana. Complementa que nos últimos anos, como consequência das necessidades informativas de uma economia global, existe um 6 grande esforço de harmonização contábil internacional, que está aproximando as várias “escolas” e que temos ainda muito a evoluir. As diferenças de pensamentos, em todos os ramos de conhecimento, provocam discussões acadêmicas produtivas, e proporcionam um crescimento saudável e construtivo direcionado para a busca da perfeição. Cada indivíduo observa de acordo com sua ótica, influenciado pelo seu meio de convivência, desenvolvendo assim o seu “ponto de vista”. Conclusão Observa-se que a Contabilidade passa do conhecimento empírico para uma fase de desenvolvimento científico na Idade Média, seguindo ao longo do tempo até se tornar na era Contemporânea uma Ciência de reconhecido valor. Ao terminar a leitura dessa unidade o a terá uma visão do desenvolvimento do pensamento contábil, desde a sua origem remota até a definição das principais correntes científicas . A observação das manifestações contábeis das antigas civilizações, da sistematização do processo de escrituração, da literatura, das escolas e doutrinas e das correntes científicas é fator fundamental para compreender a evolução histórica da contabilidade. Após mais de 500 anos que Pacioli escreveu sua obra, a contabilidade propriamente dita tem permanecido virtualmente constante. Pacioli, com certeza, se sentiria muito confortável com os sistemas contábeis que encontramos atualmente. Não há dúvida, de que vários instrumentos financeiros o surpreenderiam, mas uma vez que lhe fosse explicado que simplesmente representam novas formas de créditos a serem lançados do lado direito do balanço, ele não teria nenhuma dificuldade em compreender.
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