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Como escolher boa literatura para crianças_ _ Revista Emília

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20/04/2019 Como escolher boa literatura para crianças? | Revista Emília
revistaemilia.com.br/como-escolher-boa-literatura-para-criancas/ 1/4
Como escolher boa literatura
para crianças?
POR YOLANDA REYES | 1 DE SETEMBRO DE 2011 | FORMAÇÃO DE LEITORES |
 
Essa é a pergunta mais frequente que os pais me fazem e não gosto de respondê-la em
abstrato, pois se cada criança é diferente, os pais também são, e cada pessoa tem seus
gostos, suas perguntas, suas maneiras de ler… Isso sem falar nas idades, porque temos
incluídos nesse rótulo que os adultos denominam, genericamente, “crianças”, desde os bebês
até os adolescentes.
Mas essas também são categorias abstratas, porque um bebê pode gostar dos animais, enquanto outro pode
preferir flores, e uma menina de dez anos pode odiar poemas, que outra criança adora. O mesmo ocorre com os
romances de aventura, ou os que falam da vida real. O mesmo com os monstros e com as fadas. Alguns gostam
de contos, outros, de histórias em quadrinhos. Alguns querem muitas ilustrações, outros, letras pequenas. E isso
sem falar dos momentos, porque há livros para ler à noite e outros para ler durante o dia. Há livros para chorar e
outros para rir. Alguns são perfeitos para responder àquela pergunta que não sai da nossa cabeça, enquanto
outros nos deixam um monte de novas perguntas. Às vezes, precisamos de uma resposta e, às vezes,
precisamos de mais perguntas.
E por aí vai…
Então, não existe resposta?
Na verdade, não existe receita.
Ou talvez pudesse haver uma: para uma criança ler, só precisa saber ler.
Ler como? Ler o quê?
 
1. Ler para as crianças
Quem são e do que eles gostam. O que eles nos dizem todos os dias – e o mais importante: o que eles não nos
dizem. O que os faz perder o sono e o que os faz sonhar. De que brincam e com que brincam, com que se
http://revistaemilia.com.br/author/yolanda-reyes/
http://revistaemilia.com.br/categorias/formacao-de-leitores/
20/04/2019 Como escolher boa literatura para crianças? | Revista Emília
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divertem, o que os faz chorar. O que sentem com os livros que vêm em casa, na biblioteca, na livraria, ou na
sala de aula. Quais eles preferem. Eles podem ser totalmente distintos mesmo sendo gêmeos ou sentados
numa mesma carteira. Nenhum especialista sabe o que você sabe sobre essa criança concreta que espera
aquele livro em particular, em um momento preciso de sua vida. Confie na sua sabedoria instintiva. Seus
próprios filhos são o seu primeiro texto de leitura.
 
2. Ler o livro, panoramicamente
Como você lê o descritivo das vitaminas numa caixa de cereal? Usando seus critérios. Você não compra a caixa
de cereais apenas porque é mais colorida ou se tiver um personagem de Walt Disney. Tampouco compra um
disco sem olhar a capa e as músicas que ele contém e, muitas vezes, inclusive, pede para ouvir.
Isso que é feito na loja de discos, ou na livraria antes de comprar um livro, para você, deve ser feito quando se
trata dos livros para as crianças. Não compre o primeiro que lhe oferecem. Antes de olhar se tem capa dura ou
adesivos, pergunte ao livro:
a) Quem assina?
 
Você não compra um livro anônimo, a menos que seja a Canção do Mio Cid. Nem é a mesma coisa comprar um
romance de Saramago ou de um “escritor fantasma”. O mercado está cheio de livros infantis assinados por
multinacionais. Como em qualquer literatura, um verdadeiro escritor de livros para crianças garante o que
escreve com a sua assinatura.
b) Quem é o ilustrador?
 
Nos álbuns ou livros de imagens, a ilustração é uma linguagem tão válida quanto o texto. Aprenda a
diferenciar”desenhos” de uma ilustração com caráter e estilo próprios. (Aqui também, a assinatura de um
ilustrador é uma garantia de que alguém está por trás desse trabalho.) Você está educando o olhar de uma
criança. Cuidado com os estereótipos: o sol com rosto feliz ou a típica casinha triangular. Olhe mais longe: peça
a ilustração que não se limite a repetir o que dizem as palavras, que as amplie, que brinque com elas; que
proponha novas leituras; que deixe um espaço para a imaginação. Os bons livros de imagem podem ser o
museu de uma criança.
c) É versão original ou adaptação?
 
No caso dos contos de fadas, das histórias de tradição oral ou dos clássicos, o livro deve dizer se é uma
adaptação ou uma versão original. É diferente ler o Chapeuzinho vermelho de Perrault ou dos irmãos Grimm a
ler uma adaptação, onde pode ter se perdido a força da linguagem e a carga simbólica das imagens. Cuidado,
também com os romances simplificados. Alice no país das maravilhas, de Carroll, Pinóquio, de Collodi, Peter
Pan e Wendy, de Barrie são novelas complexas e muito lindas e devem ser lidas no seu devido tempo. Ler
essas obras resumidas em continhos de poucas páginas é como ler A Odisseia em um resumo de escola. É
melhor que a criança possa desfrutar de toda a riqueza da obra quando crescer um pouco mais. Desconfie,
também, dos clássicos para adultos em versões infantilizadas. Virá, no devido tempo, o momento de desfrutar a
verdadeira voz de Shakespeare ou Cervantes.
20/04/2019 Como escolher boa literatura para crianças? | Revista Emília
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d) Qual é a idade sugerida?
 
A maioria dos editores oferece sugestões de idade. Leve em conta essas recomendações, porém enriqueça-as
com os seus critérios. Existem livros para todas as idades; há outros sem idade. Além disso, nem todos os
processos leitores são os mesmos. A idade cronológica de um leitor é apenas uma das variáveis. Coteje a
sugestão da editora com o seu conhecimento e o dessa criança de verdade que vai receber o livro.
e) Que editora publica esse livro?
 
Além do nome, verifique a cidade, o ano da publicação, o nome do tradutor etc. Desconfie se essas informações
não estiverem explícitas. Vire as páginas; leia a capa e a contra capa. Você vai encontrar dados sobre o livro e
seu autor que lhe darão as primeiras pistas.
 
3. Envolva as crianças na pesquisa
Leve as crianças a bibliotecas públicas e livrarias. Leia com elas e companhe-as em seu processo de
crescimento como leitores. Acredite na palavra da criança, mas ao mesmo tempo, ofereça ferramentas para que
possa ir educando os seus critérios. Na medida em que uma criança tem contato com literatura de qualidade, ela
irá refinando a sua sensibilidade e tornando-se cada vez mais exigente. Nem sempre o que é fácil, o que está na
moda ou o que está no topo da lista dos “mais vendidos” é o melhor. Não se deixe, tampouco, tentar pelas
coleções completas que não garantem, por si só, a qualidade de cada título. Dê liberdade de escolha, mas
ofereça, também, a riqueza de sua experiência como leitor adulto. E não queira acertar sempre. Ler é também
equivocar-se.
 
4. Busque assessoria
O campo da literatura infantil é enorme. Muitos autores, ilustradores, gêneros e tendências que não conhecemos
quando éramos crianças têm enriquecido enormemente as opções de leitura. Não fique limitado ao que você leu
na infância. Aproveite as crianças para descobrir novas obras e não pretenda conhecer tudo. Busque um livreiro
ou um bibliotecário que conheça literatura infantil. Consulte as listas de livros recomendados, as publicações
sobre o assunto e as instituições que promovem a leitura. Você vai se surpreender com as descobertas e
encontrará livros, não só para ler com seus filhos, mas também para você.
 
5. Não confunda uma obra literária com um livro didático
Assim como você procura muito mais que ensinamentos explícitos quando lê um romance de García Márquez,
seu filho busca na literatura muito mais que um ensinamento moral. A literatura se move na esfera do simbólico
e apela à experiência profunda dos seres humanos. Desconfie das mensagens explícitas e das morais óbvias. O
mercado está cheio de livros infantis que “disfarçam” – sob o título de “conto” – as intenções didáticas dos
adultos. Aprenda a diferenciar os manuais de autoajuda das obras literárias. A literatura não pretendeexplicar
valores, letras do alfabeto, regras de polidez ou mensagens ambientais. Leia nas entrelinhas e não escolha um
20/04/2019 Como escolher boa literatura para crianças? | Revista Emília
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livro só pelo seu tema, mas pela sua forma e pela maneira como um autor constrói uma voz e um mundo
próprios. Desconfie dessa linguagem pseudoinfantil, cheia de diminutivos e de histórias light, onde os
protagonistas são tão perfeitos como ursos de pelúcia. (Seu filho vai ser o primeiro a “não engolir a história”.) Os
livros infantis podem ser atrevidos, transgressores, irreverentes, sutis, inteligentes, tristes… Todas essas
nuances, que constituem a infinita variedade da experiência de um ser humano, alimentarão o mundo interior
das crianças e lhes darão as chaves secretas para descriptografar muito sobre sua própria vida e sobre as
emoções, sonhos e pesadelos sobre fantasia e realidade.
Quando você for ler literatura para uma criança, deixe-se tocar pela linguagem cifrada e misteriosa dos livros.
Todo o resto virá depois.
 
TRADUÇÃO: DOLORES PRADES / IMAGEM DE STEFANIE DE GRAEF

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