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Vict�ria K. L. Card�so Imun�l�gia da hepatite B Introdução A infecção pelo HBV atinge um terço da população e o desenvolvimento de vacinas contra hepatite B contribuiu para um maior controle da doença. ● Além de preventiva, a vacina de hepatite B representa a primeira vacina a ser utilizada na prevenção do hepatocarcinoma celular. Descrição do agente e mutantes de HBV Descrição: ● O vírus da hepatite B pertence à família Hepadnaviridae e entre os mamíferos, o gênero é o Orthohepadnavirus. ● Morfologia: ○ Estrutura: é bem completa, com um capsídeo icosaédrico interno ou core, que abriga um DNA circular parcialmente duplo, associado a uma transcriptase reversa. ○ Envelope viral: constituído pelo antígeno de super�ície HBsAg. ○ Nucleocapsídeo: composto pelo antígeno central HBcAg e pelo antígeno HBeAg. ○ Região S do genoma HBV: é a região que dá origem à proteína S do HBsAg, a mais abundante e presente na super�ície do vírus. ○ Região pré-CC: dá origem às duas proteínas com especificidades antigênicas distintas: o HBcAg e o HBeAg, sendo que o HBcAg compõe o nucleocapsídeo viral. ■ Esse antígeno não é detectado no solo e está presente apenas nos tecidos hepáticos de pacientes com hepatite B aguda ou crônica. ■ O HBeAg não faz parte da estrutura viral, mas é uma proteína produzida durante um estágio de replicação viral intensa, então sua presença está associada a alta infecciosidade. ○ Região P: codifica a enzima com atividade multifuncional de polimerase, transcriptase reversa e RNAse H e está Vict�ria K. L. Card�so envolvida na síntese de DNA e na encapsulação do RNA viral. Mutantes: ● O HBV tem uma taxa de mutação 10X maior que outros vírus de DNA. ● Mutantes mais comuns: pré-core,promotores do core e YMDD. ● Mutações mais comuns: ○ Substituição de G por A no nucleotídeo da região pré-core (mutante pré-core) - mais comum. ○ Duas substituições de nucleotídeos da região promotora do core, uma de A para T e outra de G para A, que desregulam a produção de HBeAg. ○ Esses vírus mutantes podem causar hepatite aguda mais grave com maior chance de levar a casos fulminantes ou de rápida progressão para cirrose hepática nas infecções. Variabilidade genética e antigênica: ● O antígeno de super�ície do HBV possui um determinante “a” e quatro subdeterminantes mutantes exclusivos dy e wr, que podem ser diferenciados por anticorpos específicos que reconhecem diferentes epítopos do HBsAg. ● Importância da determinação de subtipos e genótipos do HBV: são ferramentas epidemiológicas para a investigação de transmissão materno-infantil, intrafamiliar e para identificar fontes de disseminação do HBV. ○ Pacientes com genótipo A, quando comparados com os infectados pelo genótipo D, parecem ter maior chance de eliminação do HBV-DNA e remissão sustentada após soroconversão do HBeAg. ○ Pacientes com genótipo B, quando comparados com os infectados pelo genótipo C, fazem soroconversão do HBeAg precocemente, evoluindo com menor gravidade e melhor resposta à interferona. Quadro clínico Doença clínica: trata-se de uma infecção viral do �ígado com características clínicas bem variadas, que comumente não gera sintomas, sendo que a taxa de sintomatologia depende da idade e da infecção pelo HBV. ● Pacientes adultos geralmente se recuperam completamente da infecção. Hepatite B aguda: Vict�ria K. L. Card�so ● Período de incubação: 4 semanas - 6 meses; média de 60-90 dias. ● Fase prodrômica ou pré-ictérica: sintomas de mal-estar, febre, fadiga, mialgia, anorexia, náuseas e vômitos → duram 1-2 semanas. ○ Perda de peso e dor no QSE, associadas a hepatomegalia também podem acontecer. ● Icterícia: quadro agudo e insidioso. ● Fase ictérica: presença de urina escura ou colúria e desenvolvimento de icterícia em pele, mucosas e escleras. ○ Esses sintomas desaparecem depois de 1-3 meses, embora alguns pacientes relatem uma fadiga prolongada. ● Manifestações extra-hepáticas: aparecem em 10-20% dos pacientes, por danos decorrentes da formação de imunocomplexos do vírus. ● Testes de função hepática: ○ Fase aguda: elevação dos níveis de alanina e das aminotransferases (ALT e AST) em até 10x → sendo ALT maior que AST. ■ Também ocorrem alterações inespecíficas como elevação de bilirrubina, fosfatase alcalina e discreta linfocitose. ○ Melhor indicador de prognóstico: tempo de protrombina prolongado → pois pode indicar uma potencial disfunção hepática e predispor um quadro fulminante. ○ Quadro fulminante: pode resultar em necrose maciça dos hepatócitos, causando uma encefalopatia seguida de falência múltipla dos órgãos → a imunoglobulina M anti-HBc costuma estar presente, embora a HBsAg e a HBeAg nem sempre estejam detectáveis. Imunopatologia da lesão: 1. Reconhecimento pelos linfócitos T citotóxicos de complexos formados pelo HBcAg e pelo MHC de classe I. 2. Indução de apoptose dos hepatócitos infectados. 3. Recrutamento de células inflamatórias, como macrófagos, neutrófilos e linfócitos por parte das células T citotóxicas. 4. Formação de um foco necroinflamatório no �ígado. Vict�ria K. L. Card�so 5. Os infiltrados dessas células são responsáveis primários pela morte celular → nesse estágio, apresentam-se as evidências clínicas de hepatite, com elevação de ALT. 6. Produção de anticorpos específicos contra o vírus, reduzindo a carga viral e controlando a infecção nas células não infectadas. a. Ou seja, resolução da infecção aguda de HBV: presença de anticorpos antivirais e linfócitos T citotóxicos específicos. b. Indivíduos curados: presença de anticorpos anti-HBs, traços de HBV-DNA no sangue periférico e no tecido hepático. Hepatite B crônica: ● São os pacientes que mantêm o HBsAg por pelo menos 6 meses. ○ É provável que eles se mantenham positivos para esse marcador por tempo indefinido. ● Sintomas: inespecíficos. ● Alterações laboratoriais: pequena elevação das alanino-transferase e podem apresentar os marcadores HBV-DNA, HBeAg e anti-HBe. ● São 3 diferentes formas: 1. Imunotolerância: mais frequente em crianças e adolescentes; pode ser de longa duração (10-30 anos), com alta concentração de DNA viral e positividade para HBeAg, sem apresentar doença hepática. 2. Clearance imune: soroconversão do HBeAg para anti-HBe, com inflamação ativa e fibrose, além de níveis flutuantes de ALT. 3. Residual: baixas concentrações de HBV-DNA, ausência de HBeAg, presença de anti-HBe e níveis normais de ALT, sem lesão hepática. ● Parâmetro para desenvolvimento do curso clínico: idade de infecção. ○ Adolescência ou quando adultos jovens: não apresentam a forma de imunotolerância, a doença é transitória e vai diretamente para o clearance imune. ■ Possui curta duração e tem melhor resposta imunomoduladora. ○ Período perinatal ou na infância: quando submetidos à terapia antiviral não apresentam boa resposta, a doença pode progredir mesmo após a soroconversão do HBeAg Vict�ria K. L. Card�so para anti-HBe e com baixa carga viral. ● Histologia hepática - atividade histológica: ○ A0: sem atividade. ○ A1: discreta atividade. ○ A2: moderada atividade. ○ A3: grave atividade. ○ F0: sem fibrose. ○ F1: fibrose portal sem septos. ○ F2: fibrose portal com raros septos. ○ F4: cirrose. De acordo com a expressão clínica e histológica, a infecção crônica pode se caracterizar como: 1. Hepatite B crônica, HBeAG +: ● Doença inflamatória do �ígado, por infecção persistente do HBV. ● Critérios: ○ Positividade HBsAg > 6 meses. ○ HBV-DNA > 10ˆ5 cópias. ○ Elevação persistente ou intermitente de ALT e AST. ○ Biópsia hepática grau > 4. 2. Hepatite B em portador assintomático: ● Infecção persistente do �ígado geralmente desacompanhada de doença necroinflamatória. ● Critérios: ○ Positividade de HBsAg > 6 meses. ○ Ausência de HBeAg e positividade para anti-HBe. ○ Quantidade de HBV-DNA < 10ˆ5 cópias. ○ ALT e AST normais. ○ Biópsia hepática sem lesão significativa. Diagnóstico laboratorial Avaliação da função renal: ● Níveis séricos de transaminases: ALT-TGO e AST-TGP. Vict�ria K. L. Card�so○ Indicam dano do parênquima hepático. ○ Não são específicos para hepatites, mas podem indicar um quadro agudo sintomático de hepatite viral. ○ Elevação das transaminases de forma marcante → 5-100x acima do normal. ○ Podem ser encontradas a partir do final do período de incubação, alcançando valores máximos durante o período ictérico. ○ Os valores voltam ao normal em 2 meses nos casos não complicados. ● Bilirrubina: também pode se elevar até 25x acima do valor sérico. ○ Na hepatite anictérica: os valores podem não se alterar. Marcadores sorológicos: ● HBsAg: é o 1* marcador a aparecer, ocorrendo em 1-2 meses após a infecção e alcança seu nível máximo pouco antes da sintomatologia, regredindo após isso juntamente com a normalização do nível das transaminases. ○ Por mais de 6 meses indica hepatite crônica. ● Anti-HBc IgM: marcador de infecção recente, encontrado até 6 meses após a infecção. ○ Pode ser encontrado na fase crônica nos casos de replicação viral ativa. ● Anti-HBc IgG: marcador de longa duração, presente na infecção aguda e na crônica. ○ Representa contato prévio com o vírus. ● HBeAg: está relacionado com alta infecciosidade da doença, pois é liberado durante a replicação viral. ○ Pode ser concomitante ao HBsAg ou aparecer logo após, mas desaparece mais rápido. ● Anti-HBs: é o único que confere imunidade ao HBV, aparecendo após o desaparecimento do HBsAg. ○ Indica cura e imunidade. ● Anti-HBe: surge após o desaparecimento do HBeAg. ○ Nas hepatites crônicas e assintomáticas sugere redução ou não replicação viral. Vict�ria K. L. Card�so ○ Indica melhora bioquímica e histológica. ● Anti-HBc isolado: ocorre quando ainda não apareceram o anti-HBe e o anti-HBs. ● HBV-DNA: pode ser encontrado na fase de replicação intensa, aguda, crônica ou de convalescência. ○ Pode ser encontrado antes das alterações das enzimas hepáticas. ○ Replicação intensa: > 10ˆ5 cópias. ○ Qualquer outra fase: < 10ˆ3 cópias. ○ Além disso, usa-se esse marcador para o esclarecimento de situações em que a sorologia é negativa para o HBsAg. Obs: anti-HBc + com anti-HBs + e HBsAg - representa uma infecção passada, com consequente imunidade ao HBV. Tratamento Hepatite B aguda: não há tratamento específico. Hepatite B crônica: o objetivo é interromper a replicação viral e diminuir a inflamação hepática, impedindo a progressão para cirrose ou para hepatocarcinoma. ● Interferona: efeito antiviral, antifibtótico, antiproliferativo e imunomodulador. ○ A terapia com IFN faz a perda do HBeAG em 80-90% dos casos. ○ Administração: injeção subcutânea. ○ Efeitos adversos: são muitos, como infecções virais, fadiga, anorexia, depressão e leucopenia. ● Lamivudina: primeira medicação oral para hepatite B; possui ação inibitória sobre a transcriptase reversa e sobre a síntese do DNA do HBV. ○ Indicação: ■ Pacientes que não responderam à interferona. ■ Presença de fatores preditivos de baixa resposta. ■ Cirróticos descompensados. ■ Em contraindicação ou com fortes efeitos Vict�ria K. L. Card�so colaterais no uso de interferona. ○ A terapia de 1 ano resulta em melhora histológica, soroconversão, diminuição dos níveis de HBV-DNA e normalização dos níveis de ALT. ● Adefovir: ação antiviral, mas não confere maior grau de supressão viral do que a lamivudina. ○ Pode evitar a nefrotoxicidade nos casos de altas doses de adefovir. ○ Causa melhora histológica, redução dos níveis de HBV-DNA, dos níveis de ALT e aumento na taxa de soroconversão do HBeAg. ● Interferona alfa peguilada: em substituição a interferona convencional, pela administração ser mais conveniente, com uma dose semanal. ○ Menor incidência de efeitos adversos. ● Entecavir: potente agente; pode reduzir os níveis de HBV-DNA a indetectáveis em 67% dos casos HBeAg reagentes e 90% dos HBeAg não reagentes. ● Tenofovir: tem uma impressionante taca de supressão viral na dosagem de 300 mg por dia em 48 semanas de terapia. Prevenção a hepatite B O controle da hepatite B de forma segura é feito pela vacina, que previne a infecção crônica e suas consequências de progressão para cirrose e hepatocarcinoma, além de reduzir os reservatórios de vírus. ● Via intramuscular, em um esquema de 3 doses até os 40 anos, com resposta máxima após 6 semanas da última dose.
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