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Jo sé L au de lin o A zz ol in Ta ti an e A nt on ov z G es tã o de C us to s Nos países desenvolvidos, novas práticas administrativas, aliadas aos processos de análises de custos, vêm sendo adotadas nas últimas décadas, despertando a conscientização dos empreendedores para a importância da otimização dos índices de produtividade, diminuição e eliminação dos des- perdícios, redução dos estoques e contínuo aperfeiçoamento dos processos de produção. Hoje, o processo contábil deve dar respostas com mais rapidez, segu- rança e confiabilidade do que antigamente, aliadas a decisões em consonância com a “globalização da economia”. Com o objetivo principal de colaborar para o desenvolvimento das prá- ticas contábeis relacionadas aos assuntos ligados à indústria, este livro apre- senta tópicos teóricos e práticos da contabilidade contemporânea. José Laudelino Azzolin Tatiane Antonovz Gestão de Custos 45 07 1 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-5562-3 9 7 8 8 5 3 8 7 5 5 6 2 3 José Laudelino Azzolin Tatiane Antonovz Gestão de Custos IESDE BRASIL S/A Curitiba 2016 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A998g Azzolin, José Laudelino Gestão de custos / José Laudelino Azzolin , Tatiane Antonovz. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL S/A, 2016. 366 p. : il. ; 28 cm. ISBN 978-85-387-5562-3 1. Contabilidade - Estudo e ensino. I. Antonovz, Tatiane. II. Título. 15-28963 CDD: 657 CDU: 657 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2016 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa Shutterstock.com/abstract Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos | 7 2. Esquema básico da contabilidade de custos | 33 3. Materiais como componentes de custos | 45 4. Mão de obra como componente de custos | 73 5. Custos indiretos de fabricação | 107 6. Departamentalização | 123 7. Custeio por ordem ou encomenda | 141 8. Produção por processo ou em série | 159 9. Custos conjuntos | 181 10. Custo-padrão | 199 11. Custeio por atividade (CBA ou ABC) | 227 12.. Análise do custo, volume e lucro | 251 13. Formação de preço de venda | 277 14. Custo de oportunidade e preço-meta | 295 15. Custos para decisão | 309 Gabarito | 331 Referências | 355 Carta ao aluno O registro de informações sobre as transações comerciais existe desde a época em que as pessoas se utilizavam do sistema de trocas e, segundo historiadores, existem evidências de registros contábeis há milhares de anos, remontando às antigas civilizações. O indica- dor de sucesso de um empreendimento era facilmente medido: o empresário deveria ganhar mais dinheiro com as vendas do que com os valores que pagava aos fornecedores. Com o advento das indústrias, a partir do século XVIII, porém, surgiu a necessidade de uma apuração mais detalhada do balanço e da demonstração do resultado, ensejando, então o surgimento da Contabilidade de Custos e dos sistemas de custeio. Nos países desenvolvidos, novas práticas administrativas, alia- das aos processos de análises de custos, vêm sendo adotadas nas últimas décadas,despertando a conscientização dos empreendedores para a importância da otimização dos índices de produtividade, da diminuição e até eliminação dos desperdícios, redução dos estoques e contínuo aperfeiçoamento dos processos de produção. Hoje, o processo contábil, sob a ótica gerencial, deve dar res- postas com mais rapidez, maior segurança, mais confiabilidade do que antigamente, porque se vive em um mundo onde as decisões nas áreas empresariais, econômicas e administrativas, são tomadas em consonância com a “globalização da economia”. Este livro apresenta tópicos teóricos e práticos da contabili- dade contemporânea, com o objetivo principal de colaborar para o desenvolvimento das práticas contábeis relacionadas com assuntos ligados à indústria. Foram elaborados capítulos para a discussão de assuntos de extrema atualidade e importância para os profissionais e estudantes da área contábil, como os sistemas de custeio por ordem, em série, padrão e com base nas atividades. Inclui um capítulo sobre a relação do custo, do volume e do lucro, com a finalidade de proceder à análise do resultado econômico e da decomposição do custo e a importância de promover a análise do break-even, calcular a margem de segurança e a renda marginal. Um capítulo foi destinado a determinar o preço de venda que não pode mais ser objeto de decisões empíricas, mas, decorrente de estudos, de modo a conhecer os elementos que compõem o preço de venda, dando ênfase, especificamente, à carga tributária inserida no preço do produto. A Contabilidade de Custos, entendida como gerencial, ao tra- balhar diretamente com a tomada de decisão, cria a necessidade de ser concebida sob uma abordagem sistêmica para solucionar os pro- blemas ligados à decisão. Por isso, é indispensável que o responsável pela geração das informações utilize e domine certos conhecimentos originados em outras áreas, tais como a Economia, a Matemática e Estatística, pois, só assim, será possível gerar informações relevantes que envolvem custos. Dessa maneira, foi inserido um capítulo para tratar do conceito de custo de oportunidade e do custo-meta, tam- bém conhecido como custo-alvo. Termina com a apresentação de uma ferramenta de gestão de custos que é a execução e acompanhamento de um orçamento empresarial, com a finalidade de realizar um planejamento que contemple as expectativas geradas pela empresa. Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos Introdução Este capítulo apresenta a história, a evolução e algumas das principais particularidades da Contabilidade de Custos. Sublinha a ideia de que a Contabilidade de Custos prepara informações dife- rentes para atender a necessidades gerenciais diferentes. Concebida como um sistema de informações para a gestão, a Contabilidade de Custos é uma ferramenta que ajuda a encontrar respostas a um grande número de questões que se apresentam no dia a dia de qualquer empresa. Por isso, o capítulo evidencia a ter- minologia básica e o esquema básico da Contabilidade de Custos e descreve seu campo de atuação. 1 Gestão de Custos – 8 – 1.1 História e evolução da Contabilidade de Custos Para a compreensão da história da Contabilidade de Custos é necessário dividir a evolução dos sistemas de produção em duas etapas: 2 Sistema familiar, de corporações ou doméstico. 2 Sistema de produção fabril. Iniciada na Idade Média e prolongando-se até o final do século XVI, os sistemas de produção eram conhecidos como “familiar”, “de corpora- ções” ou “doméstico”. Nesse sistema, a maioria das necessidades das pessoas era atendida pelos membros da sua família e seus agregados, apropriado a centros urbanos restritos, a condições de concorrência limitada e a uma evolução tecnológica ainda incipiente, que não requeriam sofisticados artifícios contábeis para registro das operações realizadas ou apuração dos resultados obtidos. A maior parte do que um indivíduo necessitava era provido pela pró- pria família que, além de produzir alimentos nas grandes extensões territo- riais, construía habitações, cortava madeira para aquecimento, preparava os alimentos e fabricava os móveis e artefatos domésticos, criava animais para alimentação da carne e vestuário e desenvolvia,enfim, todas as atividades con- sideradas essenciais para a sobrevivência. Se algo faltasse, essa necessidade era suprida através de trocas com vizinhos ou de compras em primitivos e raros postos de vendas. Acompanhando o aumento da população, o sistema produtivo foi gradual- mente se modificando, tornando-se menos simples e limitado e mais complexo. Chegou a época dos artesãos, na qual o sistema de produção pre- dominante ficou conhecido como “Sistema das Corporações”, porque os artesãos se uniam em corporações para se defender de dificuldades econômicas oriundas de competição ou decorrentes de doenças e da velhice. Nesse sistema, um mestre artesão constituía-se em uma célula básica. Ele possuía uns poucos ajudantes ou aprendizes, e suas ativi- dades visavam ao atendimento das necessidades de um mercado local ainda muito limitado. – 9 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos O mestre artesão, proprietário e contratador dos recursos que utilizava, dono do próprio negócio, não vendia o seu trabalho; vendia um produto ou serviço final, sendo, de certa forma, independente. Com o crescimento dos mercados e das cidades e com a evolução da tec- nologia, novos modelos de sistema produtivo começaram a disputar a hege- monia do sistema corporativo. Surgia, então, um novo personagem: o intermediário. Ele negociava as encomendas e entregava aos artesãos as matérias-primas necessárias. A cres- cente limitação das responsabilidades e da independência do mestre artesão acarretou em uma nova forma dominante de organização econômica: o sis- tema doméstico. No sistema doméstico, que prevaleceu até o final do século XVI, as atri- buições e a independência do artesão tornaram-se cada vez menos relevantes. Ele orientava a produção em sua casa, com seus ajudantes e com ferramentas de sua propriedade, mas já não mantinha contatos com o cliente final de seus produtos e nem era dono das matérias-primas que utilizava. Acontecia, em consequência, a segunda etapa do desenvolvimento dos modelos produtivos ocidentais iniciada no século XVII, com a crescente predominância do chamado sistema de produção fabril. Nesse sistema, o intermediário, investindo-se no status de um verdadeiro empreendedor, percebeu que o sistema de produção doméstico não era bastante ágil e nem bastante produtivo para atender a demanda crescente dos populosos centros urbanos em franco desenvolvimento e passou a introduzir mudanças radicais na estrutura da organização produtiva. Como empreendedor, levantava os capitais necessários e inventou a fábrica, tirando o artesão e seus ajudantes de casa, transformando-os em assa- lariados e colocando-os para trabalhar em instalações e com equipamentos de sua propriedade. O mestre artesão, independente e bem conceituado na sociedade, transformou-se em feitor ou supervisor de fábrica. Mesmo assim, até a Revolução Industrial, verificada no século XVIII, só existia a Contabilidade Financeira que, desenvolvida na era mercantilista, “foi estruturada para servir às empresas comerciais que apenas compravam e revendiam mercadorias.” (MARTINS, 1998, p. 19). Gestão de Custos – 10 – Apurava-se o resultado de suas operações com mercadorias na seguinte disposição: Estoques iniciais (+) Compras (–) Estoques Finais (=) Custo das Mercadorias Vendidas Confrontando esse montante com as receitas obtidas por meio das vendas dos produtos, chegava-se ao lucro bruto: Vendas (–) Custo das Mercadorias Vendidas (=) Lucro Bruto Do Lucro Bruto, extraíam-se as despesas necessárias à venda dos produ- tos, ao financiamento das operações e à manutenção da empresa: Lucro Bruto (–) Despesas com Vendas (comerciais), Financeiras, Gerais e Administrativas (=) Lucro ou perda Como se observa, as formas de registros contábeis eram uma simples roupagem, pois os ganhos e perdas financeiros da humanidade sempre foram, de alguma forma, anotados, mesmo em civilizações anteriores à Ociden- tal. A Contabilidade em forma rudimentar já existia há milhares de anos como demonstram, por exemplo, os blocos de pedra gravados por antigas civilizações, que trazem registros identificados pelos especialistas como dados contábeis. Assim, a Contabilidade Financeira foi estruturada para atender aos obje- tivos a serem alcançados pela empresa mercantil, em que a administração e o controle assumiam feição tipicamente financeira e ficavam sensivelmente simplificados pela dupla função básica de comprar e vender. – 11 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos Como resultado dessa estrutura, a Contabilidade Financeira, também chamada de Contabilidade Geral, visava indicar a natureza e a situação do capital investido em uma empresa (balanço) e relatar as modificações resul- tantes das atividades operacionais (demonstração de lucros e perdas). Essa estrutura vigora ainda hoje, tanto que se subordina a rígidos padrões, mais ou menos universais, para que as informações geradas por essa contabilidade possam ser interpretadas por qualquer pessoa externa à organização. Esses padrões são fixados pelos postulados, princípios e convenções con- tábeis, expressos em leis, reconhecidos pelas entidades de classe, analistas de mercado e outros interessados. Os métodos de registrar os dados evoluíram ao longo do tempo, acom- panhando o crescimento das transações econômicas e recebendo um impulso notável através das “partidas dobradas” inventadas por um frade veneziano chamado Luca Pacioli, no século XV. Apesar desse avanço e dos aperfeiçoamentos, os procedimentos básicos da chamada Contabilidade Geral, embora satisfatória para a maioria dos fins externos à empresa, não atendia às necessidades administrativas da nova célula produtiva – a indústria – cuja gerência financeira revelava aspectos mais complexos a cada dia. As indústrias, à medida que se expandiam, diversificavam a sua produção e experimentavam uma competição crescente, reclamando informações que a Contabilidade Geral, apesar de sua ininterrupta evolução, não podia gerar. Com a Revolução Industrial, a administração dos negócios começou a reclamar uma Contabilidade de Custos. 1.2 A Contabilidade: financeira X gerencial Segundo Campiglia (1993, p. 397-398), “[...] considerando que a con- tabilidade financeira (ou fiscal, ou societária, ou geral) é rígida, não permi- Gestão de Custos – 12 – tindo fugir dos princípios e convenções contábeis”, e que para administrar um negócio ou empresa são necessárias informações consoantes com as neces- sidades de quem vai tomar decisões gerenciais diferentes, de negócio para negócio, de empresa para empresa, de uma época para outra, então é neces- sário criar uma sistemática de tratamento das informações e um conjunto de relatórios que facilitam a gestão dos negócios. A Contabilidade Financeira, por refletir, em grande parte, o feitio assumido na época mercantilista, não se mostrava totalmente eficaz, prin- cipalmente porque o Fisco já começava a espreitar por sobre os ombros dos contadores, esquadrinhando os seus lançamentos e regulamentando a forma de calcular os valores sujeitos à tributação, o que se verifica até hoje. Surge, então, a Contabilidade Gerencial. Nos relatórios gerenciais, as informações estão dispostas de forma dife- rente das demonstrações contábeis financeiras e, além disso, não são seguidos rigidamente os princípios e as convenções contábeis (exceto o princípio da competência, ou seja, o do confronto das despesas e receitas com os períodos contábeis), de acordo com os exemplos a seguir. 2 1.º exemplo: da disposição diferente das informações Na Contabilidade Financeira, da receita com vendas do mês são deduzidos os Custos da Mercadoria Vendida (ou dos serviços presta- dos), resultando dessa subtração o Lucro Bruto. No tratamento gerencial, por sua vez, da receita com vendas podem ser deduzidos os Custos Variáveis de Produção. O resultado dessa sub- tração é a Margem de Contribuição. Essa informação permite saber quanto se apura(de margem) nas vendas, para absorver os custos e despesas fixas e resultando, afinal, o lucro. Assim, diversamente da Contabilidade Gerencial, na Contabi- lidade Financeira, os Custos da Mercadoria Vendida são inte- grais, ou seja, computam tanto os Custos Variáveis como os gastos indiretos de fabricação fixos. – 13 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos 2 2.º exemplo: a não observância do Princípio do Custo de Aqui- sição ou Formação como Base de Valor Na Contabilidade Financeira, o custo da mercadoria vendida é o custo da formação computando, normalmente, o custo médio pon- derado do estoque de onde foi baixada aquela mercadoria, aten- dendo o Princípio Contábil do Custo de Aquisição ou de Formação. No tratamento gerencial, o custo variável que entra no cálculo da margem pode ser o custo de reposição, que certamente é diferente do custo médio (variável) da mercadoria estocada, de onde são baixados os itens vendidos no mês. 2 3.º exemplo: a não observância do Princípio da Entidade e da Objetividade Na Contabilidade Financeira, as receitas e custos de uma empresa são separados totalmente das receitas e custos de outra empresa do mesmo grupo empresarial e, mais ainda, uma empresa não transfere para outra parte de suas despesas, a menos que haja documento oficial (nota fiscal de serviços, por exemplo) de uma cobrando da outra empresa. Os exemplos descritos mostram que a Contabilidade é única para qual- quer empresa. Toda a parte conceitual e as técnicas aplicadas não se alte- ram. As empresas, no entanto, têm diversos objetivos: a mercancia, a industrialização ou a prestação de serviços, exigindo, em consequência, que a Contabilidade se adapte à atividade desenvolvida pela empresa. 1.3 Contabilidade de Custos Uma indústria é estruturada em unidades, departamentos ou centros de custo, fabricando, simultaneamente, produtos diferenciados em um ambiente cada vez mais competitivo. Por isso, a atividade industrial exigia o desenvolvimento de uma Contabilidade voltada para dentro, para as neces- sidades administrativas internas, e não uma Contabilidade voltada para fora, somente para atender as necessidades externas (governo, acionistas, banquei- ros, fornecedores etc.). Dessa maneira, diversas fórmulas foram se estabelecendo para determi- nar esses valores e, com base dessas fórmulas, surgiram métodos cada vez mais Gestão de Custos – 14 – criteriosos para a avaliação de inventários. A maioria dos historiadores consi- dera que a adoção de critérios de avaliação de inventário foi o marco inicial da Contabilidade de Custos propriamente dita. Por isso é comum ouvir-se dizer que a origem do estudo dos custos empresariais está associada à avaliação dos estoques, procedimento que tem finalidade externa, porém, uma utilização expressiva de valia gerencial. Antes do advento da Contabilidade de Custos, certamente existiam alguns tipos de avaliação de estoques; contudo, a empresa fabril da segunda etapa da nossa história, muito mais complexa, de propriedade diluída por um número crescente de sócios e submetida aos rigores crescentes do Fisco, não podia se contentar com procedimentos primitivos e parciais de atribuição de valores aos estoques. Nas empresas industriais não se pode assumir que existem apenas esto- ques daquilo que é comprado pronto (matérias-primas e material indireto) e, em decorrência, é necessário admitir que, para a adequada apuração dos resultados de cada período, existem outros estoques: o estoque de produtos em elaboração e o estoque de produtos acabados. A avaliação desses estoques exige a apuração e a consolidação dos gastos envolvidos na produção dos bens estocados. É necessário apurar os montan- tes de materiais, da mão de obra e de gastos gerais de fabricação aplicados na produção de cada um desses bens. Para a definição dos valores descritos, há necessidade de um sistema de regis- tro e acompanhamento, da apropriação e rateio de gastos, como também com- plexos lançamentos contábeis e controles paralelos denominados de extraoficiais. Assim, a Contabilidade de Custos, como um complexo e coerente conjunto de técnicas e de procedimentos, começou a tomar forma. Seguindo o exemplo da Contabilidade Geral, a Contabilidade de Cus- tos não nasceu completa, porém, entrou em processo evolutivo de constante aperfeiçoamento que se verifica até os dias de hoje, estando, pois em cons- tante formação. – 15 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos Atualmente, a Contabilidade de Custos, em todas as atividades empre- sariais, reflete sua utilidade como instrumento gerencial do planejamento e do controle e, principalmente, na tomada de decisões. A Contabilidade de Custos abrange sofisticados avanços como os de méto- dos quantitativos e modelos de decisão, produtividade e padrões de desempenho, conceitos de ciências comportamentais, contabilidade de recursos humanos, teo- ria da curva do aprendizado e conceitos avançados de marketing. As empresas comerciais ou de serviços têm, modernamente, se empenhado na utilização dos mecanismos da Contabilidade de Custos, pois ela fornece à administração grande número de dados para a tomada de decisões diárias, bem como informações essenciais para as decisões de longo prazo. A natureza do moderno mundo empresarial é tal que todas as empresas, quer sejam grandes ou pequenas, industriais ou não, públicas ou privadas, quer objetivem lucro ou não, exigem uma ampla variedade de dados de custos para a tomada de decisões operacionais diárias. A competição global não figurava em nossos dicionários antes dos anos 1980. O novo cenário competitivo aumentou o valor das informações sobre o desempenho da empresa. A competição, os progressos tecnológicos, a divulgação mais fácil das informações, as novas formas de fazer negócios em uma empresa de classe mundial mudaram radicalmente as regras de mercado. Existe um novo e competitivo cenário que afeta significativamente os sistemas convencionais de custo. O processo de substituição tecnológica vem se acelerando rapidamente. Produtos que demoravam anos para serem desenvolvidos e permaneciam também por longos anos no mercado, hoje, com o auxílio do processo de automação, nascem e são substituídos no curto prazo, com custo menor e qualidade melhor. O professor Lopes de Sá (IOB, 1998) afirma que a empresa não pode mais conservar somente seu destaque de teor jurídico e econômico, ela requer hoje uma visão maior, uma visão social e humana, precisando ser vista como uma célula social. A competição internacional, no período de 1965 a 1973, de acordo com Harvey (1994), foi intensificada à medida que a Europa Ocidental e, princi- Gestão de Custos – 16 – palmente, o Japão, seguidos de uma gama de países recém-industrializados, desafiaram a hegemonia dos Estados Unidos. Nessa época predominavam as ideias de Ford e de Keynes. O Fordismo, que dá ênfase à necessidade de se conquistar mercados através da redução de custos, perdurou mais de meio século, até o fim da década de 1960, em um longo período de prosperidade. No Fordismo é possível observar que as empresas estão organizadas den- tro de linhas funcionais e a premissa é a de que a experiência e a homoge- neidade de tarefas resultam na eficiência, obtendo-se, em decorrência, uma economia de escala. Taylor1, ao estudar essa eficiência, segundo Montana e Charnov (1998, p. 232) “[...] acreditava que só haveria prosperidade econômica com a otimi- zação da produtividade do trabalhador, que, por sua vez, só seria alcançada se os trabalhadores se tornassem mais eficientes”. Por outro lado, Keynes2, em seus estudos, deu ênfase aos grandes agregados e a assuntos macroeconômicos. Ele admitia que o “sistema” poderia ser controlado pelo Governo e que as perturbações da atividade poderiam ser atenuadas e corrigidas pela interferência do Estado. A especialização, porém, exigia cada vez mais uma forte tendência ascen- dente dos salários que acabavapor superar a evolução da produtividade e, de acordo com Tavares (1994, p. 23), “[...] reduzia a taxa de lucro e as possibili- dades de acumulação a médio prazo”. 1.4 Terminologia em custos De acordo com Martins (1998, p. 24), “[...] produzir é transformar os meios econômicos em produtos ou serviços possíveis de serem consumidos ou utilizados”. O custo dessa transformação ou de produção é o total de custos incorridos em determinado período, esteja ou não inteiramente acabada. Da obra de Mar- tins (1998) é possível extrair, sumariamente, diversas definições de custos. 1 Frederick W. Taylor (1856-1915) foi, e é, considerado o pai da administração científica. 2 john Maynard Keynes (1883-1946), economista inglês, é autor da obra Teoria Geral do Em- prego do Juro e da Moeda, de 1936. – 17 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos 2 Custo da produção acabada: é o total dos custos contidos na produção acabada no período, abrangendo também os custos de produtos que estavam em elaboração no início do período e foram concluídos dentro do período. 2 Custos primários: são os custos elementares ou diretos, ou seja, o valor da mão de obra direta e do material direto empregado na fabricação. 2 Custo de transformação: é o total dos custos de produção exceto os de matéria-prima, material secundário e de embalagem. São cus- tos necessários à transformação dos produtos (mão de obra indi- reta, material de consumo, energia elétrica, combustível etc.). Além dessas definições, os custos podem ser classificados da seguinte maneira: Quanto à sua incidência no produto: 2 Diretos – são os custos que podem ser facilmente identificados dire- tamente com o produto, sem necessidade de se efetuar um rateio. 2 Indiretos – são os custos que não podem ser apropriados direta- mente ao produto e, por isso, necessitam de um critério de rateio, que é atribuição de custos a departamentos ou a produtos calculada sobre uma base determinada para sua alocação. Quanto à sua relação com a quantidade produzida: 2 Custos variáveis – são os que variam diretamente com as quanti- dades produzidas: a matéria-prima. 2 Custos fixos – são aqueles que não se alteram com o volume de pro- dução. Em consequência, quanto maior a produção, menor será a parcela do custo fixo a ser atribuído a cada unidade: aluguel da fábrica. 2 Custos semifixos ou semivariáveis – são os que variam de acordo com a produção não guardando, porém, relação direta: a energia elétrica que possui uma parcela relativa ao potencial de consumo instalado e outra vinculada ao consumo efetivo. Além da produção, a Administração de Custos se envolve também com a distribuição e administração. Gestão de Custos – 18 – Os gastos com a distribuição não são atribuídos aos produtos justamente porque se formam no setor comercial da empresa e incidem sobre o pro- duto acabado e vendido, como comissões. Em decorrência, são atribuídos ao período, pois são efetuados, após a fabricação, com a venda e expedição do produto. Esses gastos são absorvidos em cada período, à medida que vão acontecendo e são designados de despesas. Também são atribuídos ao período os gastos gerados a partir das ações que asseguram o funcionamento contínuo da empresa: despesas com a admi- nistração, que devem ser mantidas sem dependência direta da relação básica custo/volume/lucro. Gastos do período possuem, em decorrência, caráter financeiro e, como tal, têm mais afinidade direta com o resultado econômico geral da empresa. Conceituando melhor: os gastos da empresa empregados para produzir um produto são chamados de custos (matéria-prima, mão de obra direta, Cus- tos Indiretos de Fabricação); gastos que ocorrem após a fabricação, por não se relacionarem com os setores produtivos, são chamados de despesas. 1.5 Terminologia comum para as Contabilidades Financeira e de Custos Com a finalidade de padronizar a linguagem entre os estudiosos e usu- ários da Contabilidade, há necessidade de expor uma terminologia básica. 2 Contabilidade, para Bierman Jr. (apud LEONE, 1995, p. 3), “[...] é a linguagem do negócio e assim o seu principal meio de comunicação.” 2 Gasto decorre da compra de um produto ou serviço qualquer, gerando, em consequência, um sacrifício financeiro para a empresa (desembolso), sacrifício esse representado pela entrega ou promessa de entrega de ativos, normalmente dinheiro (MARTINS, 1998, p. 25). 2 Desembolso é o pagamento resultante da aquisição de bens ou ser- viços e pode ocorrer antes, durante ou depois da entrega dos bens ou serviços comprados, portanto, pode haver ou não defasagem em relação ao momento do gasto (MARTINS, 1998, p. 25). 2 Investimento é o gasto ativado (classificado no ativo) em função de sua vida útil ou de benefícios atribuíveis a período(s) futuro(s), – 19 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos também denominado de bens de uso. Todos os desembolsos havidos pela aquisição de bens ou serviços (gastos) que são classificados nos estoques, portanto no Ativo, para baixa ou amortização quando de sua venda, seu consumo, desaparecimento ou de sua desvalorização são chamados de investimentos. (MARTINS, 1998, p. 25). 2 Custo é um gasto relativo à aquisição de um bem ou serviço uti- lizado (consumido) na produção de outros bens ou serviços, por exemplo, a depreciação de uma máquina que é utilizada no processo de fabricação de bens ou serviços. É o reconhecimento do custo de desgaste dessa máquina que está classificada como investimento. 2 Despesa é um gasto ocorrido em um determinado período e que é lan- çado pela Contabilidade nesse mesmo período, para fins de apuração do resultado da empresa, obtenção de receitas. Assim, a despesa é lançada diretamente na demonstração de resultados de um período e significa, no momento de sua ocorrência, uma redução da riqueza da empresa. 2 Perda decorre de um bem ou serviço que foi consumido de forma anormal e involuntária. São exemplos de perdas: desfalque no caixa, perdas por inundações, greves ou incêndios, perda de veículos em desastre etc. A perda difere da despesa porque enquanto na despesa ocorre o consumo para obtenção de receita, a perda não está relacio- nada à geração de receita. 2 Ganho é um lucro não relacionado à atividade operacional da empresa, como, a venda de um bem por valor superior ao saldo registrado na Contabilidade (chamado ganho de capital), ganhos com a variação cambial etc. 2 Prejuízo é o resultado negativo de uma transação ou de um con- junto de transações de um período, o resultado negativo da soma das receitas menos as despesas do período em questão, ou seja, as despesas suplantaram as receitas desse período. 1.6 Esquema básico da Contabilidade de Custos O objetivo básico da Contabilidade de Custos é classificar, agrupar, apropriar e controlar os custos para determinar os valores do estoque e do Gestão de Custos – 20 – custo do produto vendido. Por isso, é importante identificar as diversas etapas para apuração dos valores de custos unitários de produção, que são: 2 separação dos custos e despesas; 2 apropriação dos custos diretos; 2 apropriação dos custos indiretos; 2 cálculo do Custo Unitário e determinação do CPV e Estoque final. Na etapa de separação de Custos e Despesas é imprescindível o perfeito entendimento da diferenciação do que é custo e do que são despesas, pois as despesas são contabilizadas diretamente no resultado, passando portanto, a serem apresentadas no Demonstrativo do Resultado do Exercício. Na apropriação dos custos é necessário que os Custos Diretos (matéria- -prima e mão de obra direta) sejam atribuídos a cada um dos produtos elabo- rados pela empresa. Outros custos considerados diretos, desde que possível, também devem ter apropriação direta aos produtos. Relativamente à apropriação dos custos indiretos, que são aqueles sobre os quais se aplica um critério de rateio, deve-se atentar ao Princípio de Causa e Efeito. O Princípioda Causa e Efeito ordena que o agente causador da consumação ocorrida, correspondente a determinada variação patrimonial qualitativa, seja debitado pelo respectivo valor. Em outras palavras, os custos devem ser atribuídos a quem competem, num linguajar mais descuidado: quem causou o custo deve arcar com ele. Finalmente, podem ser apontados os custos totais de produção, que, dividindo-se pelas quantidades produzidas, resultará nos custos unitários. Após o cálculo dos custos unitários, multiplicando-se pela quantidade ven- dida obtém-se o CPV (Custo dos Produtos Vendidos). Esses mesmos valores unitários multiplicados pelas quantidades remanescentes resultará no valor do Estoque Final. Portanto, o custo de um produto é determinado pela soma dos elemen- tos de custos. Para transformar as matérias-primas em produtos são neces- sários outros esforços, como o trabalho de pessoas, que despendem Mão de Obra Direta (MOD), a utilização de instalações físicas, as máquinas, a ener- gia elétrica, os materiais auxiliares, os lubrificantes, a água e gastos com a manutenção e reparos de máquinas etc. – 21 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos O quadro sinótico a seguir demonstra a equação do custo do produto: Custo do produto Custo das matérias-primas aplicadas Custo de transformação (MOD e outros) Como os custos de transformação são compostos de dois tipos de custos, pode-se também afirmar que são três os fatores de custos que compõem o produto final: Custo do produto Custo das matérias-primas Mão de obra Outros custos de fabricação Para a maioria dos autores, os custos de matéria-prima e mão de obra direta são chamados de Custos Primários. Os outros custos são chamados de gastos gerais de fabricação ou gastos gerais de produção. São também chamados de custos indiretos de fabricação e podem ser classificados em três categorias: 2 Materiais indiretos – lubrificantes, materiais de limpeza, materiais de manutenção e de reparos etc. 2 Mão de obra indireta – salários de supervisores de máquinas e de pessoas, almoxarifes, vigias, mecânicos de manutenção etc. 2 Outros custos de produção – aluguel, energia elétrica, água, depreciação de equipamentos e máquinas, seguros, impostos etc. 1.7 Campo de aplicação Até recentemente, a Contabilidade de Custos ou Contabilidade Indus- trial era um ramo da Contabilidade aplicada às empresas industriais. Dessa maneira, o campo de aplicação da Contabilidade de Custos abrangia o patri- mônio das empresas industriais. Empresa industrial é aquela cuja atividade característica se concentra na modificação de matéria-prima em produtos, seja por transformação, benefi- ciamento, montagem, restauração ou recondicionamento. Gestão de Custos – 22 – Para transformar a matéria-prima, as indústrias de transformação se uti- lizam de processos mecânico, térmico ou químico. Exemplos: indústrias de móveis que fabricam mesas, dormitórios, cadeiras etc.; indústrias siderúrgicas que transformam minérios de ferro em lingotes; indústrias petrolíferas que produzem gasolina, óleo, gás, parafina etc. A atividade industrial de beneficiamento é a operação que visa modifi- car, aperfeiçoar e até mesmo dar uma melhor aparência ao produto sem que haja transformação. Exemplo: empresas beneficiadoras de arroz que apenas retiram as cascas e impurezas. O produto final das indústrias de montagem de peças resulta da mon- tagem de peças produzidas normalmente pelas indústrias de transformação. Exemplos: indústrias automobilísticas, de rádios, de aparelhos de televisão, de relógios etc. Indústrias de restauração ou recondicionamento são aquelas cuja ativi- dade se concentra na recuperação de produtos usados ou mesmo deteriora- dos. Exemplo: recauchutadoras de pneus etc. Atualmente, porém, a Contabilidade de Custos é bem mais abrangente, pois está voltada para o cálculo e a interpretação dos custos dos bens fabrica- dos ou comercializados ou dos serviços prestados pelas empresas. A Contabilidade de Custos, cuja função inicial era fornecer elementos para avaliação dos estoques e apuração do resultado, passou, nas últimas déca- das, a prestar duas funções muito importantes na Contabilidade Gerencial: a utilização dos dados de custos para auxílio ao controle e para tomada de decisões e, na esfera administrativa, o fornecimento de informações para o estabelecimento de padrões, orçamentos ou previsões e, a seguir, acompanhar o efetivamente acontecido com os valores previstos. Conclusão Estudar os custos de uma empresa é tarefa indispensável a uma boa administração. Hoje, não se concebe a existência de empresas que desconhe- – 23 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos çam os custos dos seus produtos, a relação destes com outros setores empre- sariais, e a possibilidade de se efetuar redução dos custos sem alteração do produto ou da sua qualidade. Não se pode mais afirmar que a Contabilidade de Custos seja um ramo da Contabilidade voltado às empresas industriais, tanto que era denominada de Contabilidade Industrial. Os sistemas de custos mais evoluídos são utili- zados tanto nas indústrias como nas empresas mercantis, agrícolas, pecuárias, bancárias, de prestação de serviços etc. Ampliando seus conhecimentos A história da Contabilidade (GESBANHA, 2007) Período Medieval Na Itália, em 1202, foi publicado o livro Liber Abaci, de Leonardo Pisano. Estudavam-se, na época, técnicas matemáticas, pesos e medidas, câmbio etc., tornando o homem mais evoluído em conhecimentos comerciais e financeiros. Se os súmeros-babilônios plantaram a semente da Contabili- dade e os egípcios a regaram, foram os italianos que fizeram o cultivo e a colheita. Foi um período importante na história do mundo, especial- mente na história da Contabilidade, denominado “Era Téc- nica” , devido às grandes invenções, como moinho de vento, aperfeiçoamento da bússola etc., que abriram novos horizon- tes aos navegadores, como Marco Pólo e outros. A indústria artesanal proliferou com o surgimento de novas Gestão de Custos – 24 – técnicas no sistema de mineração e metalurgia. O comér- cio exterior incrementou-se por intermédio dos venezianos, surgindo, como consequência das necessidades da época, o livro-caixa, que recebia registros de recebimentos e paga- mentos em dinheiro. Já se utilizavam, de forma rudimentar, o débito e o crédito, oriundos das relações entre direitos e obrigações, e referindo-se, inicialmente, a pessoas. O aperfeiçoamento e o crescimento da Contabilidade foram a consequência natural das necessidades geradas pelo advento do capitalismo, nos séculos XII e XIII. O processo de produção na sociedade capitalista gerou a acumulação de capital, alterando-se as relações de trabalho. O trabalho escravo cedeu lugar ao trabalho assalariado, tornando os regis- tros mais complexos. No século X, apareceram as primeiras corporações na Itália, transformando e fortalecendo a socie- dade burguesa. No final do século XIII apareceu pela primeira vez a conta “Capital”, representando o valor dos recursos injetados nas companhias pela família proprietária. O método das partidas dobradas teve sua origem na Itália, embora não se possa precisar em que região. O seu apare- cimento implicou a adoção de outros livros que tornassem mais analítica a Contabilidade, surgindo, então, o Livro da Contabilidade de Custos. No início do século XIV, já se encontravam registros explicita- dos de custos comerciais e industriais, nas suas diversas fases: custo de aquisição; custo de transporte e dos tributos; juros sobre o capital, referente ao período transcorrido entre a aqui- sição, o transporte e o beneficiamento; mão de obra direta agregada; armazenamento; tingimento etc., o que represen- tava uma apropriação bastante analítica para a época. A escrita já se fazia no moldes de hoje, considerando, em separado, gastos com matérias-primas, mão de obra direta a ser agregada – 25 – Introdução à contabilidadede custos e aos conceitos de custos e custos indiretos de fabricação. Os custos eram contabiliza- dos por fases separadamente, até que fossem transferidos ao exercício industrial. Período Moderno Frei Luca Pacioli. Escreveu Tra- tactus de Computis et Scripturis (Contabilidade por Partidas Dobradas), publicado em 1494, enfatizando que a teoria contábil do débito e do crédito corresponde à teoria dos núme- ros positivos e negativos. O período moderno foi a fase da pré-ciência. Devem ser cita- dos três eventos importantes que ocorreram neste período: 2 em 1493, os turcos tomam Constantinopla, o que fez com que grandes sábios bizantinos emigrassem, princi- palmente para a Itália; 2 em 1492, é descoberta a América e, em 1500, o Brasil, o que representava um enorme potencial de riquezas para alguns países europeus; 2 em 1517, ocorreu a reforma religiosa; os protestantes, perseguidos na Europa, emigram para as Américas, onde se radicaram e iniciaram nova vida. A Contabilidade tornou-se uma necessidade para se esta- belecer o controle das inúmeras riquezas que o Novo Mundo representava. O aparecimento da obra de Frei Luca Pacioli, contemporâneo de Leonardo da Vinci, que viveu na Toscana, no século XV, marca o início da fase moderna da Contabilidade. Pacioli foi matemático, teólogo, contabilista entre outras pro- fissões. Deixou muitas obras, destacando-se a Summa de Ari- Gestão de Custos – 26 – thmética, Geometria, Proportioni et Proporcionalitá, impressa em Veneza, na qual está inserido o seu tratado sobre Conta- bilidade e Escrituração. Pacioli, apesar de ser considerado o pai da Contabilidade, não foi o criador das partidas dobradas. O método já era utilizado na Itália, principalmente na Toscana, desde o século XIV. O tratado destacava, inicialmente, o necessário ao bom comer- ciante. A seguir conceituava inventário e como fazê-lo. Discor- ria sobre livros mercantis: memorial, diário e razão, e sobre a autenticação deles; sobre registros de operações: aquisições, permutas, sociedades etc.; sobre contas em geral: como abrir e como encerrar; contas de armazenamento; lucros e perdas, que na época, eram “Pro” e “Dano “; sobre correções de erros; sobre arquivamento de contas e documentos etc. Sobre o método das partidas dobradas, Frei Luca Pacioli expôs a terminologia adotada: 2 “Per “, mediante o qual se reconhece o devedor; 2 “A “, pelo qual se reconhece o credor. Acrescentou que, primeiro deve vir o devedor e, depois, o credor, prática que se usa até hoje. A obra de Pacioli não só sistematizou a Contabilidade, como também abriu precedente para que novas obras pudessem ser escritas sobre o assunto. Período Científico O período científico apresenta, nos seus primórdios, dois grandes autores consagrados: Francesco Villa, escritor mila- nês, contabilista público, que, com sua obra La Contabilità Applicatta alle administrazioni Private e Plubbliche, inicia a nova fase; e Fábio Bésta, escritor veneziano. Os estudos envolvendo a Contabilidade fizeram surgir três – 27 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos escolas do pensamento contábil: a primeira, chefiada por Francisco Villa, foi a Escola Lombarda; a segunda, a Escola Toscana, chefiada por Giusepe Cerboni; e a terceira, a Escola Veneziana, por Fábio Bésta. Embora o século XVII tivesse sido o berço da era científica e Pascal já tivesse inventado a calculadora, a ciência da Conta- bilidade ainda se confundia com a ciência da Administração, e o patrimônio se definia como um direito, segundo postu- lados jurídicos. Nessa época, na Itália, a Contabilidade já chegara à universi- dade. A Contabilidade começou a ser lecionada com a aula de comércio da corte, em 1809. A obra de Francesco Villa foi escrita para participar de um concurso sobre Contabilidade, promovido pelo governo da Áustria, que reconquistara a Lombardia, terra natal do autor. Além do prêmio, Villa teve o cargo de professor universitário. Francisco Villa extrapolou os conceitos tradicionais de Con- tabilidade, segundo os quais escrituração e a guarda de livros poderiam ser feitas por qualquer pessoa inteligente. Para ele, a Contabilidade implicava conhecer a natureza, os detalhes, as normas, as leis e as práticas que regem a matéria administrada, ou seja, o patrimônio. Era o pensamento patrimonialista. Foi o início da fase científica da Contabilidade. Fábio Bésta, seguidor de Francesco Villa, superou o mestre em seus ensinamentos. Demonstrou o elemento fundamental da conta, o valor, e chegou muito perto de definir patrimônio como objeto da Contabilidade. Foi Vicenzo Mazi, seguidor de Fábio Bésta, quem pela primeira vez, em 1923, definiu patrimônio como objeto da Contabilidade. O enquadramento da Contabilidade como elemento fundamental da equação aziendalista, teve, sobre- tudo, o mérito incontestável de chamar atenção para o fato de Gestão de Custos – 28 – que a Contabilidade é muito mais do que mero registro; é um instrumento básico de gestão. Os defeitos da escola europeia tiveram como base o peso excessivo da teoria, sem demonstrações práticas, sem pes- quisas fundamentais: a exploração teórica das contas e o uso exagerado das partidas dobradas, inviabilizando, em alguns casos, a flexibilidade necessária, principalmente, na Conta- bilidade Gerencial, preocupando-se demais em demonstrar que a Contabilidade era uma ciência em vez de dar vazão a pesquisa séria de campo e de grupo. A partir de 1920, aproximadamente, inicia-se a fase de predo- minância norte-americana dentro da Contabilidade. Atividades de aplicação 1. No quadro a seguir verifique os diversos eventos anunciados por uma indústria do setor moveleiro (móveis de madeireira) e: a. na coluna A, classifique-os em: Custos (C) Despesas (D) Investimentos (I) b. na coluna B, responda com “sim” ou “não” se houve desembolso. c. na coluna C, somente para os gastos que corresponderem a cus- tos, responda se é: 2 Matéria-prima – MP 2 Material secundário – MS 2 Material de embalagem – ME 2 Mão de obra direta – MO 2 Custos Indiretos de Fabricação – CIF – 29 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos Gastos A B C 1 Compra, a prazo, de 1 000m3 de madeira. C Sim MP 2 Compra, à vista, de 50 folhas de lixa apli-cadas diretamente na produção. 3 Transferência de 20m 3 de madeira do almo- xarifado para a produção. 4 Pagamento de conta de luz do setor de vendas. 5 Pagamento de conta de água refe-rente ao consumo da fábrica. 6 Pagamento de conta de água referente à Administração. 7 Pagamento de salários e encargos do pessoal da fábrica. 8 Apropriação dos encargos sociais referen-tes ao pessoal do setor de vendas. 9 Apropriação da folha de pagamentos refe-rente ao pessoal da produção. 10 Compra, a prazo, de lubrificantes para uso imediato nas máquinas da fábrica. 11 Compra, à vista, de 300kg de sacos plásti-cos para embalar parafusos e porcas. 12 Transferência para a produção de 10kg de sacos plásticos para embalagem. 13 Depreciação da máquina de escre-ver do setor administrativo. 14 Depreciação das máquinas da fábrica. 15 Pagamento de fretes e carretos de produtos vendidos. 16 Pagamento de juros de mora sobre duplicatas. Gestão de Custos – 30 – Gastos A B C 17 Pagamento no Banco, de taxas refe-rentes a talões de cheques. 18 Compra de uma tela a óleo da pintora Sonia Geni, à vista. 19 Apropriação para a fábrica de parte dos honorários da diretoria. 20 Pagamento de refeições do pessoal da área de vendas. 2. Leia o texto a seguir: Os elementos básicos do custo industrial são: os mate- riais, a mão de obra e os Custos Indiretos de Fabricação. Os materiais utilizados na fabricação podem ser classificados em: Matérias-primas – são os materiais principais e essenciais que entram em maior quantidade na fabricação do produto. Materiais secundários – são os materiais que entram em menor quantidade na fabricação do produto. Esses materiais sãoapli- cados juntamente com a matéria-prima, complementando-a ou até mesmo dando o acabamento necessário ao produto. Materiais de embalagens – são os materiais destinados a acondicio- nar ou embalar os produtos, antes que eles saiam da área de produção. Com base no texto, responda: a. Quantos e quais são os elementos básicos do custo industrial? b. Cite dois exemplos de matérias-primas e o tipo de indústrias e onde são aplicadas. c. Cite três exemplos de materiais secundários e o tipo de empresas que as aplicam. – 31 – Introdução à contabilidade de custos e aos conceitos de custos 3. Na relação de custos a seguir estão incluídos todos os gastos gerais de fabricação do mês de janeiro 2002 ocorridos na empresa Indústria Madeireira Ltda.: seguro contra incêndio incorrido R$2.100,00; im- posto predial R$2.400,00; iluminação do prédio R$2.100,00; depre- ciação do edifício R$2.400,00; mão de obra direta R$2.400,00; mão de obra indireta R$2.100,00; matéria-prima R$3.850,00. Com base nessas informações, qual é o valor dos gastos gerais de fa- bricação e dos custos diretos na conta Produtos em Processo? 4. A Cia. Delta possui os seguintes saldos em determinado período contábil: 2 Matéria-prima: R$1.000,00; 2 Mão de obra direta: R$500,00; 2 Salários referentes à administração: R$400,00; 2 Manutenção da fábrica: R$80,00; 2 Energia elétrica consumida pelas máquinas da fábrica, medida globalmente: R$220,00; 2 Aluguel do prédio administrativo: R$50,00; 2 Depreciação da fábrica: R$100,00; 2 Materiais indiretos consumidos no processo produtivo: R$350,00; 2 Seguros da fábrica: R$120,00; 2 Mão de obra relativa aos supervisores das máquinas: R$700,00. Determine os valores dos custos diretos, dos custos indiretos de fabri- cação e do custo de produção. 5. Dos itens listados a seguir, quais devem ser contabilizados como despesas? Gestão de Custos – 32 – a. Matéria-prima, mão de obra, salários da administração. b. Honorários da diretoria, material direto, telefone. c. Seguros da área de produção e material direto. d. Matéria-prima, seguros da fábrica e fretes. e. Honorários da diretoria e fretes nas vendas. Esquema básico da contabilidade de custos Introdução Desde o início do século XVIII houve um fenômeno que aca- bou por modificar a economia do mundo inteiro. Neste momento, especificamente na Inglaterra, começavam a ocorrer mudanças que iriam substituir todo o processo de esforço humano pelo trabalho das máquinas, substituindo o trabalho manual pelo industrial. Dessa forma, houve a mudança da economia, antes baseada no modo rural e que começou a se transformar rapidamente em uma economia urbana e que tinha a ampla utilização de máquinas. Já no século XIX, o processo iniciado no século anterior foi finalmente denominado de Revolução Industrial, esse processo teve como marco o termo Marxismo criado por Engels e Marx. A par- tir desse momento, a mudança do trabalho artesanal e simplificado para a forma industrial alavancou o início dos cálculos dos custos da produção. 2 Gestão de Custos – 34 – 2.1 Contabilidade Financeira e de Custos A Contabilidade Financeira registra, de forma geral, todos os fatos ocor- ridos em uma determinada entidade. Além disso, uma das principais preocu- pações dessa contabilidade é com a materialização da captação de recursos e sua transformação em fatores produtivos. Além disso, a contabilidade Finan- ceira ou Geral é aquela que deverá obrigatoriamente seguir os preceitos dos Princípios de Contabilidade, bem como as exigências legais e societárias. Já a contabilidade de custos tem em sua natureza a finalidade gerencial, incorporando em seus conceitos os princípios de economia, administração e outras ciências que permitem o auxílio à tomada de decisão. Dessa forma a contabilidade financeira seria a base para a contabilidade de custos que é essencial para a tomada de decisões, ou seja, é ferramenta obrigatória para a contabilidade gerencial, que é o processo de identificar, mensurar, acumular, analisar, preparar, interpretar e comunicar informações que auxiliem os gestores a atingir os objetivos organizacionais. Assim segue um comparativo entre os dois tipos de contabilidade: Quadro 1 – Comparativo entre a Contabilidade Gerencial e a Financeira Contabilidade Gerencial Contabilidade Financeira Objetivos Facilitar o planejamento, controle, avaliação de desempenho e tomada de decisões pelos usuários internos (sócios e gestores). Facilitar a análise financeira dos usuários externos. Usuários primários Gestores da organiza- ção em vários níveis. Usuários externos, como investidores e agências governamentais, mas também gestores das organizações. Liberdade de escolha Sem restrições, exceto custos em relação a benefícios das melhores definições gerenciais. Regida pelos princípios de Contabilidade geralmente aceitos. – 35 – Esquema básico da contabilidade de custos Contabilidade Gerencial Contabilidade Financeira Implicações comportamentais Preocupação com a influ- ência que as mensurações e os relatórios exercerão sobre o comportamento cotidiano dos gestores. Preocupação em mensurar e comunicar fenômenos econômicos. As conside- rações comportamentais são secundárias, embora a compensação dos executivos baseada em relatos possa ter impacto em seu comportamento. Enfoque de tempo Orientação para o futuro: uso formal de orçamentos, bem como de registros históricos. Exemplo: o orçamento de 20X2 comparado com o desempenho real de 20X1. Orientação para o passado: avaliação histórica. Exem- plo: o Desempenho real de 20X2 comparado com o desempenho real de 20X1. Horizonte de tempo Flexível, com uma varia- ção que vai de horas a 10 ou 15 anos. Menos flexível: geralmente um ano ou um trimestre. Relatórios Detalhado; preocupam-se com detalhes de partes da entidade, produtos, departamentos, territórios etc. Resumidos, preocupam- -se primeiramente com a entidade como um todo. Tipos de relatórios Orçamentos, relatórios de desempenho, de custos e outros não rotineiros para facilitar a tomada de decisões, elabora- dos de forma detalhada, com especificidades de partes da entidade, como produtos, departamentos etc. e liberdade quanto à forma de elaboração. BP, DRE, DLPA (DMPL), DFC e DVA, conforme os moldes legais, elaborados de forma resumida, preocupando- -se precipuamente com a entidade como um todo. Delineamento das atividades Campo de ação se define com menor precisão. Uso mais intenso de disciplinas como economia, ciências de decisão e comportamentais. Campo de ação se define com maior precisão. Menor uso de disciplinas afins. Gestão de Custos – 36 – Contabilidade Gerencial Contabilidade Financeira Bases de mensuração Várias bases (moeda corrente, estrangeira – moeda forte, medidas físicas etc.). Moeda corrente. Arcabouço técnico e teórico Ciência Contábil, Economia, Finanças, Estatística, pesquisa operacional e comportamental etc. Ciência Contábil. Assim, observa-se que a diferença entre a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial pode ser analisada em diversos aspectos. No que diz respeito aos objetivos, a contabilidade gerencial, mediante informações forne- cidas pela contabilidade de custos, permite o planejamento e auxilia no pro- cesso de tomada de decisão dos usuários internos representados pelos gestores, já a contabilidade financeira facilita a análise financeira dos usuários externos, que podem ser representados por investidores, governo, entre outros. Além disso, são observados os aspectos com relação à liberdade que a Contabilidade Gerencial possui, apenas limitada por aspectos relativos ao custo para obtenção da informação, enquanto a Contabilidade Financeira precisa obedecer aos Princípios de Contabilidade. O aspecto gerencial tam- bém tem implicação na questão comportamental, uma vez que se ocupa da observação desses aspectos com relação aos gerentes, enquanto a Contabili-dade Financeira apenas observa questões comportamentais de forma secun- dária, dando ênfase aos fenômenos econômicos. Uma vez que a Contabilidade de Custos permite que sejam feitas infe- rências ao futuro, a Contabilidade Gerencial também tem esse foco, permi- tindo a ampla utilização de orçamentos. A Contabilidade Financeira, por sua vez, observa o aspecto histórico das informações, ou seja, passado, compa- rando o desempenho de um período com o período passado. No caso da Contabilidade Financeira os relatórios são aqueles apresen- tados por lei, como por exemplo, Balanço Patrimonial. Demonstração do Resultado do Exercício entre outras que são utilizadas para as decisões, em sua maioria, dos usuários externos. Já na Contabilidade Gerencial existem relatórios mais detalhados e voltados para as necessidades dos usuários inter- Fonte: (PADOVEZE, 2010. Adaptado.) – 37 – Esquema básico da contabilidade de custos nos, como por exemplo, orçamentos, relatórios de desempenhos e outros que sirvam de apoio na tomada de decisão. A Contabilidade Gerencial utiliza os aspectos da Contabilidade de Cus- tos, que se favorece de vários tipos de ciências para sua plena atuação, com o uso de disciplinas de economia, ciências da decisão e outras, contrastando com a Contabilidade Financeira, que tem um campo de atuação preciso e sem utilização de várias disciplinas. As bases de mensuração na Contabilidade Gerencial são várias, uma vez que para a tomada de decisão podem ser usadas diversas moedas para comparação, o que não ocorre na Contabilidade Financeira, que utilizada, obrigatoriamente, a moeda corrente do país, ou seja, o real. Por fim, a base da Contabilidade Gerencial, conforme explanados anteriormente, é a Conta- -bilidade de Custos, além da Ciência Contábil, Economia, Finanças e outras. Em contrapartida, a Contabilidade Financeira tem como principal base a Ciência Contábil e suas regras. Dessa forma foi possível diferenciar a Contabilidade Gerencial da Con- tabilidade Financeira e apresentar como a Contabilidade de Custos está inse- rida nesse contexto. 2.2 Contabilidade de Custos Pode-se dizer que a contabilidade de custos é uma parte da ciência contábil que se dedica ao estudo dos gastos efetuados para a obtenção de um bem de venda ou consumo, podendo este ser na forma de produto, mercadoria ou serviço. A contabilidade de custos é o ramo da função financeira responsável pela acumulação, organização, análise e interpretação dos custos dos produtos e serviços, bem como componentes da organização, do plano operacional e das atividades necessárias para a determinação do lucro. Além disso, pode-se afirmar, em relação à contabilidade de custos, que esta controla as operações e auxilia o administrador no processo de tomada de decisão. Para Megliorini (2002), os custos devem ser determinados a fim de atingir como principais objetivos a determinação do lucro, o controle das operações e a tomada de decisões. Gestão de Custos – 38 – 2.2.1 Objetivos da contabilidade de custos Nascida durante a Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), a Conta- bilidade de Custos teve sua origem na necessidade da avaliação dos estoques das empresas industriais (MARTINS, 2003). Com a revolução industrial, as primeiras fábricas começaram a pôr em prática alguns dos conceitos que são universais e utilizados até os dias atuais. Essas máquinas exigiam que existisse uma nova forma de gerenciar os negó- cios, devido à produção em larga escala, que impulsionava a sociedade e era impulsionada pela concorrência. Inicialmente, os comerciantes apuravam o resultado do exercício, ou seja, o quanto havia sobrado de suas vendas, quando as comparavam com o Custo das Mercadorias Vendidas (CMV), o que gerava o lucro bruto. Desse valor, eram deduzidas as demais despesas. Tal raciocínio ainda é utilizado atualmente pelos contadores. A seguir, o cálculo do resultado de maneira simplificada. Cálculo do resultado (+) Receita com Vendas (–) Custo das mercadorias vendidas (=) Lucro bruto (–) despesas administrativas (–) despesas financeiras (=) Lucro/Prejuízo Na atividade comercial, o CMV tinha fácil identificação, pois seu valor era composto pelo valor pago pela mercadoria, mais os tributos não com- pensáveis, mais fretes e seguros. No caso de variação de estoque, é possível a utilização da seguinte fórmula que auxilia no encontro do CMV: CMV = EI + C– EF FIM Tal fórmula evidencia a apuração do estoque, sendo que EI é o Estoque Inicial de Mercadorias; C representa as compras durante o período em que o CMV está sendo apurado e, finalmente, EF designa o Estoque final de mer- cadorias do período. Assim é possível, de forma simples, apurar o Custo das Mercadorias do período. – 39 – Esquema básico da contabilidade de custos Já no segmento industrial, tal sistemática simplificada não pode ser uti- lizada, uma vez que, para o cálculo do custo, é preciso considerar que o fabri- cante compra os materiais, transforma-os, paga a mão de obra que trabalha em sua elaboração e ainda consome outros recursos, como por exemplo: água, energia elétrica, entre outros, na obtenção desse bem para a venda final. Dessa forma, a partir da Revolução Industrial, a Contabilidade de Cus- tos evoluiu, passando a gerar informações não só para controle, mas também para o planejamento e tomada de decisão. De forma resumida os principais objetivos da contabilidade de custos são: 2 Possibilidade de avaliação dos estoques, para que seja atendida a legislação comercial e fiscal; 2 Demonstrar o custo do produto vendido (CPV) ou da Mercadoria Vendida (CMV) ou do Serviço Prestado (CSP); 2 Servir de auxílio ao processo de tomada de decisão, aliado da con- tabilidade gerencial; 2 Servir como base para que sejam preparados orçamentos e projeções. A contabilidade de custos é necessária em todos os setores produtivos em que se deseja conhecer o custo de determinado produto ou serviço, para que, com isso, sejam tomadas inúmeras decisões. 2.2.2 Ciclo Básico da Contabilidade de Custos Para que a contabilidade de custos cumpra a sua função, que é apurar o valor final de determinado produto ou serviço, é necessário que sejam segui- dos alguns passos: 2 1.º Passo – A separação entre custos e despesas, sendo necessá- rio conhecer a diferença entre ambos. No caso do primeiro con- ceito – custos – são gastos que ocorrem dentro da fábrica ou que estão envolvidos na prestação de um determinado serviço ou para a obtenção de determinada receita. Como exemplos de custos, é possível apontar os gastos com matéria-prima, mão de obra e custos indiretos de fabricação. Já o conceito de despesa apresenta gastos necessários à obtenção de receita, mas que não ocorrem durante o processo produtivo ou a Gestão de Custos – 40 – prestação de serviços. Como exemplo de despesas é possível apontar os gastos com energia elétrica da parte administrativa assim, como o material de expediente, fretes utilizados na entrega de produtos, entre outros que não ocorrem no processo fabril ou de prestação de serviços. Para que seja feito o uso eficiente do sistema de custeio que será esco- lhido é necessário fazer a apropriação dos custos diretos. A separação dos custos nessas duas categorias é necessária para que seja evitada ao máximo a arbitrariedade dos custos indiretos de fabricação. 2 2.º Passo – Apropriação dos custos diretos que, em sua grande maioria, são os custos relativos à matéria-prima e mão de obra, além de outros que forem individualizados, como por exemplo, o caso das embalagens. 2 3.º Passo – A apropriação (rateio) dos custos indiretos fabricação. Essa apropriação apresenta um componente que é conhecido como arbitrariedade e deve-se aos processos feitos para o rateio dos cus- tos indiretos, que nem sempre são claros ou possuem uma base científica ou ainda justificável que possa ser utilizada. Por mais que seja impossível evitar essa arbitrariedade na distribuição dos cus- tos indiretos de fabricação é extremamentenecessário que o gestor conheça a fundo todo o processo produtivo para a diminuição ao máximo da subjetividade. Figura 1 – Esquema básico da Contabilidade de custos. (Fonte: MEGLIORINI, 2002; MARTINS, 2003. Adaptado.) RATEIO PRODUTO A PRODUTO B PRODUTO C RESULTADO ESTOQUES CUSTO PRODUTOS VENDIDOS VENDAS DESPESAS INDIRETOS DIRETOS CUSTOS – 41 – Esquema básico da contabilidade de custos É necessário lembrar que os custos e despesas incorridos num mesmo período só irão para a conta de Resultado desse período caso toda a produção elaborada seja vendida e não haja estoques iniciais e finais. 2.3 Etapas do processo produtivo As etapas do processo produtivo seguem diferentes raciocínios de acordo com atividade, seja ela de industrialização ou de prestação de serviço, e tam- bém dependem muito do tipo de produto que está sendo fabricado. De maneira genérica pode-se afirmar que os principais componentes envolvidos no processo produtivo são: os materiais, a mão de obra e os custos indiretos de fabricação. No caso dos materiais diretos podem existir duas divisões: 2 Matéria-prima – substância bruta e principal que entra na com- posição de um produto de forma preponderante em relação aos outros componentes. Pode-se exemplificar como matéria-prima a madeira utilizada para a fabricação de móveis, o tecido em uma indústria de confecções. 2 Materiais secundários – são aqueles aplicados na produção em meno- res quantidades, se comparados à matéria-prima. Eles são adicionados ao produto juntamente com a matéria-prima, complementando-a ou ainda fazendo parte do acabamento. Nessa categoria entram, por exemplo, o verniz para o caso de uma indústria moveleira, ovos, açúcar e sal no caso da fabricação de bolos ou biscoitos. 2 Materiais auxiliares – são todos os materiais necessários ao processo de fabricação, mas que não entram na composição do produto. Se for considerada a indústria de produção de móveis temos como exemplo lixas e pincéis, já para a fabricação de pães e bolos podem ser consideradas as formas, a manteiga, entre outros. 2 Materiais de embalagens – são aqueles materiais utilizados para acondicionar os produtos, como plásticos ou papéis. Em uma primeira etapa no processo produtivo serão aplicados os mate- riais que são os componentes necessários para o início da produção. Gestão de Custos – 42 – Já na segunda etapa do processo de produção é necessário considerar a mão de obra, que será o esforço necessário para a transformação da matéria- -prima no produto final. Também deverão ser considerados como gastos com mão de obra os benefícios como cestas básicas, vale-transporte, além de vale- -refeição, previdência social, FGTS entre outros. A mão de obra pode ser direta ou indireta, sendo que a segunda catego- ria deverá ser atribuída aos produtos mediante o uso de rateios, uma vez que esses funcionários não podem ser alocados de forma objetiva aos produtos. Existe também a ocorrência dos gastos gerais de produção, que são conhecidos como custos indiretos de fabricação, entram nessa categoria o seguro, depreciação, energia elétrica entre outros. Dependendo do tipo do processo industrial, podem existir várias etapas antes da conclusão do processo produtivo, que podem incluir áreas de corte, moldagem, pintura e outras. 2.3.1 Exemplo de processo produtivo: indústria cerâmica No caso da indústria cerâmica o processo inicia com a preparação da massa, que seria caracterizada como matéria-prima. Em uma segunda etapa entraria a prensagem e preparação dessa massa para que sejam moldadas as peças. Após isso é feita a secagem das peças que estão prontas para passar pela esmaltação. Posteriormente existe a queima da peça, e é nesse momento que a peça adquire qualidades como resistência e baixa absorção, ocorrendo a determinação da cor das peças. Depois disso é feita a escolha das peças, separando aquelas que estão em perfeito estado daquelas que possuem eventuais defeitos. Então há a prepa- ração dos esmaltes e tintas que servirão para impermeabilizar e aumentar a resistência ao desgaste. O controle de qualidade estará presente durante todas as etapas do processo produtivo, sendo que na fase final os produtos estão liberados para a expedição. A última etapa é a expedição, em que é realizado o controle físico de produtos acabados, havendo a transferência dos produtos de dentro do estoque – 43 – Esquema básico da contabilidade de custos para facilitar a operação de separação, o armazenamento e embarque para a venda dos produtos para o mercado. Ampliando seus conhecimentos Trabalhando o filme Tempos Modernos (SOUSA, Rainer. Adaptado.) No estudo da Revolução Industrial, vários historiadores salien- tam que tal experiência foi responsável por uma profunda trans- formação nas formas de se organizar as relações de trabalho. Em linhas gerais, procura-se destacar que a figura do artesão foi substituída pela do operário, que vendia a sua força de trabalho em troca de uma determinada compensação monetária. Nessa nova configuração, o trabalhador fabril não tinha mais noção de quanto era o valor da riqueza produzida por sua força de trabalho. Segundo a teoria dos pensadores Karl Marx e Friendrich Engels, o operário recebia um salário que era insigni- ficante se comparado ao valor da riqueza produzida por ele ao longo de um único mês de trabalho. Dessa forma, estava neces- sariamente submetido a uma lógica de exploração sistemática. Para que tal desconhecimento fosse viável, segundo esses dois mesmos teóricos, a especialização do trabalho era um pressu- posto indispensável. Sob tal vigência, o operário desconhecia o valor do seu trabalho no momento em que desempenhava uma função isolada do processo global de fabricação de um determinado bem material. Com isso, ele não sabia quantificar em dinheiro o valor que sua contribuição influía na concepção de uma mercadoria industrializada. Assistindo a uma parte do filme “Tempos Modernos”, de 1936, é possível ver a inadaptabilidade de Chaplin ao ritmo da esteira. Simboliza a submissão do homem ao ritmo imposto Gestão de Custos – 44 – pela máquina. Ao mesmo tempo, no momento em que ele sai do ambiente de trabalho reproduzindo o mesmo movimento realizado na esteira fabril, mostra como a especialização do trabalho impõe uma repetição que anula completamente o sig- nificado do trabalho em sua vida. Em outros termos, o homem se transforma em uma mera extensão da máquina. Mesmo sendo bastante cômicas as situações encenadas em “Tempos Modernos”, podemos ver que o riso provocado no filme está atrelado a uma forte e consciente mensagem que desafiou a lógica do trabalho industrial. Atividades de aplicação 1. Qual fato pode ser considerado o marco do início da contabilidade de custos? 2. Como pode ser definida a contabilidade de custos? 3. Quais os principais objetivos da contabilidade de custos? 4. Qual é o ciclo básico da contabilidade de custos? 5. Quais os principais elementos envolvidos no processo produtivo? Materiais como componentes de custos Introdução Os custos devem refletir a empresa e, dessa maneira, quanto mais estruturada ela for, melhores serão os resultados obtidos. Hoje, o administrador apura custos para atingir dois objetivos: 2 atender às normas e exigências legais, tanto societárias como tributárias; 2 conhecer os custos para a tomada correta de decisões e exercer o controle. Um dos aspectos mais complexos para o administrador prende-se à apuração e determinação dos custos dos materiais que permanecem nos estoques, não só por ser um ativo significativo, mas também pelo fato de que sua determinação por um ou outro valor tem reflexo direto na apuração do resultado do exercício. 3 Gestão de Custos – 46 – Para o correto entendimento dos custos relativos a materiais, o capítulo descreve, inicialmente, o processo de fabricação com a finalidade de demonstrar os elementos que compõem o custo dos materiais. Materiais são classificadosno ativo de uma empresa. Decorre, em con- sequência, a necessidade de estabelecer critérios de avaliação dos materiais. Esses materiais podem estar em seu estado natural, ou compondo os produtos que estão em elaboração ou, ainda, agregados aos produtos acaba- dos. Por isso, o capítulo apresenta os critérios de avaliação dos estoques. 3.1 Processo de fabricação Processo de fabricação compreende as atividades, tarefas, etapas ou fases necessárias para a obtenção dos produtos, incluindo todas as atividades ope- racionais através dos equipamentos e dos utensílios necessários à execução das atividades e tarefas. Por exemplo, ao fazer um bolo, a estrutura do pro- duto estará representada pelos ingredientes e o processo de fabricação é o modo de preparar. O processo de fabricação é também denominado roteiro de fabricação, ou seja, o conjunto de roteiros de fabricação representa o processo de fabri- cação de um produto ou parte do produto. A avaliação dos roteiros de fabricação, para uma grande maioria de empresas e produtos, tem como base o tempo despendido em cada um dos processos ou fases de produção. Podemos ter também em alguns casos, como medida de avaliação dos roteiros, o volume processado de matéria- -prima ou do produto. A engenharia da fábrica fornece os dados físicos e quantidades pos- síveis que são obtidos no sistema de processo de fabricação; o sistema de fabricação é totalmente integrado com o sistema de estrutura do produto. Em linhas gerais, cada produto, conjunto, subconjunto, parte ou peça cons- tante da estrutura do pro duto tem associado a ele um roteiro de produção, apresentando todos os passos necessários, assim como, tempo para todas as atividades produtivas, sejam de mão de obra direta e dos equipamentos utili- zados nos processos. – 47 – Materiais como componentes de custos Dentro de uma cadeia produtiva, um produto fabricado por uma empresa poderá ser matéria-prima para outra empresa. O parafuso, por exemplo, é um produto da siderurgia, porém, matéria-prima para o setor moveleiro. A figura fornece um exemplo completo da cadeia produtiva de um setor têxtil. Figura 1 – Cadeia produtiva. Do algodão se produz o fio. O agricultor utilizando tecnologia (gastos de capital) e trabalho produz algodão. A economia clássica elege três principais recursos, ou meios de produção: a terra, o capital e o trabalho. Da terra é extraída a matéria-prima para iniciar o ciclo de produção. D ig it al Ju ic e. Para o agricultor, o algodão é um produto, porém, para um fabricante do produto “tecidos” o algodão é uma matéria-prima. Já o tecido é matéria- -prima para o fabricante do produto “jeans”, com se vê na figura 2. Figura 2 – Confecção de tecido e roupas. Os fios de algodão se transformam em tecido e o tecido em roupa. Is to ck ph ot o. C or el I m ag e B an k. Gestão de Custos – 48 – 3.2 Elementos do custo dos materiais O material é um dos fatores básicos na formação do custo de produção, constituindo-se no único elemento concreto que pode ser fisicamente reco- nhecido no produto acabado, uma vez que os demais (mão de obra e indire- tos) nele se incorporam como elementos financeiros. São elementos constitutivos do custo dos materiais aqueles normalmente identificados pela documentação de compra: embalagem, transporte, seguro e impostos não recuperáveis. Pode-se, em decorrência, afirmar que a regra básica é “[...] que todos os gastos incorridos para a colocação do ativo em condições de uso ou em condições de venda incorporam o valor desse mesmo ativo” (MARTINS, 2003, p. 126). Se os impostos forem recuperáveis eles serão deduzidos da aquisição dos materiais para serem lançados em contas específicas relativas a direitos a recuperar. A palavra materiais, portanto, envolve qualquer produto diretamente identificável com o novo produto que será elaborado e que se torne parte integrante deste. Algumas definições, se fazem necessárias. 2 Insumos são todos os materiais necessários no processo de produ- ção de bens e serviços. 2 Suprimentos são todos os materiais necessários ao preenchimento das condições de funcionamento das instalações e equipamentos. 2 Produtos são o resultado da transformação de bens e serviços em outros bens e serviços. 2 Mercadorias são bens adquiridos pela empresa, para revenda, sem transformação. 3.3 Métodos de controle dos inventários Existem dois métodos de controle de inventários: 2 Sistema de custo simplificado – Inventário Periódico. 2 Sistema de custo unitário – Inventário Permanente. – 49 – Materiais como componentes de custos 3.3.1 Sistema de custo simplificado – Inventário Periódico A fórmula técnica para se obter o custo simplificado é Custo das Mercadorias Vendidas = Mercadorias Disponíveis para a Venda – Estoque Final CMV = MDV – EF Mercadorias Disponíveis para a Venda são: Estoque Inicial + compras + fretes e carretos + seguros + impostos não recuperáveis + transferências de filiais Nesse sistema, a determinação do resultado das operações dependerá sempre do levantamento do valor do estoque existente ao final de determi- nado período. O inventário de mercadorias existentes em estoque no final do exercício, para as empresas que se utilizam do sistema de custo simplificado, será a única informação que se terá para definir o Estoque Final. Será indispensável, portanto, que ele seja um retrato fidelíssimo do saldo real do estoque e deverá, evidentemente, preceder ao levantamento do Balanço Patrimonial. Esse inventário é efetuado através da contagem física dos elementos que compõem o estoque de mercadorias no final de cada período administrativo ou período contábil. 3.3.2 Sistema de custo unitário – Inventário Permanente É o sistema que se realiza através do inventário permanente de mercado- rias, ou seja, registrando as mercadorias toda vez que houver entrada e dando baixa da mercadoria toda vez que ela é vendida. Gestão de Custos – 50 – Dessa forma, após cada operação de venda e sua contabilização, tem-se tanto a Receita de Vendas como o Custo das Mercadorias Vendidas com seus valores atualizados e acumulados, refletindo o valor exato do estoque. É evidente que, controlando fisicamente os componentes do estoque a cada nova entrada, em decorrência das mutações de preços, haverá também uma alteração no valor daqueles estoques que estiverem registrados. As entradas e as saídas constituem em si mesmas operações distintas que requerem registro e controle eficazes. Os efeitos opostos desse duplo movimento incidem por sua vez sobre os estoques de materiais, imprimindo-lhes uma variação constante. Essa dinâ- mica impõe à administração a necessidade de manter um registro confiável dos materiais disponíveis, seja para efeito de inventário, seja para a evidência pronta das disponibilidades de atendimentos dos consumos da empresa. 3.4 Estoques Os estoques representam um dos ativos mais importantes do capital cir- culante, ou capital de giro, e da posição financeira da maioria das empresas. Somente com a correta determinação no início e no fim do período contábil é que se consegue apurar adequadamente o lucro do período. Os estoques estão ligados às principais áreas de operação das empresas e envolvem problemas de administração, controle, contabilização e principalmente de avaliação. Em uma indústria existem inúmeros itens de estoques. Os usualmente utilizados são os seguintes: 2 Produtos acabados – representam aqueles produtos já terminados e oriundos da própria produção da empresa e disponíveis para venda. Estão estocados na fábrica, em depósitos, em filiais ou ainda com terceiros em consignação. 2 Produtos em elaboração – representam o valor das matérias-primas já requisitadas e que estão em processo de transformação mais os outros custos diretos e indiretos relativos à produção não concluída na data do balanço. 2 Matérias-primas – são constituídas dos materiais mais importantes e essenciais que sofrem transformaçãono processo produtivo. Nor- – 51 – Materiais como componentes de custos malmente representam um valor significativo em relação ao total dos custos de produção. 2 Materiais de acondicionamento e embalagem – referem-se a todos os itens de estoque que se destinam à embalagem do produto ou ao seu acondicionamento. 2 Materiais auxiliares – são os materiais que têm como característi- cas não terem uma representação significativa no valor global do custo de produção e a dificuldade de ser identificados fisicamente no produto. 2 Materiais de manutenção e suprimentos gerais – são os materiais para manutenção de máquinas, equipamentos, edifícios etc. 2 Importação em andamento – engloba os custos já incorridos, rela- tivos a importações em andamento e às próprias mercadorias em trânsito, quando a condição de compra é FOB (Free On Board), no ponto de embarque, pelo exportador. 2 Adiantamentos a fornecedores – são os adiantamentos financeiros efetuados pela empresa a fornecedores, vinculados a compras espe- cíficas de materiais que serão incorporados aos estoques quando ocorrer seu efetivo recebimento. 2 Almoxarifado – engloba todos os itens de estoque de consumo geral, podendo incluir produtos de alimentação do pessoal, materiais de escritório, ou seja, itens que são comprados em grande quantidade e que serão consumidos no decorrer de determinado período. 2 Provisão para redução ao valor de mercado – destina-se a registrar, diminuído os estoques, o valor dos itens de estoques que estiverem a um custo superior ao valor de mercado. 2 Provisão para perdas em estoques – destina-se, também reduzindo seu valor, a registrar as perdas conhecidas e calculadas por estima- tiva, relativas a estoques morosos ou obsoletos e as diferenças entre a quantidade contabilizada e a existente fisicamente. Podemos também ter materiais indiretos comprados e requisitados para utilização no processo fabril, sem, contudo, fazerem parte do produto, ou Gestão de Custos – 52 – seja, não constam da estrutura do produto. São materiais necessários para auxiliar o processo produtivo, tanto para utilização pelo pessoal envolvido nos processos e atividades industriais como para os equipa mentos utilizados nos processos diretos e nas atividades indiretas. Por exemplo, materiais consumidos para conservação e manutenção dos equipamentos, mate- riais consumidos para conservação e manutenção dos imóveis, materiais indiretos consumidos utilizados pelo pessoal envolvido nas operações e atividades industriais. 3.5 Critérios de avaliação dos estoques Segundo a Lei das S/A (Lei 6.404/76)1, Art. 183. No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os seguintes critérios: [...] II. os direitos que tiverem por objeto mercadorias e produtos do comércio da companhia, assim como matérias-primas, produtos em fabricação e bens em almoxarifado, pelo custo de aquisição ou produ- ção, deduzido de provisão para ajustá-la ao valor de mercado, quando este for inferior. [...] O custo dos estoques de produtos em processo e acabados na data do balanço deve ser feito pelo “custeio real por absorção”, ou seja, deve incluir: 2 os custos dos materiais utilizados na produção e determinados pela aquisição ou pelo custo médio das aquisições; 2 os custos da mão de obra direta incluindo salários do pessoal que trabalha diretamente na fabricação do produto, adicionados dos respectivos encargos sociais, trabalhistas e previdenciários; 2 os gastos gerais de fabricação, ou custos indiretos de fabricação, incluindo todos os demais custos incorridos na produção (ins- peção, manutenção, almoxarifado, supervisão, administração da fábrica, depreciação, energia, seguros etc.). 1 A Lei das Sociedades por Ações, institui, dentre outras coisas, a classificação de contas e os critérios de avaliação de ativos e passivos. – 53 – Materiais como componentes de custos Na nota fiscal que documenta a aquisição de materiais são identificados diversos itens de custo. É possível, porém, que custos de embalagem, transporte e seguro não constem na nota fiscal. Todos esses custos devem integrar o valor de aquisição. No caso de importações de materiais, devem ser adicionados ao custo da aquisição o imposto de importação, os custos alfandegários e outras taxas. Relativamente aos tributos, são necessárias as seguintes considerações: 2 ICMS, PIS e COFINS – se esses tributos não forem recuperáveis, deve- rão integrar o custo de aquisição. Contudo, se forem fiscalmente recuperáveis não deverão fazer parte dos estoques e sim de uma conta que represente um direito a recuperar. 2 IPI – se esse imposto não for fiscalmente recuperável, deverá inte- grar o custo do produto; se recuperável fiscalmente, não integrará o custo e será lançado em conta que represente um direito a recuperar. 2 II – o Imposto de Importação, por não ser recuperável, faz parte do custo do material. Todo o material transferido do almoxarifado para a fabricação deve ser baixado pelo respectivo custo, isto é, pelo valor que prevaleceu na sua entrada. Na prática, porém, observa-se que os preços não são constantes, mas sujeitos a contínuas variações através de altas e baixas resultantes do jogo de mercado, em que atuam os mais variados fatores da oferta e procura, da inflação etc. É oportuno lembrar que, pelas suas características, a administração de custos está inserida na Contabilidade Gerencial, permitindo-se, em decorrên- cia, desviar-se dos princípios que regem a Contabilidade Financeira2. Dois métodos existem, geralmente, para resolver as dificuldades decor- rentes da variação de preços do material (CAMPIGLIA, 1994, p. 71-74): 2 método do esgotamento progressivo dos lotes individuais; 2 método do preço médio. 2 A legislação tributária brasileira admite que os estoques sejam avaliados somente pelo preço específico, do custo médio ponderado móvel ou a dos bens adquiridos mais recentemente (FIFO ou PEPS). Gestão de Custos – 54 – 3.5.1 Método de esgotamento progressivo O método do esgotamento consiste em manter separados os lotes de materiais de preços diferentes, imputando a saída a cada um, segundo a suces- são cronológica das entradas e a identidade dos preços correspondentes. A sucessão cronológica pode ser progressiva ou regressiva, isto é, imputar as saídas aos primeiros lotes entrados ou aos últimos da série, como se vê na figura 3. Figura 3 – Representação de saídas progressivas e regressivas. Saída progressiva Entradas Saída regressiva 3 ago. 30kg a R$300,00 20 ago. 150kg a R$320,00 12 set. 150kg a R$350,00 Se 30 quilos de material são transferidos para a fabricação, o preço unitá- rio de esgotamento poderá ser de R$300,00 ou R$350,00, conforme o método escolhido. Pelo regressivo, até o esgotamento de cada lote individual, os preços unitários para as saídas serão de R$350,00, R$320,00 e R$300,00, sucessiva- mente. Progressivamente, a sequência dos diferentes preços será invertida. Tais métodos são conhecidos por seus nomes de origem americana: 2 FIFO - first in first out ou PEPS – primeiro que entra, primeiro que sai; 2 LIFO - last in first out ou UEPS – último que entra, primeiro que sai. Sobre a oportunidade ou conveniência de se optar por um ou por outro método, a decisão há que ser ponderada sobre os respectivos efeitos diante da conjuntura dos preços e, paralelamente, em face da incidência do método na formação e na apuração do lucro do exercício. O LIFO é realístico no sentido de que permite apurar custos de produção em conformidade com os preços correntes, pois o valor da matéria-prima integrada no produto está sempre mais próximo dos preços atuais e mais concordante com o problema da permanente reposição dos estoques. Em regime inflacionário, esse método é mais recomendável. Obvia- mente, invertendo-se a conjuntura e se os preços forem descendentes, o FIFO – 55 – Materiais como componentes de custos produzirá melhores resultados, visto que os lotes ascendentessão os de preço unitário mais elevado. 3.5.2 Custo médio móvel e custo médio ponderado de final do período O método do preço médio móvel de custeamento das requisições con- siste em se apurar a média ponderada dos preços de custo das quantidades de cada lote individual que entram na formação do saldo único do material, determinando um novo custo médio depois de cada compra. Pelo método de custo médio ponderado de final de período, os materiais entregues à produção durante um mês são custeados ao custo unitário médio ponderado (valor total dividido pelo total de unidades) no fim do mês anterior. Como os custos unitários médios ponderados no fim do mês precedente estão disponíveis, durante o mês corrente, para o custeio das requisições, esse método pode ser utilizado tanto com o sistema de inventário permanente como o de inventário periódico. O método do custo médio é o mais utilizado no Brasil, evitando o controle de custos por lotes de compras, como nos métodos anteriores. Esse método foge dos extremos, dando como custo de aquisição um valor médio das compras, como se observa na tabela 1. Tabela 1 – Apropriação do valor médio dos estoques Descrição Quantidade Unit. (R$) Total (R$) Custo médio (R$) Aquisição 30 300,00 9.000,00 Aquisição 150 320,00 48.000,00 Aquisição 150 350,00 52.500,00 Totais 330 109.500,00 331,82 Cada unidade saída do estoque será baixada pelo valor de R$331,82, desprezando-se os preços de R$300,00, R$320,00 e R$350,00 de cada lote componente. Tanto o custo das saídas como o Estoque Final terão os valores médios ponderados das compras. Gestão de Custos – 56 – 3.5.3 Comparação dos três métodos A sucessão cronológica, progressiva ou regressiva, ou o método de custo médio ponderado de final de período, conduzem a um resultado distinto. Considerando os mesmos dados de entradas de produto antes apresen- tado, imagine-se que no dia 13 de setembro sejam vendidas 80 unidades do produto em questão. Se for utilizado o critério de saída progressiva (PEPS), os custos a serem atribuídos aos produtos são os que constam da tabela 2. Tabela 2 – Atribuição de custos pelo critério de saída progressiva Data Entradas Saídas Saldos Quant. Un. (R$) Total (R$) Quant. Un. (R$) Total (R$) Quant. Un. (R$) Total (R$) 3 ago. 30 300,00 9.000,00 30 300,00 9.000,00 20 ago. 150 320,00 48.000,00 30 300,00 57.000,00 150 320,00 12 set. 150 350,00 52.500,00 30 300,00 109.500,00150 320,00 150 350,00 13 set. 30 300,00 25.000,00 100 320,00 84.500,00 50 320,00 150 350,00 Como se constata, as unidades que primeiro saem serão as que primeiro entraram. Para uma venda de 80 unidades, conforme o previsto dá-se a saída primeiramente do primeiro lote (30 unidades a R$300,00) e a seguir para complementar as 80 vendidas, dá-se a saída de parte do segundo lote (50 unidades a R$320,00). Assim, os materiais que ficam em estoque são avaliados pelos custos das últimas aquisições. Se for utilizado o critério de saída regressiva (UEPS), os custos a serem atribuídos aos produtos são os que constam da tabela 3. Tabela 3 – Atribuição de custos pelo critério de saída regressiva Data Entradas Saídas Saldos Quant. Un. (R$) Total (R$) Quant. Un. (R$) Total (R$) Quant. Un. (R$) Total (R$) 3 ago. 30 300,00 9.000,00 30 300,00 9.000,00 20 ago. 150 320,00 48.000,00 30 300,00 57.000,00 150 320,00 – 57 – Materiais como componentes de custos Data Entradas Saídas Saldos Quant. Un. (R$) Total (R$) Quant. Un. (R$) Total (R$) Quant. Un. (R$) Total (R$) 12 set. 150 350,00 52.500,00 30 300,00 109.500,00150 320,00 150 350,00 13 set. 80 350,00 28.000,00 30 300,00 81.500,00150 320,00 70 350,00 Como se constata, as unidades que primeiro saem serão as que entraram por último. Para uma venda de 80 unidades, conforme o previsto dá-se a saída primeiramente do último lote (80 unidades a R$350,00). Assim, os materiais que ficam em estoque são avaliados pelos custos das primeiras aquisições. Se for utilizado custo médio ponderado (CMP), os custos a serem atri- buídos aos produtos são os que constam da tabela 4. Tabela 4 – Atribuição de custos pelo critério do custo médio ponderado Data Entradas Saídas Saldos Quant. Un. (R$) Total (R$) Quant. Un. (R$) Total (R$) Quant. Un. (R$) Total (R$) 3 ago. 30 300,00 9.000,00 30 300,00 9.000,00 20 ago. 150 320,00 48.000,00 180 317,00 57.000,00 12 set. 150 350,00 52.500,00 330 332,00 109.500,00 13 set. 80 332,00 26.545,00 250 332,00 82.955,00 À medida que as unidades forem adquiridas vão sendo somadas às que existem e é apropriado o custo médio ponderado. As unidades que saem rece- berão esse custo médio. De outro lado, os materiais que ficam em estoque são avaliados pelos custos médios ponderados. 3.6 Outros métodos de avaliação dos estoques Os três métodos apresentados são os mais analisados pela literatura contábil-financeira, sendo que o PEPS e o CMP são os mais utilizados pelas empresas brasileiras. Existem, porém, outros métodos para a avaliação de materiais. Gestão de Custos – 58 – 3.6.1 Preço de venda a varejo É uma avaliação pelos valores de entrada, na mesma linha de custo pela média ponderada móvel, apesar de os controles serem a preços de venda. O método, de acordo com Martins (2003, p. 179), também chamado de “valor de mercado”, consiste na apuração do total do estoque a preços de venda, quer através de contagem física ou de controle permanente, valori- zando os preços unitários de venda, que são convertidos a valores de entrada mediante a sua multiplicação por quociente médio do custo com relação aos preços de venda a varejo para o período corrente. Essa forma de avaliação representa avaliar os estoques finais aos preços aproximados de custo, pois dos estoques valorizados a preços de venda elimina-se, por totais, a margem de lucro, como se observa na tabela 5. Tabela 5 – Atribuição de custos pelo critério do preço de venda a varejo Data Histórico Quantidade Preço custo Preço venda 12 jan. Estoque inicial 20 R$400,00 R$700,00 3 jan. Aquisições 20 R$600,00 R$900,00 Totais R$1.000,00 R$1.600,00 O custo representa 62,5% do preço de venda: R$1.000,00 = 0,625 R$1.600,00 Dessa maneira, supondo-se uma venda de 10 unidades ao preço de venda de R$400,00, o valor dos estoques será o constante da tabela 6. Tabela 6 – Estoques a preços de custo e a preços de venda Mercadorias Disponíveis para a Venda (MDV) R$1.600,00 (–) Saída por vendas, a preço de venda R$400,00 (=) Estoque Final a preço de venda R$1.200,00 Estoque Final a preço de custo (R$1.200,00 . 0,625) R$750,00 – 59 – Materiais como componentes de custos As empresas que possuem controle permanente de estoques têm a sis- temática facilitada por possuírem saldos disponíveis a qualquer momento, sendo as compras registradas a preço de venda, devendo-se, todavia, contro- lar, permanentemente, as remarcações ocorridas nos preços de venda. O método é inadequado àquelas empresas que possuírem percentuais de lucros significativamente diferenciados. 3.6.2 Valor de mercado – NIFO Como se viu, o método UEPS (LIFO) é o que mais se aproxima do preço de mercado, pois toma como base o preço da última compra. Embora não admitido pela legislação do Imposto de Renda, em épocas inflacionárias é aquele que mais se aproxima da realidade. O método ideal, porém, sobretudo em economia inflacionária, é o custo a valores de reposição ou NIFO (next in, first out), ou seja, o valor do próximo pro- duto a ser adquirido é aquele que servirá de base para a avaliação dos estoques. Esse método já está sendo amplamente utilizado pelas empresas pecuá- rias, de produção agrícola e de extração mineral. Como a prática já era cor- rente, a Lei das Sociedades Anônimas (art. 183 §4.º), previu essa possibili- dade ao dispor que “os estoques de mercadorias fungíveis destinadas à venda poderão ser avaliados pelo valor de mercado quando esse for o costume mer- cantil aceito pela técnica contábil3”. O Regulamento do Imposto de Renda (RIR), artigo 2974(Decreto 3000/99), também se reporta ao assunto ao indicar que “os estoques dos produtos agrícolas, animais e extrativos poderão ser avaliados aos preços cor- rentes de mercado.” 3.6.3 Custo específico Significa valorizar cada unidade do estoque ao preço efetivamente pago para cada item especificamente determinado. É usado quando for possível identificar o preço específico de cada unidade, mediante identificação física. 3 Fungível é uma expressão utilizada para identificar produtos agrícolas, animais e extrativos. 4 Regulamento do Imposto de Renda – RIR é um conjunto de leis, decretos, portarias e outros atos normativos que são compilados e sistematizados em coletâneas. Gestão de Custos – 60 – Esse critério só é aplicável em alguns casos, em que a quantidade, o valor ou a própria característica da mercadoria ou material o permitam, como no caso de revenda de automóveis. 3.6.4 Custo arbitrado De acordo com a legislação fiscal (RIR), somente as empresas que possuírem sistema integrado de escrituração poderão avaliar os estoques de produtos em elaboração e produtos elaborados pelo custo de produção por elas apurados. As empresas que não atenderem aos requisitos mínimos para que sua contabilidade seja considerada integrada (plano de contas que segregue os custos de produção, manutenção de inventário permanente, apuração mensal do custeio, dentre outros), terão de avaliar seus estoques com base em critério arbitrado: 2 produtos acabados, por 70% do maior preço de venda do ano. 2 produtos em processo, por 80% do valor dos produtos acaba- dos, apurados na forma descrita anteriormente (0,80 . 0,70), ou por 150% do custo das matérias-primas, pelos seus maiores valores pagos. Esse critério é arbitrário e sua imposição, pelo Fisco, objetiva penalizar as empresas que não possuem Contabilidade de Custos adequada, levando- -as a supervalorizar os estoques, gerando maior lucro e maior incidência de Imposto de Renda. 3.7 Curva ABC O controle dos estoques pode ser feito por meio da classificação dos itens armazenados, destacando os de elevado valor em relação aos demais, aplicando-se, em decorrência, a classificação ABC. A classificação, ou gráfico de Paretto5, é uma teoria amplamente uti- lizada na administração e em outras áreas que prega que 20% dos itens são 5 Vilfredo Paretto nasceu na Itália em 1848. Dedicou-se ao estudo do comportamento social e da economia política, atuou como professor na Suiça e produziu vários livros. Foi mentor da – 61 – Materiais como componentes de custos importantes e vitais e os outros 80% são indispensáveis, mas não precisam de tanta atenção. Não existe rigor matemático na definição das classes A, B e C, sendo conveniente ressaltar que as empresas podem adotar outras formas de classifi- cação, mais adequadas às suas necessidades. A curva ABC, no caso de administração de estoques, apresenta resulta- dos da demanda de cada item nas seguintes áreas: 2 Giro no estoque; 2 Proporção sobre o faturamento no período; 2 Margem de lucro obtida; Os itens são classificados como: 2 Classe A – são aqueles produtos cujos estoques apresentam elevado valor relativo de maior importância, valor ou quantidade, corres- pondendo a 20% do total e, portanto, merecem um controle mais rigoroso que os demais. Os inventários podem ser mais frequentes, mensais, semanais ou diários. 2 Classe B – em valores não são tão representativos como os estoques dos itens A, porém, possuem importância, quantidade ou valor intermediá- rio, correspondendo a 30% do total. Podem ser inventariados em uma fre quência menor: mensalmente, trimestralmente ou semestralmente. 2 Classe C – representam estoques que são bastante numerosos em ter mos de itens, porém, pouco representativos em termos de valor. Costuma-se somente inventariá-los no momento do levantamento do balanço. Os parâmetros acima não são uma regra matematicamente fixa, pois podem variar de organização para organização nos percentuais descritos. chamada Sociologia Mecanicista, ao definir o sistema social como “um mecanismo produto de forças integradoras e desintegradoras e desintegradoras em equilíbrio”. Em um estudo, publi- cado em 1897, Paretto mostra que a distribuição da riqueza nas mãos de uma pequena parcela da população. Ele chegou inclusive a quantificar essa concentração, afirmando que 80% da riqueza estaria concentrada em 20% da população. Esse fenômeno veio posteriormente a ser chamado de “Regra 80/20”. Gestão de Custos – 62 – Conclusão Com o início da era industrial, a administração dos negócios começou a reclamar uma Contabilidade de Custos. A indústria, à medida que se expandia, diversificava a sua produção e experimentava competição crescente, reclamava informações que a Contabilidade Geral, apesar de sua ininterrupta evolução, não podia gerar. Não demorou para que fórmulas fossem estabelecidas para determinar valores dos bens e, como base dessas fórmulas, surgiram métodos cada vez mais criteriosos para a avaliação de inventários. Segundo a maioria dos histo- riadores, foi na necessidade de se atribuir valores aos estoques que teve início a Contabilidade de Custos propriamente dita, sendo comum ouvir-se dizer que a origem do estudo dos custos empresariais está associada à avaliação dos estoques. Nas empresas industriais não se pode assumir que existem apenas esto- ques daquilo que é comprado pronto, como a matéria-prima, sendo forçoso admitir que, para a adequada apuração dos resultados de cada período, exis- tem ao menos outros dois estoques: o estoque de produtos em elaboração e o estoque de produtos acabados. As informações geradas pelo controle e avaliação dos estoques devem propiciar aos usuários base segura para as suas decisões, pela compreensão do estado em que se encontra a empresa, seu desempenho, sua evolução, riscos e oportunidades que oferece. Ampliando seus conhecimentos Just-in-Time6 (CEV, 2007) O método O Just-in-Time surgiu no Japão, no princípio dos anos 1950, sendo o seu desenvolvimento creditado à Toyota 6 O texto está redigido em português de Portugal. – 63 – Materiais como componentes de custos Motor Company, a qual procurava um sistema de gestão que pudesse coordenar a produção com a procura específica de diferentes modelos de veículos com o mínimo atraso. Quando a Toyota decidiu entrar em pleno fabrico de carros, depois da Segunda Guerra Mundial, com pouca variedade de modelos de veículos, era necessário bastante flexibilidade para fabricar pequenos lotes com níveis de qualidade com- paráveis aos conseguidos pelos fabricantes norte-americanos. Essa filosofia de produzir apenas o que o mercado solicitava passou a ser adaptada pelos restantes fabricantes japoneses e, a partir dos anos 1970, os veículos por eles produzidos assumiram uma posição bastante competitiva. Dessa forma, o Just-in-Time tornou-se muito mais que uma téc- nica de gestão da produção, sendo considerado como uma completa filosofia a qual inclui aspectos de gestão de materiais, gestão da qualidade, organização física dos meios produtivos, engenharia de produto, organização do trabalho e gestão de recursos humanos. O sistema característico do Just-in-Time de “puxar” a produção a partir da procura, produzindo em cada momento somente os produtos necessários, nas quantidades necessárias e no momento necessário, ficou conhecido como o método Kanban. Esse nome é dado aos “cartões” utilizados para autorizar a produção e a movimentação de materiais, ao longo do processo produtivo. Embora se pense que o sucesso do sistema de gestão Just- -in-Time seja intrínseco às características culturais do povo japonês, cada vez mais empresas americanas e europeias se têm convencido que essa filosofia é composta de práticas que podem ser aplicadas em qualquer parte do mundo. Filosofia Just-in-Time Para a filosofia Just-in-Time, em cada etapa do processo produzem-se somente os produtos necessários para a fase Gestão de Custos – 64 –posterior, na quantidade e no momento exato. Isso não sig- nifica transferir os stocks do consumidor para o fornecedor ou do posto de trabalho a jusante para o posto de trabalho a montante. A sua meta final é a eliminação total dos stocks, ao mesmo tempo que se atinge um nível de qualidade superior. Tradicionalmente os stocks são considerados úteis por prote- gerem o sistema produtivo de perturbações que podem oca- sionar a interrupção dos fluxos de produção (roturas de pro- dutos). Se o conceito Just-in-Time for aplicado em todas as etapas do processo produtivo, não deverão existir stocks nem espaços de armazenagem, eliminando-se os custos de arma- zenamento e inventário. Serão de esperar também ganhos de produtividade, aumento da qualidade e maior capacidade de adaptação a novas condições. Podemos, dessa forma, dizer que o sistema Just-in-Time tem como principal objetivo a melhoria contínua do processo pro- dutivo, através de um mecanismo de redução de stocks, os quais tendem, muitas vezes, a camuflar problemas. Dessa forma, as metas colocadas pelo Just-in-Time em relação aos vários problemas da produção são: 2 zero stock; 2 zero roturas de stock; 2 zero defeitos; 2 zero tempo de preparação (setup) e movimentação; 2 zero papéis. Características do Just-in-Time Um sistema de produção que adopta a filosofia Just-in-Time deve ter determinadas características, as quais formam aspec- tos coerentes com os princípios do Just-in-Time. Entre várias características realçamos as seguintes: – 65 – Materiais como componentes de custos 2 o sistema Just-in-Time não se adapta perfeita- mente à produção de muitos produtos diferentes, pois, em geral, isso requer extrema flexibilidade do sistema produtivo, em dimensões que não são possí- veis de obter com a filosofia Just-in-Time; 2 o layout do processo de produção deve ser celular, dividindo-se os componentes produzidos em famílias com determinada gama de operações de produção, montando-se, dessa forma, pequenas linhas de produ- ção (células) de modo a tornar o processo mais eficiente, reduzindo-se a movimentação e o tempo consumido com a preparação das máquinas e equipamentos; 2 a gestão da linha de produção coloca ênfase na auto- nomia dos encarregados e no balanceamento da linha, na não aceitação de erros, paralisando-se a linha, se for necessário, até que os erros sejam eliminados; 2 a produção deve basear-se em grupos de trabalho, em que trabalhadores multifuncionais iniciam e terminam um ou mais tipos de produtos, que serão utilizados pelo grupo seguinte; para que o sistema funcione é indispen- sável que todos os produtos que fluem de um grupo para o outro sejam perfeitos e os erros sejam imediatamente segregados (os erros são facilmente detectados quando se trabalha com pequenas quantidades). 2 a responsabilidade pela qualidade é transferida para a produção e é dada ênfase ao controle da qualidade na fonte, adoptando os princípios de controle da qualidade total (a redução de stock e a resolução de problemas de qualidade formam um ciclo positivo de melhoria contí- nua); assim, a responsabilidade pela qualidade está na fonte de produção. 2 é dada muito ênfase na redução dos tempos do pro- cesso, como forma de conseguir flexibilidade, visto que os tempos consumidos com actividades que não Gestão de Custos – 66 – acrescentam valor ao produto devem ser eliminados, enquanto os tempos consumidos com actividades que geram valor ao produto devem ser utilizados de forma a maximizar a qualidade dos produtos produzidos. 2 o fornecimento de materiais no sistema Just-in-Time deve ser uma extensão dos princípios aplicados dentro da fábrica, tendo por objectivos o fornecimento de lotes de pequenas dimensões, recebimentos frequentes e confiá- veis, lead times curtos e altos níveis de qualidade. O planeamento da produção do sistema Just-in-Time deve garantir uma carga de trabalho diária estável, que possibilite o estabelecimento de um fluxo contínuo dos materiais. O sistema de programação e controle de produção está baseado no uso de “cartões” (denominado método Kanban) para a transmissão de informações entre os diversos centros produtivos. O Just-in-Time possui também algumas características de carácter social relacionadas com a valorização do factor humano. Os grandes responsáveis pelo êxito ou pelo fra- casso da implementação de um sistema Just-in-Time são, em última análise, os responsáveis departamentais e sectoriais. A eles cabe a missão de reduzir distâncias hierárquicas e criar um clima de participação efectiva de todos, assegurando o cumprimento dos objectivos em causa. Sem o interesse das pessoas, nenhum sistema, seja ele qual for, funciona. Vantagens do Just-in-Time As vantagens do sistema de gestão Just-in-Time podem ser mostradas através da análise da sua contribuição nos principais critérios competitivos. 2 Custos – dados os custos dos equipamentos, materiais e mão de obra, o Just-in-Time procura que eles sejam reduzidos ao essencialmente necessário. As característi- cas do sistema Just-in-Time, o planeamento e a respon- sabilidade dos encarregados da produção pela melhoria – 67 – Materiais como componentes de custos do processo produtivo favorecem a redução dos des- perdícios. Existe também uma redução significativa dos tempos de preparação (setup), além da redução dos tempos de movimentação. 2 Qualidade – o Just-in-Time evita que os defeitos fluam ao longo do processo produtivo. O único nível aceitável de defeitos é zero, motivando a procura das causas dos problemas e das soluções que eliminem essas mesmas causas. Os colaboradores são treinados em todas as tare- fas que executem, incluindo a verificação da qualidade (sabem, portanto, o que é um produto com qualidade e como produzi-lo). Também, se um lote inteiro for pro- duzido com peças defeituosas, o tamanho reduzido dos lotes minimizará os produtos afectados. 2 Flexibilidade – o sistema Just-in-Time aumenta a flexibi- lidade de resposta do sistema pela redução dos tempos envolvidos no processo e a flexibilidade dos trabalha- dores contribui para que o sistema produtivo seja mais flexível em relação às variações dos produtos. Através da manutenção de níveis de stocks muito baixos (ou nulos), um modelo de produto pode ser mudado sem que se ori- gine muitos componentes obsoletos. 2 Fiabilidade – a fiabilidade das entregas é aumentada atra- vés da ênfase na manutenção preventiva e da flexibilidade dos trabalhadores, o que torna o processo produtivo mais robusto. As regras do Kanban e o princípio da visibilidade permitem identificar rapidamente os problemas que pode- riam comprometer a fiabilidade, permitindo a sua imediata resolução. Também o baixo nível de stocks e a redução dos tempos permitem que o ciclo de produção seja curto e o fluxo veloz. Limitações do Just-in-Time As principais limitações do Just-in-Time estão ligadas à flexi- bilidade do sistema produtivo, no que se refere à variedade Gestão de Custos – 68 – dos produtos oferecidos ao mercado e à variação da procura a curto prazo. O sistema Just-in-Time requer que a procura seja estável a curto prazo para que se consiga um balanceamento adequado dos recursos, possibilitando um fluxo de materiais contínuo e suave. Caso a procura seja muito instável, há a necessidade de manutenção de stocks de produtos acabados a um nível tal que permita que a procura efectivamente sentida pelo sistema produtivo tenha certa estabilidade. Como o método Kanban prevê a manutenção de certo stock de componentes entre os centros de produção, se houver uma variedade muito grande de produtos e componentes o fluxo de cada um não será contínuo, mas sim intermitente, gerando stocks elevados no processo produtivo para cada item. Isso contraria uma série de princípios do Just-in-Time, comprome- tendo a sua aplicação. Outro problema resultante da grande variedade de produtos seria a consequente complexidade das gamas de produção.O princí- pio geral de transformação do processo produtivo numa linha con- tínua de fabricação e montagem de produtos fica prejudicado se um conjunto de gamas de produção não poder ser estabelecido. Também a redução do stock pode aumentar o risco de interrupção da produção em função de problemas de ges- tão de mão de obra, por exemplo, greves tanto na fábrica como nos fornecedores. Just-in-Time em Portugal Portugal é um dos países europeus que possui uma percen- tagem elevadíssima de PME (Pequenas e Médias Empresas) a caracterizar o seu potencial empresarial. Por princípio uma pequena ou média empresa, possui uma estrutura organizacio- nal relativamente simples, podendo pensar-se que seria mais fácil simplificar e flexibilizar os sistemas de produção. Na realidade, ainda, não é o que acontece. Falar em Just-in-Time, – 69 – Materiais como componentes de custos em Kanban e Qualidade Total ainda tem algo de místico e de pouco definido. Conhecem--se alguns impedimentos para levar a cabo programas de melhoria dos sistemas de produção, como: 2 muitas pequenas empresas do tipo familiar que possuem um sistema produtivo e uma orgânica de funcionamento perfeitamente enraizada em formas convencionais de redu- ção de custos; 2 falta de informação em relação ao baixo investimento ine- rente a programas de simplificação do tipo Just-in-Time; 2 associa-se esse tipo de sistemas de produção unicamente a linhas de montagem, quando os objectivos de melhoria contínua, simplificação, sincronização, deveriam estar latentes em qualquer negócio ou sistema produtivo; 2 muitas empresas acham que o Just-in-Time e programas de simplificação apenas se adaptam às empresas japonesas devido à mentalidade do seu povo se envolverem nos proble- mas da empresa de forma diferente relativamente ao empenho demonstrado pelos trabalhadores portugueses em geral. Como se nota, existem ainda alguns entraves na realidade industrial portuguesa que dificultam a simplificação dos sistemas produtivos e a aplicabilidade do Just-in-Time. A tendência que paira em Portugal é a de modernizar a sua indústria, na qual as empresas se apetrecham com meios mais sofisticados de produção. A pergunta que fica em suspenso é: será que as empresas portuguesas deveriam fazer um esforço de simplificação e flexibilização dos sistemas produtivos actuais para se munirem depois de meios tecnológicos mais avançados? Atividades de aplicação 1. O estoque da Cia Alfa em 1.º de novembro de X2 era composto de 100 pares de sapatos, com custo unitário de R$20,00, totalizando Gestão de Custos – 70 – R$2.000,00. As operações realizadas durante o mês de novembro de X2 foram as seguintes: Data Operação Quant. Un. (R$) Total (R$) 10 nov. compra 50 18,00 900,00 11 nov. venda 30 13 nov. venda 80 18 nov. compra 20 21,00 420,00 25 nov. venda 55 Qual é a quantidade de sapatos existentes no dia 30 de novembro e qual o seu valor se o critério de avaliação for o PEPS? 2. (INEP) – O quadro abaixo apresenta um controle de entradas e saídas do estoque de uma fábrica que deseja fazer uma avaliação do custo desses estoques. Dia Entradas no estoque Saídas do estoque Quantidade Preço unitário Quantidade Preço unitário 1.º mar. 10 R$150,00 10 mar. 30 R$120,00 30 mar. 20 Utilizando os métodos de custo médio, PEPS (primeiro a entrar e primeiro a sair) e UEPS (último a entrar e primeiro a sair), qual será o valor do estoque ao final da movimentação, em reais? 3. (INEP) – A Chuveiros Elétricos Ltda. revende chuveiros de diversos fabricantes nacionais e internacionais. A diretoria financeira deseja es- timar o valor do seu estoque ao final do primeiro ano de atividade. A tabela a seguir mostra a movimentação do estoque durante este ano. – 71 – Materiais como componentes de custos 1.º trimestre 2.º trimestre 3.º trimestre 4.º trimestre Unidades Custo unitário Unidades Custo unitário Unidades Custo unitário Unidades Custo unitário Saldo inicial (=) 0 50 50 100 Compras (+) 200 R$10,00 160 R$12,00 200 R$14,00 100 R$14,00 Vendas (–) 150 160 150 150 Saldo final (=) 50 50 100 50 Por ser o primeiro ano, existe a possibilidade de escolha do sistema de contabilização a ser utilizado. Dois sistemas estão em estudo: PEPS (o primeiro a entrar é o primeiro a sair do estoque) e UEPS (o último a entrar é o primeiro a sair). A diretoria deseja minimizar o saldo da conta de estoques ao final do ano. Qual sistema contábil deve ser utilizado para se atingir esse objetivo? 4. (INEP) – Analise a situação do estoque da Empresa de Transportes de Cargas Gersontrans Ltda., apresentada no quadro a seguir. Itens Custo unitário Estoque em 1/1/2001 0 R$0,00 Entrada no estoque em 20/1/2001 100 R$10,00 Entrada no estoque em 25/1/2001 150 R$12,00 Saída do estoque em 30/1/2001 150 Quais os valores, em reais, do estoque dessa empresa respectivamen- te pelos processos PEPS (primeiro a entrar primeiro a sair) e UEPS (último a entrar primeiro a sair) ao final do mês de janeiro de 2001, considerando o Estoque Inicial nulo? Gestão de Custos – 72 – 5. No final do exercício de 1994, a Cia. Beta apresentava os seguin- tes valores: Estoque Inicial R$12.000,00 Compras do exercício R$63.000,00 Estoque Final R$7.000,00 Utilizando o sistema periódico, calcule o Custo dos Produtos Vendidos. 6. A empresa Delta, que controla seus estoques por meio de Inventário Periódico, apresentou o seguinte movimento de mercadorias no mês de julho de 2000: 2 01/07 – Estoque Inicial de R$5.000,00 2 05/07 – Compra de R$15.000,00 (a prazo) 2 10/07 – Venda de R$30.000,00 (à vista) 2 15/07 – Compra de R$26.000,00 (a prazo) 2 20/07 – Venda de R$20.000,00 (a prazo) 2 30/07 – Compra de R$8.000,00 (a prazo) 2 31/07 – Estoque Final de mercadorias = R$28.000,00. Calcule: a. Custo do Produto Vendido (CPV). b. Lucro Bruto obtido nas operações. Mão de obra como componente de custos Introdução A mão de obra direta e os materiais aplicados na fabricação de um produto classificados de custos diretos são denominados custos primários. A mão de obra direta corresponde aos esforços produtivos do pessoal relacionado à fabricação dos produtos. Assim, somente a remuneração dos trabalhadores que atuam diretamente na trans- formação da matéria-prima em produto é que pode ser classificada como mão de obra direta ou, simplesmente, MOD. Nem toda a remuneração desses trabalhadores pode ser tra- tada como custo direto, sem antes se analisar o trabalho deles e o controle exercido sobre as horas trabalhadas. Tão somente o tempo trabalhado e apontado no produto será considerado custo direto. Há necessidade também de serem considerados os gastos associados aos encargos trabalhistas, sociais e previdenciários que incidem sobre a folha de pagamento desses trabalhadores. Este capítulo tem como objetivo apresentar os tópicos relati- vos aos gastos denominados de MOD na sua plenitude. 4 Gestão de Custos – 74 – 4.1 Apontadoria e folha de pagamento A mão de obra é o segundo componente básico do custo apresentando- -se, do ponto de vista financeiro, como remuneração do trabalho humano. Considerando o trabalho como sendo um produto do esforço humano, fica fácil compreender o que representa na atividade de produção, bem como a natural complexidade de suas implicações que tornam a adminis- tração salarial e a administração do pessoal dois assuntos de elevada impor- tância na organização e no funcionamento da empresa e, assim, no processo de controle e apropriação do respectivo custo. Esse processo, de acordo com Campiglia e Campiglia (1993, p. 81), tem as seguintes finalidades: 2 A medida do tempo; 2 O estudo de tempos e de movimentos; 2 O controle do custo; 2 A preparação da folha de pagamento; 2 A administração do pessoal; 2 As relações da mão de obra com os problemas de engenharia, do planejamento e do controle de produção; 2 As relações humanas, a segurança e a higiene do trabalho. A mão deobra assenta-se nos seguintes fatores: 2 Econômicos: 2 salários; 2 encargos incidentes sobre salários. 2 Técnicos: 2 tempos; 2 movimentos; 2 rendimento ou eficiência; 2 segurança e higiene. – 75 – Mão de obra como componentes de custos 2 Humanos: 2 comportamento; 2 relações; 2 assistência e previdência social. O orçamento de mão de obra decorre dos planos de produção e é por meio dele que se fixam as quantidades de trabalhadores, as respectivas categorias e, dentro de certos limites, o custo salarial previsto, tomando-se por base os preços da mão de obra que vigoram no mercado em cada momento. A apontadoria é a expressão que identifica o controle do tempo do trabalho e ela deve apontar: 2 Número de horas ordinárias; 2 Número de horas extraordinárias; 2 Valor de horas ordinárias e extraordinárias; 2 Salário total em horas ordinárias; 2 Salário total em horas extraordinárias; 2 Acréscimos legais. 2 Descontos: 2 previdência social; 2 vales de alimentação, refeição, transporte etc.; 2 imposto de renda retido na fonte; 2 antecipações; 2 outros. 2 Valor líquido a pagar. Leone (1995, cap. 4) afirma que a “[...] mão de obra se constitui em um dos custos mais importantes para determinadas empresas, exigindo controle apurado e análise constante”. Sob a óptica contábil, é preciso separar os gastos com mão de obra de acordo com as classificações a seguir: Gestão de Custos – 76 – 2 segundo a função orgânica principal; 2 segundo a atividade departamental, ou centro de custos; 2 segundo a relação direta ou indireta com os produtos elaborados. A função orgânica principal compreende duas grandes categorias: 2 a vinculada à produção, direta ou indiretamente; 2 a relativa à venda e administração geral. Por essa função, os gastos de mão de obra relativos à produção serão atribuídos aos produtos elaborados enquanto que os referentes a vendas e administração serão tratados como despesas do período; A atividade departamental, ou centro de custos, tem o objetivo de facilitar o controle sobre os custos. Os supervisores dos centros são respon- sáveis pelos custos incorridos e pelo desempenho da mão de obra dentro dos seus departamentos. É necessário evidenciar a relação direta ou indireta com os produtos elaborados. Direta é a mão de obra relativa ao pessoal que trabalha diretamente sobre o produto em fabricação, sendo possível a averiguação de qual o tempo despendido e de quem executou o trabalho. Já indireta pressupõe-se necessária a utilização de critérios de rateio ou estimativa. Em qualquer das classificações em que se enquadre, a mão de obra que é usada para transformar matérias-primas em produtos acabados não pode ser armazenada e não se torna, de forma demonstrável, uma parte do produto. Dessa maneira, as funções envolvidas na aquisição e administração da mão de obra, são importantes e imprescindíveis. 4.2 Os custos da mão de obra Os encargos sociais vigentes no Brasil são altos até mesmo comparados com outros países da América Latina. Férias, por exemplo: no México, o período de férias é de seis dias anuais, adicionando-se dois dias a cada ano até chegar a 12 dias. Depois disso, aumentam-se dois dias a cada cinco anos, chegando-se, aos 30 anos de serviço a 22 dias de férias. No Chile são 15 dias até 10 anos na mesma empresa. Depois disso, adiciona-se um dia a cada três anos. – 77 – Mão de obra como componentes de custos No Brasil são 30 dias, mais 10 dias pagos em dinheiro, por determinação constitucional, que introduziu o terço de férias. (CF, 1988, art. 7.º, XVII) Ou seja, em 10 anos, uma empresa chilena paga 150 dias a título de férias enquanto que uma empresa brasileira paga 400 dias. Significa dizer que uma empresa que tem necessidade de mão de obra oriunda do trabalho de 1 200 trabalhadores, precisa de um sobressalente de outros 100 trabalhadores para substituições no período de férias. Não é necessária muita ginástica para mostrar que os encargos sociais brasi- leiros são altos e, sobretudo, rígidos. Eles decorrem de leis que, embora tenham trazido avanços, não permitem a livre negociação, o que inibe a troca de ganhos reais por produtividade. A Constituição Federal (CF) e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelecem um grande conjunto de direitos a serem respei- tados por todas as empresas para a contratação legal de seus empregados. Ocorre que nenhum desses direitos é negociável entre empregados e empregadores. Mesmo que as partes desejem, a lei não permite negociá-los. De acordo com a Constituição (1988, art. 7.º, XIII), a duração do tra- balho normal não poderá ser superior a oito horas diárias e 44 semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Desse dispositivo resulta a seguinte distri- buição horária: 2 Oito horas diárias, de segunda a sexta e quatro horas aos sábados, perfazendo 44 horas semanais. 2 Sete horas e 20 minutos de segunda a sábado. 2 Mediante acordo escrito: 2 oito horas e 40 minutos diários, de segunda a sexta; 2 nove horas diárias de segunda a quinta e oito horas na sexta. As horas que excederem a descrição acima serão remuneradas com, no mínimo, em 50% a da normal (CF, 1988, art. 7.º, XVI). Casos há, porém, Gestão de Custos – 78 – citando-se como exemplo os trabalhadores que laboram na construção de estra- das, em que o valor da hora extra atinge a 200%, ou seja, a hora normal é acres- cida em mais duas vezes, em decorrência de convenção de trabalho em vigor. É oportuno acrescentar a incidência do adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas (CLT, 1995, pastas 1 e 2, arts. 73 e 189 - 193), o adicional de remuneração para trabalho noturno e toda uma gama de outros benefícios chamados de indiretos: vale-transporte, vale- -creche, vale-refeição etc. Existem acordos coletivos de trabalho que possuem mais de uma centena de cláusulas instituidoras dos chamados salários indiretos e que acrescentam inúmeras licenças as já instituídas pela CF e a outras já definidas pela legislação infraconstitucional. A literatura, principalmente a relativa aos projetos existentes no Sebrae, apontam diversos percentuais de encargos previdenciários e sociais. A seguir é transcrita uma tabela elaborada por Pastore (2005), referente ao setor indus- trial, determinando o percentual de encargos que incide sobre o salário. Na elaboração da tabela, Pastore leva em consideração que as despesas de con- tratação e descontratação e a metodologia de cálculo se baseia no total de dias efetivamente trabalhados. Quando se retiram 52 domingos, 26 dias de férias (porque 4 caem nos domingos) e 12 feriados, os 365 dias de ano se transformam em 275 dias efetivamente trabalhados. A legislação, porém, tem uma série de dispositivos que requerem a remuneração de vários tempos não trabalhados. Os resultados são apresentados na tabela 1. Tabela 1 – Encargos sociais e trabalhistas incidentes sobre salários1 A - Obrigações sociais Previdência Social 20,00 FGTS1 8,50 1 A alíquota do FGTS é de 8% sobre a remuneração paga ou devida a cada trabalhador, duran- te o mês. No período de outubro/2001 até setembro/2006 era cobrado um adicional de 0,5% referente á contribuição social, instituída pela Lei Complementar nº 110/2001. No caso da ta- bela apresentada, mantivemos o calculo considerando 8,5% apenas a titulo de exemplificação. – 79 – Mão de obra como componentes de custos A - Obrigações sociais Salário educação 2,50 Acidentes de trabalho (média) 2,00 Sesi/Sesc/Sest 1,50 Senai/Senac/Senat 1,00 Sebrae 0,60 Incra 0,20 Subtotal A 36,30 B - Tempo não trabalhado 1 Repouso semanal remunerado 18,91 Férias 9,45 Feriados 4,36 Abono de férias 3,64 Aviso prévio 1,32 Auxílio enfermidade 0,55 Subtotal B 38,23 C - Tempo não trabalhado 2 13.º salário 10,91 Despesa rescisão contratual 3,21 Subtotal C 14,12 D - Reflexo dos anteriores Incidência de A sobreB 13,88 Incidência do FGTS sobre 13.º salário 0,93 Subtotal D 14,81 Total geral 103,46 Uma empresa que contrata trabalhadores horistas pagando R$1.000,00 por mês tem um custo geral de R$2.030,46 (R$1.000,00 + 103,46%). Trata- -se de despesas com as quais as empresas têm de arcar na sua totalidade. Nenhuma pode ser ignorada ou negociada, tendo, assim, natureza tributária. São todas compulsórias. Não há o que discutir (PASTORE, 2005). (Fonte: PASTORE, 2005) Gestão de Custos – 80 – 4.3 Confronto entre empregado e empregador Além dos gastos antes descritos, segundo dados publicados no mês de julho de 1995 pela revista Veja (p. 33), o Brasil tem 1,7 milhão ações traba- lhistas; o Japão, que possui uma força de trabalho quase do mesmo tamanho, tem apenas mil. Quando se mistura um quadro legal inflexível, a interferência da Justiça do Trabalho, o peso dos encargos sociais e um clima de confrontação entre empregados e empregadores, é fácil entender porque muitas empresas só con- tratam legalmente quando sentem segurança em poder vender – e por um preço compensador – o que vai ser produzido. Segundo a revista Veja (1995, p. 33) [...] as grandes empresas, privadas e estatais, não cumprem boa parte da legislação em função de um cálculo de custo e benefício. Sabem que podem deixar de pagar horas extras, por exemplo, porque, no futuro, apenas uma minoria de funcionários – em geral 20% – ten- tará recuperar seus direitos. Com isso, não há problema de entre- gar uma bolada a um antigo funcionário de vez em quando, pois se ganhou muito deixando de pagar os mesmos direitos aos empregados da empresa inteira. O trabalhador, por sua vez, não reivindica as horas extras na Justiça enquanto está trabalhando para não desagradar a chefia ou ser demitido. Conta a favor das empresas, ainda, o fator tempo: a ação, quanto a cré- ditos resultantes das relações de trabalho prescreve em dois anos e o rece- bimento de valores retroage somente aos cinco últimos anos (CF, art. 7.º, XXIX, “a”). Ao contrário das grandes, que montam enormes departamentos de pessoal, jurídico e de Recursos Humanos e podem transferir aos custos de produção e nos preços dos bens e serviços o peso dos encargos trabalhistas, as pequenas, as médias e as micro empresas, porém, têm enormes dificulda- des para arcar com esses gastos e desincumbir-se da carga de burocracia por elas geradas. De acordo com Pastore (2005, p. 13), Os dados da RAIS de 2001 mostraram haver no Brasil 5 574 779 empresas registradas. Destas, 5 277 308 eram micro empresas. Ou – 81 – Mão de obra como componentes de custos seja, o Brasil é uma nação continental e, ao mesmo tempo, um país das “formiguinhas” produtivas. Cerca de 95% das empresas existentes no Brasil são microempresas. A grande maioria é composta de empresas de faturamento baixo e incerto. Raramente são exportadoras. Mais raramente ainda produzem para grupos de alta renda. Elas se concentram no pequeno comércio, pequenos serviços e pequenas indústrias. Como tal, elas têm enormes dificuldades para seguir a atual legislação trabalhista e estão impedidas de negociar cláusulas diferentes com seus empregados. Há que se acrescentar, ainda, as despesas decorrentes da negociação entre as partes e integrantes dos acordos e convenções coletivas. 4.4 Preparação da folha de pagamento As empresas são obrigadas a preparar a folha de pagamento da remune- ração paga, devida ou creditada aos seus funcionários e a discriminar os fatos geradores de todas as contribuições, o montante das quantias descontadas, as contribuições da empresa e os totais recolhidos (RPS, 1999, art. 225, I e II). A contabilização da folha de pagamento deverá ser efetuada com obser- vância dos procedimentos descritos a seguir (IOB, 1999, BOL 38/99). 2 Atendimento ao regime de competência. 2 Classificação contábil dos gastos com pessoal. Relativamente ao regime de competência, convém observar que, normal- mente, os salários são pagos até o 5.º dia útil do mês subsequente ao de refe- rência. Porém, sua contabilização deve ocorrer sempre no mês de referência, ainda que o pagamento ocorra no mês seguinte, ou seja, deve ser observado o regime de competência. Para Iudícibus et al. (1994, p. 173), todos os gastos relativos à mão de obra devem ser atribuídos aos custos dos 11 meses. O exemplo oferecido é o das férias coletivas. As empresas que têm política de paralisar anualmente suas atividades em face de férias coletivas deverão registrar mensalmente uma provisão nos 11 meses anteriores para cobrir custos estimados do mês de férias coletivas. Os gastos com pessoal são classificados como despesas operacionais, quando se referirem às áreas comerciais e administrativas e como custos de Gestão de Custos – 82 – produção, quando referentes ao pessoal que trabalha nas empresas industriais ou de prestação de serviços. Em cada grupo são utilizados subgrupos especí- ficos para cada conta: salários, gratificações, férias, 13.º salário, Previdência Social, FGTS etc. 4.5 Composição dos encargos – para uma empresa de grande porte Como a preocupação maior, para as finalidades a que o presente capítulo se destina, é a contabilização dos custos de mão de obra e, em decorrência, a elaboração e transmissão de relatórios destinados à gerência de produção, deixa-se de lado a análise relativa às funções de gestão de pessoal, aposenta- doria e elaboração da folha de pagamento para poder efetuar os cálculos dos encargos e, principalmente, sua contabilização. Dessa maneira, não é demais repetir que para o cálculo dos encargos torna-se necessário informar que os mesmos incidem sobre a remuneração percebida pelo trabalhador. Remuneração é a composição econômica proveniente do somatório dos adicionais ou vantagens legais, convencionadas ou acordadas: salário, comis- sões ou percentagens, gorjetas, gratificações ajustadas, abonos pagos pelo empregador, ajudas de custo e diárias de viagem, quando excederem a 50% do salário percebido e não sujeitas a prestação de contas, adicionais de insa- lubridade ou periculosidade, prêmios, salário in natura que a empresa esteja fornecendo por força contratual ou consuetudinária e quaisquer parcelas que são pagas habitualmente. O salário é estipulado, normalmente, baseando-se por unidade de tempo: hora, dia, semana, quinzena ou mês. O salário, como se viu, raramente é constante, a despeito de uma base ou razão fixa que lhe serve de medida. Quando se quer estabelecer um padrão ou avaliar a mão de obra, é indispensável levar em conta as variações que podem incidir sobre a base, segundo a duração do trabalho diário ou a ocorrência dos acréscimos adicionais antes enunciados. Embora a empresa remunere o funcionário correspondentemente a 12 meses, como lembrado por Pastore (2005, p. 14), na verdade, ele não trabalha – 83 – Mão de obra como componentes de custos os 365 dias do ano. Os dias não trabalhados são remunerados, tornando--se um encargo adicional para a empresa, pois ocorre o gasto e não há a contra- prestação de serviços, de acordo com o exemplo apresentado por Martins (2003, p. 135-141). Os dias que o funcionário não trabalha, mas recebe, são os descritos na tabela 2. Tabela 2 – Número de horas trabalhadas no ano Número de dias no ano 365 Repousos semanais remunerados –48 Feriados e dias santificados –12 Férias –30 Faltas abonadas –3 Número de dias trabalhados 272 Jornada diária 7,3333 Número máximo de horas no ano 1 994,66 Além das explicações já anunciadas na elaboração da tabela 2, convém acrescer que as empresas têm várias outras despesas com eventos específi- cos e que também decorrem de imposição legal, tais como os adicionais de insalubridade, periculosidade, ausências para alistamento militar, alistamento eleitoral, licenças para casamento, doação de sangue, luto em família e outras, denominadas de faltas abonadas. Considerando um salário de R$10,00 por hora, o valor da remuneração anual de um trabalhador será a constanteda tabela 3. Tabela 3 – Valor da remuneração anual Salários Número de horas à disposição 1 944,66 Gestão de Custos – 84 – Salários Valor da hora trabalhada R$ 10,00 Total de salários R$ 19.446,60 Repouso semanal remunerado Número de dias em repouso 48 Jornada diária 7,33 Número de horas em repouso 352 Valor da hora trabalhada R$ 10,00 Total do repouso semanal remunerado R$ 3.519,98 Feriados e dias santificados Número de dias feriados 12 Jornada diária 7,33 Número de horas em repouso 88 Valor da hora trabalhada R$ 10,00 Total da remuneração dos feriados R$ 880,00 13.º salário 13.º salário em dias 30 Jornada diária 7,33 13.º salário em horas 220 Valor da hora trabalhada R$ 10,00 Total da remuneração do 13.º salário R$ 2.200,00 Férias Número de dias em férias 30 – 85 – Mão de obra como componentes de custos Jornada diária 7,33 Férias em horas 220 Valor da hora trabalhada R$ 10,00 Total da remuneração das férias R$ 2.199,99 Faltas abonadas (ociosidade etc.) Número de dias abonados 3 Jornada diária 7,33 Dias abonados em horas 22 Valor da hora trabalhada R$ 10,00 Total da remuneração dos dias abonados R$ 220,00 Adicional de férias 1/3 do salário R$ 733,33 O total da remuneração anual é demonstrado na tabela 4. Tabela 4 – Remuneração anual Salários R$ 19.446,60 Repouso semanal R$ 3.519,98 Feriados e dias santificados R$ 880,00 13.º salário R$ 2.200,00 Férias R$ 2.199,99 Faltas abonadas R$ 220,00 Adicional de férias R$ 733,33 Total da remuneração R$ 29.199,90 Além dessa remuneração, tanto o Governo Federal como outras entidades arrecadam contribuições que oneram os salários; algumas suportadas pelo empregado, como contribuição sindical, Imposto de Renda na fonte e contribuição ao INSS segundo aplicação de alíquotas progressivas. Gestão de Custos – 86 – Como o objetivo do presente é a determinação do custo da mão de obra, interessa descrever os encargos suportados pelo empregador, como se vê na tabela 5. Tabela 5 – % de encargos incidentes sobre salários Encargos previdenciários e de terceiros Previdência Social 20,00% Salário educação 2,50% Seguro de Trabalho (de 1% a 3%) 2,00% Sesi (Sesc) 1,50% Senai (Senac) 1,00% Sebrae 0,60% Incra 0,20% 27,80% FGTS 8,00% Total 35,80% Assim, sobre o total da remuneração se aplica o percentual dos encar- gos previdenciários e de terceiros, resultando na remuneração anual total que pode ser vista na tabela 6. Tabela 6 – Total da remuneração com encargos Total da remuneração R$29.199,90 (+) 35,80% de encargos R$ 10.453,56 Total da remuneração com encargos R$ 39.653,46 Se fizer a divisão da remuneração anual pela quantidade de horas trabalhadas obterá o valor total de remuneração de uma hora que, no exemplo corrente, será de R$19,88 (R$40.091,46 / R$1.994,66). Ou seja: o valor dos encargos que deverá se acrescido ao do salário corresponderá a 98,8%. – 87 – Mão de obra como componentes de custos Outros encargos podem surgir para a empresa que não foram considera- dos no percentual de 98,8%. 2 O funcionário poderá receber um abono correspondente à nego- ciação de suas férias: dos 30 dias a que faz jus goza 20 e traba- lha 10 dias ou até 20, recebendo uma remuneração relativa aos 10 dias trabalhados. 2 Na maioria dos casos o trabalhador é dispensado com aviso prévio de duas horas de trabalho por dia, durante 25 dias. Tem-se, por- tanto, 50 horas não remuneradas (2h . 25 dias) que correspondem a seis dias não trabalhados (50 horas mês/8 horas dia). 2 Na hipótese de dispensa sem justa causa incide, ainda, o pagamento de 50% do valor do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. 2 Em aditamento à remuneração normal, as empresas pagam um adi- cional pelas horas que excederem as 44 semanais. 2 A Justiça do Trabalho tem considerado que o tempo de locomo- ção do funcionário, quando realizado por veículo pertencente ao empregador, é considerado como horário normal de trabalho (horá- rio in itinere). 2 Durante a produção pode ocorrer desperdício de tempo, como falta temporária de materiais, estrangulamentos da produção, fato- res climáticos, desarranjos de máquinas etc. A partir dessas constatações fica clara a necessidade de analisar as carac- terísticas de cada empresa. As atividades de estudo de tempos e movimentos estão normalmente incluídas na função da engenharia industrial. Os engenheiros de estudo de tempos e movimentos são responsáveis pelo estabelecimento de salários- -tarefas cooperando com o departamento de pessoal e da contabilidade. Contabilmente, porém, é possível adotar os seguintes critérios para apropriar os custos decorrentes do aviso prévio, horas extras e tempo ocioso etc.: Gestão de Custos – 88 – 2 Se for possível mensurar com precisão a que produto pertencem os gastos, atribuir-se aqueles gastos diretamente àquele produto. As horas extras, por exemplo, que são despendidas e podem ser atribuídas aos produtos que estão sendo fabricados no momento da sua ocorrência. 2 Considerar como custos indiretos de produção, pois dificilmente será possível identificá-los com serviços específicos. 2 Alternativamente, tecnicamente e possível serão excluídos inteira- mente do custo dos produtos sendo, então, tratados como despesas do período. 4.6 Composição dos encargos – para uma empresa de pequeno porte Em termos de mão de obra é possível distinguir uma categoria de empresas que podem ser menos oneradas com encargos sociais, a partir das seguintes constatações, entre outras: 2 Existência de poucos funcionários e baixa rotatividade. 2 Inocorrência de absenteísmo, e normalidade de frequência e assi- duidade. 2 Desnecessidade de substituição, em caso de férias (outro funcioná- rio, da própria empresa, sem prejuízo da execução de suas próprias atividades, consegue realizar, cumulativamente o serviço do funcio- nário ausente). 2 Inexistência ou incidência diminuta de licenças para tratamento de saúde e outras licenças. 2 Baixa incidência de horas extras. Tome-se, por exemplo, uma empresa que trabalhe na área de consultoria. Para fins de cálculos, destaque-se um desses consultores, oferecendo o seguinte sumário: – 89 – Mão de obra como componentes de custos 2 Contrato mensal de trabalho de oito horas por dia de segunda a sexta-feira, perfazendo 40 horas semanais; 2 Remuneração mensal de R$1.751,00. 2 Base de cálculo para o desconto previdenciário da parte do empregado: R$832,66, à alíquota de 10%. 2 Imposto de Renda retido na fonte, já calculado, com a aplicação da tabela progressiva: R$177,91. 2 Contribuição do empregado para plano de saúde: R$100,00. 2 Durante suas férias não haverá necessidade de substituição, pois: 2 gozará 20 dias de férias e trabalhará 10, percebendo o abono correspondente; 2 suas atividades, durante os vinte dias de ausência, serão exer- cidas por outros consultores existentes na própria empresa. Essa circunstância exigirá trabalho extraordinário de duas horas de consultor por dia de ausência. As horas extras são remuneradas em 100%. 2 Alimentação terceirizada. Serão fornecidos 22 vales refeição ao mês a um custo unitário de R$4,00. 4.6.1 Contabilização do custo da mão de obra A partir dos dados acima enumerados, contabiliza-se a folha de paga- mentos pelo regime de competência, considerando a ocorrência dos custos no período do fato gerador e pagamento em período seguinte (foram desconsi- derados os centavos ou efetuou-se arredondamentos). Os números que estão entre parênteses representam a partida em determinada conta e, ao mesmo tempo, contrapartida em outra conta. (1) Mão de obra (2) Salário a pagar (3) INSS a pagar (2) R$1.751,00 (3) R$83,27 R$1.751,00 (1) R$83,27 (2) Gestão de Custos – 90 – (3) R$486,78 (4) R$100,00 R$486,78 (1) (6) R$140,08 (5) R$177,91 (7) R$145,92 (8) R$48,64 (9) R$40,57 (10) R$13,52 (11) R$11,67 (12) R$3,89 (13) R$88,00 (14) R$48,64 (14) R$16,21 (15) R$49,74 (16) R$13,83 (17) R$3,98(T) R$2.862,47 (4) Plano de saúde a pagar (5) IRRF a pagar (6) FGTS a pagar R$100,00 (2) R$177,91 (2) R$140,08 (1) (7) Prov. pgto 13.° sal. (8) Prov. pgto 1/3férias (9) Prov. pgto INSS 13.° R$145,92 (1) R$48,64 (1) R$40,57 (1) (10) Prov. pgto INSS 1/3 (11) Prov. pgto FGTS 13°. (12) Prov. pgto FGTS 1/3 R$13,52 (1) R$11,67 (1) R$13,89 (1) – 91 – Mão de obra como componentes de custos (13) Alimentação a pagar (14) Prov. pgto a bon. férias (15) Prov. pgto hrs extra 3 R$88,00 (1) R$48,64 (1) R$49,74 (1) R$16,21 (1) (16) Prov. pgto INSS hrs. extra (17) Prov. pgto FGTS hrs. extra R$13,83 (1) R$3,98 (1) 4.6.1.1 Notas explicativas e memória de cálculo da mão de obra 2 Conta 1 – essa conta é a síntese do custo da mão de obra que totalizou, ao final, R$2.862,47 correspondentes às contrapartidas das obrigações relativas a salários. Assim, um salário mensal contra- tual de R$1.751,00 gera encargos sociais e trabalhistas no valor de R$1.111,47, ou seja, de 63,48%. 2 Conta 2 – o contrato de trabalho do consultor prevê salário mensal bruto de R$1.751,00. Desse valor, porém, deduz-se sua contribui- ção previdenciária R$83,27 (10% sobre R$832,66), sua contribui- ção ao plano de saúde no valor de R$100,00 e o Imposto de Renda de R$177,91, retido da fonte, segundo a tabela progressiva. Assim, seu salário líquido será de R$1.389,82. 2 Conta 3 – essa conta sintetiza as contrapartidas da contribuição previ- denciária descontada do empregado (R$83,00) e a devida pela empresa de R$486,78 (27,8% de R$1.751,00). 2 Conta 4 – essa conta representa as obrigações da empresa com o plano de saúde. 2 Conta 5 – essa conta sintetiza o débito que a empresa possui junto à Receita Federal a partir dos descontos que realizou dos salários dos empregados. Gestão de Custos – 92 – 2 Conta 6 – representa a contribuição da empresa para com o Fundo de Garantia (8% de R$1.751,00). 2 Conta 7 – o 13.º salário corresponde ao valor de um salário mensal, representado, em cada mês, 1/12 do valor anual (R$1.751,00/12 = R$145,92). 2 Conta 8 – um terço do salário mensal é R$583,67 (R$1.751,00/3). Esse valor rateado em 12 meses representa R$48,64 por mês. 2 Conta 9 – sobre o 13.º salário incidem os encargos sociais (27,8% de R$145,92 = R$40,57). 2 Conta 10 – sobre o terço de férias incidem os encargos sociais (27,8% de R$48,64 = R$13,52). 2 Conta 11 – sobre o 13.º salário incide FGTS (8% de R$145,92 = R$11,67). 2 Conta 12 – sobre o terço de férias incide FGTS (8% de R$48,64 = R$3,89). 2 Conta 13 – a empresa fornece vale alimentação que adquire junto a empresas especializadas montando em uma obrigação de R$88,00 (22 dias . R$4,00 ao dia). 2 Conta 14 – como é facultado converter 1/3 do período de férias, todos os meses há necessidade de provisional 1/12 do abono de férias (R$1.751,00/12/3 = R$48,64). Sobre o abono incide um terço de férias (R$48,64/3 = R$16,21). Sobre o abono de férias não incidem encargos e FGTS. 2 Conta 15 – durante as férias de um consultor os demais exercem, cumulativamente, as atividades do ausente. Há, todavia, necessidade do desenvolvimento de duas horas extraordinárias por dia, com acrés- cimo de 100%. Serão 15 dias úteis vezes duas horas por dias perfazendo 30 horas. O consultor do qual estamos projetando os custos recebe R$1.751,00 por mês. Como trabalha, em média, 22 dias no mês e oito horas por dia, trabalha 176 horas por mês. R$1.751,00 divi- dido por 176 horas resulta em R$9,95 a hora. Como existe a adição de 100%, o custo da hora extraordinária é de R$19,90 que mul- – 93 – Mão de obra como componentes de custos tiplicado por 30 horas perfaz R$596,93 no ano. Como o exem- plo envolve um mês, há necessidade de calcular 1/12 desse valor (R$596,93/12 = R$49,74). 2 Conta 16 – incidem encargos sobre as horas extras (27,8% sobre R$49,74 = R$13,83). 2 Conta 17 – incide FGTS sobre as horas extras (8% de R$49,74 = R$3,98). 4.7 Composição dos encargos – para empresas enquadradas no sistema simplificado Relativamente aos encargos previdenciários, a Lei Complementar Fede- ral 123, de 14 de dezembro de 2006, instituiu tratamento diferenciado às microempresas e empresas de pequeno porte. Por essa lei, consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário que: Art 3.º [...] I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e(Redação dada pela Lei Complementar nº 139, de 2011 II - no caso das empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calen- dário, receita bruta superior a R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). (Redação dada pela Lei Complementar nº 139, de 2011) Para as finalidades da lei, considera-se receita bruta o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta própria, o preço dos serviços pres- tados e o resultado nas operações em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos. O tratamento diferenciado de que trata a lei em questão corresponde a um regime especial unificado de arrecadação de tributos e contribui- ções devidos pelas microempresas e empresas de pequeno porte – Simples Nacional – permitindo que as empresas enquadradas recolham, em docu- mento único, entre outros, os seguintes impostos e contribuições: Gestão de Custos – 94 – 2 Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (substituição parcial). 2 Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL. 2 Contribuição para os Programas de Integração Social e de Forma- ção do Patrimônio do Servidor Público – PIS/PASEP. 2 Contribuição para Financiamento da Seguridade Social – COFINS. 2 Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. 2 Contribuição para a Seguridade Social (INSS), a cargo da pessoa jurídica. 2 As contribuições destinadas ao Sesc, Sesi, Senai, Senac, Sebrae, Salário-educação e contribuição sindical patronal. 2 Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Inter- municipal e de Comunicação; 2 Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Dessa forma, a empresa recolherá a título de previdência social em sua GPS, apenas o valor descontado de seus empregados, estando, portanto, excluídos da obrigação de recolhimento a contribuição patronal de 20% sobre a folha de pagamento, 20% sobre a remuneração paga ou creditada aos empresários e autônomos, seguro acidente de trabalho e terceiros (Senai, Sesc, Sebrae etc.). Para fins de esclarecimento, o Simples poderá incluir o ICMS e o ISS, desde que a unidade federada ou o município em que esteja estabelecida a empresa venha a ele aderir mediante convênio. Resumindo, o Simples é um sistema integrado de pagamento de impos- tos e contribuições das microempresas e das empresas de pequeno porte e representa um sistema de tributação que substitui impostos e contribuições federais por um único imposto para micros e pequenas empresas. Leis Federais e Instruções Normativas da Secretaria da Receita Federal regulamentam as faixas de receita bruta e os percentuais de enquadramento das micro e pequenas empresas2. Desde 2011, o limite para enquadramento 2 As alterações de faixas e valores são constantes. É necessário, por isso, que as tabelas sejam sempre revistas a partir da edição das citadas Instruções Normativas da Receita Federal e de no- vas leis que têm sido editadas. As tabelas que estão sendo apresentadas referem-se às instituídas pela Lei Complementar n° 139, de 2011. – 95 – Mão de obra como componentes de custos como microempresa é de um faturamento de R$360.000,00 anuais. Já em relação à de pequeno porte o limite é de R$3,6 milhões anuais. As taxas referentes aos diversos tributos da União são variáveis e são apli- cadas sobre a receita bruta auferida pelas empresasenquadradas atendendo uma faixa de faturamento. A tabela 7 apresenta os percentuais devidos por uma Microempresa – ME e a tabela 8 apresenta os percentuais exigidos pelas Empresas de Pequeno Porte – EPP. Tabela 7 – Faixa de faturamento para as Microempresas – ME Faixa da receita bruta % aplicável Até R$180.000,00 4,00% De R$180.000,01 a R$360.000,00 5,47% Tabela 8 – Faixa de faturamento para as Empresas de Pequeno Porte – EPP Faixa da receita bruta % aplicável De R$360.000,01 a R$540.000,00 6,84% De R$540.001,01 a R$720.000,00 7,54% De R$720.001,01 a R$900.000,00 7,60% De R$900.000,01 a R$1.080.000,00 8,28% De R$1.080.000,01 a R$1.260.000,00 8,36% De R$1.260.000,01 a R$1.440.000,00 8,45% De R$1.440.000,00 a R$1.620.000,00 9,03% De R$1.620.000,01 a R$1.800.000,00 9,12% De R$1.800.000,01 a R$ 1.980.000,00 9,95% De R$1.980.000,01 a R$2.160.000,00 10,04% De R$2.160.00,01 a R$ 2.340.000,00 10,13% Gestão de Custos – 96 – De R$2.340.000,01 a R$2.520.000,00 10,23% De R$2.520.000,01 a R$2.700.000,00 10,32% De R$2.700.000,01 a R$2.880.000,00 11,23% De R$2.880.000,01 a R$3.060.000,00 11,32% De R$3.060.000,01 a R$3.240.000,00 11,42% De R$3.240.000,01 a R$3.420.000,00 11,51% De R$3.420.000,01 a R$3.600.000,00 11,61% Os percentuais referidos nas tabelas valem para as empresas mercantis. Se a empresa for industrial, a alíquota (taxa) correspondente deverá ser acres- cida de 0,5%, a título de IPI. A taxa deverá ser majorada em 50% se 30% ou mais da receita bruta da empresa for proveniente de prestação de serviços. Assim, por exemplo, se a empresa da faixa correspondente ao faturamento de até R$180.000,00 for industrial, a taxa será de 4,5% (4,0% mais 0,5%). Se não for exclusivamente industrial a taxa será de 6% (4,0% mais 50%). 4.7.1 Exemplos de cálculos de custos de mão de obra Para apurar o custo da mão de obra, como se viu, é necessário calcular os encargos sociais e previdenciários. São encargos sociais as contribuições para com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e as contribuições para terceiros (Sesi, Sebrae, Senai etc.). São encargos trabalhistas os valores relativos a férias, ao 13.º salário, ao descanso semanal remunerado etc. Os exemplos que serão apresentados a seguir referem-se apenas aos encargos sociais e trabalhistas básicos, não se levando em consideração, por- tanto, os diversos benefícios concedidos ao trabalhador como vale-transporte, vale-refeição etc. Os cálculos para o Descanso Semanal Remunerado (DSR) – 97 – Mão de obra como componentes de custos serão realizados sobre uma jornada semanal de 44 horas de trabalho, o que equivale a um dia por semana, correspondente a 1/6 da remuneração prevista para 50 semanas por ano, divididas por 12 meses. Não estão inclusas também as provisões para aviso prévio e auxílio-doença. 1.º exemplo: cálculo sobre salário de um mensalista de uma empresa não optante do simples. 13.º salário 8,33% Férias 11% INSS 20,00% SAT/até 3,00% Salário educação 2,50% Incra/Senai/Sebrae 3,30% FGTS 8,00% FGTS/Provisão de multa – Rescisão 4,00% Total previdenciário 40,80% Previdenciário sem 13.º e férias 7,93% Total 68,17% Conclui-se, em decorrência, que a cada R$1.000,00 de salário que um trabalhador recebe devem ser adicionados R$681,17 a título de encargos. O valor da mão de obra, portanto, será de R$1.681,17, se a empresa não for optante do Simples. 2.º exemplo: cálculo sobre salário de um mensalista de uma empresa optante do Simples. 13.º salário 8,33% Férias 11,11% INSS 0,00% SAT/até 0,00% Salário educação 0,00% Incra/Senai/Sebrae 0,00% FGTS 8,00% FGTS/Provisão de multa – Rescisão 4,00% Gestão de Custos – 98 – Total previdenciário 12,00% Previdenciário sem 13.º e férias 2,33% Total 33,77% Conclui-se, em decorrência, que a cada R$1.000,00 de salário que um tra- balhador recebe devem ser adicionados R$337,70 a título de encargos. O valor da mão de obra, portanto, será de R$1.337,70, se a empresa for optante do Simples. 3.º exemplo: cálculo sobre salário de um horista de uma empresa não optante do Simples. 13.º salário 9,75% Férias 13,00% Descanso Semanal Remunerado 16,99% INSS 20,00% SAT/até 3,00% Salário educação 2,50% Incra/Senai/Sebrae 3,30% FGTS 8,00% FGTS/Provisão de multa – Rescisão 4,00% Total previdenciário 40,80% Previdenciário sem 13.º e férias 16,21% Total 96,75% Como se observa essa hipótese exige o cálculo do Descanso Semanal Remunerado (DSR) e se pode concluir que a cada R$10,00 de salário que um trabalhador recebe devem ser adicionados R$9,68 a título de encargos. O valor da mão de obra, portanto, será de R$19,68 se a empresa não for optante do Simples. 4.º exemplo: Cálculo sobre salário de um horista de uma empresa optante do Simples 13.º salário 9,75% Férias 13,00% Descanso Semanal Remunerado 16,99% INSS 0,00% – 99 – Mão de obra como componentes de custos SAT/até 0,00% Salário educação 0,00% Incra/Senai/Sebrae 0,00% FGTS 8,00% FGTS/provisão de multa – Rescisão 4,00% Total Previdenciário 12,00% Previdenciário sem 13.º e férias 4,77% Total 56,51% Nessa hipótese também deve ser acrescido o DSR e a conclusão é a de que a cada R$10,00 de salário que um trabalhador recebe devem ser adicio- nados R$5,65 a título de encargos. O valor da mão de obra, portanto, será de R$15,65 se a empresa for optante do Simples. Conclusão A Mão de obra Direta (MOD) corresponde aos esforços dos trabalhado- res relacionados à produção de bens e serviços. Refere-se, portanto, ao pessoal que trabalha diretamente na produção. As empresas recebem dos seus funcionários uma contribuição produtiva durante o tempo de trabalho, pagando por ela, além do tempo trabalhado, o tempo não trabalhado e as obrigações de caráter social (Previdência, FGTS, salário educação, acidentes de trabalho etc.). Em decorrência, na análise dos custos da mão de obra direta devem ser considerados, obrigatoriamente, os encargos sociais e trabalhistas incidentes sobre os salários que, como se viu, no Brasil, em muitos casos, ultrapassa o valor do salário contratado. Ampliando seus conhecimentos Todos os autores de obras de custos dão especial valor à temática mão de obra direta. A complementação dos estudos relativos a esse tema pode ser realizada estudando o capítulo Gestão de Custos – 100 – 10 de Contabilidade de Custos do professor Eliseu Martins, 9 ed. São Paulo: Atlas, 2003. As profissões do futuro (PASTORE, 1994) Hoje estou em Washington visitando o Centro de Estatísticas do Trabalho, onde tenho vários encontros com técnicos do Departamento de Projeções Ocupacionais. São profissionais que dominam uma metodologia poderosa e que permite saber quais serão as oportunidades de trabalho para os americanos no ano de 2005. O meu interesse é aprender essa metodologia e tentar “acli- matizá-la” no Brasil. Dados desse tipo são fundamentais para o planejamento educacional. Escrevi este artigo antes de viajar. Fiz-o como um mero exercí- cio de especulação. Quais serão as ocupações mais deman- dadas daqui a 10 anos no Brasil? Em que setores? Aí vão algumas ideias baseadas nas seguintes hipóteses: (1) a eco- nomia brasileira se mantém estável; (2) os investimentos de capitais nacionais e estrangeiros no setor produtivo chegarão a uns US$ 40 bilhões por ano; (3) o custo médio de um emprego ficará em torno de US$25.000. Esse Brasil deverá gerar uns 20 milhões de novas posições de trabalho até o ano 2005. A oferta será maior no setor de comércio e serviços que absorverá uns 62% da força de traba- lho: a indústria responderá por 22% e agropecuária 16%. Por- tanto, dos 20 milhões de posições a serem criadas, 12,4 serão no comércio e serviços; 4,4 na indústria; e 3,2 na agricultura. Dentro do comércio e serviços, o que promete crescer mais são as profissões nos campos da saúde, educação, hospe- dagem, alimentação, lazer, seguros, administração, corretagem imobiliária, compra e venda – em especial, via telefone, TV, – 101 –Mão de obra como componentes de custos fax e modem e uma forte procura por profissionais ligados ao comércio internacional. Deverá crescer a demanda por administradores, técnicos e profissionais liberais diminuindo, porém, a necessidade por chefes intermediários e pessoal de apoio administrativo de baixa qualificação (datilógrafos, telefonistas, serviços gerais). No campo da informática crescerá a procura por cientistas, engenheiros e analistas de sistema e demais profissões ligadas ao uso do computador como instrumento de diversificação de produção, melhoria da qualidade, aumento da produtividade e atendimento à educação e saúde. Haverá um decréscimo de demanda para programadores e processadores de texto, gráficos e cálculos, pois com a sofisticação dos software, o usuário fará tudo sozinho. No setor financeiro, espera-se um grande declínio dos pro- fissionais que hoje operam as agências bancárias, pois estas tenderão a desaparecer. Isso envolve caixas, atendentes, telefonistas, pessoal, auxiliar de administração e até mesmo profissionais de venda. Todos eles serão rapidamente substitu- ídos pelo banco eletrônico e pelos “cartões inteligentes” que tomam decisões pelos clientes. Aumentará demanda pelos profissionais altamente qualificados que sustentam a retaguarda dos bancos: administradores, analistas, estrategistas, relações públicas etc. De um modo geral, tenderão a aumentar as profissões que envolvam contato com outras pessoas – agentes de viagens e de seguros, recepcionistas de hotel, garçons, mâitres, profes- sores, advogados, assistentes sociais, enfermeiros, paramédi- cos e profissionais que trabalham com crianças e velhos. Na indústria, o subsetor mais promissor será a construção civil e pesada, voltada para a infraestrutura. O restante do setor deverá aumentar muito a sua produtividade, gerando poucos empregos em relação ao capital investido. Antecipa-se um Gestão de Custos – 102 – declínio da demanda para a maioria das profissões de baixa qualificação e um aumento de procura por técnicos eletrô- nicos, eletricistas, encanadores, mecânicos, frezadores, mar- ceneiros e outros, todavia, deslocados para a manutenção de equipamentos de produção e administração, assim como aparelhos de uso doméstico. Na agropecuária, pesca e mineração haverá forte decréscimo de oportunidades de trabalho, exceto para os profissionais que lidam com jardinagem, ornamentação e proteção ambien- tal, inclusive de animais. O futuro exigirá profissionais competentes, multifuncionais, alertas, curiosos que precisarão ter passado por uma educação que lhes tenha equipado com lógica de raciocínio, compreen- são dos processos, capacidade de transferir conhecimentos, prontidão para antecipar e resolver problemas, conhecimento de línguas, habilidade para tratar pessoas e trabalhar em equipe. Ou seja, um tipo de educação que dá às pessoas as condições de aprenderem continuamente. Tudo isso ainda é mera especulação. Os que desejam dados mais robustos terão de esperar a minha volta... e, daqui alguns anos, a implantação no Brasil da metodologia das projeções ocu- pacionais. Mas uma coisa é certa. No mundo do futuro, haverá muito poucas oportunidades para a mão de obra desqualificada. Atividades de aplicação 1. Determinar, sem considerar as contribuições sociais e trabalhistas, o valor das contas de Provisão para 13.º salário e Provisão para Férias, no dia 30 de novembro do ano de X1, considerando-se um empre- gado admitido em 1.º de maio de X1, com um salário mensal de R$1.500,00 que sofre reajuste no início de cada trimestre civil, na base de 3% em cada um deles. – 103 – Mão de obra como componentes de custos 2. Calcular o custo total, por hora, do salário de trabalhador contratado por R$50,00/hora, considerando os seguintes dados: 2 mês de 220 horas; 2 dias de duração do ano – 365 dias; 2 domingos – 52 dias; 2 feriados e dias santificados – 8 dias; 2 faltas abonadas – 5 dias; 2 férias – 30 dias; 2 13.º salário; 2 FGTS – 8%; 2 INSS e terceiros – 25,2%; 2 Seguro de Acidente de Trabalho – 2%. 3. Uma empresa reajusta os salários em 5% nas datas 01/01 e 01/07 de cada ano para os empregados que possuírem seis meses de serviço. Qual será o valor a ser pago a título de 13.º salário e de férias in- cluindo o abono de 1/3, a um empregado desligado em 10/07/X2, se ele foi admitido em salário de R$1.000,00 em 18/05/X1 e se foram pagos os direitos que lhes eram devidos em 31/12/X1? 4. As informações e dados de determinado mês colhidas na Cia ALFA são os seguintes: 1. No setor de produção trabalham quatro pessoas. 2. As horas médias trabalhadas, por pessoa, são de 240 horas por mês. 3. O valor da folha de pagamento mensal monta em R$800,00. 4. Os percentuais de encargos sociais e trabalhistas incidentes sobre a folha são os seguintes: 2 INSS – 23%; Gestão de Custos – 104 – 2 FGTS – 8%; 2 13.º salário – 14%; 2 férias – 14%; 2 faltas abonadas – 6%. Elabore o orçamento da folha de pagamento e o custo de uma hora de trabalho para determinado mês. 5. Com os dados da atividade 4, calcule o custo de mão de obra direta que deve ser atribuído para a fabricação de uma mesa informando-se que o tempo gasto na fabricação da cadeira é de 10 minutos. 6. Verifique os dados a seguir: Encargos sobre salários Encargos adicionais INSS 20,0% Descanso semanal remunerado 52 Salário educação 2,5% Feriados e dias santificados 11 Incra 0,2% Faltas abonadas 03 Senai 1,0% Férias (20 dias - domingos) 18 Sesi 1,5% (=) dias não trabalhados 84 Sebrae 0,6% Acidente trabalho 2,0% Total dias do ano 365 SUBTOTAL 27,8% Dias não trabalhados 84 FGTS 8,0% (=) dias trabalhados 281 TOTAL 35,8% Considere as informações abaixo: a. 220 horas de trabalho por mês; – 105 – Mão de obra como componentes de custos b. pagamento de 13.º salário; c. pagamento de 1/3 de férias; d. negociação de 10 dias de férias. Determine qual o percentual de encargos incidente sobre um salário de R$1,00 a hora. Custos indiretos de fabricação Introdução Para Ferreira (2007, pg. 62) “[...] a contabilização dos cus- tos indiretos de fabricação é um dos instrumentos gerenciais fun- damentais em uma empresa que fabrique dois ou mais produtos.” Já Megliorini (2002) afirma que com a redução gradativa da mão de obra direta e com a substituição por atividades automa- tizadas, tais custos vêm aumentando a sua participação nos custos totais e, por consequência, no custo dos produtos. Dessa forma esses custos merecem destaque e um estudo mais aprofundado, para que seu impacto possa ser corretamente mensurado. A palavra mensurar significa detalhar algum processo, definir algo com detalhes. Em contabilidade mensurar está relacionado à definição do valor de algo. 5 Gestão de Custos – 108 – 5.1 Composição dos custos indiretos de fabricação Os custos indiretos, segundo Padoveze (2003), têm como característica básica o caráter genérico e não específico aos produtos finais, sendo que sua relação com os produtos finais existe, mas de forma indireta. O autor cita como exemplos de custos indiretos os gastos com gerências ou diretorias da fábrica, pois essas pessoas trabalham genericamente para todos os produtos da fábrica, e não especificamente para um produto da empresa. Megliorini (2002) subdivide os Custos Indiretos de Fabricação (CIF) em três grupos: a. Materiais indiretos – são materiais auxiliares empregados no processo produtivo, podem ser aqueles que não integram fisicamente os pro- dutos ou que não têm medição de consumo nos produtos. Padoveze (2003) cita que os materiais indiretos podem se dividir em duas cate- gorias: os utilizados pelos equipamentos e os utilizados pelo pessoal envolvido nas operações e atividades econômicas. O primeiro tipo engloba os materiais consumidos para a conservação e manutenção dos equipamentos como por exemplo, materiais de limpeza, conser- vação, peças de reposição. Existem ainda, nesta categoria, osmateriais consumidos para a conservação e manutenção dos imóveis, como tin- tas, pequenas reformas, entre outros. Os materiais consumidos para a utilização dos equipamentos, por sua vez, são representados por com- bustíveis, lubrificantes, entre outros, e por fim, existem os materiais consumidos para auxílio às operações dos equipamentos, como por exemplo, moldes, dispositivos, ferramentas, produtos químicos. A outra categoria de materiais indiretos, que são aqueles utilizados pelo pessoal envolvido nas operações e atividades industriais, são os mate- riais de expediente, representados por papéis e materiais de escritório, e os materiais para higiene e segurança, como óculos, capacetes, mate- riais higiênicos e de limpeza; A seguir um quadro que sintetiza o tipo de indústria e os exemplos mais comuns de materiais indiretos. Quadro 1 – Indústria e produtos finais e principais materiais indiretos Açúcar e álcool Óleo combustível, lenha, bagaço; Móveis de madeira Álcool, tiner, produtos químicos, martelos, serras e ferramentas; – 109 – Custos indiretos de fabricação Tecidos Agulhas, ar comprimido, lançadeiras, espuladeiras; Confecções Agulhas, tesouras, modelos, medidores; Rodas de aço Óleo de corte, ferramentas, produtos de tra-tamento térmico, moldes, ferramentas; Pneus Moldes, ferramentas; Veículos Dispositivos, ferramentas de montagem; Louças Combustíveis, moldes, modelos. b. Mão de obra indireta – é aquela que não trabalha diretamente na trans- formação da matéria-prima, ou que não pode ser identificada a deter- minado produto. Segundo Padoveze (2003) a mão de obra indireta é caracterizada por não ser exclusiva de um produto ou mais produtos finais e por trabalhar para determinadas atividades de apoio à fabrica. Os esforços de trabalho, mesmo que direcionados a um produto, não podem ser considerados repetitivos. Assim os profissionais, que são considerados como mão de obra indireta, trabalham para as atividades dos setores e para departamentos de apoio à produção e não de forma direta para os produtos finais. A seguir um quadro que evidencia os principais departamentos indiretos e os profissionais que atuam nesses departamentos e que são configurados como mão de obra indireta. Quadro 2– Setores/Departamentos de apoio à fábrica e tipos de mão de obra indireta Setor/Departamento Mão de obra indireta Diretoria/gerência industrial Diretores, gerentes, chefes, assesso- res, secretarias, escriturários; Engenharia de produto Engenheiros, desenhistas, projetis- tas, arquivistas, modelistas; Engenharia da fábrica Engenheiros, processistas, cronometristas; Planejamento e controle da produção Planejadores, administradores, controladores, aponta- dores de tempo; Suprimentos Compradores, engenheiros de desen- volvimento de fornecedores; (Fonte: PADOVEZE, 2003. Adaptado.) Gestão de Custos – 110 – Estoques Escriturários, movimentadores de carga, motoristas, empilhadeiristas; Controle de qualidade Auditores de qualidade, auditores de normas ISO; Manutenção Mantenedores de máquinas, pedrei- ros, eletricistas, encanadores; Ferramentas e modelação Ferramenteiros, modeladores. c. Outros custos indiretos – todo e qualquer outro custo indireto ocorrido na fábrica e que não possam ser identificados aos produ- tos. Exemplos: energia elétrica, água, aluguéis, arrendamento de equipamentos industriais, serviços prestados por terceiros. 5.2 Depreciação A depreciação é um componente bastante analisado no que diz respeito à contabilidade de custos. Segundo Padoveze (2003), alguns autores tendem a classificar os gastos com depreciação, amortização e exaustão como gastos indiretos ou custos indiretos de fabricação. Entretanto o autor ressalta que com o atual ambiente tecnológico das indústrias há grande possibilidade de se classificar boa parte da depreciação como um custo direto, sendo que esse fato está ligado aos equipamentos industriais, uma vez que a depreciação de prédios e veículos tende a ser de utilização genérica. Assim dois fatores que possibilitam a contabilização como fator direto são: 2 Equipamentos utilizados exclusivamente para determinados produtos. Dessa forma, máquinas que trabalham para um só produto terão sua depreciação totalmente alocada de forma direta para aquele determinado produto. 2 Medição acurada do tempo gasto dos diversos equipamentos que trabalham para todos os produtos. Se o tempo for identificado na transformação das matérias-primas e dos componentes de cada produto, a depreciação poderá ser atribuída de forma direta. Assim a depreciação, em condições tecnológicas avançadas, pode ser atribuída de forma direta aos produtos. Porém a depreciação dos demais ati- vos permanentes utilizados pela fábrica, conforme Padoveze (2003, p. 53) (Fonte: PADOVEZE, 2003. Adaptado.) – 111 – Custos indiretos de fabricação será classificada como indireta, sendo que esta compreende principalmente os valores relativos à depreciação de: 2 Prédios industriais; 2 Instalações industriais; 2 Máquinas e equipamentos industriais de utilização genérica 2 Móveis e utensílios dos setores industriais diretos e de apoio à produção; 2 Veículos e equipamentos de transporte e movimentação de mate- riais a serviço à área industrial; 2 Equipamentos de computação das atividades diretas e de apoio à produção. 5.3 Estabelecimento de critérios de rateio A dificuldade de estabelecimento de um critério de rateio para os custos indiretos existe na definição de qual critério utilizar, uma vez que esse pro- cesso é subjetivo e pode ser até arbitrário. Alguns produtos podem ficar com valores super ou subavaliados, dependendo do critério utilizado. Para Ferreira (2007, p. 64) “A apropriação dos custos indiretos de fabri- cação dos diversos produtos constitui um dos principais aspectos estratégicos para uma empresa.” O autor ainda afirma que a apropriações feitas de forma inadequada podem prejudicar o comportamento de vendas ou até reduzir sua participação no mercado. Um exemplo ilustrativo, utilizando um critério de rateio pode ser acompanhado no exercício a seguir. Exemplo A Industrial Canarinho industrializa os produtos ALFA e BETA, apre- sentando em Março/2010, os seguintes gastos: Depreciação fábrica $65.000,00 Salário dos operários da fábrica $110.000,00 Matéria-prima consumida $530.000,00 Seguro da fábrica $25.000,00 Gestão de Custos – 112 – Seguro prédio administrativo $15.000,00 Honorários da diretoria $50.000,00 Manutenção da fábrica $35.000,00 Correios e telégrafos $5.000,00 Comissão s/vendas $10.000,00 Juros s/ financiamento $15.000,00 Despesas c/ veículos vendedores $12.000,00 Energia elétrica fábrica $40.000,00 Material de consumo escritório $25.000,00 Frete venda $15.000,00 $952.000,00 Dados adicionais O consumo de matéria-prima é controlado por meio de requisição, estando assim distribuída: Produto alfa - $300.000,00 Produto beta - $230.000,00 Total = $530.000,00 A mão de obra utilizada na fábrica, cujo controle se realiza por meio de cartões de apontamento, determina os seguintes valores neste mês: Mão de Obra Indireta (MOI) - $30.000,00 Mão de Obra Direta (MOD) - $80.000,00, sendo alo- cado a cada produto os valores: alfa $45.000,00 e produto beta $35.000,00. Passo a passo: 1. Efetuar a separação entre custos de produção e despesas: neste pri- meiro item, serão separados os custos e despesas, conforme concei- tos já vistos. 2 Custos – Gastos totais ocorridos durante o processo produtivo. Depreciação fábrica $65.000,00 Salário dos operários da fábrica $110.000,00 – 113 – Custos indiretos de fabricação Matéria-prima consumida $530.000,00 Seguro da fábrica $25.000,00 Manutenção fábrica $35.000,00 Energia elétrica fábrica $40.000,00 TOTAL $805.000,00 2 Despesas – Gastos ocorridos depois ou que não estão envolvidos no processo produtivo. Lembrando que as despesas não deverão ser rateadas. Seguro prédio administrativo $15.000,00 Honorários da diretoria $50.000,00 Correios e telégrafos $5.000,00Comissão s/vendas $10.000,00 Juros s/ financiamento $15.000,00 Despesas c/ veículos vendedores $12.000,00 Material de consumo escritório $25.000,00 Frete venda $15.000,00 TOTAL $147.000,00 2. Efetuar a apropriação dos custos diretos: após a separação dos cus- tos e despesas, deverá ser feita a apropriação dos custos diretos, que são aqueles que de alguma forma são identificados aos produtos. Para que um custo seja considerado direto é preciso que, como no exemplo, este seja indicado de alguma forma, aqui no caso a matéria-prima foi distribuída aos produtos Alfa e Beta por meio de requisição do almoxarifado, ou seja, à medida que foi consumida, já foi alocada ao respectivo produto. O mesmo processo ocorreu para a mão de obra direta que foi alocada por meio de aponta- mento aos dois produtos. Matéria-Prima produto alfa $300.000,00 Mão de Obra Produto alfa $45.000,00 Total custos diretos produto alfa $345.000,00 Gestão de Custos – 114 – Matéria-Prima produto beta $230.000,00 Mão de obra Produto beta $35.000,00 Total custos diretos produto beta $265.000,00 3. Efetuar a apropriação dos custos Indiretos, pelo critério da propor- cionalidade do custo direto, aos produtos alfa e beta. Aqui entra o critério de rateio escolhido, neste caso, o custo direto (Matéria-prima e mão de obra) 2 Cálculo do valor total dos custos diretos: Custos Diretos Alfa $345.000,00 Custos Diretos Beta $265.000,00 Total $610.000,00 2 Cálculo da proporcionalidade de cada produto: Custos Diretos Alfa – $345.000,00/610.000,00 = 57% (valor aproximado) Custos Diretos Beta – $265.000,00/610.000,00 = 43% (valor aproximado) 4. Efetuar a contabilização dos custos. 2 Custos indiretos a serem rateados: Depreciação fábrica $65.000,00 Salário dos operários da fábrica $30.000,00 Seguro da fábrica $25.000,00 Manutenção fábrica $35.000,00 Energia elétrica fábrica $40.000,00 Total a ratear $195.000,00 2 Cálculo da proporcionalidade de cada produto: Custos Indiretos Alfa – $195.000 * 57% = $111.150,00 Custos Indiretos Beta – $195.000 * 43% = $83.850,00 (dos $110.000,00 originais, 80.000,00 já foram identificados) – 115 – Custos indiretos de fabricação Tabela 1 – Apuração dos Custos – Critério dos Custos Diretos Produtos Matéria-prima Mão de Obra Direta Custos Indiretos de produção Total dos Custos Produto Alfa $300.000,00 $45.000,00 57% $456.150,00 $111.150,00 Produto Beta $230.000,00 $35.000,00 43% $348.850,00 $83.850,00 Totais $530.000,00 $80.000,00 $195.000,00 $805.000,00 Conforme observado, todos os custos foram atribuídos aos produtos, sendo que o produto Alfa por este critério custou $456.150,00 e o Beta $348.850,00. Para que seja entendida a subjetividade da escolha de um critério de avaliação, supondo que no mesmo exercício, fosse escolhido como critério de rateio o numero de horas trabalhadas em cada produto, sendo este valor determinado por um mapa de apuração das horas trabalhadas, ficando da seguinte forma: Horas trabalhadas para o produto Alfa – 50 horas Horas trabalhadas para o produto Beta – 30 horas Qual seria o novo valor dos custos? 2 Cálculo do valor total: Horas trabalhadas produto Alfa 50 horas Horas trabalhadas produto Beta 30 horas Total 80 horas 2 Cálculo da proporcionalidade de cada produto – horas trabalhadas: Horas trabalhadas produto Alfa – 50 horas = 63% (valor aproximado) Horas trabalhadas produto Beta – 30 horas/80 = 37% (valor aproximado) Gestão de Custos – 116 – 2 Cálculo da proporcionalidade de cada produto: Custos Indiretos Alfa – $195.000 * 63% = $122.850,00 Custos Indiretos Beta – $195.000 * 37% = $72.150,00 Tabela 2 – Apuração dos custos – Critério das horas trabalhadas Produtos Matéria-prima Mão de Obra Direta Custos Indiretos de produção Total dos Custos Produto Alfa $300.000,00 $45.000,00 63% $467.850,00 $122.850,00 Produto Beta $230.000,00 $35.000,00 37% $337.150,00 $72.150,00 Totais $530.000,00 $80.000,00 $195.000,00 $805.000,00 Ao observar os dois critérios de rateio, é possível concluir que o valor final total dos custos é o mesmo, porém os produtos têm seu custo alterado a cada critério escolhido, o que indica a subjetividade existente na escolha do critério de rateio. Quando o critério de rateio era o de custos diretos (matéria-prima e mão de obra) o produto Alfa havia custado $456.150,00 e o Beta $348.850,00. Já no critério das horas trabalhadas o Alfa custou $467.850,00 e o Beta $337.150,00. As mudanças nos valores aqui não foram tão significativas, porém poderiam influenciar alguma decisão a ser tomada em relação a esses produtos. E no caso de mudanças significativas, poderiam alterar a produção como um todo. 5.3.1 Algumas bases de rateio comumente utilizadas Como visto no exemplo anterior, qualquer base que seja utilizada como critério de rateio permitirá que se obtenha o valor do custo do produto. Porém, segundo afirma Megliorini (2002) a escolha desse critério precisa ter coerência para que os resultados obtidos não sejam distorcidos, sendo que o critério a ser empregado deverá ser escolhido com base em uma relação lógica – 117 – Custos indiretos de fabricação e adequada a cada tipo de negócio. No caso da utilização de bases incorretas de custo, ou que não sejam corretamente justificadas, o valor final do produto poderá ficar prejudicado, sendo subavaliado ou superavaliado, não refletindo, assim, a realidade. As seguintes bases podem ser utilizadas: a. No caso de aluguel, depreciação e impostos prediais, pode ser utili- zada a área ocupada pelos departamentos na fábrica; b. Para o rateio dos custos indiretos do departamento de adminis- tração da fábrica, pode ser utilizado o número de funcionários que ali trabalham; c. Para a energia elétrica pode ser utilizada potência instalada; d. No departamento de almoxarifado, as requisições de materiais podem ser utilizadas como base de rateio dos custos. Além desses, podem ser utilizados outros critérios, porém uma vez definidos pelo profissional de custos, estes deverão ser mantidos, evitando flutuações nos custos dos períodos de um período para o outro, o que acaba também com a possibilidade de comparações, criando confusão para quem analisará o comportamento desses custos (MEGLIORINI, 2002). A seguir uma lista das bases mais comuns utilizadas para o rateio dos custos: Quadro 3 – Bases de rateio comumente utilizadas Custos Base de Rateio Aluguel de fábrica Área Força de luz Área Depreciação Máquinas $ Seguros Máquinas $ Manutenção N.o de Máquinas Superintendência Empregados MOI Horas de MOD Materiais indiretos Produção (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) Gestão de Custos – 118 – Assim, conforme visto no quadro 3, pode ser usada para calcular o custo da parcela do aluguel da fábrica, a área que cada máquina que produz um determinado produto ocupa. Para seguros, por exemplo, pode ser consi- derado o número de máquinas seguradas e que são utilizadas para fabricar aquele determinado produto. Ampliando seus conhecimentos Custos diretos e indiretos - apuração Júlio César Zanluca Custos diretos É aquele que pode ser identificado e diretamente apropriado a cada tipo de obra a ser custeado, no momento de sua ocor- rência, isto é, está ligado diretamente a cada tipo de bem ou função de custo. É aquele que pode ser atribuído (ou identifi- cado) direto a um produto, linha de produto, centro de custo ou departamento. Não necessita de rateios para ser atribuído ao objeto custeado. Ou ainda, são aqueles diretamente incluí- dos no cálculo dos produtos. Exemplos de custos diretos: - Matérias-primas usadas na fabricação do produto; - Mão de obra direta; - Serviços subcontratados e aplicados diretamente nos produ- tos ou serviços. Os custos diretos tem a propriedade de ser perfeitamente men- suráveis de maneira objetiva. Os custos são qualificados aos portadores finais (produtos), individualmente considerados. Os custos diretos constituem todos aqueles elementos de custo individualizáveis com respeitoao produto ou serviço, isto é, se identificam imediatamente com a produção dos mes- mos, mantendo uma correspondência proporcional. Um mero – 119 – Custos indiretos de fabricação ato de medição é necessário para determinar esses custos. Apropriação dos custos diretos Para conhecer o consumo de materiais, basta a empresa man- ter um sistema de requisições, de modo a saber sempre para qual produto foi utilizado o material retirado do Almoxarifado. Para conhecer o consumo de mão de obra direta é preciso que a empresa mantenha um sistema de apontamentos, por meio do qual se verifica quais os operários que trabalham em cada produto (ou serviço) no período (dia, semana, mês) e por quanto tempo (minutos, horas). Nas empresas de serviços, normalmente se faz o acom- panhamento da ordem de serviço, anotando os custos alocados diretamente (mão de obra, materiais aplicados e serviços subcontratados). Custos indiretos Indireto é o custo que não se pode apropriar diretamente a cada tipo de bem ou função de custo no momento de sua ocorrência. Os custos indiretos são apropriados aos portado- res finais mediante o emprego de critérios pre-determinados e vinculados a causas correlatas, como mão de obra indireta, rateada por horas/homem da mão de obra direta, gastos com energia, com base em horas/máquinas utilizadas etc. Atribui-se parcelas de custos a cada tipo de bem ou função por meio de critérios de rateio. É um custo comum a diferentes tipos de bens, sem que se possa separar a parcela referente a cada um, no momento de sua ocorrência. Ou ainda, pode ser entendido como aquele custo que não pode ser atribuído (ou identificado) diretamente a um produto, linha de produto, centro de custo ou departamento. Necessita de taxas/critérios de rateio ou parâmetros para atribuição ao objeto custeado. São aqueles que apenas mediante aproximação podem ser atribuídos aos produtos por algum critério de rateio. Gestão de Custos – 120 – Exemplos: 1. Mão de obra indireta – é representada pelo trabalho nos departamentos auxiliares nas indústrias ou prestadores de serviços e que não são mensuráveis em nenhum pro- duto ou serviço executado, como a mão de obra de super- visores, controle de qualidade etc. 2. Materiais indiretos – são materiais empregados nas ativida- des auxiliares de produção, ou cujo relacionamento com o produto é irrelevante. São eles: graxas e lubrificantes, lixas etc. 3. Outros custos indiretos – são os custos que dizem respeito à existência do setor fabril ou de prestação de serviços, como depreciação, seguros, manutenção de equipamentos etc. Atividades de aplicação 1. Explique o seu entendimento em relação aos custos indiretos. Dê exemplos. 2. Pode-se afirmar que é aconselhável manter ou mudar a base de ra- teio na mensuração dos custos indiretos, mesmo sendo mantida há muito tempo? 3. Calcular o custo dos produtos, considerando quatro possíveis bases de rateio para os custos indiretos: a. Mão de obra direta b. Matéria-prima c. Custos diretos d. Tempo de fabricação Reproduza a tabela quatro vezes e indique qual a base utilizada. Valores: – 121 – Custos indiretos de fabricação Contas Produtos Total A B C Mão de obra direta $750.000 $125.000 $1.800.000 $2.675.000 Matéria-prima $890.000 $300.000 $5.000.000 $6.190.000 Total custo direto Custos Indiretos de Fabricação $720.000 Custo total Tempo de fabricação 200h 40h 500h 740h Obs.: utilizar valores aproximados (sem casas decimais) para o cálculo das proporções (%). 4. A empresa Industrial apresentou em determinado período os seguintes gastos para a produção dos seus três produtos A, B e C. Comissão de vendedores $100.000,00 Salário fábrica $140.000,00 Matéria-prima consumida $400.000,00 Salário da administração $120.000,00 Depreciação fábrica $85.000,00 Honorários da diretoria $50.000,00 Manutenção escritório $35.000,00 Material de expediente $5.000,00 Manutenção fábrica $30.000,00 Juros s/ financiamento $30.000,00 Embalagem diversas produção $15.000,00 Energia elétrica fábrica $55.000,00 Uniformes e equipamentos fábrica $40.000,00 Frete de venda $12.000,00 TOTAL $1.117.000,00 Gestão de Custos – 122 – O consumo de matéria-prima é controlado por meio de requisição, estando assim distribuída: 2 Produto A $180.000,00 2 Produto B $95.000,00 2 Produto C $125.000,00 Quanto à mão de obra, pelos apontamentos da empresa, constataram- -se os seguintes valores: 2 Mão de Obra Indireta (MOI) - $20.000,00 2 Mão de Obra Direta (MOD) - $120.000,00, assim dis- tribuídos: Produto A $48.000,00, produto B $27.000,00 e produto C $45.000,00. Venda de sua produção por $1.378.000,00 Pede-se: a. Efetuar a separação entre custos de produção e despesas; b. Efetuar a apropriação dos custos diretos por produto; c. Efetuar a apropriação dos custos indiretos aos produtos, obser- vando os seguintes critérios: proporcional ao custo direto dos pro- dutos e proporcional à mão de obra direta alocada aos produtos; Obs: utilizar valores aproximados (sem casas decimais) para o cál- culo das proporções (%). d. Efetuar a contabilização dos custos nos dois critérios de rateio. Departamentalização Introdução Para Padoveze (2003, p. 99) “[...] o sistema de contabilidade é normalmente utilizado para obter gastos gerais de fabricação.” Originariamente, os gastos são classificados em contas contábeis, classificando as despesas que a empresa tem. Porém para a Conta- bilidade de Custos essa classificação é insuficiente, sendo necessária então a distribuição, por setor, atividade ou departamento. 6 Gestão de Custos – 124 – Segundo Megliorini (2002) quando não se departamentaliza a estrutura empresarial no processo de distribuição e apropriação dos Custos Indiretos de Fabricação (CIFs) encontra-se uma estrutura mais simplificada para apropriação. No caso de serem utilizados departamentos, há uma distribuição mais racional, pois inicialmente são distribuídos os valores a uma conta específica e, na sequência, esses valores são transportados aos departamentos, sendo então, absorvidos pelos produtos finais. Como já visto, essa é a maneira mais simplificada de distribuição dos CIFs, na qual os valores são acumulados em uma única conta, sendo utilizada uma ou várias bases de rateio distintas para que sejam transferidos aos produtos finais. A seguir, a figura 1 mostra o esquema de distribuição dos fatores de produção (custos diretos e indiretos) até os produtos acabados, dando ênfase à distribuição dos custos indiretos com o uso de um critério de rateio definido de maneira prévia. Figura 1 – Apropriação dos custos sem departamentalização. (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) Custos de Produção Critério de rateio Produtos acabados CUSTOS INDIRETOS CUSTOS DIRETOS Materiais diretos Mãe de obra direta Para facilitar o processo de compreensão, segue de maneira simplificada um exemplo de distribuição de CIFs adaptado de Megliorini (2002) sem uma estrutura departamentalizada. Imagine que uma fábrica de refrigeradores tenha três produtos em seu mix produtivo: a geladeira de duas portas, a geladeira de uma porta e o frigobar. Os CIFs a serem distribuídos em um período qualquer são os seguintes: – 125 – Departamentalização Tabela 1 – Custos Indiretos de Fabricação – CIFs Mão de obra indireta (MOI) $350.000 Matérias-primas indiretas $220.000 Depreciação da fábrica $35.000 Energia elétrica $25.000 Aluguel $70.000 TOTAL $700.000 Supondo que em determinado período, essa fábrica tenha produzido 40 geladeiras de duas portas, 35 geladeiras de uma porta e 70 frigobares, os CIFs seriam distribuídos com base nas horas de trabalho registradas, conforme a tabela a seguir: Tabela 2 – Horas trabalhadas Geladeira de duas portas 350 horas Geladeira de uma porta 200 horas Frigobar 500 horas TOTAL 1.050 horas Aqui, o primeiro passo para a apropriação dos CIFs é definir a taxa de apropriação por hora de trabalho, o que dá $666,667/hora($700.000/1.050 horas). Essa taxa de apropriação deve ser multiplicada pela quantidade de horas registradas por cada produto, especificados na tabela seguinte: Tabela 3 – Apropriação dos CIFs Geladeira de duas portas 350 h x $666,667 = $233.333,33 Geladeira de uma porta 200 h x $666,667 = $133.333,33 Frigobar 500 h x $666,667 = $333.333,34 TOTAL $700.000,00 Esse exemplo serve para ilustrar a simplicidade da distribuição dos CIFs sem departamentalização que, embora seja um processo rápido, (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) Gestão de Custos – 126 – pode prejudicar a avaliação dos custos totais dos produtos por distorções eventualmente geradas pela simplicidade da análise. Para ratificar esse comentário, caso essa fábrica de refrigeradores tenha dois ou mais departamentos e que um utilize quantidade elevada de CIFs e outro utilize quantidade reduzida, a utilização de apenas um critério para distribuição de todos os CIFs pode se tornar inoportuna, gerando produtos finais com subavaliação e outros com superavaliação, o que fará todo o processo posterior também ser prejudicado. 6.1 Por que departamentalizar? Meglironi (2002) relata que na departamentalização, os CIFs são distribuídos aos produtos de acordo com a real utilização que eles venham a ter, ou seja, de acordo com a verdadeira relação dos produtos com os departamentos. O objetivo principal é refinar o procedimento realizado na distribuição sem departamentalização, a qual pode ocasionar subavaliações ou superavaliações dos produtos fabricados. Na departamentalização é preciso definir de forma clara dois conceitos: 6.1.1 Departamento É a unidade administrativa para a Contabilidade de Custos, representada por homens e máquinas desenvolvendo atividades homogêneas. Existem os departamentos, como por exemplo, o de recursos humanos, que desenvolvem atividades tipicamente administrativas, mas que acabam atendendo, de certa forma, mais a fábrica (PADOVEZE, 2003). O autor destaca que é possível que a empresa possua atividades departamentalizadas ou merecedoras de centro de acumulação de custos, que apresentem alguma dificuldade de classificação quanto à sua atividade fim, sem caráter industrial ou administrativo. Para o autor isto é importante para a classificação dos custos do produto ou gastos para o período. 6.1.2 Centro de Custo Na maioria das vezes, um departamento é um Centro de Custos, ou seja, nele são acumulados os custos indiretos para posterior alocação dos produtos – 127 – Departamentalização ou a outros departamentos. Podem receber a classificação de produtivos, não produtivos, de serviços, auxiliares etc. Padoveze (2003) destaca em relação à contabilização que esta é feita de forma direta, sendo que para cada lançamento contábil a ser feito deverá ser identificado o setor a que se refere, pela identificação e relacionamento com um funcionário do setor, por exemplo, ou pela identificação e relacionamento com outro recurso desse setor. Ainda de acordo com o autor, para os salários, por exemplo, a identificação dos custos é feita pelo número de registro dos funcionários que trabalham em cada setor. O sistema de folha de pagamento envia os dados para a contabilidade em formato setorizado, uma vez que a folha de pagamento suporta o conceito de departamentalização, esse raciocínio também é valido para os encargos sociais gerados em folha de pagamento. Já os materiais indiretos são contabilizados por meio do sistema de requisição de materiais, do sistema de controle de estoques, ou seja, será necessário que cada material tenha centro de custo identificado. Os gastos gerais, por sua vez, com energia elétrica, água, esgoto, alu- guéis, telefonia, podem ser alocados de duas formas: 2 Em um único centro de custos; 2 Rateio para os principais centros de custo consumidores, por meio de critérios associados com a lógica do consumo. A seguir como funciona a contabilização com departamentalização. 6.2 Esquema completo da contabilidade de custos Megliorini (2002) cita que a técnica de departamentalizar a entidade em centros acumuladores de custos é o que denominamos de custeamento ou custos por responsabilidade, que serve para melhor identificar as responsabilidades, autoridade, custos, objetivos e metas dos centros específicos, possibilitando o controle dos gastos e realizações pelos próprios responsáveis. Na figura a seguir é possível compreender o fluxo dos custos na departamentalização. Gestão de Custos – 128 – Figura 2 - Fluxo dos custos e despesas em empresas por departamento. RESULTADO R R R Alocáveis Diretamente aos Depart. Indiretos Diretos Depesas de Adm., de Vendas e Financeiras Depart. Serviço D Comuns Produto Y Estoques Produto X R Custos de produção Custos dos Produtos Vendidos Vendas R = Rateio (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) Depart. Serviço C Depart. Serviço B R Depart. Serviço A – 129 – Departamentalização É possível notar na figura os departamentos de serviços e como deverá ser feita a distribuição dos custos, com essa estrutura. Para tornar concreto o exemplo, vamos considerar a fábrica de refrige- radores, o mais comum é que ela tivesse três principais áreas com seus res- pectivos departamentos: área produtiva, área administrativa e área comercial. Cada área será formada por departamentos ou setores, também chamados de centros de custos, que designa áreas de responsabilidade que as empresas possuem e que servem para a acumulação de custos e despesas incorridos nas atividades operacionais e/ou administrativas. No caso da fábrica de refrigeradores, os custos referentes às matérias-pri- mas serão diretamente relacionados aos produtos. Alguns CIFs conseguem ser associados diretamente a um ou outro departamento. São os chamados custos identificados ou custos próprios dos departamentos. A depreciação, por exemplo, embora seja considerada um custo indireto, pode ser direcionada a cada departamento com o simples controle patrimo- nial que exista na estrutura empresarial. Para o caso da mão de obra indireta, a folha de pagamento também serve como referência para a distribuição a cada departamento. Outros custos, definidos como custos comuns, são associados a mais de um departamento. Aqui, podem ser citados água, telefone, energia elétrica etc. Para que possa ser feita a correta alocação dos recursos utilizados dos departamentos para os produtos, precisa ser feita, de maneira prévia, a clas- sificação dos departamentos entre dois grupos: o grupo de departamentos de apoio e o grupo de departamentos de produção, chamados de auxiliares e de produtivos, respectivamente. Nessas situações, os CIFs incorridos pelos departamentos de produção podem ser associados aos produtos, seguindo alguns critérios de rateio. No caso da fábrica de refrigeradores, o custo local do departamento de pintura, por exemplo, pode ser alocado diretamente aos produtos de acordo com a quantidade de horas consumidas para a pintura completa das unidades produzidas. O trabalho torna-se facilitado, pois em algum momento os produtos passaram por esses departamentos. O problema maior está ligado aos departamentos auxiliares. Gestão de Custos – 130 – Tais departamentos não trabalham diretamente com os produtos. Esses departamentos apenas servem para gerenciar a produção, acompanhar o pro- cesso de compra e estocagem de matéria-prima, além de poder ser utilizado, eventualmente, para a certificação do controle de qualidade. Fica claro que, nesses casos, não há como definir um critério de rateio para que os valores possam ser alocados diretamente aos produtos. Por auxiliarem no processo produtivo de maneira indireta, os custos dos departamentos auxiliares podem ser transferidos aos departamentos produti- vos e, posteriormente, rateados aos produtos finalizados. Figura 3 – Apropriação dos custos com departamentalização. (Fonte: MEGLIORINI,2002. Adaptado.) CUSTOS INDIRETOS Custos de Produção Custos identificados (distribuição direta) Custos comuns (distri- buição por rateio) Departamentos auxiliares (distribuição por rateio) Departamentos produtivos (distribuição por rateio) Produtos acabados CUSTOS DIRETOS Materiais diretos Mãe de obra direta Para a correta apropriação dos CIFs entre os departamentos, deve ser feito um mapa de distribuição, sendo identificados os departamentos de apoio e os departamentos de produção separadamente. – 131 – Departamentalização Tabela 4 – Mapa de distribuição dos custos MAPA DE DISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO DEPARTAMENTOS AUXILIARES DEPARTAMENTOS PRODUTIVOS TOTAIS Adminis- tração Estoque Contr. de qualidade Mon- tagem Acaba- mento Pintura Bases para rateio Qtde. de funcioná- rios (a) 4 2 4 8 6 6 30 Área ocu- pada (b) 80 160 40 400 120 80 880 Potência instalada em KW (c) 50 20 100 500 360 400 1.430 Horas- -homem – HH (d) - - - 300 - - 300 Horas- -máquina – HM (e) - - - - 250 500 750 Horas de contr. qua- lidade (f) - - - 150 250 200 600 Custos identificados Mão de obra indireta 90.000 20.000 40.000 80.000 70.000 50.000 350.000 Matérias- -primas indiretas 4.000 2.500 3.500 90.000 70.000 50.000 220.000 Depre- ciação 2.000 2.500 2.500 10.000 8.000 10.000 35.000 (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) Gestão de Custos – 132 – Subtotal 96.000 25.000 46.000 180.000 148.000 110.000 605.000 Custos comuns Base de rateio Energia elétrica c 25.000 Aluguel b 70.000 Subtotal 95.000 Total de CIFs por depto 700.000 Rateio dos departamentos auxiliares Administ. a Estoque b Contr. de qualidade f Total dos CIFs dos departamentos produtivos Com esse mapa finalizado, pode-se ver a distribuição dos valores de cus- tos identificados já alocados a cada departamento (MOI, MP e depreciação), sendo que o total dos CIFs tem o mesmo valor distribuído anteriormente, ou seja, R$700.000. Como são feitas mais análises e a distribuição acaba sendo feita de maneira mais coerente, diferenças podem ser encontra- das entre essa distribuição com departamentalização e a primeira, feita sem a departamentalização. Devem ser seguidas algumas regras para a correta distribuição dos valores comuns aos departamentos para, depois, serem distribuídos aos departamen- tos produtivos. Na próxima tabela (5), os valores dos custos comuns serão distribuídos para os departamentos, pois, até o momento, apenas os totais estão identificados, não havendo nada especificado para nenhum departa- mento específico. – 133 – Departamentalização Tabela 5 – Mapa de distribuição dos custos MAPA DE DISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO DEPARTAMENTOS AUXILIARES DEPARTAMENTOS PRODUTIVOS TOTAIS Admi- nistra- ção Estoque Contr. de qualidade Mon- tagem Acaba- mento Pintura Bases para rateio Qtde. de fun- cionários (a) 4 2 4 8 6 6 30 Área ocu- pada (b) 80 160 40 400 120 80 880 Potência instalada em KW (c) 50 20 100 500 360 400 1.430 Horas- -homem – HH (d) - - - 300 - - 300 Horas- -máquina – HM (e) - - - - 250 500 750 Horas de controle de qualidade (f) - - - 150 250 200 600 Custos identificados Mão de obra indireta 90.000 20.000 40.000 80.000 70.000 50.000 350.000 Matérias-pri- mas indiretas 4.000 2.500 3.500 90.000 70.000 50.000 220.000 Depreciação 2.000 2.500 2.500 10.000 8.000 10.000 35.000 Subtotal 96.000 25.000 46.000 180.000 148.000 110.000 605.000 Gestão de Custos – 134 – Custos comuns Base de rateio* Energia elétrica c 875,00 350,00 1.747,50 8.742,50 6.292,50 6.992,50 25.000 Aluguel b 6.363,00 12.726,00 3.185,00 31.815,00 9.548,00 6.363,00 70.000 Subtotal 7.238,00 13.076,00 4.932,50 40.557,50 15.840,50 13.355,50 95.000 Total de CIFs por depto1 103.238,00 38.076,00 50.932,50 220.557,50 163.840,50 123.355,50 700.000 Rateio dos departamentos auxiliares Administ. a Estoque b Contr. de qualidade f Total dos CIFs dos departamentos produtivos *Bases de rateio1 (%) Custos Comuns2: c) (potência instalada por departamento/potência instalada total)*100 b) (área ocupada por departamento/área total)*100 A partir desse ponto, da esquerda para a direita, os valores serão transferi- dos para o departamento auxiliar até que apenas existam valores associados aos departamentos de produção, nesse caso, montagem, acabamento e pintura. Mesmo sabendo que os departamentos auxiliares podem prestar ser- viços a outros departamentos, uma vez que os valores já foram transferidos deles, não retornarão, pois esse retorno caracterizaria uma reclassificação em ciclo, processo que não traria qualquer vantagem no processo de distribuição dos CIFs. 1 Custos identificados + custos comuns. 2 Os valores rateados podem apresentar pequenas diferenças dependendo da forma de cálculo adotada. Aqui foram considerados valores arredondados (2 casas decimais) para as porcenta- gens de rateio. (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) – 135 – Departamentalização Tabela 6 – Mapa de distribuição dos custos MAPA DE DISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO Departamentos Auxiliares Departamentos Produtivos TotaisAdminis- tração Estoque Contr. de qualidade Monta- gem Acaba- mento Pintura Bases para rateio Qtde. de funcionários (a) 4 2 4 8 6 6 30 Área ocupada (b) 80 160 40 400 120 80 880 Potência instalada em KW (c) 50 20 100 500 360 400 1.430 Horas-homem – HH (d) - - - 300 - - 300 Horas-máquina – HM (e) - - - - 250 500 750 Horas de contr. qualidade (f) - - - 150 250 200 600 Custos identificados Mão de obra indireta 90.000 20.000 40.000 80.000 70.000 50.000 350.000 Matérias-primas indiretas 4.000 2.500 3.500 90.000 70.000 50.000 220.000 Depreciação 2.000 2.500 2.500 10.000 8.000 10.000 35.000 Subtotal 96.000 25.000 46.000 180.000 148.000 110.000 605.000 Custos comuns Base de rateio Energia elétrica c 875,00 3450,00 1.747,50 8.742,50 6.292,50 6.992,50 25.000 Aluguel b 6.363,00 12.726,00 3.185,00 31.815,00 9.548,00 6.363,00 70.000 Subtotal 7.238,00 13.076,00 4.932,50 40.557,50 15.840,50 13.355,50 95.000 (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) Gestão de Custos – 136 – Total de CIFs por depto 103.238,00 38.076,00 50.932,50 220.557,50 163.840,50 123.355,50 700.000 Rateio dos departamentos auxiliares* Administ. a (103.238,00) 7.939,00 15.878,00 31.766,34 23.827,33 23.827,33 0 Estoque b (46.015,00) 2.875,94 28.759,37 8.627,81 5.751,88 0 Contr. de qualidade f (69.686,44) 17.421,61 29.038,34 23.226,49 0 Total dos CIFs dos departamentos produtivos 298.504,82 225.333,98 176.161,20 700.000 *Bases de rateio (%) Departamentos Auxiliares: a. (Quantidade de funcionários por departamento / (total de funcio- nários – quantidade de funcionários do departamento a ser rate- ado))*100 b. (área ocupada por departamento / (área total - área ocupada pelo departamento a ser rateado - área ocupada pelo departamento já rateado))*100 f. (Horas de contr. qualidade por departamento / total de horas de contr. Qualidade)*100 Quando a distribuição é feita dos departamentos auxiliares para os departamentos produtivos, obtém-se o mesmo valor de R$700.000 no total. Entretanto, esses valores podem possuir desvios consideráveis se forem comparados com uma estrutura não departamentalizada e, principalmente, se forem utilizados critérios distintos de rateio, tais como foram feitos nesse exemplo, com a quantidade de funcionários para a administração, a área ocupada para os estoques e as horas de controle de qualidade para o departamento de controle de qualidade. Por mais que se trabalhe de maneira indireta na associação dos custos indiretos, muitos desses critérios acabam tendo ligações coerentes, fazendo com que a distribuição dos custos indiretos seja feita de maneira organizada, respeitando as especificidades operacionais de cada empresa. Se formos considerar os resultados da produção, temos quantidades diferentes de geladeiras de duas portas, de uma porta e de frigobares.Mas como as quantidades absolutas não são os únicos fatores que vão identificar quanto – 137 – Departamentalização de cada departamento produtivo, deve-se buscar um critério mais apropriado para a distribuição dos valores relativos aos três departamentos produtivos. Nesse caso, tomemos como base que o departamento de montagem tenha seus valores distribuídos com base nas horas-homem (HH), o departamento de acabamento tenha seus valores distribuídos com base nas horas--máquina (HM) e o departamento de pintura tenha os valores distribuídos aos produtos com base nas horas-máquina (HM) também. A tabela a seguir apresenta os valores distribuídos a cada um dos produtos fabricados pela empresa. Tabela 7 – Distribuição dos custos aos produtos Produto Quantidade Departamentos Montagem Acabamento Pintura Geladeira de duas portas 40 unidades 120 HH 150 HM 200 HM Geladeira de uma porta 35 unidades 100 HH 75 HM 200 HM Frigobar 70 unidades 80 HH 25 HM 100 HM Total 300 HH 250 HM 500 HM Com base nesses valores, os montantes de cada departamento já possuem a base de rateio para os produtos finais. Esses valores são determinados na tabela a seguir. Tabela 8 – Apropriação dos custos aos produtos Apropriação dos CIFs aos produtos Produto Departamentos Total Montagem Acabamento Pintura Geladeira de duas portas 119.401,93 135.200,39 70.464,48 325.066,80 Geladeira de uma porta 99.491,66 67.600,19 70.464,48 237.556,33 Frigobar 79.611,23 22.533,40 35.232,24 137.376,87 Total 298.504,82 225.333,98 176.161,20 700.000,00 (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) (Fonte: MEGLIORINI, 2002. Adaptado.) Gestão de Custos – 138 – Com esse último cálculo sendo realizado, fica fácil saber quanto de custos indiretos de fabricação serão associados para cada produto, bastando apenas dis- tribuir os valores para as quantidades produzidas, que foram 40, 35 e 70 unidades para geladeira de duas portas, geladeira de uma porta e frigobar, respectivamente. Síntese do Esquema Básico Completo Assim, segundo Megliorini (2002) é possível estabelecer uma síntese do esquema básico completo com a utilização da departamentalização: 2 1.º Passo – Separação entre custos e despesas. 2 2.º Passo – Apropriação dos custos diretos diretamente aos produtos. 2 3.º Passo – Apropriação dos custos indiretos que pertencem, visivel- mente, aos departamentos, agrupando, à parte, os comuns. 2 4.º Passo – Rateio dos custos indiretos comuns e dos da admi- nistração geral da produção aos diversos departamentos, quer de produção quer de serviços. 2 5.º Passo – Escolha da sequência de rateio dos custos acumulados nos departamentos de serviços e sua distribuição aos demais departamentos. 2 6.º Passo – Atribuição dos custos indiretos que agora só estão nos departamentos de produção aos produtos segundo critérios fixados. Assim foi possível entender, pelo exemplo completo da fábrica de refri- geradores e observar de forma resumida com a síntese do esquema básico completo, como funciona a departamentalização. Ampliando seus conhecimentos Departamentalização (MARX, Ivan, 2009) As atividades de uma empresa geralmente estão divididas em departamentos, que, por sinal, é uma das formas de organiza- – 139 – Departamentalização ção de uma firma de um modo mais eficiente e com melhores resultados para os objetivos da companhia. A escolha de qual critério utilizar para efetivar a departamen- talização em uma empresa, depende, geralmente, dos objeti- vos e da atuação da organização como um todo. A empresa tenderá a se organizar de acordo com a tecnologia utilizada, com a formação do pessoal contratado e principalmente da estratégia adotada pela organização. Todavia, dentro de cada departamento a homogeneização só pode ser alcançada se a organização estiver bem estabelecida, isto é, se dentro de cada unidade todos os seus membros estiverem trabalhando em conjunto a um fim comum, tendo a mesma clientela, executando o mesmo trabalho e estarem no mesmo lugar. Para Gulick e Urwick, “[...] organização por processo domi- nante, como engenharia, ensino, direito ou medicina, tende a reunir num único departamento todos os que trabalham uti- lizando-se de uma técnica ou habilitação especial, ou então que sejam elementos integrantes de uma determinada profis- são”. De fato, a departamentalização varia de empresa para empresa. Depende do tamanho e da complexidade no qual tal companhia executa sua atividade, pois as ações de uma firma são divididas em departamentos quando esta possui setores onde as atividades relacionadas são constantes e roti- neiras. Quando uma firma executa certo trabalho de forma fragmentada ou em um espaço de tempo médio ou grande, não há a necessidade de gerar um departamento para atender uma demanda baixa ou escassa. Esse processo só tem a razão de existir em uma empresa com grande fluxo de setor. Contudo, a departamentalização não possui apenas a eficiên- cia da organização de uma empresa, ela possui uma desvan- tagem a qual nenhuma companhia pode fugir. Como cada departamento é responsável por sua ação e todos daquele setor trabalham atrelados a uma visão comum e a um resultado Gestão de Custos – 140 – satisfatório, o contanto de uma unidade com outra, isto é, a cooperação de um departamento com outro tende a se tornar limitada, justamente por causa do grau de concentração que cada departamento necessita obter para garantir um trabalho de qualidade. Para evitar problemas na hora de departamentalizar é sugerido a uma organização os seguintes critérios, segundo Oliveira: 1. O departamento que faz maior uso da atividade, deve tê-lo sob jurisdição; 2. O departamento que obtiver maior interesse pela ativi- dade, deve criar mecanismos de supervisão; 3. As atividades devem ser controladas por um setor de controle; e finalmente 4. A concorrência entre os departamentos devem ser eliminadas. A representação dos departamentos em uma instituição geral- mente é feita utilizando organogramas. Atividades de aplicação 1. O que acontece com os custos quando não há a departamentalização? 2. Qual o principal motivo da departamentalização? 3. Quando é iniciada a departamentalização o que ocorre com a aloca- ção dos custos? 4. O que é um departamento? 5. O que é um centro de custos? Custeio por ordem ou encomenda Introdução Segundo Padoveze (2003) os sistemas de acumulação com- preendem instrumentos, critérios e sistemas que servem para o registro, guarda e acumulação de informações de uma forma lógica e coerente com os produtos e sistemas produtivos utilizados pela empresa, de forma que estes permitam a utilização das informações geradas nos cálculos efetuados por meio de métodos de custeamento dentro das formas de custeio utilizadas. 7 Gestão de Custos – 142 – Segundo Megliorini (2002) os sistemas de custos são classificados em função dos seguintes critérios listados: a. natureza do processo produtivo; b. tipo de custo usado. O autor ainda afirma que, de acordo com a natureza de cada processo produtivo, o sistema de custos é definido segundo a forma pela qual o pro- duto acabado é fabricado, sendo que existem duas principais formas de clas- sificação para eles, conforme segue: a. por ordem de produção; b. por processo de produção. Assim, para Padoveze (2003) o custeio por ordem é aquele em que o referencial escolhido para o armazenamento de informações é uma autoriza- ção para a fabricação de determinada unidade de produto ou serviço ou ainda um lote de produto. O autor evidencia que a autorização de produção pode ter vários nomes como, por exemplo, ordem de produção, ordem de serviço, ordem de trabalho, entre outros, sendo o mais comum ordem de produção. A utilização do sistema por ordem de produção é mais adequada quando a empresa utilizar um processo produtivo que não seja repetitivo, em que cada produto ou grupo de produtos sejam diferentes entre si. Padoveze (2003) afirma que o sistema por ordem é utilizado por empresas que fabricamprodutos por encomenda ou que prestam serviços personalizados, sendo que quando é recebida a encomenda é aberta uma ordem de produção. O autor cita que um exemplo de fácil compreensão para a utilização da ordem de produção é a atividade de serviços de concessionárias. No momento em que o veículo chega para um reparo ou revisão, de forma imediata, é aberta uma ordem específica para aquele determinado veículo, sendo que todos os gastos, materiais utilizados e horas de trabalho dos diversos setores da concessionária em que o carro passou serão anotados e acumulados na ordem, obtendo-se, assim, o custo do serviço prestado. – 143 – Custeio por ordem ou encomenda Entretanto o sistema de ordem de produção também é utilizado para pro- dutos seriados, como cita Padoveze (2003) no caso de montadoras de veículos e tratores. Neste exemplo, a empresa decide fazer um lote de determinado produto, sendo que é aberta uma ordem para aquele lote, e todos os gastos para aquele lote serão anotados e reconhecidos em uma ordem de produção. Já Martins (2003) cita como exemplos as indústrias pesadas, aquelas que fabricam equipamentos especiais, as indústrias de móveis, construção civil. O autor ainda cita algumas empresas que prestam serviços e que trabalham com esse sistema de custeio, como por exemplo, escritórios de planejamento, auditoria, consultoria e de engenharia. 7.1 Ordem de produção versus produção por processo O sistema de custos por ordem de produção é constantemente apre- sentado juntamente com o sistema de produção por processo ou conhecido como produção contínua, que pode ser caracterizado, conforme Padoveze (2003), como um sistema que tem como referencial a acumulação por setor da empresa, por onde passam os materiais e componentes e são executados os processos de transformação dos materiais em produtos finais. As empresas que produzem produtos iguais e de forma contínua são aquelas que utilizam o sistema de produção contínua ou por processo. Megliorini (2002) ressalta que esse sistema é aquele no qual cada elemento do custo é acumulado separadamente, segundo ordens específicas relacionadas à produção, emitidas pelo Setor de Programação e Controle de Produção (PCP). As ordens de produção são emitidas para o início da execução do serviço e nenhum trabalho poderá ser iniciado sem que ele seja devidamente autorizado pela correspondente emissão de uma ordem de produção (OP). Como exemplo de produção contínua é possível citar as indústrias de cimento, químicas, petroquímicas, de açúcar (MARTINS, 2003). Dessa forma, conforme o quadro a seguir é possível traçar um paralelo entre esses dois tipos de indústrias. Gestão de Custos – 144 – Quadro 1 – Diferenciação entre a produção por ordem e a produção por processo Característica analisada Produção por ordem específica Produção por processo Desenvolvimento de produto Especificação do cliente Especificação do fabricante Contratação do fornecimento Seleção subjetiva (concorrência) Seleção objetiva (amostra) Produção Limitada pelo cliente Planejada pelo fabricante Dimensão da produção Número de peças contratadas Número de peças do período Mercado Poucos compradores Muitos compradores Vendas Procura do cliente Procura do cliente ou oferta de fabricante Produto Sob medida Seriado Necessidade do produto Específica do cliente Global do mercado Local de produção Na fábrica ou no campo Na fábrica Estoque de matéria-prima Temporário e específico Permanente, geral para vários produtos Estoque de produtos Indesejável Necessário Prazos de produção Geralmente, médios ou longos Geralmente curtos Conforme Bruni e Famá (2011) em relação ao desenvolvimento do produto é possível verificar que no caso da produção por ordem, ela terá como requisito necessário a especificação do cliente, o que na produção por processo é feito pelo fabricante, uma vez que são produtos fabricados em grande escala. No caso da contratação do fornecimento, a produção por ordem possui um caráter subjetivo com relação à concorrência, o que é feito de forma objetiva na produção por processo, uma vez que no caso da produção por processo não existem critérios ideais para a escolha de um fornecedor, pois os produtos são exclusivos. No sistema de produção por ordem a produção é limitada pelo cliente, uma vez que este irá requisitar determinadas qualidades em um produto, e já (Fonte: FONSECA; RAVENA E GALLORO;1992 apud BRUNI; FAMÁ, 2011. Adaptado.) – 145 – Custeio por ordem ou encomenda na produção por processo o que ocorre é o planejamento da produção pelo fabricante, uma vez que este é quem dirá quantos e quais características os produtos em série terão. Por ser um produto, geralmente sob encomenda, aqueles que são produzidos por ordem de produção tem poucos compradores e aqueles que passam pela produção em processo, ou seja, que são fabricados em série possuem muitos compradores (BRUNI; FAMÁ, 2011). Os autores ainda evidenciam que as vendas dos produtos produzidos sob o sistema de ordem de produção são feitas de acordo com a procura do cliente, uma vez que é esse quem deverá demonstrar o desejo e as expli- cações de determinado produto, já no caso da produção por processo ou contínua isso ocorre de acordo com a vontade do cliente, que vai até uma loja, por exemplo, em busca de um produto. Outra diferença marcante nos dois processos produtivos é o fato de a produção por ordem ser feita sob medida, uma vez que é direcionada a clientes especiais, que desenvolvem o desejo ou a necessidade daquele determinado produto; já no caso da produção por processo a produção é seriada, uma vez que os produtos são produzidos em grandes quantidades. Ainda segundo Bruni e Famá (2011) a elaboração dos produtos feitos sob ordem de produção ocorre na fábrica ou ainda no campo enquanto a produção por processo é exclusiva na fábrica. Quanto ao estoque de matéria- -prima no caso da produção por ordem, este tem seu controle feito de forma temporária e específica e, no caso da produção feita de forma contínua, esse processo é permanente para vários produtos em geral, isso faz com que o estoque de produtos no primeiro caso seja indesejável, até porque os produtos requerem características especiais o que pode ser prejudicado por um estoque muito grande de determinada matéria prima, o que é extremamente necessário na produção por processo que sempre irá requerer um estoque considerável de matéria-prima. Por fim, no que diz respeito aos prazos de produção, devido ao tipo de especificidade do produto ou serviço produzido por ordem de produção, eles são médios ou longos e no caso da produção por processo tem o seu prazo de elaboração geralmente curto. O procedimento utilizado nesse sistema é provavelmente a mais antiga forma de apuração de custos que se conhece. Esse tipo de custeamento atende às necessidades de controle de inventário e de desenvolvimento da experiência Gestão de Custos – 146 – dos custos, atendendo aos requisitos do sistema de serviços por contrato. É útil para o controle de inventário, porque acompanha o fluxo físico do material; é útil na experiência de custos, porque reúne todos os custos ocorridos em um único documento e é útil nos serviços por contrato porque, uma vez encerrada a OP, servirá de indicação dos lucros ou prejuízos gerados por esse contrato, além de servir de referências para OP’s futuras com o mesmo formato. Além desses aspectos observados anteriormente é possível ainda elencar outras características, com relação ao comportamento dos custos observado no modo de produção por ordem e por processo, conforme na planilha a seguir. Quadro 2 – Diferenciação entre a produção por ordem e a produção por processo – aspectos de custos Características analisadas Produção por ordem específica Produção por processo Acumulação dos custos Por ordem de produção Por departamento e, em seguida, aos produtos Apuração dos cus- tos unitários Custos específico por ordem de produçãoou lote de produtos Custo médio por unidade produzida no período Requisição de materiais Indica-se o número de ordem de produção Indica-se o departamento e/ou código do produto Período de apuração dos custos finais Início e término da produção ou abertura e fechamento da ordem de produção Início e término do período contábil Custo unitário Subsídio para preços em atividade futuras Compara custo médio em diferentes períodos para conhecer as cau- sas das variações Forma de custeamento Predeterminada ou real Padrão ou real Gráfico da produção Quantidade Tempo Quantidade Tempo Racionalização no tempo Menor Maior (Fonte: FONSECA; RAVENA e GALLORO; 1992 apud BRUNI; FAMÁ, 2011. Adaptado.) – 147 – Custeio por ordem ou encomenda Na produção por ordem, a acumulação de custos acontece por ordem de produção com a utilização do formulário próprio para tal. Já na produção por processo essa etapa é revelada através do reconhecimento dos custos por departamento e, em seguida, estes são reconhecidos aos produtos. Assim para a apropriação dos custos unitários, Bruni e Famá (2011) relatam que no custo por ordem isso irá acontecer por custo específico, ordem de produção ou ainda lote de produtos, o que ocorre na produção por processo pelo custo médio da unidade produzida. Já com relação à requisição de materiais, no caso do custo por ordem, ela é elaborada com a indicação do número de ordem da produção, que no custo por processo é feito mediante a identificação do departamento ou código do produto. No período de apuração dos custos finais na produção por ordem ela será elaborada no início e término da produção ou ainda de acordo com a abertura e fechamento da ordem de produção. Já no custo por processo este termina e é finalizado de acordo com o período contábil. Em relação ao custo unitário com o uso do custo por ordem de produção existe o subsídio, ou seja, a base para a tomada de decisões com relação a preços em atividades futuras. No custo por processo, por sua vez, é comparado o custo médio em diferentes períodos para que sejam conhecidas as causas das variações. As formas de custeamento possíveis no processo de produção por ordem podem ser predeterminadas ou reais, no caso da primeira os custos são estabelecidos antes de sua ocorrência, sendo que esse tipo de custeio é utilizado quando a empresa deseja conhecer a realidade e comparar com seu custo real. Já no custeamento por processo é utilizado o custo-padrão ou ainda o real. Em relação ao tempo de elaboração do produto, no caso da produção por ordem a produção corre em picos, sendo que algumas etapas são mais rápidas que outras e no custeamento por processo o tempo empregado é contínuo. Por fim, a racionalização do produto é menor no caso da produção por ordem até porque os produtos possuem características diferentes e especiais e maior racionalização no custeamento uma vez que os produtos são padronizados (BRUNI; FAMÁ, 2011). 7.2 Natureza da contabilidade de ordem de produção Na contabilização dos custos das ordens de produção, cada elemento do custo é coletado separadamente para cada trabalho desenvolvido na fábrica. Gestão de Custos – 148 – O sistema de ordem de produção raramente é usado nas indústrias de produção em massa, mas é muito usado por ferramentarias ou estamparias ou ainda por empresas onde a quantidade produzida é pequena e por aquelas prestadoras de serviços, possuindo característica de personalização em suas atividades principais (MEGLIORINI, 2002). 7.2.1 Características da contabilidade da ordem de produção De acordo com Megliorini (2002) as principais características da produção por ordem são: a. As OP’s são emitidas e seu custo é mantido para cada lote de produto manufaturado. Essas ordens são controladas por meio da conta de Produtos em Processo, separando-se os custos diretos dos indiretos. b. Os Gastos Gerais de Fabricação (GGF’s ou CIF’s) são lançados ini- cialmente às contas departamentais e posteriormente aplicados a cada OP concluída. A conta de Produtos em Processo de Elaboração é usada para registrar os custos, os produtos manufaturados e o inventário dos produtos em processo. A distinção entre custos diretos e indiretos é muito mais enfatizada nesse sistema do que no sistema de processo de fabricação. No entanto, o sistema de ordens de produção apresenta algumas desvan- tagens, tais como: a. o seu custo administrativo é muito elevado. É um sistema bastante dispendioso porque exige considerável trabalho burocrático para o registro das informações nas OP’s. b. um controle ostensivo e permanente é necessário para verificar se o material e a mão de obra foram corretamente lançados na OP. c. quando um embarque parcial é efetuado antes de se completar a OP, é necessário estimar os custos. – 149 – Custeio por ordem ou encomenda 7.2.2 Formulário da ordem de produção O formulário da OP é o item mais importante deste sistema. Basicamente, esse formulário fornece o registro do material direto, mão de obra direta e uma estimativa dos gastos gerais de fabricação para cada trabalho executado durante o período de produção. Embora esse formulário necessite de adaptações de acordo com cada tipo de empresa, podem ser indicadas as informações mínimas necessárias que este deverá conter: – número da ordem de produção; 2 descrição do produto a ser manufaturado; 2 data da emissão, término previsto e término efetivo; 2 seção para registrar o material direto; 2 seção para registrar a mão de obra direta; 2 estimativa de gastos gerais de fabricação; 2 sumário dos custos. Os custos incorridos devem sempre ser suportados por documentos, tais como requisição do almoxarifado, cartões de tempo etc., que devem sempre indicar o número da OP que o custo deve ser aplicado. Os custos indiretos são geralmente estimados como uma porcentagem do material direto, mão de obra direta etc. As OP’s podem ser controladas por meio de uma ou várias contas de Produção em Elaboração dependendo do grau de controle requerido pela administração. Normalmente, são duas ou três contas diferentes de produção em andamento para evidenciar as diversas etapas do processo contabilmente (MEGLIORINI, 2002). 7.2.3 Contabilização do material Megliorini (2002) ainda afirma que a requisição de material representa o primeiro documento de suporte na contabilização. Deverá indicar se o material solicitado será aplicado direta ou indiretamente e qual o número da OP em que o material será aplicado. Gestão de Custos – 150 – As requisições são emitidas e enviadas ao almoxarifado e, posteriormente, lançadas no registro de estoques e arquivadas, obedecendo-se à sequência da OP. Ao final do mês (ou de um período) são preparados sumários, debitando-se Material em Processo de Elaboração e creditando-se Estoque de Material Direto. Quando ocorrer o caso de o material ser devolvido ao almoxarifado, deverá também ser emitido um documento suportando o seu retorno ao estoque. A conta de Material em Processo de Elaboração deverá ser resumida tendo como suporte as OP’s em processo de fabricação. Quando o produto é concluído na fase de fabricação, a conta de Material em Processo é creditada e debita-se a conta de Produtos Acabados. Ao final de um determinado período contábil, o saldo da conta de Material em Processo de Elaboração deve ser igual ao custo do Material dos Produtos em Fase de Elaboração lançados nas OP’s. 7.2.4 Contabilização da mão de obra O primeiro documento de suporte da contabilização da mão de obra é o cartão de controle de tempo. Esse cartão indica se a mão de obra é direta ou indireta. A mão de obra direta deve, sempre, identificar-se com um determinado trabalho ou OP. Os cartões de controle de tempo devem ser colocados em ordem, diariamente, por número de OP e, periodicamente, resumidos para efeito dos lançamentos contábeis, debitando-se Mão de obra em Processo e creditando-se Salários a Pagar. Posteriormente, um lançamento creditando-seMão de obra em Processo e debitando-se Produtos Acabados é efetuado quando o trabalho é concluído. O saldo da conta de Mão de obra em Processo, no final de um determinado período, deverá corresponder ao custo da mão de obra lançada à conta de produtos ainda em processo. A mão de obra indireta é debitada como Gasto Geral de Fabricação dentro da conta de Mão de Obra Indireta (MEGLORINI, 2002). – 151 – Custeio por ordem ou encomenda 7.2.5 Contabilização dos gastos gerais de fabricação Ainda para Megliorini (2002) a apropriação dos Gastos Gerais de Fabri- cação por OP é um pouco mais complexa do que a apropriação do material direto e da mão de obra direta implicando, normalmente, quatro etapas: a. acumulação das despesas atuais de manufatura, em total ou por departamento, o que significa efetuar os lançamentos referentes à mão de obra indireta, despesas de manutenção, depreciação, segu- ros, aluguel, energia elétrica telefone etc.; b. distribuição dos custos dos departamentos auxiliares, de apoio ou de serviços aos departamentos de produção, implicando, em pri- meiro, acumular todas as despesas dos departamentos auxiliares, de apoio ou de serviços para, posteriormente, seguindo critérios racionais de prestação de serviço, efetuar as alocações por departa- mentos de produção; c. aplicação dos gastos de manufatura às OP’s com base em taxas prede- terminadas, o que implica, muitas vezes, a utilização de uma taxa padrão, determinada de maneira prévia; d. apuração da diferença entre o gasto real e o aplicado por meio de taxas predeterminadas, verificando-se as razões da diferença encontrada. A apropriação dessa diferença pode ser realizada proporcionalmente às OP’s encerradas dentro do mês e as que ainda estão em processo, o que, de acordo com o volume de OP’s, pode implicar em trabalho adicional considerável. Muitas empresas preferem apropriar esta diferença diretamente em Receitas ou Despesas. 7.2.6 Avaliação dos produtos em processo O valor dos produtos em processo de elaboração ao final do período contábil representa o saldo total do Material em Processo, Mão de Obra em processo e Gastos Gerais de Fabricação em Processo. Esses totais podem ser verificados pela soma dos custos lançados nas diversas OP’s, que se encontram ainda em processo de fabricação (MEGLIORINI, 2002). Gestão de Custos – 152 – O fluxo dos custos no custeio por ordem acontece da seguinte forma: Figura 1 – Fluxo dos custos no custeio por ordem de produção. Pedido de venda Ordem de pro- dução Requisição de Materiais Tempo de MOD Taxas de CIF Com as ordens de produção é iniciada a produção ou a prestação do serviço Os custos de fabricação são acumu- lados em um registro de custos Fonte: MEGLIORINI, 2002; MARTINS, 2003. Adaptado. Pode-se notar que o processo de registro dos custos é iniciado com o pedido de venda, que gerará a OP e que depois levará ao início da produção ou a prestação do serviço. Assim que os materiais são requisitados, é conta- bilizado o tempo de MOD e as taxas de CIF ou Gastos Gerais de fabricação, desse modo os custos são acumulados em um registro de custo, e no final do período aqueles produtos que ainda estão em produção serão valorados pela soma destes três elementos. Ampliando seus conhecimentos Custeio por ordem na indústria madeireira: um estudo de caso (GALLON; SALAMONI; COSTA, 2005) [...] 2.1.1 – Sistema de custeio por ordem Martins (2003) destaca que existem dois fatores que determi- nam o tipo de custeio, se por ordem ou por processo (contí- nuo): A forma de a empresa trabalhar e a conveniência contá- bil administrativa. Quanto à forma, principal responsável pela distinção, basta lembrar que se a empresa trabalha produzindo – 153 – Custeio por ordem ou encomenda produtos iguais de forma contínua (um ou vários), fundamen- talmente para estoque, isto é, para venda, terá já caracterizada sua natureza. Produz-se atendendo a encomendas dos clien- tes ou, então, produz também para venda posterior, mas de acordo com determinações internas especiais, não de forma contínua, já terá incluído entre as de produção por ordem. Backer e Jacobsen (1984) sustentam a ideia de que um sis- tema de contabilidade de custos por ordens de produção é mais apropriado quando a produção consiste em ordens especiais ou projetos, em vez de produtos padronizados e quadros de produção repetidos e contínuos. Sabendo o que a empresa produz, e de que forma é feito o encaminhamento dentro da produção, assim saberemos que sistema a empresa estará apta a utilizar. Porém, Leone (2000), na sua citação a seguir, deixa bem claro que não se deve generalizar, deve-se sim analisar detalhadamente o processo produtivo da empresa. Chamar o sistema de “Custos por OP” não significa que o sistema somente se destina a acumular os custos de produção. Observe que é um termo genérico que deseja envolver todos os sistemas de acumulação de custos que se baseiam nos mesmos procedimentos do sistema de ordens de fabricação adotados por qualquer empresa indus- trial que trabalhe sob o regime de encomendas específicas dos clientes, em que os produtos são diferenciados ou que são fabricados em lotes específicos. O sistema de acumulação de custos por ordem ou enco- menda é aplicado à empresa cujo sistema produtivo for des- contínuo, produzindo bens e serviços não padronizados e, geralmente, sob encomenda específica dos seus clientes. Como quase toda ordem de produção é diferente de algum modo, é razoável supor que os custos de produ- ção de cada ordem sejam diferentes e que esses custos podem e devem ser agrupados separadamente, segundo Backer e Jacobsen (1984). Gestão de Custos – 154 – Definido o método, sendo ele de produção por ordem ou encomenda, abre-se uma Ordem de Produção (OP) e aloca todos os custos da referida encomenda, e essa conta será fechada ao término da produção. Com relação à ordem de produção Martins (2003) contribui afirmando que os cus- tos são acumulados numa conta específica para cada ordem e encomenda. Essa conta só para de receber custos quando a ordem estiver encerrada. Se terminar um período contábil e o produto estiver ainda em processo não há encerramento, permanecendo os custos até então incorridos na forma de bens em elaboração, no ativo, quando a ordem for encerrada, será transferido para o estoque de produtos acabados ou para Custo dos Produtos Vendidos, conforme a situação. Padoveze (2003) defende que o custeamento por ordem nasceu fundamentado na necessidade de mensuração dos custos reais para fins de inventário e apuração dos resultados. Segundo Medeiros (1999), as empresas que normalmente utilizam o método de custeio por ordem de produção ou por encomenda trabalham com produtos ou serviços especiais, como segue: 2 a maioria das indústrias pesadas; 2 fabricantes de equipamentos especiais; 2 algumas fábricas de móveis; 2 estaleiros que fabricam navios por encomenda; 2 empresas de construção civil que executam obras diferentes; 2 oficinas gráficas que atendem as encomendas de clientes; 2 empresas de auditoria, consultoria, engenharia etc. As características básicas do sistema de custeio por ordem de produção conforme descrito por Leone (2000) são: 2 custos apropriados diretamente a cada encomenda; 2 produtos não guardam semelhanças entre si; – 155 – Custeio por ordem ou encomenda 2 custos reais são determinados pelo tipo de produto; 2 a apuração do custo total de produção é feita considerando a encomenda como um todo, quer do produto final ou determinado componente, não considerando o produto individualizado (custo unitário); 2 os estoques de matéria-prima, produtos em processos e pro- dutos acabados, são reduzidos ou inexistentes, isto é, as quan- tidades produzidas são limitadas aos pedidos dos clientes; 2 existem datas previstas para o início e término da produção; 2 períodos contábeis podem ser extrapolados. Todo sistema de custeio tem suas vantagens e desvantagens.Dessa forma, Medeiros (1994) apresenta as seguintes vanta- gens do sistema por ordem: 2 as Ordens de Serviços (OS) prontas servem como base para futuras OS, desde que sejam iguais ou semelhantes; 2 permite a identificação dos produtos de maior e menor lucro; 2 o acompanhamento do lançamento proporciona ao admi- nistrador um controle que independe do levantamento físico de seus estoques; 2 fornece ao departamento financeiro, meios para estabelecer as épocas mais apropriadas para receber as parcelas de recei- tas dos clientes, de acordo com o andamento da ordem. E as seguintes desvantagens: 2 há elevadas despesas com acompanhamento do sistema, devido ao trabalho pormenorizado; 2 o conhecimento do custo total somente é possível ao término da OS. Segundo Martins (2003), quando há danificações de maté- rias-primas ou outros materiais diretos ou também indiretos, quando da elaboração de determinadas ordens, dois proce- Gestão de Custos – 156 – dimentos podem ser utilizados: apropriação à ordem que está sendo elaborada ou concentração dentro dos custos indiretos para rateio à produção do período. Claro está que essas for- mas de tratamento são adotáveis para perdas dentro de certa normalidade, pois, se são perdas de grande valor e anormais, devem ser consideradas como do período. Martins comenta ainda que comumente ocorre a danificação de uma ordem inteira ou pelo menos em estado adiantado de fabricação. Do ponto de vista contábil, o procedimento mais correto é a baixa direta para perdas do período, sem a acumulação aos novos custos de reelaboração da ordem. O conservadorismo assim o recomenda, exceto se for imaterial o valor. Do ponto de vista administrativo, interessa, todavia, um relatório onde seja deduzido esse montante perdido do resul- tado obtido na encomenda (ou ordem). Nada impede que nos relatórios internos seja feito esse adendo aos relatórios emanados diretamente da Contabilidade. Diante do que foi apresentado, entende-se que para a obten- ção do custo do produto acabado, os custos necessitam estar acumulados por ordem. [...] Atividades de aplicação Com os dados a seguir responda aos exercícios propostos 1 a 3 (MAR- TINS, 2003. Adaptado): A Indústria de Móveis Pica-Pau produz móveis para escritório sob enco- menda. No início de determinado mês, recebeu, de clientes diferentes, três pedidos de orçamento para possíveis encomendas de mesas para computador: 160 grandes, 92 médias e 95 pequenas. É normal haver perda de algumas unidades no processo de produção, por isso, a empresa pretende iniciar as ordens com as seguintes quantidades: 165, 95 e 98, respectivamente. – 157 – Custeio por ordem ou encomenda Sua estimativa de custos foi a seguinte, para essas quantidades: I. Matéria-prima: Produtos $ Grandes 4.950,00 Médias 2.375,00 Pequenas 1.764,00 II. Tempo de produção requerido por unidade de produto: Produtos Tempo de MOD Tempo de Máquina Grandes 1,4 hmod 1,8 hm Médias 1,0 hmod 1,4 hm Pequenas 1,0 hmod 1,0 hm III. Outros custos: Custos Fixo $ Variável Supervisão de Produção 2.250,00 Depreciação de equipamentos 1.600,00 Energia elétrica $ 2/horas-máquina Mão de obra direta $ 10/hora de MOD Outros 14.150,00 $ 8/horas-máquina 1. Qual o custo da encomenda das mesas para computador grandes, rateando todos os custos indiretos à base de horas-máquina? 2. Qual o custo da encomenda das mesas para computador médias, rate- ando todos os custos indiretos à base de horas-máquina? 3. Qual o custo da encomenda das mesas para computador pequenas, rateando todos os custos indiretos à base de horas-máquina? Gestão de Custos – 158 – 4. Para que tipo de empresa o custo por ordem de produção é o mais utilizado? 5. Qual é o item mais importante para o custeio por ordem de produção? Produção por processo ou em série Introdução A natureza do processo de produção exige que os sistemas de informações contábeis das indústrias sejam projetadas para acu- mular dados detalhados sobre custos realizados com o processo pro- dutivo. É necessário, em decorrência, que as empresas industriais possuam um sistema de Contabilidade de Custos que mostre os custos incorridos e onde e como esses custos foram usados. Na produção denominada produção por processo, ou con- tínua, ou em série, ou em massa, as empresas produzem uma saída contínua de produto ou produtos homogêneos. Essas empresas podem produzir um único produto, como o automóvel, ou muitos produtos diferentes, como refrigerantes ou artigos farmacêuticos. 8 Gestão de Custos – 160 – Dessa maneira, a produção por processo se assenta na produção conti- nuada, e a empresa produz e oferece seus produtos ao mercado. Diferente- mente da produção por ordem, onde a produção depende da solicitação ou encomenda de um cliente, na produção por processo a empresa produz e coloca os produtos à disposição dos clientes. Nesse sistema, geralmente, as fábricas são constituídas em departamentos ou centros de custos e a produção pode ser vista como uma sequência de fases ou operações, em cada departamento, nos quais são aplicados matéria--prima, mão de obra e outros custos de fabricação, originando-se, ao final, o produto terminado. O custeamento final é o resultado de uma multiplicação de um custo unitário pelo número de quantidades produzidas ou pelo número de unidades equivalentes produzidas. 8.1 Controle de custos por processo No tipo de produção por processo, produtos relativamente padroniza- dos são elaborados para estoque e não para clientes específicos. Tal sistema, de acordo com Leone (1995, p. 167), é adotado quando os produtos não podem ser identificados no processo produtivo. Muitas empresas utilizam os dois sistemas de custeamento: por ordem e por processo. Por exemplo: em uma fábrica de transformadores onde o produto é elaborado segundo especificações do cliente, o custeamento por ordem de produção é adotado na acumulação de custos dos transformadores e de muitos de seus componentes; o custeamento por processo será empre- gado para a acumulação dos custos de pequenos componentes que serão utilizados na montagem do transformador e também vendidos no mercado. 8.2 Comparação entre custos por ordem e processo O sistema de custo por processo é empregado em fábricas cuja produção é contínua e padronizada; o sistema de custo por ordem é aplicado em indústrias que recebem pedidos específicos dos clientes. – 161 – Produção por processo ou em série Os custos de produção no processo são registrados por fases de fabricação; na ordem, os custos serão acumulados por produto, segundo cartões denomi- nados de Ordem de Produção (OP). A acumulação de custos no processo, uma vez que coincide com o período contábil, frequentemente exige avaliação dos estoques em produção para a determinação do custo; na ordem, não havendo essa estreita dependência do período contábil, os custos são determinados apenas pela acumulação dos custos já existentes nas OPs. Seguindo o fenômeno americano da produção em massa e o aper- feiçoamento tecnológico que reduziram o tempo de transformação da matéria-prima em produtos acabados, a engenharia se obrigou a rotinizar e padronizar as operações de produção tanto do homem como da máquina, surgindo o processo. Taylor1 acreditava que o trabalho podia ser científico se os passos que cada trabalhador dava fossem padronizados. Nas primeiras décadas deste século, Taylor decidiu que havia uma maneira melhor (padrão) de realizar cada tarefa, uma ferramenta melhor (padrão) para utilizar nessa tarefa e um tempo estipulado (padrão) no qual esta podia ser completada. Além disso, se a produção em massa exigiu a padronização de máquinas, produtos e processos, o mercado sempre crescente exigiu uma padronização correspondente de dinheiro e mesmo de preços. Ao final do século XIX, com cada vez mais modificações feitas na fábrica, os custos humanos da especialização multiplicaram-se de acordo. Os críticos do industrialismo afirmaram queo trabalho altamente especializado e repeti- tivo desumanizava progressivamente o trabalhador. Pela época em que Ford2 começou a fabricar o modelo T, em 1908, eram necessárias 7 882 tarefas espe- 1 Frederick Winslow Taylor (1856-1915), criador do sistema denominado de taylorismo “que recomenda a adoção de métodos e normas visando à maximização do rendimento da mão de obra, com base numa análise minuciosa de cada tarefa a ser executada.” (FERREIRA, 2004). 2 Henry Ford (1863-1947) foi um empreendedor estadunidense que fundou a Ford Motor Company e foi o primeiro empresário a aplicar a montagem em série de forma a produ- zir em massa automóveis em menos tempo, e a um preço menor. Disponível em: <http:// pr.wikipedia.org/wiki/Henry_Ford>. Gestão de Custos – 162 – cializadas para completar uma unidade. Em sua biografia, Ford registrou que dessas 7 882 tarefas especializadas, 949 exigiam homens fortes, fisicamente hábeis e praticamente perfeitos; 3 338 tarefas precisavam de homens de força física apenas comuns, a maioria do restante podia ser realizada por mulheres ou crianças crescidas e, continuava friamente, verificamos que 670 tarefas podiam ser preenchidas por homens sem pernas, 2 637 por homens com uma perna só, duas por homens sem braços, 715 por homem com um braço só e 10 por homens cegos. “Em suma, a tarefa especializada não exigia um homem inteiro, mas apenas uma parte. Nunca foi apresentada uma prova mais vívida de quanto a superespecialização pode ser brutalizante.” (TOFLER, 1992, p. 59-66). Processo é, pois, um elemento da organização estrutural da empresa, no qual se realiza um trabalho específico, bastante especializado e repetido. Departamentos, centros de custos, centro de responsabilidade, função e operação são algumas outras denominações usadas para descrever um processo. São exemplos de processo: 2 Montagem e submontagem; 2 Usinagem; 2 Lixamento; 2 Pintura; 2 Polimento; 2 Limpeza a jato de areia; 2 Acabamento. Qualquer um dos processos pode ser usado na fabricação de diversos produtos, como também qualquer produto pode exigir o processamento por meio de diversos processos. Na Contabilidade de Custos por processo, a característica é o agrupa- mento dos custos para um período de tempo, conforme o processo. – 163 – Produção por processo ou em série Os custos, diretos e indiretos, são acumulados nas contas próprias durante o período e, ao final, são classificados por departamento ou processo. O total de cada processo é dividido pelas quantidades de produtos fabricados em cada processo, obtendo-se o custo médio unitário do período. Vejamos o exemplo trazido por Leone (1982, p. 285), apresentando o fluxo básico de produção de uma lanterna que é produzida através de vários processos de fabricação e de montagem: Fornecedores Fabricação Componentes Tampa Corpo Contato de suporte da lâmpada Cabeça Contato de suporte da lâm- pada; lâmpada e vidro com a cabeça Operador com o corpo Contato com a tampa Montagem (Fonte: LEONE, 1982, p. 286) 8.3 Determinação do custo de produção Pode-se dizer que existem duas formas de fabricação do produto industrial: 2 Fabricação simples – quando é necessária apenas uma fase de transformação. Dessa forma, o produto é produzido em um único centro produtivo. Gestão de Custos – 164 – 2 Fabricação complexa – quando, para a fabricação de um produto, é necessário executar diversas etapas no processo fabril. Entre essas formas, Campiglia (1994, p. 160) destaca que as seguintes hipóteses podem ocorrer para a apropriação dos custos: 2 um único processo e um único produto; 2 um único processo e dois ou mais produtos; 2 diversos processos e um produto. 8.3.1 Um único processo e um único produto O custo médio unitário quando se tratar de um único processo e um único produto é o somatório dos custos de materiais diretos, mais a mão de obra direta, mais os custos indiretos, dividido pelo volume produzido. Custo Médio Unitário = MD + MOD + CIF Volume produzido Por exemplo: admitindo-se que uma fábrica tenha produzido em deter- minado mês 50 000 unidades de um certo produto, que ao final desse mês todas as unidades estivessem concluídas e que tenham ocorrido os seguin- tes custos: materiais, R$30.000,00; mão de obra direta, R$15.000,00; CIFs, R$21.000,00, a demonstração do custo seria muito simples. Custos de produção Custo total (R$) Qde. produzida Custo unitário (R$) Materiais 30.000,00 50 000 0,60 Mão de obra direta 15.000,00 50 000 0,30 Custos indiretos 21.000,00 50 000 0,42 Total de cus- tos aplicados 66.000,00 50 000 1,32 8.3.2 Um único processo e dois ou mais produtos O custo médio unitário, quando se tratar de um único processo e de dois ou mais produtos, é o somatório dos custos de materiais diretos, mais a mão – 165 – Produção por processo ou em série de obra direta, mais os custos indiretos rateados proporcionalmente, de cada um dos produtos produzidos, divididos pelo volume de produtos produzidos. Como exemplo, suponha-se que de um único processo surjam os produtos 1 e 2. A apuração do custo médio unitário será obtida pela aplicação das seguinte fórmulas. Custo Médio Unitário do produto 1 = MD1 + MOD1 + CIF (proporcional) Volume de 1 produzido Custo Médio Unitário do produto 2 = MD2 + MOD2 + CIF (proporcional) Volume de 2 produzido Admitindo-se, por exemplo, que uma olaria tenha fabricado 1 000 tijolos de quatro furos e 1 000 tijolos de dois furos. Os custos de produção são os de matéria-prima (barro) que monta em R$50,00, a mão de obra direta que totaliza R$20,00 e os custos indiretos de fabricação que resultam em R$10,00. Sabendo-se que o tijolo de quatro furos consome 60% do material direto e o de dois furos, 40%, a demonstração do custo seria a seguinte: Componente de custo Valor total Tijolos de 4 furos (60%) Tijolos de 2 furos (40%) Material direto R$50,00 R$30,00 R$20,00 Mão de obra R$20,00 R$12,00 R$8,00 CIFs R$10,00 R$6,00 R$4,00 Total R$80,00 R$48,00 R$32,00 Quant. produz. – ÷1 000 ÷ 1 000 Custo unitário – R$0,048 R$0,032 8.3.3 Diversos processos e um produto O custo médio unitário, quando se tratar de diversos processos e um produto, é o somatório dos custos de materiais diretos, mais a mão de obra direta, mais os custos indiretos, dividido pela soma dos volumes de produtos produzidos em cada um dos processos: Gestão de Custos – 166 – Processo A = MD + MO + CIF Volume produzido Processo B = MD + MO + CIF Volume produzido Processo C = MD + MO + CIF Volume produzido Admitindo-se, por exemplo, que uma cimenteira apure o custo de pro- dução de cada tonelada de cimento fabricado em três departamentos com a seguinte estrutura: 2 Processo “A” – Material: 700 toneladas de calcário a R$2,00/t; MOD, R$300,00; CIF, R$200,00; 2 Processo “B” – Material: 10 toneladas de gesso a R$3,00/t, MOD, R$100,00; CIF, R$100,00; 2 Processo “C” – MOD, R$100,00; CIF, R$150,00. O custo do quilograma de cimento (não considerados outros insumos e con- siderando como quebra a quantidade de gesso agregada) seria assim demonstrado: Componentes Centro A (R$) Centro B (R$) Centro C (R$) Kg fabric. Custo kg (R$) Transporte – 1.720,00 1.950,00 – 0 Material 1.400,00 30,00 – – Mão de obra 300,00 100,00 150,00 – CIF 20,00 100,00 150,00 – Total 1.720,00 1.950,00 2.250,00 700 3,21 Como os custos são atribuídos ao processo, e em dados momentos é necessário determinar o valor da produção que está em andamento, a dificul- dade resulta no fato de que a produção inacabada pode estar localizada dentro de qualquer um ou de todos os processos de produção. – 167 – Produção por processo ou em série 8.4 Equivalência de produção Quando ficam produtos em processamento ao final do período, é neces- sário determinar-se em que estágio de fabricação se encontram essas unidades. O passo inicial é definir uma unidade equivalente. Exemplos simples de unidades equivalentes: 2 dois copos que estão com água pela metade,formam uma uni- dade equivalente. 2 oito alunos que fazem metade dos créditos requeridos por uma ins- tituição, equivalem a quatro alunos de tempo integral. As estimativas do estágio de fabricação do produto são feitas, geral- mente, pelas pessoas que estão diretamente ligadas na fabricação do produto. Bom exemplo da equivalência da produção é oferecido pela Pecuária. Marion (1990, p. 190) oferece o seguinte desenvolvimento de equivalência de produção: Inventário de vacas grávidas Equivalentes de produção Tempo de prenhez N.º de matrizes Multiplicador Unidades equivalentes 1 mês completo 420 1/9 46,67 2 meses incompletos 395 2/9 87,78 3 meses incompletos 390 3/9 130 4 meses incompletos 420 4/9 186,67 5 meses incompletos 400 5/9 222,22 6 meses incompletos 380 6/9 253,33 7 meses incompletos 410 7/9 318,87 8 meses incompletos 405 8/9 360 9 meses incompletos 380 9/9 380 Total 3 600 – 1 985,54 (Fonte: MARION, 1990, p. 190. Adaptado.) Gestão de Custos – 168 – Existem 3 600 bezerros a nascer, armazenados no ventre das matrizes e que correspondem a 1 986 unidades inteiras de bezerros. Um problema que normalmente ocorre nas indústrias de produção con- tínua, segundo Martins (1998, p. 175): [...] e que costuma dificultar e às vezes até impedir os cálculos unitá- rios nas fases intermediárias é a não existência de condições para se conhecer os volumes físicos transferidos de um para outro departa- mento. Sem o conhecimento dessas quantidades não é possível traba- lhar-se com custos unitários. Às vezes é preferível não se fazer custos do que tê-los de forma irregular; a crença em números não necessa- riamente verdadeiros é por demais perigosa. Na indústria, de acordo com exemplo trazido de Leone (1982, p. 291), considere-se a fabricação de cadei- ras, onde são produzidos, separadamente, assentos e estru- turas metálicas. As cadeiras obedecem ao seguinte modelo: existem duas partes distintas, fabricadas separadamente: a parte infe- rior (assento e pernas) denominadas de assentos e a parte superior denominada de encosto. No início do mês de setembro, 50 assentos já se encontravam concluídos, faltando fabricar os encostos, podendo-se afirmar que 50% das cadeiras estavam concluídas. A contabilidade informa que na conta denominada de produção em andamento, envolvendo material, mão de obra e Custos Indiretos de Fabricação, está registrada a importância de R$450,00. 50 cadeiras (Fonte: LEONE, 1982, p. 292-301. Adaptado.) No final do mês de setembro, a fábrica informa que saíram do processo 800 cadeiras prontas e a contabilidade registra como gastos de produção (MP, – 169 – Produção por processo ou em série MOD E CIF) R$16.750,00. Informa-se, também, que outros 80 assentos já se encontram concluídos, ou seja, existem 80 cadeiras concluídas pela metade. Para a determinação do custo unitário será necessário, preliminarmente, considerar que: 2 incluídas entre as 800 cadeiras prontas estavam as 50 unidades que, no início do mês se encontravam prontas pela metade; 2 essas 50 cadeiras haviam consumido gastos de produção relativos ao mês de agosto; 2 existiam outras 80 cadeiras concluídas pela metade ao final do mês que haviam consumido gastos de produção relativos ao mês de setembro. Para determinar o custo unitário de cada cadeira é necessário determinar o custo unitário de produção do processo em setembro. Esse custo unitário, por sua vez, somente será achado se for determinado o trabalho efetivo do mês de setembro, em termos de cadeiras, isto é: qual é a produção equivalente, pois existem cadeiras semiprontas no início do mês, iniciadas e acabadas durante o mês e semiprontas ao final do mês. A equivalência da produção do mês de setembro será: Unidades Saldo de agosto Setembro Saldo para outubro 50 unidades parte acabadas no início de setembro equivalem a 25 25 0 Das 800 unidades saídas em setem- bro, 50 foram parcialmente fabri- cadas em agosto (800-50) 0 750 0 80 unidades iniciadas em setembro serão concluídas somente em outubro 0 40 40 Trabalho realmente executado em setembro, ou unidades equivalentes 815 Por outro lado, verifica-se a seguinte totalização de custos de produção: 2 Do mês de agosto R$450,00 Gestão de Custos – 170 – 2 Do mês de setembro R$16.300,00 2 Total R$16.750,00 Dividindo-se os custos de agosto pelas unidades parcialmente concluí- das em agosto (50 unidades concluídas pela metade = 25), tem-se: Custo de agosto = R$450,00 = R$18,00 por unidade 25 unid. equivalentes Dividindo-se os custos de setembro pelas unidades equivalentes de setembro, tem-se: Custo de setembro = R$16.300,00 = R$20,00 por unidade 815 unid. equivalentes Com base nesses custos unitários será possível determinar o valor das unidades acabadas e do estoque final em fabricação (neste exemplo será utili- zado o critério PEPS). Em setembro houve o processamento de 880 unidades das quais: 2 50 vieram parcialmente processadas do mês anterior.; 2 750 foram iniciadas e concluídas no curso do mês; 2 80 foram parcialmente processadas no mês e passaram para o mês seguinte. Essas 880 unidades processadas em setembro, parcial ou totalmente, compõem-se dos seguintes lotes: Período N.º unidades Custos atribuídos Produzidas em ago. e set. 50 50% do custo de ago. 50% do custo de set. 25 . R$18,00 25 . R$20,00 R$450,00 R$500,00 Produzidas em set. totalmente 750 custo total setembro 750 . R$20,00 R$15.000,00 Parcialmente processadas em setembro 80 50% do custo set. 80 . 0,50 . R$20,00 R$800,00 – 171 – Produção por processo ou em série Da mesma maneira que as 50 cadeiras que compunham o lote de produtos em processamento no início de setembro receberam custos de agosto e de setembro, as 80 unidades em processamento ao final do mês recebem custos desse mês e receberão custos do mês de outubro. 8.5 Perdas ou estragos A qualidade tem-se tornado um fator cada vez mais importante na men- suração da satisfação do cliente. As empresas que implantam sistemas de qualidade focalizam sua atenção ao conceito de aperfeiçoamento contínuo que é aplicável aos produtos e às suas características. A qualidade tem sido vista e se tornado em um fator cada vez mais importante na mensuração da satisfação do cliente. Quando os clientes com- pram produtos sem qualidade têm a tendência de mudar de marca. Sem controle de qualidade, a fabricação de produtos de baixa qualidade representa custos, pois produtos danificados, por não atenderem às especifica- ções ou que não possam ser processados são considerados perdas na produção. A mensuração do custo das perdas na produção e dos custos de sua redução (custos com o treinamento e qualificação) permite que o gestor possa tomar decisões sobre o aperfeiçoamento da qualidade e redução de custos. Quando houver perdas ou estragos de quaisquer componentes de custo, dois procedimentos poderão ser utilizados: 2 todos os custos decorrentes das perdas ou estragos serão atribuídos às unidades remanescentes. Essa forma é recomendável quando as perdas e estragos se situarem em padrões normais e previstos; 2 todos os custos decorrentes das perdas ou estragos serão atribuídos ao período. Essa forma é adotável para as perdas anormais e de grande valor. Assim, os valores decorrentes das perdas ficam fora do processo e são lançados diretamente ao resultado. Conclusão Quanto à natureza do processo produtivo, os sistemas de custeio podem ser classificados em produção por ordem e produção por processo ou por série. Gestão de Custos – 172 – Custeio por ordem de produção é característico de empresas que produ- zem sob encomenda, sejam estas unitárias ou em lotes. O sistema de custeio por processo adapta-se a empresas que possuem um sistema de produção contínua, com processos consecutivos para produção de produtos padronizados: eletrodomésticos, produtos químicos, produtos hospitalares etc. No sistema de custeio por processo, primeiramente chega-se aos custos porprocesso ou departamento, para posteriormente distribuí-los aos produ- tos que passam por esses processos. Com isso, o cerne desse sistema passa a ser os centros de custo e não mais o produto elaborado através de uma ordem de produção. Ampliando seus conhecimentos Gestão de custos (Prado, 2001) Um pouco de história! Poderíamos dizer que a origem dos sistemas de custeios pode ter se iniciado na necessidade do homem em contar e identi- ficar as suas necessidades de sobrevivência. Supõe-se que sua origem remonta à Florença, cidade que desde o século XII se distinguiu pela fabricação de tecidos. A ilustre família dos Médicis, por exemplo, que originalmente se dedicaram aos bancos, excurcionaram logo na indústria têxtil, comprando lã em bruto e vendendo tecidos acabados, que eram produzidos por confeccionadores individuais em seus próprios domicílios. Como cada fase dessa produção era realizada por diferentes famílias, os Médicis usaram o método de registros de custos separados por processo individual. – 173 – Produção por processo ou em série Sistemas de custos ao longo do tempo 2 Século XVIII – Renascença: Pouco desenvolvido, devido à maior ênfase dada ao comércio do que à pro- dução. Exceções são identificadas a partir de 1577, onde empresas mineradoras da Áustria mostravam em seus registros contábeis a acumulação de custos de materiais, mão de obra e certos gastos que eram lançados em uma conta chamada “Fundição” e logo em seguida se credita- vam a produtos acabados. 2 Século XIX – Somente nesse século a contabilidade de custo evoluiu, devido à necessidade de incorporar em cifras aos custos totais os gastos de fabricação. O fato curioso que dificultava a contabilidade de custos era a divulgação de conhecimento de processo de fabricação, muitas vezes considerado como segredo industrial, e era reduzido o número de contadores que tinham visão geral sobre o tema. 2 1900-1925 – Com o advento da Revolução Industrial, mais e mais justificava-se a criação de técnicas de apura- ção de custos. Surge, então, a técnica de “Custos Dire- tos”, pois a indústria já começava a dominar a técnica de produção em série. 2 1919 – Fundada nos Estados Unidos a “National Asso- ciation of CostAccountant”, cujos boletins informativos começaram a moldar os profissionais e professores a par- tir de então. 2 1925-1950 – Controles Estatísticos - Custos Standard criado pelos alemães. 2 1950-1980 – As empresas começaram a se interessar pelos problemas dos custos, ao compreender o signifi- cativo papel que estes desempenhavam na mensuração da eficiência fabril. Começam a surgir várias técnicas de apuração de custos. Gestão de Custos – 174 – 2 1980-2000 – Era da informação. Com o desenvol- vimento da microinformática e a internet, as empre- sas começaram a ter poder de processamentos para obter mais rapidamente respostas para suas análises de custos. 2 2000-... – Aprimoramento dos sistemas ERP, desenvol- vimento da ideia de negócios na internet através de B2B, B2C e outras siglas mais. Tipos de sistemas de custos Sistema de custo histórico O sistema de custeamento baseado em custos históricos ou atuais pode ser definido como um sistema no qual os custos são registrados e sumariados tais como ocorrem. Em conse- quência, nesse sistema os custos somente são determinados após o término das operações de manufatura ou da execução dos serviços prestados pela empresa. Sistema de custo predeterminado Como o próprio nome sugere, os custos predeterminados são os custos estabelecidos com antecedência sobre as operações de produção. Em um sistema baseado em custos predetermi- nados, material, mão de obra e gastos gerais de fabricação são contabilizados nas bases de preço, uso, e volume previstos. Os custos predeterminados são usados quando a gerência está interessada, primeiramente, em conhecer quais deveriam ser os custos, para depois compará-los com os custos reais. Sistema de custos por ordem de produção O sistema de custo por ordem de produção é o sistema de custeamento no qual cada elemento do custo é acumulado separadamente, segundo ordens específicas de produção, emitidas pela seção de fabricação. As ordens de produção são emitidas para início da execução do serviço e nenhum trabalho – 175 – Produção por processo ou em série poderá ser iniciado sem que ele seja devidamente autorizado pela correspondente emissão de uma ordem de produção. Sistema de custos por processo O sistema de custo por processo é usado invariavelmente na contabilidade dos custos de uma produção em massa. Usual- mente, em tais operações, todos os produtos são fabricados para estoque; uma unidade de produção é idêntica à outra; os produtos são movimentados no processo de produção continuadamente e todos os procedimentos da fábrica são padronizados. Nessas condições a identificação de qualquer custo específico não é relevante. O custo por processo é caracterizado pela acumulação dos custos de produção em cada uma das etapas do processo contínuo de fabricação de produtos homogêneos. Os cus- tos médios, acumulados durante uma etapa, são transferidos para etapas seguintes. As alocações são necessárias somente quando um material ou produto é dividido em dois ou mais subprodutos. Sistema de custo-padrão O termo custo-padrão possui diversos significados e implica- ções. Algumas peculiaridades desse termo são expostas a seguir: Todos os custos-padrão são custos predeterminados. Toda- via, nem todos os custos preparados antes das operações são incluídos na categoria de custo--padrão. Os custos-padrão são estabelecidos por um processo científico, utilizando-se a expe- riência passada e presente. Daí o processo de determinação dos custos-padrão, geralmente, incluírem: 2 uma seleção cuidadosa do material; 2 estudos de tempo e motivação das operações; 2 um estudo de engenharia do equipamento e das opera- ções de manufatura. Gestão de Custos – 176 – Sistema de custo direto O conceito de custeio direto envolve a classificação dos cus- tos de manufatura em fixos e variáveis, com a subsequente apropriação dos custos variáveis aos custos do produto, sendo os custos fixos diretamente lançados a lucros e perdas no período em que ocorreram. Definindo-se de uma outra forma, é o conceito da contabilização dos custos de manufa- tura, segundo o qual somente os custos que foram consequên- cia da produção devem ser computados nos custos unitários. Sistema de custo por absorção É a técnica de custo que procura calcular o custo dos produtos vendidos (Contábil), esta técnica apropria aos produtos custos: 2 Diretos; 2 Indiretos. Os custos diretos são alocados diretamente aos produtos, com base em planilhas com registro do consumo de cada produto. Custos diretos são aqueles diretamente relacionados com a execução do serviço ou elaboração da produção. Os CIFs (principal e auxiliar) são apropriados aos produtos com base em critérios de rateio. Para alocar os custos indiretos inicia-se com a alocação dos Centros de Custos auxiliares e depois com os principais. No custeio por absorção as despesas administrativas e comer- ciais não são apropriadas aos produtos. Sistema de Custos Uep – Unidades de Esforços de Produção Técnica de custo que é semelhante ao custeio por absorção no que se refere aos elementos de custeios considerados. É adequada à finalidade contábil de apuração de custos de estoque e vendas, pois mantém segregadas do custo do pro- – 177 – Produção por processo ou em série duto as despesas de administração e vendas. Assim como no custo por absorção, o UEP apropria nos pro- dutos todos os custos: diretos e indiretos. O UEP não se aplica ao custo de instituições financeiras e empresas comerciais. Sistema de Custo Abc – Atividade O pressuposto básico é que os recursos das empresas são consumidos pelas atividades desenvolvidas; os produtos, por sua vez, consomem atividades. 2 Recursos: são fatores de produção consumidos na empresa,como: pessoal, materiais, computadores, tele- fone etc. Corresponde às categorias de despesas ou contas(na visão contábil). 2 Fatores de consumo de recursos: são os parâmetros usa- dos para custear as atividades, como: horas de trabalho, tempo de uso de telefone etc. 2 Atividades: são conjuntos de tarefas relacionadas, podendo ser executadas em mais de uma área funcional. As atividades consomem recursos na empresa. Sistema Target Costing (Custo-Alvo) Target Costing (custo-alvo a atingir ou custo projetado) é uma ferramenta da gestão de custo para redução do custo durante todo o ciclo de vida de um produto, que também pode ser usada para reduzir investimentos com desenho, produção e distribuição do produto. O custo-alvo é o custo máximo de manufatura de um determi- nado produto – um custo que permitirá o retorno esperado dentro de um certo nicho do mercado e, também, que o produto ganhe uma certa porção do mercado. O custo-alvo pode ser computado, tomando-se o preço de mercado espe- Gestão de Custos – 178 – rado dentro do nicho apropriado e subtraindo desse preço a esperada margem nas vendas. O custo-alvo não é ferramenta para o controle do dia a dia. Em vez disso, é uma ferramenta de planejamento de custos que focaliza o controle das especificações do desenho e as técnicas de produção, contribuindo, assim, para a meta de entregar um produto competitivo ao mercado. Atividades de aplicação 1. A Cia. Ômega fabrica maçanetas para portas. O produto passa por dois centros de custos. O centro Alfa tinha 5 500 maçanetas em pro- cessamento em 1.º de julho e 2 500 em processamento no dia 31 de julho. Durante o mês, 6 000 maçanetas foram transferidas para o centro Beta para processamento adicional. Não existem unidades completadas em estoque no final do mês. Pede-se: a. Calcular o número de maçanetas iniciadas em processamento adi- cional durante o mês de julho. b. Preparar uma demonstração de quantidades para o centro Alfa. 2. Supondo-se que existam duas unidades de um produto sendo fabri- cadas. Uma delas está com 90% dos trabalhos já executados e a outra com 10%. Qual é a produção equivalente e qual o grau médio de acabamento da produção em andamento? 3. A Cia. Gama possui os seguintes dados e informações, em unidades (CASHIN, 1982, p. 95): Produtos em processo em 1.º de janeiro de X1 (100% completadas quanto a MP+MOD+custo) 4 000 Unidades iniciadas e em processamento 46 000 50 000 – 179 – Produção por processo ou em série Unidades transferidas para outro centro 36 000 Unidades completadas e em estoque 8 000 Unidades ainda em processamento (com MP de 100% e MOD+CIF de 33%) 6 000 50 000 Pede-se para calcular as unidades equivalentes para a Cia. Gama. 4. Uma empresa apresentou os seguintes dados ao final de determinado período: Estoque de produtos em elaboração R$194.600,00 Custo de transformação unitário R$62,00 Considerando que a empresa possui uma linha de produção por pro- cesso, sendo seu custeamento efetuado por departamentalização e, ainda, que o estoque de produtos em elaboração registra 2 500 uni- dades em fase de fabricação. 5. As seguintes informações foram extraídas da contabilidade da Cia. Cel- ta (CASHIN, 1982, p. 48): Unidades tranferidas para o centro “B” 80 000 Unidade completadas e ainda em estoque 4 000 Produção em processo (10 000 unidades): Relativamente à matéria-prima 100% completadas Relativamente à MOD e CIF 60% completadas Pede-se para, com os dados acima, determinar a produção equivalente. 6. Na Indústria Ocular a matéria-prima (metal, plásticos e aces- sórios) é adicionada no início do processamento e a mão de obra Gestão de Custos – 180 – direta e os Custos Indiretos de Fabricação ocorrem uniforme- mente durante o processamento. Durante o mês de abril ocorreram os seguintes custos: MP, R$9.000,00; MOD, R$7.000,00; CIF, R$4.000,00 e deu-se início à fabricação de 10 000 óculos dos quais 8 000 foram inteiramente acabados e 2 000 estavam 50% acabados no final do mês. Pede-se para apurar o custo de fabricação dos óculos totalmente aca- bados e o custo dos óculos em processamento no mês de abril. Custos conjuntos Introdução Com o desenvolvimento das atividades empresariais, é cada vez mais comum a existência de companhias que utilizam o mesmo complexo industrial para a produção de diversos coprodutos ou subprodutos, muitas vezes com a utilização das mesmas matérias- -primas, máquinas e mão de obra. Novos modelos e novas técnicas estão sendo buscados para melhorar a tomada de decisões nas áreas de contabilidade e gestão. Esses modelos devem levar em consideração a possibilidade de tomar decisões capazes de otimizar os resultados econômicos e financeiros e melhorar a utilização da capacidade instalada. Isso ocorre, principalmente, nos setores químico e petro- químico, refinarias de petróleo, farmacêutico, usinas de processa- mento de produtos agrícolas, setor alimentício, metalúrgico, mine- ração e fertilizantes. A utilização da mesma planta industrial – ou parte dela – tem representado um grande desafio para os gestores das organiza- ções, para os profissionais da Contabilidade de Custos Gerencial e Fiscal, bem como para os fiscais e auditores. 9 Gestão de Custos – 182 – 9.1 Produção conjunta A ocorrência da produção em conjunto é mais comum nas empresas de produção contínua. Podem ocorrer, também, nas empresas que produ- zem por encomenda. Por exemplo: as produtoras de móveis de madeira por encomenda, que, a partir de um único lote de toras, podem fabricar peças de diferentes tipos e qualidade. Existem processos industriais em que há uma série de custos que não são facilmente atribuíveis aos produtos resultantes. É o caso da atividade indus- trial em que do fluxo comum do processo produtivo surgem mais de uma espécie ou qualidade de produtos. Quando dois ou mais produtos emergem de uma mesma matéria-prima, ou de outros recursos como a mão de obra, ou de um mesmo processo, a produção é chamada de produtos conjuntos ou coprodutos. Custo conjunto, portanto, são os custos de produção: matérias-primas, mão de obra, depreciação e outros custos indiretos ocorridos do início até o ponto de separação dos processos em conjunto. Por exemplo: 2 Um frigorífico, cuja atividade consiste em abater o gado, cortá-lo em diferentes qualidades de carne (filé, alcatra, contrafilé, patinho etc.) e armazenar as peças resultantes em câmaras frigoríficas até sua venda; 2 A produção de coque (carvão destinado à metalurgia), na qual o carvão mineral é a matéria-prima principal. Essa matéria-prima, após passar pelo forno de coque, resulta em vários produtos: o pró- prio coque, sulfato de amônia, benzol, alcatrão bruto e gás; 2 A refinação do óleo cru, cujo processo de redução resulta em uma produção simultânea de óleo combustível, gasolina, óleo lubrifi- cante, parafina e asfalto. Esse tipo de fabricação, que se caracteriza por um fluxo comum de produ- ção até um determinado momento, denominado de ponto de separação, e do qual resulta uma multiplicidade de produtos, é chamado de produção conjunta. Ponto de separação é, pois, o ponto – ou etapa – do processo produtivo no qual cessa o processamento industrial em conjunto. – 183 – Custos conjuntos A partir do ponto de separação, os derivados podem ser vendidos no estado bruto ou submetidos a outros processos específicos de industrialização. Por exemplo: em uma refinaria, a gasolina derivada do refino do petróleo bruto pode ser vendida nesse estado ou ser novamente industrializada para a obten- ção de combustíveis especiais para aeronaves, embarcações e veículos especiais. A seguir é apresentado um fluxo de produção de uma indústria de laticínios. 2 Processo 1: Entra a matéria-prima principal, o leite in natura, que é processado, e saem do processo dois coprodutos: o leite não processado e a nata. Sai, ainda, um subproduto: o soro que é a sucata do leite. O leite não processado pode ser vendido ou processadonos proces- sos 2 e 3. A nata vai entrar no processo 5 ou pode ser vendida. 2 Processo 2: Entra o leite não processado e saem o coproduto leite tipo M, que é vendido, e o subproduto leite-zero. 2 Processo 3: Entra o leite não processado e saem o coproduto leite tipo C, as perdas normais e o subproduto leite desvitaminado. O leite tipo C vai ser processado no processo 4 ou, então, será vendido. 2 Processo 4: Entra o leite tipo C e o creme proveniente do processo 5 para a produção do creme de leite, que é vendido. Perdas normais também se apresentam. 2 Processo 5: Entra a nata e saem três coprodutos queijo, manteiga e creme. Além disso, saem as perdas normais e o subproduto, nata desfeita. O queijo é vendido. A manteiga pode ser vendida ou vai para o processo 6. O creme pode ser vendido ou seguirá para o processo 4. 2 Processo 6: Entra a manteiga e sai, além das perdas normais, o coproduto requeijão que é vendido. Como subproduto, o processo produz a manteiga líquida. 9.2 Produtos conjuntos ou coprodutos Produtos conjuntos ou coprodutos são dois ou mais produtos prove- nientes da mesma matéria-prima. Gestão de Custos – 184 – Os coprodutos são também chamados de produtos principais, tendo em vista a importância de suas vendas para o faturamento global da empresa. Coprodutos são, portanto, aqueles gêneros produzidos simultaneamente como resultado da mesma operação, em que não há uma maneira positiva de determinar o valor do custo aplicável a cada um deles. Os coprodutos serão dois ou mais produtos, nenhum dos quais é de suficiente importância para ser considerado produto principal, ocupando cada um deles posição relevante no mercado, do ponto de vista da empresa que o produz. Por exemplo: de um mesmo lote de toras de madeira, uma serraria pode produzir diversos coprodutos, como vigas, pranchas, ripas, portas, rodapés, caibros, sarrafos, tacos, batentes etc. Um outro exemplo ocorre em uma indústria de plásticos. De um mesmo lote de resinas de PVC, podem ser gerados canos, tubos, conexões, caixas etc. A produção conjunta é mais comum na produção contínua ou por processo, mas pode ocorrer também na produção por ordem ou encomenda. 9.3 Subprodutos Subprodutos, no dizer de Martins (1998, p. 131), são aqueles itens que, nascendo de forma normal durante o processo de produção, possuem mer- cado de venda relativamente estável, tanto no que diz respeito à existência de compradores como quanto ao preço. São itens que têm comercialização tão normal quanto os produtos da empresa, mas que representam porção ínfima do faturamento total. O subproduto separa-se do produto principal em um determinado ponto do processo de fabricação. O surgimento dos subprodutos decorre da evolução tecnológica dos processos produtivos, que permitem o aproveitamento, em nível comer- cial, de parte das sobras ocorridas na produção. Por exemplo: o vinhoto resultante do processamento da cana-de-açúcar nas usinas, era, até recente- mente, considerado como um lixo poluente dos rios e lagos. Atualmente, as usinas já estão reaproveitando comercialmente tais resíduos para a fabri- cação de fertilizantes. – 185 – Custos conjuntos Um outro exemplo são as sobras nos frigoríficos, que até recentemente eram incineradas ou jogadas no lixo, agora são exploradas comercialmente para a fabricação de ração animal. Existem custos comuns que se referem às fases anteriores ao ponto de separação. Esses custos são indivisíveis até o momento da separação e só poderão ser apropriados a cada tipo de produto, como no caso da coprodução, com fundamento em bases lógicas. Admitindo-se que, pelo menos um dos produtos que constituem a pro- dução da empresa, tem importância secundária, em termos de receitas decor- rentes de vendas ou de outros critérios, defronta-se com o subproduto. A premissa para a existência de subproduto é a de que o produto secun- dário tenha um valor de mercado, embora não tão importante quanto o valor da venda da produção do produto principal. Por ser difícil estabelecer uma norma para identificar o subproduto, em geral, se o valor do produto é inferior a “10% do valor total de todos os produtos, considera-se este como um subproduto” (LEONE, 1995, p. 190). Leone (1995, p. 191) fornece um bom exemplo de subproduto, ao transcrever o processo industrial da fabricação de moedas para serem vendi- das à Casa da Moeda. O fabricante cunhava as moedas, sendo que as mesmas eram o produto principal. O processo produtivo era o seguinte: 2 Uma folha de metal é adquirida dos fornecedores e a prensa corta as moedas nas medidas exigidas como mostra a figura a seguir. (Fonte: LEONEL, 1995, p. 191) Folha de metal Moedas Folha do metal com os buracos das moedas Produto final cliente Gestão de Custos – 186 – 2 A folha de metal é dobrada de forma especial e se torna uma lixeira que é vendida por preço menor, caracterizando-se, por isso, como um subproduto, conforme se vê a seguir: dobradeira (Fonte: LEONEL, 1995, p. 191) 9.4 Sucatas Na maioria das vezes, as sucatas fazem parte do processo produtivo e não há como evitá-las. Elas surgem do processo de produção normal, assim como podem ser compostas de coprodutos ou subprodutos rejeitados, ou mesmo de um lote de materiais reprovados pelo controle de qualidade. Ao contrário dos subprodutos, as sucatas não têm garantia alguma de que serão vendidas e sua venda é esporádica e realizada por valor não previsí- vel na data da fabricação dos produtos. Por exemplo: uma editora de livros utiliza bobinas de 500 quilos, de acordo com as especificações de sua impressora. No entanto, o volume de livros programado para a utilização do papel contido em determinada bobina irá consumir apenas 480 quilos de papel. Por problema de programação das máquinas, torna-se inviável, técnica e economicamente falando, o reaproveitamento da sobra de 20 quilos que ocorrerá nessa bobina. Portanto, essa sobra de 20 quilos será considerada como aparas de papel e, como tal, será vendida para os sucateiros ou para as gráficas de menor porte. Outro exemplo são as aparas de metais. Uma indústria metalúrgica utiliza, em seu processo produtivo, chapas de aço de 0,50cm por 1,0m, da qual aproveita apenas 0,50cm por 0,90cm no corte e prensagem das peças. Evidentemente, em cada chapa ocorrerá uma perda inevitável, que será considerada como aparas de metal. Por ser sua venda um evento incerto e aleatório, não são avaliadas para fins de estoques, não recebendo custos, pois os mesmos ficam incorporados – 187 – Custos conjuntos automaticamente às unidades boas. Dessa maneira, pode-se afirmar que sucatas são aqueles itens cuja venda é esporádica e realizada por valor não previsível na data em que surgem na produção. As sucatas não recebem atribuição de nenhum custo, mesmo que elas sejam inerentes ao processo e surjam como itens normais em uma produção contínua, exatamente pelos problemas relativos à sua potencialidade de obtenção de receita. Quando ocorrer a venda, a receita proveniente será considerada como receitas eventuais em outras receitas operacionais. 9.5 Determinação dos custos Inicialmente, como ensina Maher (2001, p. 333), é necessário achar as razões pelas quais os custos conjuntos são rateados. Podem ser listadas as seguintes razões: 2 algumas empresas que remuneram seus diretores e funcionários com base no lucro bruto ou faturamento; 2 as seguradoras, em caso de ocorrências de casos fortuitos, necessi- tam determinar os valores dos estoques dos produtos; 2 as empresas têm necessidade de ratear custos conjuntos para medir o valor dos produtos que resultam de processos conjuntos. As razões citadas, como se pode observar, envolvem interesses opostos. Os que participam dos lucros ou do faturamento objetarão um custo que considerarem muito elevado. As seguradoras questionarão os valores dos esto- ques sinistrados apresentados se estes não se apresentarem de forma adequada. Assim, como afirma Maher(2001, p. 334), “[...] quando o rateio de custos afeta o bolso de partes opostas, ambas as partes analisam o método de rateio aplicado.” Qualquer método de rateio, porém, contém elementos de arbitrarie- dade, ou seja, nenhum método está acima de questionamentos. Por isso, pode-se dizer que para a alocação dos custos do processo aos coprodutos, quaisquer critérios são muito arbitrários, mas como é necessário Gestão de Custos – 188 – chegar ao custo usam-se os mais conhecidos para a alocação dos custos comuns aos coprodutos, que são os seguintes: 2 valor do mercado ou valor das vendas; 2 volumes produzidos; 2 igualdade do lucro bruto; 2 características físicas dos produtos; 2 método das ponderações. 9.5.1 Valor do mercado ou valor das vendas Esse método é o mais utilizado na prática, mais em função da inexis- tência de outros melhores do que de méritos próprios, já que a alegação de que produtos de maior valor são os que recebem ou têm condições de receber maior custo, carece de maior racionalidade. Talvez seu grande mérito esteja no fato de distribuir o resultado de forma homogênea aos coprodutos. Esse método consiste em atribuir custos proporcionalmente ao valor de mercado dos coprodutos. O produto de ponta, de maior popularidade, de maior preço de venda terá também o maior custo. Suponhamos que a Cia. Alfa (VICECONTI, 1998, p. 118) apresente um custo de produção de R$6.000.000,00 correspondente aos produtos X, Y e Z, cujos preços de venda e quantitativos de produção sejam os seguintes: Coprodutos Preço venda un. (R$) Volume produção Valor da venda (R$) Proporção X 100,00 28 000 2.800.000,00 35% Y 80,00 40 000 3.200.000,00 40% Z 40,00 50 000 2.000.000,00 25% Total 118 000 8.000.000,00 100% A atribuição dos custos será feita com base no faturamento correspon- dente ao volume produzido: – 189 – Custos conjuntos Coprodutos % valor da venda Custo atribuído (R$) X 35% 2.100.000,00 Y 40% 2.400.000,00 Z 25% 1.500.000,00 Total 100% 6.000.000,00 Se, após o ponto de cisão, houver custos adicionais separáveis e, por- tanto, diretamente atribuíveis a cada coproduto, o critério de alocação passa a ser a porcentagem do faturamento menos os custos adicionais. Assim, supondo que os coprodutos X, Y e Z tivessem custos adicionais de produção iguais a R$400.000,00, R$200.000,00 e R$200.000,00, respectivamente, a atribuição dos custos conjuntos ficaria: Coprodutos Valor de vendas (-) custo adicional (R$) % Custo atribuído (R$) X 2.400.000,00 33,33 2.000.000,00 Y 3.000.000,00 41,67 2.500.000,00 Z 1.800.000,00 25,00 1.500.000,00 Total 7.200.000,00 100,00 6.000.000,00 9.5.2 Volumes produzidos A alocação dos custos conjuntos é feita com base na porcentagem de cada coproduto em relação ao volume de produção (que pode ser medido em unidades, litros, quilos etc.). Coprodutos Unidades produz. % Custo atribuído (R$) X 28 000 23,73 1.423.800,00 Y 40 000 33,90 2.034.000,00 Z 50 000 42,37 2.542.200,00 Total 118 000 100,00 6.000.000,00 Gestão de Custos – 190 – Esse método não pode ser utilizado quando a produção de coprodutos for mensurada em unidades de medidas diferentes. 9.5.3 Igualdade do lucro bruto Esse método consiste em atribuir custos conjuntos de tal forma que o lucro por unidade produzida seja igual para todos os coprodutos. Para a Cia. Alfa, caso não existissem custos adicionais, e considerando os R$8.000.000,00 de receita bruta, o lucro seria o seguinte: Receita Bruta R$8.000.000,00 (–) custos conjuntos (R$6.000.000,00) (=) Lucro Bruto R$2.000.000,00 O lucro bruto, por unidade seria de R$16,949152, que é o resultado da divisão de R$2.000.000,00 por 118 000 unidades produzidas. Dessa maneira, o custo seria distribuído da seguinte forma: Coproduto Preço de venda (R$) Lucro p/ unid. (R$) Custo unitário (R$) Custos totais (R$) X 100,00 16,94915254 83,05084746 2.325.423,73 Y 80,00 16,94915254 63,05084746 2.522.033,90 Z 40,00 16,94915254 23,05084746 1.152.542,37 Total de custos 6.000.000,00 9.5.4 Características físicas dos produtos A característica física será utilizada para a distribuição dos custos, a par- tir do peso relativo de cada coproduto. Supondo-se que uma tonelada de carvão custe R$12.000,00 e que duas toneladas de carvão sejam processadas, resultando nos produtos a seguir, os custos seriam distribuídos da seguinte forma: – 191 – Custos conjuntos Produto Produção kg Dist. sobras Prod. ajustada Custo produto (R$) Coque 1 320 69 1 389 16.660,00 Carvão 120 6 126 1.520,00 Benzenol 20 1 21 260,00 Sulfato 30 2 32 380,00 Gás 410 22 432 5.180,00 Subtotal 1900 – – – Sobras 100 – – – Total 2 000 100 2 000 24.000,00 9.5.6 Método das ponderações Embora muito subjetivo, mas às vezes de bons resultados, o método das ponderações consiste em se ponderar cada coproduto em termos de grau de dificuldade, importância, facilidade de venda etc. Conclusão Sem dúvida, nos modernos ambientes industriais verticalizados1, tornam- -se significativamente mais complexas e desafiadoras as atividades envolvendo a apuração dos custos de produção de cada produto – ou linha de produto – para fins de avaliação de estoque, auxílio na determinação dos preços de vendas, aná- lise das margens de lucratividade, do ponto de equilíbrio, fixação dos preços de transferências internas para análise do desem penho divisional etc. Esse problema, na produção conjunta, é mais difícil de ser resolvido que o da apropriação dos custos indiretos aos diversos produtos elaborados. Para estes existem alguns critérios que, apesar de conterem certa arbitrariedade, implicam o uso de algum tipo de análise quanto ao relacionamento entre 1 Define-se indústria verticalizada como um conjunto industrial que elabora o produto em sua totalidade ou quase totalidade. Gestão de Custos – 192 – custos e produtos, como horas/máquina, valor da mão de obra direta, tempo total de execução etc. Pode-se sempre dizer que a alocação de custos para a produção conjunta é muito mais arbitrária do que aquela adotada para rateios de custos indiretos. Do ponto de vista administrativo, quer gerencial ou de controle, essas alocações são de todo irrelevante, já que para decisões interessam apenas os valores de receita total dos coprodutos contra o custo total de obtê-los, pois não se consegue normalmente chegar a um coproduto sem obter o outro, e para controle são mais importantes os custos por operação, atividade, centro de custos etc., do que por produto. Ampliando seus conhecimentos ArcelorMittal Tubarão investe em pesquisa e comércio de coproduto Gestão de resíduos industriais gerou receita de US$53 milhões em 2006 (REVISTA ENGENHARIA, 2007) A ampliação da capacidade de produção anual da Arcelor- Mittal Tubarão de 5 para 7,5 milhões de toneladas de aço, não criará um impacto ambiental. Isso porque os resíduos resultantes da fabricação do aço continuarão a ser reaprovei- tados no próprio processo produtivo ou comercializados para diversos setores. Somente no ano passado, como resultado de sua política de sustentabilidade, que valoriza ao máximo o reaproveitamento de seus resíduos industriais, a Arcelor- Mittal Tubarão bateu recorde em faturamento com a venda de coprodutos. Superou em 20% a receita obtida em 2005 (US$ 40 milhões) e atingiu a marca de US$ 53 milhões (US$ 41,6 milhões com vendas de pós, lamas, escoria de alto-forno e US$ 11,4 milhões com produtos especiais resultantes de – 193 – Custos conjuntos excedente produtivo – energia elétrica, oxigênio e nitrogê- nio). Só de escória de aciaria, a empresa prevê comercializar 550 mil toneladas neste ano, contra 260 mil vendidas em 2006. Com isso, ganha o meio ambiente e também a Arce- lorMittal Tubarão, com oportunidade adicional de receita. Benchmark no setor siderúrgico por sua gestão de resíduos, a companhia tem como pilares da sua gestão ambiental a gera- ção mínima de resíduos, a reutilização ou a reciclagem máxima, gerando o mínimo descarte. O reaproveitamentodos resí- duos originados na produção é superior a 97%, bem acima da média do setor, de 80%. Enquanto as siderúrgicas brasileiras geram em média 56,4 quilos de resíduos sem utilização por tonelada de aço, a ArcelorMittal Tubarão gerou, em 2006, 20 quilos. A companhia investiu cerca de R$ 2 milhões nos últimos cinco anos em pesquisas visando ao aperfeiçoamento da política de reciclagem das siderúrgicas nacionais e desen- volvimento de novos coprodutos. Os estudos são desenvol- vidos em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, com o Ins- tituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) e com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Segundo os ensaios físicos e químicos realizados pelo Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR), órgão do DNIT, as escórias de aciaria e de alto-forno não causam impacto nocivo ao meio ambiente. O instituto planeja desenvolver, até o final de 2007, um centro de tecnologia para estudar as escórias. “O uso desses coprodutos na pavimentação é uma alternativa construtiva. Representa uma inovação tecnológica”, afirmou Chequer Jabour, coordenador do IPR. Comercialização de coprodutos O parâmetro internacional de uma planta siderúrgica inte- grada (produz aços, do beneficiamento do minério à aciaria Gestão de Custos – 194 – e laminação) é gerar cerca de 500 mil toneladas de resí- duos para cada um milhão de toneladas de aço produzido. A ArcelorMittal Tubarão se enquadra nesse perfil: os 7,5 milhões de toneladas de aço produzidos anualmente pela empresa geram cerca de 3,75 milhões de toneladas de resíduos. Escórias, alcatrão, cal, sucatas de aço, ferro gusa, nitrogênio, lama de alto-forno, óxido de ferro são alguns dos 30 coprodutos comercializados pela ArcelorMittal Tubarão, que rendem à companhia uma receita anual média de US$ 50 milhões. Com o aumento da capacidade da empresa para 7,5 milhões de toneladas de aço, deve gerar receita de US$ 75 milhões. Atualmente, 26% (750 mil toneladas) dos resíduos indus- triais da ArcelorMittal Tubarão são reaproveitados no pro- cesso siderúrgico da companhia, e 70% (1 750 milhão de toneladas) são comercializados no Brasil. Com a crescente demanda nacional, principalmente na construção civil pela utilização de cimento (gerado por beneficiamento da escória granulada de alto-forno), a empresa deixou de exportar os coprodutos, como fazia nas décadas de 1980 e 1990, para mercados como Estados Unidos, Argentina e África. Doze setores industriais utilizam os coprodutos da Arcelor- Mittal Tubarão: cimento, concreto, pavimentação rodoviária, lastros ferroviários, pré-moldados (tijolos e manilhas), cerâ- mica, criogênicos (gases), siderúrgicas, carboquímicos, ener- gia elétrica, argamassa e agricultura. A escória granulada de alto-forno, aplicada para a produ- ção de cimento, é o principal coproduto da ArcelorMittal Tubarão. O total anual comercializado gira em torno de 1,25 milhão de toneladas, proporcionando um retorno de cerca – 195 – Custos conjuntos de US$ 20 milhões. O início das operações do alto-forno 3, previsto para este semestre, aumentará a produção de escória de alto-forno para 1,85 milhão de toneladas/ano. Utilizado na produção de piche, o alcatrão é o segundo coproduto mais importante no mix da ArcelorMittal Tubarão. Gera US$ 9 milhões de receita com a produção de 50 mil toneladas/ano, totalmente consumida no mercado capixaba. ArcelorMittal Brasil A produção anual de 10 milhões de toneladas de aço da ArcelorMittal Brasil – formada em dezembro de 2005 a partir da integração da ArcelorMittal Belgo, da ArcelorMittal Tuba- rão e ArcelorMittal Vega –, gera 3,7 milhões de toneladas de resíduos e coprodutos. Em torno de 45% desse total são escórias granuladas de alto forno, destinadas às indústrias de cimento e empreiteiras do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, proporcionando um retorno de aproximada- mente US$ 25 milhões por ano. A Arcelor Brasil comercia- liza mais de 30 coprodutos, que rendeu à companhia mais US$ 65milhões, em 2006. Coprodutos no mundo Embora no Brasil o uso da escória ainda esteja sendo imple- mentada, em outros países essa utilização já está consolidada. Segundo dados do IPR, os EUA reutilizam cerca de 7,5 milhões de toneladas de escória por ano. Na Europa são 12 milhões de toneladas por ano e, no Japão, o uso da escória já está normatizado desde 1979. Gestão de Custos – 196 – Atividades de aplicação 1. A Cia. Alfa pode vender madeira serrada tipo A por R$378.000,00, ou pode processá-la adicionalmente para ter um novo produto tipo A+A. Os custos do processamento adicional serão de R$20.000,00. A madeira tipo A+A poderá ser vendida por R$416.000,00. Qual das opções será mais vantajosa para a Cia. Alfa? Descrição Vender A Vender A+A Receita e custo adicional Receita Custo Margem 2. A Cia. Beta fabrica tábuas tipo A e tipo B. Em janeiro a empresa in- correu em R$125.000,00 de matéria-prima e MOD e R$55.000,00 de Custos Indiretos de Fabricação. As madeiras têm um valor de ven- da total de R$630.000,00 no ponto de separação. A madeira tipo A representa 40% do valor de venda total e tipo B, 60% do total. Pede-se para calcular os custos conjuntos rateados com base no valor do mercado ou do valor das vendas. 3. A Cia. Celta produz combustível para residências e para automóveis. Diversos subprodutos resultam do processo de fabricação. Um dos subprodutos tem valor de mercado de R$3,00 por unidade e uma previsão de vendas de 5 000 unidades. Existem os seguintes custos envolvidos na preparação do subproduto: Despesas com vendas, 15% do valor da venda; custos após o ponto de separação, R$2.500,00. O lucro líquido para o subproduto é de 10% do preço de venda. Pede-se para calcular o custo unitário do subproduto usando o méto- do valor de mercado. – 197 – Custos conjuntos 4. A Cia. Delta fabrica quatro produtos e produziu 10 000 unidades de A; 20 000 unidades de B; 15 000 unidades de C; 25 000 unidades de D. Os custos totais de produção dos quatro produtos foram de R$140.000,00. Pede-se, com base no método de volumes produzidos: a. determinar o custo unitário; b. mostrar de que maneira os custos deveriam ser alocados aos pro- dutos e qual é o percentual de volumes produzidos. 5. A Cia. Gama fabrica coque e alcatrão. A matéria-prima que passa por quatro centros custa R$100,00 a tonelada. A matéria-prima é adicionada no centro de mistura e daí os produtos em elaboração são encaminha- dos ao centro de fornalha onde são separados. Da matéria-prima 50% transformam-se em coque que é levado para o centro de moagem onde é preparado para a venda. Os 50% restantes são encaminhados ao centro de empacotamento onde são completados sob a forma de alcatrão. Os seguintes custos ocorrem na produção de uma tonelada. Custos /ton. Mistura Fornalha Moagem Empacot. Mão de obra 50 30 40 50 CIFs 30 50 35 60 Os preços de venda por tonelada são: coque, R$800,00; alcatrão, R$1.000,00. As despesas com vendas representam 25% do preço de venda de cada produto. Pede-se para calcular o lucro líquido por tonelada de coque e de alcatrão. Gestão de Custos – 198 – 6. A Cia. Ômega apresenta as seguintes contas de receitas, de custos e de despesas: vendas do produto principal: 10 000 unidades a R$6,00/un.; custo de produção: 14 000 un. a R$3,00/un.; inventário final: 4 000 unidades a R$3,00/un.; despesas operacionais, R$2.000,000; receita de vendas de sucatas, R$3.000,00. Pede-se para elaborar uma demonstração de resultado. Custo-padrão Introdução Uma das melhores armas para exercer o controle dos custos é o custo-padrão que é fixado com base em condições ideais de qualidade de materiais, de mão de obra e de equipamento, bem como no volume de produção e é determinado com fundamento em desempenhos desses itens. O custo-padrão é uma arma de controle e pode também representar uma arma psicológica para a melhoria de desempenho do pessoal.A fixação do custo-padrão é tarefa de muitas pessoas e de muitos setores, principalmente da engenharia da produção, de custos e da área financeira, pois há necessidade de determinação de quantidades físicas, de horas de mão de obra, de horas/máquina, de materiais, de energia etc. e a transformação destas em reais. É um custo planejado para determinado período, analisando cada fator de produção em condições normais de fabricação. 10 Gestão de Custos – 200 – 10.1 Custo-padrão Constata-se que há unanimidade em definir e reconhecer o custo-padrão como uma medida de eficiência, pois ele fornece oportunidade de controle e avaliação de desempenho no sentido de buscar o curso esperado, através das análises das variações identificadas. Padoveze (1996, p. 263), afirma que “[...] custo-padrão é uma técnica para avaliar e substituir a utilização do custo real.” No mesmo sentido, Iudícibus (1986, p. 190), ensina que “custo-padrão é um sistema de custeamento de produtos e tem filosofia de controle das operações da empresa”. Segundo Martins (2003, p. 316), existem diversos tipos de custo-padrão, ele prefere, porém, embasar-se somente em dois tipos de custo-padrão: custo- -padrão ideal e custo-padrão corrente. O custo-padrão ideal, nascido na tentativa de se fabricar um custo em laboratório, está quase em desuso, pois seu uso é restrito por servir apenas para comparações realizadas anualmente, a fim de determinar quanto se evo- luiu de um ano para outro. O custo-padrão corrente é mais válido e prático, pois diz respeito ao valor que a empresa fixa como custo de produção para o próximo período para um determinado produto ou serviço. Buscam-se padrões de custos e produção que, mesmo calculados cientificamente, consideram as eventuais condições de imperfeições ambientais, empresariais e de mercado. O custo-padrão corrente fixa um valor de custo para determinado pro- duto ou serviço, levando em conta as diferenças entre qualidade de mate- riais, equipamentos, mão de obra etc. e é usado como meta a ser atingida para o próximo período. O custo-padrão corrente analisa os resultados de estudos teóricos, de pesquisas e de testes práticos, levando em conta os fato- res de produção que a empresa realmente tem à sua disposição. Ao contrário do custo-padrão ideal, que usa períodos de longo prazo, o custo-padrão cor- rente é uma ferramenta de curto e médio prazo, ou seja, ele fixa um mon- tante que a empresa deverá se empenhar para alcançar no período seguinte. É oportuno acrescentar mais um tipo: o custo-padrão estimado. O custo- -padrão estimado parte de uma hipótese que analisa apenas os aspectos práticos, deixando de apontar defeitos ou ineficiência que poderiam ser consertados por – 201 – Custo-padrão ele, sendo assim, menos eficiente que o custo-padrão corrente, pois este é mais elaborado, unindo para estudo os aspectos teóricos e práticos da produção. 10.1.1 Custo estimado ou custo orçado O cálculo do custo-padrão é feito antes do processo produtivo, base- ando-se nos custos de produção de períodos anteriores, para assim, se obter um padrão de gastos com materiais, mão de obra e gastos indiretos. Quanto mais detalhado o padrão de custo de cada elemento, melhores serão os resul- tados obtidos. Ao se calcular o custo-padrão, deve-se observar, também, as sobras de materiais estragados ou defeituosos, elementos integrantes dos cus- tos da empresa. Custo estimado ou orçado são expressões que possuem o mesmo signi- ficado. Usam-se essas duas expressões para significar a mesma coisa, isto é, o custo orçado é aquele planejado que, em muitos casos é baseado na média dos custos passados, ajustada às mudanças futuras previstas. O custo-padrão pré-calculado com base em alguma experiência de custo médio efetivo de produção passada, ajustada às mudanças das condições eco- nômicas, é o que se imagina que um produto ou a operação de um processo irá efetivamente custar. Assim, custo estimado é a expressão que reflete a importância que a empresa imagina que um produto ou a operação de um processo por um período de tempo irá efetivamente custar. Baseia-se, quase sempre, em alguma experiência de custo médio efetivo de produção já realizada, ajustada às mudanças das condições econômicas, da eficiência, incluindo margem para perdas, sucateamento e ineficiências previsíveis. Nos cálculos do custo-padrão deve-se levar em consideração: 2 a determinação do volume da produção, a partir da estimativa de vendas e da determinação da política de estoque; 2 a determinação do período do custo-padrão em decorrência de pos- síveis reflexos de inflação e de sazonalidade; Gestão de Custos – 202 – 2 a fixação dos padrões a partir dos conhecimentos específicos dos setores envolvidos; 2 o padrão das matérias-primas levando em consideração o plano de uso dos materiais, tanto em quantidade como em qualidade, para a confecção dos produtos finais; 2 o padrão da mão de obra direta envolvendo estudos sobre sua uti- lização no passado; 2 a estimativa dos itens de custos indiretos sujeitos a rateios, isto é, os que não podem ser atribuídos diretamente aos produtos. O orçamento empresarial tem por base a projeção de fatores ope- racionais para o período que virá, exercendo-se sobre tais projeções as atividades de controle. Segundo Tung (1994, p. 324), o orçamento empresarial tem como base os fatores operacionais que estão por vir. Custo-padrão não se diferencia do custo orçado, pois ambos representam custo futuro estimado. Há, porém, uma diferença no grau de refinamento dos dois sistemas. O custo estimado ou orçado pode ser elaborado de forma global, sem grandes preparativos; o custo-padrão, por sua vez, obedece a um processo criterioso de elaboração e análise, capaz de fornecer as informações neces- sárias, de conformidade com as exigências e sistemática da administração fabril e financeira. Os padrões contábeis, segundo Backer (1984, p. 212), são custos “cien- tificamente” predeterminados que proporcionam uma base para a medição do desempenho efetivo e não necessitam ser incorporados ao sistema contábil. Segundo Leone (1995, p. 226) existem dois métodos básicos de fabri- cação: “produção sob encomenda ou ordem e produção em massa ou em série”. Os custos-padrão podem ser empregados tanto em um como em outro método de fabricação. O custo-padrão é calculado antes da realização da atividade e estabele- cido através de métodos racionais que utilizam a projeção e a experimentação, implicando em uma cuidadosa seleção dos materiais a serem utilizados, no – 203 – Custo-padrão estudo dos tempos e movimentos para a determinação da mão de obra e no estudo dos equipamentos, ferramentas e instalações que permitam a determi- nação da capacidade prática ou normal do parque fabril. O custo-padrão, quando fixado corretamente, é considerado o verdadeiro custo de produção. A diferença entre o custo que foi realizado e o padrão é chamada de variação de custo e mesmo que esta seja favorável, isto é, quando o custo real for inferior ao padrão, o administrador deve analisá-la, pois esse desvio causará má orientação dos negócios da entidade. 10.2 As vantagens do custo-padrão A grande finalidade do custo-padrão é o controle dos custos, tendo como objetivo o de fixar uma base de comparação entre o que ocorreu de custo e o que deveria ter ocorrido. O custo-padrão não elimina o real, nem diminui sua tarefa, aliás, a implantação do padrão só pode ser bem-sucedida onde já exista um bom sistema de custo real. Outra grande finalidade do custo- -padrão, decorrente da adoção de qualquer base de comparação fixada para efeito de controle, é o efeito psicológico sobre o pessoal. Esse efeito pode ser positivo ou negativo. O estabelecimento de um custo-padrão para Backer (1984, p. 213), oferece as seguintes vantagens: 2 Os padrões de custo podem ser um instrumento importante para a avaliação do desempenho de todas as pessoas e de todos os setores da entidade, pois, quando os padrõesforem realistas e atingíveis, e utilizados apropriadamente, podem incentivar os indivíduos a desempenhar com maior eficiência e eficácia as suas atividades, par- tindo-se do pressuposto de que as pessoas desempenham melhor uma tarefa quando sabem o que se espera delas. 2 De outro lado, as demonstrações e análises das variações permitem aos administradores operar segundo o “princípio da exceção”. Em uma macro--organização os altos níveis da administração não podem ter um conhecimento profundo dos problemas e possibilidades de aper- Gestão de Custos – 204 – feiçoamento das diversas funções desempenhadas por toda a empresa, por isso, o estabelecimento de um sistema de controle e de focalização da atenção sobre as situações que estão fora de linha e o custo-padrão se apresenta como um instrumento eficaz para o controle das atividades da empresa. 2 As variações em relação ao padrão levam os gestores a adotar programas de redução de custos, objetivo principal do custo- padrão, por focalizarem a atenção sobre as áreas que estão fora das normas. Esses programas podem incluir o aperfeiçoamento de métodos, melhor recrutamento e seleção de pessoas e de materiais, programas de treinamento, melhoria na qualidade dos produtos e corretos investimentos em meios de produção. 2 O custo-padrão é útil aos gestores da empresa no estabelecimento dos planos, pois o próprio processo de estabelecimento do padrão requer cuidadoso planejamento nas diversas áreas: da estrutura organizacional, da atribuição de responsabilidade e das normas de procedimento para a avaliação de desempenho. 2 O custo-padrão é útil nas tomadas de decisão, especialmente se o padrão de custo dos produtos for separado segundo os elementos de custos fixos e variáveis e se os custos de materiais e de mão de obra se basearem nos níveis esperados de preços durante um grande período. 2 O custo-padrão pode resultar em uma redução dos trabalhos buro- cráticos e de escritório, pois, com esse sistema, no final do período, todos os itens da mesma espécie precisam apenas ser multiplicados uma só vez pelo custo-padrão. 10.3 O estabelecimento dos padrões Mundialmente, as técnicas orçamentárias começaram a ser difundidas na década de 1920 do século XX, principalmente na crise ocorrida nos Estados – 205 – Custo-padrão Unidos em 1929, tendo essa ferramenta se revelado extremamente poderosa para épocas difíceis. No Brasil, o processo orçamentário foi difundido no serviço público com a edição da Lei 4.320, de 17 de março de 1964. Na iniciativa privada, os pontos de partida de técnicas mais modernas de orçamento iniciam-se em 1972 com a regulamentação dos princípios e normas de contabilidade e, ainda, com a publicação da Lei das Sociedades Anônimas em 1976 (Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976). Define-se processo orçamentário como uma técnica de planejar, coor- denar, controlar e avaliar as operações de uma empresa por meio de relató- rio e demonstrações realizados com esse fim, de acordo com os objetivos, através de uma projeção para o futuro baseada em variáveis previamente analisadas e avaliadas. O custo-padrão é levantado com base em dados reais e não somente em estudos teóricos. Assim, o custo-padrão é fixado para: 2 matéria-prima e outros materiais; 2 mão de obra; 2 custos indiretos de produção. Os padrões são fixados em quantidade física e em valores, a partir dos dados e das informações e oriundos das diversas unidades da fábrica, notada- mente da Engenharia de Produção. Cabe ao departamento de custos, após o recebimento dos dados físicos, a transformação dos dados e informações em moeda e, posteriormente, a compara- ção com o custo efetivo (histórico) para a apuração das variações e análise. 10.3.1 Custo-padrão da matéria-prima O custo-padrão do material compreende dois elementos: quantidade e preço. Os padrões de quantidade dos materiais devem incluir as matérias- -primas e outros materiais (engradados, caixas, embalagens etc). A quanti- Gestão de Custos – 206 – dade, normalmente determinada pela engenharia, deve ser compatível com o desempenho e a qualidade do produto. Para os departamentos onde ocorre mistura de materiais, há necessidade de estabelecerem-se fórmulas-padrão de dosagem. Os padrões de custo dos materiais exigem a existência de proce- dimentos adequados de planejamento, controle e o uso de materiais cujo desenho, qualidade e especificação sejam padronizados. As tolerâncias para estragos, perdas e refugos devem ser incluídas no custo-padrão dos produtos, desde que a quantidade seja considerada normal e inevitável. A tolerância-padrão é estabelecida pela engenharia com base em experiência da empresa ou do ramo setorial, sendo as mais comuns: fumaça em fundição; aparas de torno, de esmeril em uma metalúrgica; evaporação em um processo químico; refugos em operação de montagem. Um tratamento de custos mais refinado implica em acrescentar os custos de fretes, manuseio, inspeção, recepção e armazenamento. O padrão de preço da matéria-prima a ser usado pode ser com base nos preços médios de passado recente, ou nos preços atuais, ou nos preços esperados. O custo real, de seu lado, será também em função dessas duas variá- veis: quantidade real consumida de matéria-prima e o preço real pago pela matéria-prima. As variações são calculadas por meio de duas fórmulas: Variação de preço = (PR – PP) . QR Variação da quantidade = (QR – QP) . PP Onde: PR = Preço Real PP = Preço-Padrão QR = Quantidade Real QP = Quantidade-Padrão – 207 – Custo-padrão O gráfico a seguir apresenta essas variáveis. Variação de preço Custo-Padrão 0 Preço PR PP Variação conjunta Variação de quantidade Quantidade QP QR O retângulo formado pelos lados QR/QP e PR/PP é uma variação conjunta, que corresponde a uma diferença influenciada em parte pela variação de preço e em parte pela variação da quantidade. Em termos de responsabilidade, a variação de preço é cometida ao departamento de compras e a de quantidade ao departamento de produção. 10.3.2 Custo-padrão da mão de obra O custo-padrão da mão de obra, assim como o da matéria-prima, tam- bém é baseado em dois elementos: a quantidade de horas (produção-padrão) e o preço da hora (salário-hora), conhecido como taxa-padrão. A tolerância-padrão da produção deve basear-se em uma determinação do que representa um bom e atingível nível de desempenho, utilizando-se, para isso, estudos de tempo e movimento, levando-se em consideração os efeitos dos roteiros de produção, da disposição das máquinas e dos apoios mecânicos aos operários. As médias de desempenho passado são frequentemente usadas como padrões de tempo, especialmente quando se inicia um sistema de custo- -padrão. No entanto, essas médias não são científicas e esse critério deve ser Gestão de Custos – 208 – gradativamente substituído por padrões baseados em estudos de engenharia, como a produção experimental. Por exemplo: em muitos casos, no lançamento de um novo produto, tais experimentos são indispensáveis para estimar o custo deste com o objetivo de se determinar o seu preço de venda. O estabelecimento de padrões da hora-salário requer um conhecimento das operações a serem executadas, da qualidade da mão de obra desejada e da taxa média horária que se pretende pagar, ou que, em decorrência de contra- tos coletivos etc., se é obrigado a pagar. Da mesma maneira que a matéria-prima, o custo real será calculado em função de duas variáveis: o tempo real de fabricação e o salário realmente pago aos operários. Nessas condições, as variações de mão de obra são de dois tipos: variação da taxa e variação da eficiência. A variação da taxa diz respeito à diferença entre aquilo que a empresa estava prevendo pagar como salário-hora ao empregado e o que realmente foi pago. A variação da eficiência diz respeito à diferença entre o tempo previamente estipu- lado para a fabricação e aquele que foi consumido na realidade. Os cálculos dessas variaçõessão efetuados de acordo com a seguinte fórmula: Variação da taxa = (TR – TP) . HR Variação da quantidade = (HR – HP) . TP Onde: TR = Taxa Salarial Real TP = Taxa Salarial-Padrão HR = Horas Reais HP = Horas-Padrão – 209 – Custo-padrão Em termos de responsabilidade, a variação da taxa é atribuída a quem estabeleceu os salários-hora e a variação da eficiência é da responsabilidade do departamento de produção. 10.3.3 Custo-padrão de Custos Indiretos de Fabricação Os custos indiretos podem ser variáveis ou fixos. Para a parte variável desses custos, estabelecem-se e usam-se os padrões da mesma maneira que para a mão de obra direta e para matéria-prima, pois esses custos consis- tem em mão de obra indireta, água, energia elétrica, em relação aos quais podem ser determinados padrões de consumo para uma determinada quan- tidade de produção. Dificuldade maior é a determinação e o uso de um custo-padrão em relação aos elementos fixos dos custos indiretos de produção. Os custos fixos de produção consistem, principalmente, nos custos absorvidos das máquinas, ferramentas e instalações, cujo montante inde- pende do nível de produção. Calcula-se a taxa de absorção da seguinte maneira: Taxa de absorção = CIFs orçados Base de volume A base de volume pode ser qualquer um dos itens relacionados a seguir, dependendo do tipo de produto e do processo de fabricação: 2 produção estimada em unidades; 2 valor estimado de matéria-prima; 2 valor estimado da mão de obra direta; 2 valor dos custos diretos de produção (MP + MOD); 2 horas estimadas de mão de obra direta; 2 horas estimadas de máquinas. Como vários fatores influenciam o padrão dos CIFs e as consequentes variações, surgem três tipos de variação de CIF: a variação de orçamento, a variação de volume e a variação da eficiência. Gestão de Custos – 210 – Da mesma maneira que as variações verificadas em MP e MOD, as diferenças surgidas quanto à absorção dos CIFs são de responsabilidade de diversas pessoas. A variação de orçamento é da responsabilidade de quem o preparou. A variação da eficiência de CIF é a variação de eficiência de mão de obra direta, traduzida em termos de absorção do custo indireto. A variação do volume representa o custo da capacidade não produtiva da fábrica, ou seja, a capaci- dade colocada à disposição e não utilizada. As fórmulas para o cálculo dessas variações são as seguintes: CIF Real – CIF Padrão = Variação Total de CIF (HO – HR) . Taxa de absorção = Variação de volume (HR – HP) . Taxa de absorção = Variação de eficiência Onde: HO = Horas Orçadas HR = Horas Reais HP = Horas-Padrão A representação gráfica dessas fórmulas é a seguinte: R$ de CIFs Variação orçamentária Variação volume Variação eficiência Horas de MOD CIF real CIF orçado CIF aplicado HP HR HO Capacidade da fábrica V a r i a ç ã o C I F – 211 – Custo-padrão 10.4 Análise das variações Após a obtenção dos valores dos custos reais, faz-se a sua comparação com o padrão para se analisar e medir as diferenças que precisam ser analisa- das, a fim de se adotar as medidas tendentes e efetuar as correções. No estudo comparativo e analítico do custo-padrão em confronto com os custos realmente suportados, as diferenças verificadas são chamadas de variações de custo. A partir dos exemplos trazidos por Cashin (1982, p. 172), podemos ana- lisar as variações ocorridas com matéria-prima, mão de obra direta e Custos Indiretos de Fabricação. 10.4.1 Variação da matéria-prima A variação da matéria-prima, como foi visto, contém dois componentes: variação de preço e variação da quantidade. A variação de preço entre o custo-padrão e o custo real incorrido, na maioria das vezes está sujeita a forças externas, por alterações nos preços pra- ticadas pelo mercado. Como se viu, as equações referentes à matéria-prima são: 2 Variação de preço = (PR – PP) . QR 2 Variação da quantidade = (QR – QP) . PP Exemplo de variação da matéria-prima: Custo-padrão unitário para matéria-prima, R$8,00 Compras, 6 000 unidades de MP a R$8,20/u Início de fabricação de 4 000 unidades. Ao final constata-se: Variação no preço: de R$8,00 para R$8,20 Gestão de Custos – 212 – Variação na quantidade: 4 200 ao invés de 4 000 Verificadas essas hipóteses, constata-se que: VP = (R$8,20 – R$8,00) . 6 000u = R$1.200,00, desfavorável VQ = (4 000u – 4 200u) . R$8,00 = R$1.600,00, favorável 10.4.2 Variação da mão de obra A variação da mão de obra, a exemplo da matéria-prima, contém dois componentes: variação de taxa e variação da quantidade. A variação de taxa é a diferença entre a taxa-padrão e a taxa real paga. Essa variação na maior parte das vezes está sujeita a forças externas (con- venções coletivas, por exemplo) sobre as quais a administração da empresa tem pouco controle. A variação da quantidade é a diferença entre o número- -padrão de horas permitidas e o consumo real. A variação em questão está sujeita ao controle gerencial. Como se viu, as equações são: 2 Variação da taxa = (TR – TP) . HR 2 Variação da quantidade = (HR – HP) . TP Exemplo da variação da mão de obra: Horas Reais, 5 000 Horas-Padrão, 5 200 Taxa Real, R$4,10/h Taxa Padrão, R$4,20/h Verificadas essas hipóteses, teremos: VT = (R$4,10 – R$4,20) . 5 000 horas = R$500,00, favorável VQ = (5 000h – 5 200h) . R$4,20 = R$840,00, favorável – 213 – Custo-padrão 10.4.3 Variação dos Custos Indiretos de Fabricação A variação dos Custos Indiretos de Fabricação contém três compo- nentes: variação total de CIFs, que corresponde à produção em excesso ou abaixo da capacidade normal estimada; variação de volume, quando o CIF real é excessivo ou está abaixo do CIF padrão; variação de eficiência, quando as horas reais trabalhadas são diferentes das horas-padrão para a produção alcançada. Na ocorrência das variações de CIFs é possível determinar o responsável pela variação. Assim, a variação controlável é de responsabilidade do supervisor de cada departamento. Como a variação de volume indica a capacidade disponível e não utilizada, a responsabilidade recai sobre a alta administração. Por analisar os custos variáveis, a variação de gasto é de responsabilidade do chefe de departamento de quem se espera a manutenção dos custos reais dentro dos limites orçamentários. A variação da capacidade indica os Custos Indiretos de Fabricação subabsor vidos porque as horas reais são inferiores às horas normais que serviam de base para a determinação da taxa de Custos Indiretos de Fabricação. A responsabilidade é da alta administração. A variação de eficiência reflete a variação da mão de obra dos custos fixos e variáveis quando o custo ou as horas de mão de obra são usados como base para aplicar os Custos Indiretos de Fabricação. Como se viu, as equações são: 2 CIF real – CIF padrão = Variação total de CIF 2 (HO – HR) . Taxa de liquidação = Variação de volume 2 (HR – HP) . Taxa de liquidação = Variação de eficiência Para identificar as causas das variações de CIF utilizam-se diversos métodos: Gestão de Custos – 214 – Exemplo da variação de CIFs pelo método das duas varianças: Nesse método, a variação líquida dos Custos Indiretos de Fabricação é analisada em termos de variação controlável e variação de volume. Horas reais de mão de obra direta, 5 000 Horas-padrão, 5 200 Capacidade normal, 6 000 Custos Indiretos de Fabricação reais, R$29.500,00 Custos Indiretos de Fabricação orçados para a capacidade normal: Custos Total (R$) Taxa Variáveis 12.000,00 R$2,00 (12.000/6 000) Fixos 18.000,00 R$3,00 (18.000/6 000) Totais 30.000,00 R$5,00 Constatadas essas hipóteses, teremos: 1. Variação controlável Custos Indiretos de Fabricação reais R$29.500,00 Orçado ao real Fixo R$18.000,00 Variável (5 200 . R$2,00) R$10.400,00 R$28.400,00 Variação controlável (desfavorável) R$1.100,00 2. Variação de volume Orçado ao padrão R$28.400,00 Padrão . padrão (5 200 . 5 000) 26 000 Variação de volume (desfavorável) R$2.400,00 – 215 – Custo-padrãoExemplo da variação de CIFs pelo método das três varianças: Nesse método, a partir dos dados do exemplo citado no método das duas varianças, há necessidade de envolver o cálculo das variáveis de gasto, de capacidade e de eficiência. 1. Variação de gasto Custos Indiretos de Fabricação reais R$29.500,00 Orçado ao real Fixo R$18.000,00 Variável (5 000 . R$2,00) R$10.000,00 R$28.000,00 Variação controlável (desfavorável) R$1.500,00 2. Variação da capacidade Orçado ao real R$28.000,00 (–) horas reais à taxa padrão (5 000 . R$5,00) R$25.000,00 (=) Variação de capacidade (desfavorável) R$3.000,00 3. Variação da eficiência Horas reais à taxa padrão R$25.000,00 (–) Horas-padrão à taxa padrão (5 200 . R$5,00) R$26.000,00 (=) Variação de eficiência (favorável) R$1.000,00 Exemplo da variação de CIFs pelo método das quatro varianças: Nesse método, a partir dos dados do exemplo citado nos métodos ante- riores se relacionam somente as variações de eficiência. Gestão de Custos – 216 – As variações de gasto de R$1.500,00 e de capacidade, R$3.000,00. 1. Eficiência variável Horas reais à taxa variável (5 000 . R$2,00) R$10.000,00 (–) horas-padrão à taxa variável (5 200 . R$2,00) R$10.400,00 (=) variação de eficiência variável (favorável) R$400,00 2. Eficiência fixa Horas reais à taxa fixa (5 000 . R$3,00) R$15.000,00 (–) Horas-padrão à taxa fixa (5 200 . R$3,00) R$15.600,00 (=) Variação de eficiência fixa (favorável) R$600,00 Conclusão Estudando e observando as conceituações e as especificações do custo- -padrão, verifica-se que ele pode ser utilizado para diversas metas ou objetivos. O principal objetivo dos padrões é medir diferenças entre o que os cus- tos são e o que os custos deveriam ser, para propósitos de controle de custos, objetivo que está ligado aos conceitos de contabilidade empresarial. O significado básico da utilização do custo-padrão é a busca de se operar com valores cientificamente calculados que permitam determinar e contro- lar os padrões de preços dos recursos e respectivas quantidades para o custo dos produtos e, a seguir, assegurar que os resultados reais fiquem próximos desses padrões. O custo real tem validade apenas no sentido de que, após a análise de suas variações, em cima de um custo-padrão, se identificam as causas do porquê das variações e, através delas, se permitam corrigir os rumos atuais. Para o dia a dia, o custo-padrão representa muito mais utilidade que o custo real. – 217 – Custo-padrão Ampliando seus conhecimentos Custos e Produtividade (PEDROSA, 2005) A contabilidade, tradicionalmente e por sua própria natureza, registra fatos históricos que são reportados em uma determinada data ou em uma determinada época. Para determinar o dispên- dio com a produção e medir-lhe a eficiência (ou ineficiência), aplica-se a contabilidade de custos. Entretanto, o custo his- tórico é uma medida ineficiente, visto que só apura quando terminada a produção. Com isso, podemos dizer que o custo histórico incorpora (e esconde) todos os fenômenos ocorridos na produção. Serve apenas para dar uma ideia de quanto cus- tou determinado produto, geralmente por um custo médio. E quando se calcula a média de alguma coisa, também incluímos a média dos erros, dos desperdícios e das ineficiências. Nada disso torna inválidos os custos históricos. É preciso, porém, associá-los a alguma medida comparativa que evi- dencie de que forma está sendo conduzido o processo de fabricação. A medida comparativa por excelência é o cus- to-padrão. Registrando e comparando os dois, poderemos chegar a uma análise que evidencie as variações ocorridas – positivas ou negativas. O custo padrão é uma avaliação de quanto um determinado produto deverá custar, mantidas as condições vigentes. Mas, para que seja eficiente em sua função, o custo-padrão deverá ser associado ao orçamento da empresa quanto ao volume e valor da produção planejada. Dessa análise poderemos extrair subsídios para melhorar o gerenciamento dos custos de produção, e, com isso, melhorar a rentabilidade dos investimentos. Essas considerações passam pela produtividade. Aqui pode- mos considerar a produtividade como sendo o resultado do aproveitamento ótimo dos recursos humanos, materiais e téc- Gestão de Custos – 218 – nicos. Ou seja, mão de obra, materiais e equipamentos. A produtividade fornece a medida da utilização dos recursos disponíveis. Pode-se dizer que é um meio de melhorar o nível da economia de um país. Aumentando nossa capacidade de produzir, utilizando os mesmos recursos, melhorando métodos e processos de trabalho e reduzindo o custos de produção, chegaremos ao barateamento do preço de venda, aumento da produção, melhores salários, melhor poder aqui- sitivo, e, por consequência, ao fortalecimento da economia. O custo-padrão é um método adequado e eficiente, não ape- nas para controlar, mas também para informar sobre diversos aspectos da produção, como a utilização de matérias-primas e refugos produzidos; emprego da mão de obra; qualidade do produto; adequação do fluxo do processo; utilização das instalações e equipamentos; tempo ocioso de mão de obra e equipamentos etc. Mas, será necessário estabelecer os padrões baseados em critérios que sejam adequados. Ou seja, em critérios técnicos, nunca em critérios subjetivos. Assim, deverá estar baseado no estudo do projeto, dos métodos e dos processos de produção. Será melhor se esse estudo começar a ser feito simultaneamente com o projeto do produto. Serão estabelecidos os padrões para materiais, mão de obra, tempo de operação e gastos gerais de fabricação (ou despesas indiretas de fabricação). O padrão de materiais é uma consequência da quantidade- -padrão e do preço-padrão. O padrão de quantidade é esta- belecido com base nas especificações do projeto do produto, e, se necessário, por análises químicas e mecânicas, e testadas através de produção-piloto. Já o preço-padrão depende muito das condições do mercado, sendo influenciado por greves, maior ou menor disponibilidade, estabilidade da moeda e outros fatores econômicos. Leva-se em conta even- tuais oportunidades envolvendo as quantidades econômicas, métodos e frequência de entrega e condições mais ou menos vantajosas oferecidas pelos fornecedores. – 219 – Custo-padrão O padrão de mão de obra é resultante do salário-padrão e do tempo de operação (ou tempo-padrão). Sofre a influência do método de operação mais ou menos adequado (o que é determinado pela área técnica). Deve incluir estudos sobre os equipamentos utilizados na produção; controle sobre a quan- tidade e qualidade dos materiais usados e tempo a ser apli- cado em cada operação. A área técnica contribui com essas informações, que servirão de base para o estabelecimento do padrão de mão de obra. O tempo-padrão depende do grau de eficiência da mão de obra. Pode ser influenciado pelo arranjo físico da fábrica, pela entrega dos materiais nos locais necessários e no tempo deter- minado, por um eficiente sistema de programação da produ- ção, pela padronização das operações, pela frequência das paradas, pelo treinamento da mão de obra e outros fatores. Um bom estudo de tempos e movimentos e o balanceamento da linha de produção (ou de montagem) poderão auxiliar na determinação do tempo-padrão. O salário-padrão é muito influenciado pela conjuntura econô- mica, pelos acordos salariais, pela forma de remuneração da mão de obra (horista, diarista, mensalista, tarefa etc.), pela tec- nologia utilizada, pela automação, pelos direitos trabalhistas etc. A remuneração por tarefa possibilita maior eficiência da mão de obra, consequência de maior estabilidade de custo em rela- ção a cada tarefa. O operário sente-se estimulado a trabalhar mais, produzindo mais, a um custo estável. Isso geralmente não ocorre nos casos de remuneração horária, diária, mensal etc. Os gastos gerais de fabricação (custos indiretos) têm um comportamento em tudo diferente dos materiais e da mão de obra. Paraestes últimos há uma certa facilidade em se calcular um padrão. Porém, para os custos indiretos, como consequ- ência da variedade qualitativa e da alternância do consumo, torna-se necessário adotar critérios rigorosos para sua correta apropriação aos custos de produção. A contabilidade de cus- Gestão de Custos – 220 – tos utiliza as taxas de absorção, de acordo com a atividade e o volume que se deseja atingir. Para isso considera-se o total dos gastos gerais de fabricação e uma base de volume adequada ao caso, que poderá ser a produção planejada, o valor das matérias--primas, valor da mão de obra direta, valor do custo primário (materiais + mão de obra), horas previstas de mão de obra direta, horas/máquina etc. A base de volume depende muito do produto e do processo de fabricação e para sua determinação deve-se aplicar o bom senso. A fixação dos custos-padrão não é o fim: é apenas o início de todo um sistema. As variações ocorridas serão objeto de uma análise profunda, se realmente quisermos controlar melhor a atividade. Essas variações deverão ser relatadas, explicando se houve desperdício de material ou deficiência de mão de obra e dos meios de produção, falhas na programação da produ- ção ou na aquisição de materiais, ou erros na determinação dos custos históricos e padrão etc. Os relatórios poderão ser emitidos no nível de detalhamento necessário, como por tipo de produto, por operação, por departamento de produção, por turno, por divisão etc. A análise das variações poderá esclarecer as ineficiências, que podem estar relacionadas com o desempenho dos centros de custo. Assim, veremos as variações no custo-padrão e suas causas mais comuns. As variações de materiais podem ser de preço e de quan- tidade. A área de materiais geralmente é responsável pelas variações de preço, enquanto as variações de quantidade são da fabricação. As variações de quantidade são apuradas mul- tiplicando-se a diferença entre quantidades real e padrão pelo preço-padrão. As causas poderão ser a qualidade inferior, utilização deficiente ou mesmo alteração no funcionamento dos equipamentos. As compras podem ter sido feitas em desacordo com as especificações de qualidade; ou os mate- riais podem ter sido mal utilizados, ocasionando desperdícios; ou alterações nos métodos de fabricação ou nos produtos – 221 – Custo-padrão podem ter provocado as variações detectadas. As variações de mão de obra poderão ser de salário ou de eficiência. As variações de salário resultam da multiplicação da diferença entre salário real e padrão pelo tempo-padrão. Essas variações podem ser consequência de alterações nos níveis salariais, emprego de mão de obra mais cara (em ope- rações onde estava prevista mão de obra mais barata) ou uma produção emergencial, impondo custos mais elevados de mão de obra. As variações de eficiência são o resultado da multiplicação da diferença entre tempo real e padrão pelo salário-padrão. Suas causas podem ser a seleção, treinamento ou transferência de operários ou a própria variação da quan- tidade de materiais. No caso de produção inicial, geralmente consome-se mais tempo. As operações repetitivas e o tempo farão com que a mão de obra adquira maior destreza, assim como melhores métodos poderão ser adotados. As ineficiên- cias também poderão indicar operários não qualificados, suge- rindo correções. Materiais fora das especificações também poderão acarretar variações de quantidade. Os gastos gerais de fabricação, ou Despesas Indiretas de Fabricação (DIF), também apresentam variações, que podem ser de eficiência, de volume e de orçamento. A variação de eficiência de DIF representa a variação de eficiência de mão de obra direta aplicada à absorção dos custos indiretos. É calculada pela multiplicação da diferença entre os tempos real e padrão pela taxa de absorção. As causas são as mesmas que afetaram a eficiência da mão de obra. A variação de volume é representada pela multiplicação da diferença entre os tempos real e orçado pela taxa de absorção. Suas causas podem ser falta de pedidos de clientes, falta de material, problemas de mão de obra ou com equipamentos. A variação de orçamento é a diferença entre as DIFs reais e orçadas. Os custos-padrão, para que sejam realmente efetivos, neces- sitam ser contabilizados. Existem vários métodos de contabili- Gestão de Custos – 222 – zação. Em geral, cada empresa adota o seu método particular, de modo a informar aquilo que é necessário para sua gestão. Porém, tudo isso significa fazer os lançamentos, a débito e a crédito, de uma ou mais contas, dos custos-padrão e dos custos históricos. Os saldos de ambas as contas serão com- parados, evidenciando as variações. As contas de produtos em elaboração podem ser debitadas pelo custo real e credi- tadas, transferindo-se para o estoque de produtos acabados, pelo custo-padrão. As diferenças são transferidas para a conta de variações de custo. O encerramento destas se processará nas contas de resultados. Este é o sentido da contabilização: registrar e destacar os custos tal como ocorrem, ressaltando as diferenças e permitindo analisar as causas dessas variações. Fica aqui um instrumento eficaz para a gestão dos custos e aperfeiçoamento da produtividade e da lucratividade. Caberá à administração tomar a iniciativa. Em matéria de contabilidade e custos, já tem muito pano para as mangas. Atividades de aplicação 1. A Cia. Alfa estimou os seguintes custos para o próximo mês: Matéria-prima R$700.000,00 Mão de obra direta R$380.000,00 Depreciação de máquinas R$21.800,00 Seguros do imóvel industrial R$8.200,00 Mão de obra indireta R$120.000,00 Aluguel da fábrica R$10.000,00 Materiais indiretos R$80.000,00 – 223 – Custo-padrão O número de horas/máquina estimado para o período é de 12 000 e estão previstas a produção de 5 000 unidades. Pede-se para calcular qual é a taxa de absorção por hora/máquina. 2. A Indústria Celta estima os seguintes dados e custos para o período de X2: Seguro do parque fabril R$8.200,00 Mão de obra indireta R$120.000,00 Aluguel da fábrica R$10.000,00 Materiais indiretos R$80.000,00 Total de Custos Indiretos de Fabricação R$240.000,00 Número de horas/máquina estimado para o período 12 000 Quantidade estimada de produção 5 000 un. Ao terminar o período de X2, constatou-se que os gastos monta- ram em R$210.000,00 e o número efetivo de horas/máquina foi de 10 000 horas. Pede-se para determinar a variação de capacidade de máquinas em relação aos Custos Indiretos de Fabricação. 3. Considere as seguintes alternativas: I. Custos variáveis são os que, em um período, não têm seu mon- tante determinado em função de oscilação na atividade. II. Na apropriação dos custos indiretos se faz necessária a utili- zação de esquemas especiais de alocação, tais como base de rateio, estimativas etc. Gestão de Custos – 224 – III. A margem de contribuição unitária corresponde à diferença entre os custos e despesas variáveis e os custos de despesas fi- xos de cada período. IV. O ponto de equilíbrio será obtido quando a soma dos custos e despesas fixos totalizarem valor igual ao das receitas totais. V. O custo-padrão representa um custo predeterminado que objeti- va o exercício do controle. Agora, responda: a. Somente as afirmativas II e III estão corretas. b. Somente as afirmativas II e IV estão corretas. c. Somente as afirmativas II e V estão corretas. d. Somente as afirmativas I e V estão corretas. e. Somente a afirmativa V está correta. 4. As seguintes informações sobre Custos Indiretos de Fabricação foram fornecidas pela Cia. Gama: Custos Indiretos de Fabricação aplicados R$240.000,00 Custos Indiretos de Fabricação reais R$257.000,00 Custos Indiretos de Fabricação Orçados R$246.000,00 Pede-se para determinar a variação do preço dos Custos Indiretos de Fabricação fixos e a variação do volume de produção. 5. A Cia. Ômega possui os seguintes dados para determinação das varia- ções ocorridasentre o custo-padrão e o custo real: Custo padrão da MOD: Taxa horária = R$100,00 / h . tempo padrão de 6 horas. – 225 – Custo-padrão Total = R$600,00 / peça Custo real ocorrido: Taxa horária = R$150,00 / h . tempo real de 8 horas. Total = R$1.200,00 / peça Pede-se para calcular a variação total unitária, a variação da taxa e da efi- ciência da MOD. Custeio por atividade (CBA ou ABC) Introdução No passado, a Contabilidade de Custos era encarada como um mal necessário que visava atender às exigências contábil-fiscais, deixando de ser explorada como ferramenta gerencial. Atualmente, devido à globalização da economia, velhos con- ceitos de Contabilidade de Custos devem ser substituídos por novos conceitos, como os apresentados pelo ABC, que requerem mudança na cultura da empresa, buscando envolver e comprometer as pessoas para tornar o gerenciamento de custo um estado da arte. A perseguição ao menor custo, sem afetar a funcionalidade e a qualidade dos produtos/serviços, deve ser um objetivo perma- nente nas empresas que buscam a excelência empresarial. 11 Gestão de Custos – 228 – 11.1 Os novos paradigmas No curso ministrado pelo professor Nguyen Tung (1998, p. 4), ele ensina que, “[...] indiscutivelmente, encontramo-nos em uma nova era, na qual a procura por estruturas menores e mais competitivas constitui um ponto prevalecente no modelo estratégico empresarial. Nessa busca, as orga- nizações esperam posicionar-se de forma mais competitiva através de maior qualidade, contando para isso com estruturas mais eficientes.” As empresas que permanecerem adotando os sistemas tradicionais, sem se preocupar com a inadequação deles com a realidade de hoje, correm o risco de sérios prejuízos. O potencial impacto econômico dos fabricantes emergentes, como a Índia, a China e o Brasil, nos fabricantes líderes atuais transformará a paisa- gem econômica. A partir de 1992, segundo Brimson (1996, p. 55-57) a queda de barreiras internas ao mercado comum iriam aumentar a competitividade na Europa. A introdução dos produtos da “cortina de ferro” no mundo livre, junto com a abertura desses mercados para o Ocidente, reordenariam os padrões exis- tentes e, nos próximos anos, assistir-se-á ao desenvolvimento de “materiais projetáveis”, computadores neuro-óticos, holografia, biotecnologia e empresa interfuncional computador/homem. Essas tecnologias irão repercutir através de nossas sociedades globais e influenciar profundamente a forma atual de conceber, projetar, executar e fabricar produtos. Essas mudanças irão forçar as empresas a competir com três recursos: capital, tecnologia e conhecimento. O conhecimento é encontrado em grandes grupos de profissionais trei- nados, expostos a inovadores métodos de classe mundial, ferramentas e sis- temas. Os escritórios centrais das empresas globais estarão repletos de fun- cionários experientes que manipulam a informação e a seguir exportam seu conhecimento para todo o mundo. Uma empresa não exportará seus produ- tos; em vez disso, irá produzi-los em fábricas ao redor do mundo. A matriz irá exportar o planejamento estratégico e serviços gerenciais a ele relacionados. A eliminação do desperdício será a marca oficial da empresa bem--su- cedida. O estoque de produtos em processo não será tolerado. As atividades – 229 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) originárias de correção de erros serão investigadas. A burocracia desneces- sária será expurgada. O desafio é executar todas as atividades corretamente na primeira vez. Isso requer manter os operários envolvidos diretamente na determinação da causa do problema através de programas como Just-in-Time e gerenciamento da qualidade total. Um elemento-chave do novo ambiente fabril será a compreensão do tempo. Todas as funções na organização, desde o desenvolvimento do pro- duto à fabricação e suporte logístico têm que ser reestruturadas para reduzir o tempo. O deslocamento nos custos de mão de obra para tecnologia será total à medida que muitas funções de mão de obra indireta, como processa- mento de pedidos, serão automatizadas. Os ciclos de lançamento de pro- dutos serão diminuídos através do uso de um banco de dados comum para projetar a peça e automaticamente especificar as ferramentas e dispositivos necessários para fabricá-la, sua lista de materiais e as rotinas de processo para a sua fabricação. Os serviços do trabalhador instruído estarão em alta demanda ao redor do mundo. Trabalhadores instruídos são fáceis de reconhecer. Seu ambiente de trabalho tende a ser sossegado e decorado com bom gosto. Quando não estão analisando, projetando ou desenvolvendo estratégias, estão em reunião ou ao telefone dando conselhos ou fazendo negociações. Até pouco tempo atrás, a maioria dos orçamentos era elaborada com base nos custos verificados nos anos anteriores, ajustando-se, tão somente, os preços aos padrões vigentes no período da elaboração. Gerencialmente não se buscava demonstrar as distinções entre o que era e o que deveria ser feito. Os custos indiretos, quase sempre, eram rateados com base na mão de obra, sem atentar-se bases de alocação mais corretas e mais eficazes. Na primeira década deste século, quando o governo americano introdu- ziu a Lei do Imposto de Renda, nasceu a Contabilidade Fiscal. Nos anos 1930, quando os Securities and Exchange Acts1 foram pro- mulgados, a Contabilidade Financeira tomou grande vulto. 1 Securities and Exchange Acts são leis federais aprovadas pelo congresso norte-americano após o estouro da bolha especulativa que culminou na quebra da Bolsa de Nova York em 1929. Gestão de Custos – 230 – Sendo as duas contabilidades, Fiscal e Gerencial, exigidas por leis, toda a atenção era voltada a esses dois assuntos, enquanto a Contabilidade de Cus- tos, como não exigida por lei, ficou ao abandono, servindo-se apenas como suporte às duas irmãs, mais badaladas. Durante boa parte do século XX, os Estados Unidos tornaram-se uma nação excepcionalmente industrializada enquanto boa parte dos demais paí- ses encontrava-se dizimada por duas grandes guerras mundiais. Era a única nação que estava em condições de produzir em massa e escoar seus produtos com toda a facilidade. Então, por que perder tempo em aprimorar a metodo- logia de custeio, assunto até então supérfluo? A supremacia das indústrias americanas começou a ruir a partir dos anos 1970 e na primeira parte de 1980. Kaplan, Johnson, Goldrat, e outros estudiosos, (apud brimson, 1996, p. 55-57) começaram a duvidar da funcionalidade dos sistemas de custeio tradicionais. Unanimemente, constataram que enquanto as Contabilida- des Financeira e Fiscal serviam às empresas de acordo com as exigências do Estado, a Contabilidade de Custos era capaz de motivar o sucesso ou insu- cesso destas. Constata-se que os clientes esperam produtos de alta qualidade, maior funcionalidade e preço baixo. Essas expectativas são consequências de pro- gressos tecnológicos e científicos sem precedentes, conjugados com concor- rentes globais que obrigam as demais empresas do mesmo ramo a adotarem uma estratégia de excelência empresarial ou saírem do negócio. As manifestações mais visíveis de um fabricante de sucesso nesse novo ambiente são o aumento da automação, a redução da mão de obra direta e de estoques, a maior atenção ao produto e planejamento da produção e ciclos de vida do produto mais curtos. A revolução é baseada nas novas filosofias de manufatura como Just-in-Time (JIT)2, Gerenciamento de Qualidade Total (GQT), por exemplo. 2 Just-in-time é um sistema de Administração da produção, aplicado, inicialmente na indústria automotiva japonesa, que determina que um bem para ser produzido tem que ser “antes com- prado”, ou seja, tem que ser fabricado na hora exata. O estoque de matéria-prima é o suficiente para poucas horas de produção, por isso, os fornecedores devem estar capacitados e conectados para que possam fazer entregas de pequenos lotes na frequência desejada. – 231 –Custeio por atividade (CBA ou ABC) Com a crescente evolução tecnológica, vê-se, cada dia mais, que a mão de obra direta vem decrescendo, passando a representar, em muitos setores, apenas 10% dos custos totais, enquanto que os custos indiretos, denomina- dos pelo professor Tung de sobrecustos e definidos como sendo “[...] todos os custos que formam o custo industrial, exceto matérias-primas e a mão de obra direta.” (TUNG, 1994, p. 158). A visão desse novo tempo tornou-se um traço distintivo no mundo dos negócios, fazendo-se necessário que novos métodos de gerenciamento for- necessem às organizações informações de maior confiabilidade e velocidade. O sistema de gerenciamento à base da atividade, o qual se fundamenta a partir do custeio e do orçamento, constitui um bom exemplo de um processo decisório eficaz, procurando atribuir, corretamente, os custos indiretos aos produtos ou serviços finais da organização. 11.2 ABB/ABM/ABC Segundo artigo publicado no Finance Forum (TUNG, 1994), nesta nova era, as organizações esperam posicionar-se de forma mais competitiva através da qualidade, contando com estruturas mais eficientes. A sensibilidade desse novo tempo tornou-se um traço distintivo no mundo dos negócios, fazendo-se necessários novos métodos de gerencia- mento das atividades, observando quais são suas inter-relações e fluxos, suas contribuições através de valores adicionados e suas relações e impactos junto a clientes e fornecedores. Os sistemas ABB, ABM e ABC não são similares, visto que a orçamenta- ção, o gerenciamento e o custeio constituem áreas de atração diferentes, tanto na natureza de suas definições como na maneira como são executadas. O que os une é o fato de os três se basearem nas atividades e no tempo, seja para a administração do dia a dia, seja para projetos específicos. O ABB (Activity Based Budgeting – Orçamento à Base da Atividade) envolve projeções, planejamento e estabelecimento de objetivos de maneira integrada. A orçamentação é efetuada sempre antes da realização dos fatos. O ABM (Activity Based Management – Gerenciamento a Base da Ati- vidade) consiste em um processo contínuo, ao longo do tempo e lida com Gestão de Custos – 232 – questões relativas a uma grande variedade de atividades: uso da mão de obra, política de preços, tamanho dos lotes dos produtos, locais de embarque, armazenamento e estocagem, atribuição de cargos e funções etc. O sistema ABM supõe uma extensão do modelo ABC. O ABM é o pro- cesso que utiliza as informações geradas pelo ABC para gerenciar a empresa ou um negócio. Empregando a análise de valor, ele procura identificar as oportunidades de melhoria das atividades que agregam valor e a redução ou eliminação das que não agregam valor. O ABC tem como objetivo principal a formação do custo do produto de uma maneira objetiva, enquanto no ABM a formação do custo do produto fica em segundo plano, pois centra sua atenção na gestão interna da empresa, através das atividades. A implantação do sistema ABC muda o comportamento da análise de custos, pois substitui as tradicionais bases de rateio por outras que refletem em melhor medida a relação da causa-efeito entre os custos e produtos. O ABC (Activity Based Costing – Custeio à Base da Atividade) pro- cura atribuir os Custos Indiretos de Fabricação (CIF) aos produtos ou ser- viços, corretamente. Os CIFs, normalmente, ou são atribuídos com base no material ou na mão de obra. Tal procedimento defronta-se agora com um ambiente em que a mão de obra direta passou a ter uma representação menor, enquanto que os CIFs, face à automatização que vem sendo introdu- zida nas empresas, viram sua participação aumentada exponencialmente. O ABC mensura os custos em face da intensidade da utilização dos elementos geradores de custos, visando eliminar ou reduzir custos através do processo de análise à base da atividade. 11.2.1 O custeio à base da atividade Goldratt (1990) e outros autores acusaram que os sistemas de custeio universalmente aplicados nas empresas tinham motivado a deterioração da produtividade nas indústrias americanas. Mediante essas novas abordagens sobre o assunto, muitos autores e orga- nizações estão desenvolvendo novas ideias e pesquisando novos métodos para corrigir as deficiências dos métodos de custeio tradicionais. – 233 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) Johnson é um dos mais famosos professores de Contabilidade de Cus- tos, cujos trabalhos, realizados em conjunto com Robert S. Kaplan (1993), da Harvard University, divulgaram a ideia de que os crité- rios e métodos atuais de cálculo de custos precisariam ser formulados diante das alterações tecnológicas crescentes na produção e na admi- nistração das empresas.” (LEONE, 1997. p. 252) Johnson (apud Leone, 1997, p. 252), em artigo que gerou grande reper- cussão no meio acadêmico, ensina [...] que um critério semelhante ao ABC foi implantado, a partir de 1963, na General Eletric com o objetivo de controlar e administrar o crescimento preocupante dos custos indiretos na indústria, por causa de sua repercussão na determinação dos custos de produção. Para atender a uma melhor administração dos custos indiretos, a GM propôs uma nova técnica para controlar as atividades que estavam causando custos. A nova técnica estava baseada em cost drivers (direcionadores ou indutores de custos), do mesmo modo como hoje se baseia o critério ABC. Essa técnica foi, em seguida, aperfeiçoada e sistematizada pelo profes- sor Robin Cooper, da Harvard University (LEONE, 1997, p. 253), durante os anos 1970. No final da década de 1980, organizações como a Computer Aided Manufactoring International (CAM-I) e a National Association of Accoun- tants introduziram a prática do Custeio à Base da Atividade – CBA. Essa nova metodologia consiste em atribuir custos indiretos às atividades que dão origem a tais custos e depois alocar os custos por atividades aos produtos ou serviços que motivam a existência de tais atividades. Alguns doutrinadores brasileiros, dentre os quais os professores Anto- nio Lopes Sá, Olívio Koliver e De Rocchi, da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, têm produzido vários trabalhos que visam esclarecer a cronologia do critério ABC. O professor De Rocchi revela que os precursores do critério ABC seriam os procedimentos relacionados às técnica PERT e CPM3. 3 O método PERT (Program Evaluation and Review Tecnique) em português - Técnica de Avaliação e Revisão de Projetos e o método CPM - Critical Path method, em português Mé- todo do Caminho Crítico, são considerados técnicas de redes e classificados como modelos pictóricos de pesquisa operacional. Os dois métodos são ferramentas úteis em problemas de coordenação de atividades, que devem ser executadas em determinada ordem. Gestão de Custos – 234 – O professor Olívio Koliver, (apud BARA 2001, p. 30), em trabalho denominado Contabilidade de Custos: algo de novo sob o sol?, afirma que o ABC nasceu como um método de atribuição dos custos indiretos aos porta- dores finais dos custos, os produtos e serviços, e que as bases do ABC já eram consideradas na literatura germânica na década de 1920 e, inclusive, serviram de base para a sustentação do famoso método conhecido pela sigla RKW4. O professor Lopes Sá, em estudo publicado pela IOB (1994, p. 14) afirma que os critérios utilizados pelo ABC já eram utilizados em épocas passadas, tratando-se, portanto, do mesmo vinho, só que em uma garrafa mais bonita. E encerra com a seguinte frase: “E convenhamos, a embala- gem é vistosa.” É necessário que posicionamentos contrários ou favoráveis sejam tra- zidos ao estudo do assunto, porém, este capítulo tem o objetivo de levar ao cálculo dos custos seguindo o sistema de custeio proposto: o ABC que, fun- damentalmente, parte da premissa de que as diversas atividades desenvolvidas pela empresa geram custos e que os diversos produtos consomem ou utilizam essas atividades. A abordagem do Custeio Baseado em Atividadesé de que o custo é causado e suas causas podem ser gerenciadas, refletindo-se, dessa forma, nos custos. Assim, quanto mais perto se chega ao relacionamento dos custos às suas causas, mais úteis são as informações contábeis para orientar as decisões gerenciais da empresa. 11.2.2 CBA – O causador do custo (cost driver) Inicialmente, é necessário definir atividade. Atividade é um conjunto de tarefas coordenadas e combinadas que tem por finalidade agregar valor a um objeto mediante a aplicação de recursos durante a execução de seus processos, como a manutenção, a preparação de um pedido, a estocagem, o recebimento da matéria-prima etc. 4 O método RKW, sigla de Rheinische Kunststoffwerke, nasceu na Alemanha e determina quee todos os custos de produção e todas as outras despesas da empresa, até mesmo as despesas financeiras, sejam incorporados aos produtos fabricados no período. – 235 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) Assim, o ABC (Activity Based Costing) é considerado um sistema de custeio que se utiliza da discriminação de atividades para a atribuição de cus- tos, passando pela sua acumulação em centro de atividade, tendo como elo de ligação entre a acumulação e os produtos ou serviços o cost driver, ou seja, o direcionador de custos, que deve manter relação com a atividade desenvol- vida. Apura-se o custo das diversas atividades sendo esses custos alocados aos produtos via direcionadores específicos. No CBA, o causador do custo (cost driver) é definido com a própria raiz do custo. Nesse sentido, podem existir diversos causadores de custo que dão origem a determinados custos: Nº. de milhas voadas Transporte aéreo Nº. de passageiros transportados Transporte urbano Nº. de testes analisados Laboratórios Nº. de página escritas Escritores Nº. de ordens de compra emitidas Departamento de compras Nº. de pedidos de compra atendidos Departamento de compras No CBA, os sistemas são idealizados de forma que, qualquer custo que não possa ser atribuído diretamente ao produto final, seja canalizado às ati- vidades necessárias para a elaboração de tal produto e, após, atribuído ao produto ou serviço, com base na intensidade do consumo de cada atividade. No CBA, os custos indiretos são definidos pelos próprios custos indi- retos. Os custos indiretos são usados para refletir o consumo dos custos por atividade e o consumo das atividades por produto ou por outra atividade. Os custos indiretos mais comuns são: 2 mão de obra (MOD, horas MOD, número de funcionários); 2 tempo de máquina (por máquina, linha de máquinas, hora/máquina); 2 unidades acabadas (por peças, litros, galões, toneladas) 2 utilização física (por m2, equipamentos, valor do imobilizado). Gestão de Custos – 236 – O CBA é o melhoramento conseguido na apropriação do custo que vem ganhando grande aceitação pelas empresas. O CBA diferencia-se do custeio tradicional pela maneira de utilizar os próprios custos indiretos como base de atribuir custos, como se pode verificar no exemplo a seguir adaptado de Tung (1994, p. 367) que apresenta o caso de uma empresa que fabrica quatro pro- dutos dotados de grande diversidade: os produtos são diferentes no tamanho (pequenos e grandes) e no volume (baixo e alto). A Companhia Ômega fabrica os produtos P1, P2, P3 e P4, utilizando os mesmos equipamentos e o mesmo processo. A quantidade produzida é: P1, 10 un.; P2, 100 un.; P3, 10 un.; P4, 100 un. Os quatros produtos consomem os seguintes Custos Indiretos de Fabricação: 2 10% do custo dos materiais diretos para armazenamento desses materiais; 2 R$10,00 de custos relativos ao controle da mão de obra direta; 2 R$412,50 por hora/máquina de manutenção de máquinas; 2 R$120,00 pela preparação (preparativos) das máquinas para iniciar o processo produtivo; 2 R$125,00 por ordem de fabricação como despesas de expedição; 2 R$25,00 por lote de material pelo transporte e manuseio dentro da fábrica; 2 R$500,00 por componente relacionado à administração dos com- ponentes (transporte). Os sistemas de custeio tradicionais têm como base as unidades de deter- minados produtos. Custos são alocados aos produtos pelo que cada produto consome de determinados recursos. As bases de rateio tradicionais medem tão somente a atribuição do custo em função das unidades da produção: número de horas de mão de obra, horas/máquina, valor dos materiais etc.) como se vê a seguir: – 237 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) Pr od ut os T am an ho s V ol um e M at er ia is H or as M O D H or as / M áq ui na N úm er o Pr ep ar at iv o N úm er o de o rd em M an us ei os A dm in ist ra çã o P1 pe qu en o ba ix o R $6 0, 00 5 1 1 1 1 1 P2 pe qu en o al to R $6 00 ,0 0 50 3 3 3 3 1 P3 gr an de ba ix o R $1 80 ,0 0 15 1 1 1 1 1 P4 gr an de al to R $1 .8 00 ,0 0 15 0 3 3 3 3 1 To ta l - - R $2 .6 40 ,0 0 22 0 8 8 8 8 4 % o u R $ po r c om po ne nt e 10 % R $1 0, 00 /h R $4 12 ,5 0 R $1 20 ,0 0/ u R $1 25 ,0 0/ u R $2 5, 00 /u R $5 00 ,0 0/ u C us to s i nd ire to s R $ 26 4, 00 2. 20 0, 00 3. 30 0, 00 96 0, 00 1. 00 0, 00 20 0, 00 2. 00 0, 00 Gestão de Custos – 238 – Os custos, em consequência, são os seguintes: Atividades Custos (R$) Controlar materiais 264,00 Controlar mão de obra 2.200,00 Manter máquinas 3.300,00 Custo de preparação 960,00 Custos de expedição 1.000,00 Custos de manuseio 200,00 Custos de administração 2.000,00 Total 9.924,00 Pelo método tradicional, utilizando, por exemplo, a mão de obra direta como forma de rateio, resultaria no seguinte custo/hora: Total dos custos indiretos R$9.924,00/220 total de horas MOD Custo por hora R$45,11 Custo rateado por sistema de custeio tradicional (mão de obra) Produto Tamanho Volume Hora MOD Custo hora (R$) Custo atribuído (R$) Quant. produz. Custo unitário (R$) P1 pequeno baixo 5 45,11 225,55 10 22,56 P2 pequeno alto 50 45,11 2.255,50 100 22,56 P3 grande baixo 15 45,11 676,65 10 67,67 P4 grande alto 150 45,11 6.766,50 100 67,67 Ao contrário do sistema tradicional, o CBA enfoca o custo das ativida- des que contribuem para a elaboração do produto no processo de fabricação. Os custos das atividades são atribuídos ao produto de conformidade com o quantum das atividades por ele consumido. – 239 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) As bases de atribuição são medidas pelas atividades absorvidas: Atribuição de custos indiretos com base na atividade Descrição Custos relacionados a: Centros produtivos Centros serviços Despesas Total dos CIFs (R$) 5.764,00 2.160,00 2.000,00 Unidades de custo ÷ 220 ÷ 8 ÷ 4 Intensidade consumo (R$) 26,20 270,00 500,00 Custos relacionados aos centros produtivos Produtos Horas MOD Int. consumo (R$) Custo atribuído (R$) P1 5 26,20 131,00 P2 50 26,20 1.310,00 P3 15 26,20 393,00 P4 150 26,20 3.930,00 Total 5.764,00 Custos relacionados aos centros de serviços Produtos Preparativos Int. consumo (R$) Custo (R$) P1 1 270,00 270,00 P2 3 270,00 810,00 P3 1 270,00 270,00 P4 3 270,00 810,00 Total 2.160,00 Gestão de Custos – 240 – Custos relacionados às despesas Produtos Preparativos Int. consumo (R$) Custo (R$) P1 1 500,00 500,00 P2 1 500,00 500,00 P3 1 500,00 500,00 P4 1 500,00 500,00 Total 2.000,00 Total relativo ao sistema de custeio à base da atividade Produto Custo produto (R$) Custo serviço (R$) Custo despesa (R$) Total custo (R$) Custo unitário (R$) P1 131,00 270,00 500,00 901,00 90,10 P2 1.310,00 810,00 500,00 2.620,00 26,20 P3 393,00 270,00 500,00 1.163,00 116,30 P4 3.930,00 810,00 500,00 5.240,00 52,40 12.2.2.1 Campos de aplicação do ABC O critério ABC pode ser aplicado, principalmente, nas seguin- tes circunstâncias: 2 quando o montante de despesas e custos indiretos for substancial diante do custo total de produção; 2 quando os investimentos realizados em máquinas, equipamentose ferramentas forem altos fazendo com que os custos e despesas indi- retas (depreciação, por exemplo) se tornem quase totalmente fixos; 2 quando se produz grande volume de produtos diferentes destina- dos a grande quantidade de clientes diferentes; 2 quando as operações, principalmente de fabricação, podem ser ana- lisadas com facilidade; – 241 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) 2 quando a empresa dispõe de sistema de informações automatizado que controla o processo produtivo e o consumo dos diversos insumos. 12.2.2.2 Desvantagens e vantagens do ABC É comum empregar-se o “achismo” para selecionar uma base de rateio ou para a seleção de um direcionador de atividades. Assim, tanto nos sistemas anteriores como no critério ABC é necessário que se apliquem recursos estatísticos para determinar as bases de rateio e direcionadores com mais precisão. O ABC observa a metodologia do conceito por absorção, o que não permitirá, por exemplo, que se analise adequadamente a decisão de desativar a produção de determinado produto, continuando, porém, a ocorrência de alguns custos e despesas. As múltiplas e numerosas atividades em que as operações são subdivididas desmancham os limites das áreas de responsabilidade, pois muitas atividades invadem e cruzam diversos centros de responsabilidade. Merece atenção, também, a aparente transformação de custos fixos em custos variáveis, trazendo consequências graves para a determinação e análise dos custos dos produtos, dos serviços e de outro qualquer objeto e custeio. Como a reestruturação e a reengenharia possuem um lado negativo, incluindo dispensas de empregados, fechamento de fábricas e corte de pro- dução, muitos adeptos em potencial do CBA ainda relutam em aceitar par- ticipar dos programas ABC/ABM, porque, em alguns casos, até mesmo os funcionários que promoveram o ABC foram despedidos. Mesmo considerando essas desvantagens, segundo o professor Martins (1998, p. 314) [...] o uso do ABC é extraordinário em termos de identificar o custo das atividades e dos processos e de permitir uma visão muito mais adequada para a análise da relação custo/benefício de cada uma des- sas atividades e desses processos. Permite o levantamento do quanto se gasta em determinadas atividades, tarefas e processos onde não se agrega valor ao produto, mesmo que com a devida cautela em função da sempre permanente presença de algum nível de erro e mesmo de arbitrariedade nesses rateios. Gestão de Custos – 242 – Segundo a IOB (1997, p.13), o Custeio à Base da Atividade é um modelo de controle do consumo de recursos e não do gasto dele decorrente, como acontece com o sistema tradicional de Custeio por Absorção. Dessa maneira, é importante que a empresa possua um sistema flexível suficiente que permita chegar às seguintes informações: 2 margem de contribuição de cada produto, mediante a utilização do custeio direto ou variável; 2 custo de produção de cada produto, incluídos os custos fixos e os variáveis, através da utilização do Custeio por Absorção; 2 soma do custo global de cada produto calculada pelo critério ABC. Conclusão Na adoção do Custeio à Base da Atividade deve-se proceder à atribuição dos custos aos diversos serviços ou atividades a partir do fato que originou esses custos, isto é, procurando uma relação causa-efeito e respeitando em consequência, o princípio da causalidade. A implantação de um CBA deve ser capaz de, com base em uma relação causa-efeito, atribuir os custos aos diversos componentes de serviços ou de produtos de forma desagregada e com o nível de detalhe exigido. De outro lado, a adequação, a correção e a utilidade de um modelo de custeio apenas serão garantidas se os custos relevantes para efeitos de dis- tribuição forem claramente identificados e inequivocamente atribuídos aos diversos produtos/serviços ou componentes de rede que os geraram. Ampliando seus conhecimentos Estratégia de implementação do TQM (gestão da qualidade total) aplicado ao ensino de Ciências Contábeis (Nakagawa, 2005) Introdução Até recentemente, especialmente no setor privado de edu- cação, um dos grandes temas que emocionavam pais, mes- 2 em 1493, os turcos tomam Constantinopla, o que fez com que grande – 243 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) tres, alunos e autoridades governamentais era o dos custos das mensalidades. Doravante, como consequência da globalização da economia, inclusive no setor da educação, com certeza, além dos custos vamos ter um outro grande tema em discussão: a questão da qualidade do ensino. A Lei 9.131, que trata da avaliação de cursos, certamente contribuirá fortemente para a melhoria da qualidade do ensino universitário no Brasil. Entretanto, a questão da qualidade na área de educação, como já o é nas áreas de manufatura, comércio e serviços, deve ser tratada profissionalmente. Tentativas de soluções empíricas, sem o concurso de especialistas adequadamente treinados, além de aumentar em muito os custos operacionais, poderão trazer também problemas adicionais e de descrença em relação aos princípios do TQM aplicado ao ensino. Um grupo de professores de universidades públicas e priva- das vêm já a alguns anos, liderados pelos professores Antônio Robles Júnior e Edson Luiz Riccio da FEA/USP, pesquisando os princípios e conceitos do TQM ( Gestão da Qualidade Total) aplicável ao ensino de Ciências Contábeis. Em agosto de 1995 foi realizado em Águas de Lindóia (SP), com grande sucesso, o primeiro “workshop” sobre “TQM Aplicado ao Ensino de Ciências Contábeis”, por ocasião da 14.ª Conven- ção dos Contabilistas do Estado de São Paulo, realizado pelo Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo. Por recomendação do MEC/SESu/COESP, a CEE – Comissão de Especialistas de Ensino de Ciências Contábeis – está realizando neste ano quatro (4) “workshops” sobre “TQM (Gestão de Qualidade total) aplicado ao ensino de Ciências Contábeis. A CEE – Ciências Contábeis está tendo apoio dos Conselhos Regionais de Contabilidade de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro, além do Conselho Federal de Contabilidade. Ao fim desses “workshops” será elaborado, um documento conclusivo que será encaminhado Gestão de Custos – 244 – ao MEC/SESu/COESP como contribuição ao governo, do grupo acima referido, para a definição de políticas de melhoria da qualidade de ensino de Ciências Contábeis no país. 1. Algumas premissas subjacentes à estratégia de implementação do “TQM Aplicado ao Ensino de Ciências Contábeis” Alguns docentes e dirigentes de instituições de ensino supe- rior acreditavam no início que os princípios do TQM cons- tituíam apenas uma questão de bom senso, bastava comprar alguns livros, assistir a algumas palestras e pronto. Mas quando tentaram implementá-los em suas organizações, descobriram que a coisa não era tão simples assim. Após terem incorrido em decepções, frustrações e muitos custos desnecessários acabaram criando até mesmo um clima de descrença e rejei- ção em suas organizações, com relação ao TQM. O perfeito entendimento dos princípios do TQM e uma cor- reta estratégia de implementação com sucesso do processo de melhoria da qualidade do ensino, requerem um compromisso e um engajamento diferentes de pensamento gerencial apli- cado aos negócios e uma nova cultura organizacional. Sobretudo, no novo ambiente de competitividade global, os docentes e dirigentes de instituições de Ensino Superior deverão estar muito atentos à questão da formação de com- petências e lideranças, e não simplesmente de portadores de diplomas de habilitação profissional. Nesse aspecto o mundo já mudou há algum tempo e o Brasil também felizmente está mudando, e muito rapidamente! 2. Alguns componentes da estratégia de implementação com sucesso do “TQM Aplicado ao Ensino de Ciências Contábeis” a. O que é “qualidade no ensino”: qualidade no ensino não é apenas o que nós entendemos por qualidade – 245 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) de aula, grandeexperiência e prática de contabilidade etc. Precisamos, na verdade colocar essa questão no contexto do projeto pedagógico de nossa organi- zação e, subordinado a ele, do curso de graduação em Ciências Contábeis. b. A “qualidade no ensino” é o resultado de diversos pro- cessos de negócios: desde o momento e as razões que levaram a nossa organização a criar o curso de graduação em Ciências Contábeis, até o perfeito atendimento das expectativas e necessidades do mercado em que atua- mos, há muitos processos de negócios envolvidos, que levam à “boa” e/ou à “má qualidade “, com seus respec- tivos custos, geralmente muito elevados. c. A “qualidade no ensino” é fruto da parceria entre os clientes docentes/funcionários e a nossa organiza- ção: precisamos ouvir com muita atenção as vozes de nossos clientes para sabermos de suas necessidades e expectativas e especificar clara e objetivamente o que esperamos de nossos docentes/funcionários, a fim de que nossa organização possa atender eficientemente os nossos clientes. d. A “qualidade no ensino” requer uma atitude proativa: fazer as coisas certas na primeira vez, eliminando todas as formas de desperdícios, requer planejamento, treina- mento, deployment e accountability. e. A “qualidade no ensino” requer nosso foco na análise e gestão das atividades de pesquisa, ensino e serviços de extensão à comunidade: a produção de conhecimentos, metodologias didáticas no “momento da verdade”, bem como, os serviços de extensão à comunidade devem se adequar à estratégia de sobrevivência com competitivi- dade de nossas organizações. Gestão de Custos – 246 – f. A “qualidade no ensino” requer o envolvimento/ compromisso de todos os docentes/funcionários e da própria organização com o processo de contínuo aper- feiçoamento: o “TPM Total Productive Maintenance”, “Just-in-Time”, “5 S”, “Kanban”, “Kaizen” etc. devem ser a linguagem comum de todos os envolvidos/comprome- tidos com a estratégia de implementação com sucesso do “TQM (Gestão da Qualidade Total) aplicado ao ensino de Ciências Contábeis”. Conclusões A cada dia que se passa a qualidade no ensino está se tor- nando uma questão prioritária, à qual nossas instituições de Ensino Superior deverão dedicar sua máxima atenção, não porque as autoridades governamentais passarão a apli- car com rigor a Lei 9.131, mas porque essa é uma questão de sobrevivência. A globalização da economia está trazendo sérias indagações e perplexidades aos setores industriais, comerciais, financeiros e de serviços em geral do país e, com certeza, nossas insti- tuições de Ensino Superior também já começaram a sentir os efeitos desse fenômeno mundial. Um grupo de professores de universidades públicas e privadas estão se dedicando fortemente à pesquisa de princípios, conceitos e estratégias de implementação com sucesso do “TQM ( Gestão da Qualidade Total) Apli- cado ao Ensino de Ciências Contábeis”, porque essa é uma questão que, já se sabe, não pode permanecer ao sabor de tentativas e erros, nem de especialistas de TQM não familiarizados com o espírito e a alma dos abnegados docentes que se dedicam à pesquisa e ao ensino de gra- duação em Ciências Contábeis. – 247 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) Atividades de aplicação 1. Relacionar as atividades constantes da coluna 1 com os departamentos descritos na coluna 2: ( ) Análise de mercado (1) Engenharia ( ) Projeto do produto (2) Marketing ( ) Desenvolvimento do protótipo (3) Finanças ( ) Teste do produto (4) Controle de qualidade ( ) Planejamento de qualidade ( ) Análise financeira 2. As seguintes atividades e respectivos custos foram verificados na Cia. Alfa: Emissão de pedidos de compras R$2.000,00 Autorização de pagamentos R$1.550,00 Realização do pagamento R$2.000,00 Autorização de créditos R$1.000,00 Recebimento de pedidos de vendas R$1.200,00 Liberação de crédito R$1.100,00 Pede-se para identificar qual departamento, de compras, de crédito, de vendas e de finanças é responsável pela atividade e atribuir-lhe o custo correspondente. 3. Assinalar se é falso (F) ou verdadeiro (V): ( ) O potencial impacto econômico dos fabricantes emergentes, como a Índia, a China e o Brasil, nos fabricantes líderes atuais transformará a paisagem econômica. Gestão de Custos – 248 – ( ) O CBA não se diferencia do custeio tradicional, pois utiliza-se dos próprios custos indiretos como base de atribuir custos aos centros e aos produtos. ( ) O ABC (Activity Based Costing – Custeio à Base da Atividade) procura atribuir os Custos Indiretos de Fabricação aos produ- tos ou serviços, corretamente. ( ) Goldratt e outros autores acusaram que os sistemas de custeio universalmente aplicados nas empresas tinham motivado a de- terioração da produtividade nas indústrias americanas. ( ) O professor Lopes Sá afirma que os critérios utilizados pelo ABC não foram aplicados em épocas passadas, tratando-se, portanto, de um novo vinho e de uma garrafa muito bonita. 4. O departamento de treinamento da empresa Beta possui um chefe e dois funcionários. Os salários desses colaboradores são os seguintes: 2 Chefe, R$10.000,00. 2 Funcionário A, R$6.000,00. 2 Funcionário B, R$5.000,00. As atividades executadas pelos três são as seguintes: Pessoas – % do tempo Ministrar aulas Preparar aulas Atender ao público Administração Desenvolver roteiros Chefe 40% 10% 5% 45% 0 Funcionário A 40% 30% 5% 25% Funcionário B 10% 10% 20% 5% 55% Pede-se para atribuir os custos dos salários às atividades. 5. A Cia. Ômega fabrica os produtos Alfa e Beta e rateia os Custos Indiretos de Fabricação aos dois produtos com base nas atividades. Os CIFs do – 249 – Custeio por atividade (CBA ou ABC) período foram de R$222.750,00 e, mediante dados contábeis e outros le- vantamentos, foi possível atribuir esses custos para as seguintes atividades: Atividades Custos R$ Inspecionar material 30.000,00 Armazenar material 15.000,00 Emitir e receber faturas 8.000,00 Controlar estoques 40.000,00 Despachar produtos 30.000,00 Pagar fornecedores 9.750,00 Utilizar máquinas 75.000,00 Controlar processos 15.000,00 Total 222.750,00 Foi realizado um trabalho para determinar os direcionadores de cus- tos aos dois produtos e se constatou que eles são os seguintes: Atividades Alfa Beta Inspecionar material 5 10 Armazenar material 5 10 Emitir e receber faturas 8 12 Controlar estoques 8 12 Despachar produtos 50 100 Pagar fornecedores 8 12 Utilizar máquinas 0,5 2 Controlar processos 0,25 0,75 Gestão de Custos – 250 – São produzidas 5 000 unidades de Alfa e 12 000 unidades de Beta. Pede-se para calcular o custo unitário de cifs pelo Custeio à Base da Atividade. 6. O Motel Celta incorreu em Custos Indiretos de Fabricação no valor de R$70.000,00. Por meio dos dados contábeis e outros levantamentos foi possível atri- buir esses custos para as seguintes atividades: Atividades Custos (R$) Recepcionar hóspedes 20.000,00 Inspecionar e limpar apartamentos 18.000,00 Requisitar e controlar materiais 15.000,00 Lavar roupa 17.000,00 Total 70.000,00 O Motel possui 20 apartamentos standard e 10 apartamentos de luxo e o tempo destinado à execução das atividades descritas é o seguinte: Dados Standard Luxo Número de hóspedes 750 500 Tempo de limpeza 160 200 Número de requisições de material 62 45 Quilo de roupa lavada 350 400 Pede-se para ratear os custos indiretos de fabricação incorridos no período aos apartamentos standard e de luxo pelo Custeio à Base da Atividade. Análise do custo, volume e lucro Introdução A análise das relações custo/volume/lucro é uma das técnicas mais eficientes de análise de custos. Porém, como nas demais técni- cas, nesta também existem algumas limitações. A mais importante decorre de que nenhum custo ou despesa é perfeitamente fixo, e muitas vezes também não existem custos e despesas perfeitamente variáveis e estruturas diferenciadas, em termos de composiçãode custos e despesas fixos e variáveis, provocam oscilação nos volumes e preços de vendas. 12 Gestão de Custos – 252 – 12.1 Custeio direto e por absorção Na Contabilidade Financeira (legal ou fiscal), tanto os custos variáveis como os fixos, tanto os diretos como os indiretos devem ser absorvidos integralmente no custo do produto e todos eles somados devem ser levados ao estoque. Mesmo que os rateios dos custos indiretos sejam sempre arbitrários e discutíveis, tanto os princípios contábeis como a legislação tributária exigem a integração de todos os gastos como os a seguir: 2 transporte e seguro; 2 custo do pessoal aplicado na produção, inclusive na supervisão direta, manutenção e guarda das instalações de produção; 2 custos de locação, manutenção e reparo e os encargos de deprecia- ção dos bens aplicados na produção; 2 encargos de amortização diretamente relacionados com a produção; 2 encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção. Vê-se que o Fisco exige o uso do custeio por Absorção, fazendo com que se incorporem ao produto todos os custos ligados à produção, quer os dire- tos quer os indiretos. Nessa forma de custeio, todos os custos de produção, abrangendo tanto custos fixos como variáveis, são atribuídos aos produtos, direta ou proporcionalmente. Nas informações gerenciais, porém, há necessidade de isolar o custo variável, tanto o direto como o indireto identificável, para que, depois de deduzido da receita com vendas, seja apurada a margem de contribuição. Por isso, utiliza-se o custeio direto. No custeio direto os custos fixos de produção são tratados como do perío do e não como custos dos produtos; isto é baixam-se esses custos durante o período no qual eles ocorrem. Assim, no custeio direto, os custos fixos de produção são excluídos do valor da produção em andamento e dos estoques dos produtos acabados, ocasionando um efeito marcante sobre o lucro do período e sobre os custos dos estoques no balanço. No custeio direto, todos os custos variáveis, inclusive os custos de venda e de administração são deduzidos do preço de venda, resultando na margem de contribuição. – 253 – Análise do custo, volume e lucro 12.2 Margem de contribuição A margem de contribuição por unidade é a diferença entre a receita e o custo variável de cada produto; é o valor que cada unidade efetivamente traz à empresa de sobra entre sua receita e o custo que, de fato, provocou e lhe foi imputado sem erro. Por isso que a análise da relação custo/volume/lucro depende de cuidadosa separação dos custos segundo sua variabilidade. A partir da margem de contribuição será possível determinar diferentes volumes de vendas e, principalmente, o mínimo de vendas que uma empresa precisa ter para não sofrer prejuízo. As demonstrações financeiras na prática contábil usual são feitas sem separação dos custos e despesas entre fixos e variáveis, pois o método de contabilização vigente e obrigatório é o do custeamento por absorção. Nesse método, os valores de custos e despesas são lançados conforme a clas- sificação determinada no plano de contas e computados aos centros ou aos produtos com base nas aplicações efetuadas. Pelo método do custeamento por absorção, os custos fixos são lançados como “estoques”, gerando graves distorções nas demonstrações contabéis, sob o ponto de vista gerencial. Contrariamente, o método de custeamento direto trabalha com os con- ceitos de custos e despesas fixos e custos e despesas variáveis, originados da análise econômica. Dessa forma, o custeio direto permite avaliar a margem de contribuição dos produtos, que é obtida pela diferença entre o preço unitário de venda e os custos variáveis unitários incorridos para sua produção. O custeamento direto traz as seguintes vantagens: 2 permite identificar os produtos lucrativos, direcionando os esfor- ços de produção e de vendas; 2 permite avaliar os limites dentro dos quais serão definidas as polí- ticas de preços, sem prejuízo da rentabilidade; 2 separando os custos fixos dos variáveis, é possível definir volumes mínimos de produção e preços adequados. Gestão de Custos – 254 – 12.3 Os custos e o equilíbrio As flutuações naturais, cíclicas e sazonais afetam o nível de atividade dos negócios. Por isso, na administração de uma empresa é necessário, a todo o instante, adequar a relação entre custos, volumes e lucros, componentes essenciais para a preparação dos orçamentos e para fixação das estratégias de preço de venda. É sabido que os custos e despesas operacionais seguem alguns padrões de comportamento que podem ser previstos com razoável grau de acerto. Por outro lado, a planta fabril, as instalações, as máquinas, os equi- pamentos e o custos gerados por eles tendem a ser inflexíveis com relação às mudanças no volume de produção, isto é, esses custos não variam com o volume produzido pois, por exemplo, equipamentos não podem ser vendidos, mesmo em períodos de menor produção. Já a mão de obra ou materiais diretos têm seus custos totais proporcio- nais ao volume, pois o pessoal da produção e materiais podem ser contratados ou comprados quando necessários. Esses custos que variam com o volume mantêm uma relação percentual constante com as vendas. Dentro de uma normalidade, pode-se afirmar que os custos fixos se mantêm constantes e que os custos variáveis mantêm uma relação linear com o volume produzido como se pode verificar no gráfico a seguir: Gráfico 1 – Ponto de equilíbrio 5 100 200 300 400 500 600 10 15 20 25 30 35 40 R$1.000,00 Quantidade de itens produzidos (em mil) Ponto de equilíbrio Prejuízo Receita vendas Lucro Custo total Custo variável Custo fixo – 255 – Análise do custo, volume e lucro Se todos os custos fossem variáveis, os lucros manteriam uma relação per- centual constante com as vendas. De outro modo, se todos os custos fossem fixos, os lucros cresceriam de forma desproporcional com o aumento das vendas. Em consequência disso, conclui-se que existem combinações de custos fixos e variáveis em que, como regra geral, os custos variáveis são inversamente proporcio- nais aos custos fixos, pois para um mesmo produto, quanto maior o investimento em ativos fixos altamente automatizados, menores serão os custos variáveis. Porém, existem limitações. A limitação nessa análise, como se afirmou, se assenta na premissa de que não existem custos e despesas eternamente fixos ou perfeitamente variáveis. 12.3.1 Custos fixos Segundo Martins (2003, p. 252), os custos fixos são fixos dentro de certos limites de oscilações de atividade a que se referem, sendo que, após tais limites, aumentam, mas não de forma exatamente proporcional, tendendo a subir degraus. Assim, a representação gráfica que representa melhor os custos fixos, deveria, em vez de em uma linha reta, ser efetuada em degraus, como no gráfico a seguir: Gráfico 2 – Variação dos custos fixos Custos fixos R$ Os custos de supervisão de mão de obra, por exemplo, podem manter- -se constantemente até que se atinja uma determinada capacidade e, assim que ela for atingida, poderá ensejar alguns acréscimos para bem conseguir desempenhar sua função. Gestão de Custos – 256 – Outro exemplo são os custos e despesas fixos decorrentes da manuten- ção e guarda de uma planta fabril. Mesmo que não ocorra nenhuma atividade, incorre-se nos custos de vigia, depreciação das máquinas (até pela sua obso- lescência), lubrificação etc. Para colocar a maquinaria em funcionamento, mesmo para uma produção bem inferior à sua plena capacidade, ocorre um crescimento desses custos. Pode ocorrer que, à medida em que for aumen- tando a produção, ainda seja possível manter esse limiar de custos, mas, se a produção crescer para além de 20%, 30%, com certeza haverá necessidade de outros homens para recepção e controle de materiais, para controle de quali- dade, para manutenção das ferramentas etc. 12.3.2 Custos e despesas variáveis Poder-se-ia afirmar que o único custorealmente variável é a matéria- -prima, porém, pode acontecer que o grau de consumo de materiais não seja exatamente proporcional ao grau de produção, principalmente em decorrên- cia das perdas verificadas no processo produtivo. A tendência, nesse caso, é que as perdas sejam inversamente proporcionais ao volume de produção: quando o volume produzido for baixo, as perdas são altas, tendendo a dimi- nuir percentualmente quando o volume for crescendo. A necessidade de mão de obra cresce à medida que se produz mais, porém, não de forma proporcional, devido à produtividade. Dessa maneira, a representação gráfica que representa melhor os custos variáveis, deveria, ao invés de uma linha reta, ser representada como no gráfico a seguir: Gráfico 3 – Variação dos custos variáveis – 257 – Análise do custo, volume e lucro 12.3.3 Ponto de equilíbrio Toda a unidade produzida gera seu próprio custo, pois incorpora mate- rial e mão de obra. Quando do preço de venda dessa unidade produzida for diminuído seu próprio custo, tem-se a margem de contribuição unitária. A quantidade de produtos, após deduzidos os custos gerados pela fabri- cação deles mesmos, necessária a ser produzida para que sobrem recursos para pagamento dos custos fixos, é determinada pelo Ponto de Equilíbrio. Uma empresa eficiente deve operar acima do ponto de equilíbrio, para subs- tituir o seu equipamento, distribuir dividendos e prover para seu crescimento. 12.4 A análise do ponto de equilíbrio O cálculo do ponto de equilíbrio, ou break-even1, procura encontrar o ponto em que as receitas e despesas da empresa são iguais a zero. A análise do ponto de equilíbrio, conforme a consultoria empresarial da Suma Econômica, assume que, durante o período considerado, as vendas são iguais à produção. O diagrama a seguir demonstra o ponto de equilíbrio. Ponto de equilíbrio Receitas = Despesas Assume-se, também, que os preços de vendas se mantêm uniformes e que está sendo adotado um dos seguintes programas de preços: 2 um único produto é vendido a um preço unitário fixo ou em um intervalo de preços que resulta sempre em um preço médio fixo; 1 Break-Even - É um modo simples e eficaz de medir a rentabilidade (ou prejuízo) de uma empresa ou de uma operação financeira. Permite igualmente fazer simulações alterando as va- riáveis de cálculo. O objetivo dessa análise é a determinação do break-even point (ponto morto das vendas), no qual o valor das receitas da empresa (lucro de vendas) é igual aos seus custos totais (somatório dos custos fixos e variáveis). Logo, este será o ponto de equipilíbrio em que a empresa nem perde nem ganha dinheiro. Acima do break-even point a empresa terá lucros, e abaixo dele terá prejuízos. Outro conceito relevante é o da margem de contribuição (ponto em que as receitas igualam os custos variáveis). Gestão de Custos – 258 – 2 uma gama de produtos é vendida com uma variedade de preços fixados, mas sempre mantendo um preço unitário fixo; 2 uma gama de produtos é vendida com uma variedade de preços, mas sempre mantendo uma relação percentual fixa com os custos variáveis. O cálculo do ponto de equilíbrio é imprescindível nos seguintes casos: 2 em lançamentos de novos produtos, para determinar qual o volume de vendas necessário para o ponto de equilíbrio do projeto; 2 para avaliar o potencial de alavancagem dos lucros da empresa; 2 para avaliar mudanças, como a terceirização, que transformam cus- tos fixos em variáveis. 12.4.1 Tipos de pontos de equilíbrio O ponto de equilíbrio é um instrumento precioso para a gerência visu- alizar a situação econômica global das operações e tirar proveito das relações entre as variáveis custo/volume/lucro. Como as empresas são diferentes, elas e seus gestores têm necessidade de realizar adaptações no cálculo e análise do ponto de equilíbrio. Wernke (2001, p. 50) menciona que o ponto de equilíbrio recebe deno- minações diferentes: 2 ponto de equilíbrio contábil (em unidades); 2 ponto de equilíbrio contábil (em valor); 2 ponto de equilíbrio financeiro; 2 ponto de equilíbrio econômico; 2 ponto de equilíbrio com múltiplos produtos (Mix). 12.4.1.1 Ponto de Equilíbrio Contábil em unidades O Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) em unidades define a quanti- dade de unidades que se deve produzir e vender. Para se definir a quantidade, dividem-se os custos fixos totais pela margem de contribuição unitária. Assim, o – 259 – Análise do custo, volume e lucro PEC em unidades define o número de produtos (peças, metros, quilos) que deve ser fabricado e vendido para que o resultado seja zero, de acordo com a seguinte fórmula: PEC unidades = Custos fixos totais Margem contribuição unitária O cálculo do PEC em unidades é calculado de acordo com o exemplo a seguir: Custo fixo total R$5.000,00 Margem de contribuição unitária R$200,00 PEC unidades = R$5.000,00 R$200,00 = 25 Exemplo de cálculo do ponto de equilíbrio de uma empresa que tra- balha no setor de restaurante: Custos Fixos totais por mês (CF): 2 Aluguel mensal R$2.200,00 2 Salários fixos + encargos R$400,00 2 Depreciação das máquinas R$500,00 2 Luz, água R$100,00 2 Total R$3.200,00 Custos Variáveis Unitários (CVU): 2 Comissão do garçom R$0,125 2 Materiais de MOD R$0,725 2 Lavagem de toalhas R$0,050 2 Total R$0,900 Preço de venda do buffet R$2,50 Q = CF P – CV Q = R$3.200,00 R$2,50 – R$0,90 = 2 000 refeições Gestão de Custos – 260 – Assim, o restaurante tem que atender pelo menos 2 000 refeições por mês, ou, em média, pelo menos 100 clientes por dia útil para poder, com o resultado das vendas, liquidar o custo gerado na produção de cada refeição e todos os custos fixos incorridos no mês. 12.4.1.2 Ponto de Equilíbrio Contábil em valor O Ponto de Equilíbrio Contábil (PEC) em valor é utilizado por empre- sas que fabricam uma gama muito grande de produtos, ou quando se cons- tatam dificuldades na identificação aos custos e despesas fixos para cada pro- duto. A empresa que se obrigar a adotar esse tipo de ponto de equilíbrio deve definir o valor mínimo pelo qual deve ser vendido o produto para que não tenha nem lucro nem prejuízo. PEC em valor = Custos fixos totais Margem contribuição unitária em % Uma medida de unidades vendidas pode ser convertida para uma medida de receita de vendas simplesmente multiplicando o preço de venda unitário pelas unidades vendidas. Inicialmente, verifica-se, percentualmente, a margem de contribuição. Após, os custos fixos totais serão divididos por essa margem de contribui- ção, de acordo com o exemplo a seguir. Custo fixo total R$5.000,00 Percentual da margem de contribuição 30% PEC em valor = R$5.000,00 30% = R$16.666,67 12.4.1.3 Ponto de Equilíbrio Financeiro Martins (2003, p. 252) descreve que dentro dos custos e despesas fixos registrados no período podem também estar incluídos custos e despesas que não representam saída de caixa, como a depreciação, que são denominados de gastos não desembolsáveis. – 261 – Análise do custo, volume e lucro No Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF), calcula-se o nível de atividades, quer em unidades, quer em valor monetário, suficiente para pagar os custos e despesas variáveis, os custos fixos (excetuados os da depreciação) e acrescido das dívidas que a empresa tenha que saldar no período como empréstimos e finan- ciamentos bancários. O PEF é calculado de acordo com a seguinte fórmula: PEF = Custos fixos totais – depreciação + dívidas Margem contribuição unitária O PEF é calculado de acordo com o exemplo a seguir: Custo fixo total R$5.000,00 Depreciação no período R$500,00 Obrigações decorrentes de empréstimos R$100,00 Margem de contribuição unitária R$200,00 PEF = R$5.000,00 – R$500,00 + R$100,00 R$200,00 = R$23,00 12.4.1.4 Ponto de Equilíbrio Econômico Martins (2003, p. 277) ensina que o ponto de equilíbrio de uma empresa será obtido quando a soma das margens