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cap_23_Recuperação dos solos afetados por sais

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Recuperação de solos
afetados por sais
Lourival F. Cavalcante1, Rivaldo V. dos Santos2, Fernando F. F. Hernandez3,
Hans R. Gheyi4 & Thiago J. Dias1
1 Universidade Federal da Paraíba
2 Universidade Federal de Campina Grande
3 Universidade Federal do Ceará
4 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados
ISBN 978-85-7563-489-9
Fortaleza - CE
2010
Introdução
Técnicas de recuperação de solos afetados por sais
Técnicas fundamentais
Técnicas auxiliares
Recuperação de solos salinos
Fundamentos da lavagem
Necessidade de lavagem
Lavagem de manutenção
Lavagem de recuperação
Métodos de lavagem
Lavagem por inundação intermitente
Lavagem superficial
Recuperação dos solos sódicos e salino-sódicos
Tipos de corretivos usados na recuperação de solos afetados por sódio
Gesso
Cloreto de cálcio
Enxofre
Ácido sulfúrico
Calcário dolomítico
Matéria orgânica
Resíduos industriais
Calculo da necessidade de corretivos e recomendações práticas
Referências
INTRODUÇÃO
Os solos afetados por sais ocorrem em importantes
extensões no mundo, principalmente em regiões áridas
e semiáridas, onde a irrigação é necessária para uma
agricultura bem sucedida. A elevação do conteúdo de
sais solúveis no solo influencia no comportamento das
culturas de diversas maneiras, através de mudanças nas
proporções de sódio trocável, na reação dos solos, nas
propriedades físicas dos solos, no potencial osmótico da
solução do solo e nos efeitos tóxicos de íons
específicos. Estas mudanças influenciam na atividade
das raízes das plantas e dos microorganismos do solo,
consequentemente, na produtividade das culturas.
O manejo adequado dos solos afetados por sais é
essencial para uma agricultura irrigada eficiente e
sustentável. Compreende a recuperação de solos
afetados por sais, geralmente causada por uma
irrigação inadequada e a manutenção ou prevenção dos
solos irrigados não afetados e os recuperados. Envolve
as aplicações das teorias e conhecimentos existentes
da física e química do solo, como também das relações
irrigação-salinidade e produção-salinidade.
Na recuperação e manejo dos solos afetados, o fator
chave é o movimento da água através do perfil do solo.
A taxa de infiltração (q) e a condutividade hidráulica do
solo (K) diminuem com a diminuição da salinidade do solo
e com o aumento do sódio trocável. Isto, em parte, é
devido ao impacto mecânico e ação dispersante da água
aplicada e deposição das partículas liberadas do solo na
superfície. No entanto, através de várias combinações de
cultivos, uso de corretivos do solo e práticas de lavras
podem ser mantidas a q e K em valores adequados. Por
outro lado, no processo de recuperação de solos
afetados, para que a lavagem dos sais seja efetiva, as
condições de drenagem dos solos devem ser adequadas
de maneira que os sais solúveis, sódio trocável e ou boro
possam ser removidos da zona radicular.
TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO DE SOLOS
AFETADOS POR SAIS
Diversas técnicas são empregadas para a
recuperação de solos afetados por sais e, dentre elas,
duas são consideradas fundamentais: a lavagem dos
sais e a aplicação de melhoradores químicos, por
atuarem diretamente na eliminação ou correção dos
problemas de salinização; entretanto, existem as
técnicas auxiliares, tais como: aração profunda,
subsolagem e aplicação de resíduos orgânicos, entre
outras, que têm a função não exatamente de recuperar
os solos, mas de atuarem sobre algumas propriedades
do solo, que tornam mais eficiente as técnicas
fundamentais de recuperação.
Raramente se consegue a recuperação dos solos
afetados por sais utilizando-se um método isoladamente.
A eficiência pode ser mais expressiva combinando-se
duas ou mais técnicas, simultaneamente. O método ou
técnica utilizada na recuperação desses solos depende do
diagnóstico, uma vez que, se tem causas de salinização
diferentes. Neste sentido, o estudo da drenabilidade do
solo constitui prática indispensável antes de se iniciar os
trabalhos de recuperação.
Técnicas fundamentais
Lavagem: A lavagem é a técnica mais prática de se
reduzir os sais do solo, e consiste em se fazer passar,
Recuperação de solos
afetados por sais
450 Lourival F. Cavalcante et al.
através do perfil do solo, determinado volume de água
que, por sua vez, carreia os sais solúveis para além do
ambiente radicular. Esta técnica pode ser realizada com
duas finalidades: a) minimizar a alta salinidade inicial do
solo para níveis toleráveis pela maioria das culturas,
denominada lavagem de recuperação; b) prevenir contra
a salinização dos solos irrigados não afetados,
denominada lavagem de manutenção e se caracteriza
como técnica de prevenção contra a expansão acelerada
dos sais nas áreas irrigadas.
Melhoramento químico: Nos solos salinos, a
lavagem é suficiente para sua recuperação, devido os
sais já estarem dissolvidos na solução do solo, sendo
facilmente arrastados pela lâmina de lavagem; entretanto,
em solos sódicos o uso de melhoradores ou corretivos
químicos se faz necessário para deslocar o sódio que
está adsorvido na micela, mediante a adição de
substâncias que contenham, preferencialmente, cálcio.
Deste modo, os corretivos têm a finalidade de fornecer
elementos como o cálcio, ou liberá-lo, quando presente
no solo, para substituir o sódio trocável, pois o cálcio
desloca o sódio do complexo de troca para a solução que
será lixiviado após a lavagem.
Deve-se ressaltar que, o cálcio por ter maior
seletividade, ou seja, maior força de atração pelas
partículas de argila, mesmo estando presente em menor
proporção em relação ao sódio, consegue substituí - ló
como indicado no esquema seguinte:
Porém se o sódio substituído não for removido mediante
o processo de lavagem seguido de drenagem, o solo pode
tornar-se sódico; isto evidencia a importância da
drenagem no processo de recuperação dos solos salinos
– sódicos e sódicos.
Técnicas auxiliares
Técnicas mecânicas
Aração profunda: Consiste em arar o solo até a
profundidade de 60 e 70 cm, com o objetivo de promover
a ruptura do solo e a formação de torrões. Essa prática
contribui para a melhoria da estrutura do solo,
favorecendo a infiltração e percolação da água durante
uma ou duas irrigações, resultando em menor acúmulo de
sais solúveis na zona de semeadura. Esta técnica é
recomendada quando o solo possui camadas de baixa
permeabilidade entre outras mais permeáveis, devido o
arado reverter e misturar o solo, tornando-o mais
homogêneo, mais poroso para a dinâmica de ar, água e
nutrientes.
Subsolagem: É uma operação que tem basicamente
os mesmos objetivos da aração profunda só que em
menor profundidade, mas é recomendada para
profundidades além de 30 cm. Tem ainda como objetivo,
romper as camadas compactadas do perfil de baixa
permeabilidade aumentando o espaço poroso, sem
inverter as camadas, melhorando a permeabilidade do
solo. A subsolagem reduz os efeitos prejudiciais de
camadas compactadas que estão a mais de 30 cm de
profundidade, porém seu efeito é de duração temporária,
variando de um a dois anos.
Mistura com areia: A adição e mistura de areia em
camadas de solos de textura fina têm a finalidade de
aumentar a macroporosidade e a permeabilidade para
crescimento mais eficiente das raízes no solo. Esta
técnica aumenta as propriedades transmissoras de água
no solo, como infiltração, percolação profunda, facilitando
a lixiviação dos sais. A adição de areia é feita pela
incorporação na superfície do solo e, em seguida, uma
cultura de sistema radicular pouco profundo é cultivada.
Após vários cultivos e práticas culturais, haverá a
mistura e a inversão da areia para as demais camadas,
favorecendo a permeabilidade em todo o perfil (Pizzarro,
1978). Uma das inconveniências dessa prática é a grande
quantidade de areia exigida em geral, de 700 a 1.000 t
ha-1.
Inversão de perfis geológicos: Consiste em
deslocar o horizonte superficial de um solo de
características indesejáveis e substituí-lo por materiais
provenientes de horizontes mais profundos para
melhorias nos atributos físico-químicos. A araçãoprofunda também pode ser aplicada nos solos com
excesso de sódio na camada superficial e contendo, em
profundidades maiores, camada de solo rica em gesso;
neste caso, a inversão de perfil remove o gesso para a
superfície e desloca o solo com excesso de sódio para
as camadas mais profundas. Quando se tem uma
camada de solo muito espessa, com impedimento à
água, ar e crescimento das raízes, de modo que não se
permita a inversão do perfil, recomenda-se o uso da
técnica de drenos verticais no horizonte de baixa
permeabilidade. Esta técnica viabiliza a drenagem da
água, de um horizonte de boas condições hídricas para
outro, sem passar fisicamente pelo horizonte
intermediário de baixa permeabilidade, não ocorrendo à
acumulação de sais na camada superficial (horizonte A),
conforme ilustrado na Figura 1.
451Recuperação de solos afetados por sais
Técnicas biológicas
Aplicação de adubos orgânicos: A adição de
matéria orgânica tem como objetivo, melhorar a
estrutura, reduzir a densidade e aumentar a
permeabilidade e na atividade microbiológica (Silva et al.,
2008) com reflexo positivo no aumento da fertilidade do
solo. Os resíduos podem ser usados como cobertura na
superfície ou incorporados ao solo; quando aplicados na
superfície reduzem a evaporação mantendo o solo mais
úmido, reduzindo os riscos de salinização. O efeito desta
prática é temporário e requer incorporações periódicas
durante os cultivos. Os adubos orgânicos podem ser
adubos verdes e/ou composto.
Cultivos de elevada evapotranspiração: São
cultivos que provocam o abaixamento do lençol freático,
contribuindo para maior eficiência da lavagem dos sais.
Além desta vantagem a sombra das plantas reduz a
intensidade da evaporação pela superfície do solo,
diminuindo o acúmulo de sais. Quando o nível elevado
da salinidade inicial do solo não permitiu o cultivo de
espécies economicamente viáveis, como alfafa e outras
forrageiras, podem ser usadas culturas como cana-de-
açúcar.
Técnicas termelétricas: A exposição do solo às altas
e baixas temperaturas melhora a permeabilidade, fato
explicado pela expansão e contração dos minerais do
solo quando submetido às variações de temperatura. A
passagem de corrente elétrica mediante eletrodos
instalados no solo durante a lavagem dos sais acelera o
processo de recuperação dos solos afetados por sais. O
catodo, eletrodo negativo, atrai os cátions do solo,
principalmente o sódio, tornando a lavagem mais
eficiente; já o cloreto é atraído pelo anodo, eletrodo
positivo, transformado em gás (Cl2) que é liberado para
a atmosfera.
RECUPERAÇÃO DE SOLOS SALINOS
A recuperação de solos salinos consiste na aplicação
de uma lâmina de água ao solo, capaz de lavar o excesso
de sais solúveis do perfil abaixo da zona radicular das
plantas. O processo de recuperação envolve a dissolução
dos sais presentes no solo e seu transporte em
profundidade abaixo da zona radicular das plantas.
Desta forma, é possível se reduzir a alta salinidade inicial
do solo até níveis toleráveis pelas culturas garantindo,
assim, a produção de alimentos e a sustentabilidade da
agricultura irrigada.
O tempo de recuperação e a lâmina de água
necessária para lavar os sais da zona radicular,
dependem dos fatores que afetam a eficiência de
lixiviação, tais como: a salinidade inicial do solo, a
qualidade da água de irrigação e a profundidade do solo
a ser recuperado.
Em solos de baixa permeabilidade o tempo de
recuperação pode levar até 120 dias. Neste caso se
recomenda o cultivo de arroz após se ter infiltrado no
solo uma lâmina de água de 100 a 150 mm.
Evidentemente, a lâmina necessária para lavagem de
recuperação dos sais em solos cultivados deve ser maior,
pois a maior parte desta lâmina aplicada será utilizada
para atender à evapotranspiração da cultura.
A profundidade do solo a ser recuperada pela
lavagem depende da cultura que se deseja explorar. Em
culturas que apresentam sistema radicular superficial,
recomenda-se uma profundidade de 0,60 m e, para
culturas de sistema radicular profundo aconselha-se
dessalinizar cerca de 1,50 m de profundidade, porém não
necessariamente de uma única vez (Tanji, 1990). Para
otimizar o processo de recuperação do solo, recomenda-
se prolongar-lo pelo prazo de 2 a 3 anos, aproveitando
a área logo após a primeira lavagem de 10-15 cm de
profundidade.
Durante o processo de lavagem do solo, com a
lixiviação dos sais em excesso que são prejudiciais ao
crescimento e desenvolvimento das plantas, são
lixiviados também os nutrientes essenciais, como N, K,
Ca, Mg e S; portanto, logo após a lavagem se deve
estabelecer a fertilidade do solo, preferencialmente pela
incorporação de matéria orgânica.
Fundamentos da lavagem
A necessidade de lavagem é fundamentada no balanço
de água e sais na zona radicular, os quais se baseiam nos
diferentes fluxos de água de um solo irrigado. A superfície
do solo recebe a água proveniente das lâminas de
precipitação e da água aplicada por irrigação, parte da
qual é infiltrada na zona radicular e outra parte, o excesso,
é perdido por escoamento superficial; já a zona radicular
recebe a água infiltrada e a lâmina de água capilar como
contribuição do lençol freático. Quando o conteúdo de
água na zona radicular excede sua capacidade de
retenção, o excesso de água é extraído por percolação
profunda. Parte da lâmina de precipitação e de irrigação,
dependendo do método empregado, pode ser perdida
quando interceptada pelas plantas.
Figura 1. Esquema do uso de drenos verticais no solo
452 Lourival F. Cavalcante et al.
O balanço de água na zona radicular de um solo pode
ser obtido pela soma algébrica dos diferentes fluxos de
entrada e saída de água no perfil do solo, em dado
período de tempo, de acordo com a Eq. (1):
em que:
LEa - Fluxo de entrada de água, mm
LSa - Fluxo de saída de água, mm
Lap - Lâmina de precipitação, subtraída do
escoamento superficial, mm
Lai - Lâmina de irrigação, mm
Lag - Lâmina de água capilar como contribuição
do lençol freático, mm
Laet - Lâmina de evapotranspiração, mm
Lad - Lâmina de percolação profunda, mm
DLA - Variação da lâmina de água armazenada
na zona radicular, mm.
O balanço de água no solo pode ser anual, sazonal ou
diário; no balanço anual, quase não há variação da
lâmina de água armazenada na zona radicular. Em áreas
irrigadas, onde a precipitação é de pequena intensidade,
a lâmina de escoamento superficial é considerada
desprezível (Les = 0). A lâmina capilar de contribuição
do lençol freático é igual a zero quando em solos
argilosos o lençol estiver a mais de 7 m de profundidade
e, para solos arenosos, a mais de 3 m de profundidade.
Exercício 1
No intervalo de 30 dias, uma área deve ser irrigada
com uma lâmina de 210 mm (Lai) até uma faixa de 50
cm, adotando uma fração de lixiviação (FL) de 15%. No
mesmo período, foram registradas pluviosidades (Lap)
de 32 mm e o lençol freático contribuiu por ascensão
capilar (Lag), com 13,4 mm para a camada onde se
situam as raízes das plantas. A evapotranspiração da
cultura (Laet) foi de 178,5 mm e a lâmina de água
drenada (Lad) 31,5 mm. Nesta situação, se verifica que
a lâmina de água a ser aplicadas por irrigação com base
na Eq. (1) é de 164,6 mm. O fluxo de entrada de água
é: LEa = Lap + Lai + Lag = 32 + 164,6 + 13,4 mm = 210
mm e o fluxo de saída: LSa = Laet + Lad = 178,5 + 31,5
mm = 210 mm, resultando em balanço nulo de água:
DLA = LEa – LSa = 210 – 210 mm = 0.
Em termos de manejo, pelo menos duas situações
devem ser consideradas nessa área: a) ausência de
pluviosidade e da lâmina de água por ascensão capilar; b)
mesmo admitindo uma fração de lixiviação de 15% a
lâmina de drenagem ou percolação profunda foi reduzida
de 31,5 para 25,1mm. Neste caso, a lâmina de irrigação
a ser aplicada aumenta de 164,6 para 210 mm, mas a
redução da lâmina de água percolada ou drenada de 31,5
para 25,1 mm resulta num balanço de água positivo, isto
é, DLA > 0, com valor de 6,4 mm. Esta situação expressa
que foram adicionados mais sais ao solo do que lixiviados
e ao longo do período de uso da área, caso não se faça
uma drenagem,o solo tenderia a se tornar salino.
O balanço de sais no solo deve ser deduzido do
balanço da água, multiplicando-se cada componente por
sua respectiva concentração salina, assumindo que a
única fonte de sais seja a lâmina de água aplicada no
solo durante o evento de irrigação. Devido os sais serem
altamente solúveis e não se precipitam e que são
desprezíveis as adições de sais pelas águas de chuvas e
fertilizantes como, também, as extrações pelas culturas;
o balanço de sais na zona radicular pode ser expresso
pela Eq. (2):
em que:
Csai - Concentração de sais na água de irrigação,
g L-1
Csag - Concentração de sais na água capilar, g L-1
Csad - Concentração de sais na água percolada,
g L-1
DS - Variação do conteúdo de sais na zona
radicular, g m-2
A diferença líquida entre o fluxo de entrada e de
saída equivale às mudanças resultantes da salinidade da
água ao solo. Para valores de DZ > 0 ocorre acúmulo de
sais, dando origem à salinização secundária do solo,
porém quando DZ < 0, indica remoção ou lixiviação de
sais da zona radicular (Pizarro, 1978; Tanji, 1990).
O valor da concentração de sais da Eq. 2 pode ser
substituído pela condutividade elétrica, pois o mesmo
apresenta relação linear com a concentração de sais em
soluções relativamente diluídas, além de se constituir
numa variável fácil de ser medida.
Exercício 2
No primeiro caso do exercício 1 o balanço de água
na área foi nulo. Entretanto, isso não significa que o
balanço de sais também seja nulo, isto é, a quantidade
de sais adicionada à área pela pluviosidade, irrigação e
por capilaridade (ascensão capilar) seja igual a retirada
pelas plantas e lixiviada com a drenagem ou percolação.
Na grande maioria dos casos, a salinização ocorre
porque a extração pelas plantas e por percolação é
inferior ao adicionado pela água de irrigação e a
fertilização do solo com insumos químicos.
(1)
(2)
453Recuperação de solos afetados por sais
Os valores de condutividade elétrica medidos na água
de irrigação (CEai), de precipitação (CEap), da água
capilar (CEag) e percolada ou drenada (CEad) foram
respectivamente: 1,2; 0,009; 0,9 e 6,7 dS m-1. Estes
dados devem ser multiplicados pelo fator 0,64 para o
cálculo da concentração de sais (Pizarro, 1978) e cada
lâmina de água deve ser multiplicada por 10 para
transformação de mm em L m-2. Desta forma, o balanço
de sais usando a expressão (2) do primeiro caso do
exercício 1 é:
S = (Lai Csai + Lap x Csap + Lag Csag) - (Lad x
Csad)
S = (164,6 x 10 x 0,77 + 13,4 x 10 x 0,58 + 32 x
10 x 0,006) - (31,5 x 10 x 4,28)
S = 1347 - 1347 = 0
No segundo caso, do exercício 1, sem a participação
da precipitação e da ascensão capilar a condutividade
elétrica da água drenada foi 8 dS m-1, a capacidade de
drenagem do solo foi reduzida para 25,1mm, a lâmina de
água de irrigação foi aumentada de 164,6 mm para 210
mm. Pelos resultados a adição de sais à área foi superior
à lixiviada.
S = (Lai x Csai) - (Lad x Csad)
S = 1.617 – 1.285 = 332 g m2, equivalente 3.320 kg
ha-1
Sob condições de equilíbrio (S = 0) e assumindo
que não há variação do conteúdo de sais na zona
radicular, ou seja, os sais incorporados pela lâmina de
irrigação são lixiviados em sua totalidade pela
drenagem, o balanço dos sais na zona radicular se reduz
a:
ou
em que a condutividade elétrica da água de irrigação e
da água drenada (CE) substitui a concentração de sais.
Exercício 3
Adotando as condições de equilíbrio de balanço de
sais no solo (S = 0), uma cultura que exige uma lâmina
de evapotranspiração de 60 mm e tolera uma CEad de
até 6 dS m-1, deve ser irrigada durante 10 dias em quatro
propriedades que apresentam o mesmo tipo de solo e
águas de 0,6; 0,9; 1,2 e 1,5 dS m-1. Qual a lâmina de
água a ser aplicada em cada propriedade? Inicialmente
deve ser calculada a necessidade de lixiviação (NL) para
o solo de cada propriedade através da Eq. 3. Em
seguida, admitir que a Lai = Lad + Laet e substituir em
Lad/Lai obtendo Lai = Laet/1-NL e a eficiência de
lavagem pela relação Laet/Lai, como apresentado na
Tabela 1.
Verifica-se na Tabela 1 que para um mesmo tipo de
solo a necessidade de lavagem, a lâmina de água a ser
aplicada e a lâmina de água que deve ser drenada no
período aumentam, e a eficiência de lavagem é
comprometida com o aumento do teor salino (CEai) da
água de irrigação.
Salienta-se que CEad não significa CEes, pois a água
de drenagem nem sempre é proveniente de solo saturado
mas, na maioria das vezes, a água é removida do solo,
em teores de umidade inferiores à saturação e próximo
à capacidade de campo. Neste caso, a CEad é superior
a CEes se o solo for de textura média, a relação Cead
CEes será igual a 2, se o valor da umidade do solo
estiver ao nível capacidade de campo e será a metade
(0,5) se o solo atingir o nível de saturação, como
apresentado em Ayers & Westcot (1999).
Nas áreas intensamente cultivadas pode ocorrer
adensamento e a relação CEai/CEes pode ser alterada
devido a redução na macroporosidade do solo. Este
fenômeno se reflete na diminuição da capacidade de
drenagem resultando em maior acumulo de sais no solo.
Uma das técnicas capaz de manter o nível de sais no solo
tolerável pelas plantas pode ser obtida pela fração de
lixiviação, a partir da Eq. 4:
LEs = Fluxo de entrada de sais; LSs = Fluxo de saída de sais; DS = Balanço de sais
Tabela 1. Valores da necessidade de lavagem (NL), lâmina de água de irrigação (Lai), lâmina de água de drenagem (Lad) e
eficiência de lavagem (EL) em função da salinidade da água de irrigação (CEai) e da água de drenagem (CEal) do solo
(3)
(4)
454 Lourival F. Cavalcante et al.
em que:
FL - Fração de lixiviação.
Exercício 4
A concentração salina da água que percola abaixo do
ambiente radicular das plantas, expressa pela
condutividade elétrica da água de drenagem (CEad), deve
ser calculada em função da concentração da água de
irrigação (CEai), adotando uma fração de lixiviação (FL)
ou necessidade de lavagem (NL) de 0,15 (Ayres &
Westcot, 1999). Esta situação convenciona que 85% da
água fornecida referem-se à evapotranspiração da cultura.
Ao empregar a Eq. (4) contata-se que a
concentração de sais da água que ultrapassa a área
radicular das plantas (CEad) irrigada com cada tipo de
água do exercício 3 é 4, 6, 8 e 10 dS m-1,
respectivamente, e a lamina de evapotranspiração das
plantas (Laet) corresponde a 51 mm. Entretanto, as
planas não absorvem igualmente a água contida em toda
a faixa onde se situam as raízes. A proporção absorvida
em relação à evapotranspiração diminui com o aumento
da profundidade do sistema radicular.
Para se estimar aCEad a partir da CEai e FL, deve-
se considerar que a planta não absorve água
uniformemente, de toda a zona radicular. Ayers &
Westcot (1999) consideram que a planta absorve do solo,
para suas necessidades hídricas, um padrão de extração
de 40, 30, 20 e 10% da água consumida pelas culturas,
respectivamente, da quarta parte superior à inferior da
zona radicular. Portanto, a estimativa da condutividade
elétrica média da água de drenagem (CEad) da zona
radicular deverá ser ponderada de acordo com a
proporção de água retida em cada respectiva faixa da
zona radicular. A Tabela 2 apresenta o fator de
concentração de sais no solo (CEes/CEai) com base nas
considerações do padrão de extração normal, aliado à
relação CEes = 2 x CEad.
Exercício 5
Uma cultura deve ser irrigada com água de 1,2 dS m-1,
em que o padrão de extração (ETC = Laet) está indicado
na Figura 2. A evapotranspiração de 1.200 mm conforme
o modelo padrão indica que 40% da água são extraídos
pelas raízes do primeiro quarto superior, 30% do
segundo, 20% do terceiro e 10% pelas raízes do último
quarto inferior. A fração de lixiviação (FL) adotada deve
ser 0,15. Isto indica que 15% da água de irrigação
percolam abaixo da zona radicular e que os restantes
85% são absorvidos pelas plantas.
Tabela 2. Fatores de concentração (Fc) para se estimar a
salinidade do extrato de saturação do solo (CEes) a partir
da salinidade da água (CEai) e da fração de lixiviação
(FL) (Ayers & Westcot, 1999)Figura 2. Esquema representativo da absorção de água ao
longo do sistema radicular das plantas
Esse modelo ou procedimento considera que o
consumo da água pelas plantas aumenta a concentração
de sais da água de drenagem, ao longo das faixas, onde
se localizam as raízes como apresentado na Figura 2. O
modelo também considera que a salinidade deve ser
avaliada da seguinte forma:
a) na superfície do solo - CEadZr0 (Z0); b) final do
primeiro quarto superior - CEadZr1 (Z1); c) final do
segundo quarto - CEadZr2 (Z2); d) final do terceiro
quarto - CEadZr3 (Z3); e) final do quarto inferior -
CEadZr4 (Z4).
Esse tipo de prática obedece às seguintes etapas:
1) Cálculo da lâmina de irrigação (Lai) de modo a
atender a evapotranspiração (ETC = Laet) da cultura
para uma fração de lixiviação (FL = NL) de 0,15.
455Recuperação de solos afetados por sais
2) Toda a água aplicada atravessa a superfície do solo
(Z0) e lixivia os sais acumulados. Nessa faixa, a
salinidade da água drenada (CEad) corresponde a
salinidade da água de irrigação (CEai). Pela expressão:
CEaiZr0 = CEadZ0 = CEai = 1,2 dS m-1. Em que:
CEaiZr0 = salinidade da água de irrigação na superfície
do solo; CEadZr0 = salinidade da água que atravessa a
superfície do solo.
3) A concentração salina da água que drena do solo
(CEad) de cada quarta parte do ambiente das raízes para a
quarta parte seguinte deve ser calculada pela Eq. (4):
Ao adotar os critérios admitidos pelo modelo padrão
de extração de água pelas plantas os valores da CEad no
final de cada faixa (quarta parte) da Figura 2 é:
a) Primeiro quarto superior,
FL1 = (1.411 - 0,4 x 1.200) / 1.411 = 931/1.411 = 0,66
b) Segundo quarto,
FL2 = (931 - 0,3 x 1.200)/1411 = 573/1.411 = 0,40
c) Terceiro quarto,
FL3 = (573 - 0,2 x 1200)/1.411 = 333/1.411 = 0,24
d) Último quarto ou fim da zona radicular,
FL4 = (333 - 0,1 x 1.200)/1.411 = 213/1.411 = 0,15
A salinidade média da água contida ou que atravessa
toda a zona radicular (CEadZr) é obtida pela média
aritmética dos cinco valores referentes a CEadZr0,
CEadZr1, CEadZr2, CEadZr3 e CEadZr4. Correspondente
a:
Este valor expressa que a salinidade da água do solo
contida no ambiente radicular corresponde a 3,2 vezes
a salinidade da água de irrigação, como comentado por
Ayers & Westcot (1999).
Necessidade de lavagem
A necessidade de lavagem (NL) refere-se a fração de
água aplicada além da irrigação que deve atravessar a
zona radicular para manter os sais a um nível tolerado
pelas culturas. A quantidade extra de água que percola
abaixo da zona radicular remove parte dos sais
acumulados no ambiente das raízes.
Salienta-se que a quantidade de água necessária para
prevenir a salinização dos solos irrigados correspondente
a lavagem de manutenção é diferente da quantidade
necessária para a recuperação de solos salinos, expressa
pela lavagem de recuperação.
Lavagem de manutenção
Para se estimar a necessidade de lavagem de
manutenção de um solo irrigado, necessita-se conhecer
tanto a salinidade da água de irrigação como a salinidade
tolerada pela cultura. A salinidade da água de irrigação
pode ser medida diretamente, em termos de
condutividade elétrica (CEa). A salinidade tolerada pela
cultura é a salinidade média da água contida na zona
radicular, representada pela salinidade do extrato de
saturação resultante (CEes) e pode ser estimada
utilizando-se dados da literatura, com base na Tabela 2.
Desta forma, para culturas específicas a aproximação
mais exata da necessidade de lixiviação de manutenção
(NL) pode ser obtida utilizando-se a seguinte equação
(Rhoades, 1974; Rhoades & Merril, 1976; Ayers &
Westcot, 1999):
em que:
NL - Necessidade de lixiviação mínima que se
necessita para controlar os sais dentro do limite de
tolerância da cultura.
(5)
456 Lourival F. Cavalcante et al.
CEai - Salinidade da água de irrigação, dS m-1
CEes - Salinidade média do extrato de saturação
do solo, que representa a salinidade tolerada por
determinada cultura, dS m-1
Considerando-se que toda a água aplicada durante o
evento de irrigação se infiltra uniformemente no solo e
que não existem perdas por escoamento superficial, a
lâmina anual de irrigação que se deve aplicar para
satisfazer tanto a demanda da cultura como a
necessidade de lavagem de manutenção, pode ser
estimada pela equação abaixo:
em que:
Lai - Lâmina anual de irrigação, mm ano-1
ETc - Laet - Evapotranspiração da cultura, mm ano-1
NL - Necessidade de lixiviação ou fração de
lixiviação.
Lavagem de recuperação
Na prática, não é possível se estimar, com exatidão, a
lâmina de lavagem de recuperação necessária, pois ela é
influenciada por diversos fatores que ocorrem
simultaneamente, como o fluxo de água, a presença de
fendas no solo, diferenças na solubilidade dos sais,
restrições na difusão dos sais e a dispersão hidrodinâmica.
Neste caso, nem toda a água aplicada contribui, no
processo de dessalinização, para a lavagem dos sais.
Muitas vezes, parte da lâmina de lavagem passa
diretamente através das fendas e macroporos do solo e
sai da zona radicular com a mesma concentração salina
inicial, enquanto outra parte se mistura com a solução do
solo e sai da zona radicular com uma concentração salina
que depende da proporção da mistura, realizando a
lavagem dos sais. Enfim, a eficiência da lavagem varia
com os diferentes métodos utilizados na aplicação da
lâmina de lavagem.
Antes de se iniciar a lavagem, deve-se nivelar e
gradear o terreno e, em seguida, adicionar uma lâmina
de água adequada após a construção dos diques. Não
havendo possibilidade de se nivelar o terreno,
recomenda-se a construção dos diques que separam as
parcelas em curvas de nível.
A medida que a lâmina de águas se infiltra, lâminas
adicionais poderão ser aplicadas até completar a lâmina
total preestabelecida. Se a drenagem do solo não for
adequada, a lavagem poderá agravar ainda mais o
problema, com a saturação do solo e a formação do
lençol freático próximo à superfície; portanto, antes de se
iniciar o processo de lavagem deve-se avaliar a
drenabilidade da área e, caso seja necessário, instalar um
sistema de drenagem.
Existem diversos modelos matemáticos para simular
o movimento e as reações de sais no solo, durante a
lixiviação, mas nenhum deles disponível é capaz de
superar adequadamente as grandes variações que
ocorrem com o fluxo de água em condições de campo.
Por isto, esses modelos teóricos não são quase utilizados
e, normalmente, as estimativas da necessidade de
lavagem de recuperação de solos salinos se baseiam
principalmente em experiências de campo in loco. Desta
forma, antes de se proceder à lavagem de recuperação,
deve-se realizar um pré-teste em condições de campo,
para verificar a capacidade de infiltração e drenagem
para avaliar a eficiência de lavagem, determinando a
lâmina de água ideal e o tempo necessário de
recuperação. O pré-teste mostra as dificuldades reais a
serem encontradas no processo de recuperação em larga
escala e deve ser realizado em áreas representativas de
solos e grau de salinização, pois qualquer pré-teste na
área mais afetada irá recuperar em grau, pelo menos
igual ou maior que nas áreas menos afetadas.
MÉTODOS DE LAVAGEM
Lavagem por inundação contínua
O método de aplicação de água e a textura do solo
são as principais variáveis que define o volume ou lâmina
de água requerida para lixiviar os sais. Dependendo da
textura do solo, pode-se ter diferentes graus de
recuperação para uma mesma lâmina aplicada.
O método de lavagem por inundação contínua possui
vantagens e desvantagens em relação aos outros métodos
de lavagem, assim relacionadas:
Vantagens:
a) Lixivia os sais das camadas mais profundidades;
b) É adequado para o solo com lençol freático
elevado e salino, devido a lâmina para lavagem por
inundação contínua impedir o fluxo capilar para a
superfície, reduzindo a acumulação de sais.
Desvantagens:
a) O tempo de recuperação é maior que em qualquer
outro método de recuperação;
b) Uma elevada proporção de água de lixiviação se
desloca rapidamente pelos poros maiores necessitando,desta forma, de um volume maior de água para deslocar
uma unidade de sais, ocorrendo grande desperdício de
água e, em áreas com drenagem deficiente, poderá
causar elevação do lençol freático e possível acumulação
de sais (Pizarro, 1978).
(6)
457Recuperação de solos afetados por sais
c) Exige nivelamento do terreno, em curvas de nível
e a água deve ser aplicada em parcelas;
d) A eficiência de lavagem depende da textura do
solo.
Para a lixiviação por inundação contínua, pode-se
considerar que 70 a 80% dos sais solúveis inicialmente
contidos no solo, poderão ser lavados com lâmina igual
à profundidade do solo a ser recuperado; por exemplo,
uma lâmina de 1,0 m ou 1000 mm é suficiente para
lixiviar 70 a 80% dos sais contidos na profundidade de
um metro de solo.
Entre as equações empíricas utilizadas para se
estimar a lâmina de lixiviação necessária para recuperar
um solo salino, pode citar-se a equação desenvolvida por
Hoffman (1986):
em que:
C - Concentração de sais que se deseja obter no solo
após a lixiviação, dS m-1
Co- Concentração de sais originalmente presentes no
solo, dS m-1
Lar - Lâmina de necessária água para lixiviação
ou recuperação de um solo salino, m
Ls - Profundidade do solo a ser recuperado, m
K’ - Constante que varia com a textura do solo, e o
método de aplicação da lâmina de água.
Quando o valor da CEai utilizada na recuperação for
elevado deve-se subtraí-lo tanto da concentração de sais
original (Co) como da concentração desejada (C). Nesta
equação o valor de Lai não inclui as perdas por
evaporação e deve ser corrigido quando a evaporação é
maior que 10% da lâmina de água que infiltra (0,1 x Lai).
Desse modo, na lavagem dos sais por inundação
contínua, que depende da textura do solo, os valores de
K’ encontrados para solos turfosos, franco-argilosos e
franco-arenosos, foram de 0,45; 0,3 e 0,1
respectivamente, conforme ilustrado na Figura 2.
Observa-se que solos de textura franco-arenosos têm
maior eficiência de lixiviação que os solos de textura fina.
Tal fato se deve ao menor conteúdo de água nos solos
franco-arenosa e, também, por possuírem poros de
diâmetros mais uniformes que os solos argilosos e
franco-argilosos.
A menor eficiência na lixiviação dos sais nos solos de
textura fina é causada pela maior microporosidade que
limita a dinâmica de água, presença de fendas com poros
grandes entre agregados e fendas na superfície, que se
formam quando há perdas de água na evaporação ou
drenagem e pelos poros finos dos agregados, quando
úmidos.
Figura 3. Lâmina de lixiviação por unidade de profundidade
do solo, necessária para recuperar um solo salino por
inundação contínua (Hoffman, 1980)
Exercício 6
Atualmente os problemas de salinidade também são
frequentes em áreas sob cultivo protegido de hortaliças,
flores e produção de mudas. Blanco (1999), Medeiros et
al. (2002), Souza et al. (2003) e Silva et al. (2004) após
avaliarem a salinidade do solo, em função de fontes e
doses de fertilizantes nitrogenados, potássios e
concluíram a necessidade de lavagem dos respectivos
solos, ao final de cada cultivo.
Blanco & Folegatti (2001) realizaram a lavagem
contínua de um Nitossolo (Palendalt Oxico) salinizado
durante o cultivo com pimentão. O solo foi lavado com
água de boa qualidade (CEai = 0,22 dS m-1) usando as
lâminas (L): 2/3L, 1L e 3/2L, para lixiviação dos sais e
os métodos de aplicação de água foram por gotejamento
e inundação.
Pelos resultados, conforme a Figura 4 se constata que
o aumento da lâmina relativa de lavagem promoveu
maior extração de sais; entretanto, o método por
gotejamento foi mais eficiente na recuperação do solo do
que por inundação. Este comportamento pode variar
entre solos de textura diferentes, adensamento natural e
tipo de cultura explorada.
Nos cultivos em ambientes protegidos em que as
águas em geral, são de boa qualidade, o aumento da
salinidade do solo está diretamente associado ao índice
salino e as doses dos fertilizantes aplicados diretamente
no solo ou por fertirrigação. Esta limitação tem sido mais
severa na produção contínua da olericultura, floricultura
e formação de mudas pela elevada exigência de
(7)
Sa
is
 n
o 
so
lo
 e
m
 r
el
aç
ão
 à
co
nc
en
tr
aç
ão
 i
ni
ci
al
, 
C
/C
o
Lâmina de lixiviação por unidade
de profundidade do solo, Lar/Ls
458 Lourival F. Cavalcante et al.
nutrientes como nitrogênio, potássio, cálcio, magnésio
(Blanco, 1999; Folegatti, 2001; Medeiros et al., 2002).
Exercício 7
O monitoramento da salinidade do solo provocada
por fontes e doses de nitrogênio durante a formação
de mudas de maracujazeiro amarelo, sem aplicação de
lâmina de lixiviação evidencia, como indicado na
Figura 5, que dentre as fontes, o sulfato de amônio foi
a que mais elevou o caráter salino do solo, seguido do
nitrato de cálcio e uréia respectivamente. A excessiva
elevação da condutividade elétrica do solo de valores
abaixo de 4 para até próximo de 14 dS m-1 revela a
necessidade de lavagem do solo até mesmo para doses
menores fornecidas juntamente com a água de
irrigação. Outra inconveniência observada por Sousa
et al. (2003) é que, dentre as fontes de nitrogênio, o
sulfato de amônio foi a que mais acidificou o
substrato.
Lavagem por inundação intermitente
O método de lavagem por inundação intermitente ou
intercalada consiste em aplicações de lâminas de água
por ciclo em intervalos de inundação semanais ou
mensais. Neste método de lavagem, a relação entre a
lâmina de água e a profundidade de solo lixiviado é
também de 1:1, porém a quantidade de sais lavados varia
entre 80 e 90% dos sais inicialmente contidos no solo.
Esse método de lavagem também possui vantagens e
desvantagens em relação aos outros métodos, assim
relacionados:
Dentre as vantagens se destacam:
a) Possui maior eficiente que a lavagem contínua,
porque necessita de menor lâmina de água para
lixiviação dos sais. Em solo de textura fina, para
remover 70% dos sais solúveis à lâmina de água
necessária para inundação intermitente gira em torno de
um terço da requerida por inundação contínua;
b) Não é necessário fazer o nivelamento do solo;
c) No fluxo não saturado da lixiviação intermitente,
o teor de água é baixo e o seu deslocamento é lento,
permitindo maior difusão de sais do solo;
d) A recuperação é mais rápida;
As principais desvantagens são:
a) Não lava os sais das camadas mais profundidades,
acima de 1 m;
b) Não pode ser aplicado quando o lençol estiver
próximo à superfície e a água freática for salina.
Na lavagem por inundação intermitente, a constante
K’ da Eq. 7 assume um valor constante de 0,1,
independente da textura do solo, conforme ilustrado na
Figura 5.
Figura 4. Valores da salinidade do solo (CEes) antes (A) e
depois (D) da aplicação de lâminas de lixiviação por go-
tejamento (G) e inundação (I) utilizando diferentes lâmi-
nas de lavagem
Figura 5. Valores da condutividade elétrica do extrato de
saturação do solo fertirrigado com distintas fontes e
doses de nitrogênio
Figura 6. Lâmina de lixiviação por unidade de profundidade
de solo, necessária para recuperar um solo salino por
inundação intermitente (Hoffman, 1980)
C
Ee
s (
dS
 m
-1
)
Lâmina relativa de lavagem
y=-0,2887+1,8777 R2=0,93
y=-0,7048+2,1281 R2=0,97
C
Ee
s (
dS
 m
-1
)
Doses nitrogênio (gL-1)
Sa
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in
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ia
l, 
C
/C
o
Lâmina de lixiviação por unidade
de profundidade do solo, La/Ls
459Recuperação de solos afetados por sais
Lavagem superficial
A lavagem superficial poderá ser utilizada para
eliminação de crostas salinas da superfície do solo. Uma
grande lâmina de água é aplicada rapidamente e,
enquanto a água se move, a mesma arrasta a crosta com
os sais dissolvidos, desaguando-as no dreno coletor,
localizado no outro lado da parcela.
O método de lavagem superficial possui algumas
vantagens e desvantagens em relação aos outros
métodos.
Vantagens:
a) Usado para solos de baixa permeabilidade;
b) Não é necessário nivelar nem gradear o solo antes
da lavagem;
c) Elimina crostas salinas dasuperfície do solo.
Desvantagens:
a) Não poderá ser usado em solos de boa
permeabilidade nem em terrenos nivelados.
RECUPERAÇÃO DOS SOLOS SÓDICOS
E SALINO-SÓDICOS
Solos com excesso de sódio trocável podem ser
recuperados com o uso de corretivos que forneçam
cálcio seguido de lavagem com a própria água utilizada
para irrigação. A adição de corretivos aos solos afetados
por sódio promove a substituição e a remoção do sódio
trocável por outros cátions, preferencialmente cálcio, mas
em menor proporção pode ocorrer a substituição do sódio
por hidrogênio. A correção do solo pode ser feita de
várias maneiras, dependendo da fonte de cálcio
disponível, do tipo de cultura que deverá ser implantada
na área e da intensidade do nível de degradação do solo.
Nos solos comprometidos pela sodicidade, a lavagem
isolada ao invés de corrigir, muitas vezes, eleva ainda
mais o caráter sódico. Essa prática nesse tipo de solo,
lixívia os sais solúveis, mas não desloca o sódio adsorvido
ao complexo de troca para ser lixiviados com a lavagem
e a drenagem, como indicado na Tabela 3.
originariamente possui baixo teor de sais solúveis
(menor CEes) e em geral, maiores conteúdos de sódio
trocável a lavagem promove a lixiviação destes
respectivos sais sem deslocar ou transferir o sódio
adsorvido às micelas para a solução do solo e ser
lixiviado com a lavagem.
Com a lixiviação do material solúvel a proporção do
sódio trocável adsorvido ao solo passa a predominar
ainda mais, resultando em maior dispersão das argilas,
diminuindo as propriedades físicas como infiltração,
permeabilidade, drenagem e macroporosidade que são
essenciais à dinâmica da água, ar, nutrientes e ao
crescimento vegetativo das plantas (Gobran et al., 1982;
Hussain et al., 2001).
Tipos de corretivos usados na recuperação de solos
afetados por sódio
Os corretivos químicos usados na recuperação de
solos afetados por sódio trocável têm o objetivo de
fornecer cátions bivalentes, usualmente o cálcio, para
eliminar parte do sódio adsorvido no complexo de
troca, isto é, diminuir a percentagem de sódio trocável
(PST).
O tipo e a quantidade de corretivo químico necessário
para recuperar um solo comprometido por sódio
dependem das características próprias do solo, da
disponibilidade no mercado e custo de recuperação.
Dentre essas características, salienta-se a adequabilidade
do corretivo, que se baseia na presença ou ausência de
carbonatos alcalinos terrosos e pH do solo. Com base
nesses critérios, pode-se classificar o solo em três
grupos: a) solos que contêm carbonatos alcalinos
terrosos; b) solos praticamente livres de carbonatos
alcalinos terrosos e pH maior que 7,5 e c) solos
praticamente livres de carbonatos alcalinos terrosos e pH
menor que 7,5.
Os diferentes corretivos químicos utilizados na
recuperação dos solos afetados por excesso de sódio
trocável têm sido agrupados em três tipos: a) sais
solúveis de cálcio (gesso e cloreto de cálcio); b) ácidos
ou formadores de ácido (ácido sulfúrico, enxofre, sulfeto
ferroso e sulfato de ferro e alumínio) e c) sais de cálcio
de baixa solubilidade (calcário e resíduo de engenho de
cana-de-açúcar).
Gesso: O gesso (CaSO4 2H2O) apesar da sua baixa
solubilidade em água, é o corretivo mais utilizado como
fonte de cálcio para substituir o sódio trocável, em razão
do baixo preço, disponibilidade no mercado e fácil
manuseio; além disso, ele funciona como fonte de
enxofre e cálcio para as plantas. A reação abaixo
descreve a substituição do sódio trocável no solo:
Tabela 3. Valores da condutividade elétrica do extrato de
saturação - CEes, antes e depois da lavagem de dois
solos degradados por sódio sem utilização de corretivos
químicos.
Extraído de Cavalcante (2000); PSL = Percentual de sais lixiviados
Exercício 8
No solo salino-sódico por possuir mais sais solúveis
(maior CEes) o percentual de lixiviação de sais sempre
é superior ao do solo sódico. Neste último, que
460 Lourival F. Cavalcante et al.
A reação é reversível, por isso torna-se necessário
aplicar-se uma lâmina de lavagem para lixiviar o sulfato
de sódio, que é produto final da reação, para que a
recuperação paulatinamente ocorra e seja satisfatória.
Para isso, uma rede de drenagem se constitui em prática
obrigatória para lixiviação dos sais e do excesso de água.
Tal reação é mais fortemente limitada pela reduzida
solubilidade do gesso, que na temperatura de 25 ºC é
aproximadamente igual a 2,1 g L-1.
Exercício 9
Pelos resultados a lavagem nos tratamentos sem
drenagem, independentemente da dose do gesso
aplicada, compromete ainda mais o nível salino (CEes)
e sódico (PST) em relação ao solo antes da aplicação do
corretivo químico. Nestas situações, ocorre a
solubilização do gesso através das irrigações, mas sem
a lavagem seguida de drenagem os sais solubilizados que
não são lixiviados voltam a ser adsorvidos pelo
complexo argílico do solo. Ao considerar que a reação
do cálcio pelo sódio é reversível, o sódio volta a
dispersar as argilas, depauperado ainda mais as
propriedades físicas do solo.
Verifica-se também que apesar da lavagem reduzir a
CEes de 23,4 para 15,5 dS m-1 o nível de sodicidade ao
invés de diminuir foi incrementado de 18,8 para 20,2%.
No solo com drenagem, o aumento da dose de gesso
de 25 para 50% da necessidade do solo (NG) com
apenas uma lavagem, aos 30 dias após a incorporação do
corretivo, não foi suficiente para reduzir a salinidade
(CEes) e a sodicidade (PST) para valores abaixo de 4
dS m-1 e de 15% respectivamente.
No solo com 25 e 50% de gesso sob condições de
drenagem a condutividade elétrica foi reduzida de 23,4
para 13,6 e 8,5 dS m-1, a percentagem de sódio trocável
de 18,8 para 17,5 e 16,2% respectivamente. Os
decréscimos apesar de promissores, com diminuições de
41,8 e 63,6% na salinidade e de 6,9 e 13,8% na
sodicidade, expressam que o solo ainda permanece como
salino-sódico. Estes resultados indicam também que a
recuperação física do solo degradado por sódio (PST) é
mais lenta do que a recuperação química (CEes).
Exercício 10
A matéria orgânica oriunda do esterco bovino,
associada à drenagem também exerce eficiência na
recuperação de solos afetados pela sodicidade. Um solo
salino-sódico de Sumé - PB, abandonado há mais de 10
anos pelo excesso de sais solúveis (CEes = 13,4 dS m-1)
e sódio trocável (PST = 18,4%), um ano após ser tratado
com esterco bovino e drenagem subterrânea produziu
tomate em nível econômico.
Extraído e adaptado de Agra & Cavalcante (1992); NG = Necessidade de Gesso do solo; SD = Solo sem drenagem; CD = Solo com drenagem
Tabela 4. Dados do extrato de saturação antes e depois da incorporação de doses de gesso em um solo salino-sódico
sem e com drenagem
Tabela 5. Produtividade de tomate Santa Clara em um solo
salino-sódico submetido à drenagem e esterco bovino.
Extraído e adaptado de Araújo (1990); SD = Sem drenagem; CD = Com drenagem; A0 = Sem
NPK; A1 = com NPK; M0 = sem matéria orgânica: M1 = 7 t ha-1; M2 = 14 t ha-1 de esterco
de curral
Uma avaliação nas linhas indica a expressiva
superioridade dos efeitos da drenagem no solo sem
matéria orgânica e nas colunas a importância da
fertilização do solo com NPK (A1), no incremento da
produtividade.
O monitoramento do nível salino e da sodicidade de
um solo na maioria dos casos é feito pela avaliação
simultânea da condutividade elétrica do extrato de
saturação (CEes) e da percentagem de sódio trocável -
PST (Richards, 1974; Pizarro, 1978; Tanji, 1990; Santos
& Ferreyra, 1997; Ruiz et al., 2004; Freire & Freire,
2007). Além destas variáveis, também devem ser
monitoradas o aumento da capacidade de drenagem pela
condutividade hidráulica, aumento da porosidade total e
461Recuperação de solos afetados por sais
diminuição da microporosidade do solo (Cavalcante &
Silveira, 1985; Silveira, 1997).
Um solo salino-sódico foi incorporado com gesso e
acondicionado em colunas de PVC de 75 mm de
diâmetro e 50 cm de altura. Aos 70 dias de incubação,
o solo apresentava os resultados químicos e físicos
indicados na Tabela 6.
A eficiência de aplicação do gessodepende da
granulometria de suas partículas sendo que, de acordo
com Abrol (1982) conseguem-se resultados promissores
com partículas de gesso menores que 2 mm de diâmetro,
devido aumentar a sua dissolução e reduzir a
precipitação do cálcio.
O gesso pode ser aplicado diretamente no solo
incorporando na superfície ou adicionando a água de
irrigação. No primeiro caso, adotam-se dois
procedimentos: o corretivo é distribuído a lanço e
incorporado através de gradagem até a profundidade que
se deseja recuperar, ou pode também ser fornecida
diretamente na superfície do solo; em ambas as
situações, recomenda-se a lavagem após a adição do
corretivo para promover a distribuição mais homogênea
no perfil. No segundo caso, o gesso é misturado com a
água de irrigação (Silveira, 2000).
Exercício 11
Os valores antes e aos 70 dias depois da incorporação
do corretivo químico, evidenciam reduções expressivas
de natureza química pela diminuição da salinidade
(CEes), da sodicidade (PST) e de natureza física pelo
aumento da macroporosidade, condutividade hidráulica,
redução do espaço microporoso e melhoria da
estruturação do solo (Oster & Frenkel, 1980; Gheyi et
al., 1997; Barros et al., 2006).
Os dados expressam a ação positiva do gesso quando
associado à drenagem na recuperação de solos
degradados pela sodicidade, ao nível de proporcionar
condições para a germinação das sementes e crescimento
das plantas. O aumento da macroporosidade propiciou
maior dinâmica de água e lixiviação mais rápida do sódio
transferido dos locais de troca para a solução do solo e
para ser lixiviado juntamente com outros cátions
dissolvidos com as lavagens subsequentes.
Quanto ao gesso aplicado na superfície do solo os
resultados da literatura são conflitantes. Khosla & Abrol
(1972) e De Jong (1982) constataram maior eficiência
quando aplicado na superfície em relação ao incorporado
ao solo. Para Barros et al. (2004), apesar da eficiência
do gesso em reduzir a condutividade elétrica e a relação
de adsorção de sódio, em solos salino-sódicos de
distintas classes texturais, não obtiveram diferenças
entre o gesso na superfície e incorporado. Por outro lado,
Gobran et al. (1982) e Cavalcante & Silveira (1985)
obtiveram maiores reduções das variáveis químicas e
físicas para o gesso incorporado ao solo.
Para maior eficiência na substituição do sódio
trocável, é conveniente lavar quase todos os sais solúveis
antes de se aplicar os corretivos, para que uma proporção
maior de cálcio contido no corretivo seja adsorvida pelo
complexo; no entanto, a lavagem dos sais solúveis em
excesso poderá causar a dispersão das partículas de
argila, diminuindo a permeabilidade do solo; por isto, as
lavagens prévias não devem ser aplicadas para solos
pouco permeáveis.
Exercício 12
Após avaliar a efetividade agronômica do gesso na
recuperação de solos salino-sódicos e sódicos indicada
na Tabela 7, Magalhães (1995), concluiu que o aumento
das doses de gesso na superfície de dois solos
comprometidos por sódio, do estado de Pernambuco,
reduziu expressivamente a sodicidade. A redução da PST
em função do gesso aplicado em relação aos valores
iniciais dos respectivos solos aumentou de 62,8 para
83,9% no perímetro irrigado de Ibimirim e de 30,9 a
75,7% em Custódia respectivamente. Em ambos os
solos, a PST foi reduzida para níveis abaixo de 10% e,
portanto, com condições de cultivo em ambos os solos.
Extraído e adaptado de Morais (1990); A = Antes da aplicação do gesso; M = Macroporosidade; m = Microporosidade; M e m = Respectivamente incrementos da macro e microporosida-
de; Ks = Condutividade hidráulica do solo saturado
Tabela 6. Condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), percentagem de sódio trocável (PST), macro, micro-
porosidade e condutividade hidráulica do solo saturado, após incorporação do gesso.
462 Lourival F. Cavalcante et al.
Quanto ao gesso fornecido juntamente com a água de
irrigação, em geral, as dosagens aplicadas são menores
do que quando incorporadas ou aplicadas na superfície
do solo. Este modo de aplicação apesar de fornecer o
gesso com boa parte já solubilizada e proporcionar
distribuição mais homogênea na profundidade requerida,
não tem sido recomendado para sistema de irrigação
pressurizado de alta frequência como microaspersores,
gotejamento e outros afins.
A baixa solubilidade do corretivo químico em doses
comparadas às aplicadas diretamente no solo pode
promover a obstrução dos emissores e comprometer todo
o sistema de irrigação. Por isso, juntamente com a água
o gesso é mais frequentemente fornecido na irrigação
por inundação ou infiltração em sulco.
Exercício 13
Amostras de solos com CEes entre 1,15 e 8,76 d Sm-1
e PST de 4,62 a 33,77%, foram avaliadas em tubos de
PVC de 4,7 cm de diâmetro interno com 20 e 50 cm de
altura, dreno na base final inferior para drenagem e
lixiviação dos sais. Durante 10 dias as colunas de solo
foram mantidas sob regime de saturação com água
sintética (NaHCO3, Na2SO4, NaCl, KCl, MgCl2 e
CaCl2) de condutividade elétrica 1,01 d Sm-1 sem e com
saturação de gesso, ao nível de 2,5 g L-1. A cada 24
horas eram avaliados, do volume lixiviado, as variáveis
contidas na Tabela 8.
A lavagem do solo com qualquer tipo de água reduziu
significativamente a condutividade elétrica, a
percentagem de sódio trocável e aumentou a dinâmica da
água em relação ao solo antes da aplicação dos
tratamentos. Observa-se também que a superioridade foi
mais expressiva nas amostras tratadas com água
sintética mais gesso. Estas melhorias nos aspectos
químicos e físicos constatados também por Shainberg et
al. (1988) evidenciam efeitos positivos do cálcio, oriundo
gesso ou de outro composto químico que o contenha, na
redução da salnidade, sodicidade, concentração de sódio
trocável e aumento da capacidade de drenagem expressa
pela condutividade hidráulica do solo.
Cloreto de cálcio: A alta solubilidade do cloreto de
cálcio (CaCl2 2H2O) aproximadamente igual a 427 g L-1
à 20 oC, torna o um corretivo químico mais eficiente e
rápido que o gesso na recuperação de solos afetados por
sódio, porém seu emprego é limitado, por ser
rapidamente lixiviado do perfil do solo e, principalmente,
por seu elevado custo. A substituição do sódio trocável
no solo, quando se aplica o cloreto de cálcio, é descrita
pela seguinte reação:
     NaCl2CaMicelaCaClMicela 2NaNa 
A aplicação do cloreto de cálcio pode ser direta sobre
o terreno ou via água de irrigação.
Tabela 7. Valores referentes à percentagem de sódio
trocável inicial (PSTi), percentagem de sódio trocável
final (PSTf) e redução da percentagem de sódio
trocável (PST) em função do gesso aplicado na
superfície de dois solos degradados por sais.
Extraído e adaptado de Magalhães (1995); PSTi e PSTf = Respectivamente percentagem de
sódio trocável dos solos antes e depois da aplicação superficial do gesso
Extraído de Silveira (2000); Z= Tamanho da amostra
Tabela 8. Valores médios da condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), percentagem de sódio trocável (PST),
teores trocáveis de cálcio e sódio, condutividade hidráulica do solo saturado (Ks) e condutividade elétrica do lixiviado
(CEl)
PSTi PSTf PST 
 
Perímetro de 
Irrigação/Local 
Gesso 
Aplicado 
cmolc kg-1 % 
 
Ibimirin-01, PE 
5,9 
11,8 
17,7 
50,3 
18,7 
13,0 
8,1 
62,8 
74,2 
83,9 
 
Custódia-07, PE 
3,5 
7,0 
10,5 
 
35,9 
24,8 
16,9 
8,7 
30,9 
52,9 
75,7 
 
463Recuperação de solos afetados por sais
Enxofre
O enxofre é um corretivo químico bastante utilizado,
tendo em vista seu baixo custo. Antes de agir como
corretivo, o enxofre elementar passa por uma fase de
oxidação microbiana para produzir o H2SO4. Este
processo de oxidação do enxofre no solo é resultante da
ação de bactérias do gênero Thiobacillus, tal como
descritas pelas reações seguintes:
 
   
    424NaNa
42
H
H
Na
Na42
4223
32
SONaCaMicelaCaSOMicela
SONaMicelaMicelaSOH
SOHOHSO
)microbiana (oxidação SO2IrrigaçãoO3S2




O tempo de oxidação microbiana depende do grau de
finura ou granulometriado enxofre, da mistura com o
solo e dos fatores que favorecem a atividade bacteriana,
como umidade, temperatura e população microbiana no
solo, entre outros. A bactéria do gênero Thiobacillus é do
tipo aeróbica, por isso, torna-se indispensável promover
a aeração, mantendo o solo com umidade na capacidade
de campo, durante a oxidação para acelerar ou pelo
menos manter a atividade microbiana. Pelo exposto, os
solos tratados com enxofre não deverão ser inundados
antes do tempo de oxidação microbiana, que varia em
média de 20 a 30 dias.
Por ser o enxofre um corretivo que aumenta a acidez
do solo, sua aplicação deverá se limitar aos solos que
contenham carbonatos alcalinos terrosos. Neste caso, o
uso de enxofre tem a vantagem adicional de reduzir o pH,
aumentando a disponibilidade de nutrientes para as plantas,
como Zn, Mn e Fe, mas, nos demais casos, sua aplicação
reduz o pH, tornando o solo excessivamente ácido; para
evitar esse perigo, deve-se aplicar, a uma amostra de solo,
uma quantidade de H2SO4 equivalente à dosagem de
enxofre e verificar se o pH depois que ocorrer a reação
não foi reduzido para valores abaixo de 6,0.
Ácido sulfúrico: Além dos corretivos químicos como
cloreto de cálcio, gesso, formadores de ácidos com
sulfato de alumínio e sulfato de ferro, o ácido sulfúrico
também pode ser empregado na correção dos solos
comprometidos pela sodicidade. Resultados de Yahia et
al. (1975), Gheyi et al. (1995), Niazi et al. (2001), Sadiq
et al. (2003), Leite (2005) e Sadiq et al. (2007) revelaram
eficiência da aplicação do acido sulfúrico em solos
degradados por sódio trocável.
O ácido sulfúrico é um corretivo químico de ação
muito rápida. Na presença de carbonatos, sobretudo em
solos com calcário dolomítico, o ácido sulfúrico forma
gesso, como explicita a reação abaixo:
 
    424NaNa
224342
SONaCaMicelaCaSOMicela
OHCOCaSOCaCOSOH


A reação do ácido sulfúrico com o calcário produz o
gesso. A dissolução do gesso fornece cálcio para a troca
com o sódio, que substituirá o sódio adsorvido ao solo
através da reação de simples troca. Nos solos sem os
carbonatos alcalinos terrosos esse corretivo causa
excessiva acidez, o que justifica seu emprego nos solos
ricos em carbonatos alcalinos terrosos.
Exercício 14
Após fornecer ácido sulfúrico aos níveis de 0; 1,8; 3,6;
5,4 e 7,2 g kg-1, em dois solos salino-sódicos dos
perímetros irrigados de Condado, PB, com CEes (8,4 dS
m-1), PST (47,3%) e pH = 9,1 e de São Gonçalo, Sousa,
PB, com CEes (17,1 dS m-1), PST (52,9%), pH 8,1 e
proceder a lavagem com água não salina (CE = 0,5 dS
m-1) a cada 30 dias, ao final de quatro lavagens, Leite
(2005) constatou eficiência do ácido sulfúrico na
correção dos respectivos solos, como mostrado na
Figura 7.
Com a lavagem e a aplicação do ácido sulfúrico a
condutividade elétrica do extrato de saturação – CEes foi
reduzida no solo de Condado de 8,4 e de 17,1 dS m-1 em
São Gonçalo, para valores menores de 2 dS m-1 em
ambos os solos (Figura 7A). Nas mesmas condições a
percentagem de sódio trocável foi diminuída de 47,3 para
menos de 7% em Condado e de 52,9 para menos de 8%
em São Gonçalo (Figura 7B) e o pH de 9,1 para 6,0 e de
8,1 para abaixo de seis nos solos de Condado e São
Gonçalo respectivamente (Figura 7C).
Calcário dolomítico: O calcário (CaCO3) é um
corretivo de adequada disponibilidade no mercado e
muito barato, principalmente quando se aproveitam os
carbonatos existentes no próprio solo. A sequência de
reações que ocorrem quando o calcário é aplicado em
solos afetados por sódio, envolve as seguintes etapas:
ou
    
    OHCOCaMicelaCaCOMicela
NaOH2MicelaOH 2Micela
223
H
H
H
H2
Na
Na


464 Lourival F. Cavalcante et al.
Os efeitos do calcário na correção dos solos afetados
por sódio são inferiores aos do gesso, devido à sua baixa
solubilidade, que é de contra 2,1 g L-1. O uso do calcário
é indicado em solos de pH inferior a 7,5 e que não
possuem carbonatos alcalinos terrosos, em especial para
solos degradados, por sódio trocável.
Para melhorar a eficiência do CaCO3 como corretivo,
o método mais prático é fazer sua aplicação, juntamente
com adubos orgânicos seguido de aração ou gradagem
para ativar o processo de decomposição microbiana da
matéria orgânica.
Matéria orgânica: A matéria orgânica mesmo não
sendo considerado corretivo químico, exerce efeitos
positivos na melhoria química e física dos solos afetados
por sais (Gheyi et al., 1995; Neves, 1997; Cavalcante
et al., 2002). Apesar de seus baixos valores
quantitativos, principalmente em cálcio, promove a
liberação de CO2, produz ácidos orgânicos e estimula a
oxidação biológica e a atividade microbiana (Grupta et
al., 1984; Leite, 1990; Silva, 1997). Essa situação
resulta na diminuição da CEes, PST e aumenta a
dinâmica da água no solo.
Exercício 15
A adição de matéria orgânica oriunda do esterco de
curral a um solo salino-sódico contribuiu para redução
do caráter salinidade (CEes) e sodicidade (PST).
Verifica-se que apesar da redução crescente da PST,
numericamente a diminuição dos efeitos deletérios da
sodicidade é mais lenta do que o da salinidade. Dentre
as doses aplicadas a maior redução da condutividade
elétrica correspondeu a 10 t ha-1; a partir desse valor
houve uma maior dissolução de sais resultando em
maiores valores de condutividade elétrica do extrato de
saturação do solo Tabela 9.
O aumento da CEes com o aumento das doses da
matéria orgânica não se constitui em desvantagem
porque observam-se diminuições da PST, com a redução
dos riscos de sodicidade; nessas situações em geral, há
aumento da porosidade total, da capacidade de drenagem
expressa pelo aumento da condutividade hidráulica do
solo saturado como indicado na Tabela 10.
Exercício 16
O teor de matéria orgânica do solo salino-sódico foi
elevado para 1,68 e 2,52% com esterco de curral.
Durante 10 dias o solo foi irrigado mantendo-se a
umidade ao nível da capacidade de campo. Após esse
A
B
C
Figura 7. Valores de condutividade elétrica do extrato de
saturação (CEes) – A, percentagem de sódio trocável
(PST) – B e de pH – C de dois solos salino-sódicos
tratados com ácido sulfúrico: solo de Condado (——)
e de São Gonçalo (___)
Extraído e adaptado de Neves (1997); PST = Percentagem de sódio trocável; SS = Solo salino-sódico; S = Solo salino; Valor entre parêntese corresponde à redução percentual em relação ao
valor original (A)
Tabela 9. Valores da condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) e da percentagem de sódio trocável (PST)
em resposta à aplicação de matéria orgânica
C
Ee
s 
(d
S 
m
-1
)
PS
T 
(%
)
p
H
Ácido sulfúrico (g kg-1)
465Recuperação de solos afetados por sais
período efetuou-se uma lavagem com água não salina
adotando uma fração de lixiviação de 0,15 e foram
avaliadas a condutividade elétrica dos lixiviados (CEl) e
a condutividade hidráulica do solo saturado.
Imediatamente após a lavagem do solo, sementes de
feijão guandu (Cajanus cajan L.) e de Mucuna preta
(Stylozobium atterrinum Pit. Et. Tmacc) foram semeadas
e 60 dias após foi realizada outra lavagem e obtidos os
valores da condutividade elétrica das suspensões
drenadas e a condutividade hidráulica do solo saturado.
A adição de matéria orgânica e a lavagem
promoveram a lixiviação dos sais e aumento da
hidrodinâmica do solo. Do ponto de vista químico a
condutividade elétrica foi expressivamente reduzida e
fisicamente à matéria orgânica elevou consideravelmente
a velocidade da água no perfil de lenta, variando de 1,27
a 5,08 mm h-1 para lenta a moderada que se situa entre
5,08 a 20,32 mm h-1 no período de 60 dias após a
incorporação do esterco de bovino. Apesar da marcante
redução dos índices da salinidade e do aumento da
dinâmica da água no solo não foram detectadas
diferenças estatísticas entre as doses do esterco bovino
sobre a melhoria química e física do solo e nem sobre a
germinação das sementes, matéria seca total e das raízes
de ambos os tipos de plantas (Cavalcante et al., 2002).
Resultados da literatura indicam que a vinhaça
também exerce açãopositiva na correção de solos
afetados por sódio trocável (Ruiz et al., 1997). Em geral,
tem se verificado diminuição da elevada força de
retenção de água, da condutividade elétrica do extrato de
saturação no caso dos solos salino-sódicos e aumento da
condutividade hidráulica do solo saturado, da
macroporosidade e da porosidade total em solos salino-
sódicos e sódicos.
Exercício 17
Após avaliar os efeitos da vinhaça e lixo urbano
sobre a retenção de água em um solo salino – sódico,
Santos (2002), verificou que a ordem de retenção de
água nos diferentes tratamentos foi: solo com vinhaça <
solo com gesso + lixo urbano < solo sem nenhum dos
insumos (Figura 8).
Pela referida figura, se verifica que no solo com
vinhaça a disponibilidade de água às plantas supera a do
solo com gesso + lixo urbano e do solo sem nenhum tipo
de acondicionador. A superioridade na armazenagem de
água do solo com vinhaça é atribuída à ação da matéria
orgânica coloidal nela contida, que aumenta o estado de
agregação e aeração do solo, resultando em aumento do
espaço macroporoso como indicado na Figura 9.
Exercício 18
Um solo salino-sódico de condutividade elétrica do
extrato de saturação 42,5 dS m-1, percentagem de sódio
Tabela 10. Valores de condutividade elétrica dos lixiviados (CEl) e condutividade hidráulica (Ks) de um solo salino-sódico
cultivado com plantas leguminosas antes e depois da aplicação de matéria orgânica
Extraído e adaptado de Cavalcante et al. (2002); * antes da semeadura
Figura 8. Curva de retenção de água de um solo salino-
sódico sem corretivo químico (—), com aplicação de
vinhaça (———), com gesso e lixo urbano (—’”’”—).
Extraído de Santos (2002)
Figura 9. Valores médios de macroporos do solo, em função
das doses de vinhaça aplicadas. Extraído de Silva (2004)
U
m
id
ad
e 
(g
 k
g-
1 )
Potencial matricial (MPa)
M
ac
ro
po
ro
s 
(%
)
Doses de vinhaça (%)
466 Lourival F. Cavalcante et al.
trocável 52,1%, pH 10,6, condutividade hidráulica do
saturado 0,8 mm h1 foi tratado com as doses de gesso 0,
25, 50, 75 e 100% e incubado com água e vinhaça
(Tabela 11). Durante 330 dias o solo foi irrigado com
água destilada, mantendo-se a umidade próxima à
capacidade de campo. Duas lavagens foram feitas uma
aos 210 e outra aos 330 dias; os valores de
condutividade elétrica, pH, sódio, total de sais lixiviados
e a condutividade elétrica do solo saturado referentes à
segunda lavagem estão contidos na Tabela 11.
Ao considerar a situação inicial do solo se constata
expressiva redução da condutividade elétrica, do total de
sais e de sódio lixiviados.
Os maiores valores de pH, os mais baixos de
condutividade elétrica, de sódio, do total de sais
lixiviados e os menores da condutividade hidráulica
expressam como discutidos por Richards (1974), Pizarro
(1978), Tanji (1990), Santos (2002) que a lavagem
isolada de solos comprometidos por sódio agrava ainda
mais o caráter sodicidade. Esta situação ocorre porque
a lavagem sem aplicação de um corretivo lixivia os sais
solúveis, mas não desloca o sódio dos sítios de troca para
a solução para ser lixiviado com a lavagem seguinte do
solo.
No que se refere ao gesso o aumento das doses,
apesar das marcantes reduções, em relação ao solo antes
da aplicação dos tratamentos, não interferiu na
condutividade elétrica, pH e teor de sódio nos lixiviados.
Verifica-se também que a utilização de doses acima de
75% da exigência de gesso do solo não resultou em
superioridade estatística no total de sais lixiviados e na
condutividade hidráulica do solo.
Comparativamente a vinhaça superou o gesso tanto
em proporcionar maior lixiviação de sódio, de sais
lixiviados bem como proporcionar maior nível de
melhoria física para a drenagem, pelo aumento da
condutividade hidráulica e redução do pH. A
superioridade da condutividade elétrica comparada ao
gesso evidencia maior ação da vinhaça na capacidade de
extração de sais de solos degradados por sódio.
Exercício 19
Um solo salino-sódico do Perímetro irrigado de Sumé
com CEes variando 3,9 a 11 dS m-1, PST = 26,6 a 36,9%
e pH = 8 a 9,1, na camada de 0-160 cm, foi tratado com
1,2 t ha-1 de ácido sulfúrico, 16 t ha-1 de esterco de curral
e 30 t ha-1 de gesso. Em seguida foi submetido ao cultivo
de quatro cultivares de arroz (Oryza sativa) seguido de
Capim cameron (Pennisetum purpureum).
No período de 1983 a 1987, foi verificado que apesar
das acentuadas reduções da condutividade elétrica do
extrato de saturação (CEes) e a percentagem de sódio
trocável (PST) entre todos os métodos de recuperação,
inclusive a testemunha, a maior eficiência numérica
sobre estas variáveis foi constatada nos tratamentos com
gesso. Os valores da CEes aos sete meses após o cultivo
do arroz já apresentava valores entre 1,6 e 3,2 dS m-1,
mas a percentagem de sódio trocável, exceto no solo
com gesso, ainda se apresentava elevada, variando de
20,5 a 31,6%, principalmente na camada de 30-60 cm.
No final do experimento, constatou-se os mais baixos
valores da CEes, variando de 0,2 a 1,4 dS m-1 na faixa
de 0-60 cm, com maiores reduções em relação à
condição inicial do solo, na profundidade de 0-30 cm.
Registrou-se também declínio acentuado da PST
inclusive na testemunha, principalmente na faixa de solo
entre 0-30 cm. Para Gheyi et al (1995), a redução da PST
mesmo no tratamento controle (testemunha), pode ser
resposta da melhoria da permeabilidade do solo, em
função do cultivo da área associada a decomposição da
matéria orgânica constituída pelas raízes.
Finalmente, os distintos métodos de recuperação de
solo salino-sódico não revelaram efeitos significativos
entre si sobre as produções médias de arroz e capim
Cameron. Entretanto, verifica-se na Tabela 12 tendências
de superioridade do gesso de ácido sulfúrico para o
arroz, esterco de curral e gesso sobre o rendimento do
capim Camerom.
Um solo salino-sódico do Perímetro Irrigado de São
Gonçalo, Sousa, PB, foi submetido às aplicações de 20
t ha-1 de gesso, 15 t ha-1 de casca de arroz, 40 m3 ha-1 de
Tabela 11. Valores da condutividade elétrica, pH, sódio, total de sais lixiviados e condutividade hidráulica de um solo
salino-sódico saturado
Extraído e adaptado de Silveira (1997); CEl e TSL = Respectivamente condutividade elétrica e total de sais medidos no lixiviado; Ks = Condutividade elétrica do solo saturado. Médias segui-
das de mesmas letras nas colunas não diferem entre si por Tukey para p < 0,05
467Recuperação de solos afetados por sais
vinhaça, 40 t ha-1 de esterco de curral e um tratamento
controle ou testemunha, isto é, solo tratado apenas com
água. O solo foi lixiviado continuamente durante 40 dias
mantendo uma lâmina de 8 cm de carga hidráulica nas
parcelas e em seguida foi cultivado com arroz e
avaliadas as variáveis indicadas na Tabela 13.
Exercício 20
No período de 1996 a 1997, Gomes et al. (2000)
verificaram que dentre os métodos de recuperação o
gesso foi o que mais reduziu a percentagem de sódio
trocável e a vinhaça foi a que mais contribuiu para a
diminuição da condutividade elétrica do extrato de
saturação do solo. No tocante as variáveis relativas à
cultura, exceção feita ao número de panícula, massa da
panícula e produtividade do arroz, todos os métodos de
recuperação superaram a testemunha nas demais
variáveis avaliadas. Especificamente no rendimento da
cultura, a ordem crescente da produtividade foi: Esterco
de curral (8,81 t ha-1) > Gesso (6,78 t ha-1) > Casca de
arroz (6,28 t ha-1) > Vinhaça (5,66 t ha-1) > Testemunha
(3,38 t ha-1).
A ordem das sequências crescentes dos efeitos dos
distintos condicionadores do solo, como indicado na
Tabela 14, evidencia a superioridade do esterco de curral
em todas as variáveis estudadas. Indica também que das
oito variáveis a sequência esterco de curral > gesso foi
registrada em sete, inclusive na produtividade. Pelos
resultados a correção de solos com o uso de
condicionadores orgânicos apresenta viabilidade como
observado também por Gheyi et al. (1995), Neves
(1997), Ruiz et al. (1997), Cavalcante et al. (2002).
Tabela 12. Produção de quatro cultivaresde arroz e massa fresca de capim-camerom referente a oito cortes em um
solo salino-sódico do perímetro irrigado de Sumé, PB, submetido aos distintos métodos de recuperação
Extraído e adaptado de Gheyi et al. (1995); 1-BR IRRGA 409; 2= POKALI; 3=IR 2058; 4=IR2053. Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas não diferem
pelo teste de Tukey para p < 0,05
Extraído e adaptado de Gomes et al. (2000); T=testemunha; Valores seguidos de mesmas letras minúsculas nas linhas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey para p < 0,05; Números
entre parêntese expressa a superioridade percentual em relação à testemunha
Tabela 13. Valores médios e incrementos, em relação à testemunha do comprimento (CP) e número de panícula (NP),
número de ramificações (NR) e massa de panícula (MP), número de grãos (NG), e densidade da panícula (DP), massa
de 100 grãos (MG) e rendimento de arroz sob inundação de um solo salino-sódico do perímetro irrigado de São
Gonçalo, Souza, PB, submetido a diferentes métodos de recuperação
Tabela 14. Ordem de sequência dos diferentes métodos de
recuperação de um solo salino-sódico do Perímetro
Irrigado de São Gonçalo, Sousa, Paraíba
EC = Esterco de curral; G = Gesso; CA = Casca de arroz; V = Vinhaça; T = Testemunha
Resíduos industriais: Alguns subprodutos de indústria
poderão atuar como corretivos, em virtude de serem
acidificadores e possuírem cálcio. Dentre esses
subprodutos, o mais utilizado é o resíduo dos engenhos de
468 Lourival F. Cavalcante et al.
cana-de-açúcar. A vinhaça tendo um pH baixo, alto teor
de matéria orgânica e potássio também pode ser
empregada como corretivo para solos afetados por sódio
trocável com ou sem carbonato alcalinos terrosos tanto
para melhoria química como das propriedades físicas
(Almeida, 1994; Ruiz et al., 1997; Santos, 2002; Silva,
2004).
Calculo da necessidade de corretivos e
recomendações práticas
Na literatura há diversos procedimentos metodológicos
para se quantificar a dosagem de corretivo químico a ser
aplicado num solo salino-sódico ou sódico. Dentre os
métodos três podem ser empregados: a) Richards (1974);
b) Awad & Abbott (1976); c) Pizarro (1978). Ao
considerar os aspectos econômicos e disponibilidade no
mercado, o gesso tem sido o corretivo mais empregado,
apesar de não ser o mais eficiente na redução da
sodicidade dos solos.
Baseado na concentração de sódio trocável, densidade
do solo, profundidade de aplicação e peso equivalente
Richards (1974) sugere a quantificação da dosagem de
gesso exigida pelo solo com base na Tabela 15.
em que:
NG - Necessidade de gesso (kg ha-1);
Ds - Densidade do solo (g cm-3);
h - Profundidade do solo a ser recuperada;
PEq - Peso equivalente do gesso = 86;
Na+x - Teor de sódio trocável do solo (cmolc kg-1).
Para Pizarro (1978) a estimativa da dosagem de gesso
a ser utilizado durante a correção da sodicidade de um
solo depende da percentagem inicial de sódio trocável
(PSTi), da capacidade de troca de cátions (CTC), da
densidade do solo (Ds), da percentagem final de sódio
trocável desejada que o solo atinja (PST f), da
profundidade do solo a ser recuperada (h) e do peso
equivalente do corretivo químico.
A dose teórica de gesso necessária para recuperação
do solo para ser obtida pela Eq. (9):
em que:
Dt - Dose teórica do corretivo, kg ha-1;
(PSTi – PSTf) - Diferença entre a porcentagem de
sódio inicial e final, desejada, isto é, a PST que se deseja
que o solo atinja em %. Em geral esse valor é de 10%;
PEq - Peso equivalente do elemento ou composto
usado como corretivo (Tabela 16);
h - Profundidade do solo a ser recuperado, cm;
Ds - Densidade do solo, g cm-3.
Tabela 15. Dosagem de gesso calculada em função do teor
de sódio trocável para corrigir o solo até a profundidade
15 ou 30 cm
Os cálculos referentes às dosagens para recuperação
do solo às profundidades de 0-15 e de 0-30 cm foram
feitos para solos com densidade 1,4 kg dm-3. Isto requer
correções em função desse valor para solos com
densidades diferentes.
Awad & Abbott (1976) admitem que teores de sódio
abaixo de 0,5 cmolc kg-1 não oferecem riscos de
sodicidade; para eles a necessidades de gesso (NG) pode
ser obtida pela Eq. (8).
Tabela 16. Peso equivalente de diferentes corretivos
utilizados na recuperação dos solos afetados por sódio
Em todos os casos as doses de corretivo foram
obtidas considerando-se o aproveitamento total do cálcio
adicionado e o corretivo com 100% de pureza. Por isso,
(Pizarro, 1978) a dose prática do corretivo pode ser
estimada mediante a equação:
(8)
(9)
(10)
469Recuperação de solos afetados por sais
em que:
Dp- Dose prática, kg ha-1
C - Coeficiente de correção (indicado na Tabela 17),
adimensional.
Ao considerar, em função da baixa solubilidade do
gesso (2,1 g L-1), que a dose máxima recomendada para
aplicação seja de 10 t ha-1 no primeiro ano (Rhoades &
Loveday, 1990), se constata que ambos os solos,
independentemente da forma de calcular (Tabela 19)
exigem elevadas quantidades de gesso. Nestas
condições, o mais viável é efetuar os cálculos para
correção da sodicidade até a camada de 15 cm e nos 2
ou 3 seguintes fazem-se aplicação de 4 t ha -1 com
lixiviações até a profundidade de 30 cm para que haja
distribuição do cálcio solubilizado para substituição do
sódio no complexo de troca.
Tabela 17. Valores dos coeficientes de correção (C)
recomendados para diferentes corretivos químicos
(Pizarro, 1978)
A dose prática de corretivo pode ser determinada em
laboratório, agitando-se um peso conhecido de solo com
solução saturada do gesso de concentração conhecida e
se comparando o teor remanescente de Ca + Mg no
extrato, determinado pelo método de titulação.
Na prática, a quantidade de corretivo é determinada
pela experiência local e por condições financeiras,
sobretudo quando o gesso é o corretivo usado e as
aplicações são frequentemente efetuadas num
determinado número de anos. A prática mais comum
para se recuperar um solo sódico com gesso é se aplicar
no máximo 10 t ha-1 no primeiro ano e se usar uma
lâmina de água de 150 cm, para lixiviar. Se nos 2 a 3
anos subsequente fazem-se aplicações adicionais de 4 t
ha-1, com algumas lixiviações até que a profundidade do
solo desejada esteja eventualmente recuperada (Rhoades
& Loveday, 1990).
Um aspecto importante que deve ser considerado
durante o planejamento para recuperação de áreas
afetadas por sais, é a escolha de uma espécie tolerante
à salinidade ou a sodicidade, conforme o caráter salino
ou sódico da área para ser cultivada. Neste caso, o arroz
é a espécie mais recomendada durante a recuperação
desses solos, em razão da grande tolerância à sodicidade
e a possibilidade de ser cultivado em condições de
inundação.
Exercício 21
 Dois solos salino-sódicos, um do Perímetro Irrigado
Engenheiro Arco Verde, Condado, PB e outro do
Perímetro Irrigado de São Gonçalo, Sousa, PB, com os
atributos químicos e físicos contidos na Tabela 18
exigem dosagens distintas de gesso para redução da
sodicidade.
Tabela 18. Atributos químicos e físicos dos solos empregados
no cálculo da necessidade de gesso para correção da
sodicidade de dois solos irrigados
*=Extraído Leite et al. (2007); **=Extraído de Pereira et al. (1982); Na+x = Sódio trocável;
CTC = Capacidade de troca catiônica; h = profundidade do solo que se deseja recuperar;
Ds = Densidade do solo
Tabela 19. Dosagens de gesso obtidas por diferentes
autores, para os solos do Perímetro Irrigado Engenheiro
Arco Verde, Condado, PB e Perímetro Irrigado de São
Gonçalo, Sousa, PB, até a profundidade de 30 cm
*Considerando a percentagem de sódio trocável final (PSTf) de 10%
Dentre as metodologias a que mais superestima a
quantificação da necessidade de gesso para correção da
sodicidade dos solos é a de Richards (1974). O
procedimento sugerido por Pizarro (1978), para qualquer
dos solos é o que apresenta maior viabilidade em relação
aos demais. Neste sentido, deve-se considerar ainda que
foram adicionados à dose teórica 25% para obtenção da
dose prática ou técnica. Caso a adição não fosse

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