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RENATO PEDROSO DOS SANTOS A IMPORTÂNCIA DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO EM MONTAGENS DE EVENTOS DE GRANDE PORTE. São Paulo 2015 RENATO PEDROSO DOS SANTOS A IMPORTÂNCIA DA ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO EM MONTAGENS DE EVENTOS DE GRANDE PORTE Monografia apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Especialista de Engenharia de Segurança do Trabalho. São Paulo 2015 Santos, Renato Pedroso dos A importância da engenharia de segurança do trabalho em montagens de eventos de grande porte / R.P. dos Santos. – São Paulo, 2014 83 p. Monografia (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Programa de Educação Continuada em Engenharia. 1.Segurança do trabalho 2.Eventos I. Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Programa de Educação Continuada em Engenharia II.t. Dedico este trabalho a DEUS, fonte de sabedoria e inteligência, e à minha família, fonte de persistência, dedicação, força de vontade e amor. Para Andressa Yida Gonçalves, pessoa com a qual pretendo formar uma nova família, e que vejo como símbolo de persistência e modelo de mulher batalhadora. AGRADECIMENTOS Ao Eng.º Marcelo Gandra Falcone, diretor de SEL/SEGUR-3, pela constante paciência e estímulo transmitido durante todo o trabalho. Aos amigos e colegas de trabalho da SEGUR (Antigo CONTRU), nos quais inspiraram me a realizar essa especialização. A todos que colaboraram direta ou indiretamente na realização deste trabalho. “A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê”. (Arthur Schopenhauer). RESUMO O que se desejou demonstrar nesse trabalho foi a importância que se faz a Engenharia de Segurança do Trabalho no processo de montagem de eventos de grande porte. Pretendeu-se informar os principais desafios que os profissionais da área de segurança do trabalho encontram ao realizar vistorias técnicas e procedimentos de vigilância nos locais de montagens de grandes estruturas provisórias para a realização de eventos temporários, sendo eles esportivos, culturais ou de cunho financeiro. O presente trabalho aponta as principais falhas encontradas pelos profissionais da área de segurança, sendo elas na maneira que os trabalhadores se comportam no ambiente do trabalho, bem como da dificuldade de implantar técnicas que permitam a preservação do bem estar físico e social destes respectivos trabalhadores no ambiente em que se situam. Essa tese apresenta sugestões de ações que podem ser introduzidas para evitar acidentes e danos, concebendo um ambiente de trabalho seguro e saudável. Palavras-chave: Segurança do Trabalho. Eventos. Montagem de estruturas temporárias. Trabalho em Altura. Equipamento de Proteção Individual. ABSTRACT What if desired demonstrate in this work was the importance that makes the Occupational Safety Engineering at large events assembly process. It was intended to inform the main challenges that professional's work safety area are to carry out technical inspections and surveillance procedures in local assemblies of large temporary structures for holding temporary events, namely sports, cultural or financial nature. This paper outlines the main faults found by security professionals, which were in the way workers behave in the workplace, as well as the difficulty of implementing techniques that allow the preservation of the physical and social well being of these workers in their environment in which they are located. This thesis presents suggestions of actions that can be introduced to prevent accidents and damage, designing a safe and healthy work environment. Keywords: Work Safety. Events. Installation of temporary structures. Working at Height. Personal Protective Equipment. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Jogos Olímpicos de 1986 – Atenas (GRE) ..................................................... 18 Figura 2. Quantidade de eventos no Brasil por região em 2013 .............................................. 19 Figura 3. Quantidade de público em eventos por região em 2013 ............................................ 19 Figura 4. Mapa Mental de Acidentes do Trabalho ....................................................... 25 Figura 5. Os cinco fatores na sequência de acidentes – Teoria dos Dominós ........................................... 26 Figura 6. Exemplo de ato inseguro ............................................................................ 27 Figura 7. Exemplo de ato inseguro ............................................................................ 27 Figura 8. Modelo de Treinamento para Segurança do Trabalho ................................................. 28 Figura 9. Modelo de Treinamento para Segurança do Trabalho ................................................. 28 Figura 10. Acidente do trabalho em montagens no Estádio de Itaquera ..................................... 30 Figura 11. Bienal do Livro de São Paulo (2014) .......................................................... 34 Figura 12. Congresso de Medicina ............................................................................ 35 Figura 13. Organograma de SEGUR ......................................................................... 36 Figura 14. Vista Aérea do Autódromo de Interlagos .................................................... 39 Figura 15. Palco para shows no evento Live Music Rocks ..................................... 41 Figura 16. Queima de fogos na Avenida Paulista para Reveillon de 2014 .............................................. 42 Figura 17. Trabalhadores em serviços de limpeza .................................................... 44 Figura 18. Trabalhadores com calçado inaquedado ................................................. 45 Figura 19. Trabalhadores de cenografia .................................................................... 46 Figura 20. Uso de grampeador de tapeceiro em trabalho de cenografia ......................................... 47 Figura 21. Dedos lesionados de trabalhadores ......................................................... 47 Figura 22. Trabalhador de marcenaria desprovido de EPI’s para a tarefa ...................................... 48 Figura 23. Transporte irregular de pessoas em veículos de carga ............................................ 50 Figura 24. Carregamento de gradis e pessoas em veículo de carga ........................................ 50 Figura 25. Trabalhador em montagem de Instalações Elétricas .............................................. 51 Figura 26. Trabalhador em montagem de estrutura sem proteção de EPI ................................................... 53 Figura 27. Cinto de segurança para trabalho em altura ............................................ 54 Figura 28. Modelo de cinto de segurança para trabalho em altura ............................................ 54 Figura 29. Trabalhador sobre treliça sem uso de trava queda ................................... 55 Figura 30. Trabalhador sobre estrutura sem uso de trava queda ................................................ 55 Figura 31. Modelo de linha devida flexível com trava quedas..................................... 56 Figura 32. Trabalhador em altura fazendo uso correto de EPI .............................................. 56 Figura 33. Trabalhador sobre estruturas visualizando trabalho em altura .............................................. 57 Figura 34. Trabalhadores utilizando cordas para trabalho em altura ......................................... 57 Figura 35. Dupla proteção em trabalho com corda ................................................... 58 Figura 36. Trabalhador sobre estruturas de coberturas de tendas ............................................... 59 Figura 37. Trabalho em altura em cobertura de tenda .............................................. 59 Figura 38. Exemplo de trabalho em cobertura com uso de cabo guia ........................................... 60 Figura 39. Trabalhador sobre escada ...................................................................... 61 Figura 40. Modelo de talabarte usado em trabalho em altura ................................... 62 Figura 41. Trabalhador utilizando carros com rodas para alcançar a tarefa a ser realizada ........................................... 62 Figura 42. Trabalhador auxilia na montagem de tenda, sem uso de EPI ..................................... 63 Figura 43. Sinalização de proibição ......................................................................... 65 Figura 44. Sinalização de uso obrigatório de EPI ...................................................... 65 Figura 45. Sinalização de área de montagem ............................................................ 65 Figura 46. Sinalização de advertência ...................................................................... 66 Figura 47. Sinalização para equipamento de proteção contra incêndio .................................... 66 Figura 48. Trabalhador em posição desconfortável em sua tarefa .............................................. 67 Figura 49. Postura Incorreta de trabalho .................................................................... 68 Figura 50. Posição correta de trabalho junto ao chão .............................................. 68 Figura 51. Cenografia em ambientes com tecido tensionado ................................... 69 Figura 52. Triangulo de Fogo ................................................................................... 70 Figura 53. Tetraedro de Fogo .................................................................................... 70 Figura 54. Brigadista e equipamento de combate a incêndio próximo a gerador de energia ..................................... 71 Figura 55. Brigadista e equipamento de combate a incêndio em local de montagem .................................... 71 Figura 56. Sinalização para rota de fuga e saída de emergência ...................................................... 71 Figura 57. Sinalização para rota de fuga .................................................................... 72 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Classificação das cores utilizadas para sinalização de segurança ............................................................................................................ 48 LISTA DE ABREVIATURAS Art. Artigo a.C. Antes de Cristo GRE Grécia Min. Ministro nº Número m metro(s) LISTA DE SIGLAS ABEOC Associação Brasileira de Empresas de Eventos ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas BSI British Standards Institution BWI Building and Wood Worker's Internatioinal CA Certificado de Aprovação CAU Conselho de Arquitetura e Urbanismo CBPMESP Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo CLT Consolidação das Leis do Trabalho CONTRU Departamento de Controle do Uso de Imóveis CREA Conselho Regional de Engenharia e Agronomia EPI Equipamento de Proteção Individual F1 Fórmula 1 FIFA Fédération Internationale de Football Association GP Grande Prêmio IEC International Electrotechnical Commission ISO International Organization for Standardization NBR Norma Técnica Brasileira NFPA National Fire Protection Association NR Norma Regulamentadora OIT Organização Internacional do Trabalho OSHAS Occupational Health and Safety Assessment Services PA Arcos de Alumínio PVC Poli Cloreto de Vinila SEGUR Controladoria de Atividade Especial e Segurança do Uso SEHAB Secretaria Municipal de Habitação SEL Secretaria Municipal de Licenciamento SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SPDA Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas MTE Ministério do Trabalho e Emprego UNICAMP Universidade de Campinas VIP Very Important Person SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................. 17 1.1. OBJETIVOS ........................................................................................................................................................ 19 1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................................................. 20 1.3. JUSTIFICATIVAS ............................................................................................................................................ 20 1.3.1. Escolha do tema do trabalho ........................................................................................................ 21 1.3.2. Escolha dos eventos a serem observados ..................................................................... 21 2. REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................................................... 23 2.1. DEFINIÇÃO DE SEGURANÇA DO TRABALHO ...................................................................... 23 2.2. DEFINIÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO ............................................................................. 24 2.3. CONTEXTO HISTÓRICO ............................................................................................................ .............. 25 2.4. SEGURANÇA DO TRABALHO EM EVENTOS ......................................................................... 28 2.4.1. Acidentes do Trabalho e a Copa do Mundo .................................................................. 29 2.4.2. Fiscalizações nas montagens ........................................................................................................ 29 2.5. LEGISLAÇÕES .................................................................................................................................................. 31 2.5.1. Normas Regulamentadoras ............................................................................................................ 31 2.5.2. Normas Técnicas ....................................................................................................................................... 32 2.6. TIPOLOGIA DE EVENTOS ....................................................................................................................... 32 2.7. EVENTOS NA CIDADE DE SÃO PAULO ...................................................................................... 34 2.8. O PAPEL DA SEGUR ................................................................................................................................... 35 3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................................. 37 3.1. MÉTODO DE OBSERVAÇÃO EM CAMPO ................................................................................. 37 3.2. A ELABORAÇÃO DAS OBSERVAÇÕES...................................................................................... 38 3.3. DESCRIÇÃO DOS EVENTOS VISTORIADOS ......................................................................... 38 3.3.1. Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 2014 ............................................................................ 39 3.3.2. Live Music Rocks 2014 ......................................................................................................................... 40 3.3.3. Reveillon na Paulista 2014 ................................................................................................................ 41 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................................. 43 4.1. O USO DE EPI .................................................................................................................................................. 43 4.1.1. Uso de EPI em serviços de limpeza .......................................................................................... 44 4.1.2. Uso de EPI em transporte de carga manual ...................................................................... 45 4.1.3. Uso de EPI em montagem de cenografia ............................................................................. 46 4.1.4. Uso de EPI em serviços de marcenaria ................................................................................. 48 4.2. TRANSPORTE DE CARGA ATRAVÉS DE EQUIPAMENTO COM FORÇA MOTRIZ ......................................................... 49 4.3. TRABALHO COM ELETRICIDADE ..................................................................................................... 50 4.3.1. Utilização de EPI ....................................................................................................................................... 51 4.3.2. Atendimento a NR-10 ............................................................................................................................. 52 4.4. TRABALHO EM ALTURA ........................................................................................................................... 52 4.4.1. Trabalho sobre estruturas ................................................................................................................. 53 4.4.2. Trabalho com auxílio de cordas .................................................................................................. 57 4.4.3. Trabalho em coberturas ...................................................................................................................... 59 4.5. TRABALHO COM AUXÍLIO DE ESCADAS .................................................................................. 60 4.6. SITUAÇÕES DE ATOS INSEGUROS .............................................................................................. 62 4.7. SINALIZAÇÃO DE SEGURANÇA ........................................................................................................ 64 4.8. ERGONOMIA ...................................................................................................................................................... 66 4.9. PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIOS ................................................................................................ 69 4.9.1. Terminologia sobre fogo e incêndio ....................................................................................... 69 4.9.2. Proteção contra incêndio em montagens de eventos ............................................ 70 4.10. ANÁLISE PELA TEORIA DOS DOMINÓS .............................................................................. 72 4.40.1. Ambiente social ....................................................................................................................................... 72 4.10.2. Falha pessoal ............................................................................................................................................. 73 4.10.3. Atos e/ou condições inseguras ................................................................................................. 73 4.10.4. Acidente ........................................................................................................................................................ 74 4.10.5. Lesões ............................................................................................................................................................ 74 5. CONCLUSÕES ............................................................................................................................................... 75 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................................... 77 17 1. INTRODUÇÃO Como ser social, o homem busca incessantemente formas de interação entre seus pares. E dentre os instrumentos mais efetivos para atingir esta sociabilidade estão os eventos, por ser uma ação diferenciada, adaptável, itinerante, relativamente econômica e impactante. A origem da palavra evento é do latim eventu, tendo como significado principal como sendo acontecimento. Acontecer, por sua vez, vem do latim "contigescere", ou seja, ser ou constituir um fato de importância na vida social ou em outros âmbitos. Assim, levando-se em conta a correlação existentes entre evento e acontecimento, podemos definir EVENTO como sendo uma iniciativa cujo objetivo é de reunir pessoas para diversas finalidade como comemorações, festividades culturais ou sociais, troca de informações, etc. Ainda, de acordo com o SENAC (2000), evento ´pode ser definido como qualquer acontecimento que foge á rotina, programado com o intuito de reunir um grupo de pessoas. Os primeiros eventos que se tem notícia foram os Jogos Olímpicos da Antiguidade, realizados pela primeira vez em 776 a. C, em Olímpia, Grécia. Devido ao sucesso, o evento passou a ser realizado de quatro em quatro anos, durante séculos, expandindo-se para outras cidades gregas. A mobilização das pessoas era tamanha que havia até trégua das guerras, muito comuns naquela época. Com o fim da era conhecida como Antiguidade, o evento foi suspenso até 1896, ano que marcou a primeira versão dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em Atenas (Figura 1). O Carnaval é outro evento que surgiu na Antiguidade, em 500 a. C, com as Festas Saturnálias. Além de lazer, permitiam representações de desejos, esperanças e folclore das cidades greco-romanas. 18 Figura 1. Jogos Olímpicos de 1986 – Atenas (GRE) Fonte: http://veja.abril.com.br/historia/olimpiada-1896/especial-jogos-olimpicos-era-moderna- atenas.shtml O primeiro evento com caráter informativo aconteceu em 377 a. C, em Corinto, Grécia, e foi denominado Congresso. Tratava-se de uma reunião de todos os delegados das cidades gregas para discutir questões de interesse público. No Brasil, o primeiro grande evento realizado foi o Baile de Máscaras de Carnaval de 1840, no Hotel Itália, na então capital do país, Rio de Janeiro, com a presença de duques, duquesas, príncipes, princesas, condes, condessas, rainhas e reis. Os eventos vêm se tornando cada vez mais essenciais à sociedade, quanto a questões econômicas como também culturais, esportivas e sociais. Ano a ano eles crescem em número, proporções e grau de sofisticação. Em um levantamento recente sobre a Dimensão Econômica da Indústria de Eventos no Brasil, realizado pela ABEOC, dados impressionantes foram revelados: R$ 209,2 bilhões de faturamento total do setor, o que representa 4,3 % do PIB brasileiro. Os dados revelam também que o setor de eventos é responsável por 7,5 milhões de empregos diretos, indiretos e terceirizados na economia nacional e contribui com R$ 48,69 bilhões de impostos. Os números da pesquisa mostram a importânciado mercado de eventos em relação ao número de participantes e à quantidade de eventos no país. Em comparação com o estudo de 2001, constatou-se que houve um aumento de 153% dos participantes, variando de 79,8 milhões para 202,2 milhões, em 2013. Já em relação ao número de eventos, o aumento foi de pouco mais de 80%, passando de 330 mil eventos para mais de 590 mil no mesmo período de comparação. 19 Figura 2. Quantidade de eventos no Brasil por região em 2013 Fonte: II Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos no Brasil (ABEOC – 2013) Figura 3. Quantidade de público em eventos por região em 2013 Fonte: II Dimensionamento Econômico da Indústria de Eventos no Brasil (ABEOC – 2013) 1.1. OBJETIVOS Face à enorme quantidade de eventos e do grande número de trabalhadores que eles envolvem, principalmente no que se diz no processo de montagens desses eventos, torna-se extremamente necessário que a Segurança do Trabalho esteja envolvida nestes processos. Há no meio técnico atualmente, principalmente no campo da segurança do trabalho, diversos assuntos de interesse mútuo para que sejam solucionados em discussões e estudos. Os objetivos deste trabalho foram demonstrar estão relacionados quanto a aplicabilidade de assuntos ligados a segurança do trabalho na operação de montagem de eventos de grande porte, onde a mão de obra necessária para 20 montagens das estruturas físicas que comportaram um evento é elevada. Com a observação desses assuntos, serão identificados os eventuais sombreamentos existentes e desafios encontrados pelos profissionais de Segurança do Trabalho no ambiente de montagem de eventos. Em um segundo momento será demonstrada as responsabilidades das partes envolvidas e alguns indicadores para identificar as possíveis melhorias na infraestrutura de segurança, além de propostas que podem ser desenvolvidas nesse ambiente. 1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO Além desta introdução, a estrutura deste trabalho consiste em mais quatro capítulos. No segundo capítulo é feita a revisão de literatura, com uma breve definição de assuntos relevantes do que se diz a respeito da Segurança do Trabalho e das legislações que devem ser atendidas, pertinentes ao assunto, citação de autores que realizaram de estudos sobre alguns assuntos que serão abordados no desenvolvimento do trabalho, bem como citar as principais legislações que devem ser obedecidas quanto ao assunto tratado. Os materiais e os métodos utilizados na coleta de dados e observação de situações através de pesquisa de campo e definição de indicadores que serão analisados e detalhados, bem como apontamento das falhas contidas serão realizadas no capítulo 3. O capítulo 4 traz os resultados encontrados a partir da comparação dos problemas encontrados com os modelos seguros de trabalho que podem ser adotados no local de trabalho. Para finalizar, no capítulo 5 encontram-se a conclusão das ideias e as principais recomendações deste trabalho. 1.3. JUSTIFICATIVAS Nesta seção, são apresentadas justificativas do autor quanto a escolha do tema a ser tratado neste trabalho, bem como os eventos escolhidos e que na qual foram realizadas as observações de campo. 21 1.3.1. Escolha do tema do trabalho A escolha do tema desse trabalho é justificada pela necessidade de se mostrar que há muito o que se fazer, no que se diz a respeito de segurança do trabalho em montagens de eventos. Um exemplo a ser disposto refere-se ao crescente número de acidentes envolvendo trabalhadores durante a montagem de stands em feiras de negócios. Segundo a ABEOC, apenas na cidade de São Paulo, entre os anos de 2010 a 2013, foram 180 ocorrências – sem fatalidade, mas que levaram ao afastamento dos funcionários. Ainda, segundo a ABEOC (2013), face ao grande número de eventos que se realizam durante o ano, os prazos para a montagem e desmontagem dos eventos se tornam cada vez mais apertados, fazendo se necessário uma maior atenção por parte da segurança do trabalho quanto aos funcionários, devido à grande pressão gerada pela promotoras e organizadoras de eventos. Por buscar melhores resultados em saúde e segurança do trabalho aos trabalhadores responsáveis na montagem e desmontagem de eventos, por meio de um caminho que aponta as falhas ocorridas durante este processo, buscando assim criar métodos e ferramentas, aplicadas na gestão da segurança, para um novo programa que busca mudar os preceitos comportamentais dos empregados, e por estar inserido num ambiente em que a preocupação com a segurança vem antes até mesmo da importância que se dá a questões financeiras ou culturais, o desenvolvimento desse tema foi abordado na elaboração deste trabalho. 1.3.2. Escolha dos eventos a serem observados Os eventos foram escolhidos para serem exemplos deste trabalho de forma empírica e aleatória, não sendo usados critérios básicos para caracterizar essas escolhas, exceto no que diz a respeito por se tratarem de eventos de grande porte, que é o objetivo no tópico do tema do trabalho. 22 Durante as observações de campo foram realizadas fotografias específicas para o assunto tratado neste trabalho. Não foram realizadas entrevistas com os trabalhadores ou qualquer outro tipo de pesquisa, seja ela por checklist prévio ou perguntas simples, pois o objetivo neste trabalho era de observar o comportamento dos trabalhadores no ambiente do trabalho e suas atitudes quanto a saúde e segurança do trabalho para si e para os que estavam em sua volta naquele instante. Com isso, abre-se aqui uma lacuna para trabalhos futuros a respeito desse tema explorarem de forma mais objetiva. Portanto, os trabalhadores que serão demonstrados nas situações, a serem apresentadas neste trabalho, estavam na sua naturalidade de trabalho no seu dia a dia. 23 2. REVISÃO DA LITERATURA Na literatura acadêmica, poucos trabalham tratam especificamente aqui o assunto abordado nesse trabalho. Há trabalhos acadêmicos que tratam assuntos específicos, abordados como tópicos do assunto principal deste trabalho. Entre os tópicos, cita-se ao projeto e montagem de arquibancadas provisórias (BRITO, 2005), mas focado principalmente nas estruturas metálicas. Outros trabalhos encontrados no meio acadêmico relacionam-se ao trabalho em altura, como os de TAVARES (2014) e MENDES (2013). No que se refere a eventos, os trabalhos encontrados na literatura citam, principalmente, a importância dos eventos para o turismo e hotelaria da localidade na qual se realiza o evento, bem como de questões econômicas. Neste sentido, podemos citar os trabalhos de IGNARRA (2007), PETITINGA (2008) e DOMINGUES (2007). 2.1. DEFINIÇÃO DE SEGURANÇA DO TRABALHO O termo “Segurança” no trabalho, em uma breve definição, refere-se ao estado de “estar livre de riscos inaceitáveis que causem danos” (BENITE, 2004). Pela definição da OSHAS (1999), Segurança é definida como sendo “condições e fatores que afetam o bem-estar de funcionários, trabalhadores temporários, pessoal contratado, visitantes e qualquer outra pessoa no local de trabalho”. Em uma outra definição, temos que a segurança do trabalho é o conjunto de medidas técnicas, educacional, médica e psicológica utilizadas para prevenir acidentes seja eliminado condições inseguras do ambiente, seja instrumento ou convencendo as pessoas da utilização de práticas preventivas. Ela é indispensável ao desempenho satisfatório do trabalho. (CHIAVENATO, 2004). 24 Portanto, podemos dizer que a segurança do trabalho resume-se em um conjunto de recursos e técnicas aplicadas preventiva ou corretivamente, para a proteção do homem, dos bens de uma empresa e do meio ambiente, visando eliminar os riscos de acidentesdecorrentes do processo de trabalho ou da realização de uma tarefa. Ainda, segundo Antônio Castro Diniz (2005), a prevenção dos acidentes deve ser realizada através de medidas gerais de comportamento, eliminação de condições inseguras e treinamento dos empregados, devendo o uso dos EPI’s ser obrigatório, havendo fiscalização em todas as atividades, sendo os empregados treinados quanto ao seu uso correto. As tarefas devem ser previamente avaliadas, os riscos e os padrões de trabalho identificados pelos responsáveis pela saúde e segurança do trabalho. Vale ressaltar também que as organizações são responsáveis por todos os trabalhadores em sua dimensão do local de trabalho, independentemente de serem colaboradores ou prestadores de serviços, bem como visitantes e por todos aqueles cujos processos podem afetar. (SZABO JÚNIOR, 2013). 2.2. DEFINIÇÃO DE ACIDENTE DO TRABALHO A palavra Acidente tem origem latina – accidens – que significa acaso. Pode ser definido por qualquer fato inesperado que interrompe o andamento normal de alguma atividade por meio de um acontecimento indesejado, gerando algum dano. Caso esse acontecimento indesejado não provoque danos, ele é chamado de incidente. A Lei 8213/1991, que dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social define acidente do trabalho: Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. 25 O Mapa Mental de Acidentes do Trabalho (Figura 4) tem a finalidade de determinar quais os principais tipos de acidente, as principais causas e riscos, e bem como métodos de prevenção do mesmo. Figura 4. Mapa Mental de Acidentes do Trabalho Fonte: http://tstsergiobigi.blogspot.com.br/2011/04/mapa-mental-acidentes-de-trabalho.html 2.3. CONTEXTO HISTÓRICO As primeiras referências na história sobre trabalhos sobre saúde e doença dos trabalhadores foram registradas nos pairos egípcios e, posteriormente, no mundo greco romano. Plínio, o velho, mencionou doenças que ocorriam em trabalhadores expostos a poeiras em minas, e a utilização de membranas de bexiga de carneiros como máscaras. (FERNANDES, 2000, apud ASSMANN, 2006, p.18). Entretanto, o primeiro grande trabalho a respeito do assunto foi elaborado pelo médico Bernardino Ramazzini, na obra As doenças dos trabalhadores, publicado na Itália em 1700. Por isso, Ramazzini desde então é chamado de “o pai da medicina do trabalho” Ao longo dos anos, diversos pesquisadores buscaram interpretar a segurança do trabalho, através de estudos que são aceitos por diversas entidades trabalhistas ao 26 redor do mundo. Uma delas é a Teoria dos Dominós, formulada por Heinrich em1929, com base na existência de cinco fatores que, ao ocorrerem em sequência, resultam em lesões para os trabalhadores, conforme apresentado na figura 5. I. Ambiente social: Também podendo ser chamada de personalidade. É o conjunto de características positivas e negativas, de qualidades e defeitos, que constituem a sua personalidade. Essas características (irresponsabilidade, temeridade, teimosia, etc.) podem se constituir em razões próximas para a prática de atos inseguros; II. Falha pessoal: Devido aos traços negativos de sua personalidade, o homem seja qual for a sua posição hierárquica e experiência dentro do ambiente de atividade, pode cometer falhas, do que resultarão as causas de acidentes; III. Atos e condições inseguras: Pela ABNT NBR 14280, ato inseguro é uma ação ou omissão que, contrariando o preceito de segurança, pode causar ou favorecer a ocorrência do acidente, ou seja, é o ato praticado pelo homem, em geral consciente do que está fazendo, que está contra as normas de segurança. São exemplos de atos inseguros: subir em telhado sem cinto de segurança contra quedas, ligar tomada de aparelhos elétricos com as mãos molhadas e dirigir a altas velocidades. Já condição insegura, pela mesma norma, referencia-se do meio que causou o acidente ou contribuiu para a sua ocorrência. IV. Acidente: A ideia de acidente no trabalho nos remete a algo ligado à desgraça, destruição, fatalidade, que decorreu de um caso fortuito e anormal, acabando por destruir completa ou parcialmente a saúde do trabalhador, gerando consequências de ordem material. (COSTA, 2009). V. Lesões: É a consequência do acidente, embora nem sempre os acidentes provoquem lesões. Figura 5 - Os cinco fatores na sequência de acidentes – Teoria dos Dominós Fonte: https://qvtunibero.wordpress.com/2010/09/13/raudson-limaraul-caracteristicas-de-acidentes- de-trabalho-ii/ 27 Em resumo, pela teoria de Henrich, uma lesão é causada por um acidente e que este, por sua vez, é causado por condições ou atos inseguros. Essas condições ou atos inseguros são causados pelas falhas de pessoas que podem ser adquiridas ou herdadas, tais como imprudência, nervosismo, temperamento violento, excitação, desconsideração ou ignorância de práticas seguras. Estas, por sua vez, são causadas pelo ambiente social do trabalhador. Para isso, o autor usou como base de sua fundamentação, estudos realizados em registros de acidentes de trabalho ocasionados na década de 1950. Os dados adquiridos durante a pesquisa mostraram que, 85% dos acidentes os atos inseguros, ou seja, o comportamento do trabalhador em relação à segurança era um dos motivos que levaram a ocorrer os acidentes. Figuras 6 e 7. Exemplos de atos inseguros. Fonte: https://maissegurancanotrabalho.wordpress.com/tag/ato-inseguro/ Portanto, para se evitar a ocorrência de uma lesão é coibir que ocorra uma série de eventos ou circunstâncias, que ocorrem em ordem fixa, ou seja, um fator é dependente do outro e ocorre devido ao outro. Transportando essa ideia para os dominós, podemos dizer que após a queda do primeiro dominó, haverá um efeito em cadeia, ocasionando a queda dos demais dominós da fila. Após os estudos de Henrich na década de 50, nas décadas posteriores diversos demostraram também que, a maior parte das causas dos acidentes estavam relacionadas ao comportamento inseguro no ambiente de trabalho ou a erros humanos, onde mais de 90% dos acidentes estudados tiveram estas causas como sendo as principais. O termo fator humano “[...] foi utilizado em estudos com diversos significados, tais como o comportamento em relação à segurança, a predisposições e a características cognitivas e motivacionais”. (TOMAS, 1999) 28 Uma questão que ainda persiste até os dias atuais refere-se à razão pela qual leva os trabalhadores a se comportarem de modo inseguro no ambiente de trabalho (TOMAS, 1999). Os estudos de clima de segurança se destacam na literatura atual e algumas das principais dimensões analisadas estão relacionadas à importância de programas de treinamento, à adoção de práticas de segurança, medidas de controle e reconhecimento de riscos e ao envolvimento da alta liderança e da supervisão com questões relacionadas à segurança (ZOHAR, 1980; BROWN e HOLMES, 1986). As figuras a seguir mostram modelos de treinamento específicos para segurança do trabalho. Na figura 8 ocorre um treinamento para relacionado a trabalho em altura, enquanto que na figura 9 o treinamento tem objetivo relativo a prevenção de incêndios. Figuras 8 e 9. Modelos de Treinamento para Segurança do Trabalho. Fonte: http://cammindmontagem.com.br/exibe-noticia-2.php 2.4. SEGURANÇA DO TRABALHO EM EVENTOS A indústria da promoção de eventos é uma atividade econômica que envolve tradicionais estruturas sociais, culturais, econômicas e políticas. Portanto, o empregador tem que conhecer a importância dasegurança no trabalho e oferecer o instrumento para que ela ocorra, pois a Segurança do Trabalho se aplica a todos os segmentos. Evidentemente cada segmento tem suas características e riscos específicos, e exatamente por isso, cada ambiente precisa ser “cuidado” com um olhar particular. Devido à grande quantidade de eventos que se realizam no país, a segurança do trabalho com foco na montagem de estruturas de eventos de grande 29 porte tornou-se mais imprescindível nos últimos anos. Contudo, percebeu-se que há muito do que se melhorar ainda. 2.4.1. Acidentes do Trabalho e a Copa do Mundo A Copa do Mundo da FIFA, realizada no Brasil em meados de junho a julho do ano passado, teve no seu período de montagem das estruturas para receber esse macro evento enormes falhas no quesito segurança do trabalho, que inclusive levaram a perdas de vidas de trabalhadores. O Brasil contou com nove mortes na montagem de estruturas dos estádios do Mundial, sendo que um terço das arenas registraram acidentes fatais. Foram várias causas de mortes, desde acidentes com trabalho em altura, através de quedas, quanto a incidentes com eletricidade, onde um deles recebeu uma alta descarga elétrica enquanto ajudava a instalar a fiação de um dos setores do estádio. Esses fatos levaram a presidente Dilma Rousseff assinar nesta uma cartilha com diretrizes gerais sobre a segurança do trabalho na Copa, entretanto, o documento será divulgado a menos de um mês do início do torneio. Conforme afirmou a BWI (2013), entidade internacional que se dedica a combater as más condições de trabalho, a correria para concluir as obras necessárias para a realização de grandes eventos esportivos faz com que a segurança dos operários fique comprometida – e isso acontece com mais frequência em países onde a proteção aos trabalhadores é menos rigorosa. O Brasil, onde a construção civil é um dos setores que mais fornecem empregos, ainda está distante das nações que são referência no setor. Ainda, segundo o professor João Roberto Boccato, especialista em segurança do trabalho da Unicamp (Universidade de Campinas), as construtoras estão mais preocupadas em cumprir os cronogramas de obras do que em cumprir a legislação prevencionista. 2.4.2. Fiscalizações nas montagens 30 As fiscalizações também se tornaram ineficazes, pois segundo Luiz Antônio Medeiros, autoridade do Ministério do Trabalho no Estado de São Paulo na época, em entrevista após a morte de um trabalhador no Estádio de Itaquera (Figura 10), confessou que a construção tem irregularidades, que elas são ignoradas por causa da necessidade de terminar o estádio a tempo e que o ministério "faz de conta que não vê" os problemas. (UOL, 2014). Neste mesmo episódio, foi constatado que o funcionário que faleceu trabalhava na montagem das arquibancadas provisórias, entretanto o mesmo não estaria totalmente capacitado para esse trabalho. No caso da morte do trabalhador em Cuiabá, ele foi contratado para trabalhar como montador, mas acabou sendo deslocado para fazer serviço de eletricista. A superintendência de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego em Mato Grosso informou que o operário "não usava os equipamentos necessários para desempenhar a função e não teria a capacitação necessária para exercer a mesma" (G1, 2014). Outro fator para o aumento considerável dos acidentes com queda na construção civil são as inovações tecnológicas e o descompasso com trabalhadores desqualificados, que ainda não sabem lidar de forma adequada com essas inovações. Figura 10. Acidente do trabalho em montagens no Estádio de Itaquera Fonte: (Marcelo Camargo / Agência Brasil) 31 2.5. LEGISLAÇÕES Para se falar em sociedade é necessário ter o mínimo conhecimento de códigos que regulam e norteia a vida dos indivíduos pertencentes àquele grupo social, chamado de sociedade. Há no Estado moderno uma supremacia da lei escrita, devendo ser observado que tal atitude foi imposta ante a necessidade da sociedade exigir uma codificação para representar uma maior segurança e certeza nas relações jurídicas. Para o trabalho proposto, a principal consulta dedicada ao assunto tratado e seus tópicos foram em legislações específicas para cada área, em especial as normas. A normalização é uma atividade que existe desde o início da humanidade e foi um dos meios fundamentais para a evolução da sociedade. Neste trabalho, diversas legislações foram consultadas como base para a realização deste trabalho, sendo elas da esfera municipal, estadual e federal. Na esfera federal, temos as Normas Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na qual teve auxílio principal de consulta neste trabalho. 2.5.1. Norma Regulamentadoras A publicação e revisão das Normas Regulamentadoras (NR) são de responsabilidade única e exclusiva do MTE, com base no texto do Capítulo V da CLT, e entraram em vigor por meio da Portaria Nº 3214, de 08 de Junho de 1978. Sobre as exigências das normas regulamentadoras, a CLT diz, em seu Art. 157, inciso I, que cabe as empresas cumprirem e fazerem cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho. A implantação das NR’s proporcionou a mudança de papel do profissional em Saúde e Segurança do Trabalho, o qual deixou de ser meramente um fiscal e passou a ter que planejar e desenvolver técnicas ligadas ao gerenciamento e controle de riscos. Assim, evolui-se de uma visão basicamente corretiva para uma perspectiva preventiva. Entretanto, a ocorrência de acidentes de trabalho ainda é frequente. 32 Mesmo com o aumento de melhores condições de trabalho, o Brasil ainda tem um dos maiores números de acidentes de trabalho, conforme OIT. 2.5.2. Normas Técnicas As Normas Técnicas (conhecidas por NBR's), emitidas pela ABNT, são documentos estabelecidos por consenso e aprovados que fornecem, para um uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características para os produtos ou processos. Seguir as normas de publicação da ABNT é importante para não existirem conflitos, bem como a padronização ajuda ainda na comparação de pesquisas relacionadas a um mesmo assunto. Sua observância não é obrigatória, exceto quando uma norma é exigida por um dispositivo legal (lei, medida provisória, etc.), onde o seu cumprimento passa a ser obrigatório. De acordo com a legislação brasileira, na falta normalização técnica brasileira sobre um determinado assunto, podem ser utilizadas normas técnicas emitidas por organismos internacionais como a ISO, IEC, BSI, NFPA, dentre outros. 2.6. TIPOLOGIA DE EVENTOS O SENAC (2000) agrupa os eventos de acordo com os seguintes critérios: data, perfil dos participantes, objetivo e dimensão do evento. I. Data do evento: O evento pode ser realizado em datas fixas em um calendário turístico, por exemplo; com datas móveis, conforme o desejo do promotor e esporádica, acontecendo em determinadas ocasiões específicas. II. Perfil dos participantes ou público presente: Podem ser do tipo geral, onde todas as classes podem participar; para um público dirigido ou específico, ou seja, específico para um determinado grupo; III. Objetivo: existem diversos objetivos relativos a eventos. Os mais comuns são o científico, o cultural e o esportivo. 33 No que se diz a respeito do porte e dimensão do evento, os eventos são divididos em 4 classes: I. Macroeventos: Considerados como eventos que requisitam grande oferta hoteleira tanto da cidade sede, quanto das cidades em seu entorno, mobilizando um número muito grande de pessoas em sua organização e em sua concretização. A maior parte dos macroeventos alcançam uma grande repercussão interna e externa, e projetam a cidade e instituições organizadoras em todo o mundo, onde o objetivo é de ampliar as possibilidadesda atividade turística naquela localidade para depois da realização desse evento. São exemplos dessa classe de eventos a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. II. Eventos de grande porte: Em sua grande maioria, são organizados pela iniciativa privada e costumam abranger um grande número de participantes. Esse tipo de evento demanda grande parte da oferta hoteleira da cidade em que se realiza, gerando um impacto considerável naquela região. Dependendo da característica do evento, poderá ocorrer um interesse a uma amplitude nacional e até internacional. São exemplos dessa classe as grandes feiras de São Paulo (Salão do Automóvel, Bienal do Livro, etc.), os festivais de música como o Rock in Rio, as festas de Réveillon do Rio de Janeiro e de São Paulo, o GP Brasil de Fórmula 1, entre outros. III. Eventos de médio porte: Esse tipo de evento apresenta também um número elevado de profissionais e empresas. Geralmente, assim como os de grande porte, são produzidos pela iniciativa privada. Alguns dos eventos que se enquadram nessa tipologia são exposições, congressos nacionais como de medicina, eventos culturais de médio porte como shows musicais com público de até 10.000 pessoas. Outra característica comum a esse tipo de evento é a regularidade em que ocorre, fazendo, assim, parte do calendário turístico de uma determinada cidade ou região geográfica, apresentando, inclusive um grande apelo de participação à comunidade, que via de regra, costuma se envolver de modo efetivo na organização e realização de tais eventos, como por exemplo, as festas relativas a santos padroeiros promovidos pela Igreja Católica. IV. Eventos de pequeno porte: Trata-se da tipologia que ocorre em maior número, e podem ser tanto de iniciativa privada quanto pública, tendo como 34 característica distintiva o caráter mais objetivo e específico, destinada a um público mais específico e direcionado, contando com um número reduzido de pessoas envolvidas em sua organização, bem como quanto ao número de participantes, não ultrapassando em média, de 2.000 pessoas. São exemplos dessa classe as pequenas feiras de negócios, congressos especializados de medicina, cultos religiosos, eventos esportivos como corridas de rua, apresentações culturais em espaços públicos, etc. 2.7. EVENTOS NA CIDADE DE SÃO PAULO A cidade de São Paulo é considerada a capital sul-americana das feiras de negócios e eventos culturais. Ao todo, cerca de 90 mil eventos por ano são realizados, que geram uma média de um evento a cada 6 minutos. (SÃO PAULO OUTLOOK, 2013). Os segmentos que mais realizam feiras, reuniões e eventos na cidade são pela ordem: 1º - Medicina, 2º - Ciência, Tecnologia e Comunicação, 3º - Cultura e Educação, 4º - Técnico e Científico e 5º - Turismo, que geram na cidade um impacto econômico de R$ 16,3 bilhões ao ano entre investimentos realizados pelos promotores até recursos gerados pelos eventos como, por exemplo, nos setores de hospedagem. (ABEOC, 2013) Figura 11. Bienal do Livro de São Paulo (2014) Fonte: Agência UOL 35 Figura 12. Congresso de Medicina Fonte: http://www.transamericaexpo.com.br/eventos-em-sao-paulo 2.8. O PAPEL DA SEGUR A SEGUR surgiu em 2013 com a criação da Secretaria Municipal de Licenciamento – SEL. Seu embrião foi o antigo Departamento de Controle do Uso de Imóveis – CONTRU, órgão na qual era vinculado a SEHAB. O Contru foi criado em 1974, após a ocorrência de dois incêndios de grandes proporções, que aconteceram em São Paulo, nos edifícios Andraus e Joelma. O órgão, que atua na prevenção e fiscalização de instalações e sistemas de segurança de edificações do município de São Paulo, fiscaliza a segurança de edificações institucionais, comerciais e de serviços, concede licenças e fiscaliza a instalação e o funcionamento de elevadores, esteiras e escadas rolantes. Também é atribuição do órgão conceder licença para a instalação de equipamentos de armazenagem de produtos químicos, inflamáveis e explosivos. É de responsabilidade também deste órgão, especificamente na Divisão Técnica de Locais de Reunião – SEGUR-3 o licenciamento dos eventos temporários a serem realizados na capital paulista, conforme figura 13. 36 Figura 13. Organograma de SEGUR Fonte: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/licenciamentos/segur/index.php?p=148613 Conforme Decreto Municipal Nº 49.969/2008, em seu art. 5º: Art. 5º - Depende da prévia expedição de Alvará de Autorização a realização de eventos públicos e temporários com mais de 250 (duzentas e cinquenta) pessoas, que ocorram em: I - imóveis públicos ou privados; II - edificações ou suas áreas externas, ainda que descobertas e abertas, tais como jardins, áreas de lazer e recreação, pátios de estacionamento, áreas externas em clubes de campo, áreas para a prática de atividades físicas, esportivas e similares; III - terrenos vagos, terrenos não-edificados e edificações inacabadas; IV - logradouros públicos, tais como ruas, praças, viadutos e parques. § 1º - Entende-se por evento público aquele dirigido ao público, com ou sem a venda de ingressos. § 2º - Entende-se por evento temporário aquele realizado em período restrito de tempo ou com prazo determinado de duração. Já no Art. 24 do referido decreto, são relacionados os documentos que devem ser apresentados ao órgão para a expedição do Alvará de Autorização para Evento Temporário. 37 3. MATERIAIS E MÉTODOS Para esta etapa, são verificadas a fundamentação e estrutura da proposta do trabalho proposto, apresentando aqui a descrição do perfil e planejamento das atividades realizadas para a busca de material a ser discutido neste trabalho, com o delineamento de materiais e métodos aplicados, onde as observações em campo foram o método escolhido para coletar informações pertinentes à discussão deste trabalho. 3.1. MÉTODO DE OBSERVAÇÃO EM CAMPO A pesquisa de campo procede à observação de fatos e fenômenos exatamente como ocorrem no real, à coleta de dados referentes aos mesmos e, finalmente, à análise e interpretação desses dados, com base numa fundamentação teórica consistente, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado. Exige também a determinação das técnicas de coleta de dados mais apropriadas à natureza do tema e, ainda, a definição das técnicas que serão empregadas para o registro e análise. As observações ou pesquisas em campo são abordados por diversos autores. Para Martins (2009, p.86), as técnicas de observação em campo são procedimentos empíricos de natureza sensorial e que o planejamento e execução de trabalhos de campo onde o pesquisador interage com o sujeito da pesquisa e seu respectivo ambiente de trabalho não podem ser desconsideradas como técnica de coleta de dados. Já Severino (2007) reforça a necessidade da visita in loco, de coletar dados referentes aos temas a serem debatidos. Ao observador, não basta simplesmente o olhar. Deve, certamente, saber ver, identificar e descrever diversos tipos de interações e processos humanos com o 38 ambiente em si. Essa técnica tem contribuído para o desenvolvimento do conhecimento científico, especialmente por coletar dados de natureza não-verbal. Uma observação, qualquer que seja o seu objetivo e suas respectivas finalidades, deve propor, inicialmente, quatro importantes questões a serem objeto de consideração ao longo de todo o trabalho: I. O que deve ser efetivamente observado? II. Como proceder para efetuar o registro dessas observações? III. Quais os procedimentos a utilizar para garantir a validade das observações? IV. Que tipo de relação estabelecer entre o observador e o observado, qual a sua natureza e como implementar essa relação?3.2. A ELABORAÇÃO DAS OBSERVAÇÕES A elaboração desta pesquisa teve como base as vistorias técnicas realizadas pela SEL/SEGUR-3. A vistoria técnica visa prioritariamente o atendimento às condições de segurança e risco eminente, tais como instalações elétricas, equipamentos de combate a incêndio, acessibilidade e saídas de emergência. Para o Decreto Estadual 56.819/2011, na qual instituiu o Regulamento de Segurança contra Incêndio das edificações e áreas de risco no Estado de São Paulo, regulamento esse aplicado pelo CBPMESP, “vistoria é o ato de verificar o cumprimento das exigências das medidas de segurança contra incêndio nas edificações e áreas de risco, em inspeção no local”. 3.3. DESCRIÇÃO DOS EVENTOS VISTORIADOS As observações de campo realizadas para a sintetização do tema deste trabalho foram realizadas no período de montagens das estruturas para os eventos relacionados a seguir. Durante as observações, foram feitos registros fotográficos 39 com uma câmera digital comum, e alguns pontos foram anotados, e que serão apresentados durante a explanação das situações vivenciadas. 3.3.1. Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 2014 O Grande Prêmio Brasil de F1 (Figura 14), faz parte do calendário do Mundial do F1 desde 1973. Com exceção dos anos de 1978 e de 1981 a 1989, onde foi disputado no Autódromo Nelson Piquet, no Rio de Janeiro, o evento é realizado no Autódromo José Carlos Pace (Autódromo de Interlagos). Em 2014, teve como datas os dias 07 a 09 de novembro, com público estimado de 100.000 pessoas no fim de semana do evento, sendo no dia da corrida (09/11) o público foi de 70.000 pessoas. Neste evento, as observações de campo foram realizadas no dia 06 de novembro, durante as vistorias de SEGUR-3. Figura 14. Vista Aérea do Autódromo de Interlagos Fonte: http://quehoraesen.net/pt/sao-paulo/evento/grande-premio-do-brasil-formula-1-2014- corrida/28545 Para este evento, as principais estruturas a serem montadas são: I. Arquibancadas: Estruturas de seções tubulares de aço, com fixação de cadeiras e/ou tablado de madeira, dispostos em módulos com níveis em forma de escada, que servem de assento ao público; 40 II. Camarotes: montados em estrutura metálica construída em um ou dois níveis, com cobertura por tenda no formato piramidal. As laterais são formadas por barricadas metálicas revestidas e o piso é constituído por tablado acarpetado; III. Setores “VIP”: Estrutura metálica construída em um ou dois níveis, com cobertura por tenda no formato piramidal, montada em uma edificação existente de alvenaria. As laterais são formadas por guarda corpos metálicos e o piso é de alvenaria (concreto armado), com cobertura feita de acarpetado; IV. Tendas: Tenda Piramidal estrutura fabricada em chapa de ferro tubular, montada em sistema de encaixe e unida com parafusos e conexões em aço inoxidável. Possui uma lona de Cobertura em PVC com reforço em poliéster impermeável; V. Instalações Elétricas: montagem de linhas elétricas para ligação de equipamentos móveis ou estacionários, dispositivos de comando e sinalização, quadros de distribuição, quadros de distribuição terminais, tomadas de corrente e extensões, sistema de iluminação e sistema de aterramento das estruturas; 3.3.2. Live Music Rocks 2014 O Live Music Rocks (Figura 15) é um projeto anual de shows que já trouxe ao Brasil nomes importantes do cenário da música internacional como a cantora Beyouncé e as bandas Bom Jovi e Iron Maiden. Em 2014, consistia em shows musicais de bandas nacionais e internacionais, sendo o principal nome do evento a banda Artic Monkeys. Realizado na área de concentração do Sambódromo do Anhembi (também conhecido como Arena Anhembi), o evento foi realizado no dia 14 de Novembro, com um público estimado de 25.000 pessoas. Neste evento, as observações de campo foram realizadas no dia 12 de Novembro. 41 Figura 15. Palco para shows no evento Live Music Rocks Fonte: Arquivo pessoal Neste evento, as estruturas a serem montadas foram: I. Palco: Estrutura constituída em alumínio medindo 13,5mt x 10,50mt de profundidade, composto por: torres flys, house mix, stage mix, guarda corpo em seu entorno, camarins, e torres para PA; II. Tendas: Tenda piramidal estrutura fabricada em chapa de ferro tubular montada em sistema de encaixe e unida com parafusos e conexões em aço inoxidável. Possui uma lona de cobertura em PVC com reforço em poliéster impermeável; III. Instalações Elétricas: Montagem de linhas elétricas para ligação de equipamentos móveis ou estacionários, dispositivos de comando e sinalização, quadros de distribuição, quadros de distribuição terminais, tomadas de corrente e extensões, sistema de Iluminação e de aterramento das estruturas. 3.3.3. Revéillon na Paulista 2014 O Revéillon da Paulista (Figura 16) já se tornou como um dos maiores eventos na cidade de São Paulo e do Brasil, devido à grande quantidade de pessoas que atrai todos os anos, cerca de 2 milhões de pessoas, para celebrar a chegada de um novo ano. O palco de shows é montado entre a Rua Padre João Manoel e a Min. Rocha 42 Azevedo, tendo sua frente voltada em direção para a Rua Paraíso, na altura do Nº 1919 da avenida mais famosa de São Paulo, a Avenida Paulista. Como principal atração neste evento está o show pirotécnico, considerado um dos mais belos do país. Neste evento, as observações de campo foram realizadas no dia 29 de dezembro. Figura 16. Queima de fogos na Avenida Paulista para Reveillon de 2014 Fonte: http://www.reveillonnapaulista.com.br/reveillon2015/2014.php Para este evento, são montadas as seguintes estruturas: I. Palco: Estrutura constituída em alumínio medindo 46,5mt x 10,00 m de profundidade, composto por: Torres Flys, House Mix, Stage Mix, Guarda corpo em seu entorno, camarins, e Torres para PA; II. Tendas: Tenda piramidal estrutura fabricada em chapa de ferro tubular montada em sistema de encaixe e unida com parafusos e conexões em aço inoxidável. Possui uma lona de cobertura em PVC com reforço em poliéster impermeável; III. Camarote: montado em estrutura metálica construída em um nível, com cobertura por tenda no formato piramidal. As laterais são formadas por barricadas metálicas revestidas e o piso é constituído por tablado acarpetado; IV. Instalações Elétricas: montagem de linhas elétricas para ligação de equipamentos móveis ou estacionários, Dispositivos de comando e sinalização, Quadros de distribuição, Quadros de distribuição terminais, Tomadas de corrente e extensões, Sistema de Iluminação e sistema de aterramento das estruturas. 43 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante as observações de campo, foram possíveis verificar as condições de trabalho dos trabalhadores, ao realizar as montagens para os eventos com segurança. Percebeu-se que, a grande maioria dos trabalhadores são conscientizados perante o trabalho na qual está exercendo, atendendo plenamente ou em sua maior parte os itens relevantes a quesitos referentes a segurança do trabalho. Entretanto, foram possíveis presenciar algumas falhas nos que se refere ao segurança do trabalhador, conforme será demonstrado neste capítulo. 4.1. O USO DE EPI A NR-6 define como EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a sua saúde e sua segurança no trabalho. Cabe ressaltar que o EPI deve ser a última opção para proteção do trabalhador, sendo que medidas de proteção coletiva devem ser implementadas anteriormente a adoção de uso de medidas individuais. Para a atividade que se quer desenvolver, o equipamento de proteção a ser utilizado pelo trabalhador deve ser especificado por profissional competente em segurança do trabalho, não partindodo trabalhador essa escolha. Para a comercialização ou utilização de EPI, sendo ele de fabricação nacional ou importado, só poderá ser aceito com a indicação do Certificado de Aprovação (CA), expedido pelo órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde e do trabalho, no MTE. Nas montagens de eventos, são executadas diversas atividades diferentes, cada uma com seus respectivos riscos e perigos inerentes ao trabalhador que a executa. Ao se verificar as condições no que se diz a respeito ao assunto referendado, podemos observar o disposto pela NR-6, no seu item 6.7.1: 44 6.7.1 Cabe ao empregado quanto ao EPI: a) usar, utilizando-o apenas para a finalidade a que se destina; b) responsabilizar-se pela guarda e conservação; c) comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso; d) cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado. O Anexo I da referida norma relaciona uma listagem de equipamentos de proteção Individual a serem utilizados pelos trabalhadores em diversas situações, para proteção de partes do corpo como crânio, mãos, etc., e que foi utilizado como base para a caracterização das situações a serem descritas nos itens a seguir. 4.1.1. Uso de EPI em serviços de limpeza Para a situação demonstrada na Figura 17, são mulheres pertencentes a equipe de limpeza da empresa contratada pela promotora do evento, cuja responsabilidade é de manter o local limpo durante as montagens, bem como na limpeza durante a realização do evento. Como instrumento ou ferramentas de trabalho são utilizadas vassouras e pás. Figura 17. Trabalhadores em serviços de limpeza Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 45 Nessa situação, para atendimento da NR-6, não foram atendidos os itens de segurança como o uso de luvas para proteção das mãos contra agentes abrasivos, escoriantes, cortantes e perfurantes; bem como de calçado apropriado para proteção dos pés contra impactos de quedas de objeto sobre artelhos, contra agentes cortantes e perfurantes. Vale ainda ressaltar que outros métodos de proteção à saúde do trabalhador podem ser utilizados nesta situação, como proteção aos raios solares (pois o trabalho estava em local aberto e durante o dia) com o uso de creme protetor contra radiação solar, bem o uso de capacete, caso esteja realizando a atividade embaixo de estruturas suspensas. 4.1.2. Uso de EPI em transporte de carga manual O transporte e levantamento de cargas é extremamente comum em montagem de eventos. Na situação abaixo, (Figura 18) são demonstrados trabalhadores responsáveis pelo transporte e separação dos elementos para montagem da estrutura do palco. Figura 18. Trabalhadores com calçado inaquedado Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 A legislação brasileira possui diversas normas que estipulam o limite máximo de peso para transporte e manuseio de cargas individualmente. Nas normas, recomenda-se que o limite máximo de levantamento individual é de 40 kg. 46 A NR-17 determina como sendo transporte manual de carga como todo o transporte no qual o peso da carga é sustentado por um único trabalhador, não informando os parâmetros quanto levantamento, transporte e manuseio de cargas individuais. Na NR-18, é tratado o manuseio de cargas na construção civil, enquanto que a NR-5 destaca como sendo um dos principais riscos do trabalho o manuseio e transporte de cargas. Nessa situação, os trabalhadores não utilizavam calçado apropriado para a tarefa em si, para a proteção dos pés contra impactos de quedas de objeto sobre artelhos e contra agentes cortantes e perfurantes como parafusos e arestas de metais, por exemplo. Apesar de a figura não demonstrar, foi percebido também o não uso de luvas para o manejo dos elementos. 4.1.3. Uso de EPI em montagem de cenografia As figuras 19 a 21 demonstram o trabalho de dois funcionários responsáveis pela parte de acabamento das estruturas para finalidade de cenografia. Com utilização de um grampeador de tapeceiro, a tarefa a ser realizada era de grampear o material (lona sintética) em painéis de madeira, para utilização dos mesmos como sinalização dos bares a serem montados para o evento. Figura 19. Trabalhadores de cenografia Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 47 Figura 20. Uso de grampeador de tapeceiro em trabalho de cenografia Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 Figura 21. Dedos lesionados de trabalhadores Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 Para as situações demonstradas anteriormente, os trabalhadores não utilizavam diverso EPI’s úteis para sua segurança, como óculos de proteção contra impactos de partículas volantes, evitando assim que materiais atinjam os olhos do trabalhador, protetor facial para proteger sua face contra impactos de partículas volantes, e de luvas para proteção das mãos contra agentes abrasivos, escoriantes, cortantes ou perfurantes, neste caso os grampos, evitando lesões nos dedos como demonstrado na figura 21. 48 4.1.4. Uso de EPI em serviços de marcenaria Nos eventos, os serviços de marcenaria são dispostos em diversas utilidades como na montagem de arquibancadas, construção de rampas de acesso e na cenografia de ambientes produzida em madeira para composição, comunicação visual, divisão de ambientes, balcões diversos e acabamento personalizado. Em feiras, a marcenaria é utilizada também na montagem dos stands utilizados pelos expositores. Para a situação evidenciada na figura 22, o trabalhador executa serviços de marcenaria na construção de uma rampa de acesso, sem o uso de qualquer EPI necessário para a realização da tarefa, como óculos de proteção, utilizados contra impactos de partículas volantes, evitando que materiais atinjam os olhos do trabalhador, luvas para proteção das mãos contra agentes abrasivos, escoriantes, cortantes ou perfurantes (neste caso, os pregos), bem como de capacete para proteção contra impactos de objetos sobre o crânio. Quanto a utilização correta da ferramenta de trabalho (martelo), verificou-se que o trabalhador empunhava corretamente o equipamento, firmemente, quase no final do cabo. Figura 22. Trabalhador de marcenaria desprovido de EPI’s para a atividade Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 49 4.2. TRANSPORTE DE CARGA ATRAVÉS DE EQUIPAMENTOS COM FORÇA MOTRIZ Durante as observações de campo, outro ponto verificado quanto no que se diz a respeito à segurança de transporte de carga refere-se aos transportes através de equipamentos com força motriz própria. A NR-11 é a norma na qual estabelece os requisitos de segurança que devem ser adotados nas atividades que envolvam transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais, na sua forma mecânica ou manual, para evitar acidentes no local de trabalho. Na situação presenciada, conforme demonstra as figuras abaixo (Figuras 23 e 24), o equipamento era um veículo tipo “carro de golfe” com caçamba para o transporte de pequenas cargas. Foi observado que há o transporte inadequado de pessoas sobre a carga a ser transportada, podendo em uma freada brusca ocasionar queda dos trabalhadores e da carga sobre eles. O peso da carga, aparentemente, está dentro do peso que pode ser transportado pelo veículo, entretanto, com o peso dos funcionários acima dela, há um carregamento de peso maior que a mesma pode carregar. Isso fica evidente com a visualização das rodas traseiras. Por ser ela de dimensões maiores que a dimensão do veículo, na carga poderia conter uma sinalização visual de alguma forma, em suas extremidades. Outro ponto verificado refere-se aos ocupantes do veículo, inclusive o condutor, pois não possuíam qualquer EPI necessário para sua segurança no trabalho como capacetes, calçado, luvas, etc. 50 Figura 23. Transporte irregular de pessoas em veículos de cargaFonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 Figura 24. Carregamento de gradis e pessoas em veículo de carga Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 4.3. TRABALHO COM ELETRICIDADE As instalações elétricas se fazem presente em praticamente todos os eventos, cuja utilidade varia desde a iluminação do ambiente a até a sonorização do ambiente para o evento em si. Em eventos, as instalações elétricas, em grande parte, são providas de geradores de energia, bem como o Sistema de Aterramento de Estruturas. Há de se destacar também que nos eventos a céu aberto, deve-se providenciar também, para segurança dos trabalhadores e do público do evento, um Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA). 51 4.3.1. Utilização de EPI Na situação a seguir (Figura 25), foi observado um trabalhador na montagem das instalações elétricas em uma tenda. Nessa situação, em primeira análise, foram observados os preceitos estabelecidos pela NR-6 para a segurança de trabalhadores em instalações elétricas. Figura 25. Trabalhador em montagem de Instalações Elétricas Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 Para a situação demonstrada, o trabalhador não portava capacete para proteção contra impactos de objetos sobre o crânio e choques elétricos, de óculos para proteger os olhos contra impactos de partículas volantes, de luvas para proteção das mãos contra choques elétricos e de mangas, útil na para proteção do braço e antebraço contra choques elétricos; Podem ainda serem observados nessa situação a falta de concentração para o serviço a ser executado, pois o funcionário está em conversa com uma outra pessoa, o trabalho em uma escada, onde o poder de concentração e equilíbrio na mesma são importantes para se evitar uma queda da mesma, e a vestimenta do funcionário, que não condiz com o local de trabalho e sua tarefa, podendo ocasionar em um acidente, o agravamento de lesões. 52 4.3.2. Atendimento a NR-10 Quanto aos preceitos estabelecidos pela NR-10, foram observados os itens relacionados abaixo: • Conforme Item 10.2.9.2 da referida norma, as vestimentas de trabalho devem ser compatíveis com a tarefa a ser realizada, onde deve-se comtemplar a condutibilidade, inflamabilidade e suas influencias eletromagnéticas que podem ocorrer; • As Instalações elétricas montadas devem assegurar a saúde e a segurança dos trabalhadores e dos usuários, e serem supervisionados por profissional autorizado e competente, conforme item 10.4.1 da referida norma; • Conforme item 10.3.10, devem ser proporcionados aos trabalhadores boas condições de iluminação e posição de trabalho segura durante as instalações em atendimento a NR-17; Portanto, ao analisar a situação descrita anteriormente, o trabalhador não atendeu ao princípio básico de sua responsabilidade, conforme determina a referida norma no seu item 10.13.4.a: 10.13.4 Cabe aos trabalhadores: a) zelar pela sua segurança e saúde e a de outras pessoas que possam ser afetadas por suas ações ou omissões no trabalho; 4.4. TRABALHO EM ALTURA Para o trabalho em altura, foram observadas as condições de trabalho quanto ao uso correto de EPI e as técnicas aplicadas relativas ao trabalho em si. O trabalho em altura é normatizado pela NR-35, que estabelece os requisitos mínimos e medidas de proteção para o trabalhador em altura, de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou indiretamente com esta atividade. É considerado trabalho em altura toda atividade executada acima de 2,00 m do nível inferior em que existam riscos de queda. 53 Para realizar trabalhos em altura, o empregado deve passar por treinamento periódico bienal, com carga horária mínima de 08 (oito) horas. Todo trabalho em altura deve ser precedido de Análise de Risco, das atividades a serem realizadas pelo trabalhador. Para a execução das atividades, o empregado deve receber a Permissão de Trabalho, expedida pro responsável competente, com duração de validade limitada à duração da atividade, que deverá estar corretamente descrita e delimitada na permissão. 4.4.1. Trabalho sobre estruturas Na figura 26, foi observado que o presente funcionário não atendeu a nenhum dos requisitos básicos para trabalho em altura, quanto ao uso de EPI, na montagem do palco do evento Reveillon na Paulista. No presente momento da observação, o funcionário estava em uma altura de aproximadamente 1,5 m do nível do piso do palco. Entretanto, com relação ao nível da via pública, a altura era de aproximadamente 20 m. Figura 26. Trabalhador em montagem de estrutura sem proteção de EPI Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 O funcionário, ao realizar seu trabalho, não portava os EPI’s mínimos para a realização da tarefa, como luvas e capacete, bem como EPI’s específicos para trabalho em altura como os cintos de segurança tipo paraquedista, por exemplo. 54 Este equipamento é constituído de sustentação na parte inferior do peitoral, acima dos ombros e envolto nas coxas, conforme mostra as figuras 27 e 28. Os cintos de segurança tipo paraquedista deve possuir argolas e mosquetões de aço forjado, ilhoses de material não-ferroso e fivela de aço forjado ou material de resistência e durabilidade equivalentes. Figura 27. Cinto de segurança para trabalho em altura Fonte: ABNT Figura 28. Modelo de cinto de segurança para trabalho em altura. Fonte: http://www.altiseg.com.br/equipamento.php?idequipamento=25 55 Em outros momentos da observação no local do referido evento, foram possíveis verificar outras situações de não atendimento as normas de segurança, conforme demonstra as figuras 29 e 30. Figura 29. Trabalhador sobre treliça sem uso de trava queda Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 Figura 30. Trabalhador sobre estrutura sem uso de trava queda Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 Nas situações anteriores, percebe-se que os trabalhadores estavam com o cinto de segurança e demais EPI’s relevantes ao trabalho (capacete, luvas e calçado apropriado). Entretanto, ao caminhar pela viga de treliça, o mesmo não estava conectado com um trava queda na estrutura ou em uma linha de vida, conforme exemplo na figura 31. Ou seja, caso o trabalhador se desequilibre, poderá ocorrer queda do mesmo em uma altura de cerca de 30 m. 56 Figura 31. Modelo de linha de vida flexível com trava quedas. Fonte: Catálogo de Sistemas de Linha de Vida (Honeywell,2012) Diferentemente das situações acima, durante as observações de campo no evento Live Music Rocks, onde o trabalho em altura era também realizado em uma estrutura semelhante ao evento anterior (Palco), os quesitos em relação ao trabalho em altura estavam, aparentemente, em concordância com os requisitos estabelecidos pela NR-35, conforme demonstrados nas figuras 32 e 33. Figura 32. Trabalhador em altura fazendo uso correto de EPI Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 57 Figura 33. Trabalhador sobre estruturas visualizando trabalho em altura Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 4.4.2. Trabalho com auxílio de cordas Para a situação a seguir (Figura 34) foi possível observar trabalhadores com tarefa relacionada a cenografia de ambientes, fazendo uso de corda para realização de trabalho em altura. Figura 34. Trabalhadores utilizando cordas para trabalho em altura Fonte: Arquivo SEL/SEGUR-3 58 O trabalho em altura com acesso por cordas foi promulgado pela Portaria MTE Nº 593, publicada em 30 de abril de 2014, tornando–se o Anexo I da NR-35, promulgada em 2012. Conhecida também como “Alpinismo Industrial”, o trabalho em cordas vem tornando-se cada vez mais presente em construções no Brasil, bem como no auxílio de serviços gerais como limpeza de vidraças em edifícios, por exemplo. Portanto, viu-se a necessidade de estabelecer requisitos de segurança, qualidade
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