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Geopolítica Geral e do Brasil Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Flávio Silva Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos A Geopolítica Norte-Americana 5 • Introdução • A geopolítica do Rimland • A influência dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial · Analisar a Geopolítica norte-americana no período entre a Segunda Guerra Mundial até os dias atuais, considerando as situações ocorridas durante a Guerra Fria e as relações de poder com várias nações do mundo. Esta unidade de Geopolítica tem o objetivo de destacar a atuação dos Estados Unidos da América no cenário mundial durante e após a Guerra Fria, procurando demonstrar as influências nos campos militar, econômico e espacial, bem como as consequências e reflexos nos dias atuais. É importante que você leia todo o material teórico com atenção e assista às videoaulas, para que possa construir conhecimentos acerca do tema. Ao final, as referências bibliográficas poderão ser utilizadas, caso queira, para que você se aprofunde no assunto. Lembre-se também de que esta disciplina faz parte da grade curricular do seu curso; portanto, é importante ao seu processo de formação. A Geopolítica Norte-Americana 6 Unidade: A Geopolítica Norte-Americana Contextualização Os EUA e sua influência sobre o mundo. A ideologia norte-americana é vigorosamente divulgada dentro e fora dos EUA por uma imensa máquina de produção e difusão de entretenimento. Filmes, programas de TV, livros, revistas, jornais, games, histórias em quadrinhos e produtos industriais relacionados se encarregam de difundir as ideias básicas da ideologia norte-americana. Entre essas ideias, destacam-se: a superioridade moral dos EUA e seu poder militar insuperável; a incrível inteligência e adaptabilidade dos norte-americanos em situações limite (guerras, catástrofes, epidemias, entre outras) e sua bondade inerente; a missão civilizatória dos EUA e seu destino manifesto; o culto das armas e a vitória do capitalismo; os benefícios do Estado mínimo e a generosidade nata do povo norte-americano; a moral protestante e o trabalho duro reconhecido. (Fonte: RIBEIRO, Fábio de Oliveira. Ideologia e sistema ideológico norte-americano. Texto publicado em 29/12/12. Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/red/2012/12/515134.shtml. Acesso em: 16 jan. 2015. Adaptado). 7 Introdução “A América para os americanos” (Monroe, 1823). Com essa frase ou slogan, pode-se ter uma ideia da doutrina criada pelo então presidente norte-americano James Monroe, que estabelecia como prioridade em sua política externa a ampliação da influência dos Estados Unidos sobre os países do continente americano. Até a primeira metade do século XX, os Estados Unidos garantiram sua hegemonia nas Américas, no entanto com a nova configuração geopolítica do planeta, no pós-Segunda Guerra, os norte-americanos precisaram reformular sua política externa a fim de fazer frente à expansão do socialismo no mundo. 8 Unidade: A Geopolítica Norte-Americana Como vimos na primeira unidade, o raciocínio do Rimland compreendia uma situação em que os Estados Unidos da América deveriam defender sua soberania e, para isso, deveria ser contida qualquer expansão da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas para a periferia da Eurásia, tanto por terra quanto pelo mar, já que essa expansão, se ocorresse, significaria o controle da Eurásia e, portanto, a possibilidade do controle do mundo. O raciocínio de Spykman considerava que os Estados Unidos deveriam promover a divisão e o equilíbrio dos poderes na Europa e na Ásia, assegurando, assim, sua hegemonia no hemisfério ocidental. Tal raciocínio levou Spykman a ser o principal mentor da grande estratégia dos Estados Unidos em relação à política mundial. A geopolítica do Rimland Conhecendo um pouco mais sobre a geopolítica do Rimland. Na concepção do geógrafo americano, as linhas mestras da política internacional poderiam ser resumidas em duas grandes variáveis. Se a Europa e a Ásia fossem dominadas por um único poder ou por uma constelação de poderes, acumulariam uma força não compensada que poderia projetar-se no Atlântico e no Pacífico e, num movimento de pinças, cercar o hemisfério ocidental. Se, ao contrário, fossem mantidos uma divisão e um equilíbrio de poderes tanto na Europa como na Ásia, os Estados Unidos deteriam um excedente de poder em condições de projetar-se nos dois oceanos e cercar ambas as pontas da Eurásia [...]. O que estava em jogo era o equilíbrio de forças não em escala hemisférica, mas mundial. Em resumo: a hegemonia seria conquistada por uma potência ou coalizão que conseguisse acumular uma margem de poder residual que pudesse ser aplicada no exterior para cercar a outra ilha-continente. [...] Na hipótese da unificação das bordas da Eurásia por dois grandes sistemas imperiais, a única possibilidade de defesa do hemisfério ocidental seria, segundo Spykman, a integração política e econômica do continente americano sob liderança dos Estados Unidos. Apenas a organização de uma economia continental autárquica e centralmente coordenada, protegida por uma linha de defesa terrestre e aérea, apoiada por sua vez numa rede de bases avançadas insulares, poderia oferecer uma resistência eficaz ao cerco estratégico teuto-nipônico. A panregião de Spykman abarcaria o grande espaço intercontinental que se estende do Alasca até a Patagônia e do Atlântico ao Pacífico. Com sua diversidade étnica e climática, sua gama de matérias-primas e recursos minerais, essa nova entidade seria regida por um superestado que, do alto de seu poderio industrial, financeiro e militar, gerenciaria, de Washington, uma economia autossuficiente e regionalmente integrada. [...]. Na América, as condições geopolíticas específicas inviabilizavam a aplicação do princípio do equilíbrio de poder. [...]. Outro objetivo basilar da estratégia americana deveria ser a organização de poderes divididos e equilibrados na Eurásia. As forças reciprocamente compensadas tanto na Europa como na Ásia não disporiam de fôlego para acumular uma massa de poder adicional que, na ausência de um contrapeso, pudesse projetar-se livremente na política mundial. No tabuleiro geopolítico das duas bordas da Eurásia, o equilíbrio de poder criaria uma situação ideal, na qual as forças conflitantes se neutralizariam mutuamente. Esse poder devidamente compensado não disporia de recursos excedentes que pudessem colocar em perigo a segurança e os interesses estratégicos dos Estados Unidos. Texto extraído integralmente da publicação: Mello, Leonel Itaussu Almeida. Quem tem medo da Geopolítica? São Paulo: Hucitec; Edusp, 1999, p. 103, 104, 112, 113 e 115. 9 A influência dos Estados Unidos Após a Segunda Guerra Mundial Após o fim da Segunda Guerra Mundial, a situação dos Estados Unidos era a mais “positiva” e favorável, comparada às demais situações de todas as outras grandes potências na época, tornando-se o grande fornecedor de capital necessário, não só à reconstrução de países como a Alemanha e o Japão, derrotados na guerra, como também aos países aliados, que, apesar de vitoriosos com o resultado da guerra, também tiveram a necessidade de ajuda financeira. Diante desse novo cenário, os Estados Unidos, à época, passavam a assumir a função de guardiões do ocidente e de sua liberdade, além do sistema capitalista, alterando sua responsabilidade perante as demais nações e, por consequência, toda a geopolítica do mundo. Já os demais países, como Inglaterra, Alemanha (Ocidental e Oriental) e França não tinham muito o que fazer, pois se tornaram dependentes de outra nação, ao contrário do que ocorrera em outras épocas. Em julho de 1944, foi realizada a Conferência de Bretton Woods, na cidade norte-americana de New Hampshire, em que os 44 países participantes propuseram a implementação de uma nova ordem econômica, visando desenvolver e estabilizar o sistema capitalista e reconstruir a economia mundial.Nessa ocasião, com a liderança dos Estados Unidos, foram criados o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, que depois veio a ser o Banco Mundial, e o Fundo Monetário Internacional, além de ter sido definido o padrão monetário “dólar-ouro”, que consistia em uma situação em que o Banco Central norte-americano (Federal Reserve) garantia a paridade entre US$ 35,00 e 31,1 gramas de ouro (onça troy) para quem desejasse fazer a troca de dólar por ouro. Como resultado, houve um aumento na economia dos Estados Unidos. No entanto, na década de 1960, com os constantes gastos com a corrida armamentista, desequilíbrio na balança comercial e sucessivos déficits orçamentários, a economia norte-americana começou a entrar em crise. O Fundo Monetário Internacional, em uma reunião ocorrida em 1973, decidiu pôr fim no padrão “dólar-ouro”, possibilitando aos Estados Unidos a emissão de moeda sem o lastro do outro, tendo-se como consequência a desvalorização do dólar perante outras moedas circulantes. Já o Banco Mundial, em seu objetivo inicial, destinava-se à ajuda aos países da Europa destruídos pela guerra. No entanto, com o passar dos anos, passou a atuar também no financiamento de infraestrutura necessária nos países subdesenvolvidos (do Terceiro mundo). Os Estados Unidos lançaram também um programa de recuperação europeia, conhecido como Plano Marshall. Além da questão da recuperação, per estar inserido no contexto da Guerra Fria, o plano também tinha outro objetivo: tentar frear a expansão da URSS e do domínio comunista pelo planeta, e era parte da doutrina que procurava impedir a expansão do comunismo pelo mundo, chamada de Doutrina Truman. O programa ficou conhecido popularmente como Plano Marshall, em razão do Secretário de Estado dos Estados Unidos, chamado George Marshall, ser seu idealizador. O objetivo do plano era a reconstrução e o auxílio econômico para os países europeus que estavam destruídos após a Segunda Guerra, tendo destinado, aproximadamente, 13 bilhões de dólares em quatro anos aos países que aceitaram a ajuda. Como resultado, suas economias cresceram muito mais do que os índices registrados antes da Segunda Guerra Mundial e os Estados Unidos, por sua vez, ampliaram e consolidaram sua hegemonia e sua influência, não só sobre os países europeus, impondo seus princípios, como também a vários países dos outros continentes, barrando também a expansão do comunismo. 10 Unidade: A Geopolítica Norte-Americana Figura 1 – Países beneficiados pelo Plano Marshall na Europa (1948-1952) Importante! Sabe o que foi a Doutrina Truman? A Doutrina Truman foi estabelecida pelo Presidente norte-americano Harry S. Truman e previa que os Estados Unidos prestariam apoio político, militar e de assistência econômica a todas as nações democráticas sob a ameaça das forças autoritárias externas ou internas. A Doutrina Truman, efetivamente, reorientou a política externa americana para possíveis intervenções em conflitos distantes e, assim, não permitir a expansão forçada de totalitarismo soviético em nações livres e independentes. Fonte: U.S. Department of State – Office of the Historian - MILESTONES: 1945–1952: The Truman Doctrine, 1947. Disponível em: https://goo.gl/Ny8Tqx. Acesso em: 26 nov. 2014. Na década de 1950, com a posição geopolítica de hegemonia adotada pelos Estados Unidos, através da própria influência cinematográfica de Hollywood, a sociedade norte-americana era vista como uma sociedade evoluída, com bens e equipamentos técnicos avançados. O desenvolvimento do capitalismo norte-americano se dava também através da ampliação de suas empresas multinacionais em outras nações, o que lhe propiciou um acelerado crescimento econômico, que, por sua vez, foi o motor do desenvolvimento norte-americano e, obviamente, produziu a modernização de sua produção industrial e o processo de mecanização agrícola. Já na década de 1960, os Estados Unidos veem em seu território a ascensão na luta pelos direitos civis nos discursos do Presidente John Fitzgerald Kennedy ou nos sermões do Reverendo Martin Luther King ou, ainda, nas manifestações da comunidade negra. Kennedy adotou a política social e econômica conhecida como Nova Fronteira 1, buscando a justiça 1 A política denominada Nova Fronteira, de Kennedy, foi composta por várias propostas que incluíam benefícios aos cidadãos norte-americanos em relação à melhoria das condições nas áreas da saúde, previdência e educação, além de melhores condições de igualdade e de justiça social. Fonte: Wikimedia Commons 11 social para os cidadãos norte-americanos. No entanto, em relação à política externa, iniciou uma intervenção militar no Vietnã, que resultou em uma guerra que se arrastou por anos. Em relação a Cuba, forneceu treinamento a exilados cubanos a fim de deporem o presidente Fidel Castro, mas acabou por gerar o incidente da Baía dos Porcos 2, resultando na definitiva aproximação de Cuba da URSS. Na política externa, a fim de minimizar o incidente com Cuba, Kennedy firmou a chamada Aliança para o Progresso, em que promovia ajuda econômica aos países pobres da America Latina, além de criar a Peace Corps, que consistia no envio de jovens americanos para fazer o trabalho de desenvolvimento econômico e social (em excursões de 2 anos) nas áreas de maior necessidade no Terceiro Mundo, com o objetivo de que, segundo consta documentado no Departamento de Estado dos EUA, esses jovens, além de conhecerem sobre o mundo, pudessem promover uma mudança positiva nesses locais. No dia 25 de maio de 1961, o presidente Kennedy afirmou que os EUA enviariam um homem à lua até o final da década. Em 1963, Kennedy propôs, na assembleia da ONU, que a URSS e os EUA cooperassem mutuamente para conseguir enviar naves tripuladas à lua, o que foi rejeitado naquele momento pelo premiê soviético Nikita Khrushchev, que, no entanto, aceitou a proposta mais tarde. Já em outubro de 1962, aviões de espionagem norte-americanos detectaram movimentos que indicavam a movimentação soviética para instalar uma base de mísseis nucleares em Cuba. Como consequência, as duas semanas seguintes foram de forte tensão entre os EUA e a URSS, com a advertência do presidente Kennedy a Moscou de que usaria armas nucleares caso os soviéticos insistissem na implantação da base de mísseis. Diante dessa situação, o presidente soviético Nikita Khrushchev recuou, tendo conseguido um compromisso do presidente norte-americano de que não haveria intervenção em Cuba. Em consequência ao fato ocorrido, os Estados Unidos iniciaram um bloqueio econômico e naval do país, a fim de asfixiar a economia cubana. Figura 2 - Imagem de base soviética, em 17/10/1962, com mísseis SS5 de longo alcance, em Cuba Fonte: imagohistoria.blogspot.com.br 2 O incidente na Baía dos Porcos, em Cuba, deu-se a partir da invasão da ilha por tropas dissidentes cubanas que haviam se deslocado para Miami após Fidel Castro ter assumido o poder, tendo sido, no entanto, a tentativa frustrada. 12 Unidade: A Geopolítica Norte-Americana Até o ano de 2007, o bloqueio econômico dos Estados Unidos a Cuba teria causado um prejuízo superior a US$ 82 bilhões àquele país. Importante! Entendendo um pouco mais sobre essa questão. Segundo o Relatório, elaborado em 2005, sobre o Bloqueio dos EUA contra a ilha e suas consequências, o prejuízo econômico direto causado ao povo cubano pela aplicação do bloqueio, “a partir de cálculos conservadores preliminares”, ultrapassa 82 bilhões de dólares, com uma média de 1.782 milhões de dólares anuais. “Essa cifra total não inclui os mais de 54 bilhões de dólares imputáveis a danos diretos ocasionados a objetivos econômicos e sociais do país, pelas sabotagens e ações terroristas estimuladas, organizadas e financiadas desde os Estados Unidos, nem o valor dos produtos deixados de produzir ou os prejuízos derivados das onerosas condições creditícias impostas a Cuba. O prejuízo ocasionado pelo bloqueio no último ano (2004) ultrapassou2,764 bilhões de dólares”, afirma o documento. A exigência da Assembleia Geral da ONU para se pôr um fim ao bloqueio, incluída em quinze resoluções adotadas com o apoio quase unânime dos estados membros das Nações Unidas, tem sido ignorada sistematicamente pelo governo dos EUA. Fonte: Matéria escrita por Marco Aurélio Weissheimer para a publicação Carta Maior. Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Bloqueio-economico-contra-Cuba-completa-45-anos/6/12192. Acesso em 02 dez. 2014. Reproduzido integralmente. Com o assassinato do presidente Kennedy, ocorrido em Dallas, Lyndon Johson assume a presidência e implanta um programa denominado “A Grande Sociedade”, que consistia em uma sociedade reconciliada, além do progresso, não conseguindo, no entanto, acabar com as questões relacionadas à pobreza e de segregação racial. Em paralelo, essa foi a época em que os Estados Unidos mais se expandiram economicamente após a Segunda Guerra, que perdurou até o início da década de 1970, quando se iniciou a perda da concorrência de seus produtos para os japoneses e europeus. Em 1968, a nave Apollo 8 realizou o primeiro voo tripulado em órbita lunar. Em meio à crise, em 1969 assume o presidente Richard Nixon, que reestabelece relações diplomáticas com a China e promove a aproximação da União Soviética. Ainda em 1969, os americanos Neil Armstrong e Edwin “Buzz” Aldrin, astronautas da Apollo 11, chegam à lua e marca-se mais um passo na corrida espacial. No campo internacional, em 1979, sob a administração do presidente Gerald Ford, o líder iraniano, o xá Mohammed Reza Pahlevi, que era aliado político dos Estados Unidos na região, foi retirado do poder pelo líder fundamentalista islâmico aiatolá Ruhollah Khomeini, além de ter havido a tomada da embaixada dos Estados Unidos no Irã e a manutenção de dezenas de cidadãos norte-americanos como reféns por mais de um ano. Em abril de 1980, no entanto, o governo norte-americano fez uma tentativa de resgatar os reféns, o que, de forma desastrosa, resultou na queda de dois helicópteros no deserto iraniano, promovendo o agravamento da crise entre os dois países. Em julho de 1975, os soviéticos e os norte-americanos criaram um projeto conjunto de missão espacial tripulada chamado Apollo-Soyuz Test Project 3, encerrando, assim, o período da corrida espacial. 3 O projeto tratava-se do transporte de um módulo de acoplagem, por uma espaçonave norte-americana que, por sua vez, permitiu sua ligação com a espaçonave russa Soyuz. 13 O então presidente Jimmy Carter, em 1977, assinou o tratado em que assegurou, até 1999, aos Estados Unidos o controle do Canal do Panamá. Mediou os encontros entre o Egito e Israel, de que resultaram os Acordos de Paz de Camp David, um momento destacado do complexo processo de paz no Médio Oriente. No entanto, quando a União Soviética invadiu o Afeganistão, Carter impediu a participação dos esportistas norte-americanos nos Jogos Olímpicos de Moscovo. Figura 3 - Estrutura do Canal do Panamá No ano de 1981, o presidente Ronald Reagan assume a Casa Branca, com a política de valorização dos valores tradicionais norte-americanos. No campo estratégico militar, lança um programa espacial antimísseis, que ficou conhecido como “Guerra nas Estrelas”. Em relação à política internacional, os norte-americanos adotam a Doutrina Reagan4 (criada pelo próprio presidente), em que as ações tinham como objetivo a redução da influência ideológica dos soviéticos através do investimento em grupos de oposição, além de tentar promover uma abertura de portas para o capitalismo. O resultado disso foi que, pelo fato de ter havido ajudas financeiras e militares, do ponto de vista técnico, a grupos anticomunistas, com o fim da Guerra Fria, esses grupos promovem ações terroristas contra os norte-americanos. Um exemplo nítido dessa situação pode ser observado no Afeganistão. Durante a década de 1980, os EUA financiaram armamentos para Osama Bin Laden e o Talibã lutarem contra os soviéticos e, atualmente, esses mesmos armamentos são utilizados contra os norte-americanos. 4 A Doutrina Reagan foi uma estratégia orquestrada e administrada pelo próprio presidente, na qual os Estados Unidos contribuíam com guerrilheiros e movimentos de resistência que se posicionavam contra governos soviéticos e comunistas em países da Ásia, África e América Latina. 14 Unidade: A Geopolítica Norte-Americana Figura 4 – Momento em que o voo 175 da United Airlines se chocou contra o World Trade Center Fonte: imagohistoria.blogspot.com.br No dia 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos da América, sob a administração do presidente George W. Bush, sofreram o maior ataque terrorista de sua história, com dois aviões de passageiros que foram desviados da sua rota e colidiram intencionalmente com as duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, que desabaram. Um terceiro avião foi também desviado da sua rota e colidiu com o Pentágono, em Washington, provocando uma forte explosão e danificando parte da edificação. Outro avião foi também desviado, mas acabou não conseguindo atingir seu objetivo. Tal situação fez com que os Estados Unidos, com o apoio da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), criassem uma operação antiterrorista, com a invasão do Afeganistão, em que bases militares do Talibã começaram a ser bombardeadas, derrotando oficialmente o grupo terrorista em princípios de dezembro de 2001, com a prisão, sem julgamento, de vários combatentes afegãos na base militar de Guantánamo. Osama Bin Laden, no entanto, foi localizado e morto por tropas especiais dos EUA em 1º de maio de 2011, na região do Paquistão, próxima à fronteira com o Afeganistão. Nunca algum órgão de imprensa recebeu as fotos feitas pelos soldados norte-americanos de Bin Laden morto, pois se especula que ele tenha sido alvejado por mais de 100 tiros. 15 Em março de 2003, Bush ordenou uma invasão ao Iraque, sob o pretexto de que o então presidente Saddam Hussein escondia armamento proibido, de destruição em massa - armas químicas e biológicas. Apesar de na invasão daquele país pelas tropas norte-americanas e britânicas não terem sido encontradas armas de destruição em massa, as tropas internacionais mantiveram-se no local na tentativa de manter a paz, mas vários ataques terroristas e raptos de estrangeiros ameaçaram a sua intervenção. Contudo, George W. Bush alegou a continuidade com a política de guerra contra o terrorismo. Figura 5 - Tropas americanas no Kuait se preparam para cruzar a fronteira do Iraque em 20/03/2003 Fonte: imagohistoria.blogspot.com.br Barack Obama, democrata e sucessor de Bush, que era republicano, desde o início de seu mandato adotou a premissa de se distanciar de seu antecessor no que tange à política externa, o que não significa dizer que os Estados Unidos abandonaram sua ideologia geopolítica. Pode-se considerar que, quando comparado ao seu antecessor, Obama adotou um perfil mais diplomático, no entanto sem abandonar a ideologia geopolítica de liderança. 16 Unidade: A Geopolítica Norte-Americana Figura 6 – Concentração de Forças ao redor da Síria (Agosto, 2013) Fonte: imagohistoria.blogspot.com.br Um exemplo dessa situação ocorreu na crise da Síria, resultado de uma guerra civil entre o governo sírio e rebeldes que ocorre desde 2011. 17 O presidente da Rússia, Vladimir Putin, elogiou [...] a Síria por anunciar a adesão ao tratado internacional contra armas químicas, afirmando que a medida mostra a disposição de Damasco para resolver o conflito no país. O embaixador sírio na ONU, Bashar Já’afari, anunciou na noite anterior a adesão plena do seu país ao acordo, datado de 1997. [...] A medida estava prevista em uma proposta russa que coloca o arsenal químico sírio sob controle internacional, poupando assim o país de uma ação militar internacional liderada pelos Estados Unidos. Os norte-americanos afirmam que a intervenção seria uma represália pelo suposto ataquecom gás sarin em 21 de agosto, a quem acusam o governo – Damasco nega essa versão dos fatos e culpa a oposição pelo ataque. (Fonte: UOL NOTÍCIAS: Síria assina tratado contra armas químicas e Putin fala em “intenção séria”. Disponível em: http://goo.gl/RH93fn. Acesso em: 02 dez. 2014). Em um primeiro momento, a administração americana de Obama dispôs-se a intervir militarmente no conflito, mantendo a linha de trabalho de seus antecessores diretos. No entanto, nesse cenário, houve uma situação diferenciada: o presidente russo Vladimir Putin, em uma jogada diplomática, acabou por criar uma situação constrangedora ao governo norte- americano, que, por sua vez, viu-se obrigado a aderir à proposta: Neste caso, a dominação estritamente coercitiva, marca da política externa de Bush, não obteria o mesmo êxito tento em vista a falta de poder consentido com o qual os Estados Unidos convivem. O país, portanto, precisa se reinventar no longo século XXI que se anuncia, seja compartilhando poder e negociando sua acomodação a uma nova ordem, como fez a Grã-Bretanha do pós- Segunda Guerra, ou criando um fato novo – uma nova rodada de inovações tecnológicas, por exemplo – que lhe proporcionem uma nova rodada de hegemonia. (OLIVEIRA, 2014). Diante do que expõe a autora, a política externa estadunidense precisa ser reinventada, até mesmo em uma alusão cíclica da história, que, em outra época, fez-se necessária a outras hegemonias. 18 Unidade: A Geopolítica Norte-Americana Material Complementar Leituras: O autor Luiz Alberto Moniz Bandeira, em Geopolítica e política exterior: Estados Unidos, Brasil e América do Sul, aborda questões geopolíticas em quatro artigos. No entanto, a atenção relacionada ao tema que você estudou pode ser complementada com a leitura do primeiro desses artigos: “Dimensão Estratégica e Política Externa dos Estados Unidos”, que apresenta as ações recentes da política externa dos Estados Unidos da América e suas razões impregnadas da necessidade de energia, em especial do petróleo. Trata-se de um material complementar interessante para não só complementar o conhecimento, mas também como objeto de reflexão. Para baixar a publicação, acesse: http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/0578.pdf BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Dimensão estratégica e política externa dos Estados Unidos. In: Geopolítica e política exterior: Estados Unidos, Brasil e América do Sul. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2009. Disponível em: <http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/0578.pdf>. Acesso em 16 jan. 2015. 19 Referências COSTA, Wanderley Messias da. Geografia Política e Geopolítica: discursos sobre o território e o poder. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1992. MELLO, Leonel Itaussu Almeida. Quem tem medo da Geopolítica? São Paulo: Hucitec; Edusp, 1999. OLIVEIRA, Ana Carolina Rosso de. O declínio norte-americano: sinais que vêm do Oriente Médio. Trabalho apresentado no V Congreso Uruguayo de Ciencia Política. Montevideo, Uruguay, 2014. The Cold War (Reading Like A Historian). Disponível em: https://www.blendspace.com/lessons/eyp5A1ehs1BY3w/the-cold-war- reading-like-a-historian. Acesso em 26 nov. 2014. Treze dias de angústias. Revista Veja. São Paulo: Editora Abril, Outubro de 1962. UNITED STATES DEPARTMENT OF LABOR. Chapter 6: Eras of the New Frontier and the Great Society, 1961-1969. Disponível em: http://www.dol.gov/dol/aboutdol/history/ dolchp06.htm. Acesso em: 26 nov. 2014. UNITED STATES DEPARTMENT OF STATE. Office of the Historian: Alliance for Progress and Peace Corps, 1961–1969. Disponível em: https://history.state.gov/milestones/1961-1968/ alliance-for-progress. Acesso em: 26 nov. 2014. UNITED STATES DEPARTMENT OF STATE. Office of the Historian: The Truman Doctrine, 1947. Disponível em: https://history.state.gov/milestones/1945-1952/truman- doctrine. Acesso em: 26 nov. 2014. UOL NOTÍCIAS. Síria assina tratado contra armas químicas e Putin fala em “intenção séria”. Operamundi, 13 set. 2013. Disponível em: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/31192/ siria+assina+tratado+contra+armas+quimicas+e+putin+fala+em+intencao+seria.shtml. Acesso em: 02 dez. 2014. WEISSHEIMER, Marco Aurélio. Bloqueio econômico contra Cuba completa 45 anos. Carta Maior, 03 fev. 2007. Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Bloqueio- economico-contra-Cuba-completa-45-anos/6/12192. Acesso em: 02 dez. 2014. 20 Unidade: A Geopolítica Norte-Americana Anotações
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