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CITOPLASMA MEMBRANA PLASMÁTICA Cada célula é delimitada por uma membrana plasmática. Elas são compostas por duas camadas de fosfolipídios, com seus grupamentos não polares (hidrofóbicos) voltados para o centro da membrana, enquanto os grupamentos polares (hidrofílicos) estão nas duas superfícies da membrana (aspecto trilaminar). Há ainda a inserção de proteínas que atuam no: (1) transporte de substâncias, (2) como receptor de moléculas sinalizadoras e (3) estrutural. Tais proteínas podem se organizar de forma integral, incorporadas a estrutura (muitas vezes, transmembrana), e, periféricas quando fracamente associadas. A superfície externa da membrana é recoberta pelo glicocálix, visível apenas no microscópio eletrônico. Esse é constituído pelas cadeias glicídicas de glicoproteínas e glicolipídios presentes na membrana e por glicoproteínas e proteoglicanos secretados pela célula. O glicocálice participa do reconhecimento entre as células e da união das células umas com as outras e com as moléculas extracelulares. Agora, passamos para o interior do citoplasma e vamos abordar a histologia das organelas: MITOCÔNDRIA São esféricas ou alongadas e tendem a se acumular nos locais do citoplasma em que o gasto de energia é maior. Essas organelas transformam a energia química dos metabólitos em energia utilizável pela célula. Mostram, ao microscópio eletrônico, que são constituídas por uma membrana externa e outra interna (essa apresenta projeções para o interior – as cristas mitocondriais). As duas delimitam dois compartimentos: o espaço intermembranoso (entre ambas); e a matriz mitocondrial (limitado pela membrana interna). RIBOSSOMOS São pequenas partículas elétron-densas. Os polirribossomos são grupos de ribossomos unidos por uma molécula de RNA mensageiro. Os polirribossomos que traduzem RNA que codificam proteínas para serem segregadas nas cisternas do retículo endoplasmático granuloso. RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO GRANULOSO (REG) É abundante nas células especializadas na secreção de proteínas, como nos fibroblastos (colágeno). O RER consiste em cisternas saculares ou achatadas, limitadas por membrana e contínua com a membrana externa do envelope nuclear. Possuem polirribossomos na superfície externa de sua membrana. Notar ribossomos aderidos a membrana do RER RETÍCULO ENDOPLASMÁTICO LISO (REL) Não apresentam ribossomos, e sua membrana se dispõe sob a forma de túbulos que se unem. A organela participa de diversos processos funcionais, como: produção de esteroides nas células da adrenal; oxidação, metilação de substâncias nos hepatócitos; podendo, nesses casos, ocupar boa parte do citoplasma. Nas células secretoras, o material é condensado em vesículas grandes, elétrondensas e envoltas por uma membrana, formando as vesículas de secreção. COMPLEXO DE GOLGI Vesículas achatadas e empilhadas, com as porções laterais dilatadas. É uma estrutura polarizada: sua superfície cis recebe as vesículas que brotam do retículo endoplasmático, enquanto a superfície trans origina vesículas onde o material deixa o Golgi. É responsável por: completar as modificações pós-tradução, empacotar e endereçar moléculas sintetizadas pela célula, encaminhando-as, para vesículas de secreção, lisossomos ou para a membrana celular. LISOSSOMOS Vesículas delimitadas por membrana, contendo enzimas hidrolíticas em um pH ácido, com a função de digestão intracitoplasmática, presente especialmente em células fagocitárias. Lisossomos são esféricos, com aspecto granular nas micrografias eletrônicas. Existe ainda a denominação de lisossomo primário (que não participaram da digestão) e secundário (que já se fundiu a fagossomos, vesículas que se formam pela fagocitose, logo, que já realizaram o processo digestivo). PEROXISSOMOS Peroxissomos são organelas esféricas, limitadas por membrana. São responsáveis por oxidar substratos orgânicos com auxílio da enzima catalase, contida em seu interior. CITOESQUELETO Rede complexa de microtúbulos, filamentos de actina (microfilamentos) e filamentos intermediários. Essas proteínas estruturais determinam a forma das células e possibilitam os movimentos tanto de organelas quanto da própria célula. • Microtúbulos: presentes no citoplasma e em prolongamentos celulares, como os cílios. É formada por heterodímeros de tubulina. São rígidos e desempenham papel significativo no desenvolvimento e na manutenção da forma das células, sendo importantes para a constituição de corpúsculos basais, centríolos, cílios e flagelos. • Microfilamentos de actina: na maioria das células, a actina constitui uma rede no citoplasma e forma o córtex celular, participando da endocitose e exocitose. Também se encontram associados a organelas e vesículas possibilitando o transporte de substâncias (podendo se reorganizar com facilidade). São importantes ainda para a contração da célula muscular, sendo esses estruturalmente estáveis. • Filamentos intermediários: constituídos por diversas proteínas: vimentina, queratina, desmina, proteína fibrilar ácida da glia e neurofilamentos. Micrografia eletrônica colorida pelo computador mostrando: aparelho de Golgi em amarelo, vesículas citoplasmáticas como pequenos pontos em roxo claro; grânulos de secreção em cinza; núcleo em roxo escuro, mitocôndrias em vermelho; retículo endoplasmático em ciano e citoplasma em verde. NÚCLEO O núcleo é o centro de controle de todas as atividades celulares porque contém, nos cromossomos, todo o genoma (conjunto da informação genética codificada no DNA) da célula. MEMBRANA NUCLEAR Conteúdo do núcleo é separado do citoplasma pelo envoltório nuclear, porém tal estrutura é pouco visível ao microscópio óptico, sendo observado principalmente a camada de cromatina que o reveste internamente. Ao microscópio eletrônico percebemos que este é constituído por duas membranas separadas por um espaço, formando a cisterna perinuclear. A membrana nuclear externa contém polirribossomos presos à sua superfície citoplasmática e é contínua com o RER. Já a membrana interna é associada à cromatina e à lâmina nuclear, constituída principalmente pelos filamentos intermediários, arranjados em uma rede. Em vários pontos, as membranas fundem-se em poros delimitados por complexos proteicos, os complexos de poro, cuja função é o transporte seletivo de moléculas. A lâmina nuclear está envolvida na organização nuclear, na regulação do ciclo celular, na diferenciação e na expressão de genes e na replicação e na transcrição do DNA. Serve de suporte para as membranas do envoltório nuclear e para a cromatina, de modo que estabiliza o envelope nuclear e apoia os cromossomos interfásicos. CROMATINA Podem ser identificados dois tipos de cromatina. A heterocromatina é elétrondensa, similar a grânulos, sendo bem visível no microscópio óptico. Ela é inativa porque a dupla hélice de DNA está compactada, impedindo a transcrição dos genes. A eucromatina aparece granulosa e clara, entre os grumos de heterocromatina, os filamentos de DNA não estão condensados e transcreve os genes. É uma cromatina ativa, sendo mais abundante nas células com alta síntese. A cromatina é constituída por duplos filamentos helicoidais de DNA associados a proteínas, principalmente histonas. O DNA e as histonas formam os nucleossomas. NUCLÉOLO É uma área não circundada por membrana, geralmente esférica, onde ocorre a produção dos ribossomos. Nele o DNA ribossômico (DNA) é transcrito em RNA, e este é envolvido por proteínas para formar as subunidades ribossômicas. Nas lâminas coradas, aparecem como formações intranucleares arredondadas, geralmente basófilas. Microscopia óptica de um neurônio, mostrando heterocromatina um núcleo, com regiões mais escurecidas e claras (e eucromatina), nucléolo bem delimitado (seta). Imagem obtida pela microscopia eletrônica, colorida por computaçãocom grande aumento no núcleo da célula; em roxo: há o envelope nuclear, com suas duas membranas a interna e a externa, essa última em contato com o RER (ribossomos representados pelos pontos em verde escuro. Imagem obtida pela microscopia eletrônica do núcleo de uma célula beta-pancreática, colorida por computação; em violeta percebe-se a heterocromatina; em roxo claro a eucromatina, em dourado o nucléolo. MÉTODOS DE ESTUDO EM HISTOLOGIA Histologia é o estudo das células e dos tecidos do corpo e de como essas estruturas se organizam para constituir os órgãos. • O instrumento mais usado no estudo de tecidos é o microscópio de luz por meio da preparação de cortes histológicos. • Na microscopia de luz a imagem se forma a partir dos raios luminosos de um feixe de luz que atravessam uma estrutura, em determinado corte histológico. Na confecção de uma lâmina, é necessário que o tecido seja finamente fatiado, processo chamado de corte histológico. Em seguida, passa-se para a etapa de fixação cujas finalidades envolvem: (1) evitar a digestão dos tecidos por enzimas existentes nas próprias células (autólise); endurecer os fragmentos; preservar a estrutura e a composição molecular dos tecidos. Ela pode ser feita por métodos químicos (mais frequentes) ou físicos (frequentemente, por congelamento rápido). Na fixação química os tecidos são imersos em soluções de agentes desnaturantes ou de agentes que estabilizam as moléculas ao formar pontes com moléculas adjacentes. Para obter secções delgadas, os fragmentos de tecidos e órgãos devem, após a fixação, ser infiltrados com substâncias que lhes proporcionem uma rigidez, em um processo chamado de infiltração. As substâncias mais utilizadas para esse fim são a parafina e resinas de plástico. OBSERVAÇÃO: O processo de impregnar os tecidos com parafina também pode ser chamado de embebição em parafina e geralmente é precedido por duas etapas: desidratação e clareamento. A última etapa no processo de fabricação de uma lâmina é a coloração. Para serem estudados ao microscópio, a maioria dos cortes histológicos devem ser corados, porque grande parte dos tecidos são incolores. A seletividade dos corantes para os componentes dos tecidos pode ser maior ou menor. Muitos corantes se comportam como substâncias de caráter ácido ou básico e tendem a formar ligações eletrostáticas com componentes ionizados. Os componentes dos tecidos que se coram bem com corantes básicos são chamados de basófilos, e os que têm grande afinidade por corantes ácidos, de acidófilos. O azul de toluidina, a hematoxilina e o azul de metileno são exemplos de corantes básicos. Os principais componentes dos tecidos que reagem com corantes básicos o possuem ácidos na sua composição - ácidos nucleicos, glicosaminoglicanos e glicoproteínas ácidas. Já os corantes ácidos (como eosina e fucsina ácida) coram principalmente os componentes acidófilos dos tecidos, por exemplo grânulos de secreção, proteínas citoplasmáticas e colágeno. A célula é formada por um núcleo inserido em um citoplasma. Em geral, os diversos componentes citoplasma não são vistos nos preparados comuns, corados pela hematoxilina-eosina. Assim, o citoplasma de uma forma geral, se aparenta rosado devido à presença de proteínas, sendo corado pela eosina (acidófilo), e, o núcleo aparece arroxeado pela presença de substâncias basófilas, como os ácidos nucleicos, sendo corados pela hematoxilina. Para os estudos histológicos existem diversos tipos de microscópios, porém, dois merecem uma descrição mais detalhada, são eles: MICROSCÓPIO DE LUZ (OU ÓPTICO) O microscópio de luz é composto de partes mecânicas e ópticas. O componente óptico consiste em três sistemas de lentes: condensador, objetivas e oculares. No caso das imagens projetadas na retina, a ampliação é calculada multiplicando-se o aumento da objetiva pelo aumento da ocular. A resolução do aparelho toma possível a obtenção de boas imagens aumentadas até 1.000 vezes, contudo, objetos menores (como a membrana da célula ou um filamento de actina) não podem ser distinguidos. MICROSCÓPIO ELETRÔNICO Existem dois tipos principais, os de transmissão e os de varredura, ambos se baseiam na interação entre elétrons e componentes dos tecidos. • Microscopia Eletrônica de Transmissão: sistema de produção de imagens que possibilita altíssima resolução permitindo a visualização de partículas ou moléculas isoladas. • Microscopia Eletrônica de Varredura: fornece imagens que se assemelham as tridimensionais, visualizando a superfícies de células, tecidos e órgãos. A maior parte das imagens discutidas no curso serão feitas com o auxílio do microscópio óptico. Contudo, algumas outras técnicas também são muito utilizadas e merecem destaque: IMUNOHISTOQUÍMICA/IMUNOCITOQUÍMICA Método que permite a localização de proteínas, pelo princípio das ligações entre antígeno- anticorpo, sendo muito utilizada no estudo de células neoplásicas. Uma molécula em uma célula ou em um corte de tecido pode ser detectada por meio de compostos que interagem especificamente e se ligam a molécula que queremos detectar. Esses compostos geralmente não têm cor e, para que possam ser vistos devem ser previamente acoplados a um marcador. Marcador é um composto visível por microscópio de luz ou eletrônica e, quando está acoplado a uma substância com afinidade específica por uma molécula, ela denuncia a presença dessa molécula. A Imunohistoquímica/ Imunocitoquímica é a metodologia que possibilita identificar, por meio de anticorpos, moléculas em cortes ou em células cultivadas. Nestas técnicas as células ou tecidos que se supõe conter uma determinada proteína são incubados em uma solução que contém anticorpo que reconhece esta proteína. Como o anticorpo não é visível por microscopia, suas moléculas devem ser inicialmente acopladas a um marcador. O anticorpo se liga especificamente à proteína e sua localização pode então ser evidenciada por microscopia de luz ou eletrônica, dependendo do marcador que foi acoplado ao anticorpo. RADIOAUTOGRAFIA Possibilita o estudo funcional de processos biológicos em cortes de tecidos pelo uso de radioatividade que sensibilizam emulsões fotográficas. IMUNOFLUORESCÊNCIA São usados corantes fluorescentes, como o alaranjado de acridina, que pode combinar-se com o DNA e o RNA. Assim, é possível identificar e localizar determinados componentes nas células por meio da técnica. • TECIDO EPITELIAL O tecido epitelial consiste é tecido avascular composto por células que cobrem as superfícies corporais externas, revestem as cavidades fechadas internas, formam a porção secretora das glândulas e algumas células especializadas atuam ainda como receptores para sensações especiais dos sentidos. As células do tecido epitelial se encontram intimamente apostas e se aderem entre si através de moléculas de adesão intercelulares específicas, além disso, elas também apresentam polaridade funcional e morfológica. Quando as células epiteliais não possuem uma superfície livre, elas são classificadas como tecidos epitelioides, que são característicos da maioria das glândulas endócrinas, como as células intersticiais de Leydig nos testículos, as células luteínicas do ovário, as ilhotas de Langerhans no pâncreas, o parênquima da glândula suprarrenal e o lobo anterior da hipófise. • CLASSIFICAÇÃO DO EPITÉLIO A classificação do epitélio se baseia no número de camadas celulares e no formato das células superficiais. Assim, o epitélio é descrito como simples, quando é formado por uma única camada de células, ou estratificado, quando possui duas ou mais camadas de células. Quando a largura da célula é maior que sua altura, ela é denominada pavimentosa; quando a largura, a profundidade e a altura são aproximadamente iguais, ela é denominada cuboide; e quando a altura da célula excede sua largura,ela é denominada colunar. Dessa forma, ao combinar o número de camadas de células e o formato da célula de superfície, surgem os diversos tipos de epitélios. Por exemplo, o epitélio estratificado pavimentoso consiste em um epitélio com mais de uma camada de células, sendo a camada superficial constituída por células pavimentosas ou simples. Em situações especiais é possível adicionar um terceiro elemento ao sistema de classificação, como a especialização do domínio apical da célula, por exemplo, o epitélio simples colunar ciliado apresenta a superfície apical das células com cílios. Ainda, no epitélio estratificado pavimentoso, as células superficiais podem ser queratinizadas ou não queratinizadas. Alguns epitélios necessitam de denominações especiais, como o epitélio pseudoestratificado e o epitélio de transição. O epitélio pseudoestratificado parece estratificado, porém, embora algumas células não alcancem a superfície livre, todas repousam sobre a membrana basal. O epitélio de transição, também chamado de urotélio, reveste o sistema urinário inferior, é encontrado desde os cálices menores do rim até a porção proximal da uretra e consiste em um epitélio estratificado com características morfológicas que permitem sua distensão. Nos vasos sanguíneos e linfáticos, o epitélio é denominado endotélio; nos ventrículos e átrios do coração, é denominado endocárdio; e o epitélio que cobre o conteúdo das cavidades fechadas do corpo é denominado mesotélio. Um epitélio pode exercer uma ou mais funções, dependendo dos tipos celulares que o compõem. As principais funções são secreção, absorção, transporte, proteção mecânica e função receptora. • POLARIDADE DA CÉLULA As células epiteliais apresentam um domínio apical, um domínio lateral e um domínio basal. Cada superfície celular apresenta características bioquímicas específicas que definem a polaridade funcional dos domínios celulares. 1) Domínio apical O domínio apical se localiza em direção à superfície exterior ou para o lúmen de uma cavidade ou tubo e permite que as células apresentem modificações estru- turais especiais de superfície para realizar funções específicas: microvilosidades, estereocílios e cílios. 1.1. Microvilosidades As microvilosidades consistem em projeções citoplasmáticas digitiformes que estão presentes na superfície apical da maioria das células epiteliais. Geralmente, o número e o formato das microvilosidades de determinado tipo celular indicam a capacidade absortiva da célula. Essas projeções contêm um núcleo de filamentos de actina que apresentam ligações cruzadas por diversas proteínas formadoras de feixes de actina. As extremidades espinhosas (positivas) são ancoradas à vilina, proteína formadora de feixe de actina localizada na extremidade da microvilosidade. O feixe de actina se estende para baixo até o citoplasma apical, onde interage com uma rede horizontal de filamentos de actina, a trama terminal, que se situa abaixo da base das microvilosidades. A trama terminal é formada por filamentos de actina estabilizados pela espectrina, que também ancora a trama terminal na membrana celular apical. Além disso, a presença de miosina II e a tropomiosina na trama terminal proporcionam capacidade contrátil à microvilosidade. 1.2. Estereocílios Os estereocílios consistem em microvilosidades longas e imóveis que podem ser encontrados no epidídimo, parte proximal do ducto deferente do sistema reprodutor masculino e nas células sensoriais (pilosas) da orelha interna. Assim como as microvilosidades, os estereocílios são sustentados por feixes internos de filamentos de actina unidos por ligações cruzadas pela fimbrina. As extremidades espinhosas (positivas) dos filamentos de actina estão orientadas na direção das extremidades dos estereocílios e as extremidades afiladas (negativas), na direção da base. Os estereocílios se desenvolvem a partir das microvilosidades pela adição lateral dos filamentos de actina ao feixe de actina e pelo alongamento dos filamentos de actina. Diferente das microvilosidades, uma proteína ligante de actina, a ezrina, ancora os filamentos de actina na membrana plasmática. Como os estereocílios podem ser facilmente danificados por estimulação excessiva, eles possuem um mecanismo molecular para renovar continuamente suas estruturas. 1.3. Cílios Os cílios são modificações comuns encontrados em quase todas as células do organismo. São semelhantes a pelos da membrana plasmática apical contendo um axonema, uma estrutura interna constituída por microtúbulos. O axonema se estende a partir do corpúsculo basal, um centro organizador de microtúbulos derivado do centríolo, localizado na região apical das células ciliadas. Os cílios, os corpúsculos basais e as estruturas associadas constituem o aparelho ciliar da célula. Os cílios são classificados em móveis, primários ou nodais. Na árvore traqueobrônquica, os cílios móveis possuem a função de varrer o muco e o material particulado aprisionado na direção da orofaringe, na qual são deglutidos com a saliva. Os cílios primários funcionam como quimiossensores, osmossensores e mecanossensores que atuam na percepção de toque leve, odores e sons em diversos órgãos do corpo. Os cílios nodais são encontrados no embrião do disco embrionário bilaminar devido à gastrulação, principalmente na área do nó primitivo, onde possuem participação no desenvolvimento embrionário inicial. Sua diferença com relação aos cílios primários é a capacidade de realizar movimento rotacional. 1.4. Ciliogênese A primeira fase da formação do aparelho ciliar das células em diferenciação envolve a geração de diversos centríolos, o que ocorre na via centriolar ou mais comumente na via acentriolar, na qual os centríolos são formados sem a participação dos centríolos existentes. Depois do seu alinhamento perpendicular e a sua fixação à membrana apical da célula através das lâminas alares, os centríolos assumem a função dos corpúsculos basais. A etapa seguinte envolve a formação das estruturas remanescentes associadas ao corpúsculo basal, como os pés basais e as radículas estriadas. 2) Domínio lateral O domínio lateral das células epiteliais se encontra em contato com os domínios laterais das células vizinhas. Assim como os outros domínios, o domínio lateral também apresenta proteínas únicas: as moléculas de adesão celular (CAM). A composição molecular de lipídios e proteínas que formam a membrana lateral é diferente da composição da membrana apical das células. Em alguns epitélios, a membrana da superfície lateral pode formar pregas e prolongamentos, invaginações e evaginações. Os componentes estruturais específicos que constituem a barreira e o dispositivo de fixação são denominados complexo juncional. Existem 3 tipos de complexos juncionais: junções de oclusão, junções de adesão e junções comunicantes. As junções de oclusão são impermeáveis e permitem que as células epiteliais funcionem como uma barreira. Assim, através de sua capacidade de limitar o movimento de água e de outras moléculas através do espaço intercelular, elas mantêm a separação físico-química dos compartimentos teciduais. Os filamentos da zônula de oclusão correspondem à localização das fileiras de proteínas transmembrana. Três grupos principais de proteínas transmembrana são encontrados na zônula de oclusão: a ocludina, as claudinas e a molécula de adesão juncional. As junções de adesão são responsáveis pela estabilidade mecânica das células epiteliais através da ligação com o citoesqueleto da célula adjacente. Elas também podem ser encontradas no domínio basal da célula epitelial. Dois tipos de junções de adesão intercelulares podem ser identificados na superfície lateral da célula: a zônula de adesão, que interage com a rede de filamentos de actina e a mácula de adesão ou desmossomo, que interage com os filamentosintermediários. As CAM são as proteínas transmembranas que formam parte da junção de adesão. Os domínios extracelulares das CAM interagem com domínios semelhantes pertencentes às CAM das células vizinhas. Por meio de sua conexão com o citoesqueleto, as CAM são capazes de controlar e regular diversos processos intracelulares associados à adesão celular, à proliferação celular e à migração das células. As principais famílias das CAM são as caderinas, integrinas, selectinas e a superfamília das imunoglobulinas. As junções comunicantes permitem a comunicação direta entre células adjacentes por difusão de pequenas moléculas, como íons, aminoácidos, açúcares, nucleotídeos, segundos mensageiros e metabólitos. As junções comunicantes são formadas por 12 subunidades da família da proteína conexina. 3) Domínio basal Próximo ao domínio basal das células epiteliais e do estroma do tecido conjun- tivo subjacente está presente a membrana basal, uma estrutura especializada. As junções entre a célula e a matriz extracelular realizam a ancoragem entre essas estruturas e são representadas por adesões focais e hemidesmossomos. 3.1. Estrutura e função da membrana basal A lâmina basal constitui o local de fixação estrutural para as células epiteliais suprajacentes e o tecido conjuntivo subjacente. Análises das lâminas basais derivadas dos epitélios de diversos locais indicam que elas são formadas por quatro grupos de proteínas: colágenos, lamininas, glicoproteínas e proteoglicanos. Pelo menos três tipos de colágeno estão presentes na lâmina basal, mas o principal é o colágeno do tipo IV. Dois tipos não fibrilares de colágeno, o colágeno do tipo XV e o colágeno do tipo XVIII também são encontrados na lâmina basal. As lamininas são moléculas de glicoproteína em formato de cruz compostas de três cadeias polipeptídicas, que estão envolvidas em muitas interações da célula com a matriz extracelular, além de desempenharem um importante papel no desenvolvimento, diferenciação e remodelação do epitélio. Os proteoglicanos consistem em um eixo de proteína ao qual se ligam cadeias laterais de glicosaminoglicanos, que são altamente hidratadas e apresentam alta carga negativa, sugerindo que os proteoglicanos atuam na regulação da passagem de íons através da lâmina basal. As fibrilas de fixação (colágeno do tipo VII) são geralmente encontradas em estreita associação a hemidesmossomos para fixação da lâmina basal ao tecido conjuntivo adjacente. Elas se estendem a partir da lâmina basal para as estruturas denominadas placas de fixação na matriz do tecido conjuntivo ou formam alças que retornam à lâmina basal. A lâmina basal atua como um importante fator regulador do comportamento celular tendo como principais funções: fixação estrutural, compartimentalização, filtração, suporte tecidual, regulação e sinalização. As células epiteliais são ancoradas na lâmina basal por junções entre a célula e a matriz extracelular, e a lâmina basal é fixada ao tecido conjuntivo subjacente por fibrilas de fixação e microfibrilas de fibrilina. Do ponto de vista estrutural, as lâminas basal e externa (denominação que a lâmina basal recebe em tecidos não epiteliais) separam e isolam o tecido conjuntivo dos epitélios, do tecido nervoso e do tecido muscular. O movimento de substâncias para dentro e para fora do tecido conjuntivo é regulado, em parte, pela lâmina basal, principalmente por meio de cargas iônicas e espaços integrados. 3.2. Junções entre a célula e a matriz extracelular A organização das células epiteliais depende do suporte garantido pela matriz extracelular sobre a qual se localiza o domínio basal das células. As duas principais junções de adesão que mantém a integridade dessa organização são as adesões focais e os hemidesmossomos. As adesões focais são responsáveis pela fixação dos feixes longos de filamentos de actina na lâmina basal. Elas desempenham um papel importante durante as alterações dinâmicas que ocorrem nas células epiteliais. A principal família de proteínas transmembrana envolvida nas adesões focais é a das integrinas. Os hemidesmossomos são encontrados em epitélios que necessitam de uma adesão forte e estável ao tecido conjuntivo, como a córnea, a pele e a mucosa da cavidade oral, esôfago e vagina. Ele é encontrado como se fosse metade de um desmossomo, por isso a denominação de hemidesmossomo. Os hemidesmossomos são encontrados na superfície basal da célula, onde fornecem maior adesão à lâmina basal. O hemidesmossomo, quando visto à microscopia eletrônica, exibe uma placa de fixação intracelular no lado citoplasmático da membrana basal formada por três principais proteínas: a plectina, que atua na ligação cruzada dos filamentos intermediários; a BP 230, que fixa os filamentos intermediários à placa de fixação intercelular; e a erbina, que medeia a associação da BP 320 às integrinas. Diferentemente do desmossomo, no qual as proteínas transmembrana pertencem à família das caderinas (moléculas dependentes de cálcio), a maioria das proteínas transmembrana encontradas no hemidesmossomo pertence à classe de receptores da matriz extracelular, as integrinas. Apesar de seus nomes semelhantes, os termos filamentos de fixação e fibrilas de fixação não descrevem a mesma estrutura. Os filamentos de fixação são formados principalmente por moléculas de laminina e de colágeno do tipo XVII e fixam a membrana celular basal das células epiteliais na lâmina basal subjacente. As fibrilas de fixação são formadas por colágeno do tipo VII e fixam a lâmina basal às fibras reticulares subjacentes. 3.3. Modificações morfológicas da superfície basal da célula Muitas células que transportam líquidos possuem pregueamentos na superfície basal da célula, que aumentam a área de superfície, o que permite a existência de mais proteínas de transporte e canais. As mitocôndrias estão geralmente concentradas nessa região basal para fornecer as necessidades energéticas para o transporte ativo. • GLÂNDULAS As glândulas são classificadas em dois grupos principais de acordo com o modo pelo qual seus produtos são liberados: as glândulas exócrinas, que secretam seus produtos diretamente ou através de ductos epiteliais conectados a uma superfície; e as glândulas endócrinas, que secretam seus produtos no tecido conjuntivo, a partir do qual entram na corrente sanguínea para alcançar as células-alvo. Os ductos das glândulas exócrinas podem transportar o material secretado em sua forma inalterada ou podem modificar a secreção, concentrando-a, adicionando ou reabsorvendo substâncias constituintes. As glândulas endócrinas não utilizam um sistema de ductos. Em alguns epitélios, células individuais secretam substâncias que não alcançam a corrente sanguínea, mas que afetam outras células de localização próxima, o que configura a sinalização parácrina. Outras células secretam moléculas que se ligam a receptores localizados na mesma célula que as libera, o que configura a sinalização autócrina. Em muitos casos, as moléculas de sinalização autócrinas iniciam vias de retroalimentação negativa para modular sua secreção. As células das glândulas exócrinas contêm três mecanismos básicos de liberação dos produtos secretores: secreção merócrina, secreção apócrina e secreção holócrina. A secreção merócrina, a mais comum, consiste em quando o produto secretor é transportado em vesículas até a superfície apical da célula, sofrem fusão com a membrana plasmática e liberam seu conteúdo. A secreção apócrina, encontrada na glândula mamária em lactação, em que o produto de secreção é liberado na porção apical da célula, circundado por uma fina camada de citoplasma envolta por membrana plasmática. A secreção holócrina, encontrada em glândulas sebáceas da pele, consiste em quando o produto de secreção em maturação se acumula dentro da célula, de modo que queela sofre destruição coordenada por vias de morte celular programada e libera todo o conteúdo no lúmen da glândula. As glândulas exócrinas são classificadas em unicelulares ou multicelulares. As unicelulares são as que o componente secretor consiste em células isoladas distribuídas entre outras células não secretoras, como as células caliciformes. As glândulas multicelulares são compostas de mais de uma célula e sua organização permite sua subclassificação de acordo com o arranjo das células secretoras e a presença ou não de ramificação dos ductos. O arranjo mais simples de uma glândula multicelular consiste em uma lâmina celular em que cada célula da superfície é uma célula secretora. Outras glândulas multicelulares formam invaginações tubulares a partir da superfície. As porções terminais da glândula contêm as células secretoras e a porção da glândula que conecta as células secretoras com a superfície consiste no ducto. Se o ducto não for ramificado, a glândula é simples, se for, é composta. Se a porção secretora tiver o formato de túbulo, a glândula é tubular; se apresenta um formato de cacho, é alveolar ou acinosa; se o tubo terminar em uma dilatação sacular, a glândula é tubuloalveolar. As porções secretoras tubulares podem ser retas, ramificadas ou espiraladas e as porções alveolares podem ser simples ou ramificadas. São encontradas várias combinações de formatos das porções ductais e secretoras no organismo. As células secretoras das glândulas exócrinas associadas a vários tubos corporais, como canal alimentar, vias respiratórias e sistema urogenital, são frequentemente descritas como mucosas, serosas ou ambas. As secreções mucosas são viscosas e pegajosas devido à extensa glicosilação das proteínas constituintes com oligossacarídeos aniônicos, enquanto as secreções serosas são aquosas, proteicas e pouco ou não glicosiladas. As células caliciformes, as células secretoras das glândulas salivares sublinguais e as células superficiais do estômago são exemplos de células secretoras de muco. O citoplasma das células mucosas aparece vazio em cortes em parafina corados pela H&E e seu núcleo geralmente está achatado contra a base da célula pelo acúmulo do produto secretor. As células serosas apresentam um núcleo esférico ou oval em que, frequentemente, seu citoplasma apical é intensamente corado pela eosina quando os grânulos secretores estão bem preservados. • RENOVAÇÃO DAS CÉLULAS EPITELIAIS Os epitélios de superfícies e os epitélios de muitas glândulas simples possuem populações celulares de renovação contínua. A velocidade de renovação celular é específica de cada um dos tipos de epitélio. As células de reposição são produzidas pela atividade mitótica de células-tronco adultas de automanutenção, situadas em locais denominados nichos. No intestino delgado, os nichos de células-tronco adultas estão localizados na porção basal das glândulas intestinais, de onde migram e se diferenciam em quatro tipos principais de células: enterócitos (células colunares absortivas), células caliciformes (secretoras de muco), células neuroendócrinas (reguladoras e secretoras de hormônios) e células de Paneth, que migram e residem na base da cripta. De modo semelhante, o epitélio estratificado pavimentoso da pele é substituído, na maioria dos locais, durante um período de aproximadamente 47 dias. Já as células que revestem o intestino delgado são renovadas a cada 4 a 6 dias. As células na camada basal da epiderme, denominada estrato basal ou germinativo, sofrem mitose para possibilitar a renovação celular. Conforme se diferenciam, as células são empurradas em direção à superfície pela proliferação de novas células originadas da camada basal. • TECIDO CONJUNTIVO O tecido conjuntivo é composto por células e matriz extracelular (MEC). A MEC é constituída por fibras proteicas colágenas, elásticas e reticulares, e por um componente não fibrilar que possui moléculas especializadas: proteoglicanos, glicoproteínas multiadesivas e glicosaminoglicanos. O tecido conjuntivo constitui um compartimento vasto e contínuo no corpo, limitado por lâminas basais dos epitélios e por lâminas basais ou externas das células musculares e células de sustentação dos nervos. A classificação do tecido conjuntivo se dá principalmente pela composição e organização dos componentes extracelulares e suas funções, abrangendo diversos tecidos com diferentes propriedades, mas ainda sim com características comuns. • TECIDO CONJUNTIVO EMBRIONÁRIO Os tecidos conjuntivos se originam do mesênquima embrionário a partir do mesoderma. Uma exceção é a região da cabeça, onde as células progenitoras específicas se originam do ectoderma através das células da crista neural. Através da proliferação e migração das células mesodérmicas e das células da crista neural se origina o tecido conjuntivo primitivo, o mesênquima. A proliferação do mesênquima origina, além dos diversos tecidos conjuntivos, os sistemas muscular, vascular, urogenital e as membranas serosas que revestem as cavidades corporais. O tecido conjuntivo embrionário pode ser encontrado no embrião e no interior do cordão umbilical e é classificado em dois subtipos: o mesênquima e o tecido conjuntivo mucoso. O mesênquima é encontrado principalmente no embrião e apresenta células pequenas e fusiformes, que se caracterizam por possuir finos prolongamentos citoplasmáticos que entram em contato com as células vizinhas, assim como as junções comunicantes, formando uma rede celular tridimensional. O mesênquima apresenta uma substância fundamental viscosa, que possui fibras colágenas e reticulares. O tecido conjuntivo mucoso é característico do cordão umbilical e consiste em MEC especializada, composta principalmente de ácido hialurônico. A substância fundamental do tecido conjuntivo mucoso pode também ser chamada de geleia de Wharton. Nesse tecido, as células fusiformes estão afastadas umas das outras de modo semelhante aos fibroblastos no cordão umbilical do feto a termo. Algumas das células da geleia de Wharton expressam grandes quantidades de marcadores de células-tronco mesenquimatosas e possuem a capacidade de se diferenciar em osteócitos, condrócitos, adipócitos e alguns tipos de célula neural. • TECIDO CONJUNTIVO PROPRIAMENTE DITO O tecido conjuntivo propriamente dito pode ser classificado em tecido conjuntivo frouxo e tecido conjuntivo denso, que pode ser ainda classificado como modelado ou não modelado. 1) Tecido conjuntivo frouxo O tecido conjuntivo frouxo é composto por fibras frouxamente dispostas, diversas células e uma substância fundamental, de forma que apresenta consistência entre viscosa e gelatinosa e realiza importante papel na difusão de oxigênio e de nutrientes a partir de seus pequenos vasos. Esse tecido está presente abaixo dos epitélios que cobrem as superfícies corporais e que revestem as superfícies internas do corpo e está associado ao epitélio das glândulas e aos vasos sanguíneos de menor calibre. Dessa forma, pode-se concluir que o tecido conjuntivo frouxo consiste no local pelo qual os agentes patogênicos adentram o corpo e se defrontam com as células do sistema imune, gerando reações inflamatórias e imunes. Essas reações podem causar aumento de volume no tecido conjuntivo frouxo, causando o edema, que configura uma das características marcantes da inflamação. 2) Tecido conjuntivo denso não modelado O tecido conjuntivo denso não modelado apresenta fibras abundantes, principalmente colágenas, e poucas células, principalmente fibroblastos. Devido à alta concentração de fibras colágenas, o tecido conjuntivo denso não modelado proporciona uma resistência significativa. O termo não modelado é utilizado porque as fibras estão dispostas em feixes orientados em várias direções, de forma a garantir que possam suportar estresses sobre órgãos ou estruturas.A pele apresenta uma camada relativamente espessa de tecido conjuntivo denso não modelado, denominada camada reticular da derme. Os órgãos ocos também possuem uma camada distinta de tecido conjuntivo denso não modelado, chamada submucosa. 3) Tecido conjuntivo denso modelado O tecido conjuntivo denso modelado apresenta arranjos ordenados e densamente compactados de fibras e células e é o principal componente de tendões, ligamentos e aponeuroses. Nesse tecido, as fibras estão dispostas em séries paralelas e são densamente organizadas para garantir força ao tecido. As células que produzem e mantêm as fibras, os fibroblastos, também denominados tendinócitos, estão agrupadas e alinhadas entre os feixes de fibras. Os tendões são estruturas semelhantes a cordas que possuem a função de inserir o músculo ao osso e são compostos por feixes paralelos de fibras colágenas e tendinócitos. Na visualização de cortes transversais de um tendão corado pela H&E (hematoxilina e eosina), os tendinócitos podem ser vistos com formato de estrela. Já em cortes longitudinal, os tendinócitos são vistos apenas como fileiras de núcleos basófilos e muito achatados. Os ligamentos, assim como os tendões, possuem fibras colágenas e fibroblastos dispostos paralelamente. Porém, as fibras dos ligamentos não exibem um arranjo tão regular como o dos tendões. A função dos ligamentos é unir um osso a outro, o que pode necessitar de um certo grau de elasticidade em determinadas regiões ao longo do corpo. As aponeuroses apresentam fibras dispostas em múltiplas camadas de arranjos regulares, onde os feixes de fibras colágenas em uma camada tendem a possuir um arranjo em um ângulo de 90° em relação aos das camadas adjacentes. • FIBRAS DO TECIDO CONJUNTIVO Existem três tipos principais de fibras do tecido conjuntivo, que podem ser encontradas em quantidades variáveis dependendo das necessidades estruturais ou da função do tecido: fibras colágenas, reticulares e elásticas. Elas são produzidas por fibroblastos e compostas de proteínas. 1) Fibras e fibrilas colágenas As fibras colágenas são flexíveis, possuem grande força e são o tipo mais abundante de fibras do tecido conjuntivo. Na microscopia óptica, as fibras colágenas são visualizadas como estruturas onduladas de largura e comprimentos variáveis, corando-se facilmente por corantes ácidos. Quando examinadas com a MET (microscopia eletrônica de transmissão), as fibras colágenas são vistas como feixes de subunidades filamentosas finas. Em cada fibra, as fibrilas colágenas possuem um diâmetro relativamente uniforme. A molécula de colágeno é formada por três cadeias polipeptídicas, as cadeias α, que se entrelaçam, formando um tríplice hélice dextrogira. Cada terceiro aminoácido na cadeia é sempre uma molécula de glicina, exceto nas extremidades. Geralmente, uma molécula de hidroxiprolina ou hidroxilisina precede a glicina, que é, geralmente, seguida de uma prolina. Nem todas as cadeias α que constituem a hélice são iguais, pois elas podem variar quanto ao tamanho, formando diferentes tipos de colágeno. A molécula de colágeno pode ser homotrimérica, ou seja, quando possui três cadeias α idênticas, ou heterotrimérica, que é quando possui duas ou até mesmo três cadeias α geneticamente diferentes. 2) Biossíntese e degradação das fibras colágenas A formação das fibras colágenas ocorre nos fibroblastos através de eventos intracelulares e extracelulares. A produção de colágeno fibrilar (I, II, III, V e XI) envolve a produção de pró-colágeno, que ocorre em organelas citoplasmáticas envolvidas por membrana, enquanto a montagem das moléculas de colágeno ocorre nos espaços extracelulares. As cadeias α do colágeno, sintetizadas no RER (retículo endoplasmático rugoso), contêm extensos pro-peptídeos amino e carboxi-terminais globulares, chamados pró-cadeias α (moléculas de pré- pró-colágeno). A síntese se inicia quando os polipeptídios recém-sintetizados são liberados no lúmen das cisternas do RER, onde ocorrem diversas modificações pós-tradução das moléculas de pré-pró-colágeno que a transformam no pró-colágeno, como: 2.1. Clivagem da sequência sinal amino-terminal; 2.2. Hidroxilação dos resíduos de prolina e lisina (dependente de vitamina C), que ocorre antes que os polipeptídios ainda estejam na conformação não helicoidal; 2.3. Glicosilação pela adição de grupos de açúcares a alguns resíduos de hidroxilisina; 2.4. Formação de uma estrutura globular na extremidade carboxiterminal, que é estabilizada por ligações dissulfeto; 2.5. Formação de uma tríplice hélice formada por três cadeias α, a partir da extremidade carboxiterminal; 2.6. Formação de pontes de hidrogênio e dissulfeto intra-cadeias e intercadeias e estabilização da tríplice hélice com o auxílio da proteína chaperona hsp47. As moléculas de pró-colágeno são direcionadas para o complexo de Golgi, onde iniciam a formação de pequenos feixes através de associações laterais entre suas extremidades terminais não espiraladas. A seguir, essas moléculas se direcionam para o meio extracelular para formação das fibrilas colágenas. Após ser secretado da célula, o pró-colágeno é convertido em uma molécula de colágeno por ação das enzimas pró-colágeno peptidases associadas à membrana celular. Em seguida, as moléculas de colágeno se alinham para formar as fibrilas colágenas. A síntese de colágeno é regulada por interações complexas entre fatores de crescimento, hormônios e citocinas, como o fator de crescimento transformador β (TGF-β) e o fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF), que estimulam a síntese de colágeno pelos fibroblastos, enquanto os hormônios esteroides inibem a sua síntese. A degradação das fibras colágenas ocorre através de vias proteolíticas e vias fagocíticas. A degradação proteolítica ocorre no meio extracelular através da atividade de enzimas denominadas metaloproteinases da matriz (MMPs), que são sintetizadas e secretadas na MEC por diversas células. A atividade das MMPs pode ser especificamente inibida por inibidores teciduais das metaloproteinases (TIMP). A degradação fagocítica das moléculas de colágeno ocorre no meio intracelular e é realizada por macrófagos que removem componentes alterados da MEC. Além dos macrófagos, os fibroblastos também são capazes de fagocitar e, em seguida, degradar fibrilas colágenas dentro de seus lisossomos. 3) Fibras reticulares As fibras reticulares, formadas por colágeno do tipo III e por fibroblastos, possuem a função de garantir a sustentação de vários tecidos e órgãos. As fibrilas apresentam pequeno diâmetro, são ramificadas e, geralmente, não formam fibras espessas. Quando visualizadas a partir da microscopia óptica com técnicas especiais, as fibras reticulares exibem um aspecto filiforme. Elas também podem ser vistas por procedimentos especiais de impregnação por prata, como os métodos de Gomori e de Wilder. No tecido conjuntivo frouxo, as redes de fibras reticulares são encontradas entre o tecido conjuntivo e o epitélio, ou ainda circundando adipócitos, pequenos vasos sanguíneos, nervos e células musculares. 4) Fibras elásticas As fibras elásticas possuem a função de tornar os tecidos resistentes ao estiramento e à distensão. De modo geral, as fibras elásticas são mais delgadas que as fibras colágenas e estão organizadas de modo a formar uma rede tridimensional. As fibras elásticas não se coram bem pela eosina, por isso, nem sempre podem ser distinguidas das fibras colágenas quando coradas por H&E, porém, elas podem ser coradas com corantes como a orceína ou a resorcinafucsina. As fibras elásticas são produzidas pela maioria das células que produzem fibras colágenas e reticulares, como fibroblastos e células musculares lisas. A elastina consiste em uma proteína que, assim como o colágeno, possui muitas moléculas de prolina e glicina. Durante a elastogênese,microfibrilas de fibrilina (glicoproteína), são usadas para a montagem das fibras elásticas. As fibras elásticas constituem a principal substância extracelular nos ligamentos vertebrais, na laringe e nas artérias elásticas. Nos ligamentos elásticos, as fibras elásticas ficam intercaladas com as fibras colágenas. • MATRIZ EXTRACELULAR A MEC consiste em uma rede estrutural complexa que circunda e sustenta as células no tecido conjuntivo. Ela apresenta uma variedade de proteoglicanos, glicoproteínas multiadesivas e glicosaminoglicanos que constituem a substância fundamental. A MEC atua como barreira bioquímica e na regulação das funções metabólicas das células circundadas pela matriz. Além disso, ela também ancora as células dentro dos tecidos por meio de moléculas de adesão entre a célula e ela e fornece vias para a migração celular. A substância fundamental consiste principalmente em proteoglicanos, que são macromoléculas de grande peso molecular formadas por um eixo proteico central, moléculas de glicosaminoglicanos (GAGs), ligadas de modo covalente aos proteoglicanos, e glicoproteínas multiadesivas. Quando corada pela H&E, a substância fundamental é sempre perdida, devido à sua extração durante a fixação e a desidratação do tecido. O resultado consiste em um fundo vazio. Os GAGs são heteropolissacarídeos lineares responsáveis pelas propriedades físicas da MEC. Essas moléculas possuem longas cadeias de polissacarídeos não ramificados, compostos de unidades repetidas de dissacarídeos. Os GAGs podem ser classificados de acordo com a especificidade dos resíduos de açúcares, a natureza de suas ligações e o grau de sulfatação. O GAG hialuronam, ou ácido hialurônico, é diferente dos outros GAGs de diversas formas. Ele consiste em uma molécula rígida e extremamente longa, composta de uma cadeia de carboidratos de milhares de açúcares. Além disso, ele é o único GAG não sulfatado, ou seja, cada molécula está presente na forma de uma cadeia de carboidrato livre, não formando proteoglicanos. Porém, através de proteínas ligantes especiais, os proteoglicanos se ligam indiretamente ao ácido hialurônico, formando os agregados de proteoglicanos.Dessa forma, esses agregados gigantes de proteoglicanos hidrófilos garantem a resistência à compressão, sem retirar a flexibilidade da estrutura. Os proteoglicanos consistem em compostos de GAG ligados covalentemente a proteínas centrais. Os GAGs se estendem perpendicularmente a partir do eixo proteico, formando uma estrutura semelhante a uma escova. Outras moléculas importantes são as glicoproteínas multiadesivas (fibronectinas, laminina, tenascina e osteopontina), que desempenham um importante papel na estabilização da MEC e na sua ligação às superfícies celulares. Elas apresentam sítios de ligação para uma variedade de proteínas da MEC, como colágenos, proteoglicanos e GAG. • CÉLULAS DO TECIDO CONJUNTIVO As células do tecido conjuntivo podem ser residentes ou errantes. As células residentes são relativamente estáveis e geralmente possuem pouco movimento. Já as células errantes consistem principalmente em células do sangue que migraram para o tecido em resposta a estímulos específicos. As células residentes consistem nos fibroblastos, miofibroblastos, macrófagos, adipócitos, mastócitos e células-tronco adultas e as células errantes consistem nos linfócitos, plasmócitos, neutrófilos, eosinófilos, basófilos e monócitos. 1) Fibroblastos e miofibroblastos O fibroblasto, como já dito anteriormente, é a principal célula do tecido conjuntivo e é responsável pela síntese de colágeno. Em preparações coradas pela H&E, geralmente, apenas o núcleo dessas células pode ser visto. Os prolongamentos achatados, finos e de coloração pálida que formam o citoplasma não costumam ser visíveis. O miofibroblasto apresenta propriedades tanto dos fibroblastos quanto das células musculares lisas e se caracteriza pela existência de feixes de filamentos de actina associados à proteína motora miosina não muscular. O miofibroblasto não é facilmente identificado nas preparações coradas pela H&E. 2) Macrófagos Os macrófagos consistem em células fagocíticas derivadas de monócitos que possuem uma quantidade abundante de lisossomos. Utilizando o microscópio óptico e corantes convencionais, os macrófagos teciduais são difíceis de identificar, a não ser que apresentem evidências de atividade fagocítica. Os produtos de secreção liberados pelo macrófago incluem uma ampla variedade de substâncias relacionadas com a resposta imune, anafilaxia e inflamação. A secreção regulada pode ser ativada por fagocitose, imunocomplexos, complemento e sinais provenientes dos linfócitos. Os macrófagos, além de realizar fagocitose, também são células apresentadoras de antígeno, que realizam importantes funções nas reações da resposta imune. Eles apresentam proteínas específicas em sua superfície, conhecidas como moléculas do complexo principal de histocompatibilidade II (MHC-II), que permitem sua interação com linfócitos T auxiliares CD4+. As primeiras células que migram para locais de lesão tecidual são os neutrófilos. Eles são os primeiros a reconhecer microrganismos estranhos ou agentes infecciosos e a iniciar a sua destruição através de intermediários do oxigênio reativo ou de mecanismos de destruição independentes de oxigênio. Durante essa destruição, são formadas grandes quantidades de produtos secretores e restos celulares no local da lesão, além de poder haver microrganismos que escaparam à ação dos neutrófilos. Após 24 horas, os monócitos dos vasos sanguíneos alcançam o local de lesão e se diferenciam em macrófagos, que são ativados pela interação de moléculas produzidas pelos neutrófilos e pelos microrganismos. 3) Mastócitos Os mastócitos se desenvolvem na medula óssea e se diferenciam no tecido conjuntivo. Os mastócitos são encontrados principalmente nos tecidos conjuntivos da pele e das mucosas. Os mastócitos não são facilmente identificados em cortes de tecidos humanos, a não ser que sejam usados fixadores especiais para preservar seus grânulos. A superfície dos mastócitos maduros expressa receptores Fc de alta afinidade, nos quais se fixam anticorpos de imunoglobulina E (IgE). A ligação do antígeno a moléculas de anticorpo IgE expostas na superfície do mastócito, ativa-o e gera a liberação do conteúdo dos grânulos dentro da MEC. Os mediadores produzidos pelos mastócitos são classificados em mediadores pré-formados, ou seja, armazenados em grânulos e liberados com a ativação da célula, e mediadores recém- sintetizados, principalmente lipídios e citocinas, que somente são produzidos e secretados quando os mastócitos são ativados. Os mediadores pré-formados encontrados no interior dos grânulos dos mastócitos são: histamina (induz prurido e edema), heparina (anticoagulante), serino- proteases, fator quimiotático de eosinófilos (ECF) e o fator quimiotático de neutrófilos (NCF). Os mediadores recém-sintetizados são: leucotrieno C (promove a inflamação), fator de necrose tumoral α (TNF-α) (aumenta a expressão de moléculas de adesão), interleucinas, fatores de crescimento e a prostaglandina D2 . 4) Basófilos Os basófilos são granulócitos que circulam na corrente sanguínea e que representam menos de 1% dos leucócitos periféricos. Seu desenvolvimento e amadurecimento ocorrem na medula óssea e são liberados na circulação como células maduras. Assim como os mastócitos, eles apresentam grânulos secretores basófilos, capacidade de secretar mediadores e quantidade abundante de receptores Fc de alta afinidade para anticorpos IgE em sua membrana celular. Os basófilos atuam nas reações alérgicas e, em conjunto com os mastócitos, liberam histamina, heparina, heparam sulfato, ECF, NCF e outros mediadores da inflamação. Diferente dos mastócitos, os basófilos não produzem prostaglandina D2 e interleucina5. 5) Adipócitos O adipócito consiste em uma célula do tecido conjuntivo especializado no armazenamento de gordura e na produção de diversos hormônios. Essas células derivam da diferenciação das células- tronco mesenquimatosas e acumulam gordura gradualmente em seu citoplasma. Eles podem ser encontrados no tecido conjuntivo frouxo de forma individual ou em grupos. 6) Células-tronco adultas e pericitos Em adultos, muitos tecidos apresentam reservatórios, ou nichos, de células- tronco adultas, que são diferentes das células-tronco embrionárias, pois não possuem a capacidade de se diferenciar em múltiplas linhagens, e sim em uma linhagem específica. As células que residem nestes nichos são denominadas células-tronco teciduais. Além de conter CTHs (células-tronco hematopoéticas), a medula óssea também possui células progenitoras adultas multipotentes (MAPCs) e células estromais da medula óssea (BMSC), capazes de gerar condrócitos, osteoblastos, adipócitos, células musculares e células endoteliais. No tecido conjuntivo frouxo no adulto são encontrados nichos de células-tronco adultas, as células- tronco mesenquimatosas. Essas células podem originar células diferenciadas que funcionam no reparo e na formação de tecido. Os pericitos vasculares encontrados ao redor dos capilares e das vênulas são células-tronco mesenquimais e podem ser denominados células adventícias ou células perivasculares. Os pericitos se encontram circundados por uma lâmina basal contínua com a lâmina basal do endotélio capilar. Dessa forma, não estão realmente localizados no tecido conjuntivo. Geralmente, essa célula e seu núcleo possuem um formato semelhante ao das células endoteliais. 7) Linfócitos, plasmócitos e outras células do sistema imune Os linfócitos são células que estão principalmente envolvidas nas respostas imunes e possuem uma borda fina de citoplasma que circunda um núcleo heterocromático intensamente corado. Normalmente, é encontrada uma pequena quantidade de linfócitos no tecido conjuntivo. Porém, em locais de inflamação causada por patógenos, esse número aumenta consideravelmente. Os linfócitos são mais numerosos na lâmina própria do sistema respiratório e digestório, onde estão envolvidos na imunovigilância contra patógenos e substâncias estranhas. Os linfócitos são formados por uma população heterogênea de pelo menos três tipos principais: as células T, as células B e as células natural killer (NK). Os linfócitos T são as células representantes do sistema imune celular e os linfócitos B, da imunidade humoral. Os linfócitos NK são linfócitos não T e não B, que atuam na destruição de células infectadas por vírus e algumas células tumorais através de um mecanismo citotóxico. Os plasmócitos, células B diferenciadas, são encontrados principalmente no tecido conjuntivo frouxo, local de entrada mais frequente de antígenos no corpo. Além disso, podem ser encontrados também nas glândulas salivares, linfonodos e tecido hemocitopoético. Também podem ser encontrados no tecido conjuntivo eosinófilos, monócitos e neutrófilos. Como resultado de respostas imunes e lesão tecidual, neutrófilos e monócitos migram rapidamente do sangue para entrar no tecido conjuntivo. Os eosinófilos podem ser observados no tecido conjuntivo normal, principalmente na lâmina própria do intestino, devido a respostas imunológicas crônicas que ocorre nesse tecido. • TECIDO ADIPOSO O tecido adiposo, formado por células adiposas (adipócitos), é um tipo de tecido conjuntivo especializado que apresenta importante influência na homeostasia energética e está presente em todos os tecidos conjuntivos frouxos. Para manutenção da vida, o corpo necessita garantir um aporte contínuo de energia e nutrientes provenientes do ambiente externo para os tecidos. Assim, quando há excesso de energia no corpo, esta é armazenada em gotículas de lipídeos dos adipócitos, como triglicerídeos, para que, quando necessário, haja sua liberação. Os triglicerídeos possuem o dobro da densidade energética dos carboidratos e proteínas porque sua estrutura não possui água. Quando a ingestão de alimentos é maior que o gasto energético, o armazenamento de energia é aumentado e esta é utilizada em condições em que o gasto energético é maior que a ingestão de alimentos. O tecido adiposo, além de ser um depósito de lipídeos, também regula o metabolismo energético através da secreção de substâncias parácrinas e endócrinas, classificando-o como um importante órgão endócrino. O tecido adiposo pode ser classificado em branco (unilocular) e pardo (multilocular). • TECIDO ADIPOSO BRANCO 1) Estrutura O tecido adiposo branco é formado por adipócitos uniloculares que apresentam um núcleo achatado e deslocado para um dos lados da massa lipídica e uma fina borda de citoplasma ao redor do lipídeo. Quando isolados, os adipócitos assumem uma forma esférica, porém, quando presentes no tecido adiposo, podem parecer poliédricos ou ovais. Os adipócitos são circundados por fibras reticulares, fibras nervosas não mielinizadas e mastócitos. Os capilares que suprem o tecido adiposo estão presentes entre as células adjacentes. O tecido adiposo branco consiste em pelo menos 10% do peso corporal de um indivíduo normal e se encontra como uma camada adiposa de fáscia subcutânea, o panículo adiposo. 2) Função O tecido adiposo branco possui diversas funções, como o armazenamento de energia, isolamento, proteção dos órgãos vitais e secreção de hormônios. Além disso, o tecido adiposo contribui para a diferenciação corporal entre homens e mulheres através da espessura da camada adiposa em diferentes locais do corpo. As principais funções metabólicas do tecido adiposo é a captação de ácidos graxos do sangue e sua conversão em triglicerídeos no adipócito e a secreção de uma variedade de moléculas, chamadas adipocinas, que incluem hormônios, fatores de crescimento e citocinas. Uma das principais adipocinas é a leptina, que atua inibindo a fome e estimulando a taxa metabólica e a perda de peso corporal quando a reserva corporal de energia é suficiente. A leptina também atua sobre o sistema nervoso central, comunicando o estado calórico dos adipócitos de armazenamento, e induz à produção de hormônios esteroides, como testosterona, estrogênio e glicocorticoides. 3) Diferenciação Durante o desenvolvimento embrionário, os adipócitos brancos se originam a partir de células- tronco mesenquimatosas perivasculares associadas à túnica adventícia das pequenas vênulas. Estudos indicam que o fator de transcrição receptor ativador do proliferador dos peroxissomos gama (PPARγ), complexado com o receptor de retinoide X (RXR), atua na diferenciação do adipócito e na iniciação do metabolismo dos lipídios. 4) Regulação A regulação do tecido adiposo branco está relacionada tanto ao sistema digestivo, quanto ao sistema nervoso central. Sinais hormonais e neurais formam o eixo cérebro-intestino-tecido adiposo, que regula o apetite, a fome, a saciedade e a homeostasia energética. A quantidade de tecido adiposo de um indivíduo é regulada por sistemas associados à regulação do peso a curto e a longo prazo. O sistema associado à regulação do peso a curto prazo controla o apetite e o metabolismo diariamente a partir de dois hormônios produzidos no trato gastrintestinal: a grelina (estimulante do apetite) e peptídeo YY (supressor do apetite), que atuam em receptores no hipotálamo. O sistema associado à regulação do peso a longo prazo controla o apetite e o metabolismo de modo contínuo a partir da leptina, da insulina e outros hormônios, como o hormônio tireoidiano, glicocorticoides e hormônios hipofisários. Na maioria dos indivíduos obesos, os níveis séricos de leptina estão elevados, porém, os adipócitos são resistentes à leptina. A partir de estímulos neurais e/ou hormonais, os triglicerídeos são degradados em glicerole ácidos graxos em um processo denominado mobilização. Os ácidos graxos atravessam a membrana celular do adipócito e entram em um capilar, onde se ligam à albumina e são transportados para outras células, que os utilizam como combustível metabólico. • TECIDO ADIPOSO PARDO O tecido adiposo pardo consiste em um tecido termogênico e está presente em grandes quantidades no recém-nascido, compensando a grande perda de calor pela alta razão entre superfície e massa, de forma a evitar que ocorra hipotermia letal. Nesses indivíduos, o tecido adiposo pardo consiste em aproximadamente 5% da massa corporal total e pode ser encontrado na região dorsal, ao longo da metade superior da coluna vertebral em direção aos ombros. A quantidade de tecido adiposo pardo diminui gradualmente com o desenvolvimento corporal e desaparece em quase todos os locais, exceto ao redor dos rins, das glândulas suprarrenais, dos grandes vasos e das regiões do pescoço, costas e tórax. As células do tecido adiposo pardo são menores que as do tecido adiposo branco e seu citoplasma apresenta numerosas gotículas lipídicas pequenas, sendo denominado multilocular. O núcleo de um adipócito pardo maduro se localiza excentricamente dentro da célula e as mitocôndrias apresentam grandes quantidades de citocromo oxidase, o que confere a cor marrom às células. O tecido adiposo pardo possui um rico suprimento de capilares que intensifica a sua cor e é inervado por numerosas fibras nervosas simpáticas noradrenérgicas não mielinizadas presentes entre os adipócitos. Os adipócitos pardos se diferenciam a partir de células-tronco mesenquimatosas de uma linhagem celular diferente da que origina os adipócitos brancos. Os fatores que regulam a diferenciação dos adipócitos pardos também regulam a expressão de genes que codificam uma proteína mitocondrial chamada proteína de desacoplamento (UCP1) ou termogenina, que regula o metabolismo dos adipócitos pardos. O metabolismo dos lipídios no tecido adiposo pardo gera calor devido à termogênese. Os animais que hibernam apresentam grandes quantidades de tecido adiposo pardo. As mitocôndrias das células eucarióticas produzem e armazenam energia como gradiente eletroquímico de prótons através da membrana mitocondrial interna. Essa energia é usada para sintetizar trifosfato de adenosina (ATP), quando os prótons retornam à matriz mitocondrial, através da enzima ATP sintase. As mitocôndrias das células do tecido adiposo pardo apresentam a proteína de desacoplamento (UCP1), que desacopla a oxidação dos ácidos graxos da produção de ATP. Isso faz com que os prótons possam retornar à matriz mitocondrial sem passar pela enzima ATP sintase. Isso pode ocorrer pela existência de uma via alternativa para o retorno dos prótons através da UCP1, que facilita o transporte de prótons através da membrana mitocondrial interna e sua dissipação, desacoplando a respiração celular da síntese de ATP. Assim, a energia produzida pelas mitocôndrias é dissipada na forma de calor, processo denominado termogênese. O metabolismo do tecido adiposo pardo é regulado principalmente pela norepinefrina liberada das terminações nervosas simpáticas, que estimula a lipólise e a hidrólise dos triglicerídeos e aumenta a expressão mitocondrial e a atividade de moléculas de UCP1. Além disso, o frio também estimula a utilização da glicose nos adipócitos pardos através da hiperexpressão de transportadores de glicose. Estudos relataram o aumento na quantidade de tecido adiposo pardo nas regiões do pescoço e supraclavicular durante o inverno, principalmente em pessoas magras. • TRANSDIFERENCIAÇÃO DO TECIDO ADIPOSO Os adipócitos possuem a capacidade de transdiferenciação tanto de adipócitos brancos em pardos, quanto de adipócitos pardos em brancos frente às necessidades termogênicas do organismo, como a exposição crônica ao frio. Estudos demonstraram que os adipócitos brancos maduros podem ser transformados em adipócitos pardos com o objetivo de gerar calor corporal. Adipócitos pardos podem se transformar em adipócitos brancos quando o balanço energético é positivo e o corpo necessita de um aumento na sua capacidade de armazenamento de triglicerídeos. A transdiferenciação do tecido adiposo pardo em branco devido às temperaturas frias é induzida pelo sistema nervoso central. Além disso, a transdiferenciação também pode ser induzida através da estimulação pelo exercício físico e pela reprogramação dos genes do tecido adiposo por meio da ativação de fatores de transcrição específicos e fatores de crescimento. TECIDO CARTILAGINOSO CARACTERÍSTICAS GERAIS As células, as menores unidades estruturais e funcionais dos seres vivos, agrupamse em tecidos, e estes, em órgãos. Segundo as características morfológicas e as propriedades funcionais, há quatro tipos básicos de tecidos: o tecido epitelial, o tecido conjuntivo, o tecido muscular e o tecido nervoso. Forma especializada de tecido conjuntivo de consistência rígida, que realiza o suporte de tecidos moles, o revestimento de superfícies articulares, a absorção de choques e facilita o deslizamento dos ossos nos pontos articulares. Dentre os componentes, as principais células são os condrócitos, havendo ainda os condroblastos, e, como parte extracelular, uma abundante matriz. No qual descreveremos, mais detalhadamente abaixo: • Condroblastos: são células alongadas, com pequenas projeções. Possuem núcleo grande, com nucléolo proeminente e citoplasma basófilo, devido ao RER desenvolvido ou claro e vacuolizado, pela presença de glicogênio e lipídios. São mais periféricas. Quando os condroblastos são circundados pela matriz e diminuem a sua síntese, são chamados condrócitos. • Condrócitos: são esféricos, com superfície irregular. É uma célula bem diferenciada, com baixa atividade de síntese. Exibem núcleo ovoide, eucromático, com RER e Golgi bem desenvolvidos e poucas mitocôndrias. Como sofrem retração durante o processo histológico, se afastam da matriz cartilaginosa, formando um espaço que pode conter mais de um condrócito, denominado lacuna. • Matriz cartilaginosa: conjunto de fibrilas colágenas (colágeno do tipo II), fibras elásticas, fibras colágenas (colágeno do tipo I), agregados de proteoglicanos, ácido hialurônico e glicoproteínas. Um componente importante é a glicoproteína condronectina, que possui sítios de ligação para condrócitos, fibrilas colágenas tipo II e GAGs, participando, assim, da composição do arcabouço. O tecido não contém vasos sanguíneos, sendo nutrido pelos capilares do conjuntivo (colágeno tipo I) envolvente, chamado pericôndrio. Este é vascularizado, inervado, fonte de novos condrócitos, responsável pela nutrição, oxigenação e ainda eliminação dos metabólicos da cartilagem. As cartilagens que revestem a superfície dos ossos nas articulações móveis não têm pericôndrio e recebem nutrientes do líquido sinovial. O tecido cartilaginoso é também desprovido de vasos linfáticos e de nervos. CLASSIFICAÇÃO A classificação depende principalmente da estrutura da matriz, podendo ser dividido em três tipos: • Cartilagem hialina: é o mais frequente. Presente na parede das fossas nasais, traqueia, na extremidade ventral das costelas e nas articulações com grande mobilidade. A cartilagem hialina caracteriza-se pela presença de uma matriz homogênea, já que as fibrilas de colágeno (colágeno do tipo II) não são visíveis ao microscópio de luz. É rica na substância fundamental e em água, sendo que a maior parte desta está ligada aos glicosaminoglicanos, o que dá consistência de gel rígido à matriz. A cartilagem hialina é geralmente envolvida pelo pericôndrio. • Cartilagem elástica: também possui pericôndrio. Além das fibrilas de colágeno (colágeno do tipo II) e da substância fundamental, a matriz cartilaginosa contém fibras elásticas, o que dá mais flexibilidade. Está presente na orelha (no pavilhãoauricular, na tuba auditiva) e na laringe. A fresco, a cartilagem elástica é amarelada. Com HE, as fibras elásticas são refráteis e eosinófilas. • Cartilagem fibrosa: é encontrada nos discos intervertebrais e na sínfise pubiana. Como está associada ao tecido conjuntivo denso, não há pericôndrio, assim, os condrócitos originam-se dos fibroblastos. A matriz contém fibras colágenas (colágeno do tipo I), fibrilas (colágeno do tipo II) e substância fundamental. Os condrócitos tendem a estar enfileirados. A presença das fibras colágenas faz com que a cartilagem fibrosa resista à tração e à deformação sob estresse. CRESCIMENTO DO TECIDO CARTILAGINOSO O crescimento da cartilagem deve-se a dois processos: o crescimento intersticial, por divisão mitótica dos condrócitos preexistentes, menos importante que ocorre somente nas fases iniciais da cartilagem; e o crescimento aposicional, único viável após a rigidez da matriz, que se faz a partir das células do pericôndrio. Com relação a condrogênese, as células mesenquimais sofrem diferenciação em condroblastos, que tem capacidade mitótica e secretam a matriz. Quando esses diminuem a sua síntese, são chamados condrócitos e continuam capazes de se dividir, de modo a se ter um grupo com algumas células em uma lacuna, formando o grupo isógeno. • TECIDO ÓSSEO O osso consiste em uma forma especializada de tecido conjuntivo que consiste em células e em matriz extracelular mineralizada, que garante a rigidez do tecido que proporciona suporte e proteção. O mineral encontrado no osso é o fosfato de cálcio na forma de cristais de hidroxiapatita. Devido à presença de minerais em sua composição, o osso também serve como local de armazenamento de cálcio e fosfato, que podem ser mobilizados da matriz óssea e captados pelo sangue para garantir a manutenção da homeostasia. O principal componente estrutural da matriz óssea é o colágeno do tipo I, mas também se encontra o colágeno do tipo V. Outros tipos de colágeno, em menor quantidade, também podem ser encontrados, como o III, o XI e o XIII. Todas as moléculas de colágeno formam cerca de 90% do peso total das proteínas da matriz óssea. O colágeno e a substância fundamental se tornam mineralizados para formar o tecido ósseo. A matriz óssea também contém outras proteínas não colágenas que são essenciais para o desenvolvimento, o crescimento, a remodelação e o reparo ósseos. Elas representam 10% do peso total das proteínas da matriz que constituem a substância fundamental do osso. Os quatro grupos principais de proteínas não colágenas da matriz óssea são as macromoléculas de proteoglicanos, as glicoproteínas multiadesivas, as proteínas dependentes de vitamina K específicas do osso, os fatores de crescimento e as citocinas. As macromoléculas de proteoglicanos apresentam uma proteína central, na qual as cadeias laterais dos glicosaminoglicanos, como o ácido hialurônico, o condroitim sulfato e o queratam sulfato, se ligam covalentemente. Essas moléculas, além de garantirem a força compressiva do osso, também se ligam à fatores de crescimento e inibem a mineralização. As glicoproteínas multiadesivas garantem a fixação das células ósseas e das fibras colágenas à substância fundamental mineralizada. As principais glicoproteínas são a osteonectina, que atua como uma cola entre o colágeno e os cristais de hidroxiapatita; a podoplanina (E11), produzida pelos osteócitos devido ao estresse mecânico; a proteína da matriz da dentina (DMP), muito importante para a mineralização da matriz óssea; e as sialoproteínas, como a osteopontina (BSP1), que atua na fixação das células à matriz óssea, e a BSP-2, que atua na fixação das células e inicia a formação de fosfato de cálcio durante a mineralização. As proteínas dependentes de vitamina K específicas do osso são a osteocalcina, que possui a função de capturar o cálcio da circulação e estimular os osteoclastos durante a remodelação do osso; a proteína S, que auxilia na remoção das células que sofrem apoptose; e a proteína GIa da matriz (MGP), que atua nas calcificações vasculares. Os fatores de crescimento e as citocinas, pequenas proteínas reguladoras, consistem nos fatores de crescimento semelhantes à insulina (IGF), no fator de necrose tumoral α (TNFα), no fator transformador do crescimento β (TGFβ), nos fatores de crescimento derivados das plaquetas (PDGF), nas proteínas morfogênicas do osso (BMPs), na esclerostina (antagonista das BMP) e nas interleucinas (IL-1, IL-6). Dentro da matriz óssea, pode-se encontrar espaços denominados lacunas, que possuem, cada um, uma célula óssea ou osteócito. Além disso, eles apresentam prolongamentos alojados em pequenos túneis, chamados canalículos. Os canalículos se distribuem ao longo da matriz mineralizada, conectando as lacunas e permitindo, através de junções comunicantes, a comunicação entre os prolongamentos celulares de osteócitos vizinhos. Além dos osteócitos, há outros quatro tipos de células associadas ao osso: as células osteoprogenitoras, os osteoblastos, as células de revestimento ósseo e os osteoclastos. As células osteoprogenitoras derivam das células-tronco mesenquimatosas e originam os osteoblastos, que são células que secretam a matriz extracelular do osso e que, quando está envolto pela sua matriz secretada, é denominado osteócito. As células de revestimento ósseo se originam dos osteoblastos que permanecem no tecido após a deposição óssea e consistem em células que estão presentes na superfície óssea quando não há crescimento ativo. Os osteoclastos são células que realizam reabsorção óssea e são encontradas nas superfícies ósseas onde o osso está sendo removido, remodelado ou onde foi danificado. Os osteoclastos são células fagocíticas derivadas da fusão de células progenitoras hematopoiéticas na medula óssea, que originam as linhagens de granulócitos neutrófilos e monócitos. • ESTRUTURA GERAL DOS OSSOS 1) Osso como órgão Os ossos podem ser considerados os órgãos do sistema esquelético, sendo o tecido ósseo o componente estrutural dos ossos. Um osso é formado por tecido ósseo e outros tecidos conjuntivos, como o tecido hematopoiético, tecido adiposo, vasos sanguíneos e nervos. Quando o osso forma uma articulação móvel, como a articulação sinovial, também se verifica a existência de cartilagem hialina. A capacidade do osso de desempenhar suas funções é devida ao tecido ósseo, aos ligamentos e à cartilagem articular, quando presente. O tecido ósseo pode ser classificado em compacto (denso) ou esponjoso (trabecular). Quando um osso é cortado, são vistos dois arranjos estruturais distintos: uma camada densa e compacta forma a parte externa do osso (osso compacto) e uma rede semelhante a uma esponja, que consiste em trabéculas forma o interior do osso (osso esponjoso). Os espaços dentro desta rede são ocupados pela medula óssea e por vasos sanguíneos, no osso vivo. A localização do osso esponjoso e do osso compacto varia de acordo com o formato do osso. Os tecidos ósseos esponjoso e compacto são encontrados em partes específicas dos ossos. Com base no seu formato, os ossos podem ser classificados em: ossos longos, ossos curtos, ossos planos e ossos irregulares. Os ossos longos são mais longos em uma dimensão em comparação com os outros ossos, e possuem uma diáfise e duas extremidades denominadas epífises. Exemplos de ossos longos são a tíbia e os ossos metacarpais. Os ossos curtos apresentam um comprimento e diâmetro quase iguais, como os ossos carpais. Os ossos planos são finos e semelhantes a placas, como os ossos da calvária e o esterno. Os ossos irregulares apresentam um formato que pode ser complexo, como uma vértebra, ou o osso pode conter espaços aéreos ou seios, como o etmoide. Os ossos longos possuem um corpo, chamado de diáfise, e duas extremidades, cada uma denominada epífise, as quais apresentam uma superfície articular
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