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Economia do Meio Ambiente Prof.ª Aline Cristina Matos 1ª Edição | Junho | 2014 Impressão em São Paulo / SP Coordenação Geral Nelson Boni Coordenação de Projetos Leandro Lousada Professor Responsável Aline Cristina Matos Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 Copyright © EaD KnowHow 2011 Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Projeto Gráfico, Capa e Diagramação Marilia Lopes Revisão Ortográfica Vanessa Almeida 1a Edição: Junho de 2014 Impressão em São Paulo/SP Economia do Meio Ambiental Sumário Unidade 1 41 Recursos Naturais E Recursos Pesqueiros Unidade 2 49 Agentes Poluidores e Estratégia de Mercado Unidade 3 63 Instrumentos Econômicos Para A Gestão Ambiental Unidade 4 71 Valoração Dos Recursos Naturais Unidade 5 79 Indicadores e Estatísticas Ambientais Referencias Bibliografi cas 41 Unidade 1 1. Recursos Naturais E Recursos Pesqueiros Uma das grandes inquietações dos indivídu- os que se preocupam com o futuro da humanida- de é o problema da escassez de recursos naturais. Historicamente, esta preocupação se iniciou com um economista e filósofo do século XVIII, Tho- mas Robert Malthus, que considerou que o cres- cimento econômico se estagnaria pela ausência de alimentos e de outros recursos naturais. Isso porque a população não deixaria de crescer, de modo geométrico e numérico, sendo a terra fixa e com limites temporais para desenvolver sua pro- dução, não suportaria a demanda populacional. Assim, seria inevitável criar mecanismos de con- trole populacional. Séculos depois, para ser mais preciso no século XX, na década de 70, a preocupação se estendia a outros elementos naturais. Choques com o petróleo intensificam as apreensões a respeito da escassez, e criou-se um pessimismo sobre o panorama de cres- cimento econômico em longo prazo, que gerou no meio científico a incorporação dos recursos esgotá- veis nos modelos de crescimento econômico. Com esses estudos científicos foi possível compreender várias propriedades dos recursos não renováveis sob o ponto de vista do seu papel na economia. 42 Sendo assim, a economia dos recursos naturais tem como foco determinar métodos e políticas que visam ao crescimento econômico sustentável. Mas, antes de dar sequência à proposta da eco- nomia dos recursos naturais, é preciso definir, classi- ficar e especificar os recursos naturais. O termo ficou conhecido com o economista inglês E.F.Schumacher que, ao escrever seu livro O negócio é ser pequeno, enfatizou uma reformulação no modo de vida ocidental no que diz respeito ao uso desenfreado de recursos naturais e ao trabalho humano exagerado. Schumacher passou a ser um dos mais importantes nomes do ecologismo moderno. O termo “recursos naturais” é definido em seu livro como os elementos da natureza com utilidade para o homem, objetivando o desenvolvimento e so- brevivência das sociedades. Estes são componentes, materiais ou não, da paisagem geográfica. Conforme um recurso é consumido, sua quantidade diminui, podem-se considerar recursos naturais: alimentos, água, espaço, esconderijos e outros. A temperatura não é considerada um recurso, pois, apesar de in- terferir na reprodução e sobrevivência dos seres, ela não é consumida e não pode ser mudada por um indivíduo para prejudicar outro. Quanto à classificação dos recursos naturais, te- mos os renováveis e não renováveis. Os renováveis são aqueles que, usados de forma moderada, podem 43 ser revitalizados. Exemplos: solos, ar, águas, flores- tas, fauna e flora no geral. Os não renováveis, ou exauríveis (esgotados), são aqueles que de alguma forma não se renovam, ou demoram séculos para se transformar. Exemplos: minérios e combustíveis. Além dos mencionados, têm-se os inesgotáveis, considerados como eficientes fontes de energia, são aqueles que não se acabam, como o sol e o vento. Voltando à questão da economia dos recursos naturais, uma de suas preocupações é a utilização dos recursos ao longo do tempo, uma vez que é fato defrontar-se com o problema de alocação intertem- poral de extração, ou seja, não há uma reserva es- pecifica que dure por tempo indeterminado e que possibilite extração de recursos. Quanto à proposta de políticas econômicas para o uso dos recursos naturais, sua principal fun- ção é garantir a utilização possível de um recuso não renovável da melhor forma de aplicação, social e am- biental, ao longo do tempo. Para os modelos de extração ótima serem colo- cados em prática, é preciso estabelecer relações bá- sicas e seguir alguns passos definidos, sendo assim, os elementos fundamentais são: uma função objetiva que deve ser maximizada, as equações, algébricas ou diferenciais, que restringem as ações que podem ser tomadas sobre o sistema e que representam, de uma maneira geral, as condições de equilíbrio, e algumas 44 condições de contorno (transversalidade), que expli- citam os estados inicial e final da economia. Uma função objetiva representa um número real ou uma medida que forneça ao formulador de políticas condições de cálculos. Ele mede o resultado operacional das políticas a serem implementadas e os define previamente. Por ser uma atividade fun- cional, os seus argumentos são funções que, por sua vez, podem ser compostas (sistemas com x e y) e vetoriais (formas geométricas). Estas, por seu turno, incluem termos de status quo e de políticas. A última variável é o tempo, variável fundamental no estudo de sistemas dinâmicos de otimização. Portanto, um funcional é uma função real de argumentos compostos geométricos, a relação entre políticas e status quo e a satisfação do formulador fica muito clara na expressão analítica funcional ob- jetiva. O estabelecimento deste é o primeiro passo na elaboração de uma política econômica. Os instrumentos de política não têm efeito instantâneo ao que se quer. É necessário considerar que a natureza não trabalha rapidamente. Há uma lentidão neste processo que o caracteriza como um sistema dinâmico. Para que as políticas tenham um efeito positivo, é preciso que se estabeleça um pra- zo. Se comparar ao contexto econômico isto tem a ver, por exemplo, com o fenômeno de acumulação de capital, ou seja, tem que se buscar um equilíbrio, 45 taxas de acumulação têm que ser equilibradas por fluxos de entrada. 1.1. Histórico dos Modelos de Extração Ótima Como já mencionado, Malthus (1798) foi um dos primeiros pensadores economistas que se pre- ocupou com o esgotamento dos recursos naturais. No início do século XX, o filósofo e economista Gray procurou tratar o problema com mais forma- lidade e com intervenção política, examinando o comportamento da oferta de um extrator individual que antecipava uma sequência de preços e tentava aumentar seus lucros descontados. Mais tarde Ha- rold Hotelling, economista e matemático aperfeiçoa o trabalho de Gray e apresenta a política ótima, com o uso de ferramentas matemáticas mais avançadas, o cálculo das variações. As políticas, no modelo de Hotelling, são oriun- das das condições ótimas de extração, por isso, a eco- nomia dos recursos naturais nasce com seu trabalho. Os pressupostos do modelo de Hotelling estão voltados aos seguintes itens definidores: • responsável pela reserva é um proprietário privado que atual em um mercado competitivo; • a procura acumulada que esgota o estoque do recurso é decrescente em relação ao preço do recurso; 46 • o volume do estoque inicial é conhecido e di- vulgado; • o custo marginal é nulo ou constante; • a informação acontece ao longo de toda ex- tração; • a taxa de desconto do produtor é constante e igual à taxa de juros. Como regras de Hotelling, têm-se: dado que o valor deste estoque é o valor presente de suas vendas futuras, em equilíbrio intertemporal a taxa de retorno segundo a qual este valor deve crescer é a taxa de juros, e portanto, com base no desconto a esta taxa, determina-seassim as quantidades ótimas a serem extraídas a cada momento no tempo, ou seja, determi- na-se a Taxa Ótima de Extração. (Amazonas). Além dos modelos de Hotelling, existem ou- tros presentes na sociedade que trabalham na inclu- são de recursos vivos. São exemplos: Modelo Geral de Exploração; Gerenciamento Ótimo de Recursos Pesqueiros; Fischer e Faustman para Recursos Flo- restais e Gordon-Schafer-Clark para Recursos da Biodiversidade. Sobre estes vamos conhecer o Gerenciamento Ótimo de Recursos Pesqueiros. De acordo com o IBAMA, este modelo consiste em um processo de 47 análise, planejamento, tomado de decisões, regula- mentações e normas que administram de modo sus- tentável das atividades pesqueiras. Ainda dentro da proposta do IBAMA sobre a gestão da atividade pesqueira, é possível ressaltar de- terminações estabelecidas para a pescaria sustentável. Entre elas podemos destacar: obtenção da captura máxima sustentável ao longo do tempo; obtenção máxima de rendimento econômico; recuperação de estoques explorados intensamente; obtenção máxi- ma de alimentos, emprego e exploradores; reduzir ao mínimo os conflitos entre grupos de pescadores e melhoria das condições de vida de alguns grupos ou de determinada região. Agora que já verificamos os significados dos recursos naturais e modelos de extração ótima, par- tiremos no próximo capítulo para a compreensão de agentes poluidores e estratégias econômicas que tra- balham na tentativa de solucionar as consequências causadas pela poluição. 48 Atividades Complementares: 1. Recursos naturais e fontes de energia podem ser definidos e classificados do mesmo modo? Jus- tifique-se. 2. Aponte os objetivos do modelo de extração ótima. 3. Dentro da proposta do modelo ótimo, por que se faz necessário a presença de uma função ob- jetiva (ou função matemática)? 4. Ainda no contexto ótimo de extração, qual a função do status quo? 5. Qual a contribuição de Malthus para a cons- trução de políticas de intervenção a extração natural? 6. Outros modelos de extração ótima são mencionados, como por exemplo: Modelo Geral de Exploração; Fischer e Faustman para Recursos Florestais e Gordon-Schafer-Clark para Recursos da Biodiversidade. Selecione um modelo e elabore um mapa conceitual sintetizando suas ideias centrais. 49 Unidade 2 2. Agentes Poluidores e Estratégia de Mercado O advento da Revolução Industrial, Inglater- ra - século XVIII propiciou à sociedade mudanças existenciais no modo de produção, no uso da mão de obra e na estrutura urbana das cidades. Apesar da evolução tecnológica promovida a partir deste fato histórico, a relação indústria e sociedade gerou uma problemática de alto impacto ambiental: a poluição. Desde o século XVIII até os dias atuais, indi- víduos preocupados com seu espaço natural desem- penham trabalhos de conscientização ambiental e buscam estratégias que visam regulamentar as conse- quências das ações desenfreadas da produção fabril. Sendo impossível e inviável a estagnação do desenvolvimento tecnológico de cunho capitalis- ta, faz-se necessária uma economia voltada a um processo horizontal entre sistemas de produção, consumo e diminuição da emissão de agentes po- luidores. Neste propósito, empresas começaram a se engajar em meios sustentáveis de produção, embora seja possível observar que estes propósitos são puramente competitivos e normativos, não são assim voltados à conscientização e preocupação pela escassez de recursos naturais ou pela condição degradante do ar e da água. 50 Para ser mais preciso quanto à lógica da eco- nomia do meio ambiente e sua real necessidade de existência, é importante salientar conceitos básicos, que são muito bem definidos pela economista con- temporânea Simone Thomazi Costa. A economista conceitua algumas funções da economia ambiental por meio da interpretação de uma ilustração esquematizada, observe a figura: Figura 1: Atividades econômicas de consumo e de produção em relação ao meio ambiente. FONTE: Oliveira, 1999, p. 568. Nesta figura, podem-se observar três funções básicas: a prestação de serviços diretos ao consumo (ar e água), o fornecimento de insumos para a pro- 51 dução (combustíveis e matérias prima) e a recepção de resíduos provenientes do consumo das famílias, quanto da produção. Segundo COSTA (2005), não se podem disso- ciar essas funções, pois as mesmas podem entrar em conflito entre si. Por exemplo: Quando a água de um rio é receptora de resíduos pro- venientes de uma indústria, torna-se pouco adequado ao consumo. Por isso, podemos dizer que os recursos naturais são, em sua maioria, escassos e apresentam possibilidades de usos alternativos. Como alocar efi- cientemente esses recursos é, portanto, um problema tipicamente econômico. Para fundamentar, teoricamente, estes contex- tos especialistas da economia ambiental sugerem o estudo de conceitos que são fundamentais aos ins- trumentos de análise do fator poluição – Externali- dades e Teorema de Coase. 2.1. Economia da Poluição: Externalidades De modo geral, externalidades podem ser defi- nidas como uma visão superficial da sociedade dos recursos naturais, no qual não se atribui o valor a “esses bens por usufruir deles gratuitamente”. Isso 52 significa que externalidade pode ser vista como uma falha ou impacto no mercado, sendo classificado em positiva e negativa. Segundo o economista OLIVEIRA (1999), uma externalidade é negativa quando a ação de um agente econômico (empresário) afeta negativamente o bem-estar ou o lucro de outro agente e não há ne- nhum mecanismo que faça com que este último seja compensado por isso. Traçando um paralelo com a realidade am- biental, a poluição causa sérios danos a todos em uma sociedade e proporciona uma espécie de “efeito dominó”. De acordo com COSTA, a contaminação dos recursos hídricos tem com- prometido a pesca e a agricultura e aumentado o custo do tratamento da água para consumo hu- mano. Os resíduos poluentes presentes em gran- des cidades acarretam significativos aumentos na incidência de doenças respiratórias, além de uma série de desconfortos, como irritação dos olhos e da garganta. Esta relação de prejuízo pode acontecer entre consumidores ou entre empresas. Quando as exter- nalidades são positivas, os recursos naturais são de- volvidos à fonte de impacto; negativas quando os recursos naturais são sobrealocados à fonte. Sobre este tipo de externalidade, COSTA faz a seguinte classificação: 53 • Externalidade consumo – consumo: caracteri- za-se por um tipo de impacto direto quando os con- sumidores são fontes e receptores da externalidade. • Externalidade produção – produção: ocor- re quando os produtores são fontes e receptores da externalidade. • Externalidade consumo – produção: ocorre quando um ou mais consumidores são fonte e um ou mais produtores são receptores da externalidade. • Externalidade produção – consumo: surge quan- do um ou mais produtores são as fontes e um ou mais consumidores são os receptores de externalidades. Na tentativa de amenizar os impactos das exter- nalidades a economia ambiental busca soluções para negociação de todos os envolvidos. Estas podem ocorrer sem a intervenção governamental quando envolve poucas pessoas e quando os agentes perten- cem à propriedade privada. Sendo viável a realização de códigos morais e sanções sociais e contrato entre os interessados. O Teorema de Coase busca esta proposta como solução, resumidamente o Teorema sugere que agen- tes privados podem negociar sem custos a extração e uso dos recursos naturais, mantendo uma relação confortável de mercado e solucionando externalida- des que sejam assim envolvidos. 54 2.2. Teorema de Coase Partindo da ideia de que o Teorema de Coase busca negociar entre a sociedade e as indústrias poluidoras, para assim chegar a um equilíbrio óti- mo, realizaremos a leitura de empresas que segui- ram este princípio. Utilizaremos o exemplo apresentado por COS-TA em seu artigo para a Revista Análise: o uso da celulose pela empresa “Papel Branco S/A”. Então, observe a tabela, verifique que se apresenta de forma numérica a influência do “Papel Branco S/A” sobre a indústria de cooperativas agropastoris “Cooperati- vas Boi Bumbá”. É notável que para cada “nível de emissão de poluição por parte da indústria de celulo- se”, variam os lucros de ambas as empresas. 55 Ta be la 1 : E xt er na lid ad es g er ad as p el a “P ap el B ra nc o S/ A” so br e a In dú st ria d e co op er a- tiv as a gr op as to ris “ C oo pe ra tiv as B oi B um bá ” Fo nt e: E xe m pl o nu m ér ic o el ab or ad o po r S im on e T ho m az i C os ta 56 De acordo com a economista, a interpretação da tabela segue as seguintes descrições: a poluição traz custos e benefícios sob o ponto de vista social (no exemplo a sociedade é composta apenas por duas indústrias). O custo associado à poluição é a redução no lucro das cooperativas e o benefício é o aumento no lucro da empresa de ce- lulose. O nível eficiente de emissão seria atingido quando a diferença entre o benefício total e o custo total fosse máxima... O aumento do lucro da empre- sa de celulose decorrente da emissão dessa unidade adicional será chamado de benefício marginal. O custo associado à emissão dessa unidade adicional, ou seja, a redução no lucro das cooperativas associa- da à emissão dessa unidade adicional, será chamado de custo marginal da poluição. As colunas 4 e 5 da Tabela 1 mostram como se comportam o custo e o benefício marginais da poluição no nosso exemplo. No entanto, as ações de uma empresa em poluir menos ou mais, não ficam soltas. Assim como uma indústria ao querer ampliar sua planta (espaço real) deverá pedir autorização aos órgãos públicos ou ao próprio Estado, que por sua vez autorizará ou não, a emissão de gases poluentes também seguem o pro- cesso de autorização do Estado. 57 Na visão de COSTA, este poder de emitir ou não licenças ambientais pode gerar uma “arma po- lítica”, favorecendo ou prejudicando um ou outro grupo de poder. Afirma que para evitar o protecio- nismo a alguns grupos em detrimento de outros seria preciso estipular o nível máximo de poluição aceito pela sociedade em determinada região, assim fixar quotas de poluição para as indústrias de uma localidade. Neste caso, o Estado define a proprieda- de e permite que haja um livre mercado de quotas de poluição, garantindo à sociedade que seu limite de aceitação de poluição não será ultrapassado, já que as próprias indústrias envolvidas auxiliarão os órgãos públicos, por meios de comissões a fiscalizar e criar mecanismos de controle. Nesta esfera se faz presente a ideia da tributa- ção como instrumento de gestão ambiental, sendo incorporado pela legislação brasileira como princí- pio poluidor – pagador. O princípio poluidor pagador é uma ação nor- mativa do direito ambiental. Este se encarrega de exigir o poluidor a cumprir com os encargos finan- ceiros destinados a recuperação dos danos causados ao meio ambiente. Esta medida não é algo novo, determinações a esse princípio já estavam previstos no Código de Águas de 1934: 58 (...) o Código de Águas admite que, mediante expressa autorização administrativa, e se os interesses da agri- cultura ou da indústria o exigirem, as águas podem ser inquinadas, mas os agricultores ou industriais devem providenciar para que elas se purifiquem, ou sigam o seu esgoto natural. Pelo favor concedido, os agriculto- res ou industriais devem indenizar os poderes públicos ou os particulares lesados (Pompeu 1997, baseado nos arts. 111-112 do Código de Águas). O princípio também se faz presente em outras legislações nacionais, com a que estabelece a Políti- ca Nacional do Meio Ambiente (Lei n.º 6.938/91), Art.4, VII: “A imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos cau- sados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”. No entanto, é bom ressaltar que muito mais importante do que determinar penalidades ao po- luidor, é promover a conscientização de preservação ambiental. Os códigos e as taxas cobradas não são sinônimos de “permissão para poluir”. As normas têm caráter disciplinador e visam, em longo prazo, o condicionamento de propriedades privadas e consu- midores em geral a pratica sustentável de produção. 59 No próximo capítulo, direcionaremos os estu- dos para instrumentos econômicos que podem auxi- liar o controle dos recursos naturais, como a água e o controle da qualidade do ar. 60 Atividades Complementares: 1. Explique os exemplos de funções da econo- mia ambiental expressada pela Figura 1. 2. Defina externalidades. 3. Busque exemplos de externalidades positivas e negativas. Apresente-as como ilustrações e justifi- cativas. 4. Entre as externalidades de consumidores e empresas, quem são os beneficiados e os prejudica- dos por este fenômeno? 5. Qual a proposta do Teorema de Coase? 6. Explique a tabela numérica sobre as ações poluidoras geradas pela “Papel Branco S/A” sobre a Indústria de cooperativas agropastoris “Cooperati- vas Boi Bumbá” 7. Pesquise outras situações como da questão anterior e a descreva resumidamente. 8. O Estado exerce algum papel na lógica do Teorema de Coase? Explique. 61 9. Faça uma pesquisa sobre o Teorema de Co- ase. Contextualize sua época e explique a situação problema que gerou tal Teorema. 10. Para que serve o princípio poluidor-paga- dor? Existe alguma legislação que formaliza este princípio? Cite algumas referências. 63 Unidade 3 Instrumentos Econômicos Para A Gestão Ambiental Os Instrumentos Econômicos - IEs podem ser considerados como incentivos, medidas que geram isenções de impostos e redução fiscal (baixa de pre- ços) ou por certificados de méritos à propriedade. No entanto, para que os instrumentos ocorram, de fato, precisam ser analisados e observados em tempo considerável para certificar-se se tais instru- mentos foram efetivos. Segundo o Relatório Final do Projeto Instru- mentos Econômicos para Gestão Ambiental de 1997, coordenados por MOTTA e YOUNG, as principais vantagens dos incentivos econômicos via valores e preços podem ser sintetizados da se- guinte forma: a) geração de receitas fiscais e tarifárias, através da cobrança de taxas, tarifas ou emissão de certifica- dos. Podem também servir para reduzir a carga fiscal sobre outros bens e serviços da economia que são mais desejáveis que a degradação, como são os casos de investimentos e geração de emprego. b) considerar as diferenças de custo de con- trole entre os agentes e, portanto, alocam de for- ma mais eficiente os recursos econômicos à dis- posição da sociedade, ao permitirem que aqueles 64 com custos menores tenham incentivos para ex- pandir as ações de controle; c) tecnologias menos intensivas em bens e ser- viços ambientais, sendo estimuladas pela redução da despesa fiscal que será obtida em função da redução da carga poluente ou da taxa de extração; d) atuando no início do processo de uso dos bens e serviços ambientais, o uso de IE pode anular ou minimizar os efeitos das políticas setoriais que, com base em outros incentivos, atuam negativamen- te na base ambiental; e) evitam os dispêndios em pendências judiciais para aplicação de penalidades; f) um sistema de taxação progressiva ou de alo- cação inicial de certificados pode ser efetivado segun- do critérios distributivos em que a capacidade de pa- gamento de cada agente econômico seja considerada. Ambos os relatores afirmam que o uso de in- centivos econômicos “promoveria não só a melho- ria ambiental como também a melhoria econômica, através da maior eficiência produtiva e equidade” (igualdade de direitos). Ainda no Relatório de IEs, de 1997, é possível constatar dois exemplos de aplicação dos instrumen- tos, um no controle do ar e outrono controle da água. No qual seus resultados foram observados e conferidos em vários países. 65 3.1. Como podem ser aplicados os IEs ao controle do ar? É do conhecimento geral que a poluição do ar não fica reservada em um só espaço. A poluição se espalha por várias regiões por intermédio natural das correntes de ar. Assim, o controle deste tipo de poluição não tem possibilidades de ocorrer no es- paço já poluído, mas, sim, nos meios que articulam este tipo de poluição. Exemplo simples: automó- veis e indústrias. Como ferramenta de controle aos automó- veis, a sociedade paulistana conhece bem, pois a cidade vivencia o “rodízio semanal de placas” que tem como propósito a melhoria das condições ambientais reduzindo a carga de poluentes na at- mosfera. Em relação às fábricas, é viável a adoção de fontes de energia alternativas e econômicas, como a solar e a eólica. Em nível global é possível constatar no Re- latório em questão, os incentivos fiscais e subsí- dios financeiros (créditos) que alguns países têm adotado para incentivar a redução da emissão de poluentes do ar. 66 Tabela 2: Incentivos fiscais para o controle da poluição do ar. Fonte: Mendes e Motta – Experiências Internacional na Aplicação dos IEs para o Controle do Ar, 1997. 67 3.2. Como podem ser aplicados os IEs ao controle da água? Neste caso, a ação dos IEs direciona-se à inves- tigação da liberação de resíduos poluentes, de ori- gem doméstica ou industrial aos recursos hídricos. A ideia é impedir que bacias hidrográficas ou rios locais, em condições viáveis, não sejam contamina- dos. Em relação ao que já está poluído, o propósito é a criação de redes de tratamento patrocinadas pelo setor público e privado (projetos ambientais – sus- tentabilidade). Quanto ao pagamento de contas, deduções sobre impostos, créditos, subsídios e certificados de excelência, são assim estabelecidos segundo os critérios normativos de cada país. Como segue na tabela a seguir. 68 Tabela 3: Incentivos fiscais para o controle da poluição da água. Fonte: Fonte: Mendes e Motta – Experiências Internacional na Aplicação dos IEs para o Controle do Ar, 1997. No próximo capítulo daremos seguimento ao contexto, tratando em específico de técnicas de valo- rização empregadas ao meio ambiente que têm por finalidade colocar em prática estratégias sustentáveis de produção e consumo. 69 Atividades Complementares: 1. Defina e exemplifique os Instrumentos Eco- nômicos aplicados na gestão ambiental. 2. Você considera que a elaboração de receitas fiscais e tarifárias, cobrança de taxas, tarifas ou emis- são de certificados podem limitar a emissão de po- luentes ao ambiente? Justifique-se. 3. Faça uma pesquisa e verifique os possíveis tipos de poluição presentes na Terra. 4. Após sua pesquisa, formule técnicas e ideias de incentivos ou créditos que poderiam ser aplicadas à propriedade privada. 5. O que são recursos hídricos? Busque referên- cias em um Atlas e cite os principais recursos hídri- cos do nosso país. 6. Você sabe o que é um aquífero? Faça uma pesquise e verifique se há algum no território brasi- leiro. Mencione sua localidade, condição e caracte- rísticas específicas. 7. Na cidade onde reside há a presença de rios ou outros leitos d’água? Caso tenha, faça uma des- 70 crição de sua condição: disponibilidade de uso, nível de contaminação, presença de área verde preservada e outras observações. 8. Após responder a questão anterior, verifique em sua cidade os possíveis instrumentos econômi- cos que têm sido aplicado aos recursos hídricos. Caso não tenha nenhum IE, pesquise instrumentos que se enquadram à realidade de sua cidade. 9. Faça uma leitura das duas tabelas presentes no capítulo e identifique os créditos e subsídios que mais se repetem entre os países. 71 Unidade 4 4. Valoração Dos Recursos Naturais A ameaça da escassez dos recursos naturais tem solicitado às sociedades alternativas para o de- senvolvimento socioeconômico. No que diz respei- to à economia dos recursos naturais, hoje, se faz necessário unir custos da degradação ambiental, consumo e processos produtivos. Tudo para que os recursos não sejam interrompidos antes que o seu limite de extração seja ultrapassado. Esta estratégia é denominada valoração ambiental e será caracteri- zada neste capítulo. Para melhor compreensão do conceito e uso da valoração, partiremos dos estudos do Profes- sor Jorge Madeira Nogueira (Brasília – UNB), editado no Caderno de Ciências e Tecnologia de Brasília, 2000, e do artigo de Katty Maria da Costa Mattos, apresentado no XII SIMPEP - Simpósio de Engenharia de Produções, no qual faz uso do plantio de cana de açúcar para exemplificar os ins- trumentos de valoração. Segundo as pesquisas do Professor Nogueira, os métodos de valoração econômica ambiental são técnicas específicas para quantificar (em termos mo- netários) os impactos econômicos e sociais de pro- jetos cujos resultados numéricos vão permitir uma avaliação mais abrangente. 72 Os benefícios de um projeto são os valores de produ- ção de bens e serviços, incluindo serviços ambientais, tornados possíveis pelo projeto, e os custos são os va- lores dos recursos incrementais reais usados no projeto. Ambos os benefícios e custos do projeto são apropria- damente descontados através do tempo para torná-los comparáveis. (Hufschmidt et. al., 1983, p.2-3). De posse desses resultados comparáveis, ex- pressos na mesma unidade de medida – unidades monetárias -, pode-se fazer uma avaliação da pre- ponderância de um ou de outro fator (benefício ou custo) e ter subsídios técnicos para escolher a me- lhor opção, também em termos sociais. O artigo de Mattos pode nos auxiliar quanto ao entendimento do uso da valoração ambiental através do estudo sobre o plantio de cana de açúcar e seus de- rivados: açúcar, álcool e bagaço. De acordo com seu artigo as regiões canavieiras vêm sofrendo crescentes pressões ambientalistas para o controle da emissão de poluentes resultantes da queima da cana. Devido a es- tas pressões surgiu o Decreto Lei n.º 42.056 de 06 de agosto de 1997 (D.O.E. 07/08/1997) que, na tentativa de normatizar o assunto, fixou um prazo para adoção de medidas que eliminam a queima da cana. Neste caso, a ideia do uso dos valores mone- tários dos recursos naturais justifica-se pelo fato de 73 que estes valores monetários podem ser utilizados como padrão de medida. Segundo o artigo de Mattos, o valor econômico total (VET) de um recurso consiste em seu valor de uso (VU) em seu valor de não uso (VNU). O valor de uso pode, ainda, ser subdividido em valor de uso dire- to (VUD), valor de uso indireto (VUI) e valor de op- ção (VO), que significa valor de uso potencial. O valor de existência (VE) é uma das principais categorias do valor de não uso. Pode ser escrito da seguinte forma: VET = VU + VNU ou VET = (VUD + VUI + VO) + VNU Desta forma, o valor de uso direto é determi- nado pela contribuição direta que um recurso natural faz para o processo de produção e consumo. O valor de uso indireto inclui os benefícios derivados, basi- camente, dos serviços que o ambiente proporciona para suportar o processo de produção e consumo. O valor de opção é a quantia que os consumidores es- tão dispostos a pagar por um recurso não utilizado na produção, para evitar o risco de não tê-lo no futuro. O valor de uso é atribuído pelas pessoas que realmente usam e usufruem o meio ambiente em ris- co, por meio de dados estatísticos. Os valores de uso direto e indireto estão associados com as possibilida- des presentes do uso dos recursos. Aquelas pessoas, porém, que não usufruem do meio ambiente podem 74 também valorizá-lo em relação a usos futuros, seja para elas mesmas ou para gerações futuras. Esse va- lor é referido como valor de opção, ou seja, opção para uso futuro ao invés do uso presente conforme compreendido no valor de uso. O valor de existência representa um valor atribuído à existência do meioambiente independentemente do uso atual e futuro. O valor de opção é baseado em quanto os indivíduos estão dispostos a pagar pela opção de preservar um bem para uso pessoal direto ou in- direto no futuro. Os métodos de valoração ambiental podem ser classificados em métodos diretos e indiretos. Os métodos diretos podem estar diretamente relaciona- dos aos preços de mercado ou produtividade, são baseados nas relações fiscais que descrevem causa e efeito do consumo e do capital natural. Já os mé- todos indiretos são aplicados quando um impacto ambiental ou um elemento do ecossistema que não pode ser valorado, ter preço ou valor de mercado. Assim, estes métodos repousam sobre a utilização de um mercado de substituição definido pela análise dos comportamentos reais. No artigo de Mattos, pode-se observar um quadro sinóptico para o setor agroindustrial cana- vieiro, e, com isso, analisar os possíveis métodos para captar os seus valores e conseguir uma valora- ção ambiental ideal. O método de valoração desta 75 análise consiste na aplicação da equação do valor econômico total (VET): VET = (VUD + VUI + VO) + VNU Veja o quadro a seguir: Legenda explicativa: VET – Valor Econômico Total; VUD – Valor de Uso Direto; VUI – Valor de Uso Indireto; VO – Valor de Opção; VNU – Valor de Não Uso. 76 Deste modo, Mattos conclui seu artigo mos- trando que a valorização permite identificar e ponderar os diferentes incentivos econômicos que interferem na decisão dos agentes em rela- ção ao uso dos recursos naturais, em específico na motivação de se optar pela não queimada da colheita de cana de açúcar. 77 Atividades Complementares: 1. Elabore uma pesquisa sobre a economia co- lonial brasileira. Investigue as técnicas de produção agrícola. Os principais latifúndios, o consumo e a comercialização dos produtos. 2. Quais as finalidades dos instrumentos de va- loração ambiental? 3. O plantio de cana de açúcar pode causar a degradação do meio natural? De que maneira? 4. O que mais o Decreto Lei n.º 42.056, de 06 de agosto de 1997 (D.O.E. 07/08/1997), determina sobre a queima ou cultivo da cana? 5. Em quais circunstâncias a equação do Valor Econômico Total (VET) pode ser aplicada? 6. Quais as diferenças entre Valor de Opção e Valor de Uso? 7.Aponte os resultados relevantes expostos no quadro sinóptico do setor Agroindustrial Canavieiro. 78 79 Unidade 5 5. Indicadores e Estatísticas Ambientais O grande desafio da nossa sociedade é pro- duzir uma atividade sustentável. Para realizar este fim não significa que tenhamos que eliminar ou até mesmo reduzir o nível geral de desenvolvimento. Para se atingir este fim, deve-se alterar o tipo ou a forma do nosso desenvolvimento, modelando-o de modo que ocasione o menor impacto possível no meio ambiente. Historicamente, a sociedade brasileira vem evo- luindo na questão ambiental, aos poucos e nas úl- timas décadas as indústrias situadas no Brasil tem se adaptado às necessidades ambientais e tem evi- denciado seu perfil de potencial poluidor. Mas nem sempre foi assim. No auge do processo da industrialização bra- sileira, com a chegada em massa de várias multi- nacionais (década de 70), as autoridades presentes e os grandes empresários não faziam questão de se preocupar com possíveis índices poluidores. O pri- mordial era abrir as portas para todos os tipos de indústrias e promover, a qualquer custo, o desenvol- vimento do país. Indústrias automobilísticas eram apresentadas como grandes vitrines da política econômica adota- da pelo governo do Período Militar Brasileiro. 80 Nos anos 80, cidades como Cubatão – SP já estavam altamente poluídas, devido à grande con- centração de indústrias emissoras de resíduos po- luentes. De acordo com a reportagem de Débora Spitzcovsky para a Editora Abril (2009), o levanta- mento inicial da poluição do ar, realizado no início dos anos 80, apontava para o lançamento de 1300 toneladas por dia de poluentes particulados e ga- sosos emitidos por fontes industriais na atmosfera da cidade. As consequências para a saúde humana foram dramáticas, podemos constatar o fato no de- poimento a seguir: Que lugar era esse, onde cada homem e mulher, velho e criança, recebia a cada dia 12 quilos de compostos venenosos e cancerígenos? Onde 18% da população sofriam de doenças respiratórias? Onde se registravam os mais altos índices de anencefalia (crianças nascidas sem cérebro) do hemisfério (um caso para cada 250 nascimentos)? (Millaré e Magri, 1992, p.103, citado em Almeida, 1997, p.158). Após leituras foi possível verificar que uma das consequências desse descaso com a questão ambien- tal é a ausência de estatísticas sobre emissões de po- luentes, o que dificulta uma análise mais complexa do desempenho ambiental da indústria brasileira. 81 Para nos auxiliar, buscaremos apoio nos estu- dos estatísticos do Grupo de Pesquisa em Economia do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, do Instituto de Economia da UFRJ. Por meio dos indicadores construídos pelo De- partamento de Indústria do IBGE, pesquisadores do Grupo procuraram medir a expansão dos setores de maior potencial de emissão de poluentes. Esses indicadores mostram que o crescimento das indús- trias de alto potencial poluidor no período de 1981 a 1999 foi nitidamente superior ao da média geral da indústria, sugerindo uma especialização relativa em atividades potencialmente “sujas” (gráfico 1). Gráfico 1 - Produção física, produto industrial com alto potencial poluidor e total, Brasil, 1981/99 (1981 = 100) Segundo Young e Lustosa, pesquisadores do Grupo da UFRJ, uma série de razões pode ser apon- tada para explicar a intensificação das atividades poluentes na composição setorial do produto indus- 82 trial. Em primeiro lugar, o atraso no estabelecimento de normas ambientais e agências especializadas no controle da poluição industrial demonstra que, de fato, a questão ambiental não configurava entre as prioridades de política pública – apenas na segunda metade dos anos setenta foi criado o primeiro órgão especificamente para esse fim (FEEMA/RJ). Em segundo lugar, a estratégia de crescimento associada à industrialização por substituição de im- portações (ISI) no Brasil privilegiou setores intensi- vos em emissão. A motivação inicial do processo de ISI – Industrialização por Substituição de Importa- ção - era baseada na percepção de que o crescimento de uma economia periférica não poderia ser apenas sustentado em produtos diretamente baseados em recursos naturais (extração mineral, agricultura, ou outras formas de aproveitamento de vantagens com- parativas absolutas definidas a partir da dotação de recursos naturais). Contudo, embora o Brasil tenha avançado na consolidação de uma base industrial diversificada, esse avanço esteve calcado no uso indireto de re- cursos naturais (energia e matérias-primas baratas), ao invés de expandir – se através do incremento na capacidade de gerar ou absorver progresso técnico – chave para o crescimento, mas que ficou limitado a algumas áreas de excelência. Tal concentração em atividades intensivas em emissão aumentou ainda 83 mais a partir da consolidação dos investimentos do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que resultou em forte expansão de indústrias de grande potencial poluidor – especialmente dos com- plexos metalúrgico e químico/petroquímico – sem o devido acompanhamento de tratamento dessas emissões (tabela 4). Tabela 4– Setores industriais com maior potencial de emissão De acordo com a tabela, continuava a percep- ção de que o controle ambiental é uma barreira ao desenvolvimento industrial, ignorando-se seu poten- cial para a geração de progresso técnico. Segundo pesquisas de Young, outro fator que contribuiu para as atividades industriais poluidoras foi a tendência de especialização do setor exportador em atividades potencialmente poluentes. Notou-se que estudos ba- seados em técnicas que associam emissõestotais às categorias de demanda final mostram que a intensi- 84 dade média de emissão de poluentes no complexo exportador é quase sempre superior à da média da indústria brasileira. Essa tendência foi acentuada a partir da década de oitenta, com a já referida expansão da capacidade produtiva ligada aos investimentos do II PND, mas não foi alterada com a liberalização comercial da pri- meira metade dos anos noventa. A tabela 5 apresenta as intensidades de emissão segundo o IPPS (IndustrialPollution Projection Sys- tem), construído pelo Banco Mundial, e que assume que a indústria brasileira teria um perfil de emissão por unidade de valor da produção semelhante ao da indústria norte- americana em 1987. Tabela 5 – Intensidade de emissão por unidade de valor da produção, Brasil, 1996 (kg/US$ Milhão), segundo coeficientes do IPPS 85 Outro argumento apresentado pelo Instituto da UFRJ, associado a essa tendência de especialização crescente das exportações brasileiras em produtos intensivos em emissão, é o da migração dos investi- mentos de indústrias consideradas “sujas” dos países desenvolvidos para países com legislação ambiental mais branda (ou mesmo inexistente), a fim de evitar maiores custos de produção impostos por controles ambientais mais rigorosos. A transferência de capitais poderia levar a uma redistribuição da renda mundial em favor daqueles que estivessem dispostos a poluir mais em troca de maior crescimento econômico no curto prazo, le- vando a que cada país “exercesse melhor suas prefe- rências”. Assim, a migração de indústrias poluentes para países subdesenvolvidos aumentaria o bem- es- tar mundial, pois os países desenvolvidos aceitariam perdas econômicas para obter um meio ambiente mais saudável, enquanto que o aumento de utilidade nos países em desenvolvimento gerado pelo maior crescimento econômico mais que compensaria a de- sutilidade causada pela poluição. A intensificação da abertura comercial brasilei- ra durante a década de 90 pode ter levado a uma maior especialização em atividades poluidoras, mas por outro lado expôs as empresas brasileiras à con- corrência internacional, mais acirrada do que a in- terna. A questão ambiental começou, portanto, a fa- 86 zer parte da gestão empresarial, principalmente das empresas de inserção internacional – seja por meio de exportações, de participação acionária estrangei- ra, de filiais de multinacionais ou da dependência de financiamentos de bancos internacionais, que con- dicionam os empréstimos a relatórios de impacto ambiental (RIMA). Algumas empresas passaram de uma posição reativa para uma postura proativa, incorporando uma atitude ecologicamente correta e antecipando suas ações face às regulamentações, como pode ser observado para as empresas do Estado de São Paulo. O Grupo de Pesquisas – UFRJ utilizou-se dos dados da Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (PAEP) para expor a ação das empresas paulista. De acordo com as estatísticas, alguns aspectos do com- portamento ambiental das empresas foram identifi- cados e calculados. Observando a tabela 6, das 843 empresas de controle total ou parcial do capital es- trangeiro, 52,4% acham que o desenvolvimento de produtos e processos produtivos menos agressivos ao meio ambiente pode ser uma oportunidade de negócios. Dentre as empresas de capital nacional, esse percentual cai para 29,2%. Independentemen- te da origem do capital, as empresas que conside- ram o meio ambiente como uma oportunidade de negócios são as que têm maior proporção de ven- das voltada para o exterior. Essa diferença só não é 87 acentuada para as empresas estrangeiras, mas que, contudo, possuem os níveis mais altos de vendas para o exterior. Como uma primeira aproximação, pode-se concluir que as empresas de maior inserção internacional – participação do capital estrangeiro e maior percentual de vendas para o exterior – vêm mais o meio ambiente como uma oportunidade de negócios do que as demais. Tabela 6: Empresas que consideram o meio ambiente uma oportuni- dade de negócios e seus percentuais médios de exportações sobre o total das vendas, segundo origem do capital controlador – 1996. De modo geral, podemos concluir que os da- dos apresentados pela UFRJ revelam que as empre- sas brasileiras, principalmente as de inserção inter- nacional, estão tomando consciência da importância da variável ambiental sobre sua competitividade. Há 88 também outros motivos para as empresas adotarem uma postura mais proativa em relação ao meio am- biente, como a melhoria da imagem da empresa pe- rante os seus clientes e a comunidade, a adaptação às exigências dos importadores, a redução de conflitos com órgãos de fiscalização ambiental e a diferencia- ção em relação aos concorrentes. 89 Fórum de Debates: • Faça uma pesquisa sobre o Decreto n.º 6.101, de 26 de abril de 2007, que trata das atribuições do Ministério do Meio Am- biente (MMA) para com o uso sustentável dos recursos na- turais. Logo após sua pesquisa desenvolva um pequeno texto dissertativo, relacionando a proposta do Decreto com os ins- trumentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade ambiental. • Selecione uma indústria que se encontre em solo brasilei- ro. Faça uma pesquisa detalhada sobre sua filosofia, meios de produção, gestão administrativa e projetos de incentivo ao uso sustentável dos recursos naturais e do meio ambiente de modo geral. Organize todos os dados pesquisados em um mapa con- ceitual. Atividades Complementares: 1. Conceitue os seguintes termos: a) Indicadores b) Estatísticas c) Emissores d) Qualidade 2. Qual a proposta de industrialização aplicada pelos governos da Ditadura Militar? 3. Explique e contextualize o trecho a seguir: “Onde 18% da população sofriam de doenças respi- ratórias? Onde se registravam os mais altos índices de anencefalia (crianças nascidas sem cérebro) do hemisfério (um caso para cada 250 nascimentos)?” 90 4. Caracterize as indústrias brasileiras durante a década de 90. Aponte suas possíveis ações para com a questão ambiental. 5. Quando e como a postura das indústrias bra- sileiras passou a ser direcionada para um comporta- mento ecologicamente mais correto? 91 Referencias Bibliograficas ALMEIDA, L.T. Política Ambiental: uma analise econômica. Campinas: Papirus, 1998. AMAZONAS, M.C. Economia Ambiental Ne- oclássica e Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: IBAMA/ CEBRAP, s/d COSTA, S.S.T. Introdução à Economia do Meio Ambiente. In: Revista Análise Edipucrs, Porto Ale- gre: Edipucrs, v.16, n.2, p. 301-323. Dezembro/2005. DIAS NETO, J. Gestão do Uso dos Recursos Pes- queiros Marinhos do Brasil – Brasília: IBAMA, 2010 MERICO, L.F.K. Introdução à economia ecoló- gica. Blumenau: Editora da FURB, 1996. MOTTA, R.S. e YOUNG, C.E.F. Relatório Fi- nal: Projeto Instrumentos Econômicos para a Ges- tão Ambiental. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997 NOGUEIRA, J.M; MEDEIROS, M. A. A. e ARRUDA, F. S. T. Valoração Econômica do Meio Ambiente: ciência ou empirismo? Cadernos de Ci- ências & Tecnologia. Brasília, v.17, n.02, p.81-115, maio/ agosto, 2000. 92 OLIVEIRA, R.G. Economia do Meio Am- biente. In: PINHO, D.B; VASCONCELOS, M. A. S. (Orgs). Manual da Economia. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 1999. POMPEU, C. T. Fundamentos Jurídicos do Anteprojeto de Cobrança pela Utilização das Águas do Domínio do Estado de São Paulo. Trabalho apre- sentado na Audiência Pública sobre Anteprojeto de Lei de Cobrança pelo Uso da Água. São Paulo: 1997. YOUNG, C. E. F. e LUSTOSA, M. C. J. Meio Ambiente e Competitividade na Indústria Brasilei- ra. Grupo de Pesquisa em Economia do Meio Am- biente e Desenvolvimento Sustentável – Instituto de Economia, Rio de Janeiro: 2002
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