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Síndromes urinárias Síndrome nefrítica Disfunção renal de início abrupto, por graus variáveis de hematúria, cilindros hemáticos, edema, HA, oligúria e proteinúria subnefrótica. Processo inflamatório do capilar glomerular. Glomerulonefrite aguda (GNA) Caracteriza-se pelo aparecimento súbito de urina escura, HA, edema (especialmente periorbitário pela manhã) e azotemia (níveis elevados de ureia). O sedimento urinário costuma revelar a presença de hemácias dismórficas e cilindros hemáticos. Em geral, ocorre proteinúria, em quantidade variável, desde <500 mg/dia a 4 ou + gramas/24 h, conforme o grau de comprometimento da taxa de filtração glomerular (TFG). Com a piora da função renal, a proteinúria pode tomar-se menos intensa. As causas incluem infecções bacterianas (estreptococcias, endocardite bacteriana), deposição de imunocomplexos (lúpus eritematoso disseminado e nefropatia por IgA) e anticorpos circulantes que lesam a membrana basal glomerular (síndrome de Goodpasture). Ao realizar a avaliação de um paciente, devem ser feitos exames sorológicos especiais, tais como níveis de complemento, anticorpos antinucleares (ANA), crioglobulinas, IgA, anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA), anticorpos antimembrana basal glomerular (anti-GBM), título de antiestreptolisina O (ASLO), fator nefrítico C3 e marcadores virais de hepatite. Os principais tipos de GNA, de acordo com sua etiologia, são: pós-estreptocócica, pós-infecciosa não estreptocócica e nefropatia por IgA. Glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP) Caracterizada por perda rápida da função renal, geralmente acompanhada de oligúria ou anúria e alterações urinárias características de glomerulonefrite. A principal característica histopatológica é a presença de crescentes em mais de 50% dos glomérulos renais. Crescente: proliferação de células epiteliais, acompanhada da deposição de fibrina, polimorfonucleares e monócitos no espaço de Bowman, assumindo formato de meia-lua. Pacientes com crescentes circunferenciais em mais de 80% dos glomérulos tendem a apresentar-se com insuficiência renal avançada que pode não responder à terapia. Glomerulonefrite crônica (GNC) Apresenta-se com elevação nos níveis séricos de ureia e creatinina, alterações do sedimento urinário com proteinúria e/ou hematúria. Mais raramente, manifesta-se com quadro de síndrome nefrótica típica, com edema generalizado e diminuição da função renal. Em alguns casos, predominam os sinais de uremia. Síndrome nefrótica Consiste na associação de: proteinúria (>3,5 g/24 h), hipoalbuminemia (albumina sérica <3,5 g/dl) e edema. Pode acompanhar-se de hiperlipidemia, além de estado de hipercoagulabilidade (sendo trombose venosa a manifestação mais comum). Alterações da permeabilidade da membrana basal glomerular são responsáveis pela perda de proteínas na urina. Existem evidências de que a resistência à ação do fator atrial natriurético seria o mecanismo responsável pela retenção de sal e água e formação do edema nesses pacientes. A hipercolesterolemia observada em pacientes nefróticos decorre do aumento da síntese hepática de lipoproteínas e diminuição do seu catabolismo em resposta à diminuição da pressão oncótica. A hipertrigliceridemia também pode ocorrer e a diminuição do seu metabolismo é o principal determinante, em associação com a diminuição da albumina, podendo estar relacionada à perda renal de substância reguladora do metabolismo lipídico. A diminuição dos níveis plasmáticos de proteínas ocasiona também redução das substâncias transportadas ligadas à albumina. Desse modo, os níveis de tiroxina, vitamina D, transferrina e antitrombina III podem estar baixos. Os níveis séricos de Ca e Z podem estar diminuídos, também em consequência de hipoalbuminemia. Principais causas: doença de lesões mínimas, glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF), nefropatia membranosa, glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP). IRA ou Lesão renal aguda (LRA) Caracterizada pelo rápido declínio da TFG, resultando em acúmulo no sangue de produtos do metabolismo nitrogenado, como a ureia e a creatinina, e incapacidade de manter o equilíbrio hidroeletrolítico e acidobásico, acompanhada ou não de redução da diurese. Os principais fatores de risco para seu desenvolvimento, em pacientes hospitalizados, são: idade avançada, presença de doença renal crônica, sepse e cirurgias cardíacas, entre outros. A ocorrência de LRA é crescente entre idosos, e vários fatores que afetam a hemodinâmica renal têm sido imputados para esta maior incidência: o próprio envelhecimento renal, a maior frequência de estados patológicos nesta faixa etária, o uso excessivo de medicamentos por estes pacientes e o uso cada vez mais frequente de procedimentos intervencionistas e cirúrgicos neste grupo específico de doentes. A mortalidade dos pacientes com LRA permanece em torno de 40 a 50%, podendo alcançar mais de 70% quando analisados pacientes em UTI com sepse. Dentre as causas, destacam-se: distúrbios que levam à redução da perfusão renal, à utilização de substâncias nefrotóxicas ou à participação associada destes e de outros fatores que lesam os rins. Quanto à etiologia, LRA pode ser classificada em 3 categorias: pré-renal, renal e pós-renal. Doença renal crônica Definida como: 1. Lesão do parênquima renal, com ou sem diminuição da FG, evidenciada por anormalidades histopatológicas ou por marcadores de lesão renal, incluindo anormalidades na composição do sangue ou da urina, alterações nos exames de imagem; 2. FG menor que 60 ml/min com ou sem lesão renal, por um período ≥3 meses; Pacientes com DRC apresentam risco maior de evoluir para insuficiência renal crônica terminal (IRCT) e aumento de mortalidade cardiovascular. Pacientes com IRCT (FG <15 ml/min) necessitarão de diálise ou de transplante renal para sobreviver. Inúmeras condições patológicas provocam a destruição de néfrons com perda progressiva da função renal. Algumas doenças podem levar à IRCT em poucos meses, como é o caso das glomerulonefrites rapidamente progressivas. As causas mais frequentes das mais lentas são: DM (nefropatia diabética), HA (nefroesclerose), GNC, nefrite intersticial, doença cística dos rins e uropatia obstrutiva. Manifestações clínicas Estágios 1 e 2: os pacientes são assintomáticos e ureia e creatinina são normais. Estágio 3 (3A e 3B): os pacientes são assintomáticos, mas já é possível observar elevação de ureia e creatinina, aparecimento de anemia e alterações do Ca, P e PTH, além de HÁ. Estágio 4: apresenta anemia, acidose metabólica, hipocalcemia, hiperfosfatemia e hiperpotassemia. Estágio 5: sinais e sintomas evidentes de síndrome urêmica. A síndrome urêmica resulta na retenção de substâncias tóxicas que afetam o funcionamento das células, envolvendo os sistemas cardiovascular, gastrintestinal, hematopoiético, imune, nervoso e endócrino. Sintomas: adinamia e fadiga fácil; queixas de prurido, edema e pele seca; anorexia, náuseas e vômitos, soluços e sangramento digestivo; dispneia progressiva. Dor retroesternal pode estar presente devido à pericardite. Noctúria; dor, dormência e cãibras nas pernas; impotência e perda da libido. Irritabilidade fácil, dificuldade de concentração, distúrbio do sono, em especial a inversão do ciclo sono-despertar, pernas inquietas. Sinais: aparência debilitada; pele amarelada (palidez urocrômica), hiperpigmentação em áreas expostas, xerodermia (pele seca), equimoses, escoriações e edema. Podem ocorrer alterações ungueais do tipo unha meio a meio (unhas de Lindsay); o leito ungueal distal apresenta tonalidade vermelho-rósea a castanha. Neve urêmica (depósito branco na superfície cutânea, secundário à deposição de cristais de ureia excretada pelo suor), uma das mais raras apresentaçõesdescritas na uremia. Hálito com odor de urina. Presença de cardiomegalia, atrito pericárdico. Sonolência ou estupor, podendo entrar em estado de coma. Asterixe (agitação das mãos), mioclonia e neuropatia periférica; reflexos tendinosos profundos podem estar diminuídos. O paciente costuma apresentar anemia normocítica normocrônica; os níveis de ureia, creatinina e ácido úrico estão elevados. O Na sérico tende a estar baixo, enquanto os níveis de K se elevam. O nível de bicarbonato costuma estar diminuído e o pH, baixo, denotando acidose metabólica, importante característica da DRC. Na USG, em geral, os rins têm menos de 9,0 mm longitudinalmente, indicando redução de parênquima renal funcionante. Entretanto, doenças como DM, mieloma múltiplo e amiloidose podem cursar com rins de tamanho normal ou mesmo aumentado. Infecção urinária Infecções do trato urinário baixo (cistite, uretrite, prostatite) caracterizam-se por disúria, polaciúria e urgência. A infecção urinária pode ser recorrente por recidiva (recorrência de bacteriúria ocasionada pelo mesmo microrganismo, a despeito do tratamento, nas 3 semanas após o tratamento) ou reinfecção (ocorre após a cura aparente, mas com cepas diferentes). Cistite e pielonefrite aguda podem ocorrer conjuntamente. Pielonefrite aguda Caracteriza-se pela invasão bacteriana aguda do rim e da pelve renal (trato urinário alto) e costuma ser unilateral. Caracteriza-se pelo aparecimento súbito de febre (39° a 40°C), calafrios, náuseas e vômitos; prostração, taquicardia e hipotensão arterial podem ocorrer. Muitos pacientes apresentam dor em um ou em ambos os flancos, com irradiação para a fossa ilíaca e região suprapúbica. Pode haver disúria, polaciúria, urgência e eliminação de urina turva, denotando a presença de cistite associada. Dor e contração muscular no ângulo costovertebral e região lombar costumam ocorrer ao exame físico. Dentre os dados laboratoriais, destaca-se a presença de piócitos, cilindros leucocitários e bactérias. Em adultos, pode evoluir com pouco ou nenhum sintoma urinário, especialmente na gravidez. Recuperação completa é comum em pacientes sem afecções subjacentes que facilitem a manutenção ou o reaparecimento da infecção, principalmente litíase e obstrução urinária. Em algumas condições, contudo, os sintomas desaparecem, mas a bacteriúria persiste, transformando-se em infecção crônica. Em pacientes diabéticos, a infecção aguda pode ser suficientemente grave para causar necrose de papila renal. Pielonefrite crônica Surge geralmente após um episódio inicial de pielonefrite aguda ou cistite, principal- mente associada a obstrução urinária, presença de cálculo, hipertrofia prostática, bexiga neurogênica e refluxo vesicouretral. Os sinais e sintomas presentes (polaciúria, dor lombar) podem sugerir que a origem da doença seja o trato urinário. No entanto, é comum o paciente não apresentar queixa atribuível ao aparelho urinário, dominando o quadro clínico relato de fraqueza geral, apatia, perda de peso ou sintomas relacionados com a uremia. A urina geralmente contém piócitos, bactérias e pequena quantidade de proteínas. A evolução da doença costuma ser longa, com exacerbações frequentes, mesmo nos pacientes em que se corrigiu alguma eventual obstrução ou depois da retirada de cálculo das vias urinárias. Cistite e uretrite Infecção urinária restrita à bexiga e/ou uretra, caracterizada por polaciúria, disúria, urgência e piúria. A irritação da parede vesical causa contração espasmódica da bexiga, fazendo com que o paciente apresente estrangúria. A cistite provoca desconforto e sensação dolorosa na região suprapúbica. A urina pode apresentar-se turva e com odor desagradável. Piócitos, hemácias, células epiteliais e bactérias são encontrados no exame do sedimento urinário. Na uretrite aguda, observa-se queimor intenso ou dor durante a micção. Observa-se, também, corrimento uretral purulento entre as micções. Prostatite Caracteriza-se por dor na região sacra e perineal, que se acompanha de desconforto retal e testicular; piúria e hematúria costumam ocorrer. A prostatite bacteriana aguda produz manifestações sistêmicas de bacteremia com febre alta e calafrios, acompanhando-se de disúria e polaciúria. O toque retal acompanha-se de dor intensa, devido ao aumento de volume da glândula, o que torna a cápsula tensa. Na prostatite bacteriana crônica, o paciente pode ser assintomático, com próstata de tamanho normal e indolor ao toque retal. Litíase urinária Formação de concreções calculosas nos rins e vias urinárias. Em cerca de 70 a 80% dos casos, são formadas por sais de Ca (oxalato, fosfato), e os restantes 10%, por ácido úrico, cistina e estruvita. A urolitíase pode ser associada a obstrução urinária; aproximadamente 12% da população apresentará pelo menos um episódio de litíase durante toda a vida, tanto como episódio limitado à passagem de um cálculo pelas vias urinárias, quanto como um problema crônico, recidivante. O índice de recorrência é de 50% em 10 anos. Elementos importantes na avaliação de um paciente com litíase urinária: 1. História clínica com ênfase em hábitos alimentares, medicamentos em uso, história familiar de doenças do sistema urinário, cólica renal, hematúria; 2. Exame de urina: hematúria e cristalúria; 3. USG: localização, tamanho e dimensões do cálculo, que tornam possível o conhecimento da composição química e adoção de medidas de prevenção ou de terapêutica; 4. Avaliação de alterações metabólicas capazes de provocar litíase recorrente. A USG não visualiza cálculos ureterais. Litíase renal (nefrolitíase) Desenvolvem-se nos cálices ou pelve renal, nos quais podem ficar encravados e crescer, adotando inclusive o formato dos cálices e da pelve (cálculo coraliforme). Muitas vezes, há apenas uma discreta sensação de dor ou peso no flanco correspondente. Dor localizada na região lombar ou no flanco somente ocorre se houver obstrução da junção ureteropélvica ou de um cálice renal; hematúria microscópica costuma ocorrer. O paciente pode apresentar proteinúria discreta. Litíase vesical Obstrução e infecção urinária são fatores importantes no aparecimento dos cálculos vesicais. Corpos estranhos e divertículos também. Manifestações clínicas principais: disúria, urgência e interrupção brusca do jato urinário quando o cálculo obstrui a uretra; são recorrentes manifestações de cistite, obstrução e estase urinária crônicas. Quando o cálculo é de superfície irregular, as manifestações vesicais são mais intensas, especialmente com relação à dor e à hematúria.
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