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São Paulo 2015 Tiroidite de Hashimoto SUMÁRIO Introdução .................................................................................................................... 3 Epidemiologia .............................................................................................................. 4 Aspectos Clínicos e Sintomas .................................................................................... 4 Diagnóstico .................................................................................................................. 6 Tratamento ................................................................................................................... 6 Tratamento Nutricional ................................................................................................ 7 Referências ................................................................................................................ 10 3 Tiroidite de Hashimoto Introdução A tireoide é a glândula endócrina localizada logo abaixo da faringe e tem forma de borboleta com dois lobos direito e esquerdo, um em cada lado da traqueia e é a glândula que controla o metabolismo. Sacos esféricos microscópicos, chamados folículos tireóideos, constituem a maior parte da glândula tireoide. A parede de cada folículo tireóideo consiste primariamente de células denominadas foliculares, que produzem dois hormônios: a tiroxina, também chamada de T4, porque contém quatro átomos de iodo, e a tri-iodotironina T3, que contém três átomos de iodo. A cavidade central de cada folículo da tireoide contém hormônios tireoidianos armazenados. Quando o T4 circula no sangue e entra nas células por todo o corpo, a maior parte é convertida em T3, pela remoção de um átomo de iodo. (TORTORA, 2012) A tireoidite, ou inflamação da glândula tireoide, abrange um grupo de distúrbios caracterizados por alguma inflamação da tireoide. Essas doenças incluem condições que resultam em doença aguda com uma intensa dor tireoidiana como a tireoidite granulomatosa subaguda e distúrbios nos quais há uma inflamação relativamente pequena, manifestados primariamente pela disfunção tireoidiana como na tireoidite linfocítica crônica ou fibrosa. (ROBBINS, 2010). Um tipo muito comum e clinicamente significativo de tireoidite é a linfocítica crônica também conhecida como tireoidite de Hashimoto, que recebeu esse nome por homenagem ao médico japonês Hakaru Hashimoto que descreveu sobre as glândulas tireoide extremamente inflamadas, duras, no exame necroscópico. Notou o pesquisador japonês que as tireoides estavam invadidas por células brancas da circulação (linfócitos) e com suas unidades funcionais (folículos) destruídos. (CAMACHO, 2008). 4 Epidemiologia A tireoidite de Hashimoto é a forma de incidência mais frequente de tireoidite e representa a causa mais comum de hipotireoidismo no Brasil. Ela afeta em torno de 5% da população adulta, e sua prevalência aumenta com o passar dos anos. Essa doença é três vezes mais frequente em mulheres, e o diagnóstico é realizado geralmente entre 40 e 60 anos de idade. A tireoidite atrófica ocorre em 10% dos pacientes com hipotireoidismo autoimune crônico. (NORMAN, 2006) Em casos dessa tireoidite, é comum a associação a outras doenças autoimunes. Também um risco mais alto para ocorrência de tireoidite de Hashimoto em pacientes com síndrome de Down ou síndrome de Turner. Além disso, a concomitância de tireoidite de Hashimoto com adenomas ou carcinomas tireoidianos não é rara, mas não há uma relação causal. (JAMESON, 2010) Também pode ocorrer em crianças constituindo-se na principal causa de bócio não endêmico. (ROBBINS, 2010) Aspectos Clínicos e Sintomas A tireoidite de Hashimoto, também chamada de tireoidite linfocítica crônica, é uma doença autoimune responsável por uma grande quantidade dos casos de bócio e hipotireoidismo. A doença acomete principalmente mulheres e pessoas idosas, sendo rara antes dos quatro anos de idade. Esse tipo de tireoidite é comum entre indivíduos de uma mesma família, podendo ter alguma relação genética. Além disso, sabe-se que fatores ambientais também possuem uma importante relação com o surgimento da doença. Pesquisas indicam que o consumo excessivo de iodo, por exemplo, aumenta os casos da doença. Entretanto, vale frisar que a patogênese da tireoidite de Hashimoto ainda não é bem esclarecida, assim como a maioria das doenças autoimunes. (ROBBINS, 2010) A tireoidite de Hashimoto é uma doença autoimune na qual a característica predominante é a progressiva redução das células epiteliais tireoidianas, que são gradualmente substituídas por um infiltrado celular mononuclear e fibrose. Múltiplos mecanismos imunológicos podem contribuir para a morte dos tireócitos, embora a 5 sensibilização das células T CD4+ aos antígenos tireoidianos pareça constituir o evento iniciador. Os mecanismos causadores da morte dos tireócitos incluem: ∙ A possível reação das células T CD4+ aos antígenos tireoidianos, produzindo tioninas que promovem a inflamação e ativam os macrófagos, como nas reações de hipersensibilidade do tipo retardo. A lesão a tireoide resulta de produtos tóxicos das células inflamatórias. ∙ Morte celular mediada por células T citotóxicas CD8+ (podem identificar antígenos nas células tireoidianas e destruir estas células) ∙ A ligação de anticorpos antitireoidianos seguida pela citotoxicidade mediada por células anticorpo dependentes mediadas por sua vez pelas células natural killer (NK), foi invocada como outro mecanismo de morte tireocífica, com base nas células NK. (ROBBINS, 2010) A tireoidite de Hashimoto chama atenção clinica devido ao aumento da tireoide, geralmente associado a algum grau de hipotireoidismo, em uma mulher de meia idade. O aumento da glândula geralmente é assimétrico e difuso, mas em alguns casos podem ser suficientemente localizados para levantar a suspeita de uma neoplasia. (ROBBINS, 2010) O hipotireoidismo se desenvolve gradualmente, em alguns casos, ele pode ser precedido por uma tireotoxicose transitória provocada pela ruptura dos folículos tireoidianos, com liberação secundária dos hormônios da tireoide. Durante essas fases, as concentrações de T4 e de T3 livres encontram-se elevadas. O TSH está diminuído e a captação de iodo radioativo, reduzida. À medida que o hipotireoidismo sobrevém, os níveis de T4 e T3 caem progressivamente, acompanhados por um aumento compensatório de TSH. Os pacientes com tireoidite de Hashimoto frequentemente apresentam outras doenças autoimunes e possuem um risco aumentado de desenvolvimento de linfomas não Hodgkin de células B, contudo, não há risco estabelecido para o desenvolvimento de neoplasias epiteliais tireoidianas. (ROBBINS, 2010) Os sintomas são muito vagos e podem estar presentes durante muito tempo sem que a pessoa note que tem um problema de tireoide. O cansaço fácil, fadiga crônica, sensibilidade ao frio, câimbras frequentes, ganho de peso (insuficiente para justificar a 6 obesidade), alterações da menstruação, inchaço, mixedema – edema duro no pescoço, devido ao aumento do tamanho da tireoide. (CAMACHO, 2008) A dor é um sintoma que raramente ocorre e quando acontece é em baixa intensidade. (NORMAN, 2006) Diagnóstico Para o diagnóstico de tireoidite de Hashimoto é considerada a história clínica e os exames laboratoriais. Na história clínica o médico considera os sintomas, uso de medicações, doenças anteriores e história familiar de doença tireoidiana. Nos exames laboratoriais consideram-se as dosagens de hormônios tireoidianos (T3 –T4 – T4 livre), que são produzidos pela hipófise (TSH fica alto quando a tireoide está insuficiente), e os auto anticorpos tireoidianos: antimicrossomais (também chamados anti TPO), e antitireoglobulina. (CAMACHO, 2008) A ultrassonografia da tireoide é usadapara avaliarmos a estrutura e o tamanho da glândula e também para a pesquisa de nódulos tireoidianos. Geralmente a tireoide está aumentada com textura normal ou heterogênea podendo apresentar áreas que sugerem nódulos de limites imprecisos. Em caso de presença de nódulos ou áreas suspeitas pode ser solicitada a punção para confirmar o diagnóstico. No passado era feita a captação com iodo radioativo, mas hoje em dia não é muito utilizada. (CAMACHO, 2008) Tratamento Uma vez instalada uma doença de autoagressão, isto é, o sistema imunitário iniciou a produção de anticorpos contra a tireoide, o processo patológico não cessa. O corpo humano tem o que se chama de memória imunológica, isto é, tem registrado os agentes bacterianos (por exemplo) que nos agridem e são combatidos por anticorpos específicos. No caso da Tireoidite de Hashimoto a agressão dirigida contra a tireoide é contínua, e os anticorpos sempre são produzidos. (NORMAN, 2006) Pacientes com hipotireoidismo clínico devem ser tratados com o hormônio da própria tireoide (Levotiroxina ou T4). A dose do medicamento deve ser ajustada até que se obtenha a normalização do TSH elevado. Para melhor absorção da medicação deve- 7 se usá-la, pelo menos, trinta minutos antes de ingerir o alimento da manhã. (JAMESON, 2010) A presença de auto anticorpos sem que haja a alteração dos níveis hormonais e clínicos não necessita de tratamento. Nesses casos deve apenas fazer uma monitorização periódica dos hormônios para iniciar o tratamento com Levotiroxina quando necessário. (NORMAN, 2006) A Levotiroxina é o tratamento preferencial para a Tireoidite de Hashimoto. O bócio tende a encolher com a normalização dos níveis de TSH. O hormônio tireoidiano deve ser continuado indefinidamente. Há relatos que as doses farmacológicas de glicocorticoides são eficazes na tireoidite de Hashimoto, quando há um bócio rapidamente crescente associados a sintomas de compressão. O uso de glicocorticoides deve ser breve, os efeitos colaterais a longo prazo superariam as vantagens do seu uso. A cirurgia é indicada apenas se os sintomas persistentes significativos de obstrução estiverem presentes ou malignidade em nódulo tireoidiano, mas é raro. (NORMAN, 2006) Tratamento Nutricional A relação nutrição e tireoide deve ser mais explorada em estudos, muitas perguntas ainda permanecem sem respostas principalmente no que se refere à quantidade de determinados alimentos que poderiam influenciar de forma significativa no funcionamento tireoidiano. (SILVA, 2011) Uma dieta para a tireoidite de Hashimoto começa por reduzir ou até eliminar todos os alimentos que podem iniciar uma resposta autoimune. O excesso de iodo também é responsável pelo alto índice de tireoidite de Hashimoto. A soja ou algum composto específico, inibe a tireoide, mas níveis adequados de iodo parecem prevenir esses efeitos destrutivos na maior parte das pessoas. (SILVA, 2011) Os alimentos crucíferos como o brócolis, couve e repolho apresentam o tiocianato que inibe a captação de iodo pela tireoide, mas o aquecimento evita a formação destes compostos. (SILVA, 2011) 8 O glúten, presente nos alimentos à base de trigo, cevada, centeio e outros grãos, está envolvido no aumento do número de anticorpos tireoidianos em muitas pessoas. Notou-se que, ao eliminar o glúten da dieta, houve uma melhora no metabolismo tireoidiano. (SILVA, 2011) A suplementação de selênio pode reduzir a contagem de anti TPO, além de evitar o estresse oxidativo nos folículos tireoidianos. Os alimentos ricos em selênio são: castanha do Pará, amêndoas, peixes (como atum ou linguado) e cereais integrais. O zinco pode prevenir a queda dos níveis de T3 associada a dietas hipocalóricas, pois é um cofator da DI2 (deiodinase tipo 2). (SILVA, 2011) Os flavonoides inibem a captação de iodo e o funcionamento da D1 in vitro, mas não sabemos qual dose seria maléfica. Por esse motivo recomenda-se cautela na suplementação de flavonoides para pacientes com hipotireoidismo. (SILVA, 2011) O excesso de iodo é prejudicial à tireoide, por esse motivo, o consumo de sal iodado não deve exceder às recomendações, especialmente em pessoas com histórico familiar de distúrbio de tireoide. No Brasil, o IBGE recomenda um consumo de 10g/dia, mas a indústria salineira diz que a recomendação é de 14 a 16g/dia. Há uma hipótese de que o brasileiro estaria ingerindo mais sal do que inicialmente se pensava. O fato do alto índice de iodo provocar a tireoidite de Hashimoto, não invalida, porém, a grande conquista que foi o sal iodado para a saúde da população. (SILVA, 2011) Os pacientes seguindo dieta hipossódica por mais de dois meses devem receber outras fontes de iodo, para prevenir uma possível carência desse mineral. Outras fontes de iodo são os alimentos de origem marinha, como peixes, frutos do mar e algas. Nos últimos anos, a vitamina D vem sendo apontada como importante reguladora da resposta imune, além de suas funções já bem conhecidas na regulação da homeostase do cálcio e formação/reabsorção óssea. Estudos mostram haver relação entre deficiência de vitamina D e presença de doenças autoimunes como a Tireoidite de Hashimoto. (SILVA, 2011) Os ácidos graxos, como o ômega 3, trabalham sinalizando o organismo da necessidade de produzir mais hormônios na tireoide. Isso torna extremamente importante o seu consumo e eles podem ser encontrados nos peixes em geral, na linhaça, na chia e nas nozes. 9 O tratamento nutricional tem se mostrado como recurso terapêutico auxiliar extremamente útil e pode ser iniciada em todos os pacientes. (SILVA, 2011) 10 Referências CAMACHO, Pauline M.; GHARIB Hossein; SIZEMORE Glen W.- Endocrinologia Baseada em Evidências – 2º edição, Editora Artmed, 2008 JAMESON Larry J; GROOT Leslie J. de – Endocrinology Adult and Pediatric The Thyroid Glan – 6th Edition, Elsevier, 2010 NORMAN Lavin; Manual de Endocrinologia e Metabolismo no Adulto e na Criança, 3º Edição, Editora Revinter, 2006 ROBBINS & COTRAN, Robbins, Cotran, Kumar - Bases Patológicas das Doenças, 8º Edição, Elsevier, 2010 SILVA, Sandra M. Chemin S. da; MURA, Joana D’Arc Pereira – Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia, 2ºedição, Editora Roca, 2011 TORTORA Gerard J.; DERRICKSON Bryan – Corpo Humano Fundamentos de Anatomia e Fisiologia, 8º edição, Editora Artmed, 2012
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