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A mulher e o mercado de trabalho - A evolução histórico social, contemporânea, a desigualdade de gênero e a agravante pandêmica

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A mulher e o mercado de trabalho - A evolução histórico social, contemporânea, 
a desigualdade de gênero e a agravante pandêmica. 
Artigo realizado para cumprimento da Atividade Pratica Supervisionada - Disciplina de Direitos Sociais, Coletivos e 
Protetivos – Prof.ª Michelle Bublitz - Centro Universitário Ritter dos Reis. 
Kamilla Daneres Porto e Willian Cardoso 
 
Inicialmente, nos primórdios das relações interpessoais, acreditava-se que as mulheres 
serviam apenas para os afazeres domésticos e cuidar dos filhos e, como consequência, viviam uma 
vida de "ignorância" em detrimento aos acontecimentos externos à vida do lar, podendo, portanto, 
serem consideradas “escravas” do homem e com o dever eminente de servi-lo e obedecê-lo. 
As mulheres iniciaram a luta por espaço no ambiente de trabalho durante a revolução 
industrial – século XIX1 – porém as conquistas só foram tomando forma, ou seja, realizando 
atividades antes exercidas somente por homens, em meados do século XX por volta de 1914, 
inicialmente na Primeira e Segunda guerra mundial (1914 – 1918 e 1939 – 1945)2 momento no qual 
os homens tinham o dever de lutar e travar batalhas, assim, as mulheres passavam a gerir os 
negócios familiares. (LESKINEN, 2004), ou seja, relacionado diretamente como conseqüência de 
uma questão social, 
 De acordo com o autor Amauri Mascaro Nascimento3 e, abarcada a reação humanista que se 
propôs a garantir ou preservar a dignidade do ser humano, ocupavam cargos de trabalho das 
indústrias, que com o desenvolvimento da ciência, desencadearam nova aparência ao processo de 
produção de bens na Europa e em outros continentes, que, por conseguinte expandiu-se pelo mundo 
industrializado com muita velocidade. 
Com a consolidação do sistema capitalista no século XIX, muitas mudanças ocorreram na 
produção e organização dos trabalhos femininos. Com a revolução industrial (desenvolvimento da 
tecnologia, surgimento das máquinas), grande parte da força de trabalho feminina foi transferida 
para as fábricas. Naquela época, os empregos femininos eram amplamente utilizados, especialmente 
em operações de máquinas. Os empresários preferiam as mulheres na indústria porque elas 
recebiam salários mais baixos do que os homens, mas forneciam os mesmos serviços que os 
homens. Como resultado, as mulheres sofreram de 14 a 16 horas de jornada de trabalho mal 
remuneradas, suas condições de trabalho eram prejudiciais à saúde e, inclusive, assumiam 
obrigações mais do que possíveis para evitar a perda do emprego e, sem quaisquer medidas de 
proteção durante a gravidez e a amamentação. Além disso, as mulheres também tinham o dever de 
cuidar do trabalho doméstico e dos filhos. (PINTO MARTINS, 2008). 
A história da mulher e o mercado de trabalho, no Brasil, está sendo escrita até os dias atuais 
e está diretamente fundamentada na história e no “papel da mulher” como membro da sociedade, 
visto que, mesmo com o passar dos séculos é vista como responsável pela liderança do lar. 
Segundo Araújo Teixeira (2008), “Para se consolidar no mercado, as mulheres estão cada 
vez mais adiando projetos pessoais, como a maternidade”. A diminuição do número de filhos é um 
dos fatores que contribuem para a existência de mão-de-obra feminina. À medida que o número de 
filhos diminui, as mulheres tendem a achar “mais fácil” conciliar os papéis de mães e trabalhadoras, 
 
1 http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/81-a-origem-do-dia-
internacional-da-mulher 
2 http://www.usp.br/aun/antigo/exibir?id=7501&ed=1302&f=23 
3 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso do direito do trabalho. 23 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. 
porque as atividades produtivas fora de casa se tornaram tão importantes quanto as mães, 
pensamento este induzido pela sociedade, visto que a mantença do lar deve ser vista como 
obrigação recíproca de ambos os gêneros e não apenas para as mulheres, fato este praticamente 
inexistente na realidade, conforme registro do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
- citados alhures. 
No entanto, a trajetória de desenvolvimento das mulheres nos últimos séculos tem sido 
extraordinária: desde a educação baseada apenas no cuidado familiar durante o período colonial até 
a tímida participação em escolas públicas mistas em meados deste século XIX, seguido pela maioria 
hoje em todos os níveis de ensino, tem participação no corpo docente do ensino superior. 
Em se tratando de evolução no mercado de trabalho a revolução e o desenvolvimento é 
constante, como citado anteriormente, as mulheres iniciaram sua trajetória em meio às guerras, 
posteriormente com a revolução industrial ingressaram às fábricas e, durante todo o 
desenvolvimento e conquistas, tiveram de enfrentar inúmeras discriminações e preconceitos em 
virtude do gênero e a desvalorização salarial datam já dessa época, uma vez que elas recebiam 
menos que os homens. 
Há menos de cem anos, a mulher não tinha direito a voto no Brasil. Hoje, já ocupou-se, 
inclusive, o cargo de Presidência da República. Em pouco tempo, o dito “sexo frágil” ganhou seu 
espaço na sociedade e destaque no mercado de trabalho. 
Nas últimas décadas do século XX, presencia-se um dos fatos mais marcantes na sociedade 
brasileira, que foi a inserção, cada vez mais crescente, da mulher no campo do trabalho, fato este 
explicado pela combinação de fatores econômicos, culturais e sociais. Em razão do avanço e 
crescimento da industrialização no Brasil, ocorreram a transformação da estrutura produtiva, o 
contínuo processo de urbanização e a redução das taxas de fecundidade nas famílias, 
proporcionando a inclusão das mulheres no mercado de trabalho. 
O trabalho não remunerado da mulher, especialmente o realizado no âmbito familiar, não é 
contabilizado pelo sistema estatístico e não possui valorização social, nem pelas próprias mulheres, 
embora contribuam significativamente com a renda familiar e em crescimento. 
Conclui-se com os estudos acerca da situação da mulher no mercado de trabalho que, ocorre 
uma dificuldade em separar a vida familiar da vida laboral ou vida pública da vida privada, mesmo 
em se tratando da participação no mercado de trabalho, na população economicamente ativa, não 
somente pela mulher - como consequência do histórico social supra mencionado - mas 
principalmente pela sociedade, que ainda é retrógrada ao visualizar a mulher como objeto e, 
inclusive, principal prestadora de serviço no âmbito familiar/residencial. 
De acordo com o estudo divulgado pelo IBGE4, as mulheres possuem maior escolaridade 
que os homens. Na população de 25 anos ou mais de idade com ensino superior completo, elas 
representam 16,9%, enquanto eles 13,5%. 
Em contrapartida, as mulheres ainda recebem 76,5% do rendimento dos homens, na 
média. A diferença de rendimentos habitual médio mensal é de R$542, já que as mulheres recebem 
R$1.764, enquanto eles auferem renda equivalente a R$2.306. 
Observa-se, também, que as mulheres trabalham, em média, três horas por semana a mais do 
que os homens, incluindo trabalhos remunerados, afazeres domésticos e como cuidadoras de 
pessoas. 
No oportuno, imprescindível frisar o retrocesso intensificado pela pandemia causada pelo 
novo COVID-19, gize-se que a desigualdade de gênero no mercado de trabalho não surgiu com a 
pandemia, mas foi visivelmente acentuada por ela. 
 
4 https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101551_informativo.pdf 
Em consonância com dados divulgados pelo Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica 
Aplicada5 -, o percentual de mulheres no mercado de trabalho foi de 45,8% no terceiro trimestre de 
2020, menor índice registrado nos últimos 30 anos, ficando acima apenas no ano de 1990, quando 
atingiu o percentual de 44,2%. 
Ademais, segundo levantamento do IBGE, no segundo trimestre de 2020, a taxa de 
desemprego doshomens era de 12% e a das mulheres de 14,9%. Na segunda quinzena de março, 
cerca de 7 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho, ante 5 milhões de homens. Novos 
dados divulgados pelo IBGE em março de 2021 mostram que menos da metade das mulheres 
negras com filhos negros podem trabalhar no Brasil. 
A desigualdade já era realidade. A mulher era mãe, dona de casa, profissional e tinha que 
dar conta de todas as atividades. Mas, com a pandemia, a situação de muitas mulheres ficou 
inconciliável. Como manter a produtividade no trabalho, ou mesmo manter o emprego, em meio ao 
isolamento social com as crianças integralmente em casa, sem a ajuda do parceiro? Historicamente, 
se alguém precisa abrir mão de um trabalho para se dedicar à casa, será a mulher e não o homem. 
Então, muitas deixaram o trabalho por não conseguirem administrar tudo em meio à pandemia. 
A B2 Mamy6 - aceleradora das mães empreendedoras - divulgou este ano um estudo que 
apontou que 48% das mães de recém-nascidos no Brasil decidiram deixar o mercado de trabalho e 
só voltaram depois de dois anos. Em média, as carreiras das mulheres com filhos acabaram 
atrasadas em pelo menos seis anos. 
Além de todo o exposto, a agravante da Pandemia expõe as mulheres sob a ótica de uma 
responsabilidade social extremamente exaustiva, visto que além de todo a carga histórica social de 
cuidados com a prole, o lar, o trabalho, tem-se ainda o “dever” de supervisionar atividades escolares 
à distância e acompanhamento dos filhos no dia a dia, afazeres que e com a crise pandêmica e o 
isolamento social, 79% das mulheres afirmaram que seu cotidiano de trabalho está relacionado ao 
trabalho, tornar-se mãe, cuidar das tarefas domésticas e demais afazeres e até ter companheiro 
aumentou muito a sensação de trabalhar. 73% das mulheres brasileiras costumam ficar exaustas. 
Apesar de a pandemia influenciar negativamente na ascendente inserção que a mulher vinha 
vislumbrando no mercado, na mesma situação, se fez necessária a adaptação para o trabalho 
remoto, o que, nos dias atuais, possibilita não somente as mulheres, mas todos os trabalhadores - 
dependendo de suas profissões - a dividirem a atenção do trabalho com afazeres domésticos, uma 
vez que não têm a necessidade de deslocamento até o local de trabalho, otimizando o tempo que se 
perderia no trânsito. 
Em suma, inequívoca frisar a imprescindibilidade de reinclusão das mulheres no mercado de 
trabalho e visar meios de impedir a retrogressão, precipuamente nas atuais circunstâncias 
vivenciadas mundialmente, não basta colocá-las em pé de igualdade com os homens em outras 
áreas, especialmente no mercado de trabalho e no campo da tomada de decisões, mas criar 
mecanismos que englobam as responsabilidades com o trabalho doméstico e familiar por todos os 
presentes no lar, dividindo tarefas e atribuições a fim de viabilizar a saúde mental e física da mulher 
para reingresso no âmbito trabalhista sem prejuízo ao desenvolvimento profissional e, inclusive, 
retroceder às lutas históricas advindas de guerras sociais e conquistas memoriosas. 
 
Porto Alegre, abril de 2021 
 
 
5 http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx 
6 https://dinheirama.com/dinheirama-entrevista-dani-juco-b2mamy/

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