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ATIVISMO JUDICIAL E OS DIREITOS SOCIAIS

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ATIVISMO JUDICIAL E OS DIREITOS SOCIAIS
O ativismo judicial é algo que gera inúmeros debates, inclusive no que diz respeito a origem do termo e do fenômeno em si.
Segundo Luiz Flávio Gomes (2009, p. A2), o ativismo judicial surgiu pela primeira vez em janeiro de 1947, através de uma reportagem do historiador norte-americano Arthur Schlesinger, publicada na revista “Fortune” (voltada para um público não jurista). Tal reportagem objetivou traçar o perfil de diversos juízes norte americanos, classificando-os como ativistas ou não ativistas. 
Muitas são as polêmicas, tanto na doutrina quanto na jurisprudência nacional relacionadas ao tema, e desde o seu surgimento, a expressão tem sido utilizada por alguns constitucionalistas com uma perspectiva crítica, para implicar um comportamento ou ideia judicial não consoante com a opinião jurisprudencial majoritária. 
Exemplo desta linha de pensamento crítico é o norte-americano Kermit Roosevelt III, que assevera que "o termo ativismo judicial, como é tipicamente usado, é essencialmente vazio de conteúdo; é simplesmente uma maneira inflamada de registrar a desaprovação frente a uma decisão".
Para Vale (2016), o problema do fenômeno reside principalmente nas dificuldades inerentes ao processo de interpretação constitucional, pois, para o autor, o parâmetro utilizado para que se catalogue uma determinada decisão como ativismo ou não está no que é considerado como a “correta leitura” de um determinado dispositivo constitucional.
Segundo o norte-americano Marshall (2002, p. 37), o ativismo jurisdicional é conceituado “como a recusa dos Tribunais em se manterem dentro dos limites jurisdicionais estabelecidos para o exercício de seus poderes”.
Seguindo esta linha, poderíamos afirmar que o ativismo judicial está intrinsecamente ligado ao que se chama de “judicialização da política”. No caso da última, ocorreria uma espécie de transferência de decisão dos poderes Legislativo e Executivo para o poder Judiciário, o qual passaria a estabelecer normas e condutas a serem seguidas pelos demais poderes.
José dos Santos Carvalho Filho (2010) define a Judicialização da política como algo que acontece quando determinadas questões sociais dotadas de um cunho político são levadas ao Judiciário, para que ele impeça o desenrolar de conflitos e mantenha a paz, por meio da jurisdição.
Luis Roberto Barroso (2009, p.03), ensina que este fenômeno da judicialização nasceu do modelo constitucional adotado e não de um exercício deliberado de vontade política. Para ele, por outro lado, quando se fala em ativismo, existe a possibilidade de escolha por parte do magistrado no modo de interpretar as normas constitucionais a fim de dar-lhes maior alcance e amplitude. Nesta senda, preceitua que:
"A judicialização e o ativismo judicial são primos. Vêm, portanto, da mesma família, frequentam os mesmos lugares, mas não têm as mesmas origens. Não são gerados, a rigor, pelas mesmas causas imediatas. A judicialização, no contexto brasileiro, é um fato, uma circunstância que decorre do modelo constitucional que se adotou, e não um exercício deliberado de vontade política. Em todos os casos referidos acima, o Judiciário decidiu porque era o que lhe cabia fazer, sem alternativa. Se uma norma constitucional permite que dela se deduza uma pretensão, subjetiva ou objetiva, ao juiz cabe dela conhecer, decidindo a matéria. Já o ativismo judicial é uma atitude, a escolha de um modo específico e proativo de interpretar a Constituição, expandindo o seu sentido e alcance. Normalmente ele se instala em situações de retração do Poder Legislativo, de certo descolamento entre a classe política e a sociedade civil, impedindo que as demandas sociais sejam atendidas de maneira efetiva. A idéia de ativismo judicial está associada a uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos valores e fins constitucionais." 
No Brasil, sabemos que existe uma grande dificuldade de concretização dos direitos fundamentais sociais por parte dos Poderes Executivo e Legislativo Brasileiros, cabendo com isso, à intervenção do Poder Judiciário com o intuito de garantir pelo menos o mínimo para uma vida digna, ou seja, aquilo que está estampado na Constituição Federal de 1988, e desta forma, o fenômeno pode ser de grande utilidade.
O Jurista Andreas J. Krell (2002, p.17), destaca que:
“Constitui-se um paradoxo que o Brasil esteja entre os dez países com a maior economia do mundo e possua uma constituição extremamente avançada no que diz respeito aos direitos sociais, (…) hoje, mais do que 75 milhões de pessoas não encontra um atendimento de mínima qualidade nos serviços públicos de saúde, de assistência social, vive em condições precárias de habitação, alimenta-se mal ou passa fome”.
 Assim, embora existam inúmeras críticas ao ativismo judicial, como a incerteza e a politização da justiça, não se pode negar que, no Brasil, a intervenção do Poder Judiciário seria, portanto, nesta senda, justificada para garantir efetividade aos direitos sociais previstos, uma vez que o judiciário teria como escopo teriam como assegurar as garantias insculpidas no texto constitucional.
BIBLIOGRAFIA
BARROSO, Luis Roberto. Judicialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática. Revista Atualidades Jurídicas – Revista Eletrônica do Conselho Federal da OAB. Ed. 4. Janeiro/Fevereiro 2009. Disponível em: < http://www.plataformademocratica.org/Publicacoes/12685_Cached.pdf.pdf>. Acesso em: 04/03/2021
FILHO, José dos Santos Carvalho, Ativismo Judicial e Política, Revista Jurídica Consulex,. Seção Ciência Jurídica em Foco. Edição 307, de 30/10/2010.
GOMES, Luiz Flávio. STF – ativismo sem precedentes? Fonte: O Estado de São Paulo, 2009, espaço aberto, p.A2. Disponível em: < http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/339868/noticia.htm?sequence=1>. Acesso em: 04/03/2021.
KRELL, Andreas J. Direitos sociais e controle judicial no Brasil e na Alemanha: Os (des) caminhos de um direito constitucional “comparado”. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002.
MARSHALL, William P. Conservatives and Seven sins of judicial activism. University of Colorado. Law Review. V. 73, set. 2002, p.37.
VALE, Ionilton Pereira. Ativismo judicial: conceito e formas de interpretação. Disponível em <https://ioniltonpereira.jusbrasil.com.br/artigos/169255171/o-ativismo-judicial-conceito-e-formas-de-interpretacao> Acesso em: 04/03/2021

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