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Documento Curricular Referencial de Mundo Novo MUNDO NOVO 2020 ESTADO DA BAHIA PREFEITURA MUNICIPAL DE MUNDO NOVO SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA, DESPORTO E TURISMO José Adriano da Silva PREFEITO Cláudio Lima Sanfront SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO, CULTURA, DESPORTO E TURISMO Rita de Cássia Miranda Almeida de Oliveira ARTICULADORA MUNICIPAL EQUIPE DE REVISÃO E SISTEMATIZAÇÃO Ana Lúcia Miranda dos Santos Rita de Cássia Miranda Almeida de Oliveira Sônia Maria de Santana Tassiane Mendes Ferreira Tatiane Macêdo Santos Macêdo Valdilene Carlos de Lima Neves COLABORADORES DE REVISÃO Ariane de Cássia Ribeiro dos Santos Cláudio Lima Sanfront Dayse Souza dos Santos Alves Emília Maria Andrade Leão Mara Rosa Moura dos Santos Paloma de Souza Ribeiro Vanuza Nunes Barreiros Alves COORDENADORES DE GEA’S Ana Lúcia Miranda dos Santos Ariane de Cássia Ribeiro dos Santos Cinthia Guimarães dos Santos Conceição Ribeiro Moreira Davi Araujo Alves Eliana Silva Pereira Emília Maria Andrade leão Givaldo dos Santos Carvalho Izabela Cerqueira da Silva Janileide Vasconcelos Perazzo Jarbas Clementino de Souza Júnior Leydja Nunes Vasconcelos Luzinete Cruz de Souza Maria Aparecida Mendes Rios Mariza Pereira G. da Cunha Moema Pereira Guimarães Naara Sousa Santos Barbosa Sandra Santos Lopes Saulo de Lima Cerqueira Sônia Maria de Santana Tassiane Mendes Ferreira Tatiane Andrade dos Santos Tatiane Macêdo dos Santos Valdilene Carlos de Lima Neves Vanderlúcia Pereira C. Sampaio Vania Aparecida da Silva ASSESSORIA TÉCNICA Herbert Gomes da Silva SUPORTE TECNOLÓGICO Arlênio Fernandes Batista / William Oliveira Fortes EQUIPE DE ELABORAÇÃOO Documento Curricular Municipal teve a participação, com enriquecedoras contribuições, dos professores da Rede Municipal. São eles: REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO Adernoel dos Reis Teles Adriana Nascimento Santos Adson Cardoso dos Santos Aislane Souza Alves Gonçalves Alan de Araújo Souza Aline Nery Xavier Ana Angélica Alves dos S. Peixoto Ana Carla Ayres Silva Santos Ana Carolina dos Santos Peixoto Ana Claudia de Jesus Neri Ana Lúcia Miranda dos Santos Ana Nery Souza Araújo Mendes Anaide Alves Santos Analice Costa Ferreira Mendes Andressa Santos Pinho Anete Alexandre Rodrigues Almeida Ariana Souza Araújo Mendes Ariane de Cássia Ribeiro dos Santos Arlene Carvalho de Oliveira Atilena de Aquino Gomes Carlos Eduardo Amaro Carlos Luís Santana de Lima Cidiane Cerqueira Santos Cinthia Guimarães dos Santos Claúdia Queiroz Alves Macêdo Conceição Ribeiro Moreira Cristiane Alves Costa Daiana de Souza Ribeiro Daiane Dourado Araújo Daiane Mendes Amorim Dalize de Souza Carvalho Sena Daniane de Oliveira Menezes Daniela Araújo de Lima Darceni Assis da Silva Ribeiro Darcilene Assis da Silva Nunes Darlúcia Souza da Silva Dartesuene Maria Nascimento Silva Davi Araujo Alves Dayane Santos Costa Dayse Souza dos Santos Alves Debora Santos de Melo Macêdo Denise Alves dos Santos Deraci da Silva Ribeiro Lima Dilma Gonçalves Silva Moreira Dinorá Nery Xavier Diolentynh Dourado Dias Oliveira Ediléia Barreiros de Almeida Edileuza Cerqueira Silva Santos Edilma Chaves Pereira Oliveira Eduarda Cristina Souza Araújo Eliene Alves Silva Elane Nepomuceno Correia Eliana Silva Pereira Eliana Vieira de Sena Almeida Eliene Lima Brandão Elisimary de Almeida Silva. Elizabete Fernandes Lima Rocha Elizabete Pereira de Novais Emerson Santos Souza Emília Maria Andrade Leão Eusânia Andrade Oliveira Evando Cardoso e Silva Everaldo Araújo da Silva Fábia Lima Carlos Fayany Gomes Lima Francisco Assis Pereira Oliveira Geiza Queiroz Alves Sampaio Géssica França Soares Gidalva Batista dos Santos Gideão da Silva Santos Givaldo dos Santos Carvalho Hélio Pires Silva Herlan Márcio Barbosa da Silva. Honória Pereira da Silva Ianne Araújo Pires Ilana Santana Cardoso Sodré Ilzamar Lopes de Lima Ione Lopes da Silva Iranilde Souza Macedo Isabella Correia de Jesus Ismar Jesus Conceição Ivaneide Matos Souza Alves Ivaneide Oliveira Santos Ivene Batista dos Santos Ivene de Oliveira P Machado Ivene Matos dos Santos Ivone Ribeiro da Silva Izabela Cerqueira da Silva Jadna Mendes Lopes Oliveira Jaiara Machado Santos Janice Nery Queiroz Janilde Sales dos Santos Janileide Vasconcelos Perazzo Janusia Lopes Patrocínio Jarbas Azevedo Trindade Jarbas Clementino de Souza Júnior Jeanne Silva Aragão Santos Jiuleide Barbosa de Araújo Jocilene dos Santos Joelice Santos Santigo Joelma Oliveira de Almeida Joelma Pereira da Silva Joilma Miranda Macedo Jonas Pereira Carlos Borges Josenilce Luís de Lima Josyêda de Queiroz M. França Jucivane S. Lima de oliveira Juliana Pereira Oliveira Juliana Silva Matos Pires Juneire O. da Silva Souza Keila da Silva Barros Lima Larissa Carneiro Borges Leidiana Nascimento Santos Leidiane Cristovam da Cunha Leydja Nunes Vasconcelos Lilia Trindade de Souza Louiseane Macedo Sanches Lucas Lopes de Lima Silva Luciana Clementino de Souza Luciano da Silva Oliveira Lucicleide Ribeiro l. Araújo Lucien Jesus Pires Luís Guilherme de S. Cordeiro Luiza Cruz de Souza Luzinete Souza Mara Rosa Moura dos Santos Margarete Trindade de Souza Maria Alice Q. Carvalho Maria Aparecida Mendes Rios Maria Aparecida Silva Santos Maria Bethânia P. da Silva Maria Carmem S. Santana Oliveira Maria Cristiane Oliveira Santos. Maria de Jesus dos Santos Maria Eunice dos Santos Maria Helena Carapiá Maria Lele Cerqueira Silva Santos Maria Lucinete D. Dantas Maria Luêde Santos de Oliveira Maria Zilda O. Borges Araújo Marialda O. Moreira Vilela Mariele Souza Silva Mariney Freitas de Souza Mariza Pereira G. da Cunha Marta Cristina Campelo Petilo Moema Pereira Guimarães Naara Sousa Santos Barbosa Nailde Silva Muniz Nathanael Lopes Mascarenhas Neuma Gomes da Silva Oséias de Oliveira Lopes Paloma de Souza Ribeiro Patrícia Santos Ferreira Paula Deia Santos Oliveira Poliana Alves dos Santos Lima Priscila Santos Cerqueira Regiane Dias Nunes Regina Lúcia Mendes de Almeida Reijane Bastos Queiroz Souza Rejane de Lima Rios Renilda Pereira Cruz dos Santos Rita de Cássia M. A. de Oliveira Rodrigo Barbosa da Silva Rosana dos Reis Cardoso Rosângela Barreto Silva Rosemeire Silva Santos Rosineide Paixão Lima Rozana Arruda dos S. Gonçalves Sabrina da Silva Paixão Samara Bispo Silva Belém Samara Suely Araújo da S. Lima Sandra Lúcia A. S. Guimarães Sandra Santos Lopes Sara Guimarães de oliveira Sara Lacerda Souza Saulo de Lima Cerqueira Selma Almeida Conceição Síbia Costa França Sônia Maria de Santana Tailane Oliveira Nunes Taise Alves Araújo Tania Alves Navarro Petilo Tassiane Mendes Ferreira Tatiana Andrade dos Santos Tatiana Costa Nunes Tatiane Macêdo dos Santos Tatiane Pires Trindade Uênia de Oliveira Silva Monteiro Valdilene Carlos de Lima Neves Valdineia dos S. Guimarães Silva Valtenir Almeida Serra Vanda da Silva Florêncio Vanderlúcia Pereira C. Sampaio Vania Aparecida da Silva Vania Lúcia de Lima Vania Oliveira Campos Vanubia Nunes Barreiros Cordeiro Vanusa Souza Queiroz Vanuza Nunes Barreiros Alves Vanuzia Alves de Souza Brito Vanuzia de Souza Lima Veranilde Ribeiro da Silva Verônica de Oliveira S. Santos Welington Santos Lima Zaira Batista dos Santos REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO CARTA AOS EDUCADORES A Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Desporto Turismo do Município de Mundo Novo, através da Comissão de Governança Municipal, tem a honra de apresentar aos Educadores o Documento CurricularReferencial do Município de Mundo Novo, Estado da Bahia, para a Educação Infantil e Ensino Fundamental. Instrumento elaborado com a participação ativa e colaborativa de Docentes da Rede Municipal e Estadual, Coordenadores e Supervisores que compõem a nossa Rede de Ensino, o Documento Curricular Referencial fora alicerçado a partir de uma consistente integração/socialização de saberes, buscando aprimorar a Educação Básica Municipal. Construído com o objetivo de orientar todos os processos inerentes ao contexto da Educação, o currículo traz consigo o respeito e a observância às singularidades e particularidades de um Município extenso e plural como Mundo Novo. Nasce a partir do diálogo, divergência e convergência entre as diversas propostas educacionais do nosso País, levando-se em consideração as discussões, ações e atividades pedagógicas no âmbito das Unidades Escolares. Tem a função de nortear todos os processos educativos do Município de Mundo Novo, fomentando a interação e o diálogo entre os saberes e possibilitando a existência de um instrumento que viabilize, através da ação pedagógica, contemplar as especificidades da educação local e propiciem transformações plausíveis, coerentes, executáveis e, consequentemente, exitosas. A partir da valorosa contribuição dos Profissionais da Educação Municipal, pôde-se construir um Documento Curricular Referencial que contemple o sujeito envolvido no processo de formação em sua singularidade/diversidade, respeitando suas necessidades, saberes, vivências, experiências expectativas assim como as suas diferentes dimensões, numa perspectiva de educação que se faça integral, inclusiva, igualitária e equânime, possibilitando dessa forma a sua participação mais efetiva nas transformações da sociedade em que vive. Gabinete do Secretário, 27 de Outubro 2020. CLAUDIO LIMA SANFRONT SECRETÁRIO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA, DESPORTO E TURISMO REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO Saudações Curriculantes, A Undime seccional Bahia, representada por sua Diretoria Executiva e Ampliada, e através da sua equipe técnica, entendendo a importância de contribuir com os Dirigentes Municipais de Educação do território baiano no fomento, na criação e execução das políticas públicas tendo em vista a melhoria da qualidade da educação baiana, elaborou o Programa de (Re)Elaboração dos Referenciais Curriculares Municipais do Estado da Bahia. Inspirados na poesia do João Cabral de Melo Neto... “Um galo sozinho não tece uma manhã”, desbravamos trilhas em busca de outros “galos” para que a tecitura pudesse ser concretizada. A Universidade Federal da Bahia, a União Nacional dos Conselhos de Educação e o Itaú Social juntaram-se a nós e, assim, foi possível mobilizar e engajar a Bahia num grande movimento curriculante formacional, que envolveu 401 municípios e cerca de 60.000 profissionais do magistério, além de outros membros da comunidade escolar. O desejo de ver/sentir/viver uma Bahia democrática, justa, solidária oportunizando às suas crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos uma educação municipal cada vez mais enriquecida por valores, éticos, estéticos, políticos, espirituais, ecológicos de modo a consolidar a escola pública sob os princípios da educação integral, nos uniu até aqui. A Undime Bahia, reconhece e agradece o importante e valoroso trabalho realizado por todos os especialistas e formadores do Programa, mas especialmente, reconhece e agradece todas as equipes de educadores das redes municipais de ensino dos 27 territórios de identidade baiano que se autorizaram a autorar seus Referenciais Curriculares, mesmo em condições tão adversas como a que estamos vivendo em 2020 em razão da pandemia pela COVID 19. É nosso desejo ainda, que dentro em breve estejamos sentindo o perfume das flores e o sabor dos frutos suculentos que serão colhidos a partir do trabalho realizado até aqui e, também, do que será realizado em cada sala de aula das escolas da nossa Bahia. O desafio apenas começou! Passamos para a próxima etapa: O processo formacional no cotidiano das escolas. A Undime continuará na luta e na parceria com cada um dos 417 municípios da sua seccional. O Movimento Curriculante apenas teve início, e as conversações curriculares continuam! Um grande abraço. Equipe Undime Bahia REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO SUMÁRIO UMA EDUCAÇÃO PARA UMA SOCIEDADE MULTIRREFERENCIADA E GLOCAL . .....7 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E LEGAIS ............................................................................... ..9 MARCOS TEÓRICOS, METODOLÓGICOS E CONCEITUAIS ........................................................ 9 FUNDAMENTOS LEGAIS................................................................................................................. 14 PRINCIPIOS PARA UM REFERENCIAL CURRICULAR COMPROMETIDO COM SEU POVO.18 O TERRITÓRIO E SUAS EXPRESSÕES DE IDENTIDADE ........................................................... 18 A HISTÓRIA E A CULTURA COMO REFERÊNCIA ...................................................................... 22 RESPEITO A AUTONOMIA ESCOLAR ........................................................................................... 25 TRABALHO PEDAGÓGICO ARTICULADO POR COMPETÊNCIAS ........................................... 26 TRANSVERSALIDADES DOS TEMAS INTEGRADORES ............................................................ 29 Educação em Direitos Humanos .......................................................................................................... 30 Educação para Diversidade .................................................................................................................. 31 Educação para as Relações de Gênero e Sexualidade ........................................................................... 33 Educação para as Relações Étnico-Raciais ........................................................................................... 36 Educação para o Trânsito ..................................................................................................................... 37 Saúde na Escola ................................................................................................................................... 38 Educação Ambiental ............................................................................................................................ 39 Educação Financeira e para o Consumo ............................................................................................... 42 Educação Fiscal.................................................................................................................................... 47 PROJETO DE VIDA COMO PRINCÍPIO DA FORMAÇÃO .................................................. 49 AVALIAÇÃO EDUCACIONAL COMO ATO DE FORMAÇÃO ........................................... 52 UMA EDUCAÇÃO QUE POSSUI ESPECIFICIDADES ......................................................... 56 Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva .................................................................... 57 Marcos Normativos da Educação Especial ........................................................................................... 62 Trajetória Histórica .............................................................................................................................. 63 Dados da Inclusão em Mundo Novo-Ba ............................................................................................... 67 Fundamentos Pedagógicos .................................................................................................................. 67 Princípios da Para a Educação Especial ............................................................................................. ..73 A IMPORTÂNCIA DAS MODALIDADES .............................................................................75 Educação Escolar Indígena .................................................................................................................. 75 Educação Quilombola .......................................................................................................................... 80 Educação de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas .................................................................................. 106 ESPECIFICIDADES E CONCEPÇÕES DA EDUCAÇÃO INFANTIL............................................130 EDUCAÇÃO INFANTIL .................................................................................................... ....130 CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA E DAS CRIANÇAS. ....................................................................... 133 PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL. ............................................................................. 134 CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS. .................................................................................................... 136 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL. .................................................................................. 138 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL .......................................................... 140 OS CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS .................................................................................................. 142 DIREITOS DE APRENDIZAGEM E ESTRUTURA DOS ORGANIZADORES .................. 149 ENSINO FUNDAMENTAL .................................................................................................... 182 ÁREA DE LINGUAGENS ...................................................................................................... 196 LÍNGUA PORTUGUESA ....................................................................................................... 198 ARTE ....................................................................................................................................... 417 EDUCAÇÃO FÍSICA .............................................................................................................. 526 LÍNGUA INGLESA ................................................................................................................ 553 ÁREA E COMPONENTE CURRICULAR MATEMÁTICA ................................................. 580 APRESENTAÇÃO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA ............................................................ 653 ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS ........................................................................................ 715 REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO GEOGRAFIA .......................................................................................................................... 717 HISTÓRIA ............................................................................................................................... 761 ENSINO RELIGIOSO ............................................................................................................. 845 PROJETO DE VIDA ............................................................................................................... 845 EDUCAÇÃO DE PESSOAS JOVENS, ADULTAS E IDOSAS ............................................. 891 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 939 CRÉDITOS .............................................................................................................................. 946 REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 5 O REFERENCIAL CURRICULAR MUNDONOVENSE: COMO AS IDEIAS SE MATERIALIZARAM? “Nosso estudo! Nossa aprendizagem! Nossa luta! Nosso norte... em favor dos nossos alunos!” Professora Maria Aparecida Mendes Rios O documento Referencial Curricular de Mundo Novo para Educação Infantil e Ensino Fundamental tem por objetivo endossar os princípios educacionais e os direitos de aprendizagem, levando em consideração todas as dimensões do sujeito, com foco na Educação Integral. A proposição do documento é incorporar inovações e atualizações advindas dos marcos legais, do arcabouço teórico-metodológico do currículo, integrando também aspectos identificados pelos segmentos da comunidade escolar, assim como as especificidades dos educandos que são tão diversos e plurais e a realidade cultural do território em que a educação acontece. Como o nome já propõe o documento vem referenciar os Projetos Políticos Pedagógicos das escolas, seus currículos e outros documentos que regem a educação do município, bem como o fazer pedagógico, contribuindo para uma educação que oportunize a construção da identidade, da autonomia e da liberdade, que transite entre o local e o global. O processo de elaboração do Referencial Curricular do Município (RCM) iniciou-se a partir de Maio de 2020 e se tornou possível a partir da assinatura do Termo de Compromisso com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME/BA, em parceria com a Universidade Federal da Bahia - UFBA, União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação – UNCME/BA e Itaú Social. Mediante esta pactuação, construiu-se um contexto de ações que garantiu a materialização do RCM ora apresentado em sua Versão Preliminar. A primeira ação foi à assinatura do Termo de Adesão (Secretaria Municipal de Educação e UNDIME), publicação da Portaria de Nomeação da Comissão de Governança Municipal – CGM, apropriação de saberes referentes a documentos oficiais que subsidiaram as leituras, estudos e nossas produções, assim como o Documento Curricular Referencial da Bahia- DCRB, A Lei de Diretrizes e Base (LDB), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Constituição Federal (CF/88) e tantos outros documentos que referendaram a caminhada rumo à elaboração do documento. Neste percurso os professores foram organizados nos Grupos de Estudos e Aprendizagens - GEAs, com momentos programados para estudo do material, participação REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 6 nas lives formacionais organizadas pelo Programa de (Re) Elaboração dos Referencias Municipais (UNDIME) e reuniões virtuais pelo Google meet mediadas pelos coordenadores para direcionamento e acompanhamento das ações, momentos de exposição e reflexão dos textos lidos e estudados, além de construção coletiva das produções que fariam parte do documento. A ação-reflexão- ação esteve presente em todos os momentos do processo. Os encontros virtuais com CGM e Duplas Gestoras tiveram como propósito o direcionamento e acompanhamento das ações a serem desenvolvidas nos GEAs e a sistematização dos textos pelo Núcleo Revisor da Comissão Municipal de Governança. E finalmente Publicação nas plataformas virtuais para consulta pública. Este regime de participação aqui referido esteve pautado na forma cooperativa, colaborativa, resultado da união de forças, que envolveram os diversos segmentos da educação municipal, de representantes das escolas estaduais e particulares, de um esforço incondicional da Secretaria Municipal de Educação, da competente condução do Professor Herbert Gomes e em especial do comprometimento e responsabilidade dos profissionais da educação que se autorizaram nessa construção. A tarefa não foi fácil, muitas foram às pedras no caminho, como bem afirmou Drummond, mas todas transformadas em alicerce para efetivar um processo de construção democrática, de reflexão sobre a educação do município: suas fragilidades e potencialidades, sobre as políticas públicas, sobre as práticas, as ausências, as garantias ou não. Este caminhar exigiu não somente atuação conjunta, coletiva, mas também comprometimento com a educação de território (marcas e subjetividades dos sujeitos no espaço). Assim, o Referencial Curricular do município (RCM), configura-se como uma construçãosocial, balizador dos próprios documentos, respeitando seus contextos. Um verdadeiro marco-histórico, cultural para a educação mundo-novense. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 7 UMA EDUCAÇÃO PARA UMA SOCIEDADE MULTIRREFERENCIADA E GLOCAL O referencial curricular de Mundo Novo tem como objetivo orientar a práxis pedagógica e promover reflexões formadoras para toda a comunidade educacional do município. Para isso, tomou como referência os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, a Base Nacional Comum Curricular – BNCC, o Documento Referencial Curricular da Bahia – DCRB e as legislações vigentes e se inspirou em fundamentos teóricos e de campos de pesquisa sobre o estudo de currículos no Brasil. Em seus princípios revela a intencionalidade da valorização dos diversos saberes que constituem o existir humano e devem construir os pilares educacionais de forma equitativa, democrática - começando com seu processo de elaboração que foi feito de modo participativo e em muitas “mãos” - e que respeite a dignidade humana em todas as dimensões da formação em nossas escolas. A síntese das relações explicitas que permeiam e preenchem cada espaço desse referencial é representado pela ilustração de um círculo relacional que possibilita sua complementação ao passo que este documento apresentará sua organização, valores e perspectivas, teóricas e práticas, sobre a educação mundo novense. O conjunto de elementos que o constituem são resultados das implicações dos educadores que se modificam e ressignificam ao ampliar-se por meio das diferentes etapas da educação básica, a saber: educação infantil e ensino fundamental, as diferentes áreas do conhecimento - linguagens, ciências da natureza, matemática, ensino religioso e ciências humanas, e, ainda, todos os processos educacionais (LOPES&MACEDO), os quais compreendem as ações realizadas pelos educadores e pelos educandos no dia a dia do contexto da aprendizagem. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 8 A partir desse contexto, é fomentada a expectativa de que o ensino e aprendizagem apresentem uma complementaridade em relação saberes, valores, atividades, vivências, experiências e outras esferas da atuação humana, no convívio social, a partir de um contexto local e com ampliações e inserções na esfera mundial da vida em diferentes sociedades e culturas, principalmente quando intermediadas pelo mundo digital. Ainda, compreender a importância da perspectiva de que os saberes e suas constituições, assim como as implicações pelas expressões de identidades, constituem uma natureza multirreferenciada (MACEDO, 2014) para este referencial curricular, que olha para o presente e projeta o futuro pelo protagonismo da sua comunidade educadora. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 9 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E LEGAIS MARCOS TEÓRICOS, METODOLÓGICOS E CONCEITUAIS Inspirado nos “Marcos Teóricos, Conceituais e Metodológicos” do Documento Curricular Referencial da Bahia, que deve-se considerar o contexto sócio histórico e suas múltiplas identidades culturais das comunidades, dando ênfase a valorização dos conhecimentos tradicionais, como a cultura de um povo, pensando nas formações para organização e formulação das relações de ensino e aprendizagem, trazendo os saberes, as atividades, os valores ligados aos aspectos cognitivos, físicos, emocionais, sociais, intelectuais e afetivos por meio da interação entre o professor e o aluno. Ainda, na relação de ensino e aprendizagem, é importante a participação de toda comunidade escolar para além dos documentos prescritos, compondo o processo de legitimação da identidade. O referencial torna-se, assim, um documento norteador para as práticas pedagógicas enriquecidas pelas vivências e experiências, potencializando as produções de conhecimento pelas unidades escolares, permitindo o direito de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes, transformando e intervindo em suas realidades, buscando entre os objetivos a justiça social, com mais igualdade e equidade de oportunidade para todas e todos. A concepção de aprendizagem é compreendida como um ato e um processo em construção contínua, individual e relacional, em que se realizam transformações cognitivas, afetivas, psicomotoras e socioculturais. Dessa forma, a aprendizagem e sua mediação devem ser pensadas a partir da valoração compartilhada do ato de aprender e deve ser perspectivada como construção socialmente referenciada. (DCRB, 2019, p. 34) O papel do professor é de mediador/facilitador e o aluno como protagonista da aprendizagem ao longo da vida, assegurando uma relação de significados dos sujeitos com o mundo mediado pelas informações e pelo conhecimento no processo de desenvolvimento integral dos estudantes. Podemos compreender que este documento …. é, em outras palavras, o coração da escola, o espaço central em que todos atuamos o que nos torna, nos diferentes O referencial busca assegurar a autonomia da escola ao caracterizar seu ‘lugar’. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 10 níveis do processo educacional, responsáveis por sua elaboração. O papel do educador no processo curricular é, assim, fundamental. Ele é um dos grandes artífices, queira ou não, da construção dos currículos construídos que sistematizam nas escolas e nas salas de aula (MOREIRA&CANDAU, 2008 p. 19) Por não serem meros “reprodutores de informações”, os educadores optaram pelo engajamento na prática interdisciplinar, abandonando o trabalho individual e fragmentado, para exercer um trabalho com espírito de grupo, altruísmo e diálogo, num exercício constante de pensar, refletir, pesquisar e dialogar os acontecimentos ocorridos no espaço escolar e fora dele. E do ponto de vista de quem ensina, de quem realiza a gestão, de quem aprende e de quem confia os seus neste espaço é que consideramos neste referencial a definição dos princípios epistemológicos, didáticos pedagógicos, éticos e estéticos, bem como sua organização curricular. Nesse sentido, foram considerados como fundamentais nas proposições apresentadas aqui Os atos de currículo (MACEDO, 2013), que dizem respeito a todas as atividades que se organizam e se envolvem objetivando uma determinada formação, organização, formulação, implementação, institucionalização, além da avaliação de saberes, estando interlaçados por uma formação ética, política, estética e cultural, mas nem sempre estes atos são explícitos, coerentes, absolutos, sólidos, burocráticos ou pré-escritos, ou seja, ele se movimenta e traz novos significados e conceitos contemplando um ciclo de ensino-aprendizagem de acordo as vivências dos envolvidos no vasto cenário da educação e, na prática dos educadores. Compreende-se também que os atos de currículo (MACEDO, 2013) não se restringem e nem tão pouco se limitam aos conteúdos, dizem respeito a um currículo em ação e às práticas curriculares efetivadas nos espaços escolares numa perspectiva que englobe professores, alunos, funcionários, comunidade, pois o processo formativo diz respeito aos sujeitos envolvidos capazes de criarem estratégias e assim tornar significativo o processo de ensino e aprendizagem, é neste sentido que a contextualização dos saberes precisa encontrar condições para sua implementação. Dessa forma, este referencial currícular busca orientar ações educacionais que devem ser flexível para garantir o desenvolvimento pleno do ser humano: intelectual, físico, afetivo, social e cultural, atendendo às necessidades dos educandos, contemplando saberes diversos: conhecimento científico, crítico e criativo, repertório cultural, Um referencial que valoriza ações que promovam a emancipação e o protagonismo do aluno, bem como seu desenvolvimento pleno como cidadão. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO11 comunicação, cultura, projeto de vida, autoconhecimento, empatia, responsabilidade. Ele deve conjugar ações que promovam a emancipação e o protagonismo do aluno, bem como seu desenvolvimento pleno como cidadão. Com base em uma concepção de aprendizagem contínua e numa perspectiva de valoração compartilhada, tornam-se necessárias atividades que problematizem a realidade que o educando está inserido, para isso o educador deve desenvolver um olhar crítico durante as mediações para direcionar o educando ao melhor caminho. É importante enfatizar que a educação integral pensa os processos educativos para além dos muros das escolas ou de qualquer instituição fechada em si, assim a educação integral é todo e qualquer processo com potencial educativo. O currículo vai além de saberes que precisam ser ensinados, ou temas que precisam ser abordados, precisa ir ao encontro da realidade do alunado, dando-lhe a possibilidade de aprender, desenvolver-se e construir-se de modo integral, desde um ser social, que trabalha, tem família, a um indivíduo que se conhece e se reconhece como tal, sabendo lidar com emoções, sentimentos, conviver com outros diferentes dele e que tem conhecimentos necessários à sua vida como um todo. Visto que a Educação Básica perpassa desde a infância até o ensino médio, torna-se, então, necessário envolver diversos aspectos em suas competências, sendo estes: emocional, intelectual, físico, social e cultural como citados na BNCC. Por essa diversidade de público, é relevante tratar de características integrais do ser humano, como forma de também, reduzir as desigualdades, sendo a escola lugar de inclusão. Todos esses aspectos têm em comum o desenvolvimento integral, para que alcancem seus objetivos e ainda sejam bem recebidos no mundo do trabalho, para ter boa convivência, para lidar com situações diversas na vida. Desta forma, desde a infância até a velhice é necessário a articulação e mediação entre o que se aprende e como aprender, para obtenção do verdadeiro conhecimento. É relevante também, dar a este sujeito a autonomia de participação para a compreensão da realidade em que vive. É preciso que de fato, as nossas práticas educadoras incluam e contextualizem com as experiências e vivências do nosso público, para assim, efetivar a educação Integral. Diante dessas concepções, a rede municipal tem buscado formar seu alunado à luz daquilo que o cerca, ao que está ao seu alcance e lhe permite crescer e desenvolver-se enquanto sujeito integral. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 12 Correlacionando ao que foi citado, se por um lado é preciso fortalecer a formação dos estudantes, por outro é notória a importância de ações formacionais, que propiciem mais autonomia, criticidade, criatividade dos educadores no processo educativo, articuladas com práticas que possibilitem a formação de alunos críticos, reflexivos, autônomos, empáticos, problematizadores, autores dessa formação, da aprendizagem e da própria história. Esses fatores coadunam com a formação do sujeito na sua integralidade, que se preocupa com si mesmo, com os outros, que leem o mundo e são conscientes do seu poder de transformação. Destaca-se que as experiências vivenciadas pelos professores da rede no seu cotidiano escolar dialogam com a BNCC e DCRB, visto que nos últimos anos intensificou-se as formações na própria escola (encontros formativos), Atividade Complementar – AC com duração de 4 horas semanais, Construção do PPP e os Conselhos de Classe que permitem avaliar não apenas os resultados obtidos pelos alunos, mas proporcionar a autoavaliação do professor e de sua prática docente. Há ainda a preocupação em oferecer aos coordenadores formação para que possam desenvolver em suas unidades de ensino formações com professores e o desenvolvimento das modalidades organizativas. Não poderíamos deixar de citar a importante e fundamental participação dos professores da Rede Municipal de Ensino no processo de (re)elaboração curricular das escolas do município. Sem dúvida um momento ímpar para todos os envolvidos. Ao observar as competências gerais da BNCC pode-se notar que as mesmas exigem que o trabalho pedagógico seja articulado de tal modo que essas competências possam perpassar todas as áreas do conhecimento como também as mais diversas situações didáticas em sala de aula. Os Marcos Teóricos, Conceituais e Metodológicos, trazem uma concepção de aprendizagem “como um ato e um processo em construção contínua, ao mesmo tempo individual e relacional, em que se realizam transformações cognitivas, afetivas, psicomotoras e socioculturais”; o compromisso com a formação para a cidadania plena e o desenvolvimento integral dos estudantes; e as competências gerais configuradas na BNCC, articuladas em torno do conhecimento, pensamento científico, crítico e criativo, repertório cultural, comunicação, Este referencial cultiva o trabalho pedagógico seja articulado de tal modo que essas competências possam perpassar todas as áreas do conhecimento como também as mais diversas situações didáticas em sala de aula. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 13 cultura digital, trabalho e projeto de vida, argumentação, autoconhecimento e autocuidado, empatia e cooperação, responsabilidade e cidadania. Os temas integradores são de fundamental importância na formação de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos e estes servirão de referência e orientação aos PPP das escolas e Planos de Ensino (Organização Curricular), na “promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental”, no sentido de fortalecer que a promoção do respeito é o que deve presidir o trabalho pedagógico nas escolas no viés da diversidade. Percebe-se que os procedimentos educacionais vão além das expectativas de saberes que precisam ser ensinados ou ainda dos temas que precisam ser abordados; ele precisa ir ao encontro da realidade do aluno, dando a possibilidade de se desenvolver e se construir de modo integral. Nesse sentido, É necessário enxergar as diferenças, trabalhando cada especificidade com a ferramenta adequada. Podemos buscar fundamentos na resolução 137/2019, no artigo 2º, onde afirma que a BNCC é referência obrigatória para a construção ou revisão dos currículos, documento este que deve atender às demandas e necessidades de toda comunidade escolar. No artigo 3º, trata das orientações para o processo ensino-aprendizagem através de ações que tenham significados para a vida dos alunos. Sob essa premissa, vale ressaltar, que a proposta curricular da Educação de Jovens e Adultos EJA se alicerça em princípios e valores definidos nas Diretrizes Curriculares Nacionais em consonância com a identidade dos estudantes e suas práticas sociais e que a BNCC não contempla essa modalidade. Diante do exposto, nota-se a importância da construção do Documento Curricular Referencial do munícipio, pautada na contextualização de acordo com a realidade local, considerando as vivências dos alunos e dos demais atores da educação, valorizando os saberes, as culturas, entre outros fatores. Dessa forma, contribui para uma educação onde o aluno se sinta parte efetiva do processo educacional. Logo, o referencial curricular municipal deve ser considerado uma política de currículo por tratar-se de um documento base, que aponta caminhos e orientações para a construção do currículo municipal, de forma flexível e contextualizada e que seja integrado aos Projetos Político-Pedagógicos das unidades de ensino, pois será nessa hora que serão decididos os caminhos de acordo com a Política de Educação Integral que garanta qualidade com equidade. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 14 FUNDAMENTOS LEGAIS A relevância da educação em nossa sociedade é indiscutível, no entanto ao longo de um período de quase300 anos de história da Educação Brasileira, considerando o período a partir de 1772, data da implantação do ensino público oficial no Brasil, o qual foi marcado pelo delineamento de políticas públicas educacionais, traçadas para atender cada época, resultando em uma sociedade marcada por uma série de desigualdades, onde os privilégios de alguns demandam a exclusão de muitos resultando em um processo educacional altamente excludente, que temos hoje. Essas desigualdades refletem na educação, principalmente no que concerne a sua qualidade, ao acesso, permanência, alfabetismo, e sucesso escolar dos estudantes. Analisar e considerar o contexto sócio histórico que perpassa a educação é fundamental para entendermos seus atuais entraves e buscarmos alternativas no intuito de enfrentarmos os desafios que nos são impostos por transformações constantes, sucessivas e inevitáveis. Portanto, pensar em educação, é pensar na busca pela melhoria da sociedade como um todo, oportunizando a igualdade e princípios de equidade para todas e todos, porém sem deixar de considerar e valorizar as múltiplas identidades, conhecimentos e tradições culturais do nosso povo. Nesse sentido, os marcos legais da educação, bem como a política curricular deve refletir tal contexto sócio histórico marcado por profundas desigualdades, tão comuns ainda à nossa realidade e divergentes do que preconiza o Estado Democrático de Direitos. Do ponto de vista legal, a Constituição Federal é o primeiro marco legal que defende a educação como direito de todos. Em seu Art. 205, institui que a educação, “{...}direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (BRASIL, 1998). Dessa forma, devemos reconhecer que a educação é um compromisso para a formação do desenvolvimento humano, levando em consideração às necessidades dos grupos sociais que convivem nos espaços escolares públicos e privados, bem como aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 15 Sendo assim, explicitamos as bases legais apresentadas pelo Documento Curricular da Bahia (DCRB), bem como do Plano Municipal de Educação (PME) de Mundo Novo, no intuito de reunir princípios complementares, fundamentos e procedimentos para orientar as políticas públicas educacionais e a elaboração, implementação e avaliação das orientações curriculares municipais bem como a atuação nos projetos político-pedagógicos das escolas. São elas: 1º - A constituição Federal de 1988, inspirada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) Artigo 205, que reconhece a educação como: ...direito de todos e dever do estado e da família, será promovida pela sociedade com a colaboração da sociedade, visando ao desenvolvimento da pessoa, seu preparo ao exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Brasil 1988). 2º - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) lei nº 8.069/90 no artigo 4º, reafirma a quem resguarda o dever de assegurar os direitos fundamentais da criança e do adolescente: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. 3º - Estatuto da Juventude Lei nº 12852/2013 art. 7º, “o jovem tem direito à educação de qualidade, com a garantia de educação básica, obrigatória e gratuita, inclusive para os que a ela não tiveram acesso na idade adequada.” (Brasil, 2013). 4º - Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741/2013, artigo 21, diz que “o Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele destinados.”(Brasil, 2013). 5º - Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN Nº 9394/96, artigo 2º, assim define os princípios gerais e finalidades da educação: A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.(Brasil, 2003 ). 6º - A Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que aprova o Plano Nacional de Educação(PNE); REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 16 A Resolução nº 4, de 13 de julho de 2010, o Conselho Nacional de Educação que define as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (DCN); A Resolução nº 7, de 14 de dezembro de 2010, do Conselho Nacional de Educação que “Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos”; Em nível local, temos o Plano Municipal de Educação (PME), um documento construído coletivamente por representantes de diversos segmentos: pais, professores, sociedade civil, entre outros e que deve considerar a realidade do município, baseado no PNE que estabelece diretrizes, metas e estratégias que devem reger as iniciativas na área da educação de 2014 a 2024 elaborando planejamentos específicos para fundamentar o alcance dos objetivos previstos - considerando a situação, as demandas e necessidades locais. As diretrizes que norteiam a construção do Plano Municipal de Educação de Mundo Novo foram baseadas nas diretrizes do PNE Lei nº 13.005/14 são: I – erradicação do analfabetismo; II – universalização do atendimento escolar; III – superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV – melhoria da qualidade do ensino; V – formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta a sociedade; VI – promoção do princípio da gestão democrática da educação pública; VII – promoção humanística, científica, cultura e tecnológica do País; VIII – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do Produto Interno Bruto – PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e equidade; IX – valorização dos (as) profissionais da educação; e X -promoção dos princípios de respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade socioambiental. O PME consegue retratar muito bem as especificidades da nossa localidade, e muitas dessas fazem jus a autonomia que é dada ao município e vai além do que é proposto pelo DCRB. Para além do planejamento, faz-se necessário que toda a comunidade escola garanta o cumprimento e execução das políticas educacionais, bem como a sua avaliação e monitoramento constante para que coletivamente consigamos alcançar dados qualitativos em nossa educação. Conforme o DCRB: [...] os marcos legais ora apresentados por si só não repercutem em garantias de direitos, o compromisso pelo seu cumprimento perpassa pelo planejamento, REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 17 execução, monitoramento e avaliação das políticas educacionais e pelo controle social em se fazer cumprir. Para tanto, os marcos legais devem ser considerados na (re)elaboração coletiva dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) das escolas públicas e privadas do Estado da Bahia. Dessa forma, o Referencial Curricular Municipal reconhece que a educação é um compromisso para a formação do desenvolvimento humano, levando em consideração às necessidades dos grupos sociais que convivem nos espaços escolares públicos e privados,bem como as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 18 PRINCIPIOS PARA UM REFERENCIAL CURRICULAR COMPROMETIDO COM SEU POVO O TERRITÓRIO E SUAS EXPRESSÕES DE IDENTIDADE A educação do município de Mundo Novo, inspirada no DCRB, “considera as diversas identidades que caracterizam o município, atribuindo às escolas o desenvolvimento de competências voltadas à contextualização, ao aprofundamento e à construção das pluralidades e singularidades dos seus territórios”(DCRB, p. 21). Além disso, apresenta orientações que respeitam a diversidade de cada local onde a escola se insere, para evitar a exclusão de especificidades identitárias. Para falar em organização territorial tomamos por base a dinâmica realizada no Estado da Bahia e nos debruçamos sobre os estudos dos diferentes conceitos, que abrangem Território, Territorialidade e Identidade que foram fundamentais no processo de elaboração deste Referencial. O conceito de território, geografia clássica, remete-nos à ideia de poder exercido sobre uma extensão do espaço por agentes políticos, econômicos e sociais, que estabelecem limites e fronteiras de acordo com o tipo de uso e apropriação que exercem sobre este recorte socioespacial. Para Raffestin (1993) o território não é apenas um espaço, mas sim um espaço construído por sujeitos de ação, que atuam e o modificam de acordo com os seus objetivos e interesses. Dessa forma, “o território é uma construção histórica e, portanto social, a partir das relações de poder (concreto e simbólico) que envolvem, concomitantemente, sociedade e espaço geográfico” (HAESBAERT & LIMONAD, 2007, p.42), assim o território possui consciência, apropriação e sobretudo identidade, pela coletividade que se vive e que se produz, sempre em um processo dinâmico e dialético, cheio de possibilidades. Assim, de acordo com a grandiosidade do Estado da Bahia, o mesmo foi dividido em 27 territórios delineados a partir de agrupamentos identitários municipais, geralmente Um referencial curricular que considera a valorização histórica e cultural do município, onde os estudantes se reconheçam como sujeitos históricos pertencentes e agentes de sua territorialidade. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 19 contíguos, formados de acordo com critérios sociais, culturais, econômicos e geográficos, como apresenta o Documento Curricular da Bahia. O conceito de territorialidade traz como característica específica o indivíduo e sua percepção enquanto ser histórico e político capaz de se sentir pertencente a um determinado espaço. Precisa-se ter em mente que o conceito de cultura e territorialidade estão correlacionados. “O território em que vivemos é mais que um simples conjunto de objetos, mediante os quais trabalhamos, circulamos, moramos, mas também um dado simbólico. A linguagem regional faz parte desse mundo de símbolos, e ajuda a criar esse amálgama, sem o qual não se pode falar de territorialidade. Esta não provém do simples fato de viver num lugar, mas da comunhão que com ele mantemos.” (SANTOS, 1997, p.82) Portanto, territorialidade é um fenômeno social que envolve indivíduos que fazem parte do mesmo grupo e/ou de grupos distintos. Há continuidade e descontinuidade no tempo e no espaço, as territorialidades estão intimamente ligadas a cada lugar: elas dão-lhe identidade e são influenciadas pelas condições históricas e geográficas de cada lugar. O município de Mundo Novo, localizado no Território 14 - Piemonte do Paraguaçu, não se difere dos demais municípios baianos, apresentando um leque de diversidade, pluralidade e também singularidade. O município se estende por 1.491.994 km² e conta com população estimada de 26.776 habitantes de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, está dividido, além do distrito sede, em três distritos, são eles: Ibiaporã (Bonita), Indaí (Covão) e Alto Bonito, tendo ainda nove povoados: Umbuzeiro, Barra de Mundo Novo, Cobé (Belas Flores), Canjerana, Mirandas, Visgueira, Jequitibá, Engenho de Água Branca e Santo Antônio. Cada um dos distritos e povoados, têm suas manifestações culturais, contudo, em todos os lugares, constata-se a presença da agricultura, das festas de vaqueiro e cavalgadas, das chulas, dos festejos juninos e dos padroeiros. Um referencial que entende a territorialidade como um fenômeno social que envolve indivíduos que fazem parte do mesmo grupo e/ou de grupos distintos. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 20 Para pensar a realidade municipal faz-se necessário compreender aquilo que lhe dá identidade e sentido, além de identificar os elementos que constituem as suas múltiplas expressões. Saquet (2002) destaca que a territorialidade apreende os aspectos imateriais da constituição múltipla do território no real, dividindo-se em territorialidades culturais (folclóricas), políticas (do Estado, de partidos e de bairros) e econômicas (centradas na criação de reprodução do capitalismo). Sob esta ótica, então a territorialidade está intimamente associada a grupos sociais, eventos culturais e religiosos, intervenções públicas, investimentos privados, entre outros. Neste sentido, afirma-se que a territorialidade também é permeada por eventos que dão conteúdo a mesma, e que estão relacionados com o tempo e o espaço, com o presente e o passado. Santos (1996) define o evento como um vetor das possibilidades existentes no mundo, mais precisamente em uma formação social, tratada como um país, uma região ou um lugar. Os eventos são realidades do presente e podem ser naturais, sociais ou históricos. Além disso, não há evento sem sujeitos e atores, portanto, os eventos envolvem um conjunto de ações em conflito que dinamizam os grupos sócio-históricos. De acordo com Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional nº. 9394/1996, em seu artigo 26: “Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos.”(LDB/96) Portanto, é direito dos discentes o (re) conhecimento do seu território, evidenciando em nosso currículo, o que diz respeito a territorialidade do nosso município, mostrando aos nossos alunos as nossas heranças, possibilitando que os mesmos se reconheçam dentro do seu lugar. É necessário apropriar-se dos elementos identitários despertando o sentimento de pertença à Mundo Novo. Assim, é importante ressaltar que: “A terra natal não é exatamente o lugar onde nossos mortos estão enterrados; é o lugar onde temos nossas raízes, onde possuímos nossa casa, falamos nossa linguagem, pulsamos nossos sentimentos mesmo quando ficamos em silêncio. É o lugar onde sempre somos reconhecidos. É o que todos desejamos, no fundo do nosso coração: sermos reconhecidos e bem recebidos sem nenhuma pergunta.” (SANTOS, Milton. 1987. p. 83) Em cada um dos cantos e recantos do Município de Mundo Novo encontramos narrativas que reinventam modos de ser e de viver, a riqueza de sentidos que esses REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 21 conhecimentos promovem não pode ser desconsiderada no percurso formativo da Educação Básica, devendo se integrar aos conhecimentos científicos, os saberes locais que recontextualizam e reconectamos sujeitos. Segundo o DCRB, tais saberes se encontram no entorno da escola, nos rios do município, nas paisagens naturais e culturais, na ancestralidade, nos grupos culturais, no samba de roda, na chula, nas manifestaçõesreligiosas, nos locais de convívio, nas festas tradicionais, na diversidade dos distritos e povoados, na história local, na alimentação, na economia, na urbanização, na comunidade quilombola, entre tantos outros espaços do Município, tais saberes devem estar inseridos nas práticas formativas escolares, direcionando olhares, investigações, sem prejuízo do rigor científico, ao contrário, conduzindo o aprimoramento da pesquisa científica a partir de elementos da territorialidade com foco no contexto local, valorizando assim elementos identitários. Referindo-se aos territórios, percebe-se a extensão e a diversidade encontrada, tanto na cultura, quanto nas paisagens. A identidade cultural pode ser reconhecida facilmente. A música, a comida, as festas baianas em geral, têm um impacto significativo, também pelo fato de muitas delas estarem ligadas à religiosidade. É necessário que as escolas entendam a importância dessas manifestações culturais e promova-as para que também o aluno possa se emancipar, perceber-se e sobretudo, reconhecer-se como sujeito de determinado grupo social. Ressalta-se que, em cada um dos cantos e recantos desse estado continental, são encontradas narrativas que reinventam modos de ser e de viver; formas diversas de territorialidades. Esses conhecimentos não podem ser desconsiderados no percurso formativo da Educação Básica, uma vez que essa deve se integrar aos conhecimentos científicos, agregando os devidos saberes que recontextualizam e reconectam sujeitos e saberes. No contexto das territorialidades, a educação do município entende que não há qualquer possibilidade de oferecer uma formação igualitária e de qualidade aos sujeitos sem levar em consideração as particularidades locais. No que tange o processo de ensino e aprendizagem o desenvolvimento das competências gerais para a Educação básica encontra um espaço intencional e de aprofundamento da contextualização das especificidades, sendo estas dos estudantes individualmente, de seu município e territórios de identidade. Sendo assim, é preciso inserir as vivências sociais dos alunos no contexto escolar, para promoção da solidariedade, parceria, empatia, resiliência e cooperação entre os sujeitos sociais, como também arranjos produtivos locais e a dinâmica da economia criativa, por meio de situações contextuais, concretas, saberes e particularidades culturais que agreguem aos conhecimentos escolares o necessário REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 22 suporte para interpretação e atuação no mundo, uma vez que o desenvolvimento do sujeito integral está atrelado a formação do cidadão em sua plenitude. Para tanto o contexto local proporciona práticas cidadãs de fortalecimento da identidade do sujeito bem como a sua capacidade de agir sobre a sua realidade, constituindo-se como sujeito politico-histórico. É fundamental enxergar a si mesmo no outro e entender a importância do lugar onde se vive. É necessário superar a rigidez institucional e aproximar o currículo da vida procurando ver o invisível aos olhos e compreender os movimentos duais, que ocorrem no confronto com o visível. Para consubstanciar essa proposta, faz-se necessário romper com paradigmas unidimensionais do conhecimento e do aluno, concebendo-o como um ser particular que se constitui na integralidade, através das múltiplas relações que estabelece com o mundo. Assim, este Referencial possui como um dos princípios a valorização histórica e cultural do município, onde os estudantes se reconheçam como sujeitos históricos pertencentes e agentes de sua territorialidade. A HISTÓRIA E A CULTURA COMO REFERÊNCIA Pensar a escola no contexto da modernidade é concebê-la como uma instituição que se constrói historicamente, oportunizando aos sujeitos envolvidos em processo de formação o que de mais significativo foi produzido pela humanidade: a cultura, mas sem nunca perder de vista as trajetórias, vivências e experiências destes sujeitos que também são frutos da cultura e produtores dela. Neste sentido este referencial deve ser pensado como um espaço vivo em que a construção dos saberes se dá por meio de uma educação que confere centralidade ao sujeito, às suas potencialidades, fragilidades, necessidades, histórias singulares e as mais diversas interações que estabelece para além do contexto escolar. O Currículo, portanto, é o resultado da incorporação das interações da vida dos sujeitos que se manifestam dentro e fora do espaço escolar [...] O currículo é a expressão da vida. Vida plena e indissociável, que resulta da unicidade dos processos vitais e dos processos cognitivos. Essa unicidade pensada dentro da proposta de auto-organização dos sistemas vivos de Maturana e Varela (2001) percebe a organização autopoética como característica essencial para que a vida se produza. Sendo assim o currículo volta- do para a vida traduz-se num espaço de produção de conhecimento que se caracteriza não pela forma ordenadora com que se potencializa, mas por uma dinâmica caótica que há muito vem sendo evidenciada (PEREIRA, 2004, p. 54). REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 23 A educação escolar quando ocorre contextualizada às vivências e experiências dos estudantes, ressignifica o processo de escolarização, tornando-os sujeitos do seu próprio aprendizado, oportunizando encontrar lugar de fala, de identidade, de pertencimento, o que contribui para aquisição dos novos saberes. Um ensino que ignorasse a história e realidade de vida destes estudantes incorreria no risco de um processo fracassado pela fragmentação, descontinuidade, pela falta de conexão com o mundo social, com as culturas diversas. Conhecimentos totalmente descontextualizados desfavorecem, assim, um ensino mais reflexivo e uma aprendizagem mais significativa, critica , pensada para contemplar o ser humano em sua totalidade o que confere ao processo um grau maior de humanização e de transformação. Freire ao longo de sua obra enfatizou esta necessidade de uma prática humanizadora. O sonho pela humanização, cuja concretização é sempre processo, e sempre devir, passa pela ruptura das amarras reais, concretas, de ordem econômica, política, social, ideológica etc., que nos estão condenando à desumanização. O sonho é assim uma exigência ou uma condição que se vem fazendo permanente na história que fazemos e que nos faz e re-faz. (FREIRE, 2001, p. 99) Deste modo, este referencial curricular foi assim concebido, contemplando uma educação integral, que reconhece e valida nos educandos, sujeitos de direitos, todas as suas dimensões: intelectual, física, emocional, social e cultural, com foco na formação para a autonomia, criticidade e responsabilidade individual e coletiva. Além disso, a educação que pensa o sujeito em sua totalidade oportuniza tempo e espaço para a livre criação, valorização e reconhecimento de saberes, fazeres, sentimentos, experiências, manifestações, vivencias, respeitando assim a diversidade, pluralidade e ao mesmo tempo as diferentes culturas que permeiam o contexto escolar. O responsável definitivo da natureza, sentido e consistência do que os alunos e alunas aprendem na sua vida escolar é este vivo, fluido e complexo cruzamento de culturas que se produz na escola entre as propostas da cultura crítica, que se situa nas disciplinas científicas, artísticas e filosóficas; as determinações da cultura acadêmica, que se refletem no currículo; as influências da cultura social, constituídas pelos valores hegemônicos do cenário social; as pressões cotidianas da cultura institucional, presente nos papéis, normas, rotinas e ritos próprios da escola como instituição social específica, e as características da cultura experiencial, adquirida por cada aluno através da experiência dos intercâmbios espontâneos com seu entorno. (Pérez Gómez, 1998, p. 17) Ao se levar em consideraçãoa diferença como ponto de partida para concebermos a realidade plural, o currículo pode ser analisado pela perspectiva de um espaço-tempo onde REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 24 diferenças culturais, trajetórias e, conhecimentos são constantemente confrontados na busca do novo. As experiências de aprendizagem propostas pelo currículo passam a ser um local onde as diferenças são traduzidas e modificadas a partir de suas especificidades, ocasionando assim um processo de negociação continuo. Afinal, na visão de Paraíso (2010), o currículo é a própria diferença. No contexto da modernidade, então, não há mais espaço para se pensar a educação sobre o viés da hegemonia, da monocultura, que torna igual o que se apresenta tão diverso e plural e tão pouco conceber uma escola que prioriza apenas o saber científico e desprestigia os saberes tidos como populares advindos das práticas e vivências em um determinado território, na convivência com outros sujeitos que também possuem suas histórias. Segundo Arroyo, os currículos devem ser repensados de forma a valorizar as vivências de mestres e educandos e incorporem as experiências sociais, políticas e culturais como produtoras de conhecimento. Para o autor: Reconhecer que todo conhecimento é uma produção social, produzido em experiências sociais e que toda experiência social produz conhecimento pode nos levar a estratégias de reconhecimento. Superar visões distanciadas, segregadoras de experiências, de conhecimentos e de coletivos humanos e profissionais. Reconhecer que há uma pluralidade e diversidade e não uma hierarquia de experiências humanas e de coletivos, que essa diversidade de experiências é uma riqueza porque produzem uma rica diversidade de conhecimentos e de formas de pensar o real e de pensar-nos como humanos.(ARROYO, 2013, p.117) Neste sentido, é preciso reconhecer as diversas histórias, as várias culturas e os diferentes saberes, para que seja possível desestabilizar as representações estruturadas pela cultura hegemônica. O trabalho pedagógico que se concretiza a partir da valorização das diferenças culturais, que estabelece o lugar de direito das diferentes modalidades de ensino, com olhar diferenciado para atender os diferentes sujeitos envolvidos em processos formativos, pode ampliar os movimentos escolares que se opõem à submissão, por não contar com um “sujeito transcendente que sabe”, mas sujeitos que tecem saberes e não saberes (ESTEBAN, 2003). Não há como apagar destes sujeitos, as ausências, as exclusões, os repertórios de negação, de conflitos, dos processos humanos ou desumanos em que vivem. Assim como negar as potencialidades dos coletivos sociais, que ganham força através da cultura. Uma educação que padroniza como igual o que se constitui por natureza diferente é capaz de silenciar e neutralizar vozes e representações, oportunizando desigualdades, exclusão, colocando-os a margem do processo de escolarização, já que poda saberes e dificulta a REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 25 ampliação de outros, inviabilizando a construção de um rico repertório cultural recorrente de diferentes histórias no espaço escolar. Candau (2008) defende uma perspectiva intercultural para a promoção de educação para o reconhecimento do outro e para o diálogo entre diferentes grupos sociais e culturais. O trabalho da escola é tornar a diversidade conhecida e reconhecida em uma vantagem pedagógica, em vez de negar e silenciar. RESPEITO A AUTONOMIA ESCOLAR O Referencial Curricular Municipal, por ser um documento de construção coletiva e com o objetivo de assegurar os princípios educacionais e os direitos de aprendizagens dos estudantes mundo-novenses é um importante norteador para a elaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos, assim como para os planos de ensino, visto que esse documento materializa atos curriculares que servirão de referência para a educação do Município de Mundo Novo. Nesse sentido a LDB 9394/96 trata a autonomia da escola como um direito e orienta as unidades escolares para que o PPP articule os contextos de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais. A construção coletiva do Referencial Curricular Municipal refere-se também à construção da identidade institucional através da elaboração do seu projeto educacional, dando-lhe autonomia para gerenciar os recursos destinados à manutenção do ensino, bem como incorporar inovações e atualizações pedagógicas. De acordo com Carvalho: Para que a escola seja realmente um espaço democrático e autônomo, é necessário que as dimensões pedagógica, administrativa, política e financeira estejam entrelaçadas para funcionar efetivamente dentro do Projeto Político Pedagógico da Instituição educacional. Contudo, não se considera uma escola autônoma se algumas das dimensões não é atendida em sua totalidade. CARVALHO. CONSED, 2001. Referencial Curricular de Mundo Novo Planos de Ensino e Aprendizagem Projeto Político Pedagógico REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 26 A partir da proposta do referencial curricular, a escola poderá refletir sobre o processo educacional (LOPES&MACEDO, 2011) e as suas metodologias, pensando em como melhorá-lo de forma que o estudante seja protagonista na construção do conhecimento, portanto as metodologias e as novas propostas pedagógicas devem ser pensadas para um estudante ativo e não apenas receptor passivo de conteúdo. Para tal os temas integradores, projetos temáticos, entre outros devem partir da necessidade e contexto social do estudante, considerando as suas singularidades e pluralidades. É importante destacar a relevância do papel do gestor nesse processo de democratização da escola que deve ser proativo na resolução de problemas que acontecem na escola. O gestor autônomo precisa ser líder e não chefe, pois um líder jamais trata dos assuntos coletivos de forma centralizadora. Ele envolve a comunidade escolar em todo o processo de tomada de decisão para o bem comum. Só assim alcançará o respeito e confiança necessários para o exercício de uma gestão autônoma e democrática. Para tanto, é fundamental que a prática docente seja ressignificada a partir de um trabalho colaborativo entre toda comunidade escolar utilizando-se deste referencial como ponto de partida para um trabalho democrático, pois uma escola que tem como princípio a igualdade, cooperação, empatia, solidariedade deve envolver desde o porteiro até a família em todas as atividades escolares para que o professor e aluno sintam-se acolhidos no processo de ensino/aprendizagem. TRABALHO PEDAGÓGICO ARTICULADO POR COMPETÊNCIAS O conceito de competência apresentado pela Base Nacional Comum Curricular propõe uma articulação entre os “saberes” que são constituídos por conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver problemas da vida cotidiana e do pleno exercício da cidadania. Dialogando com o texto da LDB, nos artigos 32 e 35 que estabelecem as finalidades gerais do Ensino Fundamental e Médio, as dez competências gerais da BNCC são: 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 27 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e, também participar de práticas diversificadas da produçãoartístico- cultural. 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Para tanto, tais competências não podem ser desenvolvidas de formas isoladas, mas sim com um trabalho planejado e articulado com as habilidades dos componentes curriculares, pois são expectativas de aprendizagens que precisam ser desenvolvidas em todo o percurso da educação básica, a partir das práticas pedagógicas utilizadas, nos tipos de relação que se estabelecem dentro da escola para oportunizar aos estudantes experimentar e vivenciar as competências que contribuirão para a sua formação humana na sua integralidade. Diante do atual cenário mundial, tais competências tornam-se necessárias para a demanda da formação do sujeito integral, que seja um agente social transformador, que se coloque no lugar do outro, que seja capaz de cooperar, de dialogar para resolver os conflitos, construindo argumentos nos debates com opiniões diversas, de forma respeitosa e ética, que planeje, sonhe e estabeleça metas para sua vida futura, que tenha determinação, autoconfiança e que persista em busca dos seus projetos de vida. Competências essas que deverão ser desenvolvidas desde a educação Infantil até o 9º ano no Ensino Fundamental, na rede municipal de ensino. REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 28 As competências gerais explicitadas na BNCC, apresentam referencias observáveis nos objetivos gerais dos Parâmetros curriculares Nacional (PCNs) e Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), onde a formação integral do sujeito está atrelada às suas dimensões intelectual (cognitiva) / física, a dimensão afetiva/social, dimensão ética/moral e dimensão simbólica. Para uma formação integral dos estudantes é preciso ter consciência do que ensinar, do que os estudantes querem aprender, como e porque ensinar, como também refletir para que servem as modalidades planejadas e se de fato os estudantes aprenderão com aquela modalidade organizativa (sequência didática, projetos, atividades ocasionais e atividades permanentes) propostas. O ambiente escolar é um espaço de interação social e de formação dos sujeitos, tais como a biblioteca, a sala de leitura, o pátio, os corredores, sala de aula, entre tantos outros espaços que são importantes para que as competências se desenvolvam, pois são nesses ambientes que os estudantes se relacionam, e é a partir das relações que poderão desenvolver a empatia, a colaboração, o pensamento crítico, o autocuidado, o autoconhecimento, o uso de diversas linguagens e manifestar-se artisticamente. O professor tem um papel fundamental nesse processo, pois ele é o mediador que articula os saberes, é ele que poderá propor atividades que possam praticar o protagonismo, a empatia, autonomia, argumentação, posicionamento crítico, o uso de novas tecnologias, entre outros, pois as competências gerais demandam abordagens pedagógicas que valorizem as atitudes dos estudantes e o seu desenvolvimento humano como a participação em debates, trabalho colaborativos, o uso de novas tecnologias de forma contextualizada ao propósito, projetos que envolvam toda a comunidade escolar e comunidade local. Como referência das declarações acima explicitadas, ficam os registros das escritas dos professores em momento formacional, onde foi feita a seguinte pergunta norteadora: “Que sujeito queremos formar?”, tal pergunta foi respondida pelos mesmos, segue registros obtidos: Professor 1 (Educação Infantil) : “Que acredite em si, como agente de transformação para uma sociedade humana” Professor 2 (Educação Infantil) : “ Um cidadão pensante, crítico e envolvido com o mundo em sua volta, que seja capaz de usar o seu conhecimento para transformar a sua realidade.” Professor 3 (Fundamental I) : “Um cidadão crítico e reflexivo, capaz de agir na sociedade em que está inserido.” Professor 4 (Fundamental I) : “Um cidadão preparado para enfrentar as diversidades com criticidade e respeito.” Professor 5 (Fundamental II) : “Cidadãos capazes de pensar e repensar as suas ações e atitudes. Cidadãos plenos, conhecedores de seus direitos e deveres e que saibam viver em sociedade.” Professor 6 (Fundamental II) : “Quero formar cidadãos melhores do que sou. Que possam ter a coragem de se posicionar em defesa de seus direitos, um cidadão honesto, humano e que tenha determinação para ocupar o seu lugar no mundo com dignidade.” REFERENCIAL CURRICULAR MUNDO NOVO 29 A avaliação formacional articulada com as competências também precisa de um olhar cuidadoso, pois não cabe avaliar apenas conteúdos, mas sim as manifestações das atitudes, como a reponsabilidade, o trabalho colaborativo, o posicionamento crítico entre outras manifestações que promovem o desenvolvimento humano desses sujeitos como um processo contínuo onde se observam os avanços e se repensa o que é necessário para continuar avançando, pois o nosso objetivo é a formação integral do sujeito para que possa usufruir de uma cidadania plena, agindo e transformando a sociedade. TRANSVERSALIDADES DOS TEMAS INTEGRADORES Os temas integradores tecem as diversas áreas do conhecimento que compõem o Currículo e trazem questões que atravessam as experiências dos sujeitos em seus contextos de vida. Compreende aspectos para além da dimensão cognitiva, contribuindo para a formação sócio-política, ética, uma vez que compreende o desenvolvimento do sujeito em sua integralidade, considerando assim as diversas identidades culturais. De acordo com o DCRB, “com o intuito de requalificar as práticas exercidas pelos integrantes da comunidade escolar em prol da construção de uma sociedade mais justa, fraterna, equânime, inclusiva, sustentável e laica”, os temas integradores desenvolvem o importante papel político e pedagógico nos espaços formais de humanização,
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