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Gestão Escolar e Prática Pedagógica I MARILDA PRADO YAMAMOTO Gestão Escolar e Prática Pedagógica I 1ª Edição Taubaté Universidade de Taubaté 2014 Copyright©2014.Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof.Dr. Marcos Roberto Furlan Pró-reitor de Administração Prof.Dr.Francisco José Grandinetti Pró-reitor de Economia e Finanças Prof.Dr.Luciano Ricardo Marcondes da Silva Pró-reitora Estudantil Profa.Dra.Nara Lúcia Perondi Fortes Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof.Dr. José Felício GoussainMurade Pró-reitora de Graduação Profa.Dra.Ana Júlia Urias dos Santos Araújo Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof.Dr.Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino Coordenação Tecnológica Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico e Diagramação Autor Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Dra. Lídia Maria Ruv Carelli Barreto Profa. Ma. Nanci Aparecida de Almeida Me.Benedito Fulvio Manfredini Marilda Prado Yamamoto Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270 Central de Atendimento:0800557255 Polo Taubaté Polo Ubatuba Polo São José dos Campos Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12)3625-4280 Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 Parque Residencial Jardim Aquarius Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 8h às 22h Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas/UNITAU Y195g Yamamoto, Marilda Prado Gestão Escolar e Prática Pedagógica I / Marilda Prado Yamamoto. Taubaté: UNITAU, 2010. 100p. : il. ISBN 978-85-62326-53-0 Bibliografia 1. Gestão escolar. 2. Prática pedagógica. 3. Planejamento escolar. 4. Administração científica. 5. Teoria geral da administração. I. Universidade de Taubaté. II. Título. PALAVRA DO REITOR Toda forma de estudo, para que possa dar certo, carece de relações saudáveis, tanto de ordem afetiva quanto produtiva. Também, de estímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educativas, visto se apresentarem como máxima referência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a universo tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, a orientações de ordem prático-formativa. Cientes de que pretendemos construir conhecimentos que se intercalem na tríade Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor Apresentação O objetivo deste livro-texto é identificar o quanto a escola, com organização formal, evoluiu de forma a se comportar de maneira mais flexível, frente as suas demandas internas e externas. Os novos paradigmas educacionais, o aprimoramento normativo legal, os programas de formação continuada de educadores e gestores e até a institucionalização da gestão escolar e de suas práticas como conteúdo integrante na formação de professores encenam um novo contexto de reflexão, intervenção, trabalho coletivo, planejamento estratégico e participativo, para que os gestores – hoje mais do que gerentes – assumam o papel fundamental de liderar e desenvolver lideranças situacionais. O desenvolvimento, o aprimoramento e a operacionalização, missão da Escola sincronizada no Projeto Político Pedagógico, necessitam desse novo profissional na educação do século 21. Sobre a autora MARILDA PRADO YAMAMOTO é graduada em Pedagogia, com habilitações em Administração Escolar, Supervisão Escolar e Orientação Educacional pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Taubaté; em Serviço Social pela Faculdade de Serviço Social de Taubaté. Fez especialização em Administração Hospitalar pela Sociedade Beneficente São Camilo (São Paulo) e aperfeiçoou-se em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde pela Fundação Getúlio Vargas (São Paulo). É mestre em Educação, área de supervisão e currículo pela PUC de São Paulo. Atuou como professora titular de Estrutura e funcionamento do ensino na Universidade de Taubaté e foi chefe do Departamento de Pedagogia desta Universidade, estando, atualmente, aposentada de ambas as funções. No momento, é professora do curso de Pós-graduação Lato Sensu do curso de Gestão Escolar da Universidade de Taubaté. Integra o Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares (GEPI) da PUC (São Paulo). É doutoranda na PUC (São Paulo) na área de Supervisão e Currículo, tendo como linha de pesquisa a interdisciplinaridade. Leciona no Ensino de Educação a Distância da Universidade de Taubaté. Exerceu funções de coordenação nos hospitais filantrópicos da região do Vale do Paraíba, Alta Mantiqueira e Litoral Norte por longo período, além de funções administrativas e gestão hospitalar. Na vida política, teve dois mandatos legislativos na Câmara Municipal de Taubaté, presidindo comissões de justiça e redação, finanças e educação. Participou de diversos conselhos deliberativos e consultivos, atuando decisivamente para a democratização das ações públicas durante o exercício desses mandatos. Caros(as) alunos(as), Caros(as) alunos(as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial.Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas das disciplinas aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo de ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta síntese das unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-lo a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU Sumário Apresentação ................................................................................................................... xi Sobre a autora ................................................................................................................ xiii Caros(as) alunos(as) ....................................................................................................... xv Ementa .............................................................................................................................. 1 Objetivos ........................................................................................................................... 2 Introdução ......................................................................................................................... 3 Unidade 1. Contribuição da administração científica e da teoria da burocracia à gestão escolar – uma introdução ................................................................................... 5 1.1 Perspectivas tradicionais sobre organização e administração .................................... 5 1.2 Concepções e tendências da Teoria Geral da Administração: abordagens da administração científica, da gestão administrativa e da burocracia.................................. 9 1.2.1 Frederick Winslow Taylor (1856–1915) ............................................................... 10 1.2.2 Jules Henry Fayol (1841-1925): ............................................................................ 12 1.2.3 Henry Ford (1863 – 1947): .................................................................................... 15 1.2.4 Max Weber (1864-1920): ...................................................................................... 16 1.2.5 Outras contribuições: ............................................................................................. 17 1.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 18 1.4 Para saber mais ......................................................................................................... 19 1.5 Atividades ................................................................................................................. 20 Unidade 2. Construindo o cenário contemporâneo da gestão escolar .................... 22 2.1 A Escola enquanto organização complexa e empresa humana ................................ 22 2.2 Pensando a mudança social e a gestão escolar ......................................................... 27 2.3 O papel e as funções do gestor escolar: a aprendizagem organizacional e a prática gerencial.......................................................................................................................... 30 2.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 39 2.5 Para saber mais ......................................................................................................... 40 2.6 Atividades ................................................................................................................. 42 Unidade 3. A democratização das ações da Escola e a gestão democrática ........... 43 3.1 Da democratização do ensino à democratização da gestão do ensino público ......... 43 3.2 Concepções e práticas gestoras ................................................................................ 48 3.3 A Gestão democrática na Escola: um esforço viável ............................................... 52 3.4 A Ética do Gênero humano ...................................................................................... 57 3.5. O planejamento participativo na Escola e o sentido pleno da participação ............. 58 3.6. E finalizando... Ou nunca finalizando.....................................................................62 3.7 Para saber mais ........................................................................................................ 62 3.8 Atividades ................................................................................................................ 63 Unidade 4. Autonomia e o processo de planejamento da Escola ............................. 64 4.1 A Construção da autonomia escolar ......................................................................... 64 4.2 A participação e o trabalho coletivo da Escola......................................................... 67 4.3 A importância do planejamento estratégico participativo ........................................ 69 4.4 O Projeto político-pedagógico: a conjugação da autonomia e do planejamento estratégico-participativo ................................................................................................. 73 4.4.1 O projeto político-pedagógico: sua inserção nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica ............................................................................................................. 77 4.5 Estrutura do projeto político-pedagógico: à guisa de sugestão ................................ 78 4.6 Sugestão de roteiro de apresentação ......................................................................... 83 4.7 Sugestão de roteiro de apresentação ......................................................................... 85 4.8 Síntese da Unidade ................................................................................................... 87 4.9 Para saber mais ......................................................................................................... 89 4.10 Atividades .............................................................................................................. 89 Referências ..................................................................................................................... 91 Referências Complementares ......................................................................................... 94 11 ORGANIZE-SE!!! Você deverá usar de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. Gestão escolar e prática pedagógica I Ementa EMENTA Contribuição da administração científica e da teoria da burocracia à gestão escolar. Construindo o cenário contemporâneo da gestão escolar. A Escola enquanto organização complexa e organização humana. Novos paradigmas de gestão escolar contemporânea. Funções, papéis, desafios da gestão escolar. Identidadee autonomia escolar. Descentralização das ações da Escola e das bases para a gestão democrática. A participação e o trabalho coletivo na Escola. O projeto pedagógico como resultado do planejamento participativo e estratégico. 22 Objetivo Geral • Refletir sobre o papel da escola no mundo contemporâneo e sobre os paradigmas da gestão escolar, enfatizando os princípios da autonomia, da gestão democrática, do trabalho coletivo e participativo como alicerces para a construção do projeto pedagógico. Objetivos Objetivos Específicos • Construir o referencial evolutivo da teoria da Administração científica, do modelo gerencial e burocrático, para a abordagem contemporânea da gestão escolar. • Identificar os cenários paradigmáticos e educacionais que enfatizam a gestão escolar identitária, autônoma, participativa e democrática. • Refletir sobre as funções, os papéis e os desafios do gestor escolar na atualidade. • Identificar o projeto pedagógico como resultado do trabalho coletivo e das técnicas de planejamento participativo e estratégico. 33 Introdução Encaminhar uma discussão teórico-prática sobre a gestão escolar e práticas pedagógicas é suscitar um sentimento controverso: constatar o quanto evoluímos nos paradigmas educacionais para uma educação inclusiva, democrática e participativa e quão distante estamos, ainda, da realidade de concretizá-las. No entanto, é na utopia do possível que a formação pedagógica se assenta. A utopia é sempre realizável e testemunha uma mudança radical da realidade. Os caminhos para o refletir conscientemente, para o pensar estratégico, para o desenvolvimento de habilidades indispensáveis ao gestor educacional contemporâneo, para a consciência de que o aluno é o centro e a razão de ser da escola fazem-nos pensar na essência fundamental do processo de escolarização, do qual o gestor é o grande mediador de conflitos e realizações. É esse o percurso evolutivo deste livro-texto, desenvolvido em quatro Unidades sequentes e articuladas: • na Unidade 1 (Contribuições da administração científica e da teoria da burocracia à gestão escolar – uma introdução) serão abordados os aspectos relativos às perspectivas tradicionais sobre a organização e administração de uma tendência humana, que caminha para a sistematização do pensamento administrativo com a Teoria Geral de Administração e a Teoria da Burocracia; • na Unidade 2 (Construindo o cenário contemporâneo de gestão escolar) situa-se a escola como uma organização complexa, constituída de tarefas, sentimentos e interações sociais. Essa análise mais abrangente da escola enquanto organização humana impõe ao gestor novos papéis e novas habilidades, em decorrência de uma nova identidade profissional; • na Unidade 3 (A democratização das ações da escola e a gestão democrática), serão abordadas a democratização do ensino e da gestão do ensino público e as 44 concepções e práticas gestoras e seus fundamentos básicos. Dentro da concepção educacional de uma utopia pedagógica possível, a gestão democrática da escola é considerada um esforço viável, mostrado por meio de projetos de referência em gestão escolar; • na Unidade 4 (A autonomia e o processo de planejamento da escola) serão abordados os paradigmas dominantes nos novos fundamentos legais brasileiros, a autonomia da escola representa um avanço significativo na distribuição do poder decisório, este colocado em intimidade com o local em que os problemas ocorrem. O projeto político-pedagógico, na sua forma estratégico-participativa, é o resultado mais significativo da autonomia escolar. 55 Unidade 1 Unidade 1 . Contribuição da administração científica e da teoria da burocracia à gestão escolar – uma introdução Somos cavaleiros dos sonhos? Dom Quixote das utopias? Somos sim, animais sociais. Agregadores e Construtores da humanidade. Marilda Prado Yamamoto Nesta Unidade, serão abordados os aspectos fundamentais que emergiram das formas tradicionais de abordagem da organização e administração e o percurso para elaboração de elementos da administração científica, constituindo-se em uma teoria geral da administração com os seus representantes principais, chegando até à teoria da burocracia presente na administração e gestão escolar até os dias de hoje. 1.1 Perspectivas tradicionais sobre organização e administração Pode parecer um artifício de linguagem afirmar que o homem é um ser organizacional. Vamos juntos construir o raciocínio para o entendimento dessa afirmação. Desde logo, o homem descobriu que para concretizar objetivos, enfrentar a natureza e produzir bens e serviço para sua sobrevivência, o esforço conjunto era de grande valia. 66 Daniel Defoe (1660-1731), escritor inglês, autor do romance Robson Crusoé. Com seu estilo narrativo, o personagem, único sobrevivente de um naufrágio, trava uma luta com o ambiente hostil, persistindo na manutenção dos valores fundamentais da sua identidade cultural. A utopia e o pensamento utópico têm papel positivo ao se pensar numa educação democrática, preparando-nos para a criatividade e a reflexão da mudança. Assim, a utopia como técnica intelectual tem importante função na ideia de planejamento educacional e na educação contemporânea. No pensamento utópico, o possível existe e é realizável, sendo, para isso, necessário perseverança e fé no futuro. Foi Karl Mannheim que nos chamou atenção para o valor otimista da utopia e do pensamento utópico. É de Gibson et al. (1981, p. 23) a expressão: “é duvidoso que o esforço de uma pessoa isolada pudesse fazer muita coisa dentro da sociedade”. Isso significa que objetivos e metas só serão alcançados por meio de relações interdependentes e cooperativas de pessoas, o que nos faz afirmar que em qualquer tempo sempre vivemos em sociedades do tipo organizacional. A verdade é que vivemos em organizações: na família, no trabalho, na escola, nos grupos associativos etc., organizações em que trocamos experiências e introjetamos as maneiras de agir, sentir e pensar do grupo, firmando a nossa identidade psicossocial como seres organizacionais. Na ficção, na obra clássica Robson Crusoé, do autor Daniel Defoe, são narradas as experiências de um náufrago que só conseguiu sobreviver ao isolamento de uma ilha deserta porque trazia consigo as experiências de vida da sociedade inglesa. Por outro lado, ao se afirmar que a natureza se agrega ao homem, estamos também exprimindo que, para viver na sociedade organizacional, ele precisa dispor da melhor forma possível dos instrumentos materiais e dos objetos necessários à sua sobrevivência e à do grupo. Ao nos adequarmos ao ambiente físico e cultural e o readequarmos continuamente para que possamos utilizá-lo e dele tirar o melhor proveito, estamos sim exercendo a nossa tendência natural de organizar. É de Kast e Rosengweig (1976, p. 4) a afirmação: “o homem é um animal que organiza. Suas percepções estão organizadas de forma a compor um todo expressivo. Essa é a característica universal do processo cognitivo ou do pensamento”. Como seres tribais, traçamos planos, definimos metas e objetivos e nos organizamos para atingi-los. Para concretizá- 77 As sete maravilhas do mundo moderno são obras fantásticas que, dentre tantas outras, são reconhecidas como patrimônio cultural da humanidade. São elas: Coliseu Romano, Chichen Itzá, Macchu Pichu, Cristo Redentor, Muralha da China, Petra, Taj Mahal, representando a concretização de objetivos conjugados de planejamento de esforços comuns sob autoridade de alguém. Figura 1.1 – Pirâmide de Quéops. Fonte: Acervo pessoal da autora. los, pretendemos que os conhecimentos, os recursos técnicos e humanos sejam suficientes e bemaproveitados. Há também necessidade de articulação e coordenação desses meios, para que os esforços coletivos produzam os resultados esperados. Decorre daí a necessidade de se planejar a disposição desses recursos. Entra em cena a administração como a energia propulsora na coordenação e no controle dos esforços humanos de transformar, com os meios existentes, aspirações em realidades palpáveis e utopias em verdades objetivas e concretas. Pensadas, portanto, sobre a perspectiva e a tendência humana natural de se organizar e de administrar, a história humana registra a construção de maravilhas. Imagine-se olhando de perto para a grande pirâmide de Quéops no Egito. Ficamos pequenos diante da grandiosidade do monumento mais famoso do mundo – a única das sete maravilhas do mundo antigo que permanece intacta. Isso nos faz refletir sobre a verdade do provérbio árabe: o homem teme o tempo e ainda o tempo teme as pirâmides. Foi construída em 2.500 a. C, com dois milhões de blocos de pedras calcárias (em um local onde essas pedras eram inexistentes). Essas pedras foram cortadas com o cuidado de permitir a simetria exata no encaixe, mantendo o ângulo de inclinação orientado para os quatro pontos cardeais. Até hoje, existem discussões e teorias mirabolantes sobre a forma como blocos de pedras pesando duas toneladas foram colocados sem ajuda de máquinas nos seus quatrocentos e cinquenta metros de altura. A grande pirâmide de Quéops, com 450 pés de altura, está localizada na Esplanada do Guizé na 88 Figura 1.2 – Muralha da China. Fonte: Acervo pessoal da autora. A Dinastia Ming (1368-1644) foi a última dinastia da China. É considerada a de maior desenvolvimento comercial e, portanto, a mais próspera e estável, graças ao seu portentoso reforço militar e marítimo. Durante o período de governo dos Mings, um dos mais importantes da China, foram desenvolvidos projetos como a restauração e a conclusão da grande muralha da China e a criação da Cidade Proibida. A Grande Muralha da China é uma das sete maravilhas do mundo moderno e patrimônio da humanidade. Tem 2.300 metros de extensão, 7,5 de altura e 3,75 de largura, representando um impressionante estudo arquitetônico. Personagem da obra Dom Quixote de La Mancha do escritor espanhol Miguel de Cervantes y Saavedra. Obra clássica considerada a melhor obra de ficção do mundo por organismos internacionais especializados. Sua primeira edição foi publicada em Madri em 1615. margem oeste do Rio Nilo, em direção ao sol poente. Durante 4.400 anos, foi o monumento mais alto do mundo construído pelo homem. A ausência de equipamentos não foi empecilho para articular o conhecimento de matemática e arquitetura com racionalização do trabalho e planejamento organizacional e administrativo, aspecto que nenhum estudioso do assunto se dispõe a discordar. O espírito empreendedor e criativo do homem, perseguindo metas e objetivos, embalado pelo senso de organizar e administrar, pode ser constatado, entre outras realizações, na grande muralha da China. Houve muitas dificuldades na construção da majestosa obra de arquitetura, iniciada em 221 a.C, em função da sua extensão, do relevo e do clima da região, da situação militar das dinastias da época e da diversidade de materiais empregados. Foi concluída no século XVI na Dinastia Ming. Essa intrigante obra, que impressionou os europeus pelo grau de desenvolvimento tecnológico, é a única construção feita pelo homem que pode ser vista do solo lunar. Outras realizações poderiam ser apontadas aqui. O que se constata indubitavelmente é que a ação de organizar e administrar se faz indispensável na história das organizações humanas. É a partir delas que o homem cavaleiro dos sonhos e Dom Quixote das utopias constrói um mundo permeado de produções incríveis. É o homem exercitando “uma maneira de pensar, no imaginário, as modificações possíveis numa sociedade de modo a 99 Os termos teoria da administração e da organização são aqui usados indistintamente. É Kast e Rosenzweig (1970, p. 9) que afirmam: “a literatura publicada entre esses dois conceitos é ambígua sobre esses pontos. Numerosos livros ou artigos podem ser encontrados com títulos como teoria da administração, teoria da organização ou teoria da administração e organização. E sua tendência é tratar dos mesmos assuntos”. abrir novas perspectivas” (FURTER, 1971, p. 38). E não só pensando, mas realizando racionalmente o possível. É justamente por isso que os convido para refletir sobre o poder das grandes realizações e penetrar na dimensão do tempo. Incito-os a pensar grande. 1.2 Concepções e tendências da Teoria Geral da Administração: abordagens da administração científica, da gestão administrativa e da burocracia Temos o desejo e a necessidade de superar as limitações do conhecimento. Para isso devemos ser efetivamente observadores, críticos e criativos o suficiente para colocar algo confiável no lugar. Marilda Prado Yamamoto Considerando a abordagem que estamos adotando sobre os feitos humanos, usando o senso de organizar e administrar, a sistematização de princípios e os métodos no campo da administração e da organização são relativamente jovens, mas os pioneiros da ciência da organização “pensaram grande”. Como executivos de sucesso, valeram-se da experiência própria para formular um corpo de conhecimentos afeitos ao momento da revolução industrial e à ascensão das grandes empresas onde trabalhavam. Não importa que tenham focalizado em um primeiro momento seus olhares para a estrutura interna da organização, observando-as como sistemas fechados, o que importa é que o papel da administração passou por transformações, firmando conceitos e princípios generalistas que definiram um campo de estudos que se denominou ciência da organização e da administração. A Teoria Geral da Administração distingue as contribuições de Frederick Winslow Taylor com a abordagem da administração científica. A teoria da administração ou da 1100 Conceitualmente há distinção entre os termos eficiência, eficácia e efetividade. Eficiência é o cumprimento dos padrões ou execução do trabalho com redução de custos e tempo. Está voltada para fazer bem os objetivos organizacionais definidos. Eficácia é o reconhecimento da concretização dos objetivos da organização como um todo. Está voltada para fazer bem e certo na medida em que a concretização daqueles objetivos correspondem às necessidades da sociedade. Efetividade é a concretização da realização do trabalho eficiente com agregação do valor eficaz, com aceitação dos clientes e da comunidade. gestão administrativa funda-se nos princípios formulados por Henry Fayol e na teoria da burocracia, naqueles propostos por Max Weber. Este é o caminho que vamos percorrer. 1.2.1 Frederick Winslow Taylor (1856–1915) Deixou uma importante contribuição na estruturação das bases da administração científica. Sua experiência como operário e, posteriormente, como engenheiro e consultor de várias indústrias levaram-no a concentrar suas observações em torno das técnicas de racionalização dos métodos e execução do trabalho, entendendo que este deveria ser dividido e subdividido em partes mais simples para que pudessem ser perfeitamente entendidas. Quanto mais específica fosse a tarefa e quanto menor fosse a variedade de funções, maior a possibilidade de especialização. Com essas abordagens, o enfoque saliente é o da divisão do trabalho e da especialização, que passa a compor as características do Taylorismo. O método ideal para a padronização de cada etapa de trabalho é chamado de estudo de tempos e movimentos (motion – time – study), que determinava a única e melhor forma de executar o trabalho (the best way). Assim, por meio da padronização de passos para a realização de cadatarefa, garante-se a maior produtividade. Decorre daí que a finalidade precípua da administração é produzir bens e serviços para “assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado” (KAST e ROSENZWEIG, 1976, p. 37). Estabelece-se aí a importância da eficiência como parte integrante dos postulados de Taylor. Com maior eficiência e, portanto, maior produtividade, garante-se a satisfação dos empregados e empregadores, focalizando-se, sobretudo, a identidade dos interesses de ambos. 1111 Como salienta Chiavenato (1976): a Administração Científica tem por seus fundamentos a certeza de que os verdadeiros interesses de ambos são o único e mesmo interesse: o de que a prosperidade do empregador não pode existir por muito tempo, se não for acompanhada da prosperidade do empregado e vice- versa. É preciso dar ao trabalhador o que ele mais deseja: altos salários e ao empregador também, o que ele realmente almeja: baixo custo de produção (CHIAVENATO, 1976, p.37). Igualmente, há de se assegurar o controle na execução do trabalho. O direito de se fazer obedecer, por intermédio de um único comando centralizado, desloca-se para supervisores especializados, habilitados para exercer a autoridade na área restrita da sua especialização. Embora parcial, pois pressupõe uma autoridade circunscrita em uma área de competências perfeitamente definidas, a supervisão funcional tem a característica de controle cerrado na execução dos serviços e tarefas. Cria-se, assim, um novo espaço empresarial: a funcionalização ou supervisão funcional, que se estrutura como uma das proposições da administração científica. A supervisão funcional para a garantia da eficiência sustenta-se no pressuposto de que a motivação financeira é o fator decisivo para o máximo desenvolvimento das capacidades físicas e individuais, pois, quanto maior a produção, maior o ganho remuneratório. É o conceito de homo-economicus, no sentido de que o homem rege-se por objetivos que representam recompensas salariais, constituindo-se em mais um atributo da teoria de Taylor e seus seguidores. As formulações de Taylor exerceram influência em várias décadas seguintes. Sua preocupação e de seus adeptos era a abordagem da administração como ciência, entendendo-se que não havia mais lugar para o empirismo. Procuraram sistematizar uma metodologia para análise e solução de problemas, estabelecendo padrões para a execução de tarefas. Consideravam necessária a introdução de uma nova mentalidade filosófica, a partir da qual valores interpenetravam a natureza do sistema produtivo. Assim, segundo Taylor (apud KAST; ROSENZWEIG, 1976), a ciência em lugar das normas ditadas pela prática. Harmonia, no lugar de discórdia. Cooperação no lugar do individualismo. Produção máxima no lugar de produção restrita. O desenvolvimento de cada 1122 Metáforas têm sido utilizadas para descrever imagens organizacionais, possibilitando um modo de ver e de pensar as organizações. Nesse sentido, consultar: MORGAN, Gareth. Imagens da Organização. Tradução Cecília Whitaker Bergamini e Roberto Coda. São Paulo: Atlas, 1996. A corrente da Administração científica, formada notadamente por engenheiros liderados por Frederick W. Taylor, firmou suas teorias nos Estados Unidos. A abordagem da gestão administrativa propriamente dita, tendo à frente Jules Henry Fayol, foi consolidada na França. Essa corrente é também chamada de Anatomistas e fisiologistas da administração. homem pode fazê-lo atingir a sua mais alta eficácia e maior prosperidade (TAYLOR apud KAST; ROSENZWEIG, 1976, p. 66). Embora sejam positivas as contribuições deixadas pela administração científica, os princípios taylorianos ignoraram os fatores sociais e psicológicos do trabalho ao enfatizar a remuneração como principal fator motivacional, abordando-o de forma ingênua. Deu-se pouca atenção ao elemento humano, não trabalhando a interface dos aspectos organizacionais e pessoais. Daí decorre a utilização da metáfora da máquina para descrever as concepções organizacionais desse momento da administração científica. 1.2.2 Jules Henry Fayol (1841-1925): As formulações desse pensador completam o importante referencial para o desenvolvimento do pensamento científico na administração. Tanto Taylor quanto Fayol valeram-se da experiência como meio de conhecer as organizações. Inicialmente, como operário e, posteriormente, como engenheiro e consultor, Taylor tem como característica a formulação de seus princípios, partindo da base para a alta direção. A abordagem da gestão administrativa de Fayol percorreu caminho inverso, partindo do entendimento da necessidade de intervenções estruturais iniciadas no topo em direção à base, pensando ser prioridade preocupar-se com a estrutura organizacional e seu funcionamento. A visão anatômica ou fisiológica da organização, como passou a ser chamada, defende uma concepção de que o conjunto de operações de uma organização compreende funções essenciais, quais sejam: técnicas financeiras, contábeis, de segurança, coordenadas e articuladas pelas funções administrativas responsáveis pelo desempenho das demais operações essenciais. 1133 No entanto, para Fayol (apud CHIAVENATO, 1976), o exercício da função administrativa não é privilégio da alta cúpula: [...] a função administrativa não é encargo pessoal nem privilégio exclusivo do chefe ou dos dirigentes da empresa. É uma função que se reparte e se distribuiu com as outras funções essenciais, proporcionalmente entre a cabeça e os membros do corpo social da empresa (FAYOL apud CHIAVENATO, 1976, p. 62). No alicerce dessa teoria está a ideia da adequação proporcional daquelas funções empresariais, afirmando que a função administrativa e gerencial existe em todos os níveis hierárquicos. No entanto, as habilidades decorrentes de seu desempenho, não exclusivas da alta direção, são exigidas em maior extensão e volume quando na alta cúpula executiva. Na base produtiva, o nível hierarquicamente mais baixo para o desempenho de suas funções específicas é indispensável à qualidade profissional especializada compreendendo-se, para tanto, as habilidades de natureza técnica. Nesse sentido, quanto mais se alcança o topo empresarial, maior a exigência de conhecimento e habilidades administrativas e gerenciais, e quanto mais se situa na base produtiva, maior é a necessidade de suporte específico nessa área. Define-se, assim, a proporcionalidade entre as funções e habilidades administrativas e gerenciais; as demais não especificamente administrativas configuram-se uma relação entre conhecimentos e habilidades e níveis hierárquicos. A disposição proporcional desses conhecimentos é anatômica e fisiológica, pois está estritamente alinhada à estrutura organizacional, justificando-se, pois, o nome dado à corrente francesa de administração. O conceito de administração que envolve o detalhamento das qualidades que prioritariamente se espera da cúpula administrativa e gerencial é definida por Henry Fayol como: Prever: visualizar o futuro e traçar o programa de ação; Organizar: construir o duplo organismo material e social da empresa; Comandar: dirigir e orientar o pessoal; 1144 Figura 1.4 – Proporcionalidade das funções administrativas e gerenciais e as funções técnicas e operacionais. Fonte – Chiavenato (1976, p. 62). Adaptado. Figura 1.3 – Proporcionalidade das funções administrativas e gerenciais e as funções técnicas e operacionais. Fonte – Chiavenato (1982, p. 9). Adaptado. Coordenar: ligar, unir, harmonizar todos os setores e todos os atos coletivos; Controlar: verificar que tudo ocorra de acordo com a regra estabelecida e as ordens dadas (CHIAVENATO, 1982, p. 10). Representando esquematicamente esse conjunto deideias: É oportuno citar Chiavenato (1982): [E] esses são os elementos da administração que constituem o chamado processo administrativo, e que são localizáveis em qualquer trabalho do administrador em qualquer nível de atividade da empresa. Em outros termos, tanto o diretor, o gerente, o chefe, o supervisor, como o encarregado – cada qual no seu nível – desempenham atividades de previsão, organização, comando, coordenação e controle como atividades administrativas essenciais (CHIAVENATO, 1982, p.101). Assim, colocadas as formulações, evidencia-se o conhecimento técnico em contraposição ao conhecimento administrativo, definindo, pois, as habilidades requeridas para o desempenho de funções e papéis gerenciais na estrutura organizacional. Nesse momento, já nos encaminhamos para a seguinte reflexão, ainda que de forma tímida: do gerente ou gestor escolar, espera-se o desenvolvimento de atitudes e 1155 No módulo Gestão escolar e prática pedagógica II, serão tratados os aspectos relativos ao ambiente escolar e à organização do campo de trabalho, o cuidado com o patrimônio administrativo de verba e o fluxograma financeiro etc. habilidades ligadas à escola, enquanto organização complexa, pois dele deve brotar (sem se esquecer da cooperação coletiva posteriormente incorporada na teoria organizacional) a condução da tarefa de harmonizar recursos, verbas, tempo, preservação e proteção do patrimônio escolar; enfim todos os aspectos referentes à infraestrutura operacional do gerenciamento administrativo. Enfim, é grande o mérito da Teoria da administração científica e da Abordagem administrativa, com as contribuições de valores incontestáveis de Taylor e Fayol, rompendo com o tradicionalismo e com o empirismo. Como afirma Motta e Pereira (1980): [...] das principais teses da Escola Clássica ou da Administração Científica, trazemos a discussão como ideia central que está presente em todo o pensamento dessa Escola. Afirma ela que a Administração é uma ciência, um conjunto de conhecimentos sistemáticos e racionalmente organizados, Ela é constituída de princípios – os chamados princípios da Administração – os quais teriam origem, de um lado, em experiências científicas relacionadas com o trabalho e sua produtividade e, de outro no método lógico-dedutivo. Ao administrador caberia aplicar esses princípios clara e precisamente definidos pela Escola Clássica. Dessa forma, ele estaria dando ao seu trabalho uma dimensão científica e tornando-o mais eficiente (MOTTA e PEREIRA, 1980, p. 186). 1.2.3 Henry Ford (1863 – 1947): Conhecido precursor da Teoria da administração, Ford distingue-se pela produção de carros populares, o Ford T, da primeira década do século XX até o fim dos anos 20, quando os Estados Unidos da América atravessavam uma fase de grande prosperidade. Os princípios administrativos formulados por Ford sustentavam-se na simplicidade, que possibilitava a eficiência esperada. A velocidade na produção e na distribuição para o mercado era sintetizada na célebre frase de Ford, registrada por Chiavenato (1976, p. 8): “O minério sai da mina sábado e é entregue sob a forma de carro, ao consumidor, na terça-feira, à tarde”. A preocupação em reduzir o consumo de matéria prima propicia, 1166 A tipologia weberiana de dominação ou poder contempla: autoridade carismática centrada nas características pessoais e na personalidade individual, autoridade tradicional centrada na tradição e na hereditariedade, autoridade racional- legal legitimada por leis, regras e regulamentos. A racionalidade é entendida como a forma mais simples, coerente e menos dispendiosa de se alcançar objetivos propostos. A racionalidade é entendida como a forma mais simples, coerente e menos dispendiosa de se alcançar objetivos propostos. portanto, um integrante político de acessibilidade de preços, marcando a economicidade, um de seus sugestivos princípios administrativos. 1.2.4 Max Weber (1864-1920): Sociólogo alemão e fundador da Teoria da burocracia, que a tratou como um conceito sociológico que exprime a racionalização das atividades coletivas. Para ele, o objetivo da administração e das organizações é o aumento de eficiência, pois sem ela não há desenvolvimento. As teorias de administração jamais negaram ou negam esse aspecto. Pensam, sim, em diferentes formas e meios de alcançá-la. Max Weber, em suas reflexões, estruturou a ideia de um sistema social como uma bem definida hierarquia de autoridade e poder, a racional legal, associada à formalização de rotinas, aos procedimentos, às regras, aos regulamentos, às escritas aplicáveis à organização como um todo. Ele imprimiu a base de uma racionalidade administrativa (na própria medida da concepção de racionalidade humana) que visa a concretizar, com eficiência, objetivos organizacionais, por meio da articulação entre meios e fins. Segundo Chiavenato (1982), a teoria burocrática pretende atingir: [...] certas conseqüências desejadas e antecipadamente previstas: a previsibilidade do comportamento humano dentro da organização. Até certo ponto, isto significa a tentativa de padronizar o desempenho humano para alcançar um objetivo organizacional: a máxima eficiência da organização (CHIAVENATO, 1982, p. 12). Diante disso, pode-se perceber que convivemos com as organizações burocráticas sem darmos conta disso. Pense onde você esteve hoje. Com certeza, ao longo de grande parte de seu dia, você esteve em contato com elas resolvendo seus problemas de convivência ou até de sobrevivência, quer seja no trabalho, na escola de seu filho, nos 1177 serviços jurídicos e cartorários, nas unidades de saúde, enfim nos serviços públicos em geral. A razão disso deve-se: • ao modelo burocrático, estar presente em grande parte das organizações sociais. Todo sistema social administrado segundo critérios racionais e hierárquicos é um modelo burocrático de organização; • à ação de uma bem definida hierarquia de autoridade que é sentida no trabalho. Com efeitos de dominação ou não, com maior grau de rigidez no seu exercício ou de flexibilidade, o poder de mando está presente, não sendo disfarçado ou mascarado (como diz o ditado popular: manda quem pode...); • ao poder de decisão e deliberação que flui de cima para baixo, ou seja, da autoridade legitimada por cargos, funções, regulamentos etc, na mesma medida da disposição hierárquica da autoridade (completando a expressão própria do povo: ...obedece quem tem juízo); • aos critérios de eficiência que são perseguidos com a racionalidade instrumental, por meio de procedimentos e rotinas para lidar com a maior parte possível de situações que possam ter previsibilidade. O manual de procedimentos, os protocolos padrões e as rotinas constituem-se na bíblia da estrutura burocrática. Elimina-se, assim, a incerteza no desempenho das funções, principalmente daquelas decorrentes da possível variabilidade de entendimento e das diferenças individuais; • à divisão do trabalho que é realçada, pois a eficiência exige o desempenho na execução das tarefas, com responsabilidades definidas caso isso não ocorra. O bom desempenho protege as demissões arbitrárias e fortalece as promoções aliadas aos anos de trabalho e à dedicação. A lealdade é valorizada na construção da carreira funcional. Assim, em certo grau, não talvez com a lógica do tipo ideal de concepção do modelo burocrático, as organizações praticam a divisão do trabalho, a especialização, a definição da relação superior (subordinado), a indicação de rotinas e padrões de desempenho etc. Segundo Mota e Pereira (1980, p. 23), a identificação tipo ideal “não tem nenhuma conotação de valor (...) nenhuma organização corresponde ao modelo puro de burocracia”. 1.2.5 Outras contribuições Muitos outros autores deixaram significativas contribuiçõespara o avanço de conhecimentos no campo da administração e organização. Entre outros, destacamos as 1188 abordagens de Oliver Sheldon, James D. Mooney, Mary Parker Follett, Lyndall Urwick, Chester Barnard e Herbert Simon. É sugestivo e importante registrar brevemente essas contribuições: Teorias Contribuições Oliver Sheldon • a percepção da responsabilidade social das organizações. A comunidade é a principal beneficiária dos bens e serviços produzidos pela empresa; • as necessidades da comunidade são tão importantes quanto as necessidades básicas individuais. Mary Parker Follett • as relações individuais têm significado importante na vida organizacional; • as relações individuais estão em constante modificação. O contato entre duas pessoas altera a percepção dos relacionantes e relacionamentos seguintes em um ciclo contínuo; • o ser humano só se desenvolve quando se intensificam suas responsabilidades; • as divergências manifestam as diferenças de perspectivas e podem gerar conflitos; • os conflitos não devem ser sufocados ou conciliados. Os conflitos devem ser integrados e as demandas devem ser pensadas, inovadas e nunca suprimidas. James D. Mooney • a coordenação é importante função organizacional; • a coordenação deve ser desenvolvida em uma comunhão de interesses; • o poder coordenador representa a autoridade legal superior; • a organização militar é o paradigma do comportamento administrativo. Lyndall Urwick • as ideias e os conceitos da Teoria da administração devem ser divulgados e, para tanto, compilados e sistematizados; • os elementos da organização (investigação, previsão, planejamento, organização, coordenação, comando e controle) são fundamentais para uma organização estável. Chester Barnard • a cooperação é essencial para o desenvolvimento da empresa; • os indivíduos cooperam para atingir os propósitos da organização (eficácia) da mesma forma que precisam satisfazer suas necessidades básicas (eficiências); • a autoridade deve ser tratada sob a perspectiva da aceitação de normas e ordens; • os executivos devem desenvolver a capacidade de planejamento social, com o objetivo de fortalecer e intensificar os esforços cooperativos; • as principais funções do executivo são: planejar, organizar, motivar e controlar. Herbert Simon • teoria decisória da gerência; • a organização é um sistema de decisão, com participação racional e consciente para escolha de alternativas; • a tomada de decisões gerenciais é fundamental na abordagem do comportamento administrativo; • a tarefa primordial do administrador é distribuir e influenciar a função decisória em uma organização. 1.3 Síntese da Unidade Vimos que o esforço conjunto é inerente ao homem, que dele depende para a sua sobrevivência. As relações trocadas entre pessoas, de maneira geral, são cooperativas e, portanto, interdependentes. • Vivemos juntos em organizações intencionais, voltadas para a concretização de fins determinados. Nelas, trocamos relações e resolvemos nossos problemas cotidianos. 1199 • Para viver nas sociedades organizacionais, dispomos racionalmente dos bens naturais e materiais e de tudo que necessitamos para viver. Daí a tendência natural do homem de organizar e administrar a disposição desses recursos. • O homem é capaz de projetar sua visão de realidade, sua utopia, para o futuro e para a concretização de grandes feitos. • A ação de organizar e administrar é fundamental e indispensável para a construção da humanidade. • A tendência natural à organização e administração resultou em um conjunto sistematizado de princípios que compõem a Teoria geral da administração. Essa teoria conta, entre outros, com as contribuições significativas de Frederick Winslow Talylor e Jules Henry Fayol. • A abordagem científica de Taylor centra-se na divisão do trabalho e da especialização, na supervisão funcional, na eficiência concretizada, por meio dos estudos de tempos e movimentos ou da melhor maneira de realizar uma tarefa. • O sistema de recompensa baseia-se na concepção do homo-economicus, como principal motivação no desenvolvimento do trabalho. • O empirismo cede lugar a padrões e metodologias para a execução do trabalho, dando origem à abordagem científica da administração. • Com Fayol, as funções administrativas são responsáveis pelo desempenho das demais operações essenciais de organização. • Com Ford, a simplificação das fases de trabalho e a consequente diminuição do tempo possibilitaram a produção em massa. • A função administrativa e gerencial existe em todos os níveis hierárquicos e se distribui proporcionalmente na estrutura organizacional conforme as habilidades requeridas. • A contribuição de Max Weber, com o modelo burocrático, está presente em grande parte das organizações sociais, notadamente na gestão escolar. 1.4 Para saber mais Filme TEMPOS modernos. Direção de Charles Chaplin. São Paulo: Continental distribuidora, 1936. DVD (87 min), son., preto e branco. Legendado. Port. O filme, por ser um clássico do cinema mundial, já foi indicado em outros momentos como atividade de estudos. Neste momento, a finalidade é rever a película sob a perspectiva analítica da racionalização do trabalho e dos seus princípios. 2200 Site <http://administradores.com.br> Site de pesquisa que dá informações sobre teorias e contribuições para o desenvolvimento do pensamento administrativo. Livros BATEMAN, T. S.; SNELL, S. A. Evolução da Administração. In: BATEMAN, T. S; SNELL, S. A. Administração: construindo a vantagem competitiva. Tradução Celso A. Rimoli. São Paulo: Atlas, 1988, p. 46-52. ROBBINS, S. P. Desenvolvimento do Pensamento Administrativo. In: ROBBINS, S. O Processo Administrativo: integrando teoria e prática. Tradução Wiktor Wajntal e Isabel Corduan Weippert. São Paulo: Atlas, 1978, p. 50-58. TREWATHA, R. L.; NEWPORT, G. Perspectivas da Administração. In: TREWATHA, R. L. Administração: funções e comportamentos. Tradução Auriphebo Berrance Simões. São Paulo: Saraiva, 1979. 1.5 Atividades 1- Justifique a afirmação: A tendência de administrar e organizar é inerente ao homem e, por meio dela, chegamos onde estamos hoje. 2- Identifique os conceitos-chave da Teoria da administração científica de Taylor e como eles se inter-relacionam. 3- Identifique os conceitos-chave da Gestão administrativa de Henry Fayol e como eles se inter-relacionam. 4. Identifique os conceitos-chave da Teoria da Burocracia e como eles se inter- relacionam. 5. Qual o objetivo principal buscado pelas teorias da Administração e da Burocracia? Justifique sua resposta. Coloque-se como gestor escolar e reflita sobre os aspectos indispensáveis para bem administrar: Planejar o quê? 2211 Organizar com o quê? Direcionar para quê? Contratar quem e quando? Elabore uma síntese da visão do grupo. Registre os dados que serão utilizados nos exercícios das unidades subsequentes. 2222 Organizações são sistemas sociais criados para atingir objetivos determinados. Vale-se de profissionais para concretizar sua intencionalidade. Unidade 2 Unidade 2 . Construindo o cenário contemporâneo da gestão escolar Milhões de pessoas já estão sintonizando suas vidas com o ritmo de amanhã. Outros, aterrados diante do futuro estão empenhados numa fuga inútil para o passado e tentam restaurar o mundo moribundo que lhes deu ser. A alvorada desta nova civilização é o fato mais expressivo das nossas vidas. (TOFFLER ,1980) Esta Unidade tratará da escola enquanto organização complexa e empresa humana e, decorrente dessa concepção, há de se reapropriar o papel e as funções do gestor escolar com vistas à aprendizagem e práticagerencial. Para tanto, serão privilegiados os aspectos referente às competências e habilidades necessárias para o exercício de uma gestão reflexiva e criativa. 2.1 A Escola enquanto organização complexa e empresa humana A administração científica tem até hoje influência nas organizações, inclusive nas escolares, pois os princípios formulados de prever, organizar, comandar, coordenar e controlar estão presentes como ideia principal na aplicação dos processos operacionais das escolas, com o objetivo de concretizar a eficiência e a eficácia. Da mesma forma, como organização social que é, a escola é administrada segundo critérios racionais e hierárquicos, configurando-se a presença do modelo burocrático. 2233 Enquanto organização, o objetivo da escola é oferecer serviços educacionais. É sempre bom salientar que embora a escola tenha ampliado as suas funções incorporando umas tantas outras, em decorrência da carência das famílias e da sociedade em geral, elas respondem, na sua gênese, por um aspecto especial que é a formação escolar ou escolarização. Assim, ela tem que organizar sua estrutura, dispor de seus processos e de sua cultura própria para, da melhor forma possível, realizar as finalidades expressas na Constituição Federal, as de maximizar o direito à educação com qualidade como uma meta de justiça social e distributiva. Para atingir seus objetivos, a escola, ao organizar o processo de ensino, recorre à sua dimensão propriamente administrativa, estabelecendo uma relação indissociável com a estrutura especificamente pedagógica. A estrutura e organização da escola, na sua dimensão administrativa, compreendem as funções de direção das condições objetivas de trabalho: coordenação de equipes e serviços (secretaria, limpeza, segurança, informática, etc.); gerenciamento dos recursos patrimonial, material, financeiro; desenvolvimento de parcerias e acordos de cooperação técnica e articulação do processo decisório. A dimensão pedagógica compreende o planejamento e a definição de objetivos; conteúdos; currículos e programas; projetos interdisciplinares; sistema de aproveitamento escolar, evasão e repetência; disciplina; relação professor-aluno e ensino-aprendizagem; metodologias e atuação na Hora do Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC). De outro lado, diferentemente das organizações em geral que produzem serviços determinados de caráter concreto, visando à produção de um bem tangível, a escola trabalha com pessoas. HTPC: momento de discussão e aprimoramento das atividades pedagógicas criado pelo Sistema Estadual de Ensino de São Paulo. 2244 A complexidade de seus objetivos ultrapassa os limites da relação ensino-aprendizagem ou da aquisição de conhecimentos. Ao trabalhar com o aluno, centra todos os seus esforços no ser em desenvolvimento, visando à realização pessoal. As escolas, por se constituírem em agrupamentos sociais com a intencionalidade de concretizar a finalidade de formar pessoas, necessitam da contribuição colaborativa dos que ali trabalham, bem como daquelas com as quais se relacionam. A natureza do trabalho escolar é, portanto, marcadamente interativa, permeada por relações formais e informais numa atmosfera cultural característica. É oportuno salientar o que colocam Libâneo et al (2005): [E] estas características determinam formas muito peculiares de conceber as práticas de organização e gestão escolares, ainda mais quando se considera que tais práticas se revestem de caráter genuinamente pedagógico (LIBÂNEO et al, 2005, p.315). Além disso, há de se considerar uma terceira dimensão na abordagem da escola enquanto organização, a comunitária, que envolve o relacionamento com o contexto geral, a liderança de bairros com os meios de comunicação, os alunos com suas agremiações e seus pais e as organizações civis, militares e eclesiásticas. A abertura do espaço escolar para a comunidade produz vínculos para o desenvolvimento de projetos comunitários e responsabilidade social, produzindo um envolvimento colaborativo de “trabalhar juntos” e “trabalhar com”, que dirige os novos paradigmas educacionais. Você já deve ter notado que estamos tecendo considerações que nos levam a afirmar: a escola é uma organização complexa. Para atingir o seu objetivo, ela deve ultrapassar a visão de uma organização racionalmente concebida com um sistema hierárquico delineado e uma gerência administrativa fundada nos princípios da administração científica e burocrática. Se pudesse ser só isso, seria bom; mas não é assim. Na sua análise, há necessidade de se incorporar outras imagens organizacionais para que se possa estabelecer uma leitura não fragmentada da realidade escolar e, assim, criar amplas possibilidades de compreensão e de intervenção. 2255 Como afirma Yamamoto (2005, p. 12), “a escola padece da mesma complexidade de abordagem e de interpretação que as organizações em geral”. O pesquisador britânico Morgan (1996) propõe uma visão crítica sobre os paradoxos das organizações complexas, utilizando-se de metáforas para descrever as diferentes imagens organizacionais. Ele afirma: [A] as perspectivas tomadas em conjunto são úteis para melhorar nossa habilidade compreensiva de ler “e interpretar” os diferentes aspectos que coexistem e se completam dentro da realidade organizacional, por mais paradoxal que esta possa parecer (MORGAN, 1996, p.13). E quais são essas perspectivas? A análise organizacional da escola, além da visão de máquina burocrática, deve incorporar o significado da cultura, pois ela representa a realidade compartilhada na qual se alicerça sua identidade própria. Aí também se alinham os padrões de interação, de divergência ou convergência de interesses, resultado da matriz política da mediação e da negociação permanente ou até da dominação no jogo sintônico da autoridade e do poder. Muitas vezes, aprisionadas no suposto sucesso, incapazes de ver a luz, elas se tornam, sem qualquer consciência, prisões psíquicas fechadas em si mesmas. Outras, porém, produzem trocas sugestivas com o contexto no qual estão inseridas, atuando como organismos vivos e processando as informações recebidas como cérebros para produzir o fluxo e a transformação indispensáveis às inovações educacionais. Por que o conhecimento dessas perspectivas é importante? Como grupo instituído, muitos aspectos da dinâmica escolar estão previa e legalmente definidos. No entanto, os novos paradigmas educacionais e a percepção sobre a complexibilidade do trabalho escolar permitem que a escola encontre com autonomia os seus espaços de manobras para a eficiência administrativa e pedagógica, valendo-se da criatividade e competência técnica e profissional e utilizando-se de abordagens mais amplas que lhe possibilitem uma análise adequada de suas necessidades. 2266 E não é só isso. Além dessa abordagem contextual, “a escola é a organização social mais humana (...) das organizações sociais humanas” (YAMAMOTO, 2005, p.18). As pessoas que fazem parte da organização escolar são participantes individuais que trazem para aquele ambiente suas características próprias, quais sejam: necessidades pessoais, preferências, emoções, desejos e aspirações etc. Esse conjunto de reações, sentimentos, percepção de si e dos outros irá influenciar de forma decisiva o desempenho dos papéis formais inerentes ao seu cargo ou a sua função, o mesmo acontecendo com os outros colegas a nossa volta. A dinâmica desse processo interativo confere-lhe uma feição própria, particular e identitária, caracterizando-a, sobretudo, como um grupo social ou uma organização social única. Essa afirmação acentua, sobretudo, a diferenciação de uma unidade escolar para outra, mostrando que cada grupo particular tem uma forma de convívio, cooperação e divisão do trabalho, identificando-se a uma culturaorganizacional que acentua a identidade escolar. Assim, reafirmamos que o ambiente humano é muito rico e, embora ele não possa ser planejado, não deve ser ignorado. Do que está posto até então, há de se salientar nas ações gestoras atenção à tríplice perspectiva: • natureza das tarefas: atividades preestabelecidas com interpretação pessoal e individual; • sentimentos envolvidos: atitudes, valores, perspectivas que trazemos para o nosso trabalho; • interações sociais: comportamento pessoal e em relação aos demais. Afora tais considerações, vivemos um momento em que a mudança de concepção da escola reconhece a necessidade imperiosa de pensá-la de forma diferente de tudo o que sistematicamente foi feito até hoje. 2277 Hargreaves prefere o termo sociedade de aprendizagem ao termo sociedade do conhecimento. Ele justifica a utilização do termo sociedade do conhecimento em função de sua ampla aceitação. A sociedade do conhecimento estimula a inventividade e maximiza a aprendizagem. 2.2 Pensando a mudança social e a gestão escolar Quando, na década de 1970, Toffler (1972) lançou no mundo acadêmico suas considerações sobre “o choque do futuro”, ele assim anunciou: [O] o choque do futuro é um fenômeno relacionado com o tempo, um produto do ritmo grandemente acelerado das transformações que ocorrem na sociedade. Advém da superposição de duas culturas: a nova e a velha. É o choque cultural no seio da nossa própria sociedade. Mas a verdade é que seu impacto é ainda pior (TOFFLER, 1972, p.11). Avançando em suas análises, Toffler (1972) questiona se a ruptura abrupta com o passado seria um exagero, afirmando que vivíamos na época mais do que uma segunda revolução industrial, estávamos no tempo da passagem da barbárie para a civilização. Para que essas considerações sejam bem esclarecidas, vamos acompanhar o pensamento de Toffler (1972): [A] apenas durante as últimas setenta gerações tem sido possível a comunicação efetiva de uma geração para outra – uma vez que a escrita possibilitou essa transposição. Apenas durante as últimas seis gerações as massas humanas viram pela primeira vez a palavra impressa. Somente durante as últimas quatro foi possível medir o tempo com alguma precisão. Apenas nas duas últimas pôde alguém usar o motor elétrico. E a esmagadora maioria de todos os bens materiais que usamos cotidianamente na nossa vida comum, desenvolveu-se dentro da presente geração, que é a 800ª (TOFFLER, 1972, p. 7). O que se configura nesse encadeamento de raciocínio é o ritmo, o fluxo, a aceleração da mudança e, consequentemente, a necessária transformação da vida e dos costumes. Sentimos como impermanentes os valores que sustentam a sociedade. Se a aceleração é uma nova força social, a transição é a sua contrapartida psicológica (TOFFLER, 1972). Isso quer dizer que a aceleração e a transitoriedade são forças sociais poderosas cada vez mais presentes na contemporaneidade. Ampliando essa noção, hoje temos como circunstância vital um novo movimento de globalização que caracteriza o cenário histórico político e cultural da chamada sociedade pós-industrial ou pós- 2288 modernidade (HARGREAVES, 2004), em decorrência da terceira revolução tecnológica, caracterizadamente informacional e de desenvolvimento científico jamais visto até então. Esse conjunto de fatos e circunstâncias enuncia a necessidade de gerenciar esse novo cenário da sociedade do conhecimento (HARGREAVES, 2004). Sobre a sociedade do conhecimento, Toledo (2010) coloca que tal conceito é que define a sociedade, na qual a inovação e as transformações na área da informação são inseparáveis do ambiente econômico e do cotidiano das pessoas. Dessa forma, é compreensível que as mudanças nas concepções de educação sejam afetadas, havendo necessidade de adaptar o sistema de ensino à sociedade do conhecimento, sendo requeridas, portanto, de professores, coordenadores e gestores novas habilidades técnicas, humanas e conceituais. As escolas e as novas formas de gestão devem levar em conta uma orientação aprendente (SENGE, 2005) ou comunidades de aprendizagem (HARGREAVES, 2004), voltadas para a cultura cooperativa, na qual o vínculo da interdependência é o cerne das relações. Para se ter isso na sociedade do conhecimento, há necessidade da flexibilidade, compromisso com a criatividade e com a inovação e transformação. Consoante Senge (2005), [E] está ficando claro que as escolas podem ser recriadas, revitalizadas e renovadas de forma sustentável, não por decreto ou ordem, nem por fiscalização mas pela adoção de orientação aprendente. Isso significa envolver todos do sistema em expressar suas aspirações, construir sua consciência e desenvolver suas capacidades juntas (SENGE, 2005, p.16). Agora cabe perguntar: Quais os pontos fundamentais a serem considerados nesse contexto de aceleração e transitoriedade? São sugestivas as contribuições de Morgan (1996), Luck (2001), Alonso (2003), Hargreaves (2004) quanto às características do modelo que cabe à gestão escolar na atualidade, o que nos leva a refletir que: 2299 Paradoxal: que encerra um paradoxo. Opinião contrária à comumente aceita. • para uma realidade dinâmica e instável em que “o agir na urgência e decidir na incerteza” (PERRENOUD, 2001), no cotidiano escolar, nada pode ser dado como permanente; • para uma realidade em que a escola, enquanto grupo social, intensifica sua feição interativa e identitária, nada pode ser dado como absolutamente determinado e controlável; • para uma realidade em que os conflitos e as tensões são entendidos como inerentes à natureza das organizações, não há como desviá-los e não enfrentá-los ou mesmo tratá-los como disfuncionais; • para uma realidade em que se entende a equipe como maior patrimônio e as parcerias como indispensáveis, não há lugar para a fragmentação do trabalho e incentivo às tarefas individualizadas; • para uma realidade em que a cultura organizacional estimula a participação conjunta e a sinergia, não há lugar para a supervalorização da objetividade e dissociação das ações escolares; • para uma realidade em que a sociedade do conhecimento exige a competência global, não há lugar para atitudes pouco arrojadas e não empreendedoras; • para uma realidade em que a descentralização e a flexibilidade são marcas da competência profissional, não há espaço para a rigidez hierárquica centralizada; • para uma realidade em que a educação continuada se faz permanente e atualizadora, não há lugar para mera procura da certificação; • para uma realidade em que a cultura organizacional está em permanente construção, não há espaço para cargos e funções rigidamente definidos; • para uma realidade informacional em que as organizações são sistemas de processamento de informações, exigindo gestores estratégicos, não há lugar para sistemas mecanicistas e rotinizados; • para uma realidade em que a sociedade do conhecimento se faz uma sociedade de maximização da aprendizagem explicitada em competência e profissionalismo, não há lugar para motivação por produtividade. Assim pensadas, estamos em direção ao movimento de transição paradigmática de um modelo estático para outro flexível, aprendente, criativo e transformista, característico de uma sociedade competitiva onde o mais preparado e criativo vencerá (ALONSO, 2003). O conhecimento nesse contexto ganha mais do que expressão, ganha a vinculação às comunidades colaborativas de 3300 aprendizagem. A educação e, consequentemente, a equipe escolar devem estar a serviço da criatividade e da inventividade. É, portanto, indispensável perguntar: Quais as funções e os papéis da gestão escolar na complexidade paradoxal das organizações escolares? 2.3 O papel e as funções do gestor escolar: a aprendizagem organizacional e a prática gerencialComecemos com a posição de Friedman (2009): [A] as culturas vivem em um dos três estados possíveis. O primeiro estado é a barbárie. Os bárbaros acreditam que os costumes de sua aldeia são as leis da natureza e que qualquer um que não viva com eles merece o tal desprezo, precisando ser redimido ou destruído. O terceiro estado é o da decadência. Os decadentes acreditam cinicamente que nada é melhor do que nada. Se há alguém que eles desprezam é quem acredita em alguma coisa. Não há nada porque vale a pena lutar. A civilização é o segundo estado e mais raro. Pessoas civilizadas são capazes de equilibrar dois pensamentos contraditórios em suas cabeças. Elas acreditam que existam verdade e que suas culturas aproximam essas verdades. Ao mesmo tempo, guardam na mente a possibilidade de que estejam erradas. Essa mistura de crença e ceticismo é inerentemente instável (FRIEDMAN, 2009, p. 44). Tal colocação reafirma a realidade paradoxal e dialética do nosso tempo e a preocupação da escola de hoje com a mediação e o equilíbrio entre duas contradições: • a conservação dos valores fundamentais da cultura, que, enquanto organização de ensino formadora, tem que preservar; • a flexibilidade que lhe permita, na relação com o aluno, pais, equipe escolar, comunidade e ambiente externo, incorporar a mudança necessária para que seja reconhecida como uma instituição de prestígio. Nesse sentido, Yamamoto e Romeu (1983) esclarecem: [C] com o mesmo sentido dualista podemos afirmar que não há estrutura social exclusivamente estática ou exclusivamente dinâmica. Coexistem na sociedade dois conjuntos de forças que agem no sentido da estabilidade e da conservação e no sentido da mudança, da transformação. O equilíbrio social é o resultado da interação desses 3311 dois conjuntos que, embora aparentemente contraditórios, interagem e se completam no autêntico processo dialético (YAMAMOTO; ROMEU, 1983, p. 102). Dentro de tais abordagens e em função de todas as outras anteriores, a prática gestora ou gerencial tem que se apropriar de um novo sentido de competência – a competência que se abre à flexibilidade, à incorporação de estratégias, à mediação de conflitos, à liderança situacional (não pessoal) estimuladora do trabalho conjunto, da participação e do desenvolvimento de equipes numa atmosfera de recriação constante do ambiente escolar e suas relações com a comunidade. As habilidades e as competências mediadoras do gestor garantem a concretização da eficiência, eficácia e efetividade dos níveis administrativos (técnico, organizacional e institucional). Cabe ao gestor mediar as transações entre esses níveis para concretização dos objetivos e das finalidades institucionais. Veja, a seguir, a representação simbólica da mediação das transações entre os níveis administrativo, gerencial e institucional: Por competência, queremos significar um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes pessoais que nos levam em direção a comportamentos situacionais desejados. A prática gerencial é um conjunto de ações que abrange as atividades e os papéis exercidos por gerentes; é vivenciado em um contexto social ligado ao saber prático ou ao entendimento prático (SILVA, 2009, p. 5). Dialético: compreensão das contradições da realidade em constante transformação. 3322 Habilidades técnicas (saber fazer) Habilidades humanas (saber ser) E quais seriam tais competências e habilidades indispensáveis ao desempenho de funções e papéis na prática gerencial gestora? A literatura acadêmica caracteriza generalizadamente três categorias de habilidades ou de competências, compreendendo as habilidades técnicas de fazer, as humanas de ser e as conceituais de pensar. Esclarecendo melhor essas afirmações: Diz respeito à experiência profissional aprimorada na continuidade do desempenho persistente no cargo ou na função. Exige sólido embasamento teórico conceitual e específico, treinamento profissional e informação continuada. Diz respeito à aptidão para trabalhar com pessoas e grupos. Requer habilidades para influenciar pessoas e concretizar esforços colaborativos numa atmosfera de conhecimento, Integridade e respeito às diversidades. Vale-se da motivação, da comunicação e da percepção do outro para estruturar vínculos, conexões e responsabilidades partilhadas. Figura 2.1 – Gestão escolar: mediação das transações entre os níveis administrativo, gerencial e institucional Fonte: KAST, E. E.; ROSENZWEIG, E. J. Organização e administração: um enfoque sistêmico. São Paulo: Pioneira, 1976. Nivel Institucional Efetividade Nivel Organizacional Eficácia Nivel Técnico Eficiência Ambiente Ambiente Ambiente Ambiente 3333 Habilidades conceituais (saber pensar) Diz respeito à habilidade de perceber, de ver e entender a organização de maneira holística, em que todas as funções são interativas e interdependentes. É a visão sistêmica da organização conectada com todas as variáveis: políticas, econômicas, tecnológicas, sociais relacionadas com o ambiente interno e externo. Para completar essas referências, detalhamos, segundo a nossa perspectiva, o conjunto de competências e habilidades alinhadas às funções e aos papéis da gestão escolar contemporânea. Habilidades/competências técnicas pedagógicas Funções Papéis Saber fixar... os objetivos e as metas do projeto pedagógico com a participação da equipe escolar. atuação em direção à concretização de objetivos e metas. Saber desenvolver... o projeto pedagógico, decidindo, com o coletivo, os meios de implementação. assunção de responsabilidades coletivas. Saber selecionar... o perfil profissional mais adequado para desempenho de tarefas específicas. manutenção do vínculo indispensável entre equipe e gestão escolar. Saber gerenciar o tempo... para planejar disponibilidades e cumprimento de prazos normais e apertados. racionalização dos cronogramas de trabalho. Saber fazer acontecer... as parcerias para ações de avaliação e controle participação é foco gerencial Saber acompanhar... as atividades conjuntas de avaliação do rendimento escolar. visão sistêmica e pluralista das situações ocorrentes nas relações ensino- aprendizagem. Saber diagnosticar... com a equipe escolar os bloqueios na relação ensino-aprendizagem. reavaliação das condições de aprendizagem, adequando-a às oportunidades e limitações Saber identificar... participativamente os fatores agravantes que agem no ambiente escolar. intervenção para restabelecimento da saúde institucional. Saber ajustar... Os objetivos às novas demandas emergentes Incorporação das demandas para as intervenções Saber incentivar... o uso de tecnologias emergentes. criação de possibilidades de manejo das Tecnologias da informação e comunicação (Tics). Saber estabelecer recompensas... aos integrantes da equipe individualmente e à equipe como um todo compreensão da importância do reconhecimento. Exercitar a atitude e se mostrar agradecido 3344 Habilidades/competências conceituais Funções Papéis Saber compreender... os fatores internos e externos que possam ter impacto na organização escolar. redução das colisões por meio de ações pró-ativas. Antecipação para a resolução de problemas conjuntos. Saber entender... a realidade global e sistêmica da escola. integração holística das abordagens administrativas. Saber formular... estratégias conjuntas para o gerenciamento da complexidade escolar (organização formal e informal). implementação de medidas de articulação: potencializar recursos e oportunidades e enfraquecer ameaças Saber definir... a missão estratégica da escola e sua visão do futuro. adequação dos objetivos e das metas à mudança e globalização econômica e cultural.
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