Buscar

Nutrição Infantil - Mariana Braga Neves

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 172 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 172 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 172 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Nutrição Infantil
 
Mariana Braga Neves
 
 1ª Edição
 
2012
 
 
EXPEDIENTE
Pesquisa de conteúdo
Gerusa Brandão de Carvalho
 
Produção Editorial e Revisão Final
Adelson Marques Canudo
 
Assistência Editorial
Nutricionista Adriana Peixoto
CRN9 – 9521
 
Capa e Produção Gráfica
Peter Pereira
 
Edição Ortográfica e Textual
Cleunice Duarte
 
Coordenação de Projeto para mídia
digital
Rafael da Silva Carrasco
 
Coordenação Geral
Adelson Marques Canudo
Luiz Eduardo Ferreira Fontes
 Todos os direitos reservados. Nenhuma partedeste livro eletrônico poderá ser reproduzida
total ou parcialmente sem autorização prévia
da A.S. Sistemas.
 
Nutrição Infantil
ISBN nº: 978-85-65880-06-0
Mariana Braga Neves
CRN9 - 2000100325
 
A.S. Sistemas
Rua Professor Carlos Schlo�feld,
casa 10 – Clélia Bernardes – Viçosa –
MG – CEP 36570-000
Tel: (31) 3892 7700
site: www.assistemas.com.br
 
 
http://www.assistemas.com.br/
APRESENTAÇÃO
O e-book Nutrição Infantil, foi elaborado com uma abordagem
objetiva, dividida em quatro módulos distintos para um melhor
entendimento de seu conteúdo.
No primeiro módulo, são discutidos assuntos sobre os cuidados
que se deve adotar na alimentação infantil, principalmente nos
primeiros meses de vida de uma criança, oferecendo aos
profissionais, orientações e recomendações para a melhoria do
estado nutricional das crianças. Já no segundo módulo, é realizada
uma abordagem sobre a maneira correta de aprender a se alimentar
bem, propondo ao profissional educador, medidas de intervenção
nutricional, aplicáveis as crianças. No terceiro módulo, o assunto
entra no ambiente escolar, mostrando a importância da merenda no
atual quadro que as redes de ensino enfrentam e o esclarecimento de
técnicas de promoção de hábitos saudáveis nesse ambiente. Por
último, faz-se um aparato das possibilidades de atuação do
profissional de nutrição na exploração dos serviços personalizados
de Personal Baby e Kids.
O Editor
Sumário Módulo 1
1 Aleitamento materno
exclusivo - alimentação até
os 6 meses de vida
2 Alimentação
complementar: como
introduzir os alimentos dos
seis meses aos dois anos
de idade
3 Alimentação do pré-
escolar
4 Alimentação do escolar e
a obesidade em crianças
entre sete a 10 anos
Módulo 2
5 Educação nutricional e reeducação alimentar
6 Educação alimentar em crianças
7 Planejamento de intervenção nutricional: passo a passo para
a criação de um serviço de educação nutricional
8 Criando recursos para a educação nutricional
Módulo 3
9 PNAE: Programa Nacional de Alimentação Escolar
10 Técnicas de promoção da alimentação saudável na escola
11 Capacitação e treinamento de cantineiros
12 Atuação do nutricionista nas merendas de escolas públicas e
privadas
Módulo 4
13 Estruturação do serviço de Personal Baby
14 Começando a trabalhar: proposta, cronograma e ação para
Personal Baby
15 Personal Kids: caracterização do serviço
16 Sistematizando o serviço de Personal Baby e Kids
17 Glossário
18 Apêndice 1
19 Apêndice 2
20 Apêndice 3
Módulo 1
Alimentação infantil
 
A infância é um período em que se desenvolve grande parte das
potencialidades humanas. É de extrema importância que a
alimentação durante a infância seja rica e balanceada, o que nem
sempre é uma tarefa fácil. Uma alimentação saudável garante um
desenvolvimento físico e intelectual correto, prevenindo distúrbios
nutricionais como a anemia, desnutrição e obesidade, além de
osteoporose, hipertensão e diabetes tipo 2 na idade adulta. O
conteúdo deste módulo é bem abrangente. Parte de uma compilação
das evidências científicas mais atualizadas sobre a alimentação
infantil. Inclui percepções práticas e tabus alimentares, além de
proporcionar aos profissionais orientações e recomendações para a
melhoria do estado nutricional das crianças.
1 Aleitamento materno exclusivo -
alimentação até os 6 meses de vida
Amamentar é muito mais do que nutrir a criança. O aleitamento
materno é a mais sábia estratégia natural de vínculo, afeto, proteção
e nutrição para a criança, e constitui a mais sensível, econômica e
eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil.
Ao longo da leitura deste e-book vamos entender o porquê.
Preparado?
O leite materno é um alimento completo porque possui todos os
nutrientes de que o bebê necessita para crescer forte e saudável
durante os seis primeiros meses de vida. É adequado às
necessidades nutricionais e atende as particularidades fisiológicas do
recém-nascido durante o período mais crítico do seu
desenvolvimento, garantindo que o bebê tenha um crescimento e
desenvolvimento adequado até que ele seja capaz de ingerir
alimentos sólidos.
Para entender melhor sobre os benefícios do aleitamento
materno, é imprescindível conhecermos a composição do leite
humano.
Evolução da produção láctea
Considerando as alterações na composição ao longo da lactação,
o leite recebe 3 denominações diferentes (Tabela 1):
•
Colostro é a secreção láctica inicial (1 - 7 dias
após o parto);
•
Leite de transição < 3 semanas;
• Leite maduro > 3 semanas.
Tipo de leite Proteína
(g/dL)
Gordura
(g/dL)
Lactase
(g/dL)
Oligossacarídeos
(g/dL)
Colostro 3,1 2,1 4,1 2,4
Leite de
transição
0,9 3,9 5,4
-
Leite maduro 0,8 4,0 6,8 1,3
Tabela 1 – Denominações do leite
Colostro
É o leite acumulado nas células alveolares nos últimos meses de
gestação e secretado nos primeiros dias após o parto. Ele contém
mais proteínas, vitamina A e minerais, principalmente eletrólitos e
zinco, e menos carboidrato e gordura que o leite maduro.
Sua coloração amarela se deve ao fato de possuir alta
concentração de carotenoides (10 vezes mais que o leite maduro). É
laxativo e auxilia na eliminação do mecônio.
Além de suprir as necessidades nutricionais, e proteger o
recém-nascido, estimula o desenvolvimento do sistema imune,
modula a maturação e a função do trato gastrointestinal e contribui
para o crescimento da microbiota benéfica.
Nota importante Durante os primeiros 15 dias o bebê mama
pouco e em intervalos irregulares e curtos, pois ele está se
adaptando ao processo de amamentação. Sua capacidade
gástrica é pequena e vai aumentando à medida que o tempo
passa. Por este motivo, é essencial que o nutricionista oriente a
mãe que não se deve, nos primeiros dias, estabelecer que a
criança somente poderá mamar de 3 em 3 horas. Com o passar
do tempo, a criança estabelecerá o seu próprio ritmo e os
horários irão ficando cada vez mais regulares.
Leite de transição Do 7° ao 14° dia pós-parto, a composição do
leite materno continua mudando, porém de forma mais lenta, e
recebe a denominação de leite de transição. O teor de proteínas e
minerais vai diminuindo e o de lactose e gordura é ligeiramente
aumentado até atingir as características mais próximas do leite
maduro.
Leite maduro A partir do 21° dia, a composição do leite
humano é mais estável. Possui mais de 150 substâncias diferentes.
Torna-se de um valioso alimento do qual detalharemos no decorrer
da leitura. Sua composição varia entre as mães, numa mesma mãe,
entre as mamadas, em mamadas diferentes e no decurso da
mamada. Por isso tão importante a recomendação da livre
demanda.
Composição nutricional do leite humano
Veja a seguir, o que o leite humano possui em sua composição
nutricional.
Proteínas
•
Teor de proteínas: 0,8g/100mL no leite maduro;
•
Divididas em dois grupos: caseína (40%) e
proteínas do soro (60%);
•
A lactoferrina humana aumenta a
biodisponibilidade de ferro, enquanto a
lactoferrina bovina diminui a
biodisponibilidade do ferro;
•
Ausência de β-lactoglobulina (possui um alto
poder alergênico).
Além disso, o leite humano apresenta:
• Menor teor de fenilalanina e tirosina Benefício:
Recém-nascido tem deficiência das enzimas
tirosina aminotranferase e a α-
hidroxifenilpiruvato oxidase;
•
Menor teor de metionina e maior de cisteína
Benefício: recém-nascido tem baixo nível de
cistationase (transulfuração de metionina em
cisteína);
•
Elevado teor de taurina Benefício: importância
na conjugação de sais biliares e atua como
neurotransmissor.Enzimas Veja a seguir, a tabela com as enzimas e suas funções
(Tabela 2):
Enzimas Funções
Lisozima, Peroxidase, Lipases
(LPL, BSSL)
Proteção
Amilase, lípase (BSSL) Digestão
Sulfidrila oxidase Reparo
Glutationa peroxidase (Se),
fosfatase alcalina (Zn, Mg),
xantina Oxidase (Fe, Mo)
Transporte de metais
Fosfoglicomutase,
galactosiltransferase, lactose
sintetase, sintetase de ácidos
graxos
Biossíntese de componentes do
leite materno
Tabela 2 – Enzimas e suas funções Lipídeos
•
Triglicerídeos (predominante), fosfolipídios,
colesterol, diglicerídeos, glicolipídeos,
monoglicerídeos, ácidos graxos;
•
Fornecem cerca de 50% das necessidades
energéticas do recém-nascido;
•
Sua utilização é favorecida pela lípase do leite
humano;
•
Ácidos graxos poli-insaturados (AC. Linoleico);
•
Mielinização do SNC;
•
Ácidos graxos de cadeia curta: ação bacteriana.
Vitaminas
•
Teores variáveis: vitamina A e complexo B;
•
Vitamina D: questiona-se a necessidade de
suplementação (Exposição a luz solar);
•
Leite humano tem maiores teores de vitaminas
> A, D, E, C;
• Leite de vaca tem maiores teores de vitaminas
do complexo B e vitamina K.
Minerais
•
Conteúdo mineral do leite humano é menor
que o observado no leite de vaca. (Benefício de
menor sobrecarga renal);
•
Relação Ca/P no leite materno: 2:1 (favorece a
utilização de cálcio);
•
Ferro está em menor concentração no leite
humano, porém tem maior absorção;
•
Leite Humano: 50% de absorção de ferro;
•
Leite de Vaca: 8% a 10% de absorção do ferro.
Agentes anti-infecciosos
•
Células de defesa (leucócitos, linfócitos) e
Imunoglobulinas;
•
Fator Bífido: favorece crescimento de
lactobacilos bifidus (diminui crescimento de
bactérias patogênicas);
• Lactoferrina: inibe crescimento de bactérias
patogênicas;
•
Lisozima: destrói bactérias.
Fatores de crescimento
•
Fator de crescimento epidérmico (EGP);
•
Fator de crescimento neural (FCN);
•
Outros: insulina, tiroxina.
Diante de tantas vantagens, o nutricionista deve formular seus
argumentos para mostrar às mães que o leite materno é essencial ao
bebê.
Fatores que interferem na lactação
1. Intensidade do estímulo: dado pela frequência das
sucções;
2. Fator emocional da mãe: interfere no reflexo da
ocitocina;
3. Fármacos: aumentam ou diminuem a produção e/ou
liberação do leite;
4. Anticoncepcionais: diminuem a produção e alteram a
composição do leite;
p ç
5. Fumo: inibe prolactina e ocitocina;
6. Álcool: em altas doses inibe a ocitocina;
7. Desnutrição materna: diminuem o teor de gordura,
vitaminas A e do complexo B do leite.
O nutricionista deve orientar à mãe sobre os cuidados
necessários com a alimentação pós-parto já que muitas, na busca
pela boa forma fazem restrições calóricas que impedem o adequado
rendimento da amamentação. O nutricionista deve também orientar
com relação à demanda de água da mãe que está aumentada e deve
ser respeitada para o rendimento da lactação e para a prevenção da
constipação comum nas lactantes.
Mães que têm restrições alimentares como as vegetarianas
precisam de cuidados especiais, por exemplo, com a vitamina B12
durante a amamentação. Assim, não é possível realizar uma
adequada orientação para a amamentação sem implementarmos o
cuidado nutricional para a lactante.
Vantagens do leite materno para o bebê Possui anticorpos,
leucócitos e outros fatores anti-infecciosos, que protegem contra a
maioria das bactérias e vírus. Portanto, crianças que mamam no
peito têm menor diarreia, de pneumonia do que os bebês
alimentados com leite de vaca ou artificiais.
É de fácil digestibilidade, sendo, portanto facilmente absorvido
pelo bebê em quantidades adequadas de sais, cálcio e fósforo.
Composição adequada às necessidades do bebê.
Melhor desenvolvimento psicomotor, emocional e social.
Tem água em quantidade suficiente; mesmo em clima quente e
seco o bebê que apenas mama no seio não precisa de água.
Contém proteína e gordura mais adequadas para a criança.
Vitaminas em quantidades suficientes. Não há necessidade de
suplementos vitamínicos na maior parte das vezes.
Possui um tipo de ferro que é bem absorvido no intestino da
criança.
Crianças que tomam mamadeira têm maior risco de obesidade
na vida adulta.
Nos bebês, o ato de sugar o seio é importante para o
desenvolvimento da mandíbula, dentição e músculos da face,
contribuindo também para outros benefícios, como o bom
desenvolvimento da fala.
Nota importante
Estudos mostram que a introdução futura dos alimentos com
maior potencial de causar alergias, como os peixes, é mais segura
se a criança estiver ainda recebendo o leite materno.
Vantagens da amamentação para a mulher
•
Fortalece a relação entre mãe e bebê;
•
Melhor e mais rápida involução uterina
(diminui a hemorragia pós-parto);
•
Gasto das reservas feitas na gravidez: retorno
ao peso anterior mais rápido;
•
Menor risco de câncer de mama e ovário;
•
Menor incidência de depressão pós-parto;
•
O leite materno é prático: pronto a qualquer
hora, temperatura ideal, sem risco de
contaminação, além disso, é gratuito;
•
O leite humano é completo (não existe leite
fraco).
Vantagens da amamentação para a família
•
Melhor saúde e nutrição, mais bem-estar;
•
Vantagem econômica: o aleitamento materno
custa menos do que a alimentação artificial; e,
além disso, resulta em menos gastos com
cuidados médicos.
Tipos de aleitamento materno
É muito importante conhecer e utilizar as definições de
aleitamento materno adotadas pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) e reconhecidas no mundo inteiro (World Health
Organization, 2007). Assim, o aleitamento materno costuma ser
classificado em:
•
Aleitamento materno exclusivo – quando a
criança recebe somente leite materno, direto da
mama ou ordenhado, ou leite humano de outra
fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com
exceção de gotas ou xaropes contendo
vitaminas, sais de reidratação oral,
suplementos minerais ou medicamentos;
•
Aleitamento materno predominante – quando a
criança recebe, além do leite materno, água ou
bebidas à base de água (água adocicada, chás,
infusões), sucos de frutas e fluidos rituais;
•
Aleitamento materno – quando a criança recebe
leite materno (direto da mama ou ordenhado),
independentemente de receber ou não outros
alimentos;
•
Aleitamento materno complementado –
quando a criança recebe, além do leite materno,
qualquer alimento sólido ou semissólido com a
finalidade de complementá-lo, e não de
substituí-lo. Nessa categoria a criança pode
receber, além do leite materno, outro tipo de
leite, mas este não é considerado alimento
complementar;
•
Aleitamento materno misto ou parcial –
quando a criança recebe leite materno e outros
tipos de leite.
Nota importante Uma Alimentação infantil adequada
compreende a prática do aleitamento, e a introdução, em tempo
oportuno, de alimentos apropriados que complementam o
aleitamento materno.
Dez passos para obter sucesso na Amamentação (Ministério da
Saúde, 1996):
•
Acreditar que não existe leite fraco;
•
Saber que quanto mais o bebê mama, mais leite
é produzido;
•
Colocar o bebe na posição correta para mamar;
•
Cuidar adequadamente das mamas;
•
Retirar o leite quando for necessário
(ordenhas);
•
Nunca usar bicos, chupetas, chuquinhas e
mamadeiras;
•
Tomar muito líquido, alimentar-se o descansar
sempre que possível;
•
Só tomar medicamento com ordem médica;
Continuar a amamentação, se possível, até dois
• anos de idade;
•
Conhecer os direitos da mãe trabalhadora.
Aleitamento artificial
Em algumas situações há impossibilidade de se proporcionar
aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida por
motivos inerentes a saúde da mãe ou da criança, por isso, torna-se
necessário substituir o leite materno.
Amamentação em situações especiais: Problemas relacionados à
mãe
•
Doenças e medicamentos: HIV+, hanseníase
contagiante e tuberculose (no caso da
tuberculose a mãe deve usar mascara para
amamentar e diminuir o contato físico com o
filho);
•
Distúrbios emocionais: por exemplo, depressão
pós-parto;
•
Hipogalactia: insuficiênciada secreção láctea
que, em alguns casos raros pode chegar a ser
total (agalactia);
•
Ingurgitamento: estase láctea por esvaziamento
insuficiente da mama;
• Traumas mamilares: fissuras, escoriação,
erosão, dilaceração;
•
Mastite: Processo inflamatório agudo da mama,
de origem infecciosa, geralmente entre o 3° e a
6° semana de puerpério;
•
Abcesso mamário: complicação de uma
mastite. Tratamento é feito através de
drenagem cirúrgica.
Problemas relacionados ao bebê
•
Erros inatos do metabolismo: doença do xarope
de bordô (suspender a amamentação);
•
Icterícia causada pelo leite materno: Se a
bilirrubina 25mg/dL depois de 14 dias-alternar
aleitamento materno e formula por 24 horas ou
interromper a amamentação por 24 horas.
Retornar a amamentação e avaliar.
O aconselhamento nutricional para bebês alimentados ao seio
deve ser amplo e envolver posição de alimentação, orientações sobre
frequência e alimentação da mãe.
Cólicas do bebê x alimentação da mãe As cólicas são comuns
em bebês desde o nascimento, principalmente depois dos 15 dias,
seguindo até os três ou quatro meses de vida. Raramente acontece
em bebês com mais de seis meses de idade.
A cólica do bebê pode acontecer por vários motivos. Um deles é
a imaturidade do sistema digestivo. Essa imaturidade faz com que as
paredes intestinais se contraiam e relaxem sem controle e isso pode
resultar em gases e levar à cólica. Outro motivo seria que agora o
intestino está recebendo alimento e a digestão acelera seu
funcionamento, provocando as cólicas. O movimento do intestino
também precisa de um tempo para amadurecer e se coordenar.
Outra causa muito comum é a técnica incorreta de amamentação.
Uma das melhores posições para que o bebê não engula ar durante a
amamentação é aquela em que o bebê fica com a cabecinha apoiada
na volta de dentro do cotovelo da mamãe, barriga encostada com a
barriga da mamãe e de boca bem aberta abocanhando a maior parte
da aréola do seio da mamãe.
Não é cientificamente provado que a alimentação da mamãe
pode dar cólica no bebê que amamenta. Porém há muitas
observações importantes sobre o assunto que devem ser levadas em
consideração. Por isso a recomendação é que a mãe que ainda esteja
amamentando, evite até os três meses de idade, alimentos como
chocolate, melão, pimentão, couve-flor, brócolis, couve-de-bruxelas,
pepino, pimentão, cebola, favas e leguminosas. Outros alimentos na
dieta da lactante que podem contribuir para a ocorrência de cólica
incluem leite de vaca, frutas silvestres, cafeína e alimentos
condimentados. O nutricionista pode orientar a mãe a fazer a dieta
isenta destes alimentos e observa o impacto sobre as cólicas. Porém,
é fundamental que o nutricionista readapte a alimentação da mãe
para não ficar carente de nutrientes.
Nota importante Nada de chá. O chá pode provocar ainda mais
cólica já que o intestino do bebê ainda está imaturo. Só use
remédios com prescrição médica.
O leite de vaca
O leite de vaca apresenta inadequações nutricionais, sendo
contraindicado do 0 a 6 meses de vida. Além disso, alguns
problemas têm sido associados ao consumo de leite de vaca no
primeiro ano de vida, como: Risco aumentado de alergia: o trato
gastrointestinal do recém-nascido é bastante imaturo. A
permeabilidade intestinal contribui para a alergia à proteína do leite
de vaca, uma condição que afeta 0,4% a 7,5% das crianças. Tudo
indica que os principais alérgenos em potencial sejam a
betalactoalbumina, ausente no leite humano, a caseína, a
alfalactoalbumina e a albumina sérica bovina. Além disso a
exposição precoce da criança ao leite de vaca aumenta o risco não
somente de reações adversas a este leite, como também de alergia a
outros alimentos.
Sobrecarga renal: estudos demonstraram que lactentes que
recebem o leite de vaca podem apresentar hipernatremia, devido ao
aumento da carga metabólica imposta pela elevada concentração de
solutos (sódio, potássio, cloro e proteína) sobre a função renal ainda
imatura. O consumo de sódio com a ingestão de leite de vaca, pode
chegar a mais de 500mg/dia, ultrapassando, muitas vezes, a ingestão
recomendada que é de 120mg/dia, para crianças de zero a seis
meses, e de 200mg/dia para crianças de seis a doze meses. Em estado
febril ou patologia renal, a vulnerabilidade à desidratação é muito
maior.
Aminoacidemia: a capacidade de metabolização de tirosina,
fenilalanina e metionina é muito limitada e as concentrações desses
aminoácidos no leite de vaca são três a quatro vezes mais altas do
que no leite materno, tornando aumentado o risco de
aminoacidemia, o que por sua vez pode comprometer o sistema
nervoso central, principalmente em prematuros.
Deficiências de ácidos graxos essenciais: o leite de vaca
apresenta baixo teor de ácido graxo linoleico, nutriente que não pode
ser sintetizado pelo organismo e que é importante para a
manutenção das estruturas celulares e para as funções normais dos
tecidos. As manifestações de deficiência do ácido linoleico incluem
retardo no crescimento, lesões na pele, aumento na fragilidade e
permeabilidade das membranas, além de comprometimento
neurológico, dentre outras (Uauy et al., 1992).
Outras deficiências: existe ainda o risco de deficiência de cobre,
zinco e vitaminas C, E, A, ácido fólico e niacina.
Infecções gastrointestinais: o leite de vaca está relacionado a
alguns problemas devido à inadequação de sua composição em
relação às necessidades nutricionais e à tolerância digestiva,
metabólica e excretora da criança. A prevalência de anemia por
deficiência de ferro é mais elevada entre crianças alimentadas com
leite de vaca, além do baixo teor, o ferro não é bem absorvido pelo
organismo do lactente, devido ao conteúdo elevado de proteína,
cálcio e fósforo e baixos níveis de vitamina C, fatores que
comprometem sua biodisponibilidade e também a do ferro de outros
alimentos consumidos simultaneamente. Outro agravante que
contribui para aumentar o risco de deficiência de ferro e anemia no
primeiro ano de vida é o fato de que o consumo de leite de vaca está
associado a perdas de sangue oculto pelas fezes.
O nutricionista não pode desconsiderar o fato de que algumas
mães não têm condições de amamentar pelos motivos citados e
infelizmente não conseguem recursos financeiros para assumir os
altos custos das fórmulas infantis. Para estas mães o leite de vaca
surge como opção desde que com cuidados para o preparo de forma
a evitar os piores problemas (Tabela 3).
 0 a 30 dias 1 a 4 meses 5 meses emdiante
Leite de
vaca diluído
Leite ao ½ ou diluição 1:1
3% de Açúcar 5% de
Farinha (féculas, milho,
arroz)
Leite a 2/3 ou
diluição 2:1
3% de açúcar 5%
de Farinha
Leite integral.
Não é necessário
adição de CHO
Leite de
vaca em pó
Reconstituição 6,5%
3% de Açúcar 5% de
Farinha
Reconstituição
8,5%
3% de Açúcar
5% de Farinha
Reconstituição
13%.
Não é necessário
adição de CHO.
Tabela 3 – Formas de preparo com o leite de vaca Fonte: Accioly, Saunders e Lacerda,
2009
Fórmulas lácteas industrializadas As fórmulas infantis
industrializadas são leites modificados com o objetivo de atender
às necessidades nutricionais específicas da criança no primeiro ano
de vida, visando diminuir o impacto sobre a saúde das crianças
privadas do leite materno.
No entanto, por não ser um alimento sob medida para o bebê,
como é o caso do leite materno, a fórmula infantil deixa de
apresentar vários de seus benefícios, dentre eles as propriedades
imunológicas. Tendo por base a composição do leite materno, a
Organização Mundial da Saúde estabeleceu dois padrões de
fórmulas para o primeiro ano de vida: as fórmulas destinadas às
crianças com até 6 meses de vida e as fórmulas destinadas às
crianças com idade entre 7 e 12 meses.
Principais modificações feitas nas fórmulas infantis
Alteração no padrão de gordura, pois o leite de vaca, matéria-
prima das fórmulas infantis, é rico em gordura do tipo saturada.
Nessas fórmulas, a gordura é parcialmente substituída pela poli-
insaturada de origem vegetal, mais adequada para o
desenvolvimento da criança.
Alteração do teor eda qualidade das proteínas. Isso porque o
leite de vaca contém uma maior concentração de proteínas, mas são
mais difíceis de ser digeridas por bebês. As fórmulas infantis
reduzem o teor de proteína e modificam sua estrutura para melhorar
a digestão. Com essa providência se reduz o risco de aparecimento
de alergia à proteína do leite de vaca.
As fórmulas infantis recebem uma quantidade extra de soro
para tornar sua composição mais adequada às condições fisiológicas
do bebê.
Redução da concentração de minerais porque o leite de vaca é
mais rico em minerais, que são parcialmente extraídos para não
sobrecarregar os rins do bebê.
O leite de vaca recebe a adição de nutrientes como taurina, ferro,
vitaminas, carboidratos (sacarose, dextrino-maltose e amido), que o
torna mais adequado ao bebê. Existem no mercado, ainda, fórmulas
à base de soja, fórmulas sem lactose e fórmulas hidrolisadas que
podem ser prescritas por um pediatra ou nutricionista em casos,
como intolerância à lactose e para bebês que, ao usarem fórmulas
infantis à base de leite de vaca, passam a ter cólicas intestinais.
Fórmulas existentes no mercado:
•
A base de soja - indicadas para crianças com
alergia ao leite de vaca;
•
Isentas de lactose - são indicadas para bebês
que possuem intolerância a lactose. Elas contêm
a sacarose e xarope de milho, em vez da lactose,
que são mais facilmente digeridos e absorvidos
pelo bebê;
•
Hidrolisadas - indicadas para diarreia crônica,
alergia alimentar, má absorção.
Para calcular a necessidade energética do lactente, deve-se
primeiramente escolher a fórmula. A capacidade gástrica da criança
também deve ser levada em consideração. Depois, deve-se calcular o
valor energético da “mamadeira”. Por último vamos dividir a
necessidade energética total pelo valor energético da mamadeira
para obter o número de mamadeiras/dia. Na tabela a seguir, observe
que ela já oferece o volume médio de mamadeiras por faixa etária
(Tabela 5).
Idade Volume Número de
mamadeiras
1° semana 30 – 90 6 – 8
2° semana a 30 dias 60 – 120 6 -7
2 meses 140 – 150 6
3 meses 160 – 170 4 – 5
4 meses 170 – 180 4
5 - 6 meses 180 – 190 4
7 - 12 meses 180 – 200 3 – 4
Tabela 5 – Quantidade de mamadeiras por faixa etária Cuidados que devem ser
repassados para mãe na utilização de fórmulas
•
Consumir a fórmula dentro do prazo de
validade escrita na lata;
•
Preparar a fórmula exatamente como o médico
ou nutricionista indicar. Se preparada fraca ou
diluída demais, a fórmula pode prejudicar o
crescimento ou levar a deficiências nutricionais
na criança. No caso de dose maior que a
prescrita, pode haver desidratação e problemas
renais;
•
Lavar bem as mãos antes de preparar as
mamadeiras e alimentar o bebê;
•
Esterilizar as mamadeiras antes de colocar a
fórmula;
•
Jogar fora o leite que sobrar na mamadeira.
Germes e bactérias da saliva do bebê
conseguem sobreviver e se reproduzir no
líquido;
•
Não refrigerar a fórmula pronta, mesmo que
não a tenha utilizado;
• Não aquecer a mamadeira no micro-ondas,
porque a temperatura do líquido não será a
mesma em todo o conteúdo e poderá queimar a
boca do bebê. Se quiser amornar a água que foi
fervida e ficou fria, aqueça-a em um recipiente
separado e depois transfira para a mamadeira,
de preferência de vidro, sempre checando antes
a temperatura no dorso da sua mão;
•
Não engrossar a fórmula com cereal, exceto sob
recomendação do pediatra.
O aconselhamento dietético do bebê com refluxo
gastroesofágico A maioria dos bebês apresenta refluxo
gastroesofágico por causa da imaturidade do esfíncter esofagiano.
É chamado de refluxo fisiológico, isto é, que faz parte do
desenvolvimento infantil.
O refluxo gastroesofágico é considerado patológico quando os
episódios de vômitos e regurgitações não melhoram depois dos seis
meses de vida mesmo com alterações na postura e dieta. Nessa fase,
a criança não ganha peso ou o perde e para de crescer e produz uma
esofagite (inflamação do esôfago).
Fracionar a alimentação para que o estômago não distenda e o
refluxo seja evitado é um cuidado. A quantidade de alimento deve
ser menor por vez e dada em mais vezes ao dia. Alguns alimentos
devem ser evitados como alimentos gordurosos, frituras, menta,
chocolate, alimentos ácidos, café, refrigerante, iogurte e sucos de
frutas com alto teor de sorbitol (açúcar natural presente em algumas
frutas como ameixas secas, pera e maçã).
Outra dica é a elevação da cabeceira do berço ou da cama da
criança. A ação da gravidade ajuda o esvaziamento gástrico, assim
como a posição de lado em cima do braço direito.
Tratamentos adicionais para o refluxo em crianças maiores do
que 1 ano e meio Veja a seguir, algumas dicas:
•
Ensine a criança a dar pequenas mordidas e
mastigar bem a comida. O alimento mastigado
em pequenas partículas é digerido e sai do
estômago mais rapidamente;
•
Pequenos e frequentes lanches são mais fáceis
de digerir;
•
O jantar deve ser servido cedo e é melhor que
sejam alimentos de fácil digestão;
•
Vitaminas de frutas e legumes batidos no
liquidificador são suficientemente líquidos para
serem digeridos rapidamente e, portanto, serão
mais difíceis de causar refluxo;
•
Não ofereça refrigerante junto com as refeições.
Quando o estômago se contrai para digerir a
comida, ele agita os fluidos (e os ácidos
estomacais) e os empurra de volta para o
esôfago;
•
Mantenha a criança no peso ideal: a obesidade
agrava o refluxo;
•
Pouca gordura e comidas pastosas passam pelo
estômago mais rapidamente.
Não existe uma regra de aconselhamento sobre a frequência de
mamadas no seio e o uso concomitante de fórmulas lácteas. Isso
acontece pela dificuldade de estimar a quantidade de leite materno
em cada mamada. Nosso conselho então, é que o bebê mame em
regime de livre demanda no seio e que a mamãe ofereça o número
de mamadeiras de acordo com a capacidade gástrica do bebê (que
varia de idade para idade), como já mencionado anteriormente, para
garantirmos as necessidades nutricionais da criança.
Observe a tabela a seguir (Tabela 6):
Idade Volume Número de
mamadeiras
1° semana 30 – 90 6 – 8*
2° semana a 30 dias 60 – 120 6 -7*
2 meses 140 – 150 6*
3 meses 160 – 170 4 – 5*
4 meses 170 – 180 4*
5 - 6 meses 180 – 190 4*
7 - 12 meses 180 – 200
3 – 4*
Tabela 6 – Número de mamadeiras por faixa etária *Mais a oferta do leite materno
em livre demanda
 
2 Alimentação complementar:
como introduzir os alimentos dos
seis meses aos dois anos de idade
A OMS (1998) recomenda a expressão “alimentação
complementar”, para definir o processo que se inicia quando apenas
o leite materno não é suficiente para suprir as necessidades da
criança e alimentos complementares ou de transição são necessários.
Esta é uma fase considerada crítica, tendo em vista a demanda
nutricional elevada, a imaturidade relativa do organismo, a maior
exposição ao risco de contaminação e a extrema dependência de um
cuidador capaz de perceber e atender adequadamente as
necessidades da criança.
Os nutricionistas precisam estar aptos a orientar a mãe sobre
quando e como introduzir cada tipo de alimento. Estudos mostram
que as introduções de alimentos impróprios para a idade podem
gerar alergias e intolerâncias alimentares.
Idade ideal para introdução da alimentação
complementar
A introdução precoce de outros alimentos quase sempre resulta
em diminuição na frequência da sucção e, consequentemente, na
redução da produção e ingestão do leite materno.
A introdução precoce da alimentação complementar também
pode estar associada a um risco maior de reações alérgicas a
proteínas estranhas, principalmente em crianças geneticamente
predispostas. Diversas proteínas (leite de vaca, soja, trigo, ovo, peixe,
amendoim, dentre outras) já foram relacionadas à reação adversa.
Outro aspecto negativo da introdução precoce é o aumento da carga
de solutos, que pode sobrecarregar os rins ainda imaturos.
A introdução tardia da alimentação complementar também não
é desejável, podendo levar a deficiências nutricionais com
consequente desaceleração do crescimento ediminuição da
resistência imunológica. Por exemplo: Por volta do 4° ao 6° mês as
reservas hepáticas de ferro no bebe vão diminuindo. E como o leite
materno é pobre em ferro (apesar da excelente biodisponibilidade), o
risco de uma anemia aumenta aí. Muitos pediatras inclusive fazem a
prescrição do ferro profilático por este motivo, assim como de
vitaminas A e D. Esta última pode ser desnecessária principalmente
em locais de climas tropicais, nos quais há a opção de indicar o
banho de sol regular, pela manhã por 10 minutos.
Por volta do sexto mês é observado na criança aumento da
cavidade oral, crescimento da mandíbula, absorção das bolsas de
gordura, início da dentição decídua e dissociação da língua,
mandíbula e lábios, o que indica que a criança atingiu um nível de
desenvolvimento compatível com a alimentação semissólida. Essa
prontidão é comprovada pela abertura da boca e retração da língua
quando a colher se aproxima com o alimento. Também se observam
movimentos firmes do lábio superior para baixo, no sentido de
limpar a colher; além do início da mastigação. Por essas e outras
razões, estabeleceu-se um consenso de que a idade ideal para início
da alimentação complementar é a partir do sexto mês. Após o 6° mês
de vida é inegável a necessidade do fornecimento adicional de
energia e nutrientes. Principalmente no que diz respeito a
micronutrientes.
Vale lembrar que o nutricionista deve estar aberto à troca de
informações com outros profissionais de saúde, especialmente
médicos. Muitas vezes o pediatra indica a introdução dos alimentos
antes deste período e é fundamental que o nutricionista utilize
argumentos para defender a sua postura, mas que também esteja
aberto a analisar os motivos das outras condutas de diversos
profissionais.
Em alguns países sugere-se a introdução dos alimentos a partir
do quarto mês. Neste e-book, seguiremos as diretrizes da Sociedade
Brasileira de Pediatria e do Ministério da Saúde.
Nota importante Nutricionista, esteja bem informado! Busque
informações adicionais e tenha a sua própria opinião sobre
p p p
estes e outros assuntos!
Introdução da alimentação complementar a
partir dos quatro meses de idade pode evitar
alergias
Contrariando as orientações da Organização Mundial da Saúde,
pesquisadores agora questionam se a amamentação deve ser
exclusiva até os seis meses de idade do bebê. Eles afirmam que, a
introdução de alimentos sólidos a partir do 4° mês, em conjunto com
a amamentação, traz benefícios, como: menor risco de a criança
desenvolver alergias e doença celíaca (intolerância ao glúten). Isso
porque, os bebês que ingerem alimentos de alto potencial alérgeno
entre quatro e seis meses de idade podem ter menos risco de
desenvolver alergias no futuro. No trabalho eles citam ainda, o
exemplo de Israel, onde o amendoim é oferecido após o desmame.
Lá, a incidência de alergia à semente é baixa. Tudo isso, ocorre
devido a uma janela imunológica entre os quatro e seis meses de
idade. Nessa fase, a criança está formando seu sistema de defesa, e
alguns alimentos introduzidos nessa idade podem funcionar como
um fator protetor. Mas, deve-se levar sempre em consideração
outros fatores como a predisposição genética, que também pode
estar ligadas ao desenvolvimento de alergias.
Há outra corrente de conservadores que discordam e afirmam
que essa “janela” vai até os sete meses de idade. Portanto, esses
alimentos devem ser oferecidos após os seis meses de amamentação
exclusiva, e não aos quatro meses, como recomenda a pesquisa
inglesa. Segundo eles, é importante que substâncias com tendência a
se tornarem alérgenas, como ovo, peixe e glúten, sejam incluídas na
dieta da criança junto com o leite materno, que protege contra
alergias, entre outras coisas.
Até que mais estudos na área sejam realizados, nossa
recomendação é seguir as diretrizes da Sociedade Brasileira de
Pediatria.
Composição nutricional da alimentação
complementar
A determinação da complementação nutricional necessária a
partir dos 6 meses de idade foi estabelecida, tomando-se como base a
estimativa do volume médio de leite produzido, a concentração de
energia e nutrientes no leite humano e as necessidades nutricionais
da criança.
Energia (Kcal) A quantidade de energia a ser fornecida pela
alimentação complementar após os 6 meses depende da idade, do
volume de leite materno ingerido pela criança e da densidade
energética do leite materno, o que é impossível estimar com
precisão, considerando-se as variações tanto na ingestão quanto no
conteúdo energético do leite humano. Desta forma, as
recomendações baseiam-se em estimativas médias de volume de
leite ingerido e de densidade energética do leite materno. Veja na
tabela a seguir (Tabela 7) a complementação energética necessária
para os países em desenvolvimento.
Complementação energética necessária nos países em desenvolvimento
Faixa etária
(meses)
Necessidade energética Energia leite
materno
Complementação
energética
1998 2003 Kcal 1998
6-8 682 615 413 (674
ml)
269
9-11 830 686 379 (616
ml)
451
12-23 1092 894 346 (549
ml)
746
Tabela 7 – Complementação energética necessária nos países em desenvolvimento
Fonte: OMS (1998) e OMS (2003)
Na tabela a seguir (Tabela 8), acompanhe a complementação
energética aproximada para as crianças não amamentadas ao seio.
Complementação energética aproximada de crianças não amamentadas
ao seio
Faixa etária (meses) Necessidade
energética
Energia leite fórmula
Kcal Kcal
6-8 645 402
9-11 749 402
12-23 1042 335
Tabela 8 – Complementação energética aproximada de crianças não amamentadas ao
seio Fonte: OMS (1998) e OMS (2003)
Na prática, cabe ao nutricionista realizar uma avaliação
alimentar bem-feita, solicitando informações sobre a amamentação
ou sobre o uso de fórmulas, para realizar o cálculo das
recomendações calóricas.
Exemplo: criança de 10 meses, alimentada ao seio três vezes ao
dia, tem necessidade energética total de cerca de 686Kcal/dia.
Considerando que a amamentação natural ainda presente possa
suprir cerca de 379Kcal, sugere-se que a alimentação complementar
forneça em torno de 300Kcal adicionais por dia.
Como comentado, é uma tarefa complicada estimar o quanto
um bebê ingere a cada mamada ao seio. O nutricionista deve se
basear no ganho de peso da criança mês a mês para avaliar se o valor
calórico sugerido está adequado ou se precisa ser alterado de forma
a manter a criança em satisfatório aumento ponderal.
Lipídeos na alimentação complementar A presença de gordura
na alimentação complementar garante densidade energética
adequada e é essencial para o suprimento da necessidade de ácidos
graxos de cadeia longa e vitaminas lipossolúveis. Além disso,
devido a suas propriedades organolépticas, ela melhora o sabor e
favorece a aceitação da alimentação (Tabela 9).
Percentual de energia da alimentação complementar oferecida pelos
lipídeos
%Energia como
lipídeo
Ingestão LH 6-8 meses 9-11 meses
30 Baixa 19 24
30 Média 0 5
30 Alta 0 0
45 Baixa 42 43
45 Média 34 38
45 Alta 0 7
Tabela 9 - Energia complementar oferecida pelos lipídeos LH = leite materno
Observação: Para estimar a necessidade de lipídeo na
alimentação complementar de crianças não amamentadas, devem-se
considerar o volume de fórmula láctea ingerida, e a concentração de
gordura. Desta forma é possível conseguirmos a informação de
quanto de lipídios os leites fornecem e assim vermos o que
precisamos prescrever para completar.
As gorduras saudáveis como a do azeite de oliva estão indicadas
para serem acrescidas nas papas. Também podem ser usados óleos
como o de canola, soja, milho.
Carboidratos na alimentação complementar A OMS não
estabeleceu a recomendação de carboidratos específicas a ser
fornecida pela alimentação complementar. Porém, segundo o IOM
(Instituto de Medicina) a ingestão adequada para crianças de 7-12
meses é de 95g/dia, considerando que 44g/dia são fornecidas pelo
LH (0,6 x74/L) e que a alimentação complementar fornece
aproximadamente 51g/dia. A AI para crianças de 1 a 2 anos foi
estimada em 100g/dia, visandosuprir a necessidade glicose do
cérebro. Assim, considerando o consumo médio de LH estimado
em 0,5L/dia, a alimentação complementar deve fornecer cerca de
63g/dia de carboidratos na faixa de um a dois anos. Esta
recomendação é válida para crianças que ainda mantêm a
alimentação ao seio. Para crianças que não se alimentam ao seio
deve-se considerar o valor de carboidratos totais fornecidos por
toda as vezes na qual o leite de vaca ou a fórmula são oferecidos.
Minerais Nos primeiros seis meses a necessidade de ferro da
criança é garantida principalmente pela reserva. Por volta dos
quatro a seis meses de idade, a reserva se esgota e a criança passa a
depender do fornecimento exógeno (98%), já que a quantidade
p g j q q
fornecida pelo LH (~0,21mg/0,6L) corresponde a apenas 2% da
necessidade da criança dos 7-12 meses. Também é elevada a
necessidade de complementação de zinco (87%). Nesta fase é
comum a prescrição do ferro em gotas. Porém, a alimentação
complementar precisará fornecer estes dois nutrientes.
A determinação de Cálcio variará bastante, dependendo da
referencia utilizada, pois, de acordo com IOM, a ingestão adequada é
de 270g/dia, enquanto da FAO/OMS é de 400mg/dia.
Os demais minerais também devem ser supridos em proporção
elevada pela alimentação complementar dos sete aos 24 meses (Mg:
73-79%, P: 73-87%, Se 46% e I: 35%, considerando as recomendações
da IOM).
Ao nutricionista que for realizar o planejamento alimentar da
criança é bom que fique claro que todos os nutrientes podem ser
facilmente obtidos com o adequado planejamento. Este engloba
desde o estabelecimento da hora e da frequência das mamadas até o
uso de refeição nutritivas e ricas.
Vitaminas A partir dos seis meses de idade, embora o LH,
continue sendo uma boa fonte de vitaminas, ele já não supre as
necessidades da maioria das vitaminas.
Considerando a concentração média de vitaminas no LH de
mulheres bem nutridas, estima-se que na faixa de 7-12 meses seja
necessário suprir cerca de 50% a 70% da necessidade de vitaminas e
dos 12 aos 24 meses, 50% a 90%.
Além do banho de sol e da refeição equilibrada, as fórmulas
lácteas enriquecidas são boas alternativas.
Recomendação de hidratação A DRI (Dietary Reference
Intakes) baseou-se no consumo médio de água total dos norte-
americanos para calcular a ingestão adequada (AI, adequate intake)
de água. Considera-se a quantidade total de água a combinação do
consumo de água isolada e da água contida em bebidas e
alimentos.
A tabela a seguir (Tabela 10) mostra a recomendação de água
total para todas as faixas etárias.
Faixa etária Recomendação de hidratação
0 a 6 meses 0,7ml *
7 a 12 meses 0,8 ml**
1 a 3 anos 1,3 l
4 a 8 anos 1,7 l
9 a 13 anos 2,1 a 2,4 l
Tabela 10 - Ingestão de água recomendada pela DRI (Dietary Reference Intakes) para
cada faixa etária e sexo *Provenientes do leite materno **Provenientes do leite
materno + alimentação complementar Fonte: Institute of Medicine. Dietary Reference
Intakes for Water, Potassium, Sodium, Chloride, and Sulfate. Washington, DC:
National Academy Press, 2004. Disponível em:
h�p://www.nap.edu/books/0309091691/html.
Recomendação de Ômega 3
Na tabela a seguir (Tabela 11), observe as recomendações de
Ômega 3 por faixa etária e sexo.
Faixa etária Recomendação de Ômega 3
(gr/dia)
0 a 6 meses 0,5
7 a 12 meses 0,5
1 a 3 anos 0,7
4 a 8 anos 0,9
9 a 13 anos 1,0 1,2
Tabela 11 - Recomendação de Ômega 3 para cada faixa etária e sexo
Fonte: Food and Nutrition information Center. Dietary Reference Intakes.
Macronutrients. Disponível em: htpp://www.iom.edu/object.file/master/7/300.0.pdf
Princípios básicos da alimentação complementar adequada
Para ser nutricionalmente adequada, a alimentação do lactante
após os seis meses de idade deve conter, além do leite materno,
fórmula infantil e, em casos especiais, o leite de vaca, alimentos de
todos os grupos:
•
Cereais: principais fontes de carboidratos
(arroz, trigo, milho, aveia);
http://www.nap.edu/books/0309091691/html
•
Tubérculos: ricos em amido e por isso tem o
valor calórico elevado (mandioca, batata,
inhame, batata-doce);
•
Leguminosas: fonte de proteínas e minerais
(feijão, lentilha, ervilha e soja);
•
Carnes: fonte de proteína de alto valor
biológico, ferro heme de excelente
biodisponibilidade e também zinco e vitaminas
A e complexo B;
•
Ovos: a clara é contraindicada no primeiro ano
de vida devido ao elevado poder alergênico da
albumina e por isto somente a partir de 12
meses ela deve ser oferecida. Mas a gema é
uma excelente opção. O ovo ajuda no
fornecimento de vitaminas e proteínas;
•
Hortaliças: fonte de vitaminas, fibras e
minerais;
•
Frutas: são indispensáveis para o suprimento
da necessidade de vitaminas (A e C) e minerais,
além de conterem substâncias que melhoram a
absorção do ferro não heme;
Gorduras: são as principais fontes de energia
• nos seis primeiros meses de idade. São
desaconselhadas as gorduras saturadas, trans,
devendo-se dar preferência aos óleos vegetais,
que são ricos em ácidos graxos poli-
insaturados, incluindo os ácidos graxos
essenciais (linoleico e linolênico);
•
Sal: fornece eletrólitos e iodo. Porém deve-se
orientar quanto a moderação no seu uso devido
a capacidade de concentração renal ainda
limitada e também visando a formação de bons
hábitos alimentares. Mas uma pitada é
fundamental.
Considerando que a primeira papinha deve ser oferecida aos
seis meses, cabe ao nutricionista responder a dúvida da maioria das
mães: o que dar primeiro à criança?
A primeira papinha deve ser de sal. Existem evidências de que
crianças que consomem primeiro a fruta desenvolvem preferência
por sabor doce. Porém, toda a orientação deve ser discutida com o
pediatra até mesmo para avaliar que motivos levaram o profissional
a indicar a papa de fruta.
A primeira refeição de sal pode ser constituída de uma papinha
grossa, cuja base seja arroz, batata ou inhame, acrescidos de
hortaliças não folhosas, de caldo de carne, água de cozimento de
folhas, uma leguminosa e um óleo vegetal, além de uma pitada de
sal. Do grupo das leguminosas podem ser usados caldo de feijão,
purê de ervilhas e de lentilhas. As carnes devem ser oferecidas em
caldos (boi e frango). As hortaliças devem ser cozidas e peneiradas,
jamais liquidificadas.
Alguns alimentos do grupo dos vegetais não devem ser usados,
sobretudo os que possam conter agrotóxicos como tomates e
pimentões. Alimentos de sabor forte como cebola, alho, ervas e
condimentos não devem ser usados nas primeiras papas.
Sugere-se que as primeiras papas sejam mais simples, contendo
dois alimentos para que sejam avaliados os impactos da introdução
de cada tipo de alimento.
A amamentação deve continuar em livre demanda após o sexto
mês de vida. Após as primeiras semanas de uso da refeição de sal,
frutas e sucos podem ser usados, especialmente nos intervalos da
manhã e da tarde. Frutas como morango devem ser evitadas, assim
como as ácidas (limão, abacaxi). Recomenda-se evitar adicionar
açúcar aos sucos. A laranja-serra-d'água pode ser uma excelente
opção para se misturar a outros sucos, evitando assim a necessidade
de adoçá-lo.
De forma geral, a rotina diária para crianças (a partir de seis
meses) que introduzirão pela primeira vez a refeição de sal deve ser
conforme a tabela a seguir (Tabela 12), que mostra o esquema de
alimentação complementar da criança.
De 0 a 6 meses De 6 a 8 meses De 8 a 10 meses
 
Apenas o leite
materno (em livre
demanda).
Manhã: leite materno
ou fórmula Intervalo
da manhã: fruta
Almoço: papinha de
sal Intervalo da tarde:
leite materno ou
fórmula Noite: leite
materno ou fórmula
 
Manhã: leite materno ou
fórmula Intervalo da manhã:
fruta Almoço: papinha de sal
+ fruta cítrica Intervalo da
tarde: leite materno ou
fórmula Noite: papinha de
sal
Ceia: leite materno ou
fórmula dependendo do
horário que a criança for
dormir.
Tabela 12 - Esquema de alimentação complementar da criança
Nota Importante A formação do hábito alimentar da criança
começa com a introdução da alimentação complementar.
Assim,a família precisa ficar atenta e garantir a melhor
qualidade dos alimentos para a criança, para que ela cresça e
seja um adulto saudável. A criança copia os adultos até em seus
hábitos alimentares. Cabe ao nutricionista escolher a melhor
estratégia para trabalhar com a alimentação saudável em nível
familiar.
Alimentos que devem ser controlados ou que são
contraindicados até os dois anos:
•
Alimentos de difícil mastigação, deglutição e
digestão (alimentos crus, grãos duros, frutas
com semente);
•
Alimentos potencialmente alergênicos (ovo,
clara), amendoim, nozes, peixes e frutos do
mar);
•
Mel (pode conter esporos clostridium
botulinum);
•
Alimentos ricos em nitrato e nitritos como
presuntos, salsichas, mortadelas;
•
Alimentos industrializados que são ricos em
corantes, conservantes;
•
Alimentos com potenciais de agrotóxicos
(exemplo: tomate e morango).
A alimentação complementar saudável depende não apenas dos
alimentos oferecidos, mas também de como, onde e quem alimenta a
criança.
Por isso, é importante:
• Proporcionar um contexto social afetivo
favorável;
•
Alimentar em resposta a demanda
(fome/saciedade);
•
Respeitar a capacidade de autorregulação;
•
Adotar uma conduta não controladora/não
coercitiva;
•
Considerar as etapas do desenvolvimento da
criança (habilidade);
•
Encorajamento positivo
(olhar/sorriso/conversa/fala/toque).
Em resumo Recomendações gerais para alimentação da criança
menor de dois anos:
•
Aleitamento materno deve iniciar na primeira
hora após o parto;
•
Amamentar frequentemente, em livre demanda
até os seis meses;
•
Não oferecer nenhum alimento antes dos seis
meses, além do leite materno;
•
Iniciar alimentação complementar apropriada a
partir dos seis meses e manter o aleitamento
materno complementado por dois anos ou
mais.
3 Alimentação do pré-escolar
Ao planejar a alimentação de uma criança a partir dos dois anos,
o nutricionista precisa considerar não somente os alimentos que
serão consumidos em casa como também na escola. A alimentação
na escola é uma grande aliada na formação dos hábitos alimentares,
e além disso, ela é capaz de garantir à criança energia e nutrientes
para o período de aula, proporcionando-lhes maior capacidade de
concentração e memória ao longo do dia.
O comportamento alimentar da criança pré-escolar caracteriza-
se por ser imprevisível e variável: a quantidade ingerida de
alimentos pode oscilar, sendo grande em alguns períodos e nula em
outros.
As crianças com dois e três anos de idade apresentam maior
estabilidade no crescimento, devido à diminuição da velocidade de
ganho de peso e estatura, o que condiciona diminuição do apetite.
Por isso, as demandas de energia e de proteínas por quilo de peso
diminuem em comparação com as necessidades durante o primeiro
ano de vida.
É nesta fase que a criança está desenvolvendo os seus sentidos e
diversificando os sabores, e com isso formando suas próprias
preferências. Deve-se dar extrema importância ao fato da criança
estar em pleno desenvolvimento e que para isso, uma dose suficiente
de proteínas, vitaminas e minerais, entre eles o ferro e o cálcio, será
essencial para o seu crescimento e desenvolvimento perfeito.
Nesta fase é natural que a criança recuse um ou vários tipos de
alimentos. É a fase do “Eu não quero”, em que a criança,
descobrindo as suas próprias preferências, diz não a tudo o que ela
pensa não ser bom para ela. Ou ainda, distraída com essa ou aquela
brincadeira, a criança simplesmente “esquece” de comer.
É muito comum os adultos usarem certa “chantagem” alimentar
a criança, dizendo que se não comer espinafre não vai jogar bola, ou
ainda que se não comer chuchu, não vai comer a sobremesa. É uma
tática que muitas vezes dá certo, porém, a criança passa a associar o
fato de comer um alimento que não gosta a um prêmio ou o não
comer, a um castigo, fazendo com que ela apenas coma por
obrigação, não criando, portanto um hábito alimentar sadio.
O nutricionista deve orientar os pais com relação a estes fatores
e ao risco de desenvolvimento da Neofobia alimentar.
Nota importante Neofobia alimentar quer dizer medo de
consumir alimentos novos, que de início são considerados
estranhos. É mais comum em crianças com idade entre um e
sete anos, mas não significa que não vá acometer em adultos
também.
Muitas vezes, as crianças rejeitam os alimentos sem nem mesmo
prová-los. O que os pais precisam saber é que isso não quer dizer
que a criança sempre vai recusá-los. Eles poderão ser aceitos em
uma outra ocasião, desde que sejam oferecidos novamente. A
maturidade do paladar das crianças não acontece da noite para o
dia. Portanto não se pode desistir de oferecer o alimento à
criança nas primeiras recusas. Insista, mude a apresentação do
alimento se for o caso.
Os filhos tendem a optar por alimentos normalmente
consumidos pelos pais e irmãos mais velhos. É preciso ressaltar
que não se devem usar estratégias do tipo: “Come toda a comida
que ganha sobremesa” ou “se não comer tudo, vai ficar de
castigo”. Estes artifícios não vão fazer com que a criança coma o
alimento porque gosta e sim porque vai ter algum benefício ou
vai ser castigada se não comer. Estratégias como estas são
causadoras das fobias alimentares desenvolvidas por crianças e
que podem persistir durante toda a vida Alguns pais tendem a
acreditar na ideia de que o filho precisa comer muito para estar
bem nutrido. É preciso ficar claro que a criança come menos do
que os adultos e que, quando ela come uma quantidade maior
do que sua capacidade gástrica, a mesma pode perder o seu
controle de fome e saciedade, o que poderá gerar problemas
futuros.
Portanto, recomenda-se fazer a introdução de novos alimentos e
preparações de forma gradual, respeitando-se os interesses da
criança e auxiliando no aprendizado do consumo de uma dieta
equilibrada. A criança, ao experimentar e aceitar o alimento
apresenta uma grande chance de aprová-lo e incluí-lo em seus
hábitos alimentares.
Conduzir de forma apropriada a alimentação da criança requer
cuidados relacionados aos aspectos sensoriais (apresentação visual,
cores, formatos atrativos), à forma de preparo dos alimentos
(temperos suaves, preparações simples e alimentos básicos), às
porções adequadas à capacidade gástrica restrita e ao ambiente onde
serão realizadas as refeições, que são fatores a serem considerados,
visando à satisfação de necessidades nutricionais, emocionais e
sociais, para a promoção de uma qualidade de vida saudável.
Algumas práticas podem facilitar a aceitação de novos alimentos
pela criança. Deve-se selecionar alimentos que sejam apropriados à
capacidade motora da criança, garantir um ambiente tranquilo e sem
distrações no momento da refeição, proporcionar intervalos entre as
refeições para que a criança sinta fome, além de oferecer estrutura
familiar adequada.
A aceitabilidade de novos alimentos é influenciada por vários
fatores, entre eles o número de vezes a que a criança foi exposta ao
alimento. É importante que a criança acostume a comer alimentos
variados, evitando a monotonia da dieta.
Os alimentos não devem ser apresentados misturados uns aos
outros, pois é fundamental que a criança identifique o sabor, a cor e
a textura de cada um deles. É comum a aceitação de certos alimentos
após rejeição nas primeiras tentativas, é o processo natural da
criança em conhecer novos sabores e texturas, e da própria evolução
da maturação dos reflexos da criança, que é gradativa e depende de
aprendizagem.
Uma criança sadia não recusará comida se estiver realmente
com fome. Como o metabolismo da criança difere do adulto, a
criança pode realmente não sentir fome se o intervalo entre as
refeições dos adultos não for suficientemente razoável para ela.
Veja a seguir algumas dicas:
A criança pode não aceitar novos alimentos
• prontamente. É necessário que os pais ofereçam
os alimentos várias vezes à criança, com
intervalos entre as tentativas;
•
Criança cansada ou superestimulada com
brincadeiras pode não aceitar a alimentação de
imediato, assim comotambém, no verão, seu
apetite pode ser menor do que no inverno;
•
Os alimentos preferidos pela criança são os de
sabor doce e muito calóricos. É normal a
criança querer comer apenas doces, cabe aos
educadores e aos nutricionistas que estiverem
acompanhando, portanto, colocar os limites
quanto ao horário e quantidade;
•
Comportamentos como recompensas,
chantagens, subornos, punições ou castigos
para forçar a criança a comer, devem ser
evitados, pois podem reforçar a recusa
alimentar da criança;
•
As refeições e lanches devem ser servidos em
horários fixos diariamente. O intervalo entre
uma refeição e a outra deve ser de duas a três
horas;
•
Oferecer líquidos, de preferência, água ou sucos
naturais. Os refrigerantes não precisam ser
proibidos, mas devem ser ingeridos apenas em
ocasiões especiais;
•
A criança deve sentar-se à mesa com os outros
membros da família e não há a necessidade de
alimentos especiais, ou seja, a criança pode
comer do que tiver em casa;
•
Limitar a ingestão de alimentos com excesso de
gordura, sal e açúcar;
•
Oferecer alimentos ricos em ferro, cálcio,
vitamina A (tomate, leite, fígado, cenoura) e
vitamina D (peixes, ovo) e zinco (carne
vermelha, feijão, ervilha), essenciais nesta fase
da vida.
Atitudes que devem ser repassadas aos pais:
•
Conhecer as características de cada alimento
para compor a dieta de forma mais completa:
construtores, reguladores e energéticos;
•
Ser imaginativo: variedade (cuidado para não
transmitir à criança as próprias convicções
alimentares);
•
Ser sensível: as crianças têm dificuldade de
verbalizar as preferências, mas dão sinais;
• Ser flexível: substituir os alimentos ou mudar
as formas de prepará-los;
•
Não oferecer guloseimas nos períodos de
inapetência, pode ser uma barganha perigosa e
progressiva;
•
Não gerar tensão familiar na hora das refeições;
•
Ser exemplo: a criança imita os adultos, e os
hábitos serão reflexos daquilo que ela vivencia.
O nutricionista deverá escolher a melhor forma
de trabalhar com a alimentação saudável em
nível familiar;
•
Evitar o uso de líquido em excesso durante as
refeições: diminuição do apetite.
É hora do lanche na escola, o que levar?
O lanche escolar é uma refeição intermediária, que serve para
dar energia à criança entre duas refeições principais. O ideal é que
ele contenha uma porção de carboidratos, para fornecer energia;
uma porção de lácteos, que tem proteínas; uma porção de frutas ou
hortaliças, responsáveis pelas vitaminas, fibras e minerais; e uma
bebida, para hidratação.
Além da qualidade, é preciso tentar unir praticidade, e pensar
em alimentos que possam ser consumidos, de forma segura, certo
tempo após seu preparo ou que podem permanecer sem refrigeração
por algum tempo. A utilização de vasilhas e garrafinhas térmicas é
uma ótima ajuda na escolha destes lanches, já que aumentam as
opções. Assim como nas principais refeições, também na merenda
escolar deve-se atentar à variedade do cardápio, ou seja, evitar
repetições para que a alimentação não fique monótona.
É importante lembrar que cada criança tem uma necessidade
energética diferente e em alguns casos, a presença doenças (alergias,
intolerâncias etc) podem fazer com que haja a necessidade de
alimentos diferentes e por isto é indispensável o acompanhamento
de um profissional, neste acaso um nutricionista.
•
Coloque sempre uma fruta na lancheira. Frutas
como banana, maçã, pêssego e pera (mandadas
inteiras para não oxidar), ou laranja, abacaxi,
morango, uva, kiwi e melão já descascados e
picados;
•
Não se esqueça do carboidrato, responsável
pela energia (bolos simples, biscoitos sem
recheio, pães de forma, bisnaguinhas, francês,
cereais);
•
Evite os biscoitos recheados e tipo waffle, pois
contém maior teor de gorduras. E se optar por
biscoitos, não coloque o pacote inteiro,
evitando assim um consumo maior de calorias;
•
As bebidas com achocolatados possuem muita
gordura e açúcar. Evite colocá-los todos os dias
na lancheira e alterne com suco de frutas, água
de coco;
• Iogurtes, queijos tipo petit e leites fermentados.
É claro que a maioria das crianças prefere abrir a lancheira e
encontrar batatinhas fritas, chocolate e refrigerante. Deve-se evitar o
consumo de salgadinhos industrializados, bolachas recheadas,
refrigerantes, balas e chocolates, pois, estes alimentos não contêm os
nutrientes necessários para uma alimentação saudável. Não se deve,
porém, proibir radicalmente o consumo destes alimentos tão
tentadores às crianças, deve-se colocar regras e limites para um
consumo consciente e moderado. A melhor forma de adequar à
alimentação é desde o início da infância, para que nada se torne
sacrifício e sim, hábitos saudáveis para a vida toda.
Cabe ao nutricionista elaborar uma rotina alimentar que seja
saudável e que permita às crianças o consumo dos alimentos
preferidos, eventualmente e com moderação.
A criança quer levar algo não muito nutritivo? Eventualmente,
isso não é um problema. Negocie com ela um dia da semana para
levar uma opção não saudável neste lanche e, nos outros dias, as
frutas, cereais e o leite, por exemplo.
O lanche escolar saudável pode ser esquematizado conforme os
exemplos apresentados a seguir. Cabe destacar que na montagem
deste, a criatividade contribui muito para estimular a criança a
consumi-lo adequadamente e evitar a monotonia do cardápio.
Envolvê-la na decisão e até mesmo no preparo de seu próprio
lanche, com auxílio dos pais ou responsáveis, contribui para a
educação nutricional do mesmo.
Veja a seguir, algumas opções de preparação:
•
1° Opção: 2 pães de queijo tamanho coquetel +
1 caixinha de suco de soja com sabor de fruta +
1 banana;
2° Opção: 200mL de suco de fruta natural ou de
• caixinha + 2 pães de cenoura com requeijão;
•
3°Opção: 3 bisnaguinhas com queijo
processado tipo UHT® + 1 água de coco;
•
4° Opção: 5 biscoitos sem recheio+ 1 potinho de
leite fermentado + 1 mexerica;
•
5° Opção: 1 bolinho de chocolate caseiro com
beterraba + 1 caixinha de suco de fruta + 1
goiaba;
•
6° Opção: 1 pacotinho de 78g de biscoito
salgado integral + 1 caixinha de achocolatado +
1 pera;
•
7° Opção: 1 minipão francês com queijo tipo
minas + 1 iogurte + 2 damascos secos;
•
8° Opção: 1 espetinho de ricota + 1 pêssego + 1
garrafinha de vitamina de fruta.
O nutricionista que presta consultoria sobre a alimentação de
crianças nesta idade deve realizar um trabalho que envolva os pais e
a própria criança e elaborar junto a eles a rotina diária de refeições.
Veja no capítulo sobre merenda escolar, opções de lanches e receitas
que podem ser oferecidas aos pais.
O trabalho de planejamento alimentar tem início com a
avaliação nutricional da criança e a determinação das necessidades
de nutrientes.
Nota importe A ficha de atendimento nutricional para a
criança, se bem elaborada, garante ao profissional todas as
informações para um bom planejamento alimentar..
Como determinar as necessidades de nutrientes para crianças?
Esta é uma frequente dúvida do nutricionista. O planejamento
deve levar em consideração os horários, preferências, gostos,
necessidades e restrições alimentar. O primeiro passo é a estimativa
do valor energético, dos macro e micronutrientes. A seguir algumas
informações sobre como realizar os cálculos.
Estimativa de energia e macronutrientes
Regra de Bolso: a quantidade de energia, por quilo de peso
corporal, de que uma criança precisa é maior do que aquela
necessária para um adulto. Uma criança de dois anos, por exemplo,
consome 102cal/Kg, enquanto uma mulher de 27 anos gasta três
vezes menos, em torno de 36cal/Kg. Veja a tabela a seguir (Tabela
13), com a necessidade média diária em crianças.
Energia para cada faixa
etária IDADE
Necessidade MÉDIA
DIÁRIA
6 a 12 meses 900 calorias
1 a 3 anos 1300 calorias
4 a 6 anos 1800 calorias
7 a 10 anos 2000 calorias
Tabela 13 – Média de necessidade calórica em crianças Conhecidas as peculiaridades
de cada faixa etária, cabe ao profissional conciliar todas as informações para a criação
de cardápios como os exemplos aseguir: De 0 a 6 meses
Leite materno em livre demanda. No caso de uso de fórmulas
por impossibilidade de amamentação, o nutricionista deverá calcular
de acordo com a idade e peso, a quantidade de mamadas, frequência
e orientar os pais sobre a correta diluição da fórmula.
De 6 a 8 meses
• Café da manhã: leite materno ou leite (fórmula
própria para a idade);
•
Intervalo da manhã: fruta ou suco de fruta;
•
Almoço: papinha de sal;
•
Lanche da tarde: leite materno ou fórmula;
•
Jantar: leite materno ou fórmula.
De 8 a 10 meses
•
Café da manhã: leite materno ou fórmula;
•
Intervalo da manhã: fruta ou suco de fruta;
•
Almoço: papinha de sal + fruta cítrica;
•
Lanche da tarde: leite materno ou fórmula +
fruta;
•
Jantar: papinha de sal + sobremesa de fruta;
•
Ceia: leite materno (dependendo do horário
que a criança for dormir).
De 10 a 12 meses
•
Café da manhã: leite materno ou fruta;
•
Intervalo da manhã: fruta ou suco de fruta;
•
Almoço: papinha de sal + fruta cítrica;
•
Lanche da tarde: leite materno + fruta;
•
Jantar: papinha de sal + fruta;
•
Leite materno (dependendo do horário que a
criança for dormir).
De 1 a 2 anos
Café da manhã: leite com frutas, bisnaguinha
•
g
ou biscoito maisena ou pãozinho;
•
Lanche da manhã: fruta ou suco de fruta;
•
Almoço: arroz, feijão, ovo ou carne moída ou
outra (frango, fígado), cenoura cozida (ou
chuchu, moranga, vagem) + almeirão ou outra
verdura de folha + sobremesa: 1 fruta cítrica
(laranja, acerola, mexerica);
•
Lanche da tarde: iogurte de morango ou leite +
pão ou biscoito ou bolo simples+ fruta (banana,
maça, uva, pera);
•
Jantar: arroz, feijão, frango ou carne bovina,
hortaliças coloridas cozidas;
•
Ceia: vitamina: leite + fruta ou leite com cereal.
Maiores de 2 anos
•
Café da manhã: leite ou iogurte, pão com
requeijão ou queijo e fruta;
•
Lanche da manhã: fruta e/ou iogurte;
• Almoço: arroz, feijão, carne, ave ou ovo,
hortaliças coloridas, incluindo verduras e
Sobremesa: 1 fruta cítrica (laranja, acerola,
mexerica);
•
Lanche da tarde: vitamina de fruta, mingau ou
taça de iogurte de fruta OU leite com biscoito e
fruta picada OU pão de queijo ou bolo simples
com suco natural e queijo branco;
•
Jantar: arroz, feijão, ovo cozido ou carne ou ave
+ hortaliças coloridas;
•
Ceia: leite.
4 Alimentação do escolar e a
obesidade em crianças entre sete a
10 anos
Quando o assunto é alimentação do escolar há vários achados
que indicam que há uma tendência a um aumento de peso nesta
fase. Isso acontece porque nesta idade as crianças tornam-se mais
suscetíveis ao apelo da mídia e mais sensíveis à influência de seus
colegas. Além disso, hábitos e preferências alimentares já foram
previamente estabelecidos. Por isso, ao longo deste capítulo
detalharemos um pouco mais sobre obesidade infantil, pois é tarefa
do nutricionista trabalhar também com este assunto.
Nas últimas décadas, as crianças tornaram-se menos ativas,
incentivadas pelos avanços tecnológicos. Antigamente as
brincadeiras incluíam muito mais movimento físico. Hoje em dia
com os computadores, videojogos e televisões, o movimento acaba
por ser mais intelectual. Antigamente ofereciam-se bicicletas,
atualmente existe uma série de brinquedos motorizados que são
exigidos pelas próprias crianças; antigamente caminhavam até a
escola, hoje, pela insegurança que as famílias sentem, acabam por
levar as crianças de automóvel, ou vão de transporte público, da
mesma forma que deixaram de brincar na rua para se confinarem a
um quarto ou a uma sala.
Segundo cálculos estatísticos, mais de 60% da causa do excesso
de peso nesta população pode ser atribuída ao excesso de horas
assistindo TV. Isto se deve à dois fatores: primeiro o estilo de vida
sedentário, segundo, ao fato de que existe uma divulgação excessiva
de alimentos e bebidas para crianças. Esta divulgação é
predominantemente para alimentos industrializados e de alta
densidade calórica e se sobrepõe às recomendações de dietas
saudáveis. As crianças assimilam a ideia de que estes alimentos são
saborosos e isto causa um efeito deletério no conhecimento, atitude e
no comportamento das crianças em relação à comida.
A grande preocupação em relação à obesidade infantil deve-se à
possibilidade de que, uma criança obesa torne-se um adulto obeso.
Segundo dados epidemiológicos americanos, das crianças que
apresentam IMC acima do normal, 94% permanecem com obesidade
ou sobrepeso na vida adulta. Outro estudo europeu mostrou que,
sinais precoces de aterosclerose em adultos apresentaram relação
importante com IMC elevado na infância. Isto acarreta maior risco
de mortalidade por doenças cardiovasculares.
É durante a infância que ocorre a formação, ou seja, a
hiperplasia das células adiposas. No caso da criança com sobrepeso,
as células de gordura se formam em grandes quantidades, além do
desejável e permanecem no corpo havendo o risco de sofrerem
hipertrofia. Consequentemente, na vida adulta, qualquer deslize
alimentar produz um aumento destas células e a obesidade volta a
aparecer. Este mecanismo aponta que a obesidade infantil é um fator
de risco para a obesidade na vida adulta. Tal argumento deve ser
apresentado aos pais no momento da consulta.
Atualmente muito se comenta sobre o caráter hereditário da
obesidade. A constituição genética determina o ritmo metabólico do
organismo e, desta forma, pode predispor o indivíduo ao sobrepeso.
Entretanto, ainda que a constituição genética seja desfavorável,
muito pode ser feito para evitar que uma criança se torne obesa. A
influência do meio é marcante o nutricionista atua neste contexto
uma vez que pode criar um ambiente alimentar saudável para o seu
pequeno cliente.
Uma criança obesa tem mais risco de desenvolver colesterol
elevado, problemas ortopédicos, diabetes e hipertensão, transtornos
que acontecem cada vez mais cedo na nossa população. Além disto,
faz com que a criança seja alvo de apelidos e brincadeiras
desagradáveis, colaborando para o isolamento na escola, no grupo
de vizinhos.
No caso da criança, o ambiente familiar tenso, a ansiedade com
mudanças de escola, a briga constante dos pais podem contribuir
para a compulsão alimentar, fazendo com que a criança coma
demais. Além disto, é preciso que os pais incentivem a atividade
física dos filhos, desde pequenos. Fazer um esporte é importante não
somente para elevar o gasto de energia mais também para o controle
da ansiedade.
Fundamental também é que os pais procurem brincar com os
filhos, estimular formas de lazer na qual a criança se movimente,
brincadeiras em praças, clubes, ainda que sejam no final de semana.
Uma avaliação com o endocrinologista é indicada para verificar
se a questão hormonal está bem. A educação nutricional, base do
trabalho de promoção dos bons hábitos alimentares deve começar
desde cedo, ainda quando os filhos são bebês. O erro começa nos
primeiros meses de vida. Algumas mães têm problemas que as
impedem de amamentar. Para estas, é preciso uma orientação sobre
que fórmula infantil usar, quando e como oferecê-las. Porém, muitas
mulheres não têm paciência para amamentar, ou seja, falta
persistência. Com isto, acabam iniciando a alimentação
complementar antes da hora e com alimentos errados, contribuindo
para a obesidade das crianças.
Uma despensa saudável e uma geladeira cheia de alimentos
nutritivos são importantes para toda a família. Não adianta querer
que a criança coma fruta enquanto os pais comem salgadinhos e
doces. Fica impossível para a criança controlar.
Há controvérsias sobre prescrever uma dieta para crianças ou
somente orientar a mudança de hábito. Cabe a cada profissional
escolher a melhor linha para trabalhar. Alguns nutricionistas
acreditam que a orientação alimentar e a dieta personalizada são
fundamentais para a criança que apresenta excesso de peso. Não é
nenhuma covardia sugerir um plano alimentar uma criança desde
que a programação alimentar seja bem-feita.
Na reeducação alimentar infantil, as crianças aprendem a comer
bem. Elas percebem que até podem usar seus alimentos preferidoscomo biscoitos, sorvetes, bolos, porém que devem fazê-los nos finais
de semana, com moderação. Aprendem também que existem muitas
formas de comer alimentos gostosos e ao menos tempo, saudáveis.
Para estimular esta prática, os nutricionistas podem usar técnicas
próprias como jogos, brincadeiras, estimulando a criança a ter
responsabilidades sobre a sua alimentação e fazendo mudanças nos
hábitos alimentares de forma contínua e gradual. Veja mais no
capítulo sobre educação nutricional.
Manter em casa alimentos saudáveis e investir no preparo de
receitas leves e naturais são um ótimo começo. Embora, no início,
possa haver resistência por parte da criança, dentro de alguns meses
seu paladar começará a mudar e a reeducação alimentar será
assimilada com maior naturalidade.
Outro ponto importante é a realização de atividades físicas.
Aqui também os pais podem vir a enfrentar algum tipo de
resistência por parte da criança. Isto porque, ao iniciar um esporte, a
criança obesa geralmente tem uma performance inferior à de seus
colegas e pode querer abandonar a atividade. O nutricionista deverá
incentivar a criança à prática de esportes e pode fazer parcerias com
educadores físicos.
Neste momento, os educadores devem ser firmes ao impedir
que a criança volte à vida sedentária. Estimulá-lo a se envolver com
o esporte praticado e facilitar a formação de vínculos sociais é uma
boa forma de prevenir a desistência. Além disto, deve-se estar
atentos para não sobrecarregarem a criança, exigindo que ela faça
mais atividades físicas do que é capaz de suportar. O esporte deve
ser uma fonte de prazer e não de tensão.
Como foi descrito, ainda que a genética de uma criança favoreça
a obesidade, há muito que os educadores (pais, professores, médicos
e nutricionistas) podem fazer para evitar que o problema se instale.
Investir na reeducação alimentar e no fim do sedentarismo das
crianças é um esforço que poderá poupá-lo de grande sofrimento na
vida adulta.
A consulta nutricional de crianças dos sete
aos 10 anos
A avaliação nutricional em crianças engloba os mesmos passos
da avaliação em adultos:
•
Avaliação Clínica - consiste na aplicação de um
questionário para que seja avaliado o histórico
de doenças da criança e da família, bem como o
uso de medicamentos e seus exames
laboratoriais. Esta avaliação é completada com
análise física para que possamos detectar a
presença de edemas, manchas na pele, danos
nos cabelos e outros;
•
Avaliação Alimentar - aplicação de inquéritos
(anamnese alimentar) para que possamos
conhecer os hábitos da criança, seus horários,
locais de alimentação, assim como suas
restrições e preferências alimentares. Pode ser
realizada por um responsável ou pela própria
criança;
•
Avaliação Antropométrica - a partir da
verificação do peso e da estatura vamos cruzar
os parâmetros (Peso/Idade Estatura/idade
Peso/estatura IMC/Idade. Esta avaliação é
complementada com a medição das principais
circunferências corporais (circunferências do
braço, do quadril, da cintura e do abdômen).
A avaliação antropométrica da criança menor de dois anos, na
idade pré-escolar e escolar é acompanhada da evolução do peso e
cruzada com informações clínicas.
Vale a pena relembrar: métodos de avaliação antropométrica em
crianças menores que dois anos:
•
Utilizar o peso ao nascer e acompanhar o
crescimento;
•
Comprimento;
•
Peso/Idade Estatura/idade Peso/estatura;
•
Perímetro cefálico, torácico e braço.
Para crianças menores de 10 anos utilizar Peso/Idade,
Estatura/idade e Peso/estatura*
*WHO-World Health Organization, 1995.
Classificação quanto ao peso ao nascer:
•
Peso normal: peso ao nascer > 3.000g
•
Peso insuficiente: 2.500 < peso ao nascer <
3.000g
•
Baixo peso ao nascer: peso ao nascer < 2.500g
•
Muito baixo peso ao nascer: peso ao nascer <
1.500g
•
Extremo baixo peso ao nascer: peso ao nascer <
1.000g
•
Macrossomia fetal: peso ao nascer > 4.000g
Estatura ao nascer:
•
PIG (pequeno para idade gestacional): indica
retardo do crescimento intrauterino
•
GIG (grande para idade gestacional): indica
sobrepeso ou obesidade
•
AIG (adequado para idade gestacional)
Indicadores complementares:
•
Avaliação da taxa de crescimento;
•
Medição do perímetro cefálico e torácico;
•
Circunferência do braço para crianças de até
cinco anos/Valores inferiores a 12,5cm (ponto
de porte), indicador de baixo peso equivalente
ao P/E.
Na idade escolar e pré-escolar: avaliação da criança de acordo
com o Ministério da Saúde (MS) Pontos de corte (P/I) estabelecidos
para crianças:
•
≤ Percentil 0,1 = Peso muito baixo para idade
•
≥ Percentil 0,13 < Percentil 3 = Baixo peso ao
nascer
•
≥ Percentil 3,0 e < Percentil 10 = Risco
nutricional
•
≥ Percentil 10 e < Percentil 97 = Adequado
•
≥ Percentil 97 = Risco de sobrepeso
Planejamento alimentar: o planejamento alimentar deve ser
baseado no dia a dia, necessidades, gostos e limitações. Deve levar
em conta o poder aquisitivo da família, a disponibilidade para o
preparo de alimentos, o local na qual serão feitas as refeições. Em
alguns casos, a merenda escolar será uma das refeições. Falaremos
sobre isto no módulo 3.
Exemplo Plano Alimentar
Café da Manhã
•
Leite 150mL
Achocolatado em pó ou
suplemento alimentar
1 colher de sobremesa
Bisnaguinha ou minipão de batata
ou de cenoura
2 unidades
Requeijão 2 colheres de chá
(ou 1 fatia de queijo minas).
•
Intervalo da Manhã
Fruta Escolher
(1 maçã ou 1 pera ou 1 goiaba ou 15 uvas ou 2 ameixas roxas ou
1 laranja grande ou 1 fatia grande de melancia ou 1 manga tipo
espada ou ½ manga hadden ou 2 pêssegos ou 1 xícara de chá de
frutas picadas).
+
Iogurte ou leite fermentado
•
Almoço
Salada cozida, crua ou vegetais
ensopados
Livre
Arroz branco ou integral 2 colheres de sopa
(cada colher de sopa de arroz poderá ser substituída pela mesma
medida de batata ou baroa ou angu ou mandioca ou cará ou purê ou
suflê ou farofa ou milho. Outra opção é substituir a porção toda por
2 pegadores de macarrão, de preferência integral). Evitar a fritura.
Feijão ou ervilha ou lentilha 2 colheres de sopa
Carne 1 pedaço médio
Sobremesa: 1 laranja ou 1 tangerina ou 1 kiwi.
•
Lanche da Tarde
Leite 150mL
Aveia 1 colher de sobremesa
Bolo simples ou rosca caseira 1 fatia média
Fruta Escolher
(1 maçã ou 1 fatia de mamão ou 1 banana ou ½ goiaba ou 12
morangos).
•
Lanche da Noite ou Jantar
Alface, tomate, cenoura Livre
Arroz Branco ou integral 2 colheres de sopa
Feijão 2 colheres de sopa
Carne Escolher
(1 bife pequeno de frango ou carne bovina ou 1 omelete
recheada com 1 fatia de queijo minas ou 2 colheres de sopa de carne
picada com o molho de tomate ou frango desfiado).
Outras opções: sopas completas, mexidos, macarrão com carne e
vegetais.
Ceia
•
Fruta Escolher
(1 banana média, nanica ou 1 maçã ou 1 pera ou 1 goiaba ou 15
uvas ou 2 ameixas roxas ou 1 laranja grande ou 1 fatia grande de
melancia ou 1 manga tipo espada ou ½ manga hadden ou 2 pêssegos
ou 1 xícara de chá de frutas picadas).
Iogurte 1 potinho
Estratégias de tratamento da obesidade em
crianças
A profilaxia constitui-se o melhor tratamento, com vigilância
dos fatores predisponentes:
•
Estímulo ao aleitamento materno;
•
Disciplina de horários;
•
Orientação às famílias sobre as necessidades
dietéticas reais e individuais de seus filhos;
•
Abolição do uso excessivo de carboidratos
(principalmente refrigerantes e guloseimas);
•
Promoção de atividades físicas.
Não é recomendado amedrontar as crianças sobre os possíveis
agravos de saúde que poderão ter no futuro. É importante relacionar
a obesidade a uma limitação de desempenho individual e social,
trazendo problemas estéticos, dificultando a prática esportiva, o uso
de roupas de moda, problemas de aceitação em relação aos amigos e
problemas de locomoção.
Toda perda de peso é importante ser valorizada, havendo uma
análise crítica construtiva do insucesso quando não ocorrer perda.
Desaconselha-se a pesagem frequente por ser um fator de angústia.
Cuidados com a restrição alimentar que, se não bem balanceada,

Continue navegando

Outros materiais