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Fichamento - "Fotografia, cotidiano e experiência: Beat Streuli e a street photography contemporânea" - Victa de Carvalho

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FICHAMENTO
Fotografia, cotidiano e experiência: Beat Streuli e a street photography contemporânea – Victa de Carvalho
‘É marcante o investimento dos artistas contemporâneos na renovação de linguagens e estéticas que apostam no cotidiano como estratégia de experiência. O banal, o comum, o habitual e o anônimo são os elementos-chave de inúmeras obras recentes em que o cotidiano mostra-se como possibilidade de experiência estética.’ (115)
‘A partir dos anos 80, o cotidiano ganha lugar de destaque no campo das artes, principalmente na forma de instalações fotográficas e videográficas, integrando o acervo de diversos museus e galerias.’ (115)
‘Em meio a uma superprodução de imagens do comum e do banal no campo da arte, as possibilidades de se obter “uma experiência” através dessas instalações parecem, a princípio, tão precárias quanto a chance de “uma experiência” na vida ordinária. Diante de imagens que não ressaltam qualquer ato extraordinário, nenhum acontecimento ou ação particularmente interessante, observa-se um vazio, uma espera vinculada á promessa de que essas imagens possam nos oferecer uma experiência estética.’ (116)
‘São recorrentes os discursos que definem o contemporâneo a partir de uma impossibilidade para traduzir os eventos do dia a dia em experiência, tomando o cotidiano uma vivência insuportável. Mergulhado em um lógica de vida intolerável, o homem contemporâneo estaria, segundo Agamben, expropriado de sua experiência, e já não seria preciso nenhum acontecimento extraordinário para consumar tal impossibilidade, “[…] a pacífica existência cotidiana em uma grande cidade é, para esse fim, perfeitamente suficiente [...]” (Agamben, 2008, p. 141). Seguindo as definições benjaminianas de que a experiência estaria fundamentada na tradição e na autoridade por ela adquirida, Agamben identifica no contemporâneo a mesma impossibilidade para traduzir os eventos do dia a dia em experiência. Tal recusa não significa atestar uma total impossibilidade, mas pensar as bases de uma experiência do presente que se caracteriza por uma exterioridade e se efetua cada vez mais fora do homem.’ (117, 118)
‘Sem a pretensão de capturar uma verdade única das ruas, o trabalho de Beat Streuli se diferencia das utopias do “instante decisivo” e do “fotógrafo caçador”, tão fortemente disseminadas pela fotografia moderna. Sua estratégia de trabalho inclui um método de captura de imagens baseado no automatismo vivido pelos indivíduos das grandes cidades, que realizam seus trajetos diários imersos em seus próprios pensamentos, em um estado de vigília e desatenção. De acordo com Streuli, o automatismo funciona em seu trabalho como uma ferramenta que lhe permite uma escrita sensível, próxima à “escrita automática” dos surrealistas.’ (118)
‘Se por um lado, as teorias sociais de base marxista – a exemplo de Lafebvre e Heller – associaram o cotidiano ao hábito, à alienação política e ao automatismo imposto pelo capitalismo industrial, por outro lado, o cotidiano constituiu-se como o lugar decisivo das lutas e tensões das teorias e das práticas das vanguardas artísticas.’ (118)
‘Grande parte das imagens de seus Public Works evidenciam apenas expressões distraídas de quem circula pela cidade alheio à presença do fotógrafo. […] Trata-se de uma representação do cotidiano que ultrapassa os limites da representação fotográfica moderna e da própria experiência de estar em público, e convidam a um mergulho no cotidiano, nas diferenças, nas repetições e nos processos.’ (119)
‘A experiência se defini, segundo Dewey, pelos episódios e situações capazes de integrar a dispersão própria do dia a dia transformando-as em experiências singulares. As “experiências”, estas sempre fluxo, passagem, movimento, podem ser constatadas apenas depois de seu fim, quando constituem unidades com qualidades estéticas. […] Há uma diferença de qualidade entre a experiência da vida ordinária e a experiência que se diz estética – essa última tem o poder de nos preencher, de ativar nossas faculdades sensuais, emotivas e cognitivas, e com isso, expandir e democratizar os domínios da arte.’ (122)
‘Diante das imagens de pessoas comuns em situações cotidianas, somos surpreendidos por um estranhamento que nos distancia da familiaridade das cenas e de seu lugar de exibição. Há uma falha no reconhecimento. O corpo é convocado como lugar do sensível, e com ele experimentamos esteticamente a obra. A intensidade não surge pela consciência de uma interpretação, mas pela intensidade de um corpo sensível que experimenta o cotidiano sob a forma de imagens.’ (123)
‘A monumentalidade das imagens é característica de muitas obras fotográficas recentes que utilizam o tamanho ampliado como estratégia de inclusão do espectador. […] À medida que as imagens ocupam, muitas vezes, espaços da mídia de massa destinados à publicidade, à moda, à televisão ou mesmo ao cinema, a obra de Streuli promove uma convivência paradoxal entre as imagens, o que as torna elementos da paisagem urbana da qual todos fazemos parte.’ (124)
‘Historicamente, a fotografia foi responsável pela criação de uma vasto arquivo iconográfico da vida do homem comum. Desde o seu surgimento no século XIX, desempenhou um papel fundamental na representação do cotidiano, integrando um amplo conjunto de transformações dos modos de ver e de experienciar as imagens e o mundo. Mais do que um gênero fotográfico com características próprias, a street photography deve ser compreendida como uma tradição, que remonta ao início do século XX, e revela o potencial da fotografia como instrumento documental e poético do cotidiano.’ (124)
‘O fascínio pelo cotidiano apresentado pelas imagens fotográficas aqui comentadas denota a sua ambivalência: é ao mesmo tempo fastidioso, penoso, alienante, mas também inesgotável, irrecusável, sempre inacabado. […] Se o cotidiano pode se tornar, na fotografia contemporânea, um lugar de resistência aos automatismo produzidos pelas imagens do dia a dia, é porque ele vem sendo concebido como lugar potencial para a experiência, tendo em vista uma noção de experiência fundamentada na presença, na invenção e na ampliação do que cremos ser a nossa realidade’. (127)

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