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Homem, Cultura e Sociedade MARÍLIA ISRAEL ROCHA Antropologia, cultura e identidade nacional 2 3 A Antropologia A antropologia é uma ciência social. Ela se divide em diversos ramos, entre os quais a antropologia biológica e a antropologia cultural. Relatos feitos pelos viajantes dos séculos XVIII e XIX podem ser considerados estudos antropológicos? A antropologia é uma ciência do final do século XIX, como as demais ciências sociais, entre elas a sociologia; 4 Evolucionismo Social O Evolucionismo social/cultural foi a teoria hegemônica nas ciências sociais do final do século XIX. Autores como Edward Tylor, Lewis Morgan e Herbert Spencer sustentaram que havia uma hierarquia cultural, na qual as sociedades “civilizadas” seriam mais evoluídas que as “primitivas/selvagens”. Passagem linear do simples ao complexo. 5 Evolucionismo Por exemplo, a tese de Arthur de Gobineau: atribuiu as diferenças sociais entre negros e brancos à inferioridade biológica do africano. Para superar esta desigualdade, o negro precisaria ser civilizado nos moldes organizacionais brancos, isto é, segundo o modelo europeu. Era preciso que os negros africanos fossem branqueados e assimilassem a cultura europeia, em especial, a religião cristã. Desta forma, Gobineau justificou o neocolonialismo europeu na África do século XIX. (p. 180) 6 Antropologia Os estudos antropológicos são centrados no entendimento do homem enquanto ser completo, formado pelas dimensões biológica, social e cultural, e do modo como estas se interligam e influenciam a vida social. 7 Marcadores sociais da diferença A antropologia considera que as relações entre os indivíduos, de diferentes raças, etnias e gêneros, são produzidas socialmente, conforme o contexto econômico, político e social no qual as populações estão inseridas. Ao colocar as questões nesses termos, a antropologia historiciza as diferenças existentes nas sociedades. 8 Vocabulário Etnia: etnia é um elemento cultural. Podemos dividir as raças em branca, negra, indígena, amarela. Essa divisão pouco nos diz sobre a cultura de cada uma delas. Por exemplo, vejamos a raça indígena. Dentro da raça indígena existem inúmeros troncos étnicos, que definem as relações entre homens e mulheres, as atribuições de trabalho e os cuidados da casa, as hierarquias políticas e até mesmo a linguagem. No Brasil existem atualmente 150 troncos linguísticos indígenas, sendo os dois principais o tronco Tupi e o tronco Macro-Jê. 9 Vocabulário Raça: A raça não é definida biologicamente, mas pela percepção social de características físicas. Ou seja, a sociedade é que associa características às diferenças físicas entre os sujeitos. Franz Boas -> pioneiro da critica às diferenciações raciais nos EUA; Relativismo cultural. Situação Problema 10 11 Apresentando a Situação Problema Ali, um imigrante sírio que chegou ao Brasil há pouco tempo. Ele imigrou para o País em decorrência do conflito armado na Síria. Ali tem tentado adaptar-se ao Brasil, mas para ele algumas coisas ainda são muito estranhas. Por exemplo, Ali não entende por que no Brasil as pessoas diferentes – seja pela raça, seja pelo gênero, seja mesmo pela etnia – sofrem discriminações. Para ele, é difícil entender isso, pois o Brasil é conhecido por sua miscigenação e seu multiculturalismo. Pelo menos é o que ele sempre ouviu falar enquanto morava na Síria. 12 Problematizando a Situação Problema No entanto, o curto tempo em que Ali está no Brasil já o fez colocar algumas questões: “a cultura teria um papel importante na construção das diferenças existentes na sociedade brasileira?”; “em que medida a cultura influencia a ação cotidiana dos sujeitos?”; e “diante disso, é possível dizer que o Brasil é um país multicultural ou caracteriza-se por posturas etnocêntricas?”. 13 Resolvendo a Situação Problema A cultura têm influência em alguns comportamentos existentes no Brasil os quais sustentam e reforçam desigualdades e segregações. Nesse sentido, é preciso verificar de que forma a cultura constrói o pensamento do senso comum e orienta as ações cotidianas das pessoas. Conforme vimos, o etnocentrismo impede que as culturas se misturem e ainda afirma as diferenças, propondo uma “hierarquização” das culturas. Partindo dessa perspectiva, é possível pensar se o Brasil é mesmo um país multicultural e em que medida natureza e cultura influenciam a compreensão que o brasileiro tem sobre as culturas que aqui existem e a maneira como elas se relacionam. 14 Antropologia e seus conceitos. O conceito de cultura e a ideia de relativismo cultural ajudaram a Antropologia a superar a noção de evolução. A antropologia coloca essas questões nos termos da cultura, pois considera que as relações entre os indivíduos, de diferentes raças, etnias e gêneros, são produzidas socialmente, conforme o contexto econômico, político e social no qual as populações estão inseridas. Ao colocar as questões nesses termos, a antropologia historiciza as diferenças existentes nas sociedades. Cultura 15 16 O conceito de cultura O conceito de cultura aqui empregado refere-se ao que foi chamado por Santos (2006, p. 24) de “existência social de um povo ou nação”, expressa em suas maneiras de ser, pensar, agir e de construir sua vida material e social. Essa existência social, constituída a partir das relações dos indivíduos com a natureza e entre si, constrói padrões sociais e culturais de relacionamento entre os indivíduos. 17 Cultura É preciso observar quais são as influências que a cultura possui nas relações cotidianas, de que forma ela se expressa e quando as pessoas procuram construir discursos utilizando a natureza como forma de justificar desigualdades e produzir hierarquizações, preconceitos e discriminações. 18 Dúvidas Intervalo 19 20 Gênero e desigualdades Dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) para o ano de 2014 mostram que as mulheres brasileiras recebem o equivalente a 74,5% do que recebem os homens brasileiros, têm menos espaço no mercado de trabalho (67,4% de homens e 45,9% das mulheres pertencentes à população economicamente ativa estavam ocupados no 1º trimestre de 2015) e também se dedicam mais tempo aos afazeres domésticos, configurando, em muitos casos, jornada dupla de trabalho. COMO É POSSÍVEL EXPLICAR A MANUTENÇÃO DA DESIGUALDADE DE GÊNERO NO BRASIL EM RELAÇÃO AO TRABALHO? 21 22 Gênero e Desigualdades Em termos do trabalho, ainda é presente no Brasil a divisão entre trabalho reprodutivo e trabalho produtivo. Conforme as características biológicas de homens e mulheres, essa divisão do trabalho tornou-se uma divisão sexual do trabalho. Às mulheres, cuidadosas e afetuosas “por natureza” cabem os trabalhos da reprodução, os cuidados da casa, dos filhos e dos idosos. Aos homens, fortes e viris, cabem o trabalho da produção, o trabalho fora de casa e a manutenção da família. 23 Gênero e desigualdades As características ditas biológicas servem para reforçar e naturalizar o discurso que socialmente segrega as mulheres dos espaços de trabalho e, quando as insere, coloca-as em posições inferiores e em empregos nos quais as ditas características “femininas” são fundamentais, como babás, cuidadores de idosos, professores e enfermeiros. 24 Desigualdades e diferenças Podemos dizer que às desigualdades de gênero são ainda mais acentuadas quando somadas a outras características, como as de raça e classe. 25 Reflita Segundo o Censo Demográfico do IBGE para o ano de 2010, mais de 50% da população brasileira declarou-se negra ou parda. Esses dados demonstram a forte influência dos povos africanos e indígenas na formação do povo brasileiro. Contudo, mesmo no século XXI, essa população ainda tem boa parte dos direitos negados. É o que acontece em termos do acesso ao trabalho. Segundo o mesmo Censo, os negros e pardos, apesar de serem em maior quantidade na população brasileira, têm menor participação nos empregos com carteiraassinada e na condição de empregadores, sendo-lhes destinados os locais do mercado de trabalho reservados à economia informal. 26 Democracia Racial Inúmeros estudos realizados por sociólogos brasileiros e estrangeiros ressaltaram, nas primeiras décadas do século XX, que no Brasil não existe discriminação racial, vivendo brancos e negros “harmoniosamente”. O preconceito aqui seria de classe, legando aos mais pobres a razão dos problemas brasileiros. 27 Democracia Racial Em Casa grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre, há o enfrentamento das teses do chamado racismo científico do início do século XX, que defendiam a pureza racial e o “branqueamento” do povo brasileiro como estratégia de desenvolvimento. Para o sociólogo brasileiro, era a miscigenação que gerava um povo mais forte e capaz de maior desenvolvimento. O problema da tese de Freyre é que ela considerava como certa a existência de uma relação cordial entre senhores e escravos no período colonial brasileiro. 28 Democracia racial A noção de que não existe racismo no Brasil se desenvolveu ao longo de décadas. Haveria apenas o preconceito de classe; Meritocracia. 29 O jantar no Brasil – Jean Baptiste Debret (1827) Disponível em: https://vejario.abril.com.br/atracao/debret-e-a-missao-artistica-francesa-no-brasil-200-anos/. Acesso em: 17 mai. 2021. https://vejario.abril.com.br/atracao/debret-e-a-missao-artistica-francesa-no-brasil-200-anos/ Situação Problema 30 31 Apresentando a Situação problema Para entendermos melhor a sociedade brasileira, convido você a embarcar na história de Andreia. Ela tem 20 anos e é estudante de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Ela cursa o 1º ano da faculdade e entrou por meio das cotas sociais. Ela é negra e é a primeira pessoa da sua família a cursar a universidade. Sua mãe trabalha como empregada doméstica e seu pai como motorista de ônibus. Ambos possuem apenas o ensino fundamental, mas sempre incentivaram seus filhos a estudarem. Andreia mora em Guaianazes, um bairro localizado na Zona Leste da cidade de São Paulo. Ela demora 2 horas para chegar à universidade e precisa pegar dois trens e um ônibus. Mesmo com essas dificuldades, Andreia não desiste do seu sonho de ter um diploma de ensino superior. 32 Problematizando a Situação Problema Andreia estudou em escolas públicas e sempre soube que possuía diferenças em relação a tantas outras pessoas não apenas em sua vida material, mas em sua vida social. Contudo, ela nunca entendeu muito de onde vinham essas diferenças. Ela começou o curso de Ciências Sociais e, logo na primeira semana, foi apresentada à formação do povo brasileiro e confrontada com algumas questões sobre a própria origem e a própria identidade, tais como: “o que forma o povo brasileiro?”, “qual é a influência das diversas culturas que formam esse povo na identidade do brasileiro?”; “é possível, a partir da mistura de raças que formam o povo brasileiro, existir democracia racial?”. 33 Resolução da situação problema Andreia, reconhece-se como negra e sabe que essa condição lhe lega acessos diferentes, seja à educação, seja ao emprego. Nesse sentido, ela começou a pensar sobre a sua identidade de brasileira e sobre a forma como a herança africana lhe dá oportunidades diferentes em sua vida. Passou a olhar criticamente para a noção de democracia racial, e a denunciar o racismo estrutural. 34 Recapitulando Etnocentrismo; Uma única cultura em diferentes estágios de evolução; Relativismo cultural; Construção da sociedade brasileira e mito da democracia racial.
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