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Ação Direta de Inconstitucionalidade do Decreto Presidencial

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EXCELINTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
CONFEDERAÇÃO SINDICAL DOS ENGENHEIROS, entidade sindical de grau superior e área de atuação em todo território nacional, registrada pelo Ministério do Trabalho e Emprego sob o número 000000.00000/00 (anexo 1), portadora do CNPJ nº 00.00000/00 (anexo 2), com sede no bairro xxxxxx, rua xxxxx, número 00, cidade xxxxxx, estado xxxxxxx, representada pelo seu presidente Sr. Fulano de Tal, consoante previsto na ata de posse (anexo 3), vem, por meio de sua advogada abaixo assinada (procuração no anexo 4), com fundamento nos arts. 102, I, “a” e “p” e 103, IX, da Constituição Federal e na Lei 9.868/1999, propor
AÇÃO DIRETA DE INCOSTITUCIONALIDADE
com pedido de medida cautelar
em face do Decreto nº XXXXX editado pelo Presidente da República, pelos fundamentos a seguir expostos:
I- DA LEGITIMIDADE DESTA CONFEDERAÇÃO SINDICAL
A Constituição Federal de 1988, vigente, em seu art. 103, IX, assim dispõe:
“Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade:
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.”
Como entidade sindical de âmbito nacional, composta por 20 Federações Sindicais em diferentes estados, tendo cada uma delas ao menos dez sindicatos (anexo 5), respeitando o disposto no art. 535, caput, da Consolidação das Lei do Trabalho[footnoteRef:1], a autora é legitimada para a propositura da presente ação. [1: Art. 535 - As Confederações organizar-se-ão com o mínimo de 3 (três) federações e terão sede na Capital da República.] 
Como legitimada especial, a Confederação Sindical dos Engenheiros evidenciará a seguir a existência da pertinência temática entre o tema do referido decreto autônomo do Presidente da República e o campo de atuação desta confederação.
II- DA PERTINÊNCIA TEMÁTICA
Sendo as Confederações Sindicais legitimadas especiais, faz-se necessária a demonstração de existência de pertinência temática. 
Inicialmente, destaca-se que a Confederação Sindical dos Engenheiros, autora desta Ação Direta de Inconstitucionalidade, possui o dever de atuar judicialmente na defesa do direito e interesses de seus membros. Assim sendo, inegável a conexão entre esta função da referida Confederação e o Decreto nº XXXXX, editado pelo Presidente da República, uma vez que este possui como matéria o estabelecimento da obrigatoriedade, como exigência à obtenção do diploma de graduação em engenharia, a média de 90% nas disciplinas do curso, e, para inscrição nos Conselhos Regionais, a conclusão de uma pós-graduação.
A determinação supracitada fere diretamente o direito dos engenheiros, uma vez que restringe de forma arbitrária a inscrição nos Conselhos Regionais, além de alterar indevidamente a média necessária para a obtenção do diploma de engenharia.
Desta forma, resta completamente evidenciada a pertinência temática no presente caso, haja vista que o decreto que se busca mostrar inquinado de inconstitucionalidade afetam diretamente os trabalhadores representados pela Confederação autora.
III- DA INCONSTITUCIONALIDADE DO DECRETO PRESIDENCIAL – DO CABIMENTO DE ADI
O Decreto nº XXXXX editado pelo Presidente da República tem como finalidade formar profissionais qualificados tendo em vista dos desastres que ocorreram em Brumadinho. Para atingir tal objetivo assim dispõe:
“Art. X. Exige-se, obrigatoriamente, para à obtenção do diploma de graduação em engenharia, a média de 90% nas disciplinas do curso.
Art. XX. Para inscrição nos Conselhos Regionais de Engenharia se faz necessário a conclusão de pós-graduação.”
Primeiramente, cabe destacar que estão definidas no art. 84 da Constituição Federal as atribuições do Presidente da República e consta deste rol, que é meramente exemplificativo, duas espécies de decreto, o regulamentar e o autônomo. Dado que objeto desta ação é um decreto autônomo do chefe do poder executivo, visto que este é ato normativo primário, que inova na ordem jurídica, está submetido ao controle de constitucionalidade e pode ser objeto de Ação de Direita de Inconstitucionalidade. Ademais, é regulamentado pelo inciso IV do art. 84 (nova redação dada pela Emenda Constitucional nº32/2001), disposto a seguir:
“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
(...)
VI -  dispor, mediante decreto, sobre:
a)  organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b)  extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;”
Nota-se que as matérias permissíveis em decreto autônomo Presidente da República se restringem as constantes nas alíneas “a” e “b” dispostas acima e que nada se relacionam com o disposto no Decreto nº XXXX. Constata-se, portanto, vício formal no objeto dessa ação.
Outrossim, válido salientar que o art. 5º, XIII, da Constituição Federal de 1988 determina que “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Assim sendo, a regulamentação do exercício da profissão de engenheiro tem que se dar por meio de Lei Ordinária, que, a propósito, já existe – Lei nº 5.194/1966. A respeito do exercício da profissão de engenheiro o art. 2º desta lei assim dispõe:
“Art. 2º O exercício, no País, da profissão de engenheiro, arquiteto ou engenheiro-agrônomo, observadas as condições de capacidade e demais exigências legais, é assegurado:
a) aos que possuam, devidamente registrado, diploma de faculdade ou escola superior de engenharia, arquitetura ou agronomia, oficiais ou reconhecidas, existentes no País;
(...)”
Em congregação, segue o art. 57 da mesma lei:
“Art. 57. Os diplomados por escolas ou faculdades de engenharia, arquitetura ou agronomia, oficiais ou reconhecidas, cujos diplomas não tenham sido registrados, mas estejam em processamento na repartição federal competente, poderão exercer as respectivas profissões mediante registro provisório no Conselho Regional.”
A leitura conjunta destes dispositivos deixa evidente que para inscrição nos Conselhos Regionais basta que o profissional possua diploma de faculdade ou diploma superior de engenharia, sem a obrigatoriedade de curso de pós-graduação. Ademais, nada consta da lei a respeito da necessidade da média de 90%.
Conclui-se, então, que além do vício formal existente no Decreto nº XXXXX, este vai de encontro a Lei nº 5.194/1966 que já regula a profissão de engenheiro, conforme dispõe o art. 5º, XIII, da Constituição Federal.
IV- DA NESCESSIDADE DE CONSEÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR
Como já aduzido anteriormente, o Decreto nº XXXX instituiu, inconstitucionalmente, a obtenção da média de 90% nas disciplinas do curso de engenharia para a obtenção do diploma de graduação. Tal determinação atinge diretamente aqueles milhares de alunos que graduarão neste mês e não atingirão este pré-requisito, ficando impedidos de formar e exercer sua ocupação. Dessa forma, se faz necessário a suspensão da executoriedade do Decreto, até que esta Ação Direta de Inconstitucionalidade seja julgada. Pede-se, ainda que seja observado o art. 10º, §3º, da Lei 9868/99:
“Art. 10. § 3o Em caso de excepcional urgência, o Tribunal poderá deferir a medida cautelar sem a audiência dos órgãos ou das autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.”
Por fim, ressalta-se a urgência do julgamento desta ação, tendo em vista o evidente periculum in mora, e restando evidenciadas a relevância da matéria e de seu especial significado para a ordem social pleiteia-se a aplicação do art. 12, Lei 9868/99:
“Art. 12. Havendo pedido de medida cautelar, o relator, em face da relevância da matéria e de seu especial significado para a ordem social e a segurança jurídica, poderá, após a prestação das informações, no prazo de dez dias, e a manifestação do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República, sucessivamente, no prazo de cinco dias, submeter o processo diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade de julgar definitivamente a ação.”
V- DO PEDIDO
Isto posto, a autorarequer a Vossas Excelências:
a) seja concedida liminar inaudita altera parte, sustando a aplicação do Decreto presidencial nº XXXXX até decisão final na presente ação;
b) seja conhecida e processada a presente Ação Direta de Inconstitucionalidade, citados o Advogado Geral da União, o Presidente da República e a Procuradoria Geral da República para responder a seus termos, no prazo de lei, cumpridas as demais formalidades legais, para, ao final, ser julgada PROCEDENTE, com a consequente DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE do Decreto presidencial nº XXXXX tomadas as providências ulteriores de direito;
Dá-se à presente causa, meramente para efeitos fiscais, o valor de R$10.000,00 (dez mil reais).
Brasília-DF, 05 de novembro de 2020
CONFEDERAÇÃO SINDICAL DOS ENGENHEIROS
Anna Silvia Alves Fernandes
OAB XXXXXX
Camila Paço Castedo
OAB XXXXXX
Izabela Arcebispo de Oliveira
OAB XXXXXXX
Raymar Soares Oliveira
OAB XXXXXX
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