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livro AFC (Yavas, Hernadorena e Lamprecht, 2001)

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Pd` Class.: • 
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valiação fonológica da criança / M
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 L.
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atzenauer H
ernandorena, R
egina R
itter Lam
precht. 
—
P
orto A
legre: A
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ed E
ditora, 2001.
148 p.: il.; 23cm
.
1. C
rianças — F
onologia 2. Fonologia 
I. H
ernandorena, C
ar-
m
en L. M
atzenauer 
II. Lam
precht, R
egina R
itter 
III. Título.
C
.D
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. 414.083
C
.D
.U
. 801.4.001.4-053.2
Índices A
lfabéticos para o C
atálogo S
istem
ático
F
onologia : V
erificação : C
rianças
801.4.001.4-053.2
B
ibliotecária responsável: S
onia H
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niversidade Federal de Pelotas
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posição e arte:
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 Assessoria G
ráfica e E
ditorial Ltda.
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Leda K
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 língua portuguesa, à
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antana
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legre R
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 perm
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ditora.
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U
M
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IO
P
refácio 
7
1
 —
 Fundam
entos para a avaliação fonológica 
 
9
1.1 —
 C
oleta de dados 
 
12
1.2 —
 Instrum
ento 
 
14
1.3 —
 G
ravação da am
ostra 
 
18
1.4 —
 Transcrição fonética 
 
18
1.5 —
 A
nexos 
 
19
2 
D
escrição fonética 
 
37
2.1 —
 Inventário fonético da criança 
 
38
2.2 —
 P
rocedim
entos para a descrição fonética 
 
39
2.3 —
 E
xem
plo 
 
40
3 
A
nálise contrastiva 
 
50
3.1 —
 Fundam
entos da análise contrastiva 
 
51
3.2 —
 P
rocedim
entos para a análise contrastiva 
 
55
3.3 —
 E
xem
plo 
 
56
4 
A
nálise de traços distintivos 
 
63
4.1 —
 A
plicação de traços distintivos no contexto clínico 
 
66
4.2 —
 P
rocedim
entos para a análise de traços distintivos 
 
68
4.3 —
 A
nexos 
 
85
5 —
 
A análise de processos fonológicos 
 
90
5.1 —
 O
s processos fonológicos 
 
92
5.2 —
 P
rocedim
entos para a análise de processos fonológicos 
 
9
8
5.3 —
 E
xem
plo 
 100
6 
Fatores não-fonológicos na avaliação 
 113
6.1 —
 S
intaxe 
 113
6.2 —
 S
em
ântica 
 114
6.3 -- P
ragm
ática 
115
6.4 —
 M
orfologia 
116
6.5 —
 C
onsiderações gerais 
116
7 
—
 
Tratam
ento 
118
7.1 —
 A
bordagens terapêuticas com
 traços distintivos 
119
7.2 —
 A
bordagens terapêuticas com
 processos fonológicos 
121
G
lossário 
124
A
pêndice 
127
R
eferências 
146
P
refácio
A
 m
aioria das crianças com
 significativas desordens na com
unica-
ção têm
 pelo m
enos algum
as dificuldades no nível fonológíco da lingua-
gem
, ou seja, no seu conhecim
ento dos segm
entos fonéticos e das regras
fonológicas, ou na m
aneira com
o utilizam
 esse conhecim
ento. Essa difi-
culdade prejudica de m
aneira m
arcante a sua inteligibilidade, chegando,
em
 m
uitos casos, a ser im
possível a com
preensão da linguagem
. E im
-
prescindível que essas crianças recebam
 ajuda de profissionais com
pe-
tentes, os quais, para a execução de um
 trabalho exitoso, precisam
 do
auxílio de pesquisas atualizadas.
N
os casos de desordens da fala nas crianças, a introdução de um
a
descrição baseada na lingüística e dirigida à prática clínica tem
 causado
um
 im
pacto inusitado. A
 incapacidade lingüística que anteriorm
ente era
de d
ifícil definição, tradicionalm
ente diagnosticada com
o um
a desor-
dem
 de articulação funcional, pode ser agora redefinida com
o um
a de-
sordem
 da linguagem
 no nível fonológico, e as características dessa de-
sordem
 podem
 ser descritas detalhadam
ente. A
 introdução, na prática
da fonoaudiologia, de um
a descrição baseada na lingüística tem
 condu-
zido a avanços significativos, que têm
 m
uita im
portância no desenvolvi-
m
ento dos aspectos teóricos e técnicos dessa área de estudos. As avalia-
ções baseadas na análise fonológica habilitam
 o terapeuta a elaborar de-
finições e descrições das desordens na linguagem
 de m
aneira m
ais cientí-
fica, específica e detalhada. C
onseqüentem
ente, em
 cada caso, baseado
nessa avaliação, o clínico é capaz de determ
inar m
ais claram
ente os ob-
jetivos da intervenção e depois verificar, por m
eio da reavaliação, a efi-
Avaliação Fonológica da C
riança / 7
cácia do tratam
ento. Para ser m
ais sucinto, a visão lingüística conduz à
natureza da desordem
 e ao seu tratam
ento.
Q
uando falam
os em
 desordens fonológicas, não querem
os dizer
que não há ordem
 em
 tais casos. Essas desordens não im
plicam
 que os
erros sejam
 aleatórios; na verdade, eles são sistem
aticam
ente organiza-,
dos. E exatam
ente essa natureza sistem
ática das desordens é o foco de
nosso 
interesse. 
E
m
 síntese, um
 sistem
a com
 desordem
 fonológica é
aquele cuja ordem
 difere da que é considerada com
o norm
a. S
alienta-
m
os, no entanto, que, em
bora o padrão do sistem
a com
 desvio fonoló-
gico não seja idêntico ao sistem
a do adulto norm
al, m
esm
o assim
 os
sons são usados de form
a organizada.
U
m
 sistem
a com
 desordens tam
bém
 apresenta um
 padrão na m
a-
neira com
o se relaciona com
 o sistem
a adulto norm
al, e essas diferenças
sistem
áticas (desvios) em
 relação ao sistem
a norm
al podem
 ser explica-
das segundo certas regras e regularidades. A
 inform
ação sobre a nature-
za padronizada, sistem
ática do desvio pode ser fundam
ental para che-
gar-se a um
 diagnóstico preciso, o que, conseqüentem
ente, constituirá a
base para um
a terapia eficaz. A
 análise fonológica, portanto, parece efe-
tivam
ente indispensável para os profissionais cuja função está ligada ao
diagnóstico e ao tratam
ento de desvios de fala.
E
ste m
anual fo
i preparado para a realização da análise fonológica
da fala da criança, em
 resposta a um
a necessidade prática de terapeutas.
A
 inspiração para um
 m
anual dessa natureza originou-se de m
inha expe-
riência pessoal com
 P
A
C
S
 (G
runw
ell 1985), durante m
inha perm
anên-
cia no Institute of S
peech P
athology of Leicester P
olytechnic —
 Ingla-
terra durante 1986-87, com
o pesquisador visitante. A
 influência do tra-
balho de G
runw
ell reflete-se em
 várias seções deste m
anual.
A
través de contatos com
 terapeutas e outras pessoas ligadas a
crianças com
 desvios de fala, sentim
os a necessidade urgente da proposi-
ção de procedim
entos de avaliação com
 base na lingüística, com
 refe-
rência específica ao português. C
om
 o significativo crescim
ento do inte-
resse no desenvolvim
ento fonológico norm
al e com
 desvios verificados
no P
rogram
a de Pós-G
raduação em
 Lingüística da P
ontifícia U
niversi-
dade C
atólica do R
io G
rande do S
ul e nas pesquisas realizadas pelo C
en-
tro
 
de 
E
studos 
sobre 
A
quisição 
e 
A
prendizagem
 
da 
Linguagem
 
—
C
E
A
A
L, da P
U
C
R
S
 —
 a necessidade de um
 instrum
ento específico para
a língua portuguesa teve sua evidência definitivam
ente com
provada.A
 seguir é apresentada, portanto, a prim
eira tentativa de responder
a essa necessidade, a qual poderá servir de base para nosso fu
tu
ro
 traba-
lho no sentido de desenvolver estudos m
ais abrangentes nessa área.
M
ehm
et S. Yavas
1
F
undam
entos para a
avaliação fonológica
O
s desvios de linguagem
 suscitam
 o interesse de estudiosos de di-
versas áreas. São pesquisadores da fonoaudiologia, lingüística, psicolo-
gia, educação e m
edicina que se preocupam
 com
 esse assunto e contri-
buem
 para a sua com
preensão.
D
urante as duas últim
as décadas, aum
entou consideravelm
ente a
atenção dispensada ao cam
po dos desvios de linguagem
 pelos diversos
profissionais envolvidos nessa área, sendo que a aplicação de princípios
lingüísticos às pesquisas sobre patologias da fala e da linguagem
 cresceu
significativam
ente. E
m
 conseqüência, estabeleceu-se um
 novo cam
po
de pesquisa —
 a lingüística clínica. N
esse novo cam
po do conhecim
ento,
na subárea da fonologia clínica, situam
-se os estudos que tratam
 do sis-
tem
a de sons da linguagem
 com
 desvios. A
 fonologia clínica é um
a in-
vestigação fonológica aplicada à patologia e à terapia da fala. A
qui vere-
m
os que os princípios e procedim
entos de análise fonológica proporcio-
nam
 o m
odelo para a descrição dos dados e form
am
 a base para a sua
aval iação.
O
 foco deste livro são os desvios fonológicos em
 crianças. Se, por
um
 lado, há crianças cujos desvios de produção da fala revelam
 condi-
ções patológicas óbvias subjacentes a esses desvios -- com
o palato fen-
dido, perda auditiva, etc. —
, por outro lado tam
bém
 existem
 crianças as
quais apresentam
 anorm
alidades no desenvolvim
ento fonológico sem
um
a etiologia orgânica aparente. Esses casos, antes rotulados de "des-
vios articulatórios funcionais", atualm
ente são denom
inados "desvios
fonológicos evolutivos", já que o problem
a não é considerado de articu-
lação m
as de organização, envolvendo o sistem
a fonológico. E
m
 conse-
8 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht 
Avaliação Fonológica da C
riança / 9
qüência, a visão tradicional de que a análise da fala com
 desvios deveria
enfocar principalm
ente o com
ponente m
otor ou fonética do som
 pro-
duzido fo
i m
odificada; em
 vez disso, a atenção principal com
eçou a ser
dada ao com
ponente fonológico da produção.
Isso não significa, no entanto, que os tópicos discutidos nos capí-
tulos seguintes sejam
 restritos aos desvios fonológicos evolutivos. M
uitas
crianças com
 defeitos orgânicos apresentam
 deficiências de fala em
 de-
corrência de problem
as articulatórios (causados por palato fendido, da-
nos cerebrais e outros), porém
 m
esm
o nesses grupos podem
 ser observa-
dos desvios fonológicos ao lado daqueles de natureza articulatória (fo-
nética).
A
 im
portância da aplicação da fonologia se origina na convicção de
que a natureza da fala com
 desvios é sistem
ática. Esses desvios não são
vistos com
o listas aleatórias de sons "errados", m
as de sons que se orga-
nizam
 sistem
aticam
ente. E
m
 sum
a: desvio não significa um
 sistem
a sem
ordem
, m
as sim
plesm
ente um
 sistem
a cujos padrões não são idênticos à
norm
a. D
esnecessário dizer que a inform
ação sobre os padrões da fala
com
 desvios é crucial para um
 diagnóstico exato, o qual, por sua vez,
constitui a base de um
a terapia eficiente.
"É
 necessário que se identifiquem
 as características únicas do sis-
tem
a de cada criança para planejar o tratam
ento m
ais apropriado
para essa criança." (S
toel-G
am
m
on &
 D
unn, 1985, p. 127)
U
m
a análise com
pleta de sistem
as fonológicos com
 desvios deverá
levar, certam
ente, ao desenvolvim
ento de novos e m
ais sofisticados m
é-
todos e procedim
entos de diagnóstico e terapia. N
as palavras de Lorentz
(1976,. 
p. 32)
"A
 patologia da fala deveria ter com
o m
eta principal lógica um
a
caracterização geral da natureza dos sistem
as fonológicos com
 des-
vios: com
o se estruturam
, com
o m
udam
, e que restrições gerais ou
específicas determ
inam
 a form
a e o âm
bito de aplicação das regras
fonológicas. Q
uanto m
aior o núm
ero de descrições explícitas e
bem
 docum
entadas disponíveis para análise, tanto m
ais provável
será a realização dessa m
eta".
O
 principal fato responsável pelo interesse atual em
 estudos sobre
desvios de fala em
 crianças sob um
a perspectiva lingüística é a publica-
ção da obra clássica de Ingram
 (1976). M
ais tarde, no início da década
de 80, H
odson (1980), Ingram
 (1981), G
runw
ell (1981, 1982), C
rystal
(1982), E
dw
ards &
 S
hriberg (1983), H
odson &
 Paden (1983) e M
agnus-
son (1983) 
contribuíram
 para um
a m
elhor com
preensão do assunto.
M
ais recentem
ente, G
runw
ell (1985), S
toel-G
am
m
on &
 D
unn (1985)
e E
lbert &
 G
ierut (1986) aum
entaram
 os conhecim
entos que se têm
 so-
bre estudos lingüísticos da fala infantil com
 desvios. R
estritos a alguns
10 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
poucos periódicos há 15-20 anos atrás, esses estudos tiveram
 um
a ex-
pansão tão grande que está ficando d
ifícil m
anter-se atualizado em
 rela-
ção aos progressos na área. A
o lado de revistas tradicionais com
o Jour-
nal o
f Speech and H
earing D
isorders, Journal o
f Speech and H
earing
R
esearch e Journal o
f C
om
m
unication D
isorders, testem
unham
os o
crescente interesse no assunto através de per!"ticos com
o Language,
Speech and H
earing Services in
 S
chool, Journal o
f C
hildhood C
om
m
u-
nication D
isorders, Sem
inars in
 Speech and Language, Topics in
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guage D
isorders, C
hild Language Teaching and Therapy, A
pplied P
sy-
cholinguistics, 
C
linicai Linguistics and P
honetics, B
ritish Journal o
f
D
isorders o
f C
om
m
unication. E
m
 razão da grande quantidade de estu-
dos e pesquisas na área da fonologia clínica e da im
portância das infor-
m
ações daí advindas, os terapeutas da linguagem
, que no passado pode-
riam
 desconhecer o interesse que os lingüistas têm
 em
 aplicar seus co-
nhecim
entos à fala com
 desvios, não podem
 m
ais ignorar a significação
da fonologia para a efetivação de seu trabalho.
Estabelecer um
a ligação entre fundam
entos teóricos da fonologia e
a objetividade da prática da terapia da linguagem
 é um
a das m
etas deste
livro. C
om
 esse in
tu
ito
, propom
os aqui um
 instrum
ento para a obtenção
de um
a am
ostra de dados lingüísticos e apresentam
os diferentes bases
teóricas 
e 
m
etodologias para 
a avaliação desses dados. S
alientam
os
que, de acordo com
 toda a literatura dedicada à fonologia clínica, o
foco de interesse -- tanto na elaboração dos instrum
entos com
o nas aná-
lises lingüísticas —
 restringe-se aos sons da língua categorizados com
o
consoantes, um
a vez que é unânim
e a posição de que os desvios conso-
nantais (seja de consoantes sim
ples ou encontros consonantais) são os
responsáveis pela quase totalidade dos desvios de fala e pela ininteligibi-
lidade dos sistem
as das crianças com
 problem
as de com
unicação.
O
 português possui 19 fonem
as consonantais: /p
/, /b
/, /t/, /d
/, /W
/g/, /f/, /v/, /s/, /z/, /s/, /z/, /m
/, /n
/ 
/n
/ 
/1/, /A
/, /R
/ /r/. E
m
 estudos
com
 finalidades clínicas deve incluir-se nesse grupo tam
bém
 os "glides"
(sem
ivogais), que são dois: /y
/ e /w
/. Essa inclusão é decorrente do fato
de os glides, por ocuparem
 as m
argens da sílaba com
o ocorre com
 as
consoantes (o núcleo da sílaba em
 português é som
ente ocupado pelas
vogais), seguidam
ente substituírem
 essas consoantes. É com
um
 observa-
rem
-se substituições deste tipo na linguagem
 infantil:
Form
a E
scrita 
R
epresentação Fonética
bola 
[ b )Ia
S
ubstituição
[ b iw
a ] 
I -* w
ou 
ou
[ boya ] 
1 -" Y
Avaliação Fonológica da C
riança / 1
1
A
 categorização das consoantes e dos glides do português de acor-
do com
 os diferentes pontos e m
odos de articulação aparece no Q
uadro
1 (C
apítulo 3),na apresentação do "inventário fonético padrão dos seg-
m
entos consonantais do português".
E im
portante salientar que as representações fonéticas do adulto
(alvo para a criança) apresentadas neste livro são as que ocorrem
 na va-
riedade 
do português 
falado no R
io G
rande do S
ul, especificam
ente
em
 P
orto A
legre. O
s terapeutas, ao avaliarem
 crianças com
 diferentes
variantes lingüísticas, devem
 proceder aos ajustes necessários.
O
utro aspecto fundam
ental a ser ressaltado na análise do sistem
a
da criança, seja norm
al ou com
 desvio, é a necessidade de diferençar os
sons da língua quanto às diferentes posições que podem
 ocupar na es-
trutura da sílaba e da palavra. A
 literatura em
 geral discrim
ina três posi-
ções: in
ício
, m
eio e fim
 da palavra. N
o entanto, a especificidade do por-
tuguês —
 já com
provada em
 um
a pesquisa p
ilo
to
 com
 70 crianças nor-
m
ais (Y
avas, 1988) e em
 pesquisas com
 crianças que apresentam
 desvios
fonológicos (Lam
precht, 1986; H
ernandorena, 1988; 
Yavas &
 
Lam
-
precht, 1988) —
 aponta para a necessidade da discrim
inação de 4 po-
sições dos fones contrastivos:
IS
IP
 
—
 in
ício
 de sílaba, in
ício
 de palavra;
IS
D
P
 
—
 in
ício
 de sílaba dentro de palavra,
FS
D
P
 
—
 final de sílaba dentro de palavra,
FS
FP
 
—
 final de sílaba, final de palavra.
E
m
bora a grande m
aioria das consoantes do português se lim
ite a
apenas 2 posições —
 IS
IP
 e IS
D
P
 —
, já fo
i com
provado que as crianças,
tanto norm
ais com
o com
 desvios, dão tratam
ento diferenciado aos fo-
nes contrastivos da língua dependendo das quatro posições acim
a refe-
ridas.1.1 
—
 C
O
LE
T
A
 D
E
 D
A
D
O
S
U
m
 dos problem
as com
 que se deparam
 lingüistas e terapeutas é
referente à form
a de elicitação da produção lingüística da criança, a
qual deverá constituir a am
ostra que servirá de base para a análise e o
diagnóstico da sua linguagem
. H
á 3 m
aneiras de chegar-se à produção
lingüística da criança:
(a) 
repetição;
(b) 
fala espontânea;
(c) 
nom
eação espontânea (instrum
ento).
A
 repetição é, sem
 dúvida, o m
eio m
ais sim
ples e rápido de obter-
se um
a am
ostra da produção lingüística da criança, com
 a possibilidade
de testar-se o em
prego de todos os sons da língua. H
á, no entanto, um
grande problem
a: já fo
i com
provado (Ingram
, 1976) que a criança m
a-
12 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
nifesta um
a produção lingüística m
elhorada quando a faz por repetição,
pois im
ita um
 m
odelo que lhe fo
i apresentado. P
ortanto, a repetição
não é fonte confiável para a obtenção de um
a am
ostra lingüística, um
a
vez que em
 geral não reflete a realidade do inventário fonético e do sis-
tem
a fonológico da criança. A
s im
itações 
devem
 ser 
descartadas da
am
ostra lingüística ou identificadas a fim
 de receberem
 tratam
ento dife-
renciado.
A
 fala espontânea é um
 excelente m
eio para a obtenção de um
a
am
ostra lingüística, pois, além
 de apresentar o sistem
a próprio da crian-
ca sem
 a possibilidade do desvirtuam
ento da im
itação, m
ostra o flu
xo
da linguagem
, isto é, a produção de fonem
as, sílabas e palavras dentro
de frases, propiciando a verificação das possíveis relações fonológicas
entre palavras. A
inda tem
 de referir-se que é o em
prego de frases que
possibilitará a análise da influência dos cham
ados fatores não-fonológi-
cos sobre a fonologia 
da criança 
(ver C
apítulo 6). E
ntretanto, um
a
am
ostra de fala espontânea pode apresentar um
 grande problem
a: a não
ocorrência (ou possibilidade de ocorrência) de todos os fones contras-
tivos da língua e em
 todas as posições que podem
 ocupar na sílaba e
na palavra, deixando a am
ostra incom
pleta. Isso pode ocorrer ou por
sim
ples acaso ou por evitação, pois já fo
i com
provado (Leonard, 1985)
que as crianças evitam
 a produção de fonem
as que se lhes apresentam
problem
áticos. A
lém
 disso, para obter-se um
 núm
ero razoável de possi-
bilidades de ocorrência de algum
as consoantes de uso pouco freqüente
no português, seriam
 necessárias algum
as horas de gravação, o que é
problem
ático tanto do ponto de vista da coleta de dados, com
o tam
bém
no tocante à sua transcrição e análise.
A
 nom
eação espontânea é o m
eio pelo qual se obtém
 um
a am
ostra
lingüística através da técnica de "nom
eação": com
 o auxílio de dese-
nhos e/ou objetos, estim
ula-se a criança a dizer o nom
e de seres, suas
ações e características. Essa elicitação, que norm
alm
ente é feita com
base em
 um
 instrum
ento, evita as repetições e assegura a possibilidade
de realização de todos os fones contrastivos da língua e em
 todas as po-
sições em
 relação à estrutura da sílaba e da palavra, assim
 com
o a pro-
dução de palavras de diferentes classes gram
aticais (substantivos, verbos,
adjetivos, etc.) 
—
 e isso tudo pode ser conseguido com
 a vantagem
 de
um
a grande econom
ia de tem
po, tanto na coleta de dados, com
o na sua
transcrição e análise. O
 uso da nom
eação espontânea através de um
 ins-
trum
ento assegura tam
bém
 a possibilidade de realização de com
para-
ções exatas entre crianças, em
 virtude de as am
ostras incluírem
 os m
es-
m
os itens lexicais.
O
s instrum
entos com
 a utilização de desenhos são o m
eio m
ais
adequado para a elicitação da nom
eação espontânea. C
onsiderando-se o
tipo de desenho em
pregado, pode-se dizer que há dois tipos de instru-
m
entos: (a) o instrum
ento com
 desenhos isolados e (b) o instrum
ento
Avaliação Fonológica da C
riança / 13
com
 desenhos tem
áticos. O
 prim
eiro tende a elicitar unicam
ente pala-
vras isoladas, enquanto o segundo, além
 de levar à produção das pala-
vras-chave que constituem
 o próprio instrum
ento, propicia com
entários
sobre as gravuras e facilm
ente conduz à criação de narrações e descri-
ções, levando naturalm
ente a criança à produção de fala encadeada (fala
espontânea); assim
, a am
ostra poderá conter os dois tipos de produção
lingüística: palavras isoladas e frases.
P
elos dados expostos, vêem
-se grandes vantagens no em
prego de
um
 instrum
ento com
 desenhos tem
áticos com
o m
eio para obtenção de
um
a am
ostra lingüística significativa.
1.2 
—
 IN
S
T
R
U
M
E
N
T
O
O
 instrum
ento proposto na A
F
C
 (A
valiação Fonológica da C
rian-
ça) fo
i criado com
 o objetivo de elicitar a am
ostra m
ais representativa
da fala da criança através da nom
eação espontânea. N
esse instrum
ento,
determ
inados princípios orientam
 a seleção e a organização do m
aterial.
H
á cinco desenhos tem
áticos para a estim
ulação de 125 itens que for-
m
am
 a lista de palavras da A
F
C
. Essas palavras, além
 de apresentarem
características óbvias, com
o (a) pertencerem
 ao vocabulário de crianças
a partir de 3 anos, (b) testarem
 os sons desejados e (c) serem
 de fácil
elicitação através de desenhos, foram
 escolhidas de acordo com
 critérios
fonológicos, de form
a que são capazes de apresentar:
1) um
a representação equilibrada do sistem
a fonológico alvo (isto
é, do sistem
a fonológico do adulto);
2) m
ais de um
a ocorrência dos m
ais diferentes tipos de alvos possí-
veis;
3) sons em
 diferentes posições nas palavras e em
 palavras que são
diferentes quanto à estrutura silábica e quanto ao núm
ero de sílabas.
S
ão consideradas quatro posições em
 relação à estrutura da sílaba e da
palavra, com
o já fo
i referido: IS
IP
, IS
D
P
, FS
D
P
 e FS
FP
.
A
 distribuição das 125 palavras do instrum
ento aparece discrim
ina-
da de acordo com
 a elicitação de cada som
 do português relativam
ente a
essas posições no anexo 1.5.1.
O
s cinco desenhos tem
áticos possibilitam
 a elicitação das 125 pala-
vras e, ao m
esm
o tem
po, oportunizam
 a estim
ulação de m
ais dados na
form
a de narrações e descrições. O
s desenhos (anexo 1.5.2) receberam
títulos de acordo com
 o tem
a que focalizam
: V
eículos (V
), Sala (S
),
B
anheiro (B), C
ozinha (C
) e Z
oológico (Z
).
O
 conjunto de desenhos é capaz de elicitar um
a am
ostra represen-
tativa, um
a vez que não é lim
itada, ao contrário da m
aior parte dos tes-
tes de articulação, os quais elicitam
 apenas um
a ocorrência de cada som
alvo.
14 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
O
s 125 itens da A
F
C
 estão divididos em
 97 palavras básicas e 28
palavras opcionais. A
s palavras básicas apresentam
 o núm
ero m
ínim
o de
3 possibilidades de ocorrência para cada consoante do português em
 to-
das as posições que podem
 ocupar na estrutura silábica.
Esse princípio só não fo
i respeitado em
 determ
inados casos, os
quais são explicados a seguir:
—
 /z/ IS
IP
 —
 O
 vocabulário do português apresenta poucos exem
plos
da ocorrência de /z/ no in
ício
 de palavras. E
m
bora as duas palavras pre-
sentes no instrum
ento (zebra e zoológico) não sejam
 elicitadas com
 fa-
cilidade, decidim
os incluí-las, pois as crianças m
aiores, com
 idade supe-
rior a três anos, podem
 —
 e de fato isso ocorre —
 responder positiva-
m
ente a este estím
ulo.
—
 [ c ], [ j ] IS
IP
 e 
IS
D
P
 —
 E
m
bora esses dois sons (consoantes
africadas) sejam
 alofones de /t/ e /d
/ respectivam
ente, consideram
os sua
inclusão im
portante para que se obtenha um
a visão geral da fonologia
da criança. Sua ocorrência pode tam
bém
 ajudar a responder questões
levantadas, na literatura, sobre a disponibilidade das africadas. O
s dese-
nhos estim
ulam
 duas palavras para cada um
 desses sons na posição de
IS
IP
. A
 colocação desse núm
ero fo
i proposital, um
a vez que nossa ex-
periência m
ostrou que o terceiro exem
plo ocorre autom
aticam
ente du-
rante a coleta dos dados: [ c ] é elicitado sem
 qualquer esforço em
 tia e
tio (quando a criança se dirige ao investigador) e [ j ] aparece em
 algum
a
form
a do verbo dizer, com
o em
 digo ou disse etc.
—
 /I/ FS
D
P
 e FS
FP
 —
 U
m
a vez que /I/ é sem
ivocalizado em
 posi-
ção final, os dois exem
plos presentes são suficientes para o investigador.
C
om
 referência ao núm
ero de possibilidades de ocorrência para os
encontros consonantais, a situação é um
 tanto diferente. C
onform
e está
evidente na lista, m
uitos dos encontros têm
 apenas um
 exem
plo, sendo
que alguns até não estão presentes. N
ovam
ente aqui nossa decisão está
em
 concordância com
 
o vocabulário adequado à idade das crianças.
M
esm
o algum
as das palavras com
 encontros incluídas em
 nossa lista não
são totalm
ente adequadas para m
uitas crianças pequenas. E
ntre elas, po-
dem
os cita
r: vidro, dragão, floresta, globo, prego, igreja, cruz, p
o
ltro
n
a
,
trator, estrada, trilh
o
, planta. A
s palavras fruta e brinquedo, aparente-
m
ente fáceis, m
ostraram
-se de d
ifícil elicitação, um
a vez que represen-
tam
 term
os gerais ao invés de coisas específicas.
O
 m
aterial de elicitação da A
FC
 sofreu várias revisões após o seu
em
prego em
 diversos estudos —
 p
ilo
to
 realizados em
 diferentes creches,
testando crianças com
 idade a partir de 2:6.
N
um
a testagem
 de 40 crianças entre 3 e 4 anos de idade, fo
i adota-
do o critério de elicitação de, n
o
 m
ínim
o, 50%
 das palavras básicas. E
n-
tre as palavras que não alcançaram
 essa percentagem
, m
as m
esm
o assim
foram
 m
antidas na lista, estão:
Avaliação Fonológica da C
riança / 15
—
 grupo A
 —
 aproveitam
ento m
uito baixo: abaixo de 20%
F
O
N
E
M
A
 S
IM
P
LE
S
 
E
N
C
O
N
T
R
O
 C
O
N
S
O
N
A
N
T
A
L
zoológico 
8%
 
globo
2%
floresta
16%
planta
16%
—
 grupo B —
 aproveitam
ento entre 38%
 —
 50%
F
O
N
E
M
A
 S
IM
P
LE
S
 
E
N
C
O
N
T
R
O
 C
O
N
S
O
N
A
N
T
A
L
zebra
44%
m
icrofone
38%
placa
38%
fruta
40%
c
ru
z
40%
claro
40%
igreja
44%
dragão
44%
Essas palavras continuam
 na lista e nos desenhos em
 virtude de não
term
os encontrado exem
plos m
ais adequados à linguagem
 das crianças
para a testagem
 desses fonem
as e encontros consonantais. A
 sua m
anu-
tenção é necessária a fim
 de satisfazer o requisito de um
a am
ostra signi-
ficativa fonologicam
ente. C
aso a produção dessas palavras não seja con-
seguida por nom
eação espontânea, o investigador pode usar o processo
de 'im
itação retardada', isto é, dizer a palavra em
 um
a frase, sucedida de
um
a série 
de outras palavras, e, depois, elicitar a sua realização pela
criança.
H
á palavras que não se encontram
 diretam
ente representadas nos
desenhos, exigindo perguntas para a sua elicitação. S
ão elas: dizer (V
),
dois (Z
), frente 
(V
), frio
 
(C
), grande (Z
), la
tir 
(Z
), m
icrofone (V
),
soprar (C
), tia
/tio
 (V
), verde (Z
), zoológico (Z
).
A
lgum
as palavras a serem
 elicitadas por perguntas têm
 relaciona-
m
ento óbvio com
 as gravuras, razão pela qual estão na lista de um
 ou
outro desenho. P
or exem
plo, a palavra la
tir aparece na lista de palavras
relativa 
ao desenho 'Z
oológico', pois está relacionada com
 cachorro;
frio
 aparece na lista da 'C
ozinha' pela relação com
 a geladeira; soprar
(as velas do bolo) aparece tam
bém
 no desenho da 'C
ozinha'.
A
s palavras que não têm
 relação natural com
 qualquer dos dese-
nhos foram
 distribuídas de form
a a não se sobrecarregar um
a ou outra
lista de palavras, tornando equilibrado o núm
ero de elicitações referen-
tes 
a 
todos os 
desenhos. S
ão exem
plos desses casos: m
icrofone (V
),
dizer (V
), tia
/tio
 (V
), frente (V
).
Todos os verbos da lista da A
F
C
 aparecem
 na form
a do in
fin
itivo
,
em
bora na sua m
aior parte ocorram
, na coleta de dados, em
 form
as fle-
xionadas. N
osso interesse nesses verbos reside nas consoantes que ante-
cedem
 o sufixo in
fin
itivo
. P
ortanto, a sua produção com
 diferentes sufi-
xos tem
porais, com
o pulando, brincava etc., não afeta a análise, um
a
16 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
vez que as consoantes anteriores ao sufixo perm
anecem
 inalteradas. A
única exceção a esse princípio está no verbo dizer: nesse caso, a análise
se deterá som
ente na prim
eira consoante, pois a segunda consoante
pode adquirir form
as diferentes, com
o digo [ g ], disse [ s ]. A
 lista se-
guinte ilustra com
 detalhes o que é analisado em
 cada um
 dos verbos:
nadar
nd
IS
IP
IS
D
P
brincar
brk
IS
IP
IS
D
P
latir
c
IS
IP
IS
D
P
andar
d
IS
D
P
soprar
spr
IS
IP
IS
D
P
dirigir
rz
IS
IP
IS
D
P
IS
D
P
dizer
IS
IP
pular
p
IS
IP
IS
D
P
tocar
tk
IS
IP
IS
D
P
voar
v
IS
IP
esperar
spr
FS
D
P
IS
D
P
IS
D
P
olhar
~(
IS
D
P
escovar
s
FS
D
P
com
er
k
IS
IP
kv
IS
D
P
IS
D
P
m
IS
D
P
É necessário salientar que esses verbos constituem
 um
a parte m
ui-
to im
portante da lista de palavras da A
F
C
 e não podem
 ser ignorados no
processo de elicitação. O
s m
ateriais para avaliação têm
, em
 geral, a ca-
racterística de apresentarem
 um
a tendência em
 favor das palavras de
objetos (substantivos) e m
ostram
 núm
ero m
uito m
enor de palavras de
ação (verbos). Isso deve-se, evidentem
ente, à facilidade de representação
das palavras de objetos assim
 com
o à sua m
aior disponibilidade no voca-
bulário, especialm
ente em
 se tratando de crianças m
enores. E
m
bora a
percentagem
 dos verbos na lista da A
FC
 (12%
) seja m
aior do que em
grande parte dos m
ateriais propostos para avaliação (na m
aioria dos ins-
trum
entos essa percentagem
 é inferior a 8%
), ainda está m
uito aquém
do núm
ero desejável (ver a seção sobre im
plicações dos fatores não-fo-
nolpgicos na fonologia —
 C
apítulo 6). P
ortanto, deve ser fe
ito
 todo es-
forço possível para a elicitação dos verbos presentes na lista.
O
 instrum
ento da A
F
C
 deve ser utilizado em
 situações de com
uni-
cação com
 a presença do terapeuta e de cada criança individualm
ente.
O
 m
aterial de testagem
 destina-se a crianças de 3 anos ou m
ais.
Avaliação Fonológica da C
riança 117
V
erificam
os ser viável coletar todas as palavras básicasdo instru-
m
ento em
 um
a única sessão, com
 duração m
édia de 25 a 30 m
inutos;
isso é possível principalm
ente com
 crianças de m
ais de 3:6 (quase a to-
talidade 
da população clínica situa-se acim
a dessa faixa etária). Se o
objetivo é a coleta de dados sobre o desenvolvim
ento norm
al, quando,
então, os sujeitos têm
 idade inferior a 3:6, o investigador pode coletar
o m
aterial em
 duas sessões, pois crianças m
uito pequenas, especialm
ente
com
 m
enos de 3:0 anos de idade, dificilm
ente se m
antêm
 num
a concen-
tração ininterrupta por um
 período de tem
po m
uito prolongado.
P
ara assegurar o uso exitoso do instrum
ento, o investigador deve,
antes da sua aplicação, fam
iliarizar-se com
 o m
aterial da A
F
C
, isto é,
estudar as palavras a serem
 elicitadas e exam
inar cada item
 de acordo
com
 o uso pretendido. C
ada desenho é acom
panhado de um
a folha de
gravação em
 que as palavras estão distribuídas conform
e o seu uso bá-
sico ou opcional (anexo 1.5.3). N
ão há qualquer ordem
 predeterm
inada
para a elicitação das palavras a partir de cada desenho; esse aspecto é
estabelecido de acordo com
 as preferências individuais dos usuários.
1.3 
—
 G
R
A
V
A
Ç
Ã
O
 D
A
 A
M
O
S
T
R
A
C
onform
e é apontado na literatura (G
runw
ell, 1985; S
toel-G
am
-
m
on &
 D
unn, 1985), é de grande im
portância obter-se um
a boa qualida-
de de gravação dos dados conseguidos em
 cada sessão com
 a criança, e,
se possível, realizar-se, sim
ultaneam
ente à gravação, isto é, 'ao vivo', a
transcrição fonética dos dados. C
om
 essa finalidade são fornecidas fo-
lhas de gravação por desenhos. Nessas folhas de gravação, as palavras a
serem
 elicitadas a partir de cada desenho são listadas em
 ordem
 alfabé-
tica. E
m
 cada página, a parte superior é reservada às palavras 'básicas';
as palavras colocadas abaixo 
da linha pontilhada são as 'opcionais'.
Q
uando um
a m
esm
a palavra fo
r produzida m
ais de um
a vez pela criança
e apresentar realizações diferentes, as duas form
as devem
 ser registradas.
Todas as palavras são num
eradas em
 ordem
 alfabética de acordo com
 o
lugar que ocupam
 na lista da A
F
C
; isso facilita a sua transferência para
a ficha de dados da A
FC
. Tam
bém
 fo
i deixado um
 espaço ao final de
cada folha de gravação e da ficha de dados para o registro da fala es-
pontânea elicitada a partir dos desenhos tem
áticos. N
a ficha de dados
as palavras opcionais aparecem
 com
 um
 asterisco (anexo 1.5.4).
1.4 
—
 T
R
A
N
S
C
R
IÇ
Ã
O
 F
O
N
É
T
IC
A
A
 fim
 de tom
ar-se possível o exam
e das generalizações no sistem
a
da criança, é im
portante realizar-se um
a transcrição fonética detalhada
18 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
dos dados. E
m
 alguns casos, o paciente pode em
pregar sons que não são
fonem
as 
do português. Essas 
ocorrências são de 
d
ifícil percepção e
transcrição para os clínicos falantes de português, m
as podem
 indicar
im
portantes generalizações, erros ou aproxim
ações na fala da criança.
O
s sím
bolos usados na A
F
C
 são fornecidos no A
nexo 1.5.5.
1.5 
—
 A
N
E
X
O
S
O
s quatro anexos m
ostrados a seguir constituem
 os elem
entos bá-
sicos do instrum
ento da A
F
C
:
A
N
E
X
O
 1.5.1 —
 A
presenta a discrim
inação dos sons do português,
de acordo com
 a posição que ocupam
 na estrutura das sílabas e das pa-
lavras elicitadas no instrum
ento. As palavras colocadas entre parênteses
são aquelas cuja elicitação é opcional.
A
N
E
X
O
 1.5.2 —
 A
presenta os cinco desenhos tem
áticos do instru-
m
ento da A
F
C
.
A
N
E
X
O
 1.5.3 —
 A
presenta as folhas de gravação correspondentes
a cada desenho.
A
N
E
X
O
 1.5.4 —
 A
presenta a ficha de dados, que contém
 todas as
palavras do instrum
ento colocadas em
 ordem
 alfabética e, ainda, apre-
senta espaço para outras palavras elicitadas na entrevista com
 a criança.
Nessa ficha é registrada a transcrição fonética de todos os dados.
A
lém
 desses anexos, apresentam
os, a seguir, as tabelas correspon-
dentes aos sím
bolos usados para a transcrição fonética:
A
N
E
X
O
 1.5.5 —
 
A
presenta a tabela dos sím
bolos
A
FC
 (A
valiação F
onológica da C
riança).
E recom
endável que o leitor se fam
iliarize tam
bém
bolos fonéticos do A
lfabeto F
onético Internacional (IP
A
nal P
honetic A
lphabet), por serem
 igualm
ente utilizados
desta área.
fonéticos da
com
 os sím
-
-
 Internatio-
na literatura
Avaliação Fonológica da C
riança / 19
1.5.1 —
 Palavras do Instrum
ento
IS
IP
IS
D
P
p
passarinho —
 peixe —
 pedra —
 pa-
lhaço —
 pescoço —
 pular-(porta) —
(perna) —
 (poltrona)
lápis —
 tapete —
 chapéu —
 esperar
(tam
pa) —
 (sapato) —
 (espelho)
b
borboleta 
—
 bicicleta —
 bolso —
banquinho —
 (bolo) —
 (banana) —
(botão)
borboleta —
 sabonete —
 abacaxi —
rabo —
 (cabelo) —
 (globo)
t
televisão —
 tapete —
 toalha —
 to-
car 
—
 
(telhado) 
—
 
(torneira) 
—
(tam
pa)
trator —
 fruta —
 floresta —
 prato
—
 borboleta —
 bicicleta —
 planta
—
 
m
artelo —
 gato —
 (estante) —
(botão) —
 
(porta) 
—
 
(sapato) 
—
(antena)
d
dente —
 dedo —
 dois
dedo —
 guarda-chuva —
 brinquedo
—
 estrada —
 geladeira —
 nadar —
andar —
 (telhado) —
 (roda)
k
calça —
 cobra —
 cam
isa —
 cachor-
ro —
 carro —
 café —
 quadro —
 co-
m
er —
 (cabelo) —
 (cano)
zoológico 
—
 
pescoço —
 
disco —
brinquedo —
 locom
otiva —
 placa
—
 abacaxi —
 banquinho —
 açúcar
—
 
escovar 
—
 
tocar 
—
 
brincar 
—
(âncora)
g
guarda-chuva —
 garrafa —
 gato
prego —
 fogão —
 dragão —
 (fogo)
f
fogão —
 fum
aça —
 feijão-(fogo)
garrafa —
 m
icrofone —
 café
v
verde —
 vela —
 vidro —
 voar
televisão 
—
 
nuvem
 
—
 
chave 
—
guarda-chuva —
 escovar —
 (navio)
—
 (ovo)
s
sabonete —
 sol —
 soprar —
 (sapa-
to) —
 (saia) —
 (sino)
passarinho —
 bicicleta —
 palhaço
—
 criança —
 braço —
 calça —
 bolso
—
 fum
aça —
 pescoço —
 açúcar
z
zebra —
 zoológico
televisão —
 blusa —
 tesoura —
 m
e-
sa —
 cam
isa —
 tnniloinel
20 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
s
chave —
 chapéu —
 chinelo —
 ( cha-
m
iné)
cachorro 
—
 
peixe 
—
 
d
U
d
 
d
A
I 
—
guarda-chuva
/
jornal —
 janela —
 geladeira
relógio —
 igreja —
 zoológico —
 fei-
jão —
 dirigir —
 (azulejos) —
 (fran-
ja)
C
tesoura —
 tigre —
 tia
/tio
sabonete —
 dente —
 frente —
 ta-
pete —
 latir
Y
dinheiro —
 disco —
 dizer —
 dirigir
verde —
 rádio —
 grande
m
m
icrofone —
 
m
artelo —
 
m
esa —
(m
enino)
gram
a —
 fum
aça —
 cam
isa —
 co-
m
er —
 (cham
iné) —
 (arm
ário)
n
nuvem
 —
 nariz —
 nadar —
 (navio)
sabonete —
 jornal —
 janela —
 chi-
nelo —
 m
icrofone —
 (banana) 
—
(cham
iné) —
 (m
enino) —
 (antena)
—
 (poltrona) —
 (sino) —
 (torneira)
—
 (perna)
n
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
passarinho —
 
dinheiro —
 banqui-
nho
R
relógio —
 rádio —
 rabo —
 (roda)
garrafa —
 cachorro —
 carro
r
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
nariz —
 floresta —
 claro —
 tesoura
—
 passarinho —
 esperar —
 dinheiro
—
 
geladeira —
 dirigir —
 orelha —
(arm
ário) —
 (torneira) —
 (âncora)
I
lápis —
 livro —
 latir
chinelo —
 geladeira —
 janela —
 pu-
lar —
 m
artelo —
 relógio —
 vela —
televisão —
 borboleta —
 estrela —
(azulejos) —
 (cabelo) —
 (bolo)
A
X
X
X
X
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X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
palhaço —
 toalha —
 orelha —
 olhar
—
 (trilho) —
 (espelho) —
 (telhado)
Avaliação Fonológica da C
riança / 2
1
FS
D
P
FS
FP
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borboleta —
 guarda-chuva —
 m
ar-
telo —
 verde —
 jornal —
 (porta) —
(arm
ário) —
 (torneira) —
 (perna)
trator —
 flo
r —
 açúcar
s
floresta —
 disco —
 pescoço —
 es-
trela —
 estrada —
 escovar —
 espe-
rar —
 (estante) —
 (espelho)
lápis —
 nariz —
 cruz —
 dois
I
calça —
 bolso —
 (poltrona)
jornal —
 sol
E
N
C
O
N
TR
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S
 C
O
N
S
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planta —placa
pr
prego —
 prato
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bl
blusa
br
braço —
 brinquedo —
 brincar
zebra —
 cobra
tr
trem
 —
 trator —
 (trilho)
estrela —
 estrada —
 (poltrona)
dr
dragão
quadro —
 vidro —
 pedra
kr
criança —
 cruz
m
icrofone
kl
claro
bicicleta
gr
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 grande
tigre —
 igreja
gl
globo
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 frio
 —
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 (franja)
fl
flo
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 floresta
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X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
livro
22 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
1.5.2. —
D
esenhos tem
áticos
Avaliação Fonológica da C
riança / 23
24 / Yavas, H
em
andorena e Lam
precht
Avaliação Fonológica da Criança / 25
41nMflYNn!I~INCI
u~ D1
MNNWiB!iIYMÍI@I".NNN41uhdhNb,'uNmNNON•I iPoNakki,NNn!Ni0PNpexryMllBNi
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1.5.3 —
 Folhas de G
ravação
N
om
e:
Idade:borboleta
cachorro
cobra
com
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dois
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flo
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floresta
gram
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peixe
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zebra
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D
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O
L
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G
I C
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28 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
abacaxi
açúcar
café
estrela
feijão
fogão
frio
fruta
garrafa
geladeira
janela
prato
soprar
vela
vidro
banana
bolo
fogo
ovo
tam
pa
brinquedo
cruz
dinheiro
disco
gato
globo
D
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H
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 II
C
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H
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D
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S
E
N
H
O
 III
S
A
L
A
Avaliação Fonológica da C
riança / 29
guarda-chuva
igreja
jornal
lápis
livro
m
artelo
m
esa
palhaço
planta
prego
quadro
rádio
tapete
televisão
tesoura
antena
botão
estante
franja
poltrona
telhado
banquinho
blusa
bolso
braço
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cam
isa
chave
chinelo
dedo
D
E
S
E
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H
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 IV
B
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H
E
IR
O
30 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
i1
dente
escovar
nariz
pescoço
relógio
sabonete
toalha
esperar
arm
ário
azulejos
cabelo
cano
espelho
m
enino
perna
porta
saia
sapato
torneira
andar
bicicleta
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crianças
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estrada
frente
fum
aça
m
icrofone
D
E
S
E
N
H
O
 V
V
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ÍC
U
L
O
S
Avaliação Fonológica da C
riança / 31
n
a
d
a
r
n
u
ve
m
p
la
ca
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/tio
to
ca
r
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r
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o1.5
.4
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 F
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 de dados
N
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D
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N
9
P
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A
 
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A
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O
O
B
S
.
1
abacaxi
2
andar
3
açúcar
4
* âncora
5
*antena
6 
*arm
ário
7 
azulejos
8
*banana
9 
banquinho
10 
bicicleta
11 
blusa
12 
*b
o
lo
13 
bolso
14 
borboleta
15 
 
*b
o
tã
o
32 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
N
9
P
A
LA
V
R
A
R
E
A
LIZ
A
Ç
Ã
O
O
B
S
.
braco
16
brincar
17
brinquedo
18
* cabelo
19
cachorro
20
café
2122 
calça
23
cam
isa
 
24
*cano
25
carro
26
*cham
iné
chapéu
27 
28
chave
29
chinelo
30
claro
31
cobra
32
com
er
33
criança
34
cruz
35
dedo
36 
dente
37
dinheiro
38
disco
39
dirigir
40 
dizer
41
dois
42
dragão
43
escovar
44
*espelho
45 
esperar
46 
estante
47
estrada
48
estrela
49 
feijão
50 
flo
r
51
floresta
52
fogão
53 
*fogo
54 
* franja
55 
frente
56
frio
Avaliação Fonológica da C
riança / 33
60
61 
62 
63 
6465 
66 
67 
68
gato
geladeira
globo
gram
a
grande
guarda-chuva
igreja
janela
jornal
69 
J 
lápis
70 
latir
71 
livro
R
E
A
LIZ
A
Ç
Ã
O
O
B
S
.
72 
1 
m
artelo
7
3
 
* m
enino
7
4
 
m
esa
7
5 
m
icrofone
7
6
 
1 
nadar
77 
nariz
78 
*navio
79 
1 
nuvem
8
0
 
1 
olhar
81 
orelha
82 
* ovo
8
3
 
palhaço
84 
passarinho
85 
pedra
8
6
 
J 
peixe
87 
pescoço
88 
J 
* perna
89
90
91
placa
planta
92
93
94 
95 
96 
97 
98
* poltrona
* porta
prato
prego
pular
quadro
rabo
rádio
34 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
N
9
P
A
LA
V
R
A
R
E
A
LIZ
A
Ç
Ã
O
O
B
S
.
relógio
99
*roda
100
sabonete
101
*saia
102 
 
103
* sapato
* sino
104
sol
105 
106 
soprar
107
* tam
pa
108 
tapete
109
televisão
110
*telhado
111 
tesoura
112 
tia
/tio
ti•re
113
114 
toalha
115 
tocar
116 
*torneira
117 
trator
118 
trem
119 
`trilh
o
120 
vela
121 
verde
122
vidro
123 
voar
124
zebra
125
zoológico
Avaliação Fonológica da C
riança / 35
e6uiJej
Jelnnn
Ieleled
Jeloanle-oleled
xag.oalad
aeloanld
36 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
C7o--)L
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 + ~ºa
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C,
O
 
i
2
D
escrição fonética
A
 com
unicação lingüística oral realiza-se através de sons produzi-
dos pelo aparelho fonador. O
s órgãos que constituem
 o aparelho fona-
dor são capazes de produzir um
a variada gam
a de sons, dos quais apenas
alguns são usados na fala. A
 fonética é a ciência que estuda as caracte-
rísticas dos sons produzidos pelos órgãos vocais, especialm
ente quando
utilizados para a fala. A
ssim
, o estudo do som
 sob o enfoque fonético
engloba tanto o aspecto articulatório (conjunto de m
ovim
entos produ-
zidos pelos órgãos vocais para a realização de um
 som
), com
o o aspecto
acústico (conjunto de características físicas dos sons da fala). O
s seg-
m
entos fonéticos são graficam
ente representados entre colchetes. E
xs.:
[p
 1
,[t],[e
],[
1
].
O
 inventário fonético de um
a língua é o conjunto de sons ou seg-
m
entos utilizados pelos falantes, incluindo características de diferentes
variedades. N
em
 todos os segm
entos fonéticos têm
 valores fonêm
icos,
pois fonem
as são som
ente os sons que contrastam
 significados em
 um
a
determ
inada língua (ver C
apítulo 3). A
 capacidade fonética de um
 indi-
víduo é, portanto, a sua capacidade de produzir os sons da fala. D
iferen-
tem
ente, a capacidade fonológica é a capacidade de em
pregar um
 som
com
 valor contrastivo.
Toda análise que tem
 por objetivo um
a avaliação lingüística, ou
seja, determ
inar se a linguagem
 de um
a criança está dentro dos padrões
de norm
alidade ou apresenta desvios, deve verificar a sua capacidade
fonética. A
 descrição fonética consiste na verificação dos sons da fala
produzidos pela criança, isto é, no estabelecim
ento do seu inventário fo-
nético. 
Essa 
descrição deve registrar 
todos 
os sons produzidos pela
criança, independentem
ente do seu valor fonológico (ver C
apítulo 3).
Avaliação Fonológica da C
riança / 37
2.1 
—
 IN
V
E
N
T
Á
R
IO
 F
O
N
É
T
IC
O
 D
A
 C
R
IA
N
Ç
A
O
 inventário fonético da criança pode ser determ
inado de acordo
com
 as categorias tradicionais de descrição fonética: de acordo com
 o
m
odo de articulação, o ponto de articulação e a sonoridade. A
 classifi-
cação dos sons consonantais usados pelos falantes de português pode ser
estabelecida pelas seguintes categorias:
(a) 
m
odo de articulação —
 quanto a essa categoria, que se refere
ao tip
o
 de obstrução que ocorre no trato vocal, um
a consoante pode
ser:
—
 plosiva
—
 fricativa
—
 africada
—
 nasal
—
 líquida
não-lateral
(b) 
p
o
n
to
 de articulação —
 quanto à região do trato vocal em
 que
o som
 é produzido e os órgãos que se articulam
 para essa produção,
um
a consoante pode ser:
—
 labial
—
 dental/alveolar
—
 palatal
[la
te
ra
l
r bilabial
l abi oden tal
r dental
L alveolar
C
palato-alveolar
palatal
—
 velar
(c) 
sonoridade —
 quanto à ausência ou presença de vibração das
cordas vocais quando da passagem
 do ar pela laringe, um
a consoante po-
de ser:—
 surda
—
 sonora
Essa categorização, além
 de m
ostrar-se extrem
am
ente acessível, é
capaz de fornecer ao clínico valiosas inform
ações com
 referência à ca-
pacidade fonética de um
a criança.
38 / Yavas, H
em
andorena e Lam
precht
2.2 
P
R
O
C
E
D
IM
E
N
T
O
S
 P
A
R
A
 A
 D
E
S
C
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A
A
 descrição 
e
s
c
s
 
fonética
lingüística a
tra
vé
sd
le
va
n
ta
m
e
n
to
tra
n
s-
crita 
dos
sons produzidos na 
 da crian 
qual deve ser 
 
em
 sím
bolos
fonéticos. Apesar
sim
plicidade
identificação,'
a a
á
lise
fo
n
é
tca
p
o
d
e
 s
e
rfa
td
a
 pelo em
prego de duas fichas:1a) 
F
IC
H
A
 D
F
-1 (D
escrição F
onética-1) —
A
presentação das rea-
lizações das consoantes. R
epresenta o prim
eiro passo para a descrição
fonética: registra a produção que a criança apresenta de todos os sons
consonantais da língua, isto é, os sons produzidos de form
a certa, os
om
itidos e os substituídos. A
lém
 disso, essa realização dos sons da fala
é discrim
inada de acordo com
 a posição que podem
 ocupar na estrutura
da sílaba e da palavra em
 português: IS
IP
, IS
D
P
, FS
D
P
, FS
FP
.
As colunas referentes a cada um
a dessas quatro posições aparecem
tripartidas, encabeçadas pelos sím
bolos:
—
 C
 (=
C
orreto) 
—
 nessa coluna deve ser registrado o núm
ero de
vezes em
 que a consoante fo
i realizada corretam
ente.
— 
(= O
m
issão) 
—
 nessa coluna deve ser registrado o núm
ero de
vezes em
 que a consoante fo
i om
itida.
—
 E (= E
rrado) 
—
 nessa coluna deve ser registrado o núm
ero de
vezes em
 que a consoante fo
i realizada de form
a errada, isto é, o núm
e-
ro de vezes em
 que fo
i substituída: coloca-se o som
 (ou os sons) que su-
bstituiu (ou substituíram
) a consoante, com
 o núm
ero dessas substitui-
ç ões.1O
 registro desse núm
ero de realizações, om
issões ou substituições
pode ser feito com
 
os do 
pequenosin riscos
(observar,
te se
H
 ema ,2 com
o exem
plo, a ficha
preenchida com
 os d
2a) 
F
IC
H
A
 
D
F
-2 (D
escrição F
onética -2) —
 R
epresenta a síntese
dos dados para a efetivação da descrição fonética. D
ivide-se em
 duas
a) inventário fonético: apresenta o registro de todos os sons da falapartes:
da criança, de acordo com
 as categorias de m
odo, ponto de articulação
e sonoridade —
 as consoantes surdas ficam
 à esquerda e as sonoras, à
direita (observar a ficha D
F
-2 preenchida com
 os dados de H
). A
s colu-
nas com
 a designação de "o
u
tro
" aparecem
 em
 virtude da possibilidade
de um
a criança, tanto norm
al com
o com
 desvios, apresentar consoantes
produzidas com
 articulação diferenciada das categr orias
a alis pre
om
 fissura 
tas. U
m
exem
plo é a produção da plosiva glotal [ ? ] p
de
palato.b) realizações de encontros: apresenta o registro dos encontros
consonantais, discrim
inando a posição que ocupam
 na estrutura da síla-
ba e da palavra. C
onsidera- se encontro consonantal a realização de duas
consoantes na m
esm
a sílaba. E
m
 português esses encontros só ocorrem
Avaliação Fonológica da C
riança / 39
em
 duas posições —
 IS
IP
 e IS
D
P
 —
 e com
 a união de "plosiva ou fricati-
va labial + líq
u
id
a
".
A
 im
portância da descrição fonética decorre da relação existente
entre a capacidade fonética e a capacidade fonológica. O
 prim
eiro passo
em
 toda análise lingüística deve ser a descrição fonética: se os sons não
são produzidos, o contraste fonológico fica prejudicado.
2.3 
—
 E
X
E
M
P
LO
A
 seguir, um
 exem
plo de descrição fonética é apresentado com
 os
dados do "Inform
ante H
". Esses dados foram
 obtidos através do instru-
m
ento aqui proposto e aparecem
 na já referida "fich
a
 de dados". O
s da-
dos do "Inform
ante H
" serão utilizados tam
bém
 nos C
apítulos 3, 4 e 5
para exem
plificar a realização dos diferentes tipos de análises lingüísti-
cas apresentadas neste livro.
1 S
om
ente não são com
putadas co
m
o
 substituições aquelas decorrentes de "a
ssim
ila
çã
o
" (ver
5
.1
.2
), u
m
a
 vez que esse tip
o
 de substituição não integra o sistem
a fo
n
o
ló
g
ico
 da criança p
o
is é
derivada d
o
 co
n
te
xto
 lin
g
ü
ístico
. E
x.: banana 
- 
[ m
anãna J (b 
' 
m
 por assim
ilação nasal)
40 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
F
IC
H
A
 D
E
 D
A
D
O
S
N
om
e: H
Idade: 7
2
D
ata da coleta: 9/87
O
bs.:
N
o
P
A
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A
R
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A
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A
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O
O
B
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abacaxi
2
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4
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5
* antena
6
* arm
ário
7
*azulejos
8
*banana
banãna
9
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pã ri kinu
b
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p
10
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bisiketa
kl -> k
b
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12
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o
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b
 
p
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pow
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s
14
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15
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potãw
p
16
braço
17
brincar
b
i r) ku
br -> b
->
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brinquedo
p
i r) kedu
br 
p
->
19
* cabelo
kapelu
b 
pI
20
cachorro
ka
o
lu
R
21
café
kafE
22
calça
kaw
"a
s -> s
23
cam
isa
24
* cano
25
carro
kalu 
R —
 I
26
*cham
iné
27 
chapéu
sapecaAvaliação Fonológica da C
riança / 41
N
om
e: H
Idade: 7 2
D
ata da coleta: 9/87
O
bs.:
N
q 
P
A
LA
V
R
A
R
E
A
LIZ
A
Ç
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O
O
B
S
.
28
chave
safi
v —
 f
29 
chinelo
`sinelu
30
claro
kalu
k
l -> 
k
r ->
1
31 
cobra
koba
br ->
 b
32 
com
er
33
criança
k
iã
%
kr->k
s--> s
3
4
c
ru
z
kus
kr ->
 k
s ->s
35
dedo
tetu
d ->
 t
d
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36
dente
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d —
 t
37 
dinheiro
jinelu
r--> I
38
disco
V
.
:
 
c
s -+
i.
39
dirigir
cirisTndu
j --> c
z
-->
s
40
dizer
41
dois
toys
d
 -> t
s
-> s
42
dragão
dagãw
dr—
* d
43
escovar
iskofa
v ->
 f
44
*espelho
ispelu
s -> s
A ->
 I
45
esperar
is`pelãndu
s ->
 s
r
-> I
46
'° estante
47
estrada
istada
s -> s
tr '
 t
48
estrela
is tela
s -> s
tr -> t
49 
feijão
fesãw
i->
 s
50
flo
r
fo
ff -> f
r -+
 iA
42 / Yavas H
em
andorena e Lam
precht
N
om
e: H
Idade: 7 2
D
ata da coleta: 9/87
O
bs.:
N
9
P
A
LA
V
R
A
R
E
A
LIZ
A
Ç
Ã
O
O
B
S
.
51
floresta
52
fogão
fo
 kã w
g -> k
53
* fogo
54
*franja
55
frente
56
frio
57
fruta
58
fum
aça
fum
aça
s -> s
59
garrafa
kalafa
g
 
k
R
 
I
60
gato
katu
g ---> k
61
geladeira
se late la
z
->
s
d -> t
r - >
l
62
globo
63
gram
a
64
grande
-•
gãnji. ti kãn li
gr -> g
gr 
> k
65
guarda-chuva
kadasuva
g
-> k
r —
 k 
66
igreja
igeza
gr --> g
67
janela
'anela
z
->
s
68
jornal
'ona w
í
 -
69
lápis
lapis
s -> s
70
latir
71
livro
I ivu
vr -> v
72
m
artelo
m
at e lu
r -> cp
1 . 73
* m
enino
74
m
esa
m
eia
z -> Z
75
m
icrofone
76
nadar
77
nariz
nalis
r ->
 1
s ->
s
Avaliação Fonológica da C
riança / 43
N
om
e: H
Idade: 7:2
D
ata da coleta: 9
/8
7
O
bs.:
N
9 
P
A
LA
V
R
A
R
E
A
LIZ
A
Ç
Ã
O
O
B
S
.
78 
*_navio
79 
nuvem
nufé9
v ->
 f
8
0
 
olhar
8
1
orelha
oleia
r 
I
X -> 1
82 
*ovo
8
3
palhaço
paiasu
A -> I
s ->
s
8
4
passarinho
pasalinu
s -> s
r-> I
85
pedra
peda
dr -> d
8
6
 
peixe
pesi
87
pescoço
peskosu
s -> s
s ->
s
88
*perna
pena
r
-*q5
89 
placa
9
0
planta
p
a
ta
p
l -› p
91
* poltrona
92
*p
o
rta
pata
r -> çb
9
3
prato
patu
pr ->
 p
94
prego
peku
pr 
p
9
->
k
95
pular
9
6
quadro
97
rabo
abu
R
 -> q5
98
rádio
ajyu
R
 -> çb
99
relógio
100
*roda
ada
R
-*0
101
sabonete
saponeci
b --> p
102
*saia
saya
s —
 s
103 
*sapato
sapatu
s -* s
104
*sino
sinu
s ->
s
44 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
N
om
e: H
Idade: 7:2
D
ata da coleta: 9/87
O
bs.:
N
9 
P
A
LA
V
R
A
R
E
A
LIZ
A
Ç
Ã
O
O
B
S
. ,
105
sol
"saw
s ->
s
106
soprar
sopãndu
s -> s
pr-› p
107
* tam
pa
108
tapete
109
televisão
civizãw
 *
z -> i
110
*telhado
teladu
i( -> 1
111
tesoura
cisola
z -
 s
r-> I
112 
tia
/tio
cia
113
tigre
cigi
gr ->
 g
. 114
toalha
115 
tocar
116
*torneira
tonela
r -> 0
r --> I
117
trator
tato
tr 
t
118
trem
té9
tr ->
 t
119
*trilh
o
120
vela
-tela
v
-> f
121
verde
veji
r
-
0
122
vidro
123
voar
foa
v ->
 f
124
zebra
sepa
z ->
 s
br ->
 p
125
zoológico
126
barco
paku
b --> p
r->
0
127
brabo
babu..papu
br ->
 b
br —
 p
128
bicho
pis 
b 
p
129
cadeira
katela
d -> t
r -->
l
130
caderno
katenu
d ->
 t
r
->
0
*P
alavra polissílaba -+
 trissílaba.
Avaliação Fonológica da C
riança / 3
N
om
e: H
Idade: 7:2
D
ata da coleta: 9/87
O
bs.:
N
9
P
A
LA
V
R
A
R
E
A
LIZ
A
Ç
Ã
O
O
B
S
.
131
cavalo
kafalu
v —
 f
132
chego
seku
g -> k
133
chorando
solãndu
r -> 1
134
desenho
tezefiu
d —
 t
135
dorm
ir
tu
m
i
d ->
 t
r ->
¢
136
escolher
iskoA
e
137
era
e la
r ->
 1
138
frigideira
fisitela
fr -> t
i->
 'í
r ->
l
139
gosto
g A
tu
 ^- k3"stu
s ->s
g ->
k
140
gigante
sigãnci
i->
141
ganhei
kãney
g
 ->
 k
142
preso
pesu
pr ->
 p
i' ->
143
sofa
B
ofa
s ->
144
são
sã w
s --
145
vez
fes
v -
 f
146
veio
feyu
v —
* f
147
vejo
fe'su
v -> f
1
->
 s
4.6 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
FICHA DF-1 
aL
LC/7
L
L
❑
LU
L
ULU~U
aoN
LUU
❑
Co_L
O❑o
L0
CL
C
L
LC❑><n L
C
. 
C
 -
>N
T
y
 
>
N
T
N
 _
L
O~
O
O
0
 ❑
❑OO
C
1~
w-aU
LO
OQL
L
Oi-~
O
O
E
. O
L0
N
m
C
L
L
L
L
C
L 
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"O
 
>
 
H
 
N
,
 T
N
cC 
E 
c )c
>
U
J
Avaliação Fonológica da Criança / 47
N
om
e: H
D
ata: 
9/87
F
IC
H
A
 D
F
-2
IN
V
E
N
T
Á
R
IO
 FO
N
É
TIC
O
Idade: 7
: 2
labial
dent/alv
Pal
Velar
outro
plosiva
p
b
t
d
k
g
fricativa
f
v
s
z
s
z
africada
c
.1
nasal
m
n
R
líquida la
t
I
Á
não-lat.
r
glide
w
y
w
outro
48 / Yavas, H
em
andorena e Lam
precht
R
E
A
LIZ
A
Ç
Õ
E
S
 D
O
S
 E
N
C
O
N
TR
O
S
IS
IP
IS
D
P
C
(1)
E
C
cP
E
P I- 1
P1
pr
P
P
I
br
bl—
P r
b PI
bl
b
I
tr
t r
.
t i—
tidr
d
I
d I
kr 
k I—
kI
kl9 
~
k
I9 r
gr
k I
glfr
f I
fl 
f I
vr
v
l
Avaliação Fonológica da Criança / 49
3
A
nálise contrastiva
A
 aquisição de um
a língua im
plica o dom
ínio de duas capacidades:
a fonética (referente à realização dos sons) e a fonológica (referente ao
em
prego dos sons com
 valor contrastivo). O
s fonem
as são unidades dis-
tintivas em
 um
a língua, isto é, que têm
 a propriedade de distinguir signi-
ficados. A
ssim
, diz-se que /f/ e /v/ são fonem
as do português porque
contrastam
 palavras de significados diferentes. E
x.: /fala/ e /vala/. O
s
fonem
as são representados graficam
ente entre barras (/p
/, /t/, /I/), dife-
renciando-se 
das 
realizações 
fonéticas, as quais, com
o já se verificou
(C
apítulo 2), aparecem
 entre colchetes.
O
 sistem
a fonológico de um
a língua é o conjunto de seus fonem
as,
isto é, o grupo relativam
ente pequeno de sons que são em
pregados com
valor distintivo. A
 fonologia é a ciência que estuda os fonem
as e a m
a-
neira com
o eles se organizam
 e se relacionam
, além
 das regras a que es-
tão sujeitos a fim
 de form
arem
 unidades lingüísticas m
aiores, com
o as
sílabas e as palavras.
P
ara adquirir um
a língua, a criança tem
 de dom
inar o inventário
fonético e o sistem
a fonológico considerados com
o padrão, isto é, a
norm
a encontrada na m
édia do falante adulto de sua com
unidade lin-
güística. É o fato de com
partilhar-se o m
esm
o inventário fonético e o
sistem
a fonológico que perm
ite a com
unicação lingüística. V
erifica-se
um
 desvio lingüístico quando há deficiências de natureza fonética e/ou
fon ol ógica.
S
endo as capacidades fonética e fonológica diferentes, pode ocor-
rer que um
a criança com
 capacidade fonética plena apresente problem
as
fonológicos, isto é, problem
as quanto ao em
prego adequado da organi-
zação do sistem
a fonológico da sua língua.
50 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
U
m
 desvio é puram
ente fonético quando sons individuais são arti-
culados incorretam
ente, m
as o sistem
a fonológico (o sistem
a de contras-
tes) perm
anece intacto. Esse tip
o
 de desvio norm
alm
ente tem
 um
a cau-
sa orgânica identificável, isto é, um
a base física ou m
ecânica.
U
m
 desvio é do tip
o
 fonológico quando o sistem
a de contrastes do
falante falha na correspondência com
 o do adulto norm
al, isto é, o pa-
drão da com
unidade lingüística. N
ão há dúvidas de que um
 desvio de
base física pode causar m
odificações no sistem
a fonológico, m
as tam
-
bém
 
há 
desvios fonológicos sem
 qualquer 
etiologia aparente; é esse
tipo de problem
a que, com
o já fo
i referido (C
apítulo 1), recebe o nom
e
de "desvio fonológico evolutivo". A
 criança com
 desvio fonológico evo-
lutivo, em
bora sem
 problem
a 
orgânico detectável, caracteriza-se por
apresentar um
 sistem
a fonológico diferente da norm
a, podendo tam
bém
apresentar um
 inventário fonético incom
pleto em
 relação ao padrão da
sua com
unidade lingüística. Q
uando são detectadas deficiências fonéti-
cas e fonológicas, a terapia tem
 de auxiliar a criança a "co
n
stru
ir" os
sons usados na língua e, para resolver o problem
a fonológico, tem
 de
"trabalhar na organização dos fonem
as", os quais estabelecem
 o sistem
a
de unidades contrastivas daquela língua.
3.1 
—
 F
U
N
D
A
M
E
N
T
O
S
 D
A
 A
N
A
LIS
E
 C
O
N
T
R
A
S
T
IV
A
A
 análise contrastiva é um
 procedim
ento que, para detectar um
desvio fonológico, tem
 com
o princípio básico a com
paração do sistem
a
da criança com
 o sistem
a padrão, que é o alvo a ser adquirido.
S
abendo-se que m
esm
o a criança com
 deficiência fonológica apre-
senta um
 sistem
a —
 as suas produções não são aleatórias, m
as consisten-
tes e sistem
atizadas (C
apítulo 1) —
, tem
-se de verificar de que form
a
esse sistem
a que lhe é próprio se relaciona com
 o sistem
a padrão, ou
seja, é preciso verificar quais as m
odificações que a criança produz nesse
sistem
a padrão, ao qual ela está constantem
ente exposta pelo contato
com
 outras pessoas da com
unidade em
 que está inserida. O
 fundam
ento
da análise contrastiva, portanto, é a com
paração do sistem
a da criança
com
 o sistem
a alvo, o qual ela tem
 de adquirir para conseguir com
uni-
car-se adequadam
ente. Essa com
paração, no entanto, não se faz entre
tipos de pronúncias individuais nem
 se restringe a determ
inadas pala-
vras; a com
paração é feita entre a form
a de organização de dois sistem
as
fonológicos: o da criança e o padrão da sua com
unidade lingüística.
Para essa com
paração, a análise contrastiva avalia tanto o inventário fo-
nético com
o o sistem
a de fones contrastivos (sistem
a fonológico).
C
onsidera-se o seguinte o inventário fonético padrão para as con-
soantes do português (com
 base na região brasileira em
 que foram
 reali-
zadas as pesquisas destes autores):
Avaliação Fonológica da C
riança / 51
P
LO
S
IV
A
F
R
IC
A
T
IV
A
A
F
R
IC
A
D
A
N
A
S
A
L
LA
T
LIQ
U
ID
A
 
N
Ã
O
L
A
T
G
LID
E
w
D
E
N
T
/A
LV
t 
d
5 
Z
nr
c
nv
Q
uadro 1 —
 Inventário fonético padrão dos segm
entos consonantais do português
Esse inventário fonético registra a tendência m
arcante, em
 m
uitas
regiões do B
rasil, à palatalização de [ t ] e [ d ] antes de [ i ], que se tra-
duz nestas regras:
(a) 
t 
-- 
c 
/ — i
(b) 
d - 
j 
/ —
 i
O
 cham
ado "r fo
rte
" realiza-se com
o fricativa velar, representado
pelo sím
bolo [ R ]. Sabe-se que o "r fo
rte
" do português apresenta di-
ferentes variantes fonéticas. E
scolheu-se aqui representá-lo pelo sím
bo-
lo
 [ R ] —
 em
bora no A
lfabeto F
onético Internacional essa seja a m
arca
da líquida uvular surda —
 pela relação visual que possibilita estabelecer-
se com
 o "r fraco", representado por [ r ]. A
 literatura não tem
 conse-
guido unanim
idade na representação do "r fo
rte
" e m
uitos são os casos
do em
prego do sím
bolo [ R ] em
 estudos sobre o português. A
ssim
, nes-
te m
anual, [ R ] é usado para representar qualquer das variantes fonéti-
cas do "r fo
rte
": [ x ], [ y ], [ X ], [ ts 
], [ h ]. C
onseqüentem
ente, o sím
-
bolo entre barras /R
/ representa o fonem
a do português que pode apre-
sentar todas essas diferentes realizações fonéticas.
Esse quadro resum
e o inventário fonético do português e os sím
-
bolos aqui apresentados são os que devem
 ser utilizados na transcrição
fonética da linguagem
 das crianças. N
o entanto, tem
-se de salientar que,
quando há a produção de vogais nasalizadas no FS
D
P
, aparece um
 tra-
vam
ento nasal, que apresenta as variações alofônicas [ n ], [ m
 ] e [ r] ],
52 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
dependendo da consoante que as seguem
 (respectivam
ente: dental/al-
veolar, bilabial e velar). E
xem
plos:
tanto
tam
pa
sanga
[ tãntu ]
[tãm
pa]
[ sãrlga ]
N
o FS
FP
, as vogais nasalizadas se ditongam
, com
 exceção da vogal
/a/. E
xemplos.
lã 
[lã
]
tem
 [ téy ]
som
 [ sõw
 ]
O
 sistem
a fonológico padrão deve ser proposto, a fim
 de atender
m
ais eficazm
ente a objetivos clínicos, a partir de um
a abordagem
 polis-
sistêm
ica (G
runw
ell, 1982), a qual, em
 lugar de apenas listar os fonem
as
da língua, estabelece o conjunto de fones contrastivos, considerando o
seu em
prego em
 relação às possibilidades de funcionam
ento na estrutu-
ra da sílaba e da palavra. A
 im
portância dessa abordagem
 já fo
i confir-
m
ada em
 pesquisas que com
provaram
 um
 tratam
ento diferenciado dos
fonem
as em
 decorrência da posição na estrutura da sílaba e da palavra
(C
apítulo 1).
C
om
 relação ao "r fo
rte
", em
bora no inventário fonético esteja ca-
tegorizado com
o fricativa velar, no sistem
a de fones contrastivos é con-
siderado com
o líquida, pois o com
portam
ento fonológico de /R
/ identi-
fica-se com
 o das líquidas.
E
m
 razão de polêm
icas geradas em
 torno das nasais, essas não fo-
ram
 consideradas em
 posição final.
N
a região das pesquisas dos autores, assim
 com
o em
 m
uitas regiões
do B
rasil, 
o sistem
a padrão dos fones contrastivos consonantais não
apresenta /I/ no FS
D
P
 e no FS
FP
, porque, nessas posições, há a sua se-
m
ivocalização, aplicando-se a regra:
E
xs.: F
O
R
M
A
 E
S
C
R
IT
A
 
T
R
A
N
S
C
R
. F
O
N
.
I 
-> 
w
/ —
 [
#
alto
sol
[ aw
tu ]
[ spw
Avaliação Fonológica da C
riança / 53
m
cc
)N
zc
-o
N
4-4
C
_C2
>~
E
LrY
N
-O~-+
C
.n
E
L
L
0C
f)
L
L
54 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
Logo, esse sistem
a fonológico deve incluir /I/ nas referidas posições
som
ente quando é feita a análise de com
unidades que utilizam
 essa va-
riante lingüística.
O
 fone contrastivo /s/ em
 FS
D
P
 e FS
FP
 realiza-se com
o [ s ] antes
de consoante [ —
sonora ] e com
o [ z ] antes de consoante [ + sonora ]
ou antes de vogal.
E
xs.: F
O
R
M
A
 E
S
C
R
IT
A
 
T
R
A
N
S
C
R
IÇ
Ã
O
 
F
O
N
É
T
IC
A
festa 
[fe
sta
]
fantasm
a 
[ fã ntazm
a]
E
m
 algum
as regiões do B
rasil, nesses dois contextos referidos, /s/
apresenta, respectivam
ente, os alofones [ s` ] e [ z ].
3.2 
—
 P
R
O
C
E
D
IM
E
N
T
O
S
 P
A
R
A
 A
 A
N
A
LIS
E
 C
O
N
T
R
A
S
T
IV
A
Para a realização da análise contrastiva, utilizam
-se quatro fichas
(duas de descrição fonética e duas de análise fonológica):
F
IC
H
A
 1 —
 R
ealizações 
dos 
segm
entos 
consonantais. 
É a 
ficha
D
F-1, isto é, a prim
eira ficha usada na descrição fonética (ver C
apítulo
2);
F
IC
H
A
 2 —
 Inventário fonético e realizações de encontros. É
 a fi-
cha D
F
-2, isto é, a segunda ficha usada na descrição fonética (ver C
apí-
tulo 2);
F
IC
H
A
 3 —
 V
ariabilidade de produção. É a prim
eira ficha da análi-
se contrastiva (A
C
-1): contém
 o registro das ocorrências e possibilidades
das substituições e om
issões realizadas pela criança, com
 o cálculo das
percentagens, e com
 a diferenciação das posições relativam
ente à estru-
tura da sílaba e da palavra;
F
IC
H
A
 4 —
 S
istem
a 
de fones contrastivos. E a segunda ficha da
análise contrastiva (A
C
-2
): contém
 o sistem
a fonológico em
pregado pela
criança, registrando os contrastes, as substituições e as om
issões por ela
produzidos, discrim
inando-se as posições quanto à sílaba e à palavra.
O
 preenchim
ento da ficha A
C
-2 é fe
ito
 com
 a observação das fi-
chas anteriores e, quanto às substituições e om
issões, de acordo com
 a
ficha A
C
-1, segue-se este crité
rio
:
(1) 
acerto in
fe
rio
r a 50%
 —
 a criança não possui o fone contrasti-
vo; registra-se o fone que o substitui ou, se fo
r o caso, o sím
bolo de
om
issão ((t) ).
(2) 
acerto de 51%
 a 75%
 —
 a criança possui o fone contrastivo
em
 concorrência com
 o que o substitui; registram
-se os dois ou três fo-
nes contrastivos concorrentes.
Avaliação Fonológica da C
riança / 55
(3) 
acerto de 76%
 a 85%
 —
 a criança já adquiriu o fone contras-
tivo
; registra-se, agora entre parênteses, o fone ainda em
pregado em
 sua
substituição.
(4) 
acerto de 86%
 a 100%
 —
 o fone contrastivo fo
i efetivam
ente
adquirido pela criança.
3.3 
—
 E
X
E
M
P
LO
U
m
 exem
plo da realização da análise contrastiva é apresentado a
p
a
rtir da descrição dos dados do "In
fo
rm
a
n
te
 H
".
Lem
bram
os que os prim
eiros passos para essa análise são: aplicação
do instrum
ento e registro da produção lingüística da criança na ficha de
dados. 
D
epois tem
 de ser feita a descrição fonética através do uso das
fichas D
F
-1
 e D
F
-2. A
 seguir, então, são usadas as fichas A
C
-1
 e A
C
-2.
56 / Yavas, Hernandorena e Lam
precht
FICHA DF-1 - REALIZAÇÕES DAS CONSOANTES 
FSFP Lu
E>~,
-e-
L
U
—
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FSDP w
CN>~
-e.
N
 ❑
U
L
6
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C
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6
—
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L
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L
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-
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C
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P01 II 
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C
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C
-
-
S
L
L
L
C
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a
Q
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T V
>
>
N
CC
E
C
!C
 
—
>
U
 
>
.
Avaliação Fonológica da Criança / 57
N
om
e: H
D
ata: 9/87
F
IC
H
A
 D
F
-2
IN
V
E
N
T
Á
R
IO
 FO
N
É
TIC
O
Idade: 7:2
labial
dent/alv
pai
velar
outro
plosiva
p
b
t
d
k
g
fricativa
f
v
s
z
i
africada
c
J
nasal
m
n
n
líquida lat.
I
Á
não-lat.
r
glide
w
y
w
outro
R
E
A
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A
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k l--
kl
k
I
k
I
gr
g I
k
I
g
l-
gifr
f I
fl
f I
vr
v I
58 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
F
IC
H
A
 A
C
-1
N
om
e: H
Idade:7: 2
V
A
R
IA
B
ILID
A
D
E
IS
IP
IS
D
P
T
O
T
A
L
D
E P
R
O
D
U
Ç
Ã
O
O
c/Poss
%
O
c/Poss
%
O
c/Poss
%
b
~
b
P
2/8
6/8
25%
75%
2/5
3/5
40%
60%
4/13
9/13
30,8%
69,2%
d
0/5
O
9/14
64,3%
9/19
47,4%
d ~
 t
5/5
100%
5/14
35,7%
10/19
52,6%
~11"- g
1
/6
16,7%
2/5
40%
3/11
27,3%
g ~
~
 k
5/6
83,3%
3/5
60%
8/11
72,7%
1
/6
16,7%
2/6
33,4%
3/12
25%
~
~
v
v 
~
~
 f
5/6
83,3%
4/6
66,6%
9/12
75%
s
1/8
12,5%
0/8
O
1/16
6,2%
s 
<
s
7/8
87,5%
8/8
100%
15/16
93,8%
z
0/1
O
1/6
16,7%
1/7
14,3%
s
1/1
100%
0/6
O
1/7
14,3%
Z
0/1
O
2/6
33,3%
2/7
28,6%
z
0
/1
O
3/6
50%
3/7
42,8%
Z'
0/4
O
1/5
20%
1/9
11,1%
z 
 s
4/4
100%
3/5
60%
7/9
77,8%
s
0/4
O
1/5
20%
1/9
11,1%
I
0/3
O
3/3
100%
3/6
50%
R 
0
 
~
3/3
100%
0/3
O
3/6
50%
Á
1/5
20%
1/5
20%
Á 
I
4/5
80%
4/5
80%
r 
.
rI
1/13
12/13
7,7%
92,3%
1/13
12/13
7,7%
92,3%
J
1/3
33,4%
4/4
100%
5/7
71,4%
l 
<
 d
2
/3
66,6%
0/4
O
2/7
28,6%
FS
D
P
FSFP
T
O
T
A
L
 
O
c/Poss
%
O
c/Poss
%
O
c/Poss
%
s
2/10
20%
1/5
20%
3/15
20%
s .
<
s
8/10
80%
4/5
80%
12/15
80%
10/10
100%
2/2
100%
12/12
100%
r 
-..0
.-0
Avaliação Fonológica da Criança / 59
N
om
e: H
D
ata: 9
/8
7
IS
IP
A
C
-2 —
 S
IS
T
E
M
A
 D
O
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 FO
N
E
S
 C
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A
S
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IV
O
S
Idade: 7:2
pp
p(b)
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m
m
n
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k
kg
ff
vfv
ss
zs z (z)
s
z
s)
m
m
n
n
n
n
I 
I
ti
1(Á )
R
r 
1
FS
D
P
FS
FP
0
5 
s (s)
r
O
" O
s quadros referentes a / 1/ no FSD
P e na FS
FP
 devem
 ser desconsiderados nas
variantes do português em
 que há a sua sem
ivocalização.
60 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
F
IC
H
A
 D
F
-2:
O
 inform
ante H
 apresenta um
 inventário fonético quase com
pleto,
só diferenciando-se do inventário padrão por não apresentar a fricativa
velar [ R 1.
O
 inform
ante não produz qualquer encontro consonantal.
F
IC
H
A
 A
C
-1:
O
 quadro referente à variabilidade de produção m
ostra todos os
desvios encontrados na linguagem
 de H
 —
 substituições e om
issões —
 com
a discrim
inação das realizações com
 referência às diferentes posições na
estrutura da sílaba e da palavra e as percentagens de sua ocorrência, o
queperm
ite o estabelecim
ento do sistem
a de fones contrastivos do in-
form
ante. Esse quadro apresenta o registro das ocorrências e possibilida-
des de ocorrência e não só as percentagens para conduzir a conclusões
m
ais seguras: a percentagem
 de 75%
 de um
a substituição, por exem
plo,
pode ter m
ais significação com
 o esclarecim
ento de que houve 15 ocor-
rências em
 20 possibilidades do que no caso de 3 ocorrências em
 4 pos-
sibilidades —
 o m
aior núm
ero de possibilidades leva sem
pre a um
a afir-
m
ação m
ais segura, elim
inando as probabilidades do acaso. A
 coluna
"T
O
T
A
L
" dem
onstra a im
portância da discrim
inação das posições em
relação à estrutura da sílaba e da palavra pois, se olhássem
os som
ente
as percentagens totais, o estabelecim
ento do sistem
a fonológico de H
 se-
ria diferente.
F
IC
H
A
 A
C
-2:
O
 sistem
a de fones contrastivos de H
 é bem
 diferente do padrão,
em
bora seu inventário fonético esteja praticam
ente com
pleto, o que
com
prova que a capacidade fonológica independe da capacidade foné-
ti ca.
A
 im
portância do em
prego da abordagem
 polissistêm
ica, isto é, da
diferenciação dos fones contrastivos de acordo com
 a estrutura da síla-
ba e da palavra, tam
bém
 é facilm
ente com
provada pelos dados de H
: as
plosivas são produzidas com
 m
aior adequação no IS
D
P
 do que no IS
IP
;
o /R
/ é om
itido no IS
IP
 e é substituído por /I/ no IS
D
P
; a fricativa la-
bial /v/ recebe o m
esm
o tratam
ento das plosivas; /s/ com
eça a ser pro-
duzido no IS
IP
 e no IS
D
P
.
O
s problem
as do sistem
a fonológico de H
 são a seguir resum
idos.
A
s plosivas e fricativa labial apresentam
 problem
as de sonoridade
no IS
IP
.
A
s fricativas coronais —
 /s/, /z/, r/, /z/ —
 são um
 grande problem
a
para H
. E
m
bora /z/ e /2"/ n
o
 IS
IP
 tenham
 tratam
ento sem
elhante a /v/ —
são substituídos pelos correspondentes fonem
as fricativos surdos —
, no
IS
D
P
 todas as fricativas coronais apresentam
 variabilidade de produção,
com
 exceção de /s/, que é a fricativa coronal preferida por H
, a qual é
em
pregada para substituir todas as outras. O
 problem
a de sonoridade
tam
bém
 existe entre as fricativas coronais.
Avaliação Fonológica da C
riança / 61
Q
uanto ao em
prego das líquidas, vê-se o uso predom
inante de /I/ —
única líquida com
 produção adequada —
 para substituir todas as outras
líquidas, inclusive /R
/, com
provando o seu funcionam
ento nessa classe
de fonem
as. A
 única exceção é referente a /R
/ no IS
IP
, posição em
 que
é elim
inado ao invés de substituído.
N
o
 final de sílaba, seja FS
D
P
 ou FS
FP
, há a ausência de /r/ em
100%
 das possibilidades e o uso predom
inante de /s/ em
 substituição
a /s/ 
nas 
duas posições, com
o já havia sido observado no IS
IP
 e no
IS
D
P
.A
 
inteligibilidade 
da fala 
de H
 é prejudicada pela plurivalência
dada a alguns fones contrastivos: /s/ é em
pregado para substituir /s/,
/z/ e /z
/; /I/ é em
pregado para substituir todas as outras líquidas: /R
/,
/r/e
/,c
/.
62 / Yavas, H
em
andorena e Lam
precht
4
A
nálise de traços distintivos
O
s sons da língua não são segm
entos indivisíveis, m
as, ao contrá-
rio, são o resultado do conjunto de propriedades que caracterizam
 a sua
produção.
E
x.: /p
/ 
- 
—
 soante 
* 1
—
 silábico
+
 consonantal
—
 contínuo
—
 m
etástase retardada
—
 nasal
—
 lateral
+
 anterior
—
 coronal
—
 alto
—
 posterior
—
 sonoro
—
 estridente
L
 
_
Essas unidades m
ínim
as que se unem
 para a com
posição de um
segm
ento da língua são os traços distintivos. C
ada som
 é, pois, o con-
junto de propriedades ou traços o qual, de form
a coocorrente, o identi-
fica e o distingue de todos os outros sons.
O
s traços distintivos têm
 três funções básicas:
1 O
 anexo 4.3.1 apresenta a m
atriz dos segm
entos consonantais do português segundo o m
o-
delo de C
hom
sky &
 H
alle (19681, e o 4.3.2, as definições de cada traço d
istin
tivo
.
Avaliação Fonológica da C
riança / 63
(a) 
descrever as propriedades articulatórias e/ou acústicas que en-
tram
 na com
posição do som
;
(b) 
diferençar itens lexicais;
(c) 
agrupar os sons em
 classes naturais, isto é, grupos de sons que
m
antêm
 correlação entre si e que sofrem
 as m
esm
as m
udanças fonológi-
cas.
A
o preencher a prim
eira dessas funções, os traços distintivos na
verdade apresentam
, 
de um
a form
a m
u
ito
 m
ais especificada, aquelas
três categorias fonéticas básicas: de m
odo de articulação, ponto de arti-
culação e sonoridade. A
 observância da definição dos traços distintivos
segundo o m
odelo de C
hom
sky &
 H
alle (1968) —
 m
odelo aqui tom
ado
com
o base para a análise (ver A
nexo 4.3.2) —
 facilm
ente leva à identifi-
cação 
do seu enquadram
ento nas referidas categorias ou o relaciona-
m
ento existente entre eles:
C
A
T
E
G
O
R
IA
 F
O
N
É
T
IC
A
—
 M
odo de articulação
—
 P
onto de articulação
—
 S
onoridade
T
R
A
Ç
O
S
 D
IS
T
IN
T
IV
O
S
contínuo
m
etástase retardada
nasal
lateral
estridente
anterior
coronal
alto
posterior
son oro
O
s traços [ soante ], [ silábico ] e [ consonantal ] são cham
ados por
C
hom
sky &
 H
alle de traços de classes principais (1968, p. 301-2) em
virtude de, atendendo aos esquem
as básicos dos m
odos de articulação,
serem
 capazes de estabelecer a principal divisão dos sons da fala: vogais,
consoantes, obstruintes, soantes, glides e líquidas.
A
s 
três referidas funções exercidas pelos traços distintivos m
os-
tram
 a im
portância da subdivisão dos sons da fala em
 unidades m
enores.
O
s estudiosos da fonologia sentiram
 a necessidade de abrir os sons e seg-
m
entá-los em
 unidades m
ínim
as distintivas porque a divisão tradicional
em
 "consoantes" e "vogais" não é capaz de revelar aspectos fundam
en-
tais responsáveis pelo funcionam
ento de um
a língua, com
o, por exem
-
plo, processos de assim
ilação, distâncias fonéticas e a existência dos cha-
m
ados sons interm
ediários (entre consoantes e vogais), que são as líqui-
das e os gl i des.
Pode-se exem
plificar a im
portância do em
prego dos traços distinti-
vos com
 um
 processo assim
ilatório m
u
ito
 com
um
 no português:
64 / Yavas, H
ernandorena e Lam
precht
t 
~
-
>
/
 
—
 
[i]
Y
d 
1
Leia-se: as consoantes t e d
 passam
 respectivam
ente para c
 e jantes da
vogal i. U
sando-se os sons sem
 subdividi-los em
 traços distintivos, não
há com
o verificar a razão ou a naturalidade dessa m
udança. N
o entanto,
em
pregando - se os traços distintivos tem
-se que:
—
 soante
—
 contínuo
—+ m
et. ret.
+
 anterior
+ coronal
—
 alto
—
 posterior
P
ortanto, as
—
 anterior
+
 coronal
+
 alto
alta
—
 posterior
->plosivas
soante
contínuo
m
e
t ret.
anterior
coronal
alto
posterior
+
 anterior
+
 coronal
—
 alto
+
 soante
+
 silábico
+
 alto
—
 posterior
passam
 para africadas
(pois não há plosivas 
[—
a
n
te
rio
rl ) antes de vogal
+
 coronal 1
C
om
 relação às noções de distância ou sim
ilaridade fonética, essas
tam
bém
 só podem
 ser explicitam
ente estabelecidas com
 base nos traços
distintivos: dois sons são m
uito sem
elhantes ou m
uito diferentes, depen-
dendo do núm
ero de traços distintivos que têm
 em
 com
um
. A
ssim
, ob-
servando-se a m
atriz dos segm
entos consonantais do português (A
nexo
4.3.1), pode-se com
provar que [ I ] e [ r ] são m
uito sem
elhantes (daí
serem
 substituídos entre si por m
uitas crianças), enquanto [ t ] e [ /~ ]
apresentam
 grande distância fonética (o que tom
a im
provável urna subs-
tituição entre eles).
O
s traços distintivos, portanto, m
ostram
 que os sons da fala não
sofrem
 m
udanças aleatoriam
ente: os processos a que estão sujeitos os
segm
entos ocorrem
 em
 consonância com
 os grupos a que pertencem
 de
acordo com
 os traços distintivos que os com
põem
; a esses grupos dá-se
o nom
e de classes naturais.
F
oi a incapacidade de a fonética e a fonologia

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