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1 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO DIREITO DIGITAL 2 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999 atua no mercado capixaba, des- tacando-se pela oferta de cursos de gradua- ção, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimen- to: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sem- pre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com cons- ciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institui- ções avaliadas no Brasil, apenas 15% conquistaram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MISSÃO Formar profissionais com consciência cida- dã para o mercado de trabalho, com ele- vado padrão de qualidade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores. VISÃO Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci- da nacionalmente como referência em qualidade educacional. GRUPO MULTIVIX 3 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte) As imagens e ilustrações utilizadas nesta apostila foram obtidas no site: http://br.freepik.com Diniz, Fernanda Paula. Direito Digital / Fernanda Paula Diniz ; Vivian Lacerda Moraes. – Serra: Multivix, 2018. EDITORIAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA • MULTIVIX Catalogação: Biblioteca Central Anisio Teixeira – Multivix Serra 2018 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. Diretor Executivo Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretora Acadêmica Eliene Maria Gava Ferrão Penina Diretor Administrativo Financeiro Fernando Bom Costalonga Diretor Geral Helber Barcellos da Costa Diretor da Educação a Distância Pedro Cunha Conselho Editorial Eliene Maria Gava Ferrão Penina (presidente do Conselho Editorial) Kessya Penitente Fabiano Costalonga Carina Sabadim Veloso Patrícia de Oliveira Penina Roberta Caldas Simões Revisão de Língua Portuguesa Leandro Siqueira Lima Revisão Técnica Alexandra Oliveira Alessandro Ventorin Graziela Vieira Carneiro Design Editorial e Controle de Produção de Conteúdo Carina Sabadim Veloso Maico Pagani Roncatto Ednilson José Roncatto Aline Ximenes Fragoso Genivaldo Félix Soares Multivix Educação a Distância Gestão Acadêmica - Coord. Didático Pedagógico Gestão Acadêmica - Coord. Didático Semipresencial Gestão de Materiais Pedagógicos e Metodologia Direção EaD Coordenação Acadêmica EaD 4 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Aluno (a) Multivix, Estamos muito felizes por você agora fazer parte do maior grupo educacional de Ensino Superior do Espírito Santo e principalmente por ter escolhido a Multivix para fazer parte da sua trajetória profissional. A Faculdade Multivix possui unidades em Cachoei- ro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999, no mercado capixaba, destaca-se pela oferta de cursos de graduação, pós-graduação e extensão de qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, tanto na mo- dalidade presencial quanto a distância. Além da qualidade de ensino já comprova- da pelo MEC, que coloca todas as unidades do Grupo Multivix como parte do seleto grupo das Instituições de Ensino Superior de excelência no Brasil, contando com sete unidades do Grupo en- tre as 100 melhores do País, a Multivix preocupa- -se bastante com o contexto da realidade local e com o desenvolvimento do país. E para isso, pro- cura fazer a sua parte, investindo em projetos so- ciais, ambientais e na promoção de oportunida- des para os que sonham em fazer uma faculdade de qualidade mas que precisam superar alguns obstáculos. Buscamos a cada dia cumprir nossa missão que é: “Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de quali- dade, sempre mantendo a credibilidade, segurança e modernidade, visando à satisfação dos clientes e colaboradores.” Entendemos que a educação de qualidade sempre foi a melhor resposta para um país crescer. Para a Multivix, educar é mais que ensinar. É transformar o mundo à sua volta. Seja bem-vindo! APRESENTAÇÃO DA DIREÇÃO EXECUTIVA Prof. Tadeu Antônio de Oliveira Penina Diretor Executivo do Grupo Multivix 5 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Apresentação da Disciplina Seja bem-vindo ao estudo do Direito Digital! Esta é uma disciplina jurídica muito nova e desafiadora que buscará trazer para você, aluno, conhecimentos acerca da interface do Direito e a Informática. Para tanto, estudaremos, num primeiro momento, con- ceitos básicos de Direito de Informática, sua origem e as leis que o regem. Veremos também a sua inter-relação com o instituto da responsabilidade civil, a disciplina dos crimes virtuais, o tratamento legislativo do Direito de autor e Direito de Propriedade Industrial e sua aplicabilidade ao ambiente virtual. Ao fim, estudaremos questões relacionadas à ética no ambiente virtual. Saiba que todo esse conteúdo será muito importante para o seu crescimento profissional, e fazemos votos que vocês gostem muito da disciplina. Objetivos da disciplina Ao final desta disciplina, esperamos que você: • Registre os conceitos básicos de direito digital. • Diferencie as noções de responsabilidade civil e penal. • Discuta a aplicabilidade da responsabilidade civil no ambiente digital. • Identifique as noções de responsabilidade penal e crimes virtuais. • Aplique as noções de crimes virtuais a situações concretas. • Examine os conceitos básicos de propriedade imaterial, intelectual e industrial. • Debata os conceitos de ética na internet e educação digital. 6 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO > FIGURA 1 - A era digital e o direito 13 > FIGURA 2 - Compras digitais 20 > FIGURA 3 - rede de segurança 22 > FIGURA 4 - Internet e os crimes virtuais 49 > FIGURA 5 - A lei e o virtual 52 > FIGURA 6 - Cyberbullying 56 > FIGURA 7 - Patente 67 > FIGURA 8 - Direito do autor 74 > FIGURA 9 - Desenvolvimento de software 77 > FIGURA 10 - Pirataria na internet 82 > FIGURA 11 - Proteção de website 86 > FIGURA 12 - Ética virtual 91 LISTA DE FIGURAS 7 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO SUMÁRIO 1UNIDADE 2UNIDADE 3UNIDADE 1 NOÇÕES ELEMENTARES DE DIREITO DIGITAL 12 1.1 O DIREITO DIGITAL E SUA ORIGEM 12 1.2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA APLICÁVEL AO DIREITO DIGITAL 14 1.2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL 14 1.2.2 CÓDIGO CIVIL (LEI N.º 10.406/2002) 16 1.2.3 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (LEI N.º 13.105/2015) 17 1.2.4 CÓDIGO PENAL E CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 18 1.3 LEGISLAÇÃO ESPARSA 19 1.3.1 LEGISLAÇÃO SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL 19 1.3.2 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DECRETO Nº 7.962/201320 CONCLUSÃO 23 2 RESPONSABILIDADE CIVIL E PENAL: NOÇÕES GERAIS 25 2.1 RESPONSABILIDADE 25 2.1.1 RESPONSABILIDADE CIVIL 26 2.1.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL 27 2.2 ELEMENTOS CONSTITUINTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL: CONDUTA HUMANA, NEXO DE CAUSALIDADE E DANO 28 2.3 RESPONSABILIDADE PENAL 30 CONCLUSÃO 32 3 O MARCO CIVIL DA INTERNET E A RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DIGITAL 34 3.1 O MARCO CIVIL DA INTERNET 34 3.1.1 DIREITOS E GARANTIAS AOS USUÁRIOS 34 3.1.2 NEUTRALIDADE DE REDE 37 3.2 RESPONSABILIDADE POR CONTEÚDOS DE TERCEIROS 38 3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DIGITAL 39 3.3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL 39 3.3.2 COMÉRCIO ELETRÔNICO 39 3.3.3 CONTRATOS ELETRÔNICOS 41 8 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 4UNIDADE 5UNIDADE 3.3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL EM MEIO DIGITAL 43 3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL 44 CONCLUSÃO 46 4 RESPONSABILIDADE PENAL EM ÂMBITO DIGITAL: OS CRIMES VIRTUAIS 48 4.1 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 48 4.2 OS CRIMES VIRTUAIS E SUAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS 49 4.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA APLICÁVEL AOS CRIMES VIRTUAIS 52 4.3.1 LEI Nº 12.737/2012 (LEI CAROLINA DIECKMANN) 53 4.3.2 LEI Nº 12.735/2012 55 4.4 TIPOS DE CRIMES VIRTUAIS EM ESPÉCIE 56 4.4.1 INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO 56 4.4.2 OS CRIMES CONTRA A HONRA (CALÚNIA, INJÚRIA E DIFAMAÇÃO – ARTS. 138 A 140, CP) 57 4.4.3 AMEAÇA (ART. 147, CP): 58 4.4.4 EXTORSÃO (ART. 158, CP): 58 4.4.5 ESTELIONATO (ART. 171, CP): 59 4.4.6 PEDOFILIA: 59 4.4.7 APOLOGIA AO CRIME: (ART. 287, CP): 62 4.4.8 CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: 62 CONCLUSÃO 63 5 PROPRIEDADE INTELECTUAL NO ÂMBITO DA INTERNET: PROPRIEDADE IMATERIAL, INTELECTUAL E INDUSTRIAL 66 5.1 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 66 5.2 OS DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL 67 5.3 OS DIREITOS DE AUTOR 70 5.3.1 INFRAÇÕES AO DIREITO AUTORAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS 74 5.3.1.1 SANÇÕES CIVIS 74 5.3.1.2 SANÇÕES PENAIS 75 5.3.2 A PROTEÇÃO AO SOFTWARE 77 9 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO 6UNIDADE CONCLUSÃO 79 6 O DESRESPEITO AOS DIREITOS AUTORAIS E DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL E ÉTICA NA INTERNET 81 6.1 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 81 6.2 O DESRESPEITO AOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL E DIREITOS AUTORAIS EM ÂMBITO INFORMÁTICO 82 6.2.1 PIRATARIA INFORMÁTICA: A COMERCIALIZAÇÃO ILEGAL DE PROGRAMAS E A UTILIZAÇÃO DE PROGRAMAS SEM LICENÇA DE USO 82 6.2.2 A VIOLAÇÃO DE DIREITOS DE AUTOR 84 6.2.3 PROTEÇÃO DOS WEBSITES NO DIREITO BRASILEIRO E OS NOMES DE DOMÍNIO 86 6.3 2 ÉTICA NA INTERNET 91 CONCLUSÃO 93 REFERÊNCIAS 94 10 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO ICONOGRAFIA ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS 11 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você: > Defina o conceito de Direito Digital. > Entenda a conceituação, origem e sua interdisciplinaridade. > Compreenda a legislação brasileira básica aplicável ao Direito Digital. UNIDADE 1 12 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 1 NOÇÕES ELEMENTARES DE DIREITO DIGITAL As relações pela internet se tornam cada vez mais comuns no mundo atual. O Direito não pode fechar os olhos a essa realidade e, por isso, deve estar atento às repercus- sões jurídicas dessas relações. Assim, nasce o Direito Digital, como um ramo do Direito autônomo, dedicado ao es- tudo das relações perpetradas através do computador. Nesta unidade, estudaremos a legislação aplicável a essa matéria, de grande utilida- de para seu entendimento, o que, certamente, contribuirá em muito para o exercício de sua atividade profissional. 1.1 O DIREITO DIGITAL E SUA ORIGEM A espantosa evolução dos meios de comunicação e o surgimento da internet possibili- taram a milhares de pessoas, das mais diversas partes do mundo, a sua interação, seja trocando mensagens, comprando ou vendendo, tudo de forma aberta, sem controle. O Direito, por natureza, é influenciado pela realidade emergente, fatos e valores, ele- mentos do mundo real. Isso torna latente seu potencial para transformar-se, evoluir- -se. Dessa forma, passa a ser inevitável a ação do Direito no sentido de decidir os lití- gios oriundos das relações virtuais, devendo então ser adaptado à “Era Digital”. A legislação atual é completamente lacunosa a respeito desse tema. Enquanto a tec- nologia da internet se modifica a passos velozes, passando a influenciar a sociedade de maneira geral, nos mais diversos setores (seja entretenimento, economia ou polí- tica), o Direito (especialmente o positivo) caminha vagarosamente, não conseguindo alcançar tais avanços. Ademais, juízes e legisladores, em sua grande maioria, originariamente não possuem conhecimentos técnicos necessários para orientar os conflitos resultantes das situa- ções concretas nascidas da internet, o que dificulta, e muito, a sua solução. Novas 13 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO questões surgem a cada dia, na mesma velocidade da internet, e é tarefa dos juristas desenvolverem um ordenamento capaz de lidar com tais situações. Com o avanço da internet e o crescente fluxo de informações trocadas todos os dias, por meio da rede mundial de computadores – seja de natureza pessoa, nas redes so- ciais; seja de natureza comercial, como as compras feitas em sites de livrarias e lojas de móveis, por exemplo – conceitos e situações antes tão simples e de fácil análise, acabam se tornando complexas. Alguns exemplos disso são as questões envolvendo liberdade de expressão em redes sociais, blogs e sites pessoais – tudo que se fala e se posta nesses locais se torna público e eterno. Muitas pessoas acabam por abusar de seu direito constitucional de expressar o que pensa. A validade dos acordos e con- tratos eletrônicos não ocorre da mesma forma que um contrato escrito, pois não há manifestação física desse acordo, além das dificuldades de se encontrar e responsa- bilizar aqueles que cometem fraudes, furto de dados, crimes de ódio na rede. FIGURA 1 - A ERA DIGITAL E O DIREITO Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. Por tudo isso, nasce um ramo do Direito especializado nas questões envolvendo a Informática e a internet, o chamado Direito Digital (Virtual ou de Informática), que é o objeto do nosso estudo. Entretanto, não devemos acreditar que o Direito Digital é algo novo, único e inédito. Muito ao contrário [...] tem ele sua guarida na maioria dos princípios do Direito atual, além de aproveitar a maior parte da legislação em vigor. A mudança está na postura de quem a interpreta e faz sua aplicação. É errado, portanto, pensar que a tec- nologia cria um grande buraco negro, no qual a sociedade fica à margem do Direito, uma vez que as leis em vigor são aplicáveis à matéria, desde que com sua devida interpretação (PINHEIRO, 2016, p. 82). 14 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Assim, podemos dizer que o Direito Digital agrupa o conjunto de normas aplicáveis às relações ocorridas em ambiente virtual, de forma a garantir que os crimes cometidos no ambiente digital ou mesmo os danos de natureza civil não fiquem sem identificação e responsabilização dos causadores.1.2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA APLICÁVEL AO DIREITO DIGITAL Ao se estudar o Direito Digital, deve-se ter em mente que, ao contrário de outros ramos, não existe um Código de Direito Digital, visto que este não é um ramo au- tônomo do Direito, mas é formado pela conjugação de normas de diferentes áreas como o Direito Constitucional, Direito Civil, Direito Empresarial, Direito Penal, Direito Internacional, Direito Tributário, entre outros. Assim, existem várias leis esparsas que tratam de temáticas envolvendo o meio digital, ou que de alguma forma podem ser aplicadas. Faremos agora uma análise de algumas leis importantes e a sua estreita relação com o Direito Digital. 1.2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL A Constituição Federal é a norma mais importante de nosso ordenamento jurídico. Desse modo, todas as demais leis devem estar em consonância com ela. 15 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Em seu texto, a Constituição estabelece, entre outras importantes questões, a existên- cia de direitos ou garantias fundamentais – que são os direitos mínimos garantidos a todas as pessoas, e que não podem ser delas retirados. Essas disposições, contidas no seu art. 5o, são muito relevantes para todas as áreas do Direito, e isso não é diferente no que tange ao Direito Digital. Apesar de suas normas não se referirem diretamente ao meio digital, são facilmente aplicáveis. Destacamos algumas: • Art. 5º, IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato: nesse sentido, podemos manifestar pela internet, por exemplo, a nossa opi- nião sobre um determinado assunto. Todavia, caso haja excessos, poderemos ser responsabilizados, razão pela qual se veda o anonimato. • Art. 5º, V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem: aquela pessoa que for atacada pela internet (em sua honra, nome ou moral), além de direito de indenização, possui direito de resposta, que deve ser publicado com o mesmo alcance da ofensa, como forma de promover a reparação de forma integral. • Art. 5º, IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença: não cabe censura no Direito Brasileiro, assim não é preciso prévia aprovação para publicação de um texto de minha autoria. • Art. 5º, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral de- corrente de sua violação: não se pode utilizar a internet para ferir a intimidade, honra, imagem de uma pessoa, por exemplo, publicando fotos ou vídeos sem a autorização da pessoa ou publicando informações inverídicas e humilhantes ao seu respeito. Nesses casos, a pessoa prejudicada poderá pedir indenização pelos danos morais e materiais sofridos (o que se estudará adiante). • Art. 5º, XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar: essa disposição trata da proteção aos Direitos Autorais (músicas, vídeos, textos), o que será melhor estudado adiante. Assim, compartilhar material “pi- rata” pela internet é ilícito, e pode gerar consequências cíveis e criminais. 16 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO • Art. 5º, XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio tem- porário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à pro- priedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômi- co do país: conforme este inciso, a Constituição protege os Direitos de Proprie- dade Industrial, que também serão estudados adiante. (BRASIL, 1988). Mesmo sendo a Constituição a lei maior de um país e de extrema importância para determinar os direitos básicos dos indivíduos, assim como demonstrar alguns dos direitos que podem vir a ser violados dentro da rede mundial de computadores, as Leis Ordinárias – todas aquelas que existem em um ordenamento jurídico e estão abaixo da Constituição – são aquelas que exercem de maneira mais efetiva a proteção dos direitos e garantias dos usuários da internet, tais como o Código de Defesa do Consumidor, Código Penal e de Processo Penal, Lei Carolina Dieckmann, Código de Processo Civil e o Código Civil, todos estudados mais detidamente nos tópicos abaixo. 1.2.2 CÓDIGO CIVIL (LEI N.º 10.406/2002) O Código Civil é um conjunto de normas que tratam das relações privadas (direito de família e sucessões, contratos, responsabilidade civil, disposições sobre bens e direito de propriedade, Direito Empresarial, entre outras matérias). O Código Civil, como principal e mais importante legislação a regular as relações civis entre particulares em nosso país, tem fundamental importância para o Direito Digital uma vez que é nele que encontramos as normas básicas que regulam a responsabili- dade civil, ou seja, as formas de compensar ou indenizar as pessoas por possíveis da- nos causados à sua moral – invasão de privacidade, uso indevido de imagem, violação de correspondência eletrônica, dentre outros; danos materiais (ao seu patrimônio), tais como compras que não foram entregues, cobranças indevidas feitas por sites ou provedores de internet entre outros – ou mesmo as relações de comércio eletrônico. 17 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Assim, várias disposições são aplicáveis, entre as quais salientamos: • As normas relativas e obrigações são aplicáveis aos contratos pela internet, ou seja, quando contratamos um serviço de assinatura de site de filmes e séries – como a Netflix – as normas do Código Civil referentes aos contratos e obriga- ções também se aplicam a esse contrato virtual. • As disposições de responsabilidade civil (dever de indenizar) são também mui- to relevantes e, por isso, serão tratadas em unidade própria, ou seja, quando há danos à imagem, à honra, à privacidade de alguém – como exposição indevida em redes sociais, invasão de conta de e-mail – as normas de responsabilidade civil presentes no Código serão aplicáveis a esses casos. • No que tange ao Direito Empresarial, deve-se destacar que hoje é muito co- mum o exercício de atividade empresarial por meio da internet, sendo esta- belecidos os chamados sites para venda de produtos e serviços. Esses sites são considerados verdadeiros estabelecimentos comerciais e, por isso, são prote- gidos como tal pela legislação, com a utilização da analogia (método em que se aplica uma norma existente para um caso em que não há expressa previsão legal. São os casos de sites de vendas de produtos, como Amazon, Americanas, Submarino, que oferecem uma enorme quantidade de produtos e serviços que podem ser adquiridos pelos usuários da rede sem saírem de casa. Conjuntamente com o Código Civil, na busca da devida responsabilização civil da- queles que cometem atos reprováveis do ponto de vista civil – os chamados ilícitos civis – no ambiente virtual, usamos o Código de Processo Civil. 1.2.3 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (LEI N.º 13.105/2015) O Código de Processo Civil é, de forma geral, o conjunto de normas que rege o andamento de um processo. Essa lei prevê de forma expressa a adoção do processo eletrônico e a utilização de provas eletrônicas no processo. 18 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Para podermos responsabilizar aqueles que cometem ilícitos civis em ambiente vir- tual, é necessário quehaja o chamado devido processo legal. Esse processo depende de um certo número de atos, realizados perante o juiz ou para seu conhecimento, para que ao final seja emitida uma sentença determinando se o ilícito civil realmente ocorreu – e aqui, as provas são fundamentais – e qual será a forma de indenizar ou reparar os danos causados. Assim, o Código de Processo Civil vem como uma forma de determinar quais são os atos e ritos necessários para o devido processo civil, bem como a maneira como as provas virtuais serão colhidas, analisadas e utilizadas duran- te o processo, dentre outras coisas. Com relação a essa última, podemos citar como pontos de destaque: • Os arts. 439 a 441 preveem expressamente os documentos eletrônicos como meios de prova em processos, o que não acontecia na lei anterior. • O art. 411, II, CPC, estabelece que um documento eletrônico será considerado autêntico se a autoria estiver identificada por qualquer outro meio legal de certificação, inclusive eletrônico, nos termos da lei. • O art. 422 dispõe: Qualquer reprodução mecânica, como a fotográfica, a cine- matográfica, a fonográfica ou de outra espécie, tem aptidão para fazer prova dos fatos ou das coisas representadas, se a sua conformidade com o docu- mento original não for impugnada por aquele contra quem foi produzida. § 1o As fotografias digitais e as extraídas da rede mundial de computadores fazem prova das imagens que reproduzem, devendo, se impugnadas, ser apresenta- da a respectiva autenticação eletrônica ou, não sendo possível, realizada perí- cia (...)” (BRASIL, 2015). 1.2.4 CÓDIGO PENAL E CÓDIGO DE PROCESSO PENAL Alguns crimes podem ser praticados com o uso da internet. Por isso, há a possibilida- de de utilização de algumas disposições do Código penal e Código de Processo Penal, pois são esses dois Códigos, juntos, que determinarão quais crimes podem ser come- tidos no ambiente virtual (Código Penal) e como se dará o processo de investigação e responsabilização daqueles que cometeram o crime (Código de Processo Penal). 19 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Assim, quando alguém, em uma rede social, por exemplo, profere xingamentos e palavras de baixo calão com a finalidade de ofender/injuriar outra pessoa, comete o crime de injúria – devidamente elencado no Código de Processo Penal – e para que o ofensor possa cumprir a pena, deverá haver uma queixa – junto à uma delegacia – , uma investigação criminal e posteriormente um processo criminal – atos devidamen- te elencados no Código de Processo Penal. No entanto, os crimes que podem ser cometidos no ambiente virtual não estão res- tritos àqueles presentes no Código Penal. Muito pelo contrário! Com a evolução das interações na rede mundial de computadores, novas situações surgiram – não re- guladas pelo Código Penal – e se tornou necessário que leis especiais, voltadas para conteúdos específicos, fossem criadas, para garantir que os crimes e ilícitos civis vir- tuais não fiquem sem a devida punição. Essas leis especiais são o que chamamos de Legislação Esparsa. 1.3 LEGISLAÇÃO ESPARSA Como já dito anteriormente, o Direito Digital não possui uma legislação unificada, dada a sua natureza interdisciplinar. Assim, além da Constituição, dos Código Civil, Processual Civil, Penal e Processual Penal, sua matéria também é tratada em legisla- ção esparsa – leis criadas para regular assuntos específicos e que não se encontram reunidas em um Código –, que passaremos a analisar, de forma breve. 1.3.1 LEGISLAÇÃO SOBRE PROPRIEDADE INTELECTUAL A legislação aplicável aos Direitos de Autor (Leis Nº 9.610/98 e 9.609/98), além da Lei de Propriedade Industrial (Lei Nº 9.279/96) são amplamente aplicáveis ao ambiente virtual, em especial, porque, com a evolução das tecnologias, tornou-se fácil violar os direitos de autor – ao escancear e distribuir, seja gratuitamente, seja mediante paga- mento – ou mesmo violar os direitos de propriedade intelectual – clonando softwares e vendendo as cópias, fornecendo chaves de acesso ou afins para que pessoas que não compraram softwares possam fazer uso sem pagar. 20 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 1.3.2 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DECRETO Nº 7.962/2013 A Lei 8.078/90, o Código de Defesa do Consumidor, é amplamente aplicada em con- tratos pela internet. Muitos de nós celebramos contratos pela internet: compramos produtos ou serviços e, por isso, somos considerados consumidores. Daí decorre, por exemplo, a aplicação do direito de arrependimento em sete dias, as cláusulas de ga- rantia, por vício do produto ou serviço, e a nulidade de cláusulas abusivas. Em razão do aumento dessa modalidade de contrato, foi editado o Decreto Nº 7.962/2013, que teve por objetivo regulamentar (complementar) o Código de Defesa do Consumidor, ao estabelecer normas específicas para os contratos eletrônicos. FIGURA 2 - COMPRAS DIGITAIS Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. 21 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Entre elas, podemos citar: • Art. 2º. Os sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados para oferta ou conclusão de contrato de consumo devem disponibilizar, em local de des- taque e de fácil visualização, as seguintes informações: I - nome empresarial e número de inscrição do fornecedor, quando houver, no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda; II - endereço físico e eletrônico, e demais informações necessá- rias para sua localização e contato; III - características essenciais do produto ou do serviço, incluídos os riscos à saúde e à segurança dos consumidores; IV - discriminação, no preço, de quaisquer despesas adicionais ou acessórias, tais como as de entrega ou seguros; V - condições integrais da oferta, incluídas modalidades de pagamento, disponibilidade, forma e prazo da execução do serviço ou da entrega ou disponibilização do produto; e VI - informações claras e ostensivas a respeito de quaisquer restrições à fruição da oferta (Claramente com a finalidade de evitar fraude ao consumidor). • Art. 3º Os sítios eletrônicos ou demais meios eletrônicos utilizados para ofertas de compras coletivas ou modalidades análogas de contratação deverão con- ter, além das informações previstas no art. 2o, as seguintes: I - quantidade mí- nima de consumidores para a efetivação do contrato; II - prazo para utilização da oferta pelo consumidor; e III - identificação do fornecedor responsável pelo sítio eletrônico e do fornecedor do produto ou serviço ofertado, nos termos dos incisos I e II do art. 2o (de forma a evitar a prática de propaganda enganosa ou abusiva) (BRASIL, 2013). 22 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2.5.3. Lei Nº 12.737/2012 (Lei Carolina Dieckmann) e Lei Nº 12.735/2012 FIGURA 3 - REDE DE SEGURANÇA Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. A Lei Nº 12.737/2012, também conhecida como Lei Carolina Dieckmann, veio para alterar o Código Penal e tentar regular algumas situações consideradas práticas cri- minosas e que violam direitos básicos dos usuários da internet, em especial a ativida- de de hackers que invadem os dispositivos alheios para roubar dados e documentos para distribuir na rede. Da mesma forma, a Lei Nº 12.735/2012 veio para alterar a legislação já existente e acrescentar crimes de natureza virtual. 2.5.4. Lei Nº 12.965/2014 (Marco Civil da internet) Essa Lei possui enorme relevância no estudo do Direito Digital. Conforme o art. 1º, Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o usoda internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Fede- ral e dos Municípios em relação à matéria. Para tanto, ela regulamenta os diversos tipos de provedores (de acesso, de conteúdo, de aplicação) e estabelece as suas formas de responsabilidade e atuação. Regula ain- da normas relativas à neutralidade da rede, à privacidade, liberdade de expressão, e disciplina outros direitos fundamentais. 23 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO CONCLUSÃO O Direito Digital é um ramo do Direito muito novo e marcado pela interdisciplinari- dade, ou seja, deve ser estudado levando-se em conta o intercâmbio entre diversas áreas, seja o Direito Constitucional, Civil, Empresarial, Penal, Processual entre outras. Não existe em nosso ordenamento jurídico um apanhado de normas de Direito Digi- tal, devendo-se utilizar em seu regramento normas diversas, algumas das quais, mais relevantes, foram acima estudadas. Conhecer, ao menos de forma geral a existência dessas normas jurídicas é muito im- portante para nossa vida pessoal e profissional. Somente assim poderemos perceber a ocorrência de infrações a direitos que ocorram através do uso da informática, e nos tornaremos cidadãos cada vez mais participativos e informados, contribuindo para o desenvolvimento social do país e para o nosso próprio bem-estar. 24 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você: > Explique o conceito de responsabilidade e suas diferentes esferas. > Aponte os elementos da responsabilidade civil, suas espécies e elementos. > Explique o conceito de responsabilidade penal, seus elementos e disposições do texto Constitucional acerca da temática. > Aplique os conceitos básicos de responsabilidade civil e penal em situações concretas. UNIDADE 2 25 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO 2 RESPONSABILIDADE CIVIL E PENAL: NOÇÕES GERAIS 2.1 RESPONSABILIDADE Para se possa determinar o que vem a ser responsabilidade civil, é preciso, primeira- mente, delimitar o conceito de responsabilidade. Podemos apontar a responsabilidade como sendo uma espécie de consequência da prática de determinado ato ou comportamento visando reparar um dano sofrido. Em sentido semelhante definem Bruno Torquato de Oliveira Naves e Taisa Maria Ma- cena de Lima (2010, p. 348): “O homem não aceita a ideia de um prejuízo. A ocorrên- cia de um dano faz nascer reflexamente o sentimento de que fomos injustiçados. A responsabilidade é, portanto, o instituto que busca reequilibrar a situação”. Determinado ato pode gerar diferentes tipos de responsabilidade. São, de forma ge- ral, três as possibilidades: • Responsabilidade civil: do qual decorre o dever de indenizar. • Responsabilidade penal: se o ato praticado for tipificado na lei como um crime, a pessoa poderá receber uma pena, determinada pelo ordenamento jurídico. • Responsabilidade administrativa: perante órgãos do Estado. 26 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Desse modo, se uma pessoa, ao dirigir embriagada, bate no carro de outrem, que fica ferido, o autor poderá ser responsabilizado das três formas. Primeiro, responderá por crime de trânsito, podendo ser preso e pagar multa. Terá que indenizar a vítima pelos prejuízos que sofreu (despesas com o conserto do veículo e tratamento médico, além do que porventura deixou de ganhar). Além disso, responderá o autor perante os órgãos do Estado, como o DETRAN, e poderá perder sua carteira de motorista, ter o carro apreendido, além de ser condenado a pagar multa de trânsito. Entendidas as três esferas de responsabilidade, passemos à responsabilidade civil. 2.1.1 RESPONSABILIDADE CIVIL Especificamente no que tange à responsabilidade civil, Sérgio Cavallieri Filho (2010, p. 2) pontua que “responsabilidade civil é um dever jurídico sucessivo que surge para recompor o dano decorrente da violação de um dever jurídico originário”. Trazendo o conceito amplo de responsabilidade para a esfera jurídica, a responsabilidade civil pode ser definida como a consequência de uma atividade danosa, praticada por um indivíduo, que vem de encontro a uma norma jurídica anteriormente existente, gerando, assim, o dever de reparação. Pode-se estabelecer, dessa forma, que responsabilidade civil é um dever jurídico que visa ressarcir, por meio de compensação pecuniária ou da reposição in natura do es- tado inicial, a vítima de um ato danoso decorrente da violação de norma jurídica, seja contratual ou legal. 27 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Assim, se determinada pessoa bate no carro de outra, terá que indenizá-la pelos pre- juízos que sofrer. Da mesma forma, um médico que age de forma negligente e causa um dano ao seu paciente também terá que indenizar. 2.1.2 ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL A responsabilidade civil pode ser classificada das seguintes formas: a) Responsabilidade subjetiva – essa modalidade de responsabilidade parte do ele- mento subjetivo da ação – qual seja, a culpabilidade – para fundamentar o dever de reparar. Assim, só seria responsável pela reparação do dano aquele cuja conduta se provasse culpável, ou seja, que fosse praticada com culpa (negligência, imprudência ou imperícia) ou dolo (com vontade de praticar). Não havendo culpa ou dolo, não há de se falar em indenização. Essa é a modalidade de responsabilidade mais comum, presente em casos de batida de carro e erro médico, antes mencionados. Também é o tipo de responsabilidade mais comum em casos de danos ocorridos no ambiente digital. Quando alguém usa indevidamente a imagem de outra pessoa, viola a sua privacidade ou intimidade em sites ou redes sociais, ou mesmo viola a sua corres- pondência eletrônica, é possível responsabilizar o ofensor, desde que se comprovem a sua culpa e o nexo de causalidade. b) Responsabilidade objetiva – nesta modalidade, basta haver dano para que sobre- venha o dever de reparar. Explica-se esta teoria pelo alto risco de determinadas ativi- dades e pela impossibilidade prática de se provar a culpabilidade em certas circuns- tâncias. É aplicada, excepcionalmente, nos casos previstos em lei, de forma expressa. Ao se aplicar tal forma de responsabilização, basta à vítima provar a autoria e o dano. São exemplos dessa modalidade a responsabilidade do Estado por omissão – como no caso de uma árvore que não é cortada e venha a causar danos a particulares –, a hipótese de responsabilidade do empregador por ato de empregado – que agride um cliente – ou ainda da responsabilidade do dono de animal por seus atos – como no caso de um cão pit bull que ataca uma pessoa. É um tipo de responsabilidade que não se enxerga tão facilmente no ambiente virtual, pois depende de regras específicas. O caso mais comum de responsabilidade objetiva em ambiente virtual seria aquele em que um funcionário faz uso de redes e mídias sociais para ofender um cliente. c) Responsabilidade contratual – quando alguém descumpre uma obrigação con- tratual, pratica um ilícito contratual, e seu ato provoca consequência jurídica, que 28 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO impõe ao inadimplente a obrigação de reparar o prejuízo causado. É o caso de um prestador de serviços de buffet que não comparece no dia de uma festa, gerando danos ao consumidor. Em se tratandodo ambiente virtual, o mesmo tipo de respon- sabilidade recai sobre um site que vende um móvel ou um eletrodoméstico e não entrega ou entrega com defeito ou fora do prazo estipulado. Apesar de, nos casos de comércio digital, não conseguirmos visualizar ou tocar o contrato, ele ainda existe e vincula ambas as partes; assim, se o vendedor, por exemplo, descumpre a sua parte na venda, poderá ser responsabilizado civilmente. d) Responsabilidade extracontratual ou aquiliana – por vezes, o ilícito se apresenta fora do contrato. Quando isso ocorre, nenhuma ligação de caráter convencional vin- cula o causador à vítima do dano. Aquele que infringiu uma norma legal por atuar com dolo ou culpa violou um preceito de conduta de onde resultou um prejuízo de outrem. Deve, portanto, indenizar. É o caso da batida de carro ou do ataque do cão pit bull, em que o dever de indenizar não decorre de contrato, mas do ato ilícito. Trazendo esse tipo de responsabilidade civil para o ambiente virtual, podemos dizer que ela recai sobre todos os casos em que não há um contrato – mesmo que virtual – envolvido, ou seja, no uso indevido da imagem de alguém, na invasão de privacidade nas redes e mídias sociais, na violação da correspondência eletrônica de uma pessoa, entre outros casos. Entretanto, não basta identificar qual ou quais tipos de responsabilidade se encai- xam em um caso para que este incida em uma situação concreta, seja “no mundo real” ou na rede mundial de computadores. Para que seja possível a responsabiliza- ção civil por um dano causado, é preciso que três elementos fundamentais estejam presentes; se um deles não existir, não há como se falar em responsabilidade civil. Estudaremos esses elementos no próximo tópico. 2.2 ELEMENTOS CONSTITUINTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL: CONDUTA HUMANA, NEXO DE CAUSALIDADE E DANO Para a configuração da responsabilidade civil em regra geral, é necessário estarem presentes três elementos fáticos: 29 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO a) Conduta humana – para que haja a configuração de responsabilidade, é impres- cindível a existência de uma conduta humana, seja uma ação ou uma omissão, que produza consequências jurídicas. A ação é um ato positivo, por exemplo, a destruição de um bem, a lesão corporal causada a uma pessoa ou a inclusão indevida do nome de um consumidor em cadastro de restrição ao crédito. A omissão refere-se a uma abstenção voluntária de alguém que teria o dever de agir, como nos casos em que um salva-vidas deixa de socorrer alguém ou na hipótese de o Estado deixar de dar tratamento médico a quem precisa. Para as hipóteses de responsabilidade subjetiva, deve-se também comprovar que a conduta foi dolosa – praticada com intenção – ou culposa – quando deriva de negligência; por exemplo, no caso da falta de dever de cuidado, em conduta omissiva – um médico que deixa de pedir exames; imprudência –, falta de dever de cuidado em conduta comissiva – exemplo: dirigir em alta velocida- de e imperícia –, falta de preparo ou capacitação técnica – exemplo: um diagnóstico errado de um médico. b) Nexo de causalidade – é a ligação entre a conduta e o resultado, por exemplo, uma pessoa morreu porque foi atropelada e, ainda, “meu carro estragou em razão da batida”. c) Dano – é a lesão ao bem jurídico. O dano pode ser dividido em dano moral ou dano material. Dano material é aquele que recai sobre o patrimônio da pessoa; por exem- plo: “Meu carro estragado ou os gastos que tive em razão do descumprimento contra- tual de outrem”. Ele pode ser desmembrado em dano emergente (prejuízo direito) e o lucro cessante (o que a pessoa deixou de ganhar). Já o dano moral é aquele cuja le- são se refere a um direito extrapatrimonial, normalmente um direito da personalida- de: a honra, o nome, a integridade física e psíquica, a vida, a privacidade, a intimidade, etc. São direitos que não têm como ser avaliados em dinheiro; todavia, a indenização será fixada em dinheiro, como forma de compensar a vítima pela lesão sofrida. Assim, uma pessoa que foi atropelada pode incluir na indenização por danos materiais os valores despendidos com o seu tratamento e transporte (dano emergente) e a renda que ela deixou de ganhar, por ser autônoma e impossibilitada de trabalhar por conta do acidente (lucro cessante). 30 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 2.3 RESPONSABILIDADE PENAL Responsabilidade penal é o dever jurídico de responder pelo crime ou delito co- metido. Conforme explica Sérgio Cavalieri Filho (2010, p. 14): A ilicitude – é de todos sabido – não é uma peculiaridade do Direito Penal. Sendo ela, essencialmente, contrariedade entre a conduta e a norma jurídica, pode ter lugar em qualquer ramo do Direito. Será chamada ilicitude penal ou civil tendo exclusivamente em vista a norma jurídica que impõe o dever vio- lado pelo agente. No caso de ilícito penal, o agente infringe norma penal, de Direito Público; no ilícito civil, a norma violada é de Direito Privado (CAVALIERI FILHO, 2010, p. 14). Para que uma pessoa seja penalmente responsável, é necessário que ela tenha co- metido um crime, que é o ilícito penal, com consciência do seu ato. Sendo imputável, ela pode responder pelos seus atos; os incapazes, por exemplo, são inimputáveis. O crime é uma conduta antijurídica, normalmente muito mais grave que o ilícito civil, devidamente tipificada, ou seja, é um ato previsto em lei como crime e que, uma vez praticado, gera uma penalidade. Conforme a nossa Constituição (art. 5o, XXXIX), não há crime sem prévia cominação legal, nem pena sem definição em lei (assim, só será crime a conduta assim prevista em lei como tal e com pena estabelecida). Há de se destacar também que, no nosso ordenamento jurídico, não é possível se criar crimes por analogia, ou seja, estabelecer uma conduta aplicando-se a solução de um caso semelhante. O crime deve ser expressamente previsto na lei, ou a con- duta não poderá ser punida. Por isso, nem todos os tipos penais – condutas descritas no Código Penal como sendo crimes – podem ser aplicados às condutas praticadas em ambiente virtual, como é o caso do homicídio, mantença de casa de prostituição, entre outros. 31 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO No entanto, há diversos tipos penais cuja aplicação às condutas praticadas na rede é possível, tais como injúria, calúnia, auxílio ou instigação ao suicídio, invasão de dis- positivo alheio para furto de documentos, informações ou mídias, entre outros casos. 32 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO CONCLUSÃO Nesta unidade, aprendemos que a responsabilidade é o dever de responder por seus atos ou omissões. Um mesmo ato pode gerar consequências jurídicas diversas, inci- dindo em responsabilidade civil, penal e administrativa. Da responsabilidade civil decorre o dever de reparação, ou seja, de compensar pecu- niariamente o dano causado à vítima. A responsabilidade penal determina a aplica- ção de penas. A responsabilidade administrativa dá-se perante os órgãos do Estado e pode gerar diversos tipos de penalidade. Quando falamos de responsabilidade civil em ambiente digital, nem sempre é fá- cil perceber os casos em que ela será aplicada, em especial por a rede mundial de computadores ser vista como um “ambiente livre e sem leis”. No entanto, como vi- mos nesta unidade, a responsabilidade civil se aplica a todo ato danoso ou ilícito de natureza civil que cause danos a terceiros, e isso inclui aquilo que é feito, propagado ou compartilhado nas redes. Usar indevidamente a imagemde alguém, invadir a sua intimidade ou privacidade, ou violar sua correspondência eletrônica não se tor- nam atos lícitos ou imunes simplesmente por serem praticados em ambiente digital; muito ao contrário, são tão possíveis de serem detectados, bem como os autores serem identificados, e os danos causados devidamente reparados quanto nos casos do “mundo real”. Podemos ver também que, paralelamente à responsabilidade civil, existe a respon- sabilidade penal. Esse tipo de responsabilidade incide sobre atos e fatos específicos que, para serem punidos, precisam antes de tudo constar devidamente nas leis pe- nais do país. Vimos que alguns crimes existentes no Código Penal desde a sua criação podem ser aplicados às situações ocorridas no ambiente digital, como a calúnia, a difamação e a injúria. Assim, podemos dizer que não é mais necessário que o crime aconteça na presença direta do ofendido para que seus agressores sejam devida- mente responsabilizados e punidos. 33 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você: > Entenda as principais disposições do Marco Civil da Internet. > Entenda o conceito de comércio eletrônico e contratos pela Internet. > Analise as hipóteses de responsabilidade civil contratual em ambiente virtual. > Compreenda a responsabilidade civil extracontratual por atos ilícitos praticados pela Internet. UNIDADE 3 34 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 3 O MARCO CIVIL DA INTERNET E A RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DIGITAL 3.1 O MARCO CIVIL DA INTERNET O Marco Civil da Internet, a Lei n° 12.965, de 23 de abril de 2014, estabelece os princí- pios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Portanto, estabele- ce as regras básicas a serem adotadas nas relações envolvendo a Internet no país. Além disso, essa lei possui grande importância, visto que instituiu uma série de res- ponsabilidades dos servidores, conforme será exposto. Analisaremos a seguir os prin- cipais pontos da lei, aqueles de mais utilidade para nosso estudo. 3.1.1 DIREITOS E GARANTIAS AOS USUÁRIOS O Marco Civil enumera os direitos e garantias mínimos dos usuários. Para entendê-los, é imprescindível a leitura dos artigos 7o, que dispõe sobre a importância do acesso à Internet, e 8º, que versa sobre a garantia à privacidade e liberdade de expressão, da referida lei. 35 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Art. 7º. O acesso à Internet é essencial ao exercício da cidadania, e ao usuário são assegurados os seguintes direitos: I - inviolabilidade da intimidade e da vida privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; II - inviolabilidade e sigilo do fluxo de suas comunicações pela Internet, salvo por ordem judicial, na forma da lei; III - inviolabilidade e sigilo de suas comunicações privadas armazenadas, salvo por ordem judicial; IV - não suspensão da conexão à Internet, salvo por débito diretamente decor- rente de sua utilização; V - manutenção da qualidade contratada da conexão à Internet; VI - informações claras e completas constantes dos contratos de prestação de serviços, com detalhamento sobre o regime de proteção aos registros de conexão e aos registros de acesso a aplicações de Internet, bem como sobre práticas de gerenciamento da rede que possam afetar sua qualidade; VII - não fornecimento a terceiros de seus dados pessoais, inclusive registros de conexão, e de acesso a aplicações de Internet, salvo mediante consenti- mento livre, expresso e informado ou nas hipóteses previstas em lei; VIII - informações claras e completas sobre coleta, uso, armazenamento, trata- mento e proteção de seus dados pessoais, que somente poderão ser utilizados para finalidades que: a) justifiquem sua coleta; b) não sejam vedadas pela legislação; e 36 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO c) estejam especificadas nos contratos de prestação de serviços ou em termos de uso de aplicações de Internet; IX - consentimento expresso sobre coleta, uso, armazenamento e tratamento de dados pessoais, que deverá ocorrer de forma destacada das demais cláu- sulas contratuais; X - exclusão definitiva dos dados pessoais que tiver fornecido a determinada aplicação de Internet, a seu requerimento, ao término da relação entre as par- tes, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas nesta Lei; XI - publicidade e clareza de eventuais políticas de uso dos provedores de co- nexão à Internet e de aplicações de Internet; XII - acessibilidade, consideradas as características físico-motoras, perceptivas, sensoriais, intelectuais e mentais do usuário, nos termos da lei; e XIII - aplicação das normas de proteção e defesa do consumidor nas relações de consumo realizadas na Internet Art. 8º. A garantia do direito à privacidade e à liberdade de expressão nas co- municações é condição para o pleno exercício do direito de acesso à Internet. Parágrafo único. São nulas de pleno direito as cláusulas contratuais que vio- lem o disposto no caput, tais como aquelas que: I - impliquem ofensa à inviolabilidade e ao sigilo das comunicações privadas, pela Internet; ou II - em contrato de adesão, não ofereçam como alternativa ao contratante a adoção do foro brasileiro para solução de controvérsias decorrentes de servi- ços prestados no Brasil (BRASIL, Lei n° 12.965/2014, Arts. 7-8). 37 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Tem-se, desse modo, que o objetivo de tal norma é assegurar os direitos básicos ao usuário de Internet, muitos dos quais já consagrados no texto constitucional (como a inviolabilidade da intimidade e vida privada, a acessibilidade das pessoas com defi- ciência, proteção ao consumidor). Todavia, a criação da lei veio ampliar direitos e, sobretudo, evitar a utilização indevi- da de dados (algo muito comum nos dias atuais), de forma geral, responsabilizando aqueles que infringirem tais preceitos. 3.1.2 NEUTRALIDADE DE REDE De acordo com a lei, a neutralidade de rede se dá quando: “Art. 9º. O responsável pela transmissão, comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviço, terminal ou aplicação” (BRASIL, Lei n° 12.965/2014, Art. 9º). Conforme Adrien Duarte (2018), podemos explicar esse princípio da seguinte forma: O trecho mais polêmico do projeto de lei trata sobre a neutralidade da web. De acordo com este princípio os provedores de serviços de Internet não po- dem ofertar serviços de conexões diferenciadas, como por exemplo, pacotes somente para acesso a e-mails, ou somente vídeos ou redes sociais. A neutra- lidade foi o princípio que causou mais debate durante todo o processo, já que em sua forma original, o texto prevê que as empresas de telecomunicação que oferecem serviços de Internet sejam neutras no tráfego de dados, não importando a sua origem ou o seu destino. Com isso, o usuário continua livre para usar toda a velocidade de conexão contratada, para acessar qualquer tipo de conteúdo, sem a preocupação de traffic shaping, ou ver a sua veloci- dade dar prioridade em certos tipos de serviços, que demandem mais banda, como streaming de vídeos, por exemplo (DUARTE, 2018, p. X). Dessa forma, o objetivo de tal disposição é garantir o tratamento igualitário, sem dis- criminação entre usuários. Assim, em razão do princípio da neutralidade, o provedor de acesso não podeliberar ou não liberar determinados conteúdos. O usuário possui liberdade para escolher como usar seus dados, não cabendo interferência pelos pro- vedores, que devem se limitar a disponibilizar o serviço. 38 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 3.2 RESPONSABILIDADE POR CONTEÚDOS DE TERCEIROS Esta importante disposição relaciona-se à ausência de responsabilidade do provedor de conexão por conteúdos de terceiros, por exemplo, uma página falsa ou que tenha informações ofensivas ou ilícitas. Não há como responsabilizar o servidor por um ato que não foi praticado por ele, mas por outrem, utilizando-se dos seus serviços. Assim, caso alguém constitua um blog para atacar alguém, ou uma comunidade no Face- book que faça apologia a um crime, o hospedeiro do blog e a rede social não poderão ser responsabilizados. Portanto, o provedor só teria responsabilidade caso configurada sua omissão, ou seja, quando notificado a retirar determinado conteúdo do ar, não o faz. Isso é o que dispõe os Arts. 18 e 19 da Lei do Marco Civil: Art. 18. O provedor de conexão à Internet não será responsabilizado civilmen- te por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros. Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a cen- sura, o provedor de aplicações de Internet somente poderá ser responsabili- zado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar in- disponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário (BRASIL, Lei n° 12.965/2014, Arts. 18-19). Assim, a legislação, de certo modo, veio proteger os servidores, que só serão respon- sabilizados em caso de omissão, dada a dificuldade de evitarem a publicação de material ofensivo. 39 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO 3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DIGITAL A vida em sociedade pressupõe o cumprimento de obrigações por parte dos indiví- duos, obrigações essas que às vezes encontram sua causa última na manutenção de uma série de virtudes do gênero humano (deveres genéricos, como o respeito ao pa- trimônio alheio), e outras na continuidade plena e eficaz dos vínculos formados por esses indivíduos, por motivos, em sua maioria, econômicos (negócios jurídicos, como os contratos em geral). Sabemos que em nossa realidade, predominantemente, há o cumprimento volun- tário das obrigações assumidas, apresentando-se como exceção o descumprimento, que é tido como um ato ilícito, decorrendo daí o conceito de responsabilidade. Assim, fica clara a existência de dois momentos de atuação obrigacional das pessoas: o da conduta comprometida segundo o ordenamento jurídico geral ou ao negócio jurídico, e o momento da reparação do dano causado a terceiros por nossos atos (res- ponsabilidade). No primeiro momento, tem-se a chamada responsabilidade contra- tual, e no segundo, a extracontratual. Passaremos a estudar ambas as modalidades de responsabilidade civil em ambiente virtual. 3.3.1 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL Com o intuito de estudarmos a responsabilidade contratual propriamente dita, fa- remos aqui um breve estudo do comércio eletrônico e dos contratos, principais ele- mentos presentes na atual era digital. 3.3.2 COMÉRCIO ELETRÔNICO É claro e notório que vivemos um período de transformações econômicas, sociais, po- líticas e, sobretudo, tecnológicas. Muitos afirmam que estamos inseridos na Terceira Revolução Industrial, também chamada Revolução da Informação. 40 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Em plena “Era Digital”, o surgimento de novas tecnologias ainda nos deixa surpresos e pior, de mãos atadas. Dessa maneira, os operadores do direito responsáveis pela regu- lamentação de nosso ordenamento e atualização de leis voltadas a tais questões têm um papel sobremaneira importante. Ainda mais ao ressaltarmos que o potencial da Internet é espantoso, principalmente no que diz respeito às oportunidades geradas para o comércio eletrônico, que é uma das maiores fontes de indagação jurídica da nossa atualidade. O comércio eletrônico pode ser definido como a negociação realizada por via eletrônica, por meio do processamento e transmissão eletrônicos de dados, incluindo textos, sons e imagens. Este tipo de comércio pode ser classificado das seguintes formas: I. Comércio eletrônico indireto ou de forma diferida: é a encomenda eletrônica de bens, sendo estes entregues fisicamente por meio de formas tradicionais, como o serviço postal ou privados de correio expresso. Entram nessa modalidade as compras de bens pela Internet, como livros, roupas, calçados, etc. II. Comércio eletrônico direto ou em tempo real: consiste na encomenda, paga- mento e entrega direta (em linha) de bens incorpóreos e serviços, tais como programas de computador, músicas ou e-books. III. Business-to-business (B2B): trata-se do comércio realizado entre empresas, en- volvendo a comercialização de produtos e a prestação de serviços entre produ- tores, fabricantes, fornecedores e importadores, sem a participação do consu- midor final. IV. Business-to-consumer (B2C): os negócios praticados entre as empresas, na con- dição de produtoras/fornecedoras, e o consumidor, como destinatário final dos respectivos bens e serviços. Por isso, é também denominado varejo eletrônico, ou ainda, e-retail. São as compras que realizamos cotidianamente pela Internet. 41 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO 3.3.3 CONTRATOS ELETRÔNICOS O contrato pode ser considerado como o acordo de vontades para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos. Para a existência do contrato são necessários a manifestação de vontade e o objeto, que pode ser um dar (entregar ou restituir algo), um fazer (construir, pintar, prestar um serviço), ou um não fazer (uma abstenção, como por exemplo, não fazer concorrência). Para sua validade o contrato requer: I. a capacidade dos contratantes, ou seja, a pessoa deve ser maior de idade ou emancipada, e ter pleno discernimento; II. o objeto tem que ser lícito (conforme a lei), possível (física ou juridicamente), determinado ou determinável e economicamente apreciável. Não se pode, por exemplo, fazer um contrato de compra e venda de drogas, partes do corpo hu- mano, ou de um bem público, já que não se enquadram nesse critério; III. o último requisito para a validade dos contratos é a forma (Lei n° 10.406/2002, Arts. 104, III, 107 e 1831 ), que deve ser a prescrita ou não defesa em lei. Assim, há casos que a lei exige que contratos sejam escritos, ou feitos em cartório. Em outros casos, não há qualquer exigência. 42 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A noção de contratação eletrônica entre duas ou mais partes, sem contato físico, já existe há algum tempo, principalmente nas relações entre empresas. Entretanto, ao invés de ser utilizado o computador, o suporte físico era dado pelo telex, fax, entre outros. Não há na lei nenhum impedimento à utilização, aceitação, validade ou mesmo obri- gatoriedade de contratos eletrônicos, que de forma geral, recebem o mesmo trata- mento dos contratos tradicionais. Ao realizar um contrato pela Internet, o usuário terá que, invariavelmente, por meio de e-mail ou pela página do vendedor, enviar dados pessoais, bem como acertar a forma de pagamento– que muitas vezes pode ser efetuada pelo próprio computador. Assim, torna-se notória a manifestação de vontade do comprador, que indubitavelmente deve ser considerada expressa, não restando quaisquer indagações acerca da formação do contrato. Entretanto, para que uma manifestação de vontade tenha efeito no meio eletrônico, devem ser atendidos dois requisitos básicos de validade, sem os quais o procedimen- to de contratação será inadmissível: primeiramente, o meio utilizado não deve ser adulterável sem deixar vestígios, e, a posteriori, deve ser possível a identificação do emitente da vontade registrada. Entendidos os principais pontos sobre o comércio eletrônico e os contratos, passe- mos à análise da responsabilidade civil contratual. 43 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO 3.3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL EM MEIO DIGITAL Como exemplos de hipóteses geradoras de responsabilidade civil contratual pela In- ternet, podemos citar as seguintes. a) Responsabilidade por serviço prestado inadequadamente por provedor de acesso à Internet : imaginemos uma hipótese em que alguém fica duas horas sem o serviço de Internet2, o que lhe causa a impossibilidade de concluir um trabalho importante. Isso pode gerar direito de indenização. b) Responsabilidade de bancos por danos causados em razão da utilização de servi- ços pela Internet: não raro, hackers causam danos aos consumidores ao se apropria- rem de dados retirados de sites de serviços bancários. Nesse caso, a responsabilidade dos bancos é objetiva, independe de culpa e dolo, e deverão indenizar o consumidor pelos prejuízos sofridos. c) Responsabilidade pela utilização indevida de dados de consumidores, conforme dispõe o próprio Marco Civil da Internet, em seu Art. 10º: 2 Nesse sentido, insta diferenciar os diferentes tipos de provedores: “O provedor de acesso3 é uma atividade-meio, ou seja, um serviço de intermediação entre ‘o usuário e a rede. É aquele que presta o serviço de conectar o usuário à Internet. É o típico contrato de prestação de serviços em que por um lado o usuário se responsabiliza pelo conteúdo de suas mensagens e pelo uso propriamente dito, enquanto por outro o provedor oferece serviços de conexão à rede de forma in- dividualizada e intransferível e até mesmo o uso por mais de um usuário. É um contrato normalmente oneroso e por ter cláusulas arbitradas pelas partes, os seus termos são livres, desde que não contenham nada de ilegal. O mesmo se dá, por exemplo, com o contrato para uso de uma linha telefônica, no qual o usuário da linha é responsável exclusivo pelo uso que faz dela, não se podendo imputar à empresa de telecomunicações responsabilidades civis pelas conseqüências do mau uso. O enfoque legal dos prove- dores de conteúdo4 é bem diferente dos primeiros, estes podem ser conceituados como os que têm a finalidade de coletar, manter e organizar informações para acesso on-line por meio da Internet, ou seja, aqueles que oferecem informação através de uma página ou site5. Outra espécie de provedores são os hospedeiros, os chamados “Hosting Service Provider”, que têm a função principal de hospedar páginas ou sites de terceiros, possibilitando seu acesso pelos demais internautas. Essa espécie de provedor não influi em momento algum no conteúdo dos sites ou páginas que hospedam, apenas dão suporte técni- co, a fim de que as mesmas possam ser acessadas pelos demais usuários ( KAZMIERCZAK, 2018). 44 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de acesso a aplica- ções de Internet de que trata esta Lei, bem como de dados pessoais e do con- teúdo de comunicações privadas, devem atender à preservação da intimida- de, da vida privada, da honra e da imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas. § 1o O provedor responsável pela guarda somente será obrigado a disponibi- lizar os registros mencionados no caput, de forma autônoma ou associados a dados pessoais ou a outras informações que possam contribuir para a iden- tificação do usuário ou do terminal, mediante ordem judicial, na forma do disposto na Seção IV deste Capítulo, respeitado o disposto no Art. 7º. § 2o O conteúdo das comunicações privadas somente poderá ser disponibili- zado mediante ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer, respeitado o disposto nos incisos II e III do art. 7o (BRASIL, Lei n° 12.965/2014, Art. 10º). 3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL Se o campo da responsabilidade civil contratual já é cheio de relações ensejadoras de responsabilidade civil, o da responsabilidade extracontratual (ou aquiliana) consegue ser mais fértil ainda. Como já dito, a responsabilidade extracontratual decorre da prá- tica de atos ilícitos, contrários à lei. Muitas condutas geradoras de danos ocorrem pela Internet, e estudaremos algumas que consideramos mais interessantes. Vejamos! a) Responsabilidade civil por criadores de páginas de Facebook ou de grupos de WhatsApp por ofensas proferidas através dos mesmos, gerando danos morais e/ou materiais, principalmente quando o próprio criador o faz para realizar tais condutas. Já existem decisões condenando também administradores de grupos em razão de sua omissão, quando não excluem aqueles indivíduos que praticam as violações aos direitos de terceiros. b) Responsabilidade civil por divulgação de fotos ou vídeos íntimos ou privados ou cuja publicação não tenha sido autorizada. É muito comum que amigos tirem fotos de outros, e sem sequer perguntar, insiram essas mídias nas redes virtuais. Tal condu- ta é ilícita, por violar o direito de imagem de outra pessoa. Muito mais grave ainda é a divulgação de material de conteúdo íntimo, já que os danos causados podem ser ainda maiores. Lembre-se, nesse sentido, do caso da atriz Daniela Cicarelli. 45 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO c) Responsabilidade Civil por violação de direito autoral. A reprodução total ou parcial de criações de outras pessoas músicas, escritos, vídeos e fotos, por exemplo, sem men- ção de autoria, é infração aos direitos autorais, e pode gerar a obrigação de indenização. d) Responsabilidade Civil por divulgação de fotos de cadáveres ou de acusados da prática de crimes, que pode gerar o pagamento de indenização. Pelo que verificamos ao longo da unidade, as hipóteses de responsabilização civil são muito comuns em ambiente virtual. Conhecer seus principais conceitos e normas aplicáveis é fundamental para visualizar a sua aplicação e, dessa forma, evitar e coibir a prática de ilícitos. 46 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO CONCLUSÃO Por todo o exposto, verifica-se que, pela a Internet, pode-se praticar diversas condu- tas, derivadas da quebra de um contrato ou de um ato ilícito, aptas a gerar responsa- bilização civil e, por consequência, o pagamento de indenização por danos (morais e materiais) causados. Entender essas hipóteses é de suma importância para nossas vidas pessoais e profis- sionais, vez que só assim poderemos evitar o cometimento de condutas que resul- tem em responsabilização. Por outro lado, poderemos conhecer nossos direitos em caso de infração cometidas em nosso desfavor. Nesse aspecto, o Marco Civil da Internet, que é considerado como a “Constituição da Internet”, é de grande valia, já que estabeleceu direitos e deveres aos usuários da Internet e, de forma expressa, dispôs sobre condutas que seriam ilícitas, a fim de se apurar eventual responsabilidade. Assim, o Marco civil constitui um repertório de direitosque devem ser respeitados, que tornam o ambiente virtual um pouco mais seguro, razão pela qual é fundamental o seu estudo. 47 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você: > Explique o conceito de crimes virtuais. > Identifique as dificuldades na responsabilização penal pela prática de tais condutas. > Identifique alguns dos crimes em espécie. > Descreva a legislação aplicável aos crimes virtuais. UNIDADE 4 48 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO 4 RESPONSABILIDADE PENAL EM ÂMBITO DIGITAL: OS CRIMES VIRTUAIS Caro aluno, seja bem-vindo! Nesta unidade, você entenderá as noções do conceito de crimes virtuais, bem como alguns tipos em espécie, as leis penais aplicáveis aos crimes digitais, assim como as dificuldades de se responsabilizar aquele que comete tais atos devido ao meio em que são praticados. 4.1 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Das necessidades humanas decorrentes da vida em sociedade, nasce o Direito, que visa garantir as condições indispensáveis à coexistência dos elementos que com- põem o grupo social. Assim, na ocorrência de fatos que contrariem normas de Direito (atos ilícitos), cabe ao próprio ordenamento, a fim de garantir sua ordem, aplicar as devidas sanções. O Direito Penal, tendo como fim a proteção da sociedade e a defesa dos bens jurídi- cos fundamentais, possui assim papel inigualável nesse contexto. Ele regula o poder punitivo do Estado tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicá- veis a quem os pratica. No ambiente virtual, tal como no real, frequentemente ocorrem crimes que devem igualmente ser coibidos. Tais crimes são denominados crimes virtuais e são o objeto desta unidade. 49 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO 4.2 OS CRIMES VIRTUAIS E SUAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS FIGURA 4 - INTERNET E OS CRIMES VIRTUAIS Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. Os crimes cometidos pela Internet têm recebido, nos últimos anos, denominações diferentes, em vários países. Dentre alguns, pode-se citar os crimes virtuais, crimes e infrações por computador, infocriminalidade, fraudes informatizadas, delitos infor- máticos, computer criminals, infrações cometidas por meio de computador. Entre- tanto, o termo crime virtual ganhou maior simpatia dos estudiosos, sendo por isso mais utilizado. Os crimes virtuais podem ser conceituados como aquelas condutas praticadas com o uso de sistema de informática para atentar contra um bem ou interesse juridicamente protegido. 50 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Tais crimes geram atualmente muitos questionamentos jurídicos, que apresentare- mos de forma breve. O problema inicial refere-se às normas aplicáveis nos delitos cometidos no território brasileiro. É notório o fato de que, com relação aos crimes virtuais, a tutela penal tor- na-se muito mais dificultosa. Estabelecer o bem jurídico violado, o agente causador, bem como a tipificação da infração é um tema complexo. Vamos entender o motivo! Primeiramente, porque muitas disposições do Código Penal não são aplicáveis a es- sas condutas. Isso dá-se em razão do princípio da reserva legal que obriga a legis- lação a caracterizar determinado fato como criminoso, uma vez que sem lei, não há crime (art. 1º do Código de Processo Penal e art. 5º, XXXIX da Constituição Federal). E, nesse caso, podemos citar, como exemplo, a invasão de dispositivo móvel e o furto de imagens e vídeos íntimos para divulgação na rede mundial de computadores, como ocorreu com a atriz Carolina Dieckmann. Alguns anos atrás, não era crime invadir um celular alheio via internet e furtar arqui- vos, pois o Código Penal determinava expressamente que furto seria “subtrair coisa alheia móvel para si ou para outrem”. Entretanto, depois da repercussão do caso da atriz Carolina Dieckmann, que teve fotos íntimas roubadas de seu celular e divulga- das na rede, uma lei específica foi criada, alterando o Código Penal Brasileiro e acres- centando os artigos 154-A e 154-B ao rol de crimes. Além disso, não é possível a construção de interpretações extensivas e analógicas para criar novas modalidades de crime. Há condutas praticadas pela via eletrônica, que são as mesmas tratadas pelo Código Penal, com a peculiaridade de serem praticadas por computadores. Para essas, a responsabilização é possível. Para os demais casos, tais como a invasão de dispositivo alheio, como citada no exemplo acima, devem ser criadas normas específicas. Algumas já foram criadas, tais como a Lei 12.737/2012 (Lei Carolina Dieckmann), mas ainda são insuficientes. 51 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Outro ponto de dificuldade é a definição da autoria do crime. Diferentemente do mundo real, no ciberespaço, o exame e a autenticação dessa identidade não podem ser feitos visualmente, ou pela verificação de documentos ou de elementos identifica- dores já em si evidentes, como placas de veículos ou a aparência física, por exemplo. Quando um indivíduo está conectado na rede, só se pode determinar o endereço da máquina que envia as informações à Internet e o endereço da máquina que recebe tais dados. Esses endereços são chamados de IP — Internet Protocol, sendo representados por números, que não revelam nada sobre o usuário da Internet e muito pouco sobre os dados que estão sendo transmitidos. Isso é muito claro, por exemplo, nas hipóteses de computadores públicos, como os de laboratórios de universidades ou lan houses. Também há de se questionar quanto à autenticidade dos documentos telemáticos e quanto à sua integridade. Tais receios só podem ser afastados pela aplicação de técnicas de criptografia que possibilita um elevado grau de segurança. Todavia, nem sempre um documento ou mensagem, ligado à conduta ilícita, será emitido de for- ma criptografada e dificilmente será possível identificar quem praticou determinada conduta. O último ponto a ser destacado é a questão da aplicação da lei penal no espaço. A in- ternet é uma tecnologia global sem fronteiras e sem donos, sendo quase impossível para qualquer nação garantir a execução de leis ou restrições que se busque impor no ciberespaço. Cada país só possui autonomia para aplicar a sua lei dentro do seu território. Nesse sentido, se um site está hospedado em outro país, mesmo que os resultados do crime sejam causados no Brasil, seria muito difícil se aplicar a nossa legislação, o que faz com que vários crimes fiquem impunes. 52 DIREITO DIGITAL FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017SUMÁRIO Um dos grandes problemas, hoje, para se apurar, identificar e penalizar os criminosos virtuais é a chamada deep web, que é um conjunto de páginas que não aparecem nas buscas normais e cujo acesso só pode ser feito por meio de protocolos criptogra- fados e programas muito específicos que garantem a impossibilidade de se identifi- car seus usuários. Para entender um pouco mais sobre a chamada Deep Web, pesquise sobre o tema disponível na matéria Deep Web: o submundo da internet começa a entrar na mira da polícia. 4.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA APLICÁVEL AOS CRIMES VIRTUAIS FIGURA 5 - A LEI E O VIRTUAL Fonte: SHUTTERSTOCK, 2018. 53 FACULDADE CAPIXABA DA SERRA/EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 DIREITO DIGITAL SUMÁRIO Hoje, no Direito Penal Brasileiro, pode-se aplicar
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