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História da Fisioterapia no Brasil HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA No Brasil, a fisioterapia começou no final do século XIX, com a criação do serviço de eletricidade médica e hidrote- rapia no Rio de Janeiro, a Casa das Duchas, que utilizava água doce e do mar no tratamento das doenças. Em 1884, o médico Arthur Silva criou no Hospital de Misericórdia do Rio de Janeiro, o primeiro serviço de fisioterapia da Améri- ca do Sul. Em 1919, segunda década do século XX, o médico e professor Raphael de Barros fundou o Departamento de Eletricidade Médica da Faculdade de Medicina da Univer- sidade de São Paulo (FMUSP). Dez anos mais tarde, em 1929, o médico Waldo Rolim de Moraes instalou no Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia o serviço de fisioterapia. Já na década de 1930, foi inaugurado também o serviço de fisioterapia no Hospital das Clínicas da FMUSP. Em 1932, foi inaugurada a cátedra de Fisiote- rapia Médica na Faculdade de Ciências Médicas no Rio de Janeiro, reconhecida como a primeira escola de Medicina do Brasil a ensinar fisioterapia aos seus estudantes. A eletroterapia era uma modalidade terapêutica valoriza- da, então os médicos que trabalhavam nesses serviços eram conhecidos como médicos de reabilitação e por algum tempo, houve necessidade de técnicos, que auxilia- vam e aplicavam técnicas terapêuticas, como as correntes elétricas prescritas pelos médicos. Foi nesse momento que surgiu o técnico em fisioterapia, que então recebia uma prescrição com a descrição da técnica, tempo, intensidade e local do corpo onde seria feita a aplicação. Dessa forma, com o objetivo de suprir a demanda por técnicos, em 1951 o Dr. Waldo Rolim de Moraes criou o primeiro curso técnico em Fisioterapia do Brasil, nomeado Dr. Raphael de Barros, no Hospital das Clínicas da FMUSP, com duração de um ano. Na mesma época, no Rio de Janeiro foi criada a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR) e o curso técnico em Reabilitação na Faculdade de Ciências Médicas. Esses cursos foram de grande importância para a formação de uma nova classe profissional de nível técni- co e auxiliar médico, que gradualmente começou a refletir sobre sua profissão, carreira e futuro. O MEC, atendendo parcialmente à classe de fisioterapeu- tas, reconheceu os cursos técnicos em fisioterapia no elaborado pelo Conselho Federal de Educação (CFE). E esses cursos, diferentemente dos anteriores, deveriam se basear em um currículo mínimo e com a duração de três anos, e os profissionais formados deveriam ser denomina- dos técnicos em fisioterapia. Apesar do padrão mínimo internacional de qualidade, os cursos não contribuíram para aperfeiçoamento científico da profissão e não ofere- ceram a autonomia pretendida pela classe. Os técnicos em fisioterapia ainda permaneciam subalternos e obedientes às ordens do médico e sem condições de comprovar e ava- liar suas práticas. Sendo assim, durante o regime militar, a ABF, por meio de uma estratégia política adquiriu os seus direitos. Em 1969, os ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica assinaram o Decreto-Lei n.938, 13 de outubro, em que a fisioterapia foi reconhecida como um curso de nível superior e foi definitivamente regula- mentada. Este Decreto-Lei assegura o exercício do pro- fissional não mais como auxiliar médico ou técnico, mas como profissional da área da saúde especificamente da fisioterapia, como sua atividade privativa e que contempla vários atos profissionais, como a elaboração do diagnós- tico, chefia de serviços, atuação no ensino e pesquisas, entre outros. Nesse sentido, os Congressos Brasileiros de Fisioterapia passaram a exercer papel fundamental para a organização de ideias e planejamento de novos rumos da profissão. O primeiro aconteceu em 1964 no Rio de Janei- ro, antes mesmo da criação do Decreto-Lei n.938. O segun- do ocorreu após o surgimento do Decreto, especifica- mente em 1972, em São Paulo. Estes eventos culminaram em outra decisão histórica muito importante para a pro- fissão, que foi a Lei n.6.316, de 17 de dezembro de 1975, que criou o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito e Crefitos, respectivamente), que, de forma geral, constituem órgãos regulamentadores que consolidam a legalidade da fisiote- rapia, atendem aos preceitos éticos e deontológicos do profissional e fiscalizam o exercício da profissão no Brasil. Apesar dos avanços, a fisioterapia entrava em confronto com uma das áreas da medicina, a fisiatria. Com a organi- zação dos Conselhos e início das regulamentações, esse enfrentamento se agravou ainda mais, pois legalmente todos os estabelecimentos que possuíam serviços de fisio- terapia deveriam, obrigatoriamente, fazer seu registo junto ao Crefito e manter em seu quadro de funcionários ao menos um profissional fisioterapeuta com formação superior também registrado no Crefito, para responder como responsável técnico pelo setor. Essas obrigatorie- dades prejudicaram o andamento de algumas clínicas mé- dicas de propriedade de fisiatras e até mesmo de médicos de outras especialidades que se utilizavam de mão de obra não qualificada para exercer as funções do fisioterapeuta, o que permitia a manutenção de um serviço de fisioterapia de custo baixo, tendo em vista que o salário pago a esses indivíduos era pequeno em relação ao salário de profissio- nais habilitados. Como uma das funções do Crefito é a fiscalização do oferecimento de serviços de fisioterapia de qualidade à população, os estabelecimentos deveriam se enquadrar na regulamentação ou não poderiam oferecer o serviço. Sendo assim, a Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação moveu uma representação do que acreditava constituir institucionalidades do Decreto-Lei n.938 e Lei n.6.316. Porém, o Superior Tribunal Federal, por decisão unânime, a julgou improcedente. Esse episó- dio tornou evidente a pressão imposta pelos médicos fisia- tras, para manter um controle sobre os fisioterapeutas. Além disso, as conquistas granjeadas pelos fisioterapeutas concederam à classe maior credibilidade e confiança para propor a alteração do currículo mínimo dos cursos. Essa alteração só aconteceu em 28 de fevereiro de 1983, com a resolução n.4 do CFE, que estabeleceu mudanças na carga horária mínima, a qual passou a ser de 3.240 horas/aula, duração do curso de quatro anos e inclusão de áreas na formação do profissional, o que constituiu uma estratégia para o crescimento do ponto de vista acadêmico e consoli- dação da autonomia de atuação profissional perante a área médica. Na década de 1980, houve um crescimento no número de universidades associado ao surgimento de novos campos de atuação, como a promoção e a prevenção da saúde da população. Essa situação decorreu de novas concepções no cenário mundial do processo saúde-doença que respal- daram a reformulação das políticas de saúde no Brasil, dando ênfase às condições de vida. Essas novas políticas públicas de saúde se alicerçaram com a promulgação da Constituição Federal (1988), que declara que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do ris- co de doença e outros agravos e o acesso universal às ações e serviços para sua promoção, proteção e também de recuperação. No início da década de 1990, não se evidenciava preo- cupação com a expansão de matrículas e melhoria da qua- lidade dos serviços ofertados nas instituições públicas de ensino, o que favoreceu expansão das instituições de ensi- no privado. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (Lei n.9.394/96), o exercício da autonomia pelas universidades foi ampliado, o que tornou possível a incor- poração da prevenção nas estruturas curriculares que, até então, eram fundamentados na lógica reabilitadora. Então, as novas diretrizes curriculares ressaltam que a formação do fisioterapeuta tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentosrequeridos para o exercício de competên- cias e habilidades gerais e específicas no mundo do traba- lho. Atualmente, a fisioterapia é uma profissão consolida-da devidamente regulamentada e controlada pela autar- quia federal, em pleno desenvolvimento e que colabora e cumpre seu papel na melhora constante da saúde no Brasil.
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